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BASES BIOLÓGICAS DA HEREDITARIEDADE

Prof. Esp. Márcia de Sousa Costa


As origens da Genética:
 a herança biológica desafia a curiosidade das pessoas desde a pré-
história;
 o conhecimento empírico permitiu a produção de diversas plantas para o
cultivo e a seleção de animais domésticos.

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plantas Senso comum Selecionar
animais
Os filósofos gregos e a hereditariedade
Na Grécia antiga, os filósofos divergiam com muitas ideias para explicar os
mecanismos de hereditariedade. Vejamos algumas dessas ideias:

Alcmeon (500 a.C.) Homens e mulheres tinham sêmen que se


originavam no cérebro.

O calor do útero era decisivo na determinação do


Empédocles (492-432 a.C.)
sexo. Útero quente originava meninos e útero frio
originava meninas.

O sêmen ocorria apenas no homem e continha o


Anaxágoras (500-428 a.C) protótipo do novo ser. Anaxágoras postulou a
“Teoria direita e esquerda”: meninos eram gerados
no lado direito; meninas, no lado esquerdo.
AMABIS, J.M.; MARTHO, G.R. Biologia dos organismos. São Paulo: Editora Moderna, 2010.
Tema para discussão
A genética humana e o preconceito

Diante das ideias apresentadas pelos filósofos gregos, o papel da mulher


na reprodução era visto de modo inferior ao dos homens. A
compreensão de que a herança biológica se baseia na transmissão de
informações hereditárias contidas nos genes e de que homem e mulher
têm igual participação na continuidade da vida abriu caminho para a
queda de concepções errôneas.
Hipócrates e a teoria da Pangênese
Figura 1- Hipócrates(460-370 aC.): defensor
da pangênese.

Hipócrates, conhecido como o “Pai da


Medicina”, defendia a hipótese da
Pangênese, segundo a qual cada órgão
do corpo de um ser vivo produzia
Imagem: Hippocrates pushkin02 / autor: shakko / Creative

gêmulas que continham as


informações hereditárias transmitidas
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aos descendentes. Isso explicaria as


semelhanças entre pais e filhos.
Aristóteles discordava da ideia da Pangênese
Figura 2- Aristóteles (384-322 a.C.): elaborou
hipóteses pioneiras sobre a herança biológica.
Aristóteles, filósofo grego que viveu um século
depois de Hipócrates, escreveu um tratado
Imagem: Aristotle Altemps Inv8575 / autor: Jastrow (2006) / public domain

sobre a reprodução e a hereditariedade dos


animais, descrevendo quatro tipos de
reprodução entre os seres vivos: reprodução
assexuada por brotamento; reprodução
sexuada com cópula; reprodução sexuada sem
cópula e geração espontânea ou abiogênese.
Pronunciou duras críticas à Teoria da
Pangênese, por não explicar como seriam
produzidas gêmulas de características como
tom da voz, jeito de andar e formas de
comportamentos.
Defesas de Aristóteles
Contribuição diferencial dos sexos:

6 MACHO
FORNECIA A “ESSÊNCIA”,
FONTE DA FORMA E DO FÊMEA
FORNECIA A “MATÉRIA BÁSICA” 7
MOVIMENTO
QUE NUTRIA O SER EM
FORMAÇÃO

 desenvolvimento normal do feto: qualidades do pai prevaleceria;


 falhas no feto: novo ser seria parecido com a mãe;
 falhas maiores fariam prevalecer as características dos avós e, sucessivamente,
de ancestrais mais distantes, até o limite de ser gerado um ser malformado, um
monstro.
Fonte: AMABIS, J.M.; MARTHO, G.R. Biologia dos organismos. São Paulo: Editora Moderna, 2010.
Linha do tempo: marcos da genética
As bases da hereditariedade
Contribuições importantes para o conhecimento da herança
biológica
Figura 3 - Willian Harvey: primeiras
ideias sobre fertilização.
 Willian Harvey (1578-1657): médico inglês,
propôs que todo ser animal se origina de um
ovo. Ele acreditava que o ovo produzido pela
fêmea necessitava ser fertilizado pelo sêmen
do macho, se opondo a geração espontânea,
muito difundida na época.
 Nehemia Grew (1641-1711): botânico
inglês, sugeriu ser o grão de pólen o elemento
masculino das plantas com flores.

Imagem: SS-harvey / autor: Cornelius Jansen / public


domain
Pré-formação X Epigênese
Figura 4 - Ilustração de um
homúnculo feita em 1694.

