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Terapia de

Casal e Família
Professora: Maria Clara Fernandes
Artigo - FAMÍLIAS: DIFERENTES
CONCEPÇÕES HISTÓRICAS -
DEMENECH, Flaviana (2013)

A criança, a infância e a família foram entendidas de


maneiras diferentes no decorrer dos tempos e sua
signifi cação pode mudar ainda hoje, de acordo com a
metodologia que fundamenta sua análise, modifi cando
seu conceito conforme o olhar que recebe, seja ele
histórico, sociólogo, antropólogo, fi losófi co ou
psicológico (OLIVEIRA & ROBAZZI, 2006: 19).
Breve resumo do livro História Social da
Criança e da Família
Renascimento
Re n a s c i m e n t o ( e n t r e o s s é c u l o s X I V e X V I I ) - D i f e r e n t e d e h o j e n a q u a l
a fa m í l i a é u m g r u p a m e n t o d e a f e t i v i d a d e , a f a m í l i a n a Id a d e M é d i a ,
f u n d a va - s e n a u n i ã o d o h o m e m e d a m u l h e r e d o s fi l h o s f u t u r o s ,
c o m p re e n d i a - s e o m a t r i m ô n i o c o m o u m c o n t r a t o a s e r e s t a b e l e c i d o
e n tr e o c a s a l h e t e r o s s e x u a l .

U m a ve z q u e , n ã o e x i s t i a u m l a ç o a f e t i vo d e n t r o d a f a m í l i a , o s
fi l h o s e m s i n ã o t i n h a m i m p o r t â n c i a a f e t i va p a ra a f a m í l i a , n ã o
h av i a um r e c ol h i m e n t o, uma vida p r i va d a e íntima entre os
m e m b r o s f a m i l i a r e s . Pa ra a s o c i e d a d e r e n a s c e n t i s t a , a e s s ê n c i a d a
f a m í l i a e ra a c o n s e r va ç ã o d e b e n s , t ra n s m i s s ã o d o n o m e e p r á t i c a
a d j a c e n t e d e u m o f í c i o, i s t o é , a f a m í l i a t i n h a u m a v i d a s oc i a l e
p ro fi s s i o n a l , c o n j u n t a m e n t e .
O conceito de família
Família é uma instituição historicamente
construída, logo não podemos descrever ou
assimilá-la como algo estático, pacífi co, com
determinadas características especifi cas, como
algo único, mas sim em modelos distintos,
diferentes, ou seja, família não se restringe a
um modelo nuclear, já que são de diversas as
f ormas de estrutura e funcionamento f amiliar,
pois esta instituição se modifi ca de acordo com
a história e com a cultura.
Século XV – o conceito de família

No século XV, o conceito de f amília dif eren ciava-se das características de amor, afeto
e cuidado. Nessa época, os pais biológicos enviavam seu s fi lh os para ou tras f amílias
quando esses completavam sete an os, idade em qu e a crian ça era batizada ( pela
Igreja Católica) e, por con segu in te, tornava-se ‘ imor tal’ ( assim fi xada pela literatu ra
moralista e pedagógica) visto qu e era comu m a mor te de crian ças an tes dessa idade.

Era tamanho o descaso para com as crian ças qu e a Igreja Católica pon derava que a
criança era pura e inocen te, como u m an j o, logo se ela morresse, n asceria ou tra para
substituir. Entretanto, n essa ou tra família a qual eram env iadas, recebiam
ensinamentos para o trabalho e para o ser viço doméstico. Esse apren dizado era
dif undido por todos, independen tes da classe e da con dição social da família.
Século XV – a criança
Ne sse p eríodo (se est end endo at é o sé cul o XVIII ),
a criança ne cessit ava cump ri r de ve re s d ent ro d a
p róp ri a cas a. Ist o é, as at it ud es q ue e la p oss uía é
q ue de monst rava o quão educad a e ra.

