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O PLURALISMO JURÍDICO NA ORDEM JURÍDICA

MOÇAMBICANA

18/04/2023
1. O Pluralismo Jurídico
1.1. Conceito

Msc. Ernesto Camacho


O pluralismo jurídico pressupõe a existência de
uma variedade de ordens ou sistemas jurídicos
além ou diante das restantes actualmente
reconhecidas. Ate agora, o pluralismo jurídico
centrou-se na identificação de ordens jurídicas
locais, infra-estatais, coexistindo de diferentes
formas com o direito nacional oficial.
CONT. 1

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 Para o professor Catarinese António Wolkmer,
A expressão pluralismo jurídico significa “assumir a

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multiplicidade de manifestações ou praticas normativas
num mesmo espaço sócio – jurídico, integrado por
conflitos ou consensos, podendo ser ou não oficiais e
tendo razão de ser nas necessidades existenciais,
matérias e culturais.
CONT.1.1

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 Para o sociólogo português BOAVENTURA DE
SOUSA SANTOS;

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 O pluralismo jurídico acontece sempre que, no mesmo
espaço geopolítico, vigora (oficialmente ou não) mais de
uma ordem jurídica. Esta pluralidade normativa pode ter
uma fundamentação económica, racial, profissional ou
outra, (…)
CONT. 1.2

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 (…) pode corresponder a um período de ruptura social,
como por exemplo: um período de transformação
revolucionária, ou ainda resultar da confirmação

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específica do conflito de classe numa área determinada
da reprodução social… para este autor, somente a
existência no nosso espaço de mais de uma
normatividade configura o pluralismo jurídico.
CONT.1.3

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 Afirma Rafael que:
 o Pluralismo Jurídico é entendido como a presença de

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ordens normativas paralelas que coexistem no
Ordenamento jurídico moçambicano.
Cfr. RAFAEL, José Bernado José, Manual de Direito de
Pensamento Juridico,Beira, 2016, P.82.
2.O SURGIMENTO DO PLURALISMO
JURÍDICO

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 Para o prof. Boaventura de Sousa santo, o surgimento do
pluralismo jurídico reside em duas situações concretas,
com os seus possíveis desdobramentos históricos, a

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origem colonial e a origem não colonial.
 No primeiro caso, o pluralismo desenvolve se em países
que foram dominados economicamente e politicamente,
sendo obrigados a aceitar os padrões jurídicos das
metrópoles (colonialismo inglês, português, etc).
CONT. 1

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 com isso impõe se a unificação forçosamente uma
unificação e administração da colónia, possibilitando a
coexistência, num mesmo espaço, do direito do estado

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colonizador e dos direitos tradicionais autóctones,
convivência que se tornou em alguns momentos, facto de
conflitos e de acomodações precárias.
CONT.1.1

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 No segundo caso, esta o pluralismo jurídico de origem
não – colonial, em que se consideram três situações
distintas, primeiramente países com cultura e tradições

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normativas próprias, dominantes ou exclusivamente não
europeias que acabam adoptando o direito europeu como
uma forma de modernização e consolidação do regime
político (Turquia, Tailândia, Etiópia, etc).
2. O Pluralismo Jurídico na Ordem Jurídica
Moçambicana

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 Em Moçambique, tanto como nos outros países
africanos, tal pluralismo também se verifica. No

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período da colonização, os assimilados que eram
considerados cidadãos portugueses, eram
submetidos ao direito comum, e os indígenas que
não tinham cidadania portuguesa, não tinham
nenhum direito, e relevavam do direito
costumeiro.
CONT. 2
 Reconhecendo um lugar ao costume e essas

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autoridades tradicionais, o colonizador reconhecia a
existência de um pluralismo jurídico. Mas este
reconhecimento de uma ordem jurídica distinta

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significava o inicio da tutela deste, de maneira a
assegurar a sua conformidade com os pressupostos
ideológicos do direito estatal.
CONT. 2.2

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 Se politicamente o pluralismo tinha à partida para o
colonizador, uma solução incontrolável, ele sempre
tentou em seguida desnatura-lo para melhor controla-lo.

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 Sabemos que cada sociedade contemporânea apresenta
um certo perfil específico de pluralismo jurídico, tal
especificidade encontra as suas raízes em factores
históricos, sociais, económicos, políticos e sobretudo, em
factores culturais.
CONT. 2.2.2

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 A especificidade é a sua enorme riqueza e
complexidade. A riqueza reside no facto de
sociologicamente vigorarem em Moçambique várias

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ordens jurídicas e sistemas de justiça.
 A complexidade reside na intensa interpenetração ou
contaminação recíproca entre essas diferentes formas de
direito ou de justiça.
CONT. 2.2.3

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 Assim, a pluralidade de direitos, sendo ampla, é difícil
de analisar devido as insuficiências das categorias de
identificação dos direitos em presença, porque a

