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O TRIBUNAL COMUNITÁRIO

Vs FUNCIONAMENTO

INSERÇÃO HISTÓRICA ACERCA DA ORIGEM E


EVOLUÇÃO DOS TRIBUNAIS COMUNITÁRIOS
COMO INSTÂNCIAS OFICIAIS
1. Inserção Histórica
Os tribunais comunitários constituem hoje, na
configuração que lhe é dada pela Lei nº 4/92, de 6 de Maio
uma instância oficial (no sentido de ter sido criada por
diploma normativo estatal) de resolução de conflitos.

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Cont. 1
Dado que eles representam, ate certo ponto, uma
continuidade dos tribunais populares de base,
previstos na anterior organização judiciária importa
realçar a evolução das suas principais características
institucionais (o respectivo enquadramento nos
sistemas de administração da justiça, o perfil dos
juízes que os compõe, o tipo de conflitualidade que são
chamados a dirimir, etc), tendo por base os contextos
sócio – políticos que lhes estão subjacentes..

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Cont. 1
Cfr. Moçambique, Lei nº 12/78, de 2 de Dezembro, Lei
da Organização Judiciária, In Bolentim da
República, I Serie
Sendo um dos mais importantes mecanismos de
composição extra-legal dos conflitos, tanto pelo seu
percurso e papel históricos, como pela função social
que exercem, os tribunais comunitários são as
estruturas que preferencialmente assumem a função
de articulação entre as justiças comunitária e a justiça
judicial.

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Cont. 1.1
A antiga lei de organização judiciária continha
algumas particularidades importantes que
representam, na sua essência, as opções políticas do
Estado no domínio da administração da justiça.

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Cont. 2
Assumiu se a necessidade de construção de um
modelo de justiça de participação popular, socialmente
integrado e que fizesse a intercessão entre as justiças
comunitárias (apoiadas, predominantemente, no bom
senso, nos princípios que presidem a construção da
sociedade socialista (art. 38º, nr. 2) LOJ (LEI nr. 12/78,
de 02 de Dezembro), e

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Cont. 3
privilegiando a oralidade como instrumento de
condução e decisão dos conflitos) e a justiça judicial
(informada pela dogmática jurídica de matriz
ocidental). Seria, pois, num esforço de conjugação
entre “modernidade” e “ senso comum”, assentando
ambos numa “legalidade revolucionária” que se
construiria um sistema judiciário ao serviço do povo.

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Cont. 4
Os tribunais populares eram, assim, o instrumento
que permitia ao Povo “ resolver os problemas e
dificuldades que surgiam na vida da comunidade, da
localidade, na aldeia comunal e no bairro comunal. Os
tribunais populares eram ainda considerados o garante
da consolidação e a unidade do povo moçambicano, “ a
grande forja onde o povo cria o direito novo que cada
vez mais rechaça o direito velho da sociedade colonial-
capitalista e feudal”.

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Cont.5
Os Princípios que Favorecem o Acesso a Justiça e ao
Direito nos Tribunais Comunitários
Os tribunais comunitários, previstos na
Constituição da República de Moçambique como
parte organizadora judicial (art.223, nº 2) e criados
pela Lei nr. 4/92 de 6 de Maio, são verdadeiros
instrumentos de acesso a justiça e ao direito.

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Cont. 5.1
Os tribunais comunitários reflectem algumas
características da pós modernidade no Direito, como o
pluralismo jurídico. Seus critérios, visando uma justiça
célere e informal, permitem a aplicação das diferentes
normas num verdadeiro diálogo de fontes normativas,
ou seja, para resolver o conflito, o cidadão tem a lei da
sua comunidade (norma costumeira), lei forma e
também a lei do local onde se situa o tribunal
comunitário.

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Cont. 5.2
Tem ainda, uma justiça especial, o tribunal
comunitário, para sua defesa e protecção, o que
representa um dos aspectos da pós – modernidade,
que é a fragmentação.
Nos tribunais comunitários há valorização dos direitos
humanos, na medida em que, representam
instrumentos que protegem a identidade cultural da
pessoa humana como valor jurídico e visam a facilitar a
defesa do cidadão em juízo,

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Cont. 5.3
por representarem uma justiça célere, informatizada,
sem custos para o cidadão carente, com uso de línguas
locais, eliminando – os obstáculos de acesso a justiça e
tornando – se, assim, a justiça ao alcance do cidadão.
Os tribunais comunitários objectivam facilitar o
acesso a jurisdição por meio de um processo oral,
simplificado, gratuito, sem necessidade da presença de
advogados e tem como base os princípios da
informalidade, economia processual e celeridade com
a busca reiterada da conciliação entre as partes.

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Cont. 5.4
Como refere GUILHERME FREGAPANI “para que seja
efectivamente e adequadamente aplicada a justiça do
terceiro milénio, é preciso desregrar, desformalizar,
simplificar, desburocratizar, modernizando e desenvolvendo
conceitos e institutos, adaptando – os a exigência de
celeridade e efectividade impostas pela evolução social.
Os critérios que orientam o processo no tribunal
comunitário representam princípios que devem ser
respeitados e seguidos, de modo a facilitarem e favorecerem
o acesso do cidadão em juízo e a defesa justa dos seus
direitos.

