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Pesquisadora.

Doutoranda e Mestra em Direito, Estado e


Constituição pela Universidade de Brasília. Graduada em
Direito pela Universidade de Brasília. Integrante do Grupo de
Pesquisa Trabalho, Interseccionalidades e Direitos e do Grupo
de Estudos Mulheres Negras, ambos da Universidade de
Brasília. Pesquisadora com experiência em trabalho escravo
contemporâneo; direitos humanos; direito internacional dos
direitos humanos; direito do trabalho e relações raciais;
sociologia do trabalho; história social do trabalho; e
interseccionalidade de gênero, raça e classe nas relações de
trabalho.
O que há de velho no novo:
localizando o racismo e o
regionalismo na configuração
do trabalho escravo
contemporâneo
3

Liberdade?
4

Reconhecimento de
trabalho escravo no
território brasileiro.
5

Cronologicamente, a
ocorrência de trabalho em
condições análogas às de Estado novo (1937-1945) e a
“Marcha para o oeste”.
escravo em território “política de povoamento”.
brasileiro é relacionada ao
processo de ocupação das
regiões Norte e Centro-Oeste
do país, iniciado durante o
governo de Getúlio Vargas e
acelerado durante a
ditadura civil-militar (p. 57-
58).
6

Impactos de 1914;

Discurso sobre os
trabalhadores
nacionais;
Busca por
trabalhadores
nordestinos.
7
Grande “Seca”
8

O colonialismo teve um
grande papel no processo
de criação de hierarquias
sociais, que foram
determinantes para o
futuro da população
negra, no pós-
emancipação, que não só
trouxe impactos na
definição de grupos
raciais, mas também em
hierarquias regionais.
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No século XIX foi-se criando teorias naturalistas


que tiveram um papel decisivo para a concepção de
raça. A região Norte era composta por mestiços.
Assim inadequada para ser civilizada. Por isso, é
desenvolvido a teoria de superioridade da
população branca. E com o tempo a população
negra e indígenas seria aniquilada.
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“O termo nordeste surge para designar a área


de atuação da Inspetoria de Obras Contra as
Secas- IFOCS, criada 1919, denominando
área do Norte sujeita às estiagens. Entretanto,
durante a década de vinte, a separação entre
Norte e Nordeste ainda não estava
consolidada, sendo os termos muitas vezes
usados como sinônimos” (p. 61).
11

A criação do
Nordeste ocorreu
por meio de
estereótipos e
preconceitos, que
eram afirmados
pela elite, pela
população e por
estudos.
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Gilberto Freyre:
Perspectiva positiva, porem
conservadora.
Temas: Mestiçagem e tropicalidade.
As ideias de Freyre foram absolvidas por
Getúlio Vagas, pois com a desarticulação
com a política de migração europeia,
precisava de modelos para interpretação a
predominância de negros, mas sem abrir mão
dos lugares sociais.
13

• Durante os anos vinte existia uma disputa


sobre o conheci memento cientifico e
sociológicos.
• A identidade nacional era dividida em dois
blocos antagônicos: São Paulo, Pernambuco
e Bahia.
• É construído homogeneidades construídas a
partir do regionalismo onde o sul e visto o
superior, e o resto como inferior. E isso foi
racializado com aparato do Estado.
• O Sul é relacionado a branquitude, ao
superior e avançado, já o nordeste a negritude
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Capital

Direitos Trabalho

Trabalhador
Cidadania as domésticas

Trabalhado
res Rurais
15 Colorindo o trabalho escravo
contemporâneo: negritude e mercado de
trabalho
• A autora vai trazer a perspectiva de Kevin
Bales, que desconsidera o impacto estruturante
do racismo na sociedade brasileira. O autor
que é constantemente citado nas publicações
brasileiras não considera raça como um fator
relevante para a a escravidão contemporânea.
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“Para o autor, a questão


correta não é se
determinada pessoa tem a
cor certa para ser
escravizada, mas se é
vulnerável o suficiente
para isso. Assim, os
critérios atuais não dizem
respeito à cor, tribo ou
religião, mas à fraqueza,
ingenuidade e privação”
(p.71).
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“Hoje, defende o autor, essas preocupações são anuladas pela "fome de


dinheiro", de modo que a maioria dos proprietários de escravos não
sente necessidade de explicar ou defender o método escolhido para
recrutamento e gestão da forca de trabalho. O caráter rentável da
escravidão se mostra suficiente para justificar sua prática” (p, 72)
18