Primeiras ideias sobre fertilização:


Imagem: HomunculusLarge / autor; Nicolaas Hartsoeker / public domain

 pré-formação ou pré-formismo: afirmava que, em


um dos gametas masculino ou feminino, já havia
um ser pré-formado. Duas correntes, então,
dividiam a opinião dos estudiosos da época: os
ovistas defendiam que o ser pré-formado estaria
no óvulo; e os espermatistas, que o ser pré-
formado estaria no esperma;
 epigênese: essa teoria afirmava que o ovo
fertilizado continha um material inicialmente
amorfo e homogêneo que iria se estruturando ao
longo de desenvolvimento do novo ser.
A descoberta dos gametas

Figura 5- A descoberta dos gametas foi um dos


pontos fundamentais para o estudo da herança
Alguns avanços foram decisivos para o
biológica. desenvolvimento da Genética:
 Antonie van Leeuwenhoeok (1632-
1723) descobre que o sêmen contém
estruturas microscópicas com longas
caudas;
 Rudolf Albert von Kölliker (1817-
1905) comprovou que os
espermatozoides eram formados nos
testículos;
 Karl Ernest von Baer (1792-1876)
estudou os gametas femininos,
Imagem: Gray3 / autor: Parte de Gray's Anatomy, / public domain contribuindo para a futura
compreensão dessas células.
Gametas e fecundação

Figura 6- processo da fecundação


A partir da segunda metade
do século XIX, consolidou-se
a ideia de que tanto na
reprodução de plantas como
na de animais, a formação
de um novo ser envolve a
fusão de uma célula
masculina e outra feminina. Imagem: 06fertilizado / autor: ScienceGenetics / Creative Commons
Attribution-Share Alike 3.0 Unported
Articuladores da teoria celular
Em 1873, surgiram as primeiras descrições sobre a divisão celular. As
ideias e convicções de alguns cientistas levaram à conclusão de que a
célula é o constituinte fundamental dos seres vivos. Esse evento foi um
marco na história da ciência.
Figura 7 - Mathias Jacob Schleiden Figura 8 - Theodor Schwann Figura 9 - Rudolph Virchow
(1804-1881) (1810-1882) (1821-1882

Imagens da esquerda para direita: (a) PSM V22 D156 Matthias Jacob Schleiden / autor: Desconhecido / public domain; (b)
TheodorSchwann / autor: Desconhecido / public domain; (c) Rudolf Ludwig Karl Virchow / autor: Desconhecido / public domain
A descoberta dos cromossomos

Em 1882, o anatomista alemão Walther Flemming (1843-1905) descreveu


com detalhes o comportamento dos filamentos nucleares durante o
processo de divisão celular. Posteriormente, esses filamentos foram
chamados de cromossomos .

Algumas observações merecem destaque:


 verificou-se que o número, a forma e o tamanho dos cromossomos variam
entre as espécies;
 entre indivíduos da mesma espécie, o número de cromossomos é
constante;
 o conjunto de cromossomos típico de cada espécie é denominado
cariótipo.
A mitose e os cromossomos Figura 10- representação das fases da mitose .

Walter Flemming analisou as formas e os


aspectos dos cromossomos
detalhadamente durante as fases da
mitose.
Ele observou que os filamentos

Imagem: Gray2 / autor: Parte de Gray’s Anatomy / public domain


cromossômicos se tornam progressivamente
mais grossos, separam- se em dois grupos e
migram para as células-filhas.

Uma célula humana tem 46


cromossomos com tamanhos e
formas característicos.
Os embates da ciência
A verificação de que o número de cromossomos se mantém
constante ao longo das gerações levantou uma nova questão:

Se o óvulo e o espermatozoide se fundem juntando os seus


cromossomos para formar um novo indivíduo, por que o
número cromossômico não dobra a cada geração?

Em 1885, o biólogo August Friedrich Weismann (1834-1914) formulou a


hipótese de que, durante a formação dos gametas, ocorreria uma
redução do número de cromossomos para a metade do número
presente na célula-mãe.
A meiose e os gametas
Na formação dos gametas, ocorrem duas divisões sucessivas.
Esse processo é atualmente conhecido como meiose.
Figura 11- esquema da meiose com um par de cromossomos homólogos.

Imagem: MajorEventsInMeiosis variant pt / autor: Jakov, tradução por PatríciaR / public domain
O trabalho de Mendel
Gregor Mendel dedicou-se a estudar a

Imagem: Mendel Gregor 1822-1884 / autor: Parte de The History of


hibridação de plantas e realizou Figura 12 - Gregor Mendel (1822-1884), o monge que
lançou as bases da hereditariedade.
experimentos com ervilhas. Em 1863,
descobriu, por meio de cruzamentos
entre variedades contrastantes, que as
características hereditárias são herdadas

Biology de Erik Nordenskiöld / public domain


de acordo com regras bem definidas.

