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Egressos com maioridade: a perspectiva do

adolescente não adotado na inserção à sociedade.

Dora Caroline dos Santos

Luisa Mafra Guedes

Orientadora Márcia Aparecida Miranda de Oliveira


Introdução
Com a dificuldade em ter requerentes para uma adoção tardia, no momento que esse jovem
precisa sair da instituição pode vir acarretado de diversos sentimentos, como medo e angústia
devido ao desconhecimento do que lhe espera posteriormente na sua vida. Quanto mais velho o
adolescente fica, mais o abandono se repete, com todas as expectativas que uma adoção traz,
como a idade, etnia, sexo e principalmente a dificuldade que muitos têm em se adaptar com a
nova família (TUMA, 2016).

Os fatores genéticos se tornam importante, tornando uma das justificativas expressas pelas
pessoas para justificar os motivos da não adoção, principalmente a justificativa da genética ser
atrelada ao caráter e personalidade, partindo do conceito de que, por não ser do mesmo sangue,
fará com que a criança ou adolescente se torne uma pessoa má, dando ênfase nos adolescentes
que são mais velhos e que estão com sua personalidade quase completas.
Objetivo Geral

Conhecer a perspectiva do adolescenete que viveu em uma instituição de


acolhimento e que ao completar a maioridade precisa ser inserido na sociedade.
Objetivos Específicos

❏Identificar como se dá a preparação do adolescente para a saída da instituição


de acolhimento.
❏Identificar como ocorre essa saída do adolescente da instituição de acolhimento
ao completar a maioridade.
❏Identificar os aspectos emocionais, sociais, e culturais evidenciados no
adolescente que viveu em uma instituição de acolhimento e que ao completar a
maioridade não foi adotado.
Fundamentação Teórica
Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (1985), a fase da adolescência é um processo
basicamente biológico que ocorre na vida do sujeito, e é a partir desse período em que acontece o avanço
cognitivo e a formação da sua personalidade. São divididas em duas etapas: a pré-adolescência que inclui os
indivíduos dos 10 aos 14 anos e a adolescência de fato que se constitui pelas idades de 15 a 19 anos. (OMS/OPS,
1985) Já no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), estima-se que esse período da vida do sujeito vai
dos 12 aos 18 anos de idade.

Silva (2010) salienta que com a grande dificuldade de políticas públicas para esses adolescentes, de um dia
para o outro passam por uma fase de desamparo, não só legal, mas econômico, afetivo e social, surgindo assim
sentimentos de angústia, medo e novamente mais um abandono. O foco das políticas públicas atuais é voltado
para o mercado de trabalho, sendo elas recentes e insuficientes, elas acabam sendo uma manutenção capitalista,
não ocorrendo mudanças nas vidas dos adolescentes.

Conforme consta no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), existem duas formas de adoção
mais comumente conhecidas: a unilateral e a conjunta. A adoção unilateral diz respeito à adoção que seria
quando um dos cônjuges tem filhos de relações anteriores e o novo parceiro adota esse filho do outro. E existe
também a adoção conjunta ou cumulativa que consiste na adoção feita por um casal, que precisam estar casados
ou em união estável para dar seguimento no processo, mediante comprovação legal (CALDEIRA, 2018).
Metodologia

❏ Pesquisa Qualitativa - Exploratória Descritiva.


❏ Participantes: 4 adolescentes.
❏ Instrumentos: Ficha de identificação e entrevista semi estruturada.
❏ Análise de dados: Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011).
❏ Critérios de Inclusão: ter idade mínima de 17 anos e estar ou ter
estado em uma instituição de acolhimento.
Caracterização dos Participantes