Por exemplo, uma manei ra de mos t rar-s e b em


e d ucada era sua ati tude ao se r vi r à me sa aos pais ,
visit as e de mais pessoas: “O s er vi ço da mes a
cont inuou a ser t arefa dos fi l hos d e famí lia e não
d os empre gad os p agos” (ARIÈS, 2006: 157)
A escola para poucos – século XV

Tratando da escola, nesse momento, ela era limitada a alguns. Enquanto que
esses (em sua maioria, clérigos) possuíam o acesso à escola, outras crianças nem
se quer conheciam e par ticipavam da educação escolar. Com o decorrer do tempo,
essa exceção se alterou e passou a ser vista como regra, como afi rma Ariès
(2006):

A escola, a escola latina, que se destinava apenas aos clérigos, aparece como um
caso isolado, reser vado a uma categoria muito par ticular. E a escola era na
realidade uma exceção, e o f ato de mais tarde ela ter-se estendido a 4 toda a
sociedade não justifi ca descrever através dela a educação medieval: seria
considerar a exceção como regra (ARIÈS, 2006: 157).
Na transição do século
XVII para o XVIII – a
escola.
E m mea d os d o sé c ulo XVI I , a cr i anç a a s s ume um
l ug a r ce ntral d ent r o d a fa m íl i a o ci de nt a l. Nes s e
c ont ex to, h á o s ur gi m ent o da es c ol a , o que an te s
a cont eci a e m a m bi e nte s p a r t ic ul ar e s , i st o é , e ra
e ns i nad o p el o p e da g og o em c a s as e p a ra
a l g uma s cr ia nç a s a pe na s .

N es s e moment o a ed uca ç ã o pa s s a a oc or r er e m
um p r éd io ce nt ra l iz a d o. Ou se j a, a c r i anç a
p a s s ou a es t ud ar e m uma i ns t it uiç ã o d e e ns ino
d e vid o à in fl uê nci a d a s tra ns for m aç õe s s oc i ai s
i nt r oduz id a s pe l as nova s for m a s d e or ga ni z a çã o
p ol í ti ca , s oc i a l e e co nôm ic a , di t ad a s p el a
Revo luçã o C ie ntí fi c a e a Re vo luç ã o Ind us tr i al .
O sentimento de
infância
A educação estando vinculada à escola, acabou por
i n fl u e n c i a r a r e l a ç ã o d a s c r i a n ç a s c o m o s p a i s , q u e
consequentemente com a família, passando esta a
estar mais próxima da criança. “A substituição da
aprendizagem pela escola exprime também uma
aproximação da família e das crianças, do sentimento
da família e do sentimento da infância, o u t r o ra
s e p a ra d o s ” ( A R I È S , 2 0 0 6 : 1 5 9 ) .

O s p a i s q u e p a s s a ra m a s e p r e o c u p a r c o m a e d u c a ç ã o
escolar de seus fi l h o s c o m e ç a ra m a enviá-los a
colégios distantes, nos quais permaneciam em
pensionatos particulares ou na casa de seus mestres,
com o intuito de receber educação.
Sentimento de Infância
Sentimento de Infância e Sentimento
de Família
A desigualdade na escolarização –
século XVII/XVIII

Porém, essa escolarização “não afetou uma vasta parcela da população infantil,
que continuou a ser educada segundo as antigas práticas de aprendizagem”
(ARIÈS, 2006: 160). Como por exemplo, as meninas permaneceram sendo
educadas em casa, ou na de parentes, de vizinhos ou outros.

Isto é, enquanto alguns iam para a escola para serem educados, as meninas
continuavam sendo educadas sob uma antiga prática de aprendizagem, como
de costume: em casa. Enquanto entre os meninos a escolarização também era
restrita primeiramente “à camada média da hierarquia social” (ARIÈS, 2006:
160).
O filho primogênito

Quanto à famíl ia, uma condição existente foi o benefí cio que um único fi lho,
em sua maioria o primogênito, possuía diante os direitos famil iares. “O
privilégio do fi lho, benefi ciado por sua primogeni tura ou pela escolha dos
pais, foi a base da sociedade famili ar do fi m da Idade Média até o século
XVII, mas não mais durante o século XVIII” (AR IÈS, 2006: 161).

