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Benzodiazepínicos

REUNIÃO MAIS MÉDICOS – MAIO 2022

Dr. Marco Antônio Nalin – CRMMG 73.939


• Graduação em Medicina pela FIPMOC (2017);
• Especialização em Saúde de Família e Comunidade UFTM (2020);
• Especializando em Psiquiatria (2022);
• Médico Perito Judicial (AJG);
• Médico da ESF Paciência (Porteirinha MG) desde 2018.
Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM
Curso de Especialização Gestão do Cuidado em Saúde da
Família
Uso excessivo de Benzodiazepínicos na comunidade de Paciência – Porteirinha
/ MG
Aluno*: Marco Antônio Nalin Orientador**: Prof. Dra Wânia Cristina da
Silva
Polo: Montes Claros -
MG
Introdução
Proposta de intervenção
Através do presente trabalho de pesquisa apresentamos um estudo
com foco na unidade da Estratégia de Saúde de Família (ESF) Problema Uso excessivo de Benzodiazepínicos
Paciência, distrito de Porteirinha- MG que tem como população prioritário
cadastrada 2.250 pacientes sendo que 15, 55% dos cadastrados faz
uso de benzodiazepínicos inclusive sem prescrição do médico. Nó crítico (1)
Após uma técnica de estimativa rápida, definiu-se qual problema Falta de informação a respeito dos efeitos
da área de abrangência abordar, de acordo com sua urgência, adversos dos Benzodiazepínicos
gravidade e capacidade de enfrentamento.
Projeto (1)
Informação e Conscientização.

Objetivo Resultados (1) Criar uma consciência na população sobre


os riscos que esses medicamentos
O trabalho teve como objetivo apresentar um Projeto causam, diminuir o uso de BZDs da
de intervenção para o enfrentamento do uso população da área de abrangência de
excessivo de benzodiazepínicos na Comunidade de forma geral.
Paciência. Nó crítico (2)
Metodologia Hábitos de vida não saudáveis.
Foi utilizado o Planejamento Estratégico Situacional para
estimativa rápida dos problemas observados e definição do Projeto (2)
problema prioritário, dos nós críticos e das ações, de acordo com Informação e Conscientização.
Campos, Faria e Santos (2017). Para redação do texto foram
aplicadas as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas Resultados (2) Pacientes com hábitos mais saudáveis,
(ABNT) e as orientações do módulo Iniciação à metodologia: com boa higiene do sono e bem
Trabalho de Conclusão de Curso (CORREA, VASCONCELOS, SOUZA informados sobre os malefícios do uso
2017). A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros, artigos, abusivo de BZDs.
revistas e acervo interno da Unidade Básica de Saúde.
Nó crítico (3)
Dependência em pacientes que desejam
Revisão bibliográfica interromper o uso ou utilizam BZDs . .

Segundo o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas


(LENAD) em uma pesquisa com um total de 4.607
Projeto (3) Informação e Conscientização.
indivíduos de 14 anos ou mais, 1.157 do total da amostra Resultados (3) Pacientes com hábitos mais saudáveis,
eram adolescentes entre 14 e 18 anos. Segundo a com boa higiene do sono e bem
Considerações finais
pesquisa, aproximadamente um em cada dez brasileiros informados sobre os malefícios do uso
A prescrição de Benzodiazepínicos tem se mostrado elevada e
fez uso de BZDs em algum momento da vida, sendo que o abusivo de BZDs.
em muitos casos banalizada em todo lugar, não sendo diferente
consumo depois dos 60 anos foi menor do que pessoas na comunidade de Paciência, localidade em estudo. Além do
entre 49-59 anos. Também foi identificado um menor uso alto índice de usuários desses fármacos há o agravante de que
entre adolescentes (2,7%) do que o previamente relatado existem pacientes que fazem uso dessas drogas há anos e o pior
em outro estudo brasileiro (5%) e um estudo europeu é o fato de muitos fazerem o uso sem prescrição médica se
(5,6%). Entretanto, quando considerado o gênero,a valendo apenas da indicação de uma terceira pessoa e da venda
sem exigência da receita médica devido a falta de fiscalização
prevalência do uso de BZD é maior entre as mulheres
em farmácias e drogarias da região.
(MADRUGA, 2019).
Referências
CAMPOS, F.C.C.; FARIA H. P.; SANTOS, M. A. Planejamento, avaliação e programação das ações em saúde. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2017. Disponível em:
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca. Acesso em: 18 set. 2020.
CORRÊA, E. J. ; VASCONCELOS, M. ; SOUZA, S. L.. Iniciação à metodologia: Trabalho de Conclusão de Curso. Belo Horizonte: Nescon /UFMG, 2017. Disponível em:<
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca>. Acesso em:7 ago. 2020.
‌MADRUGA, C. S. et al .Prevalence of and pathways to benzodiazepine use in Brazil: the role of depression, sleep, and sedentary lifestyle. Braz. J. Psychiatry, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 44-50,
Feb. 2019.

