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A NATUREZA HUMANA
Edgar Morin - Filosofia
Atividade reflexiva
Se se concebe o ser biológico do homem, não como produtor, mas como matéria-
prima da qual se modela a cultura, nesse caso, donde veio a cultura? Se o
homem vive na cultura, mas trazendo em si a natureza, como pode ser
simultaneamente antinatural e natural? Como se pode explicar isso a partir duma
teoria que apenas se refere ao seu aspecto antinatural?
“... a ciência biológica não podia fornecer à ciência do homem nem um quadro
de referência nem os meios de ligação bioantropológicos. Pelo menos até aos
anos 50, a vida era concebida como uma qualidade original própria dos
organismos; a biologia mantinha-se fechada para o universo físico-químico,
recusando-se a reduzir a este último; mantinha-se fechada para o fenômeno
social, que, embora muito espalhado no reino animal, e até no vegetal, apenas
era percebido, por falta de conceitos adequados, sob a forma de tênues
semelhanças; as sociedades patentes de abelhas ou de formigas eram relegadas
como casos de espécies, como exceções surpreendentes, e não interpretadas
como' sinal duma socialidade profundamente inscrita no universo vivo; por fim, a
biologia mantinha-se fechada a todas as qualidades ou faculdades que fossem
estritamente para além da fisiologia, quer dizer, a tudo aquilo que, nos seres
vivos, é comunicação, conhecimento, inteligência”.
Deste modo, a biologia estava cingida ao biologismo, isto é, a uma concepção da
vida fechada sobre o organismo, como a antropologia se cingia ao
antropologismo, isto é, a uma concepção insular do homem. Cada uma delas
parecia referir-se a uma substância própria, original. A vida parecia ignorar a
matéria físico-química, a sociedade, os fenômenos superiores. O homem parecia
ignorar a vida. Portanto, o mundo parecia constituído por três estratos
sobrepostos, mas não comunicantes:
Homem - Cultura
Vida - Natureza
Física - Química