Após esse período de ‘pri vilégi os’, mai s especifi cadamente no século XVIII,
uma nova confi guração de famí lia começou a ser esboçada, não existindo
mais preferências por algum fi lho em especí fi co: “esse respeito pela 6
igualdade entre os fi lhos de uma família é uma prova de um movimento
gradual de família em di reção à famíl ia sentimental moderna”.
Família Moderna –
século XVII
Tra t a n d o d e s s e n o v o c o n c e i to m o d e r n o d e f a m í l i a ,
a fi r m a A r i è s ( 2 0 0 6 : 1 7 9 ) q u e “a p ri m e i ra fa m í l i a
moderna fo i à família desses homens ri c o s e
i m p o r t a n t e s ”. Esses homens possuíam uma
f a m í l i a g ra n d e , n ã o l i m i t a d a à p a i , m ã e e fi l h o s ,
pelo c o n t rá r i o, a casa e ra repleta de pessoas
( c l é ri g o s , servidores, empregados, aprendizes,
c ri a d o s , e n tr e ou t r o s ) .

E ra t ã o g ra n d e a r e l a ç ã o e n t r e o “ p a i d a f a m í l i a”
e esses criados, que: “nessas salas sem
d e s ti n a çã o especial onde se comia, dormia e
r e c e b i a , o s c ri a d o s n u n c a s e s e p a ra va m d e s e u s
senhores” (ARIÈS, 2006: 184).
Família Moderna – XVII - XVIII

Porém, ao tratar da família conceituada moderna, “no século


XVIII, a família começou a manter a sociedade a distância, a
confi á-la a um espaço limitado, aquém de uma zona cada vez
mais extensa de vida par ticular ” (ARIÈS, 2006: 184).

Nesse período é que a casa foi tomando forma da casa


moderna. Isto é, os cômodos foram despendidos de forma
individual, sendo separados por um corredor. Assim como o
confor to, que “nasceu ao mesmo tempo em que a intimidade, a
discrição e o isolamento” (ARIÈS, 2006: 185).
A constituição do
laço afetivo
A q uel a con fi g ura çã o de fa m íl ia g ra nd e, com
mu ita s pes soas pa ss ou por m uda nç a s: Ne ss e
momen to “a re org a ni za ç ão da ca s a e a re form a
dos cos tu m es dei xa ra m um es pa ço m a ior pa ra a
in ti mid ade , qu e f oi p re enc hi da por um a f am í lia
r edu zi da a os pa is e às c ri an ça s, da qu al se
e xclu ía m os cr ia dos, os cl ien te s e os a m ig os ”
(A RIÈ S, 2 0 06 : 1 8 6) .

Por ta nt o, a o r es tr ing ir a fa m íl ia aos pai s e a s


cri an ça s , o la ço a fe tivo e fa m il iar f oi in ten si fi ca do,
a pre ocup aç ã o, o c ui da do e o c a ri nho ent re s i
a ume nt ou , v is to qu e pa ss ou a s u rg ir um
se nt ime nto e um a n ova ca ra c ter iz aç ã o de fa m íl ia .
A preocupação com a saúde e a
educação das crianças

Nesse contexto, uma nova preocupação sur tiu efeito: “as


questões da saúde e de higiene ocupam um lugar impor tante”
(ARIÈS, 2006: 186). Além do cuidado com a higiene das crianças
a educação era tratada como prioridade e como preocupação por
par te dos pais.