*Médico. PSF Vila Formosa


marconalinmedicina@hotmail.com Prefeitura de Lagoa Santa
** Profa. Dr. Wania Cristina da Silva
O que são Benzodiazepínicos?

São medicamentos introduzidos no manejo da ansiedade


a partir da década de 60. Atuam como moduladores
alostéricos, ou seja, facilitam a entrada de íons cloreto,
potencializando a transmissão GABAérgica.

Efeito ansiolítico
Efeito hipnótico
Efeito miorrelaxante
Efeito anticonvulsivante
O que são Benzodiazepínicos?

O potencial de dependência ficou notório a partir da década de


70 e 80.

Atualmente, busca-se equilíbrio na prescrição.

A maioria das prescrições é feita por clínicos.

São medicamentos seguros.

O início do tratamento pode levar à sedação matinal.


Qualidades desejáveis ao médico no manejo com dependentes
de BZDs:

Conhecimento técnico.

Perspicácia para detectar casos de dependência e preparo


emocional.

Capacidade de orientar o paciente, de modo firme e empático.

Detectar e manejar problemas subjacentes que possam


fomentar a continuidade do consumo.
Qualidades desejáveis à Rede de saúde no manejo com
pacientes dependentes de BZDs:

Integração entre os níveis ambulatorial, PSF e serviços de


emergência e serviços especializados.

Manutenção de um registro de pacientes que fazem mal uso


do serviço de emergência para conseguir receitas.

Evitar “repetir receitas”.


Qualidades desejáveis à Rede de saúde no manejo
com pacientes dependentes de BZDs:

Oferecer atendimento aos dependentes de BZDs e


divulgar o serviço.

Atendimentos em grupo podem ser bastante eficazes.


Níveis de intervenção Aconselhamento simples: Avaliação detalhada.

É possível e desejável parar os BZDs.

Colher histórico completo

Observar problemas subjacentes (comorbidades, alcoolismo, problemas


conjugais e familiares)

Sugerir atendimento psicoterapêutico.


Níveis de intervenção Aconselhamento simples:
Avaliação detalhada.

Manejo de casos pouco motivados.

Encaminhamento ao especialista.
Estágios do tratamento:

Orientação e motivação do paciente.

Retirada em si.

Acompanhamento e monitoramento.

Manutenção sem BZDs.


Motivar - Alertar sobre Riscos dos BZDs:

Motivar o paciente para a mudança.

Pontos negativos do uso de BZDs - alertar sobre os riscos do uso continuado


de BZDs:

Aumento do risco de queda.

Interações com outros medicamentos.

Piora da memória, atenção e concentração.


Motivar - Alertar sobre Riscos dos BZDs:

"Anestesia emocional”.

Risco de acidentes ocupacionais e automobilísticos.


Vantagens da retirada - Motivar o paciente para a mudança:

Pontos positivos de parar o uso de BZDs:

Melhora da cognição.

Economia.

Não precisar procurar serviços de saúde para conseguir receitas.


