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LIRAS DE TOMÁS ANTÔNIO

GONZAGA
• Com forte cunho autobiográfico, os versos de Marília de Dirceu
fazem referência ao amor proibido de Maria Joaquina Dorotéia
Seixas e do poeta, que se vê refletido nos versos como o pastor
Dirceu.
• Dirceu é, portanto, sujeito lírico de Gonzaga, e canta seu amor pela
pastora Marília, sujeito lírico de Maria Joaquina. Era uma convenção
da altura cultuar as musas como sendo pastoras.
• A jovem é idealizada pela sua beleza, assim como o cenário onde os
dois se encontram. A paisagem bucólica do campo é igualmente
louvada
• É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte e prado;
Porém, gentil pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho e mais que um trono.
• Pastoralismo 
• Poetas criavam pseudônimos e se identificavam com pastores a fim
de estabelecer uma nobre simplicidade, deixando de lado as
diferenças sociais e a hipocrisia que acreditavam residir nas
cidades.
• Noto, gentil Marília, os teus cabelos.
E noto as faces de jasmins e rosas;
Noto os teus olhos belos,
Os brancos dentes, e as feições mimosas;
Quem faz uma obra tão perfeita e linda,
Minha bela Marília, também pode
Fazer os céus e mais, se há mais ainda.
• A idealização do amor0
• A convenção da época ilustrava sempre a amada como sendo
branca (Marília tinha as faces cor da neve), com o rosto perfeito, o
cabelo frequentemente loiro (os cabelos são uns fios d’ouro).
• Marília é um exemplo de beleza e gentileza.
• Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.

• Segundo os versos presentes no poema, para o eu-lírico alcançar a


felicidade plena seria preciso apenas um aceno da amada.
• Ele é uma espécie de cativo do amor, de Marília, do sentimento
maior que reina em seu coração:
• Deixando um pouco de lado o poema, na vida real a imensa
diferença de idade entre o casal (ele tinha quarenta anos e ela
apenas dezessete) foi um dos fatores que levou a família da moça a
proibir a relação.
• No entanto, apesar de todas as desavenças, os dois ainda chegaram
a noivar, embora nunca se tenham efetivamente casado.
• No poema, o entorno do amor é marcado por um bucolismo típico
dos poetas da época: a natureza é tida de modo altamente
idealizado, primaveril, alegre e acolhedor.

• Os pastores que habitam este monte


Respeitam o poder de meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha.

• Aspira-se uma vida tranquila, equilibrada e feliz no cenário


campestre, singelo e simplório, em sintonia com os que estão ao
redor
• Depois que nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos que nos deram estes.”

• O amor é tão forte que o eu-lírico imagina a vida inteira ao lado da


amada e planeja até a própria morte, com um sepultamento
conjunto dos corpos, lado a lado.
• Dirceu aspira que o seu amor seja exemplo para os pastores que
ficam:
• É interessante notar que, a determinada altura da escrita, o próprio
poema traz instruções da localização geográfica para se chegar à
casa de Marília. Na realidade, trata-se do endereço de Maria
Dorotéia, em Ouro Preto.
• O detalhe espacial encontra-se na segunda parte do poema, mais
precisamente durante a lira XXXVII:
• Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda, a terceira
Tem um palácio defronte.
Ele tem ao pé da porta
Uma rasgada janela,
É da sala, aonde assiste
A minha Marília bela.
• Contrariando as convenções da época, apesar de Marília ser uma
mulher extremamente idealizada, ela oferece traços de
sensualidade, subvertendo a postura casta e imaculada da mulher
da altura.
• Pastora Marília
• O nome de batismo da pastora Marília do poema é Maria Dorotéia
Joaquina de Seixas. Ela chegou a ser noiva do poeta Tomás António
Gonzaga. A jovem, nascida em 1767 fruto de uma família abastada,
vivia em Ouro Preto e apaixonou-se quando tinha apenas quinze anos.
• Maria Dorotéia ficou órfã de mãe aos sete anos, quando passou a ser
criada pela família. Tradicionalmente o seu sobrenome era associado à
coroa portuguesa, esse teria sido um dos fatores que dificultaram a
sua relação com Tomás António Gonzaga (que participou ativamente
da Inconfidência Mineira).
• Pastor Dirceu é a personagem poética que representa Tomás António
Gonzaga. O escritor aos quarenta anos caiu nos encantos de Maria Dorotéia
Joaquina de Seixas, que era apenas uma adolescente na época.
• Devido a enorme diferença de idade e as divergências políticas e
ideológicas, a família da moça foi contra a relação. O poeta participou da
Inconfidência Mineira e acabou sendo preso em 1792 e condenado. O
matrimônio anunciado, portanto, nunca chegou a acontecer.
• O pastor de ovelhas Dirceu é um representante bastante característico do
movimento árcade. O eu-lírico é um entusiasta do campo e da vida não
citadina e divide o seu tempo louvando a natureza e a amada, a pastora
Marília.
• culto à natureza (ao pastoralismo, a vida em harmonia com o
ambiente), traço associado à tradição Greco-latina;
• repúdio à vida citadina;
• culto à simplicidade;
• exaltação ao bucolismo;
• forte preocupação formal com o poema;
• linguagem simples e coloquial;
• profunda louvação do amor e da amada;
• presença de um forte grau de racionalismo.
ESTRUTURA DO POEMA

• A primeira parte do poema celebra a pastora Marília como musa e


reúne textos escritos antes da prisão.
• Já a segunda parte, que continua a louvar a pastora Marília,
condensa os poemas escritos durante a prisão.
• A terceira parte contém poemas que possuem Marília como musa
ao lado de outras pastoras também igualmente louvadas. Essa
reunião contempla poemas que Gonzaga escreveu antes de
conhecer a sua paixão, quando ele apenas começava a ser um
árcade treinando as convenções da escrita do movimento.
• O extenso poema foi escrito em três momentos distintos da vida do
autor.
• A primeira parte, que reúne 33 liras, foi publicada em 1792, em
Lisboa. A segunda parte, com 38 liras, foi divulgada em 1799. E a
terceira e última parte, com 9 liras e 13 sonetos, foi lançada em
1812.

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