Como afi rma Àries (2006: 188) “A saúde e a educação: a par tir
dessa época, seriam essas as duas principais preocupações dos
pais”.
Amor familiar
A história da família nos apresenta as m o d i fi c a ç õ e s
existentes na e s t r u t u ra f a m i l i a r, visto que, na e ra
p r i m i t i va as famílias e ra m poligâmicas (mais de um
cônjuge ao mesmo tempo entre homens) e poliândrica
(matrimônio de mulheres com diversos homens) e por
fi m e atual como a sociedade ocidental defende a
monogâmica (matrimonio entre um homem e uma
m u l h e r ) , s e g u n d o G i ra l d i & Wa i d e m a n ( 2 0 0 7 ) .

É importante ressaltar que o processo histórico da


família é contínuo, houve ao longo dos séculos a
e v o l u ç ã o d o s p o d e r e s f a m i l i a r e s , o u s e j a , e ra i n s t i t u í d o
n a s o c i e d a d e p r i m i t i va a b a s e s o c i a l d o s i s t e m a d e p o d e r
m a t r i a r c a l ( a m u l h e r e ra a u t o r i d a d e ) , c o m o p a s s a r d o
t e m p o e a t ra n s f o r m a ç ã o d a s o c i e d a d e n o s t o r n a m o s
patriarcal, o poder familiar voltou-se ao homem.
Família patriarcal
O B ra s i l , d e s d e s e u d e s c o b r i m e n t o , c o n s t i t u i - s e d e u m a
família patriarcal, a família b ra s i l e i ra fundou-se do
modelo europeu, devido à colonização pelos
portugueses. Este modelo patriarcal está voltado em o
homem ser o centro do poder da família e da sociedade.

No entanto, cada vez mais as famílias fogem deste


m o d e l o n u c l e a r, h a v e n d o g ra n d e s m u d a n ç a s t a n t o e m
sua composição quanto nas relações existentes dentro
d e s t a i n s t i t u i ç ã o.

C o m d i v e r s a s t ra n s f o r m a ç õ e s c u l t u ra i s , s o c i a i s , p o l í t i c a s
e econômicas a família também teve algumas
c a ra c t e r í s t i c a s a l t e ra d a s : ela passa da condição de
s i m p l e s r e p r o d u ç ã o d e d e s c e n d e n t e s p a ra p r e o c u p a ç ã o
c o m o s i n t e g ra n t e s f a m i l i a r e s , va l o r i z a ç ã o d o s fi l h o s e
concepção de amor e carinho dentro do laço matrimonial
e f a m i l i a r.
Relações existentes dentro da família
do século XVI e XVII

No século XVI e XVII a família não exercia função afetiva e nem


socializadora, dando-se pouca importância à vida doméstica, aos
cuidados maternos e ao cuidado com as crianças. Ariès (1978) afi rma
que o fato da família do século XV não ter vivido o vínculo entre pais e
fi lhos de maneira semelhante aos atuais não quer dizer que não tenha
existido amor dos genitores pelos seus fi lhos; essa relação pautava-se
muito mais na contribuição que as crianças poderiam trazer para a
família e para o bem comum do que no apego ao infante (GIRALDI &
WAIDEMAN, 2007: 3).
Transformações da família no século
XVIII

N a s oc ie da d e oc id e n ta l, o s éc u lo X V I I I é c on s id e ra d o u m m a r c o p a ra a fa m í l i a , p o i s a r e l a ç ã o c o m o s
in te g ra n te s f a m ilia r e s p a s s a a s e r p r iva d a, o qu e a n te s s e es t a be l e c i a c o m o u m a i n s ti t ui ç ã o pú b l i c a e m
q ue to do s in te r f e r ia m , c om o a ig r e j a , a s oc ie d a de , e n tr e o u t r o s .