Vantagens da retirada - Motivar o paciente para a mudança:

Pontos positivos de parar o uso de BZDs:

Pode haver uma piora da ansiedade no início da redução e logo na


semana seguinte à retirada, mas
com o passar das semanas haverá melhora gradual do humor e do
sono.
Síndrome de abstinência
Estágios do tratamento:

Orientação e motivação do paciente.

Retirada em si.

Acompanhamento e monitoramento.

Manutenção sem BZDs.


Tratamento da Dependência - Melhor método:

Redução gradual.

Iniciar por estabilização da dose.

Procurar reduzir a dose em intervalos pré-determinados, a partir de uma


negociação firme e empática com o paciente.

Não estender muito os prazos.


Tratamento da Dependência

Alternativa 1:

Redução gradual com troca por BZD de ½ vida longa.

Estabilizar a dose.
Tratamento da Dependência

Alternativa mais utilizada (desmame):

Trocar uma das tomadas por vez: por exemplo, o paciente que toma Alprazolam 4
vezes por dia passará a tomar 3 vezes por dia e uma vez tomará Clonazepam ou
Diazepam (trocar uma das tomadas a cada 3 a 4 dias).
Quando trocar totalmente a droga utilizada, iniciar redução do BZD de ½ vida mais
longa.
Tabela de equivalência
Manutenção

Nesta fase, o paciente deve receber apoio ao estilo de vida sem BZDs.

Evitar uso de estimulantes.

Evitar consumo de álcool (tolerância cruzada e fragmentação do sono).

Orientar que procure tratamento imediatamente caso haja recaídas.


Manutenção

Recomendar atividade física, higiene do sono, técnicas de


relaxamento e gerenciamento de estressores.
Higiene do sono:

Evitar luz e barulho no quarto onde o paciente adormece;

Manter temperatura agradável no local;

Levantar todos os dias no mesmo horário, independente do


horário que for dormir;

Evitar usar aparelhos eletrônicos (como computador e


celular) antes de dormir;
Higiene do sono:

Realizar atividades físicas;

Evitar exercícios físicos intensos por até seis horas antes de dormir;

Evitar refeições copiosas;

Evitar o consumo de álcool por até seis horas antes de dormir;


Higiene do sono:

Evitar fumar antes de dormir;

Evitar bebidas com cafeína por até seis horas antes de dormir.

Controle de estímulos:

Evitar cochilos durante o dia;


Higiene do sono:

Organizar a programação do dia seguinte fora da cama e do horário de dormir;

Não dormir mais do que o suficiente para sentir-se descansado;

Dirigir-se à cama apenas quando estiver com sono;

Evitar ficar olhando para o relógio.


Hipnóticos não BZD:

Teoricamente, causariam menos dependência que os BZD.

São medicamentos que surgiram na década de 90, cuja propaganda é de que seriam hipnóticos
que não atuariam nos mesmos receptores BZD.

Não causariam dependência, menos sintomas de rebote, menos prejuízos cognitivos, indicados no
tratamento de curto prazo da insônia. Ex: Zolpidem.
Medicamentos off-label para insônia:

Os antidepressivos sedativos: tricíclicos, Trazodona e Mirtazapina;

Os antipsicóticos sedativos (Quetiapina, Clorpromazina e Levomepromazina);

Os anti-histamínicos (Prometazina e Dimenidrinato);

Anticonvulsivantes (Gabapentina).
Tricíclicos usados para insônia:

Mirtazapina (Menelat): dose inicial: 15mg

Trazadona (Donaren): dose inicial: 50mg

Opções interessantes e eficazes, sobretudo para pacientes idosos.


E se nada der certo?

Sugerir terapia ocupacional ou psicoterapia.

Referenciar o paciente para um grupo de descontinuação de BZDs.

Procurar detectar comorbidades psiquiátricas (em especial transtornos ansiosos e depressivos).

Detectar dependência de outras substâncias psicoativas.

Rever a motivação do paciente.


E se nada der certo?

Escolher um momento mais adequado para reiniciar a tentativa de redução gradual.

Observar características de personalidade.

Mudar o tom de abordagem.

Buscar o apoio da família do paciente.

E, o mais importante: Não desanimar!!!

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