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realidade moçambicana mistura vários elementos de
várias categorias numa só forma de direito. Neste caso
estaremos perante uma situação de hibridação jurídica.
CONT. 2.2.4

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 Sendo assim, as variáveis dicotómicas a que podemos
recorrer para analisar a pluralidade de direitos são as
seguintes:

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 Oficial/não oficial

 Formal/informal

 Tradicional/moderno

 Monocultural/multicultural.
CONT. 2.2.5

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 Devido às situações de hibridação jurídica em que há
misturas de elementos de várias categorias, que por sua
vez desafiam a variável dicotómica, acrescenta-se ainda

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a variável tricotómica: Local/nacional/global.
 A titulo de exemplo, começarei por falar de cada uma
das variáveis dicotómicas e em seguida, irei falar da
variável tricotómica.
3. A VARIÁVEL DICOTÓMICA
OFICIAL/NÃO OFICIAL

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 Estas decorrem da definição político-administrativa do
que é e do que não é reconhecido com direito ou como
administração da justiça. No Estado moderno compete

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ao estado ditar o critério da definição, e esse critério tem
sido, na esmagadora maioria dos casos, o próprio estado.
 O oficial é o estatal, ou seja, o direito e a justiça
produzidas e/ou criadas pelo estado.
CONT. 3

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 A redução do direito ao estado é a matriz política do
estado moderno e a sua consciência técnico-jurídica é o
positivismo. Nesta dicotomia, o não oficial é tudo o que

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não é reconhecido como estatal.
4. A variável dicotómica Formal/informal

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 Esta variável diz respeito aos aspectos estruturais dos
direitos em presença. Consideramos a categoria informal
uma forma de direito e de justiça dominada pela retórica,

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e em que, portanto, tanto a burocracia como a violência
estão ausentes ou só marginalmente presentes.
 A configuração oposta configura-se o formal. No estado
moderno o formalismo decorre da burocracia.
5. A VARIÁVEL DICOTÓMICA
TRADICIONAL/MODERNO

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 Esta variável diz respeito à origem e à duração histórica do
direito e da justiça. Diz-se tradicional o que se crê existir desde
tempos imemoráveis, não sendo possível identificar com

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precisão nem o momento, nem os agentes da sua criação.
CONT. 5.

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 De outro modo, diz-se moderno o que se crê existir a
menos tempo do que aquilo que se considera tradicional,
cuja criação pode ser identificada quer no tempo, quer na

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autoria. Esta é a variável mais complexa de todas, pois
ao contrário das outras, esta diz respeito as
representações sociais de tempo e origem sempre difíceis
de identificar.
 Etc.
6. AS CARACTERÍSTICAS DO
PLURALISMO JURÍDICO E DO DIREITO
COSTUMEIRO EM MOÇAMBIQUE

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 Conceito de Direito Consuetudinário

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 Para SOUZA o direito consuetudinário é o direito que
surge dos costumes de uma certa sociedade, não
passando por um processo formal de criação de leis,
onde o poder legislativo cria leis, emendas
constitucionais, medidas provisórias.
CONT. 6

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 No direito consuetudinário, as leis não precisam,
necessariamente estar num papel ou serem sancionadas
ou promulgadas. Podendo os costumes transformar-se

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em leis.
7. O PLURALISMO JURÍDICO NO
CONTEXTO DA PÔS – MODERNIDADE

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 Refere Boaventura de Sousa Santos que, embora o
direito estatal seja o modo de juridicidade dominante, ele
coexiste na sociedade com outros modos de juridicidade,

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outros direitos que, com ele, se articulam de modos
diversos, este conjunto de articulações e interpelações
entre vários sistemas e modos de produção de direito
constitui para o jurista a formação jurídica. Assim o
pluralismo jurídico, nas sociedades modernas, manifesta
– se também na multiplicidade de fontes jurídicas a
regular os conflitos sociais.
CONT.7

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 É o que ocorre em sociedades multiculturais, com
reconhecimento de outras instâncias de produção e
regulação de conflitos para além do direito estatal. Em

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Moçambique, podemos constatar esse facto com criação
dos tribunais comunitários (Lei nº 4/92 de 6 de Maio), e
com o reconhecimento em nível legislativo, de outras
instâncias de regulação social e de resolução de litígios,
como gabinete jurídico da mulher.
OS TRÊS COMPONENTES ESTRUTURAIS DO
DIREITO SÃO
-Retórica – que é uma forma de comunicação e uma

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estratégia de decisão, assente na persuasão ou
convencimento através da mobilização do potencial

Msc. Ernesto Camacho


argumentativo de sequências e arte-factos verbais e não
verbais comumente aceites;
 Burocracia – como uma forma de comunicação e uma
estratégia de decisão baseada em imposições autoritárias
por meio de mobilização do potencial administrativo de
procedimentos regularizados e padrões normativos.
- Violência – é uma forma de comunicação e uma
estratégia de decisão assente na ameaça da força fisica.
Obrigado
Msc. Ernesto Camacho

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