❏ F. é do sexo feminino, tem 17 anos e nasceu em um município no Paraná. Tem 2 irmãos por parte
de pai e 7 por parte de mãe e está na instituição há 3 anos por motivo de conflitos familiares. F.
estuda e está no segundo ano do Ensino Médio.
❏ M. é do sexo masculino, tem 17 anos e é natural da Colômbia. Está na instituição há 1 ano e saiu
de casa devido a conflitos familiares. Tem 4 irmãos e está cursando o 1º ano do Ensino Médio.
❏ E. é do sexo feminino, tem 20 anos e nasceu em um município no Paraná. Não está estudando
atualmente, parou recentemente, estava no 3º ano do Ensino Médio. E. não tem irmãos. Esteve na
instituição de acolhimento após os seus 16 anos até completar 18 anos por escolha própria.
❏ D. que é do sexo feminino e tem 26 anos. Nasceu em um município em Santa Catarina, tem o
ensino médio completo e tem 2 irmãos por parte de mãe e 3 por parte de pai. Entrou na instituição
quando era bebê, devido a abandono por parte de sua mãe, onde ficou até os 15 anos e depois foi
para outra instituição onde ficou até completar 18 anos.
Caracterização dos Participantes

Participante Sexo Idade Naturalidade Quanto tempo


ficou/está na
instituição

F. Feminino 17 anos Paraná 3 anos

M. Masculino 17 anos Colômbia 1 ano

E. Feminino 20 anos Paraná 1 ano e 6 meses

D. Feminino 26 anos Santa 18 anos


Catarina
Resultados e Discussões
Categorias:
❏ Conhecimento sobre o processo legal para a saída da instituição.

❏ Preparação do adolescente para a sua saída da instituição de acolhimento.

❏ Ingresso na sociedade ao completar a maioridade.

❏ Representação da instituição na vida da criança e do adolescente.

❏ Avaliação do tempo de vivência na instituição.


Categoria
Conhecimento sobre o processo legal para a saída da
instituição
Ao longo dos anos o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) foi recebendo
novas atualizações, uma delas diz respeito à preparação que esse indivíduo deve receber ao
longo da sua vida, de forma gradativa para a saída da instituição de acolhimento, a fim de
contribuir para o seu desenvolvimento, estimular a autonomia e a facilitar a sua emancipação.
Mas mesmo se tornando uma exigência não é em todas as instituições que isso de fato acontece,
e muitas vezes acaba-se adotando a maneira mais antiga de lidar com isso e esse adolescente
acaba tendo seus direitos violados (HONORATO, 2011).
D. (fem., 26a.):
“Não, eles não fornecem nada, nada, nada, nada [...] não passava nada desse tipo de informação, nem a
minha carteira, nem a minha certidão de nascimento eles me deram eu tive que ter que fazer, tive que tirar
xerox essas coisas, tive que ir no cartório, pegar segunda via [...]”.

F. (fem., 17a.):
“Não, não sei. Ainda não”.
Categoria
Preparação do adolescente para a sua saída da
instituição de acolhimento

A preparação para a saída do adolescente já é esperada pela própria instituição e o jovem,


e está prevista de acordo com o projeto político-pedagógico do serviço de acolhimento
institucional, é necessário antes da saída desse futuro adulto, ajudar e fortalecer a sua
autonomia, profissionalização e educação em parceria com o cuidador de referência. Esse
processo de saída da instituição acompanha a insegurança e o desespero para aprender a lidar
com a nova vida, principalmente por essa nova fase da vida ser marcada pela questão
cronológica, deixando assim de serem protegidos e assegurados pelo ECA ao completar 18 anos
(SILVA, 2010).
Categoria
Preparação do adolescente para a sua saída da
instituição de acolhimento
D. (fem., 26a.):
“Olha preparação eles não te dão, eles só falam quando, é.... quando “tu” completa 18 anos “tu” é
obrigada a sair que a instituição não tem mais responsabilidade contigo, a partir do momento, ai
eu hoje eu “tô” fazendo 18 anos mesmo dia eu tenho que ir embora [...] tem que se virar [..]”.

E. (fem., 20a.):
“Eles começaram 6 meses antes de eu fazer 18, e começaram a me colocar no mercado de
trabalho, tipo me dar mais liberdade pra ver como seria minha vida lá fora, tipo sem ter que
depender de ninguém para fazer eu ir, eles, tipo foram me dado aos pouco liberdade pra eu
conseguir ir me adaptando”.

F. (fem., 17a):
“É, comigo a gente “tá” procurando emprego pra mim sair com um emprego, já “tá”
trabalhando”.
Categoria
Ingresso na sociedade ao completar a maioridade
Para Honorato (2011) é necessária uma boa preparação por parte da instituição no
desligamento desses jovens, os incentivando a enxergar e ter esperanças de sua vida na
sociedade, onde deixará de receber ajuda da instituição, sentindo segurança em suas escolhas e
desejos.