Um ou tr o m a r c o h is tór ic o qu e c ontr ibu iu p a ra a a f etiv i d a de f a m i l i a r, f o i n o s é c u l o XI X c o m a Re vo l uç ã o


I nd u s tr ia l e c om a m ig ra ç ã o da s p e s s oa s d a zon a r u ra l p a ra o s c en t r o s u r b a n o s , a pa r t i r de e nt ã o s u r g i u
o c on tr ole da n a ta lida d e , u m a ve z qu e , já nã o h av ia t a nt a n ec es s i d a d e de m ã o - d e - o bra p a ra t ra b a l h a r
n a s lav ou ra s , a s s im , a s f a m ília s p a s s a ra m a te r m e n o s fi l ho s , l o g o es s a r ed u ç ã o d e i n t e g ra n t e s
f a m ilia r e s f e z c om q u e h ou ve s s e u m a ap r ox im a ç ã o en tr e pa i s e fi l h o s e c o n s e q u en t e m e n t e o s u r g i m en t o
d a a f e tiv id a d e , a té e n tã o 10 in e x is te n te.

E es te s e ntim en to s e p r ota g on izou no s s é c ulos s e g ui n t e s t e n d o s o l i d a r i e d a de e s en s i b i l i d a de a o s


f a m ilia r e s e p r in c ipa lm e n te u m a lig a ç ã o a f e tiva de a b n e g a ç ã o e de s a m b i ç ã o, s e g u n d o S i m i o na t o &
Oliv e ira ( 2 0 0 3 ) .
Constituição Federal de 1988 e a mudança
legal no novo entendimento de família

A Constituição Federal de 1988 representou um marco na evolução do conceito de família, ao


corporifi car o conceito de Lévy-Brul, de que o traço dominante da evolução da família é sua
tendência a se tornar um grupo cada vez menos organizado e hierarquizado e que cada vez
mais se funda na afeição mútua (GENOFRE, 1997). (SIMIONATO & OLIVEIRA, 2003: 57).

Atualmente, a família é vista como um “sistema inserido numa diversidade de contextos e


constituído por pessoas que compar tilham sentimentos e val ores formando laços de interesse,
solidariedade e reciprocidade, com especifi cidade e funcionamento próprios” (SIMIONATO &
OLIVEIRA, 2003: 58), assumindo, por tanto, uma instituição que difere daquela confi guração
de pai, mãe e fi lho.

Mas, para a família qual a impor tância desses sentimentos como amor, carinho e afetividade
construídos intrafamiliar?
O amor e a garantia de direitos como
regulador e como manutenção das relações
das famílias

No mundo atual, os valores e regras que sustentam o equilíbrio do


indivíduo na sociedade são constantemente negados e violados, o que
difi culta muitas vezes a família e a qualidade de vida da criança e do
adolescente.

Os sentimentos e as emoções estão presentes quando se busca


conhecimento e quando se estabelece relações sociais e familiares. O
afeto e a cognição constituem aspectos inseparáveis presentes em
quaisquer atividades, isto é, a afetividade se estrutura nas ações dos
indivíduos, implica em expressividade e interação de um com o outro.
O amor na experiência
da criança
D e s t e m od o, a c ri a n ça e o a d ol e s c e n t e n e c e s s i t a m d o
a f e t o ( a m o r ) d a f a m í l i a p a ra o s e u d e s e nvo l v i m e n t o, j á
que, com r e l a çã o ao a fe t o, tanto a superproteção
f a m i l i a r, quanto a c a rê n c i a p od e m interferir no
d e s e nvo l v i m e n to d a c ri a n ça e d o a d ol e s c e n t e .