As ideias de
Mendel eram tão
avançadas que
não foram
compreendidas na
sua época.
A descoberta da Lei da Segregação

35 anos depois, outros cientistas chegaram às mesmas conclusões


que Mendel sobre as leis que regem a hereditariedade.
Teoria Cromossômica da Herança
O estudo do comportamento dos cromossomos durante as divisões celulares -
mitose e meiose - foi fundamental para o desenvolvimento da genética. Em
1903, os cientistas Walter Sutton (1877-1916) e Theodor Boveri (1862-1915)
confirmaram que os cromossomos são a base física da herança genética.
.

Figura 14 - Theodor Boveri (1862-1915)


Figura 13 - Walter Sutton (1877-1916)

Imagem: Walter sutton / autor:


Imagem: Theodor Boveri / autor:
Desconhecido / public domain
Desconhecido / public domain
Teoria Cromossômica da Herança
Na década de 1910, o pesquisador Thomas Morgan e seus colaboradores
estabeleceram as bases da Teoria Cromossômica da Herança, realizando uma
série de experimentos com a mosca-do-vinagre (Drosophila melanogaster).
Estudando milho, Barbara McClintock, pesquisadora norte-americana, também
confirmou que os fatores hereditários estavam localizados nos cromossomos.
Figura 16 – Barbara McClintock (1902-1992)
Figura 15 - Thomas Morgan(1866-1945).

Imagem: Barbara McClintock at C.S.H. 1947-2 / autor:


Imagem: Thomas Hunt Morgan / autor:

Desconhecido / public domain


Desconhecido / public domain
A descoberta do modo de ação do gene

Em meados de 1930, os cientistas George W. Beadle (1903-1989) e


Edward Tatum (1909-19775) descobriram, por meio de experimentos
com moscas e, posteriormente, com fungos, que os genes atuam no
controle e na síntese de enzimas. Os resultados desses experimentos
consolidaram a teoria um gene - uma enzima, sendo ampliada para um
gene - um polipeptídeo.
Ferramentas da ciência

Após a descoberta da natureza química do material genético e da


elucidação do modelo da estrutura molecular do Ácido
Desoxirribonucleico (DNA), pelos cientistas James Watson e Francis
Crick em 1952, a biologia molecular tomou novos rumos.

O Projeto Genoma Humano, iniciado em 1990, procura descobrir a posição


e o sequenciamento das bases de cada gene. Em abril de 2003, foi
estabelecida a sequência de 99,99% dos genes humanos. A mídia não se
cansou de repetir que os conhecimentos gerados iriam revolucionar a
medicina.
Ciência, tecnologia e sociedade
Atualmente, com os avanços da genética, algumas questões polêmicas
são divulgadas em jornais, sites e outras mídias.

Como a sociedade participa dos debates científicos?


Qual a importância dessa participação?

Escolha um tema polêmico relacionado com a manipulação genética e seres


humanos. Pesquise sobre as implicações políticas, religiosas, sociais e
econômicas relacionadas a ele. Anote suas observações e conheça opiniões de
pessoas do seu convívio sobre o tema. Discuta argumentos contra e a favor.
BIOLOGIA, 3º Ano do Ensino Médio
As bases da hereditariedade

Referências
• AMABIS, J.M.; MARTHO, G.R. Biologia das Populações, v3. São Paulo: Editora
Moderna, 2010.
• BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Ática, 1998.
• JÚNIOR, C.S.; SASSO, N.S.; JÚNIOR, N.C. Biologia, v3. São Paulo: Editora Saraiva,
2010.
• LAURENCE, J.; MENDONÇA, V. Biologia: Ser humano, Genética e Evolução, v3.,
São Paulo: Editora Nova Geração,2010.
• LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia hoje: genética, evolução e
ecologia. São Paulo: Editora Ática, 2011.
• LOPES, S.; ROSSO, S. Bio:v.2, 1ªed. São Paulo: Saraiva, 2010.
• MARANDINO, M.; SELLES, S.E.; FERREIRA, M.S. Ensino de Biologia: histórias e
práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Editora Cortez, 2009.
• PESSOA, O. Frota. Biologia. v. 3, São Paulo: Scipione, 2005.
• PEZZI, A.; GOWDAK, D.O.; MATTOS, N.S. Biologia: genética, evolução e ecologia,
v3. São Paulo: FTD, 2010.
BIOLOGIA, 3º Ano do Ensino Médio
As bases da hereditariedade

Referências

• POZZO, J. I.; CRESPO, M. A.G. A aprendizagem e o ensino de ciências: do


conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. Porto Alegre: Artmed, 2009.
• SANTOS, F.S. (Org.) Biologia:ser protagonista .v3. São Paulo: Edições SMS, 2010.
• TARANTINO, M. C. R. Os Eleitos. Revista Superinteressante. Disponível em:
http://www.istoe.com.br/reportagens/5420_OS+ELEITOS+PELA+GENETICA >
Acesso em maio de 2012.

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