M. (masc., 17a.):
“No começo eu “tipo” “tô” um pouco preocupado, né? Porque querendo ou não é uma experiência
nova que tu vai ter né? Daí depois (…) arrumar um trabalho e ficar mais estável daí pra poder
ingressar numa universidade que eu quero fazer engenharia civil, quero me formar e tudo, mas eu
vou tentar né? Se vai dar certo eu não sei, é isso que eu quero fazer”.

E. (fem., 20a.:
“Ah, no começo foi complicado fazer sozinha, mas aos poucos eu fui colocando metas e fui
cumprindo e assim eu me adaptei”.
Categoria
Ingresso na sociedade ao completar a maioridade

”D. (fem., 26a.):


“Olha antes de, de, uns meses antes de sair do abrigo a cuidadora já foi me ajudando, procurando
casa, tipo assim pensão só de meninas ou, procurando quitinete que era melhor e acessível pra
mim na época né? E ela me ajudou assim bastante foi me ajudando a procurar uma casa e logo
depois disso quando eu saí do abrigo também, logo eu fui morar sozinha aí depois de um tempo eu
me casei, fui constituir família, tive filho, então foi tudo assim um processo assim, sabe? Natural,
né? Tudo ao seu tempo”.
Categoria
Representação da instituição na vida da criança e do
adolescente
Mesmo que previsto pelo ECA que uma instituição deve ser temporária, sabe-se que para muitos
adolescentes a instituição acaba sendo caracterizada como um espaço de moradia e todos os ideais que
um lar oferece para a construção de sua identidade (MARTINEZ; SILVA, 2008 apud ASSIS, 2014).
D. (fem., 26a.):
“Olha quando eu era criança eu não gostava muito não (risos) eu me sentia horrível, achava que ninguém me
queria, achava assim bem assim bem inútil porque eu acho que quando tu é criança tu não tem, tipo assim, acho
que falta nos abrigos uma psicóloga que tipo converse contigo, que te explique, que oriente já desde criança até tu
entender, entendeu? Porque tipo assim ó, é, eles não explicam pra ti porque tu tá ali. Eu fiquei até os meus 15
anos esperando meus pais me visitar então é tudo psicológico da gente, sabe? E tu ficar ali, eu ficava ali olhando,
eu lembro que eu ficava no final de semana naquele portão esperando meus pais vim me buscar e tipo ninguém
falava pra mim “ó os teus pais não vão vir te buscar, eles não querem ficar contigo”. E eu fui ter essa noção
quando eu tive 15 anos, quando eu tinha mais ou menos 14 pra 15 anos que o abrigo começou a entrar em
contato com meus pais e, pra ver se algum, se eles queriam ficar comigo e nenhum deles quis ficar comigo, nem
meu pai nem minha mãe, então aí eu fui ter noção que não vinham mais”.
Categoria
Representação da instituição na vida da criança e do
adolescente

M. (masc., 17a): “É, no começo foi difícil porque tipo querendo ou não eu tava muito apegado na minha família, só
que com o tempo eu me acostumei né? Daí querendo ou não isso aqui é a minha segunda família”.

F. (fem., 17a): “Ah, as vezes eu fico mais ansiosa, que eu né, “tô” pra sair. Ah, é legal ficar aqui dentro, mas às
vezes eu não gosto muito, sabe? Que eu queria sair, eu penso toda hora que eu quero sair, não vejo a hora de sair,
só que às vezes me dá preocupação né? Porque quando eu tiver lá fora vai ser tudo diferente, não vai ter ninguém
pra me ajudar, eu vou “tá” sozinha né? Enquanto eu “tô” aqui dentro tem quem me ajude, mas quando eu tiver
lá fora?” .
Categoria
Avaliação do tempo de vivência na instituição