Po r c o n s e g u i n t e , q u a n d o a f a m í l i a s e t o r n a a u t o r i t á r i a o u
p a t e r n a l i s t a , a c a b a p ro g r e s s i va m e n t e a f a s t a n d o a c r i a n ç a
d e s u a s p r ó p r i a s p e rc e p ç õ e s e e m o ç õ e s , p o i s , p r o vo c a n a
mesma o afastamento da experiência, reduz a
a u t o c o n fi a n ç a e a u m e n ta a d e p e n d ê n c i a e m r e l a ç ã o a o s
va l o r e s i n s t i t u í d o s . “ [ . . . ] c om o u n i d a d e e i d e n t i fi c a ç ã o
t o t a l e n t r e d o i s s e re s ; e c o m o t r oc a r e c í p r o c a e n t r e s e r e s
individuais e autônomos [...] a troca recíproca,
e m ot i va m e n t e c o n t r o l a d a , d e a t e n ç õ e s e c u i d a d o s t e m
por fi n a l i d a d e o bem do outro como se fosse o seu
próprio” (ARANHA, 1998: 143).
A importância do afeto
na manutenção das
relações familiares
Po r t a n t o , a f a m í l i a t e m s u a t r a n s f o r m a ç ã o, o q u e e ra u m a
i n s t i t u i ç ã o p a s s a a s e r u m s e n t i m e n t o, s i g n i fi c a q u e e l a
passa a compor fraternidade, amizade, cumplicidade,
solidariedade e amor entre os integrantes da mesma, de
tal modo que a inexistência desses aspectos afeta a sua
manutenção.

“ A s s i m , a f a m í l i a s e f o r m a a t ra v é s d o a f e t o e t r a n s f o r m a
s e u s s e r e s a p a r t i r d o a f e t o. D e s t a f o r m a , s ã o a s r e l a ç õ e s
familiares que despertam o entendimento baseado na
c o m p r e e n s ã o e n o c a r i n h o ” ( L E V Y, 2 0 1 0 : 7 ) .

Assim, a afetividade familiar tem seu papel imprescindível,


é o elemento formador da família na sociedade atual, "as
trocas a f e t i va s na família imprimem marcas que as
p e s s o a s c a r r e g a m a v i d a t o d a , d e fi n i n d o d i r e ç õ e s n o m o d o
d e s e r c o m o s o u t r o s a f e t i va m e n t e e n o m o d o d e a g i r c o m
as pessoas" (SZYMANSKI, 2002: 12).
O afeto trazendo mudança nas confi gurações familiares

A fa m íl ia t ra n sf o rm a-s e n a m ed ida em qu e s e a ce n tu am a s r el aç õ e s de s e nt im en t os en tr e
s eu s me mbr o s: va lo r iz a m-s e as fu n ç õe s a fe ti va s da f am íli a [...] A c o mun h ão d e a fe t o é
in c o m pa t íve l co m o mo de lo ú ni c o, ma t ri mo ni al iz a do d a f am íli a. Po r i ss o, a af e ti vid ad e
e nt ro u nas c o gi ta ç õ es dos ju ri st a s, bu sc a nd o e xp lic a r as r ela ç õ e s f am il ia re s
c o n te mpo râ ne as (DIAS, 2006: 61).

As si m , co mpr ee nd em o s a fa míl ia e su a s di ver s as c o n c ep ç õe s i n se ri da s e m u m si s te ma d e


c o b ra nç a t an to po r me io s re lig io s o s , c o mo t am bé m pe lo Es ta d o, l o go, m es mo e s ta n do em
d i ve rs o s c o n te xt o s, a fa míl ia s e f o rma p or pe ss o as qu e d ivi de m s en ti me nt o s e val o re s
f or m a nd o l aç o s de i n te re ss e , so l id ar ie da de e re c ip ro c id ad e, co m es p ec ifi c id a de e
f un ci o n am en to p ró pr io s .

Poi s, a fa míl ia t e m e ss a ca ra c te rí s tic a de p ro t eç ã o e af et iv id ad e, a p ar ti r do mo me n to qu e


c o m e ç o u u ma ma io r p re o c up aç ã o c o m o s fi l ho s e a e du ca ç ã o do s me sm os .
Pergunta-problema da autora do artigo

Diante da impor tância que a afetividade possui para a confi guração da família,
trago como questionamento os fi lhos das famílias que cometem atos
infracionais, sendo crianças ou adolescentes que infringem a lei.