• O Autor cita três dimensões primordiais que perpassam as formas da


nova escravidão: a violência, a curta duração do cativeiro e a perda
perda decontrole do escravo sobre sua vida pela obrigação contínua
em relação ao proprietário. A partir dessas características, identifica
três formas básicas de escravização na contemporaneidade, que podem
ou não coexistir.
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A primeira delas assemelha-se à velha escravidão, e consiste


na propriedade de outro ser humano baseada na captura, no
nascimento ou na venda em servidão permanente. Os escravos
são tratados como propriedades e itens de consumo, podendo
ser vendidos.
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O segundo tipo é a escravidão por dívida, a mais comum nos dias atuais. Uma
pessoa se compromete por uma determinada quantia de dinheiro, sem definição
da natureza e da duração do serviço e o débito não reduza dívida original,
podendo ser transferida para as gerações futuras. De geral, não se afirma a
propriedade sobre trabalhador, mas há o controle físico completo.
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• A terceira forma é a escravidão contratual, utilizadas nas relações


de trabalho modernas para camuflar a situação real do
trabalhador. São oferecidos contratos que garantem emprego em
oficinas e fabricas, entre outras, mas ao chegar no local de
trabalho, as pessoas se veem escravizadas. O contrato é utilizado
tanto para enganar a vítima como para dar uma aparência legal à
escravidão.
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Ao tratar do Brasil, o sociólogo afirma a


dificuldade em saber se a escravidão
desapareceu completamente após a abolição
em 1888. Desataque nas grandes plantações
das regiões costeiras, áreas mais próximas da
inspeção do governo, converteu-se a
escravidão em poucos anos, mas nas áreas
remotas da Amazônia e do extremo oeste esse
controle ocorreu de maneira mais frouxa.
A assimilação da ideia de que as diferenças étnicas
são pouco relevantes na escravidão atual, tanto
pelos diferentes agentes que atuam no seu combate
como pelos estudiosos do tema, tem como uma de
suas consequências a quase inexistência de
estatísticas e análises com enfoque na relação entre
cor e trabalho em condições análogas às de escravo,
dificultando muito a pesquisa sobre o tema.
Entretanto, os cruzamentos realizados pelo
Laboratório de Análises Econômicas, Históricas,
Sociais e Estatísticas das Relações Raciais -
LAESER, vinculado ao Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro - IE/UFRJ,
confirmam a conexão entre esses fatores ao analisar
a base de dados do Cadastro Único para Programa
Sociais - CadUnico do Governo Federal.
Libertos do
trabalho Residência Gênero Quanto à cor
escravo.
Em fevereiro de
48,6% eram do
2009, 38.572 dos 91,3% residiam 73,5% eram
sexo masculino
beneficiários do no Nordeste, negros.
e
BPF

6,1% no 51,4% do sexo


Sudeste, feminino.

2,7% nas
demais regiões
(Norte, Sul e
Centro-Oeste).
De fato, o cruzamento de dados mais gerais sobre o trabalho escravo contemporâneo, a
composição de cor das regiões e dos estados e a inserção de negros e negras no mercado de
trabalho, permite torar mais complexa a análise do cenário e conectar racismo e regionalismo na
conformação da escravidão contemporânea.
Entre 1995 e 2016, mais de 52 mil trabalhadores foram resgatados pelo Grupo Especial de
Fiscalização Móvel.

Desse total, 95% eram homens, 83% tinham entre 18 e 44 anos;

32% eram analfabetos e 39% só possuíam até a quarta série.

Quanto a origem dos trabalhadores, 23,1% eram do Maranhão, 9,5% da Bahia, 8,6% do Pará,
8,3% de Minas Gerais e 5,6% do Piauí.
A Corte determinar que uma situação como escravidão nos dias atuais, deve-se
avaliar, com base nos seguintes elementos, a manifestação dos chamados
"atributos do direito de propriedade“
• restrição ou controle da autonomia individual;
• perda ou restrição da liberdade de movimento de uma pessoa;
• obtenção de um benefício por parte do perpetrador;
• ausência de consentimento ou de livre arbítrio da vítima, ou sua
impossibilidade ou irrelevância devido à ameaça de uso da violência ou outras
formas de coerção, o medo da violência, fraude ou falsas promessas;
• uso de violência física ou psicológica;
• posição de vulnerabilidade da vítima;
• detenção ou cativeiro;
• exploração.
A branquitude refere-se à
identidade racial branca, a
“a branquitude como um lugar
branquitude se constrói. A
estrutural de onde o sujeito
branquitude é um lugar de
branco vê os outros, e a si mesmo,
privilégios simbólicos, subjetivos,
uma posição de poder, um lugar
objetivo, isto é, materiais
confortável do qual se pode
palpáveis que colaboram para
atribuir ao outro aquilo que não se
construção social e reprodução do
atribui a si mesmo”. (Frankenberg,
preconceito racial, discriminação
1999b, pp. 70-101, Piza, 2002, pp.
racial “injusta” e racismo. Uma
59-90).
pesquisadora proeminente desse
tema Ruth Frankenberg define:

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