Segundo Acioli et al. (2018), a instituição de acolhimento precisa seguir as diretrizes de


acolhimento,visto que vai ser a moradia dessas crianças e adolescentes e por isso, precisa ser um
ambiente saudável, seguro e amistoso onde este indivíduo possa se desenvolver da melhor forma
possível. E é muito importante que esse tempo em que viveram na instituição tenha um
significado para esses sujeitos, e que possa ser visto como um momento que contribuiu para o
seu crescimento e amadurecimento.
Categoria
Avaliação do tempo de vivência na instituição

M. (masc., 17a.):
“Cara, não sei, eu tipo não sei se foi positiva nem negativa, acho que foi neutra assim porque sair
daqui é um … querendo ou não que eu não fazer nada, entendeu? Tipo eu durmo, agora que eu to
começando a trabalhar mas antes eu não fazia nada, só ia pra escola, a gente chegava e tinha tudo
feito, tipo roupa lavada, a comida feita, a casa limpa, só que daí quando eu for morar sozinho eu
vou ter que fazer isso, entendeu? Então pra mim vai ser um pouco difícil assim mas vai ser bom”.

D. (fem., 26a.):
“Os dois, um pouco positiva, um pouco negativa (risos) um pouco dos dois assim, não vou te dizer
“ah foi muito positiva e legal, bacana” não, não foi, foi um pouco dos dois, eu acho que, é… eu
aprendi bastante morando lá, acho que se eu tivesse pai e mãe eu não tinha aprendido tanto como
eu aprendi, porque a vida é como dizem pai e mãe ensina a gente mas quem ensina é a vida”.
Considerações Finais

❏ É possível reconhecer que a forma como essa preparação acontece vai depender de cada
instituição, mas o que é fato é que os adolescentes têm a consciência de que ao completar 18 anos
precisam sair dessa instituição e iniciar sua vida na sociedade.

❏ A instituição de acolhimento, pode auxiliar no processo de busca de emprego, reinserção familiar,


procura de moradia.

❏ Com relação aos aspectos emocionais, sociais e culturais evidenciados nessa população, a
experiência desses adolescentes dentro da instituição pode ter uma interpretação para cada um
dos participantes, sendo positiva, negativas ou ambas.
Considerações Finais

❏ Ao longo dessa pesquisa foram experienciadas algumas dificuldades, como na busca de uma
instituição de acolhimento e na adesão dos participantes ocorrendo desistências ao longo do
processo.

❏ Percebe-se a necessidade de ajudar esses jovens na inserção na sociedade, apesar de ocorrer,


ainda é observado com essa pesquisa o déficit de projetos políticos pedagógicos iguais para todas
as instituições e o apoio ao sair do lar de acolhimento, pensando nisso, sugerimos que sejam feitas
novas pesquisas sobre essa temática, focando no porquê dessa falta de lei em relação às projetos
políticos pedagógicos e a não existência de apoio a esses jovens ao sair da instituição.
Referências
ACIOLI, Raquel Moura Lins et al. Avaliação dos serviços de acolhimento institucional de crianças e adolescentes no
Recife. Ciência & saúde coletiva, v. 23, p. 529-542, 2018.

ASSIS, Tatiany Cristina de et al. 18 anos, e agora? Perspectivas Pós Acolhimento Institucional. 2014.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 3º edição. São Paulo: Edições 70, 2011. 279 p.

BRASIL, Constituição. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
dá outras providências. Diário Oficial da União, v. 1, 1990.

CALDEIRA, Maria Fernanda Crepaldi. ADOÇÃO: PRINCIPAIS PONTOS NO ÂMBITO JURÍDICO


BRASILEIRO. ETIC-ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA-ISSN 21-76-8498, v. 14, n. 14, 2018.
Referências
HONORATO, Andreia Agda Silva et al. O significado do momento da saída de adolescentes de instituição de acolhimento ao completarem a
maioridade civil: e agora. 2011. Tese de Doutorado. Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo.

OMS/OPS. La salud del adolescente y el joven em las Américas, D.C., 1985.

SILVA, Martha Emanuela Soares da. Colhimento institucional: a maioridade e o desligamento. 2010. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Rio Grande do Norte.

TUMA, Tatiana Bernardes Vieira. Acolhimento Institucional e Maioridade: Trajetórias institucionais de jovens e o momento da saída. 2016. Tese
de Doutorado. PUC-Rio.

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