Será que foi garantido o direito desses adolescentes a ter família? Como se
estrutura a família dos adolescentes em confl ito com a lei? Para estes, o que é
uma família? Será que o modelo de família desses indivíduos possui alguma
relação com tais atos? Será que a família deles e a confi guração (ou não)
dessa família resulta em tamanhas consequências como a inserção de seus
fi lhos nos atos infracionais?
Caso clínico na Terapia familiar

Articulando o que vimos sobre a história social


da família e da infância sob a perspectiva de
Philipe Aries, o que vocês conseguem extrair de
interessante neste caso clínico?
Caso Clínico

As p e ct os q u e d e s t aco :

p ara a fam í l i a q u al a i m p o r t ân c i a d e s s e s s e n t i m e n t os co m o am o r, c ar i n h o e a fe t iv id ad e
co n st r u íd o s i n t ra fam i l i a r ?

Q u an d o fal am o s no amor fam i l i ar (ou na n e ce s sid a d e d e le p ara a c on s t i t u iç ão e


d e se nv o lv i m e n t o da cr i a n ça ) t o ca m o s em as p e ct o s do mito do am o r m at e r n o, n as
d ife r e n ç as d e g ê n e r o n as e x i g ê n ci as r e al i za d as e n t r e p ai s e m ãe s e c om o as m u lh e r e s
l i d a m c om e s s as e x i g ê n ci as .

“ A 2 d iz q ue , em mu i to s mo me n to s , nã o qu e r m ai s s er mã e e te m " s en t im en t o s " r u in s p e lo s fi lh os .
A o me s m o t em po s e s e nt e c u lp a da p o r nã o s er a mã e q u e a s p es s o as es pe r a m q ue el a s ej a” .  
Aspectos sociológicos
da família
Em sua obra “As regras do método sociológico”,
Émile D urkheim sugere que o homem é um
animal selvagem como todos os outros, porém
o que nos torna sociávei s e ci vilizados são
os hábitos e costumes, ou seja, a cultura.

Dessa forma, as instituições sociais são


necessárias para que se faça o processo de
socialização, processo onde seremos moldados,
polidos, até nos modelarmos a forma que a
sociedade espera. Ou seja, as insti tuições
sociais são responsáveis pelo nosso
processo de socialização.
Corpo social
Para Durkheim, a sociedade f unciona como um
organismo, tal como o corpo humano. Assim como o
corpo humano temos vários órgãos que compõem o
organismo, que vão permitir que o corpo funcione.
Quando todos cumprem com a sua função
específi ca, esse organismo funciona de forma
harmoniosa. No entanto, quando um deles não
cumpre a sua função específi ca o corpo inteiro fi ca
doente.

Dentro dessa analogia, o corpo é a sociedade e os


órgãos são as instituições sociais. O que vitaliza a
sociedade são as instituições. Essas insti tuições
sociais têm um ponto em comum: as regras.
Coesão Social

O primordial destas instituições é a


coesão social: é assim que a
sociedade se mantém organizada e
coesa. É a coesão social que
possibilita a solidariedade. Os
indivíduos só colaboram com a
sociedade, porque está ligada ao
grupo.
Fato Social

"Os f atos sociais são conjuntos de hábitos praticados pelas pessoas, por meio de
suas ações, que permitem a identifi cação de uma consciência coletiva, a qual age
por trás dos indivíduos, infl uenciando as suas ações de alguma maneira.

"Isso signifi ca que os fatos sociais são gerais, coercitivos e exteri ores, ou
seja, eles se apresentam como regras gerais no modo de agir dos sujei tos
de uma sociedade, são exteriores ao sujeito, e são coerciti vos na medida
em que atuam como forças em cima dos indiví duos. Nesse sentido, o fato
social é verifi cado e não pode ser modifi cado pela ação individual, pois há uma
f orça exterior (a consciência coletiva) que o molda.
Família

Quando pesquisamos família no dicionário aparecem os seguintes


signifi cados: grupo de pessoas que compartilham a mesma casa,
especialmente os pais, fi lhos e irmãos; pessoas que possuem relação de
parentesco; pessoas cuja relação foi estabelecida por casamento, por
fi liação ou por processo de adoção ou grupo de pessoas que compartilham
os mesmos antepassados.