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6.Princípios
Princípio da Conciliação
O princípio da conciliação constante no nº 2, do art.2
da Lei nº 4/92, representa uma forma de composição
amigável pela qual as partes põem termo ao processo,
solucionando o conflito de interesses. A conciliação
representa o meio mais adequado para a solução do
litígio; no acordo insere-se maior vantagem para os
tribunais comunitários, sendo imprescindível que seja
dada as partes a possibilidade de conciliação, antes de
se chegar a uma sentença de mérito.

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Cont. 6.1
Princípio da oralidade
Visando a simplificação e a celeridade dos casos que
são apresentados no tribunal comunitário, prioriza-se
o critério da oralidade, desde a presença do caso ate a
decisão pelo tribunal, sem contudo, abolir–se por
completo a forma escrita, de modo que somente actos
considerados essenciais são reduzidos a escrita.
 Tais como, a participação ou queixa e a sentença.

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Cont.6.2
A oralidade é caracterizada pela concentração pela
imediação, pela prática do procedimento verbal de
actos importantes no processo. O procedimento oral
esta ligado ao principio da imediatividade, ate porque
a oralidade pressupõe contacto directo entre dois ou
mais interlocutores, e esse principio exige o juiz em
contacto pessoal com a produção da prova, consistindo
em manter o juiz em contacto directo com as partes,
com seus procuradores e com as testemunhas, sem
intermediários.

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7.Princípio da informalidade

Os tribunais comunitários adoptam também os


critérios da informatividade como princípio básico de
sua actuação, trazendo por via reflexa, almejada
celeridade ao julgamento das causas. Na medida em que
a lei dos tribunais comunitários visa a realização da
justiça de forma simples e objectiva, esta contribuindo
para a celeridade processual. A informatividade
manifesta – se, ainda no facto de que a sentença
elaborada pelos juízes desprofissionalizados dispensa
qualquer fundamentação legal, devendo ser
mencionado apenas as suas convicções.
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8.Destrinça entre Tribunal Judiciais de Tribunal
Comunitário (art. 212 e seg. da CRM, e Lei nr. 4/92)

Segundo a Lei nº 4/92, Para poder fazer-se a


destrinça é preciso ter em conta que os tribunais
judiciais de forma geral são órgãos públicos que
tem como objectivo a resolução de litígios e são
conduzidos por um Juiz de direito enquanto que os
tribunais comunitários como já referenciamos
resolve os conflitos locais fora do sistema judicial.
Moçambique, Lei n° 4/92, de 6 de Maio, Lei dos
Tribunais Comunitãrios, In Bolentim da
República,I Serie.
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9. Características dos Tribunais Comunitários em
Moçambique

Segundo RAFAEL;
As características dos tribunais comunitários em
Moçambique assentam-se em uma parte de
resolução de conflitos sociais locais, cujo o mesmo
tribunal é composto por 8 juízes eleitos com
intuito de conhecer os problemas que assolavam a
comunidade local e ajudando a esclarecer os factos
e a encontrar uma solução justa.
RAFAEL, José Bernado José, Manual de Direito
de Pensamento Juridico,Beira, 2016, P.88

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Cont.
Os tribunais comunitários foram criados pela Lei nr.
4/92 de 6 de Maio, e nessa medida são parte integrante
do direito de justiça oficial. Por outro lado, a lei define
os como operando fora da organização judiciária,
como justiça do tipo comunitário cuja valoração e
aprofundamento são propostos tendo em conta a
diversidade étnica e cultural da sociedade
moçambicana, conforme o preambulo da lei.

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Cont.
As experiencias recolhidas por uma justice de tipo
comunitário no pais apontam para a necessidade da
sua valoração e aprofundamento, tendo em conta a
diversidade étnica e cultural da sociedade
moçambicana, preambulo da lei 4/92.
Segundo Boaventura Sousa e Santos, “os tribunais
comunitários são uma entidade jurídica hírica em que
se combinam características da justiça oficial e da
justiça não – oficial.

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Cont.
Porque a lei que os institui nunca foi regulamentada,
predominam sociologicamente, características da
justiça não oficial”. Trata se pois, de instancias de
resolução de litígios que aplicam direitos locais,
comunitários, costumeiros, em suma, o direito não
oficial.
Cfr. TRINDADE, João Carlos,  Conflito e
Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças
em Moçambique. V. I. Porto: Afrontamento, 2003, p.
63.

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Cont

Mas aqui, levanta se a questão relativa a função


jurisdicional, que nos termos da constituição, é
extremamente legislativa (art.212 n.1 e 2 da CRM),
diferentemente da função dos tribunais comunitários
instituído na lei (artigos 2 e 3 da Lei 4/92 de 6 de
Maio).
OBRIGADO
Msc. Ernesto Camacho

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