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A IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA

DA BASE DE ALCÂNTARA:
A DEFESA DA SOBERANIA BRASILEIRA PELO DOMÍNIO
AÉREO.

Ana Emília Ataíde (UFBA)


Teorias do Poder

 As teorias do poder (terrestre, naval e aéreo) foram sendo


concebidas a partir das experiências políticas, econômicas e
sociais entre nações, em períodos de conflitos armados e
guerras, e influenciadas pela localização geográfica.
 Todas essas teorias foram elaboradas por diferentes
pesquisadores, geopolíticos e militares, sendo os principais, o
geopolítico inglês Sir Halford John Mackinder, o Almirante
norte-americano Alfred Thayer Mahan, o General italiano
Giulio Douhet e o Major russo Alexander Seversky.

A teoria do poder terrestre

 abarca as forças geradas e


desenvolvidas na terra,
 e o domínio do Exército por
meio de armas terrestres e
auxiliares para impor sua
vontade e garantir a soberania
no território.
Sir Halford John Mackinder
geopolítico inglês (1860-1945)
 desenhou a concepção do poder terrestre
 coração do mundo (Heartland) – na fronteira entre a Europa e a
Ásia;
 Rússia: a nação com maiores condições para deter o poder
mundial, através do domínio terrestre, devido a sua localização
geográfica.
 Em sua obra geopolítica, “O Pivô Geográfico da Historia”, em
1904, Mackinder pretendia alertar a Inglaterra para a aliança
entre Moscou-Berlim-Tóquio, e o domínio terrestre destas
nações com a construção da densa rede de ferrovias unindo
esses territórios.
A teoria do poder naval

 abarca a força das águas ,


 e o domínio da Marinha por
meios navais e auxiliares para
combater o poder naval do
inimigo.
Almirante Alfred Thayer Mahan,
norte-americano (1840-1914)
 introduzia a concepção marítima já no final do século XIX, destacando
a força naval como sendo mais importante do que a força terrestre.
 Considerava que era crucial para uma nação deter o controle das
principais rotas comerciais marítimas entre os oceanos Atlântico,
Pacífico e Índico.
 Devido a sua alta influencia na política norte-americana, articulou a
geoestratégia do poder marítimo na política nacional, convencendo o
governo dos EUA para eleger a força naval como a principal
ferramenta para o desenvolvimento industrial, militar e econômica.
 Para Mahan, a defesa das rotas de navegação por meio de uma
Marinha eficiente, enriqueceria os EUA, fortalecendo a indústria,
devido ao aumento de exportação de produtos manufaturados e
importação de matéria-prima, contribuindo assim para a construção
de novos portos.
A teoria do poder aéreo

 abarca a força aérea e o domínio da


Aeronáutica por meio do ar para
destruir a força aérea inimiga, ou
aniquilar as bases e fábricas no
território inimigo, com a nova arma
aérea.
General Giulio Douhet
italiano (1869-1930)

 foi um dos teóricos que inseriu, de forma visionária, a noção


da guerra futura e a concepção geoestratégica do poder
aéreo.
 Em sua obra, “O domínio do ar”, Douhet (1988) propunha a
formação de uma força armada unida, com a predominância
do poder aéreo, articulada com o Exercito e a Marinha, para
enfrentar a guerra aérea em um conflito no futuro.
 Em 1920, sua teoria do poder aéreo enfatizava a importância
da nova arma e seu caráter geoestratégico para assegurar, a
qualquer nação no futuro, a possibilidade de decidir a vitória.
Major Alexander Seversky
russo (1894-1974)

 Estudioso do poder aéreo, ele descreveu uma concepção


geoestratégica do poder aéreo a partir de três zonas
aéreas:
 1. a zona dos EUA e seu espaço de reserva (América do
norte, central e do Sul);
 2. A zona da União Soviética e seu espaço de reserva;
 3. A zona decisiva aérea (de ambas potências).
 Foi notório no campo da aviação e considerado um dos
maiores peritos na tática e estratégia da guerra aérea.
Geoestratégia

 De 1840 a 1940, eclipse no uso do conceito


 Pós-Grande Guerra, é retomada nos debates geopolíticos, sem perder
suas características fundamentais ao associar fatores geográficos
(território) a uma “finalidade estratégica” (plano de ação).
 O Instituto de Altos Estudos Militares (IAEM), de Portugal, traz uma
definição oficial
 “a Geoestratégia seria o estudo das constantes e das
variáveis do espaço que, ao objetivar-se na construção de
modelos de avaliação e emprego de formas de coação,
projeta o conhecimento geográfico na atividade estratégica”
(IAEM apud Correia, 2012, p.238).
Geoestratégia pelo domínio aéreo

 Em sua obra, “A vitória pela força aérea”, Seversky (1988)


destaca a importância da nova arma aérea para definir o
conflito, ao descrever como os EUA, após o ataque de Pearl
Harbor, foram progressivamente alcançando a vitória na
Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
 Para Seversky (1998