No entanto, a instituição familiar vai mais além...


Família - Instituição

De acordo com a his tória, a f amília é umas instituições mais antigas de uma
soc iedade, além de estar presentes em inúm eras culturas.

A instituiçã o familiar é f undame ntal na f ormaç ão de um indiv íduo, pois é atrav és


dela que o indiv íduo passará pelo p rocesso d e soci alizaçã o p rimária . Proce sso q ue
pe rmi tirá que e ste d ê os seus p rimeiros p assos como cida dão. É nesta instituição
(família ) q ue e le const it uirá o seu c ará ter e sua identida de, ser á ensina do sobre
va lores, d everes e dire it os, sobre o q ue é cer to e errad o, será ed ucado e
civiliz ad o. Consti tuirá uma ba se p ara que, mais ta rd e, possa fre quentar outras
instituiç õe s, tais como: e scola, Esta do, Igreja , onde fa rá a sua socia lizaçã o
sec undá ria.
Patologias Sociais

De acordo com a sociologia, elas surgem a partir do momento em que uma


instituição falha, gerando consequências que afetam a sociedade no geral.

Exemplos na família: Abandono físico e emocional; violência doméstica e


desemprego.

Essas patologias sociais podem gerar a anomia social A  anomia é um conceito


desenvolvido pelo sociólogo francês Émile Durkheim para explicar a forma com
a qual a sociedade cria momentos de interrupção das regras que regem os
indivíduos. 
Questão de prova - : FGV - 2015 - TJ-PI
- Analista Judiciário - Psicólogo

Segundo Philippe Ariès, o sentimento moderno de infância, que corresponde à ideia de que a cri ança
é portadora de particularidades distintas do adulto, surgiu a partir do movimento de escolarização
iniciado no século XVII. O aprendizado da criança passaria a não mais ocorrer através da convivência
direta dos adultos, ao mesmo tempo em que a família foi chamada a se transformar num espaço de
afei ção em relação aos fi lhos. Os responsáveis por esse movimento foram fundamentalmente:

Alternativas

A pequeno-burgueses;

B médicos higienistas e puericulturistas;

C nobres e aristocratas;

D reformadores católicos e protestantes;

E famílias camponesas e proletárias.


Resposta

LETRA D
Questão de prova
O processo pelo qual as crianças, ou novos membros de uma sociedade, aprendem o modo de vida de sua sociedade é chamado
de socialização. Sobre esse processo, analise as afirmativas abaixo:

I. A socialização é o principal canal para a transmissão da cultura através dos tempos e das gerações, sendo por meio dela que
acontece a conexão entre as diferentes gerações.
II. A socialização primária ocorre na primeira infância e é o mais intenso período de aprendizado cultural. É tempo em que as
c r i a n ç a s a p r e n d e m a l í n g u a e o s p a d r õ e s b á s i c o s d e c o m p o r t a m e n t o q u e f o r m a m a b a s e p a r a o a p r e n d i z a d o p o s t e r i o r.
III. A socialização secundária tem lugar mais tarde, na infância e na maturidade. Nesta fase, outros agentes de socialização. As
interações sociais nos contextos diversos do contexto da família, como a escola, o trabalho, as organizações, por exemplo,
ajudam as pessoas a aprenderem valores, normas e crenças que constituem os padrões de sua cultura.
Assinale a alternativa correta:
A As afirmativas I, II, III estão corretas

BApenas as afirmativas II e III estão corretas

C Apenas as afirmativas I, II estão corretas

D Apenas a afirmativa II está correta


E Apenas as afirmativas I e III estão corretas
Resposta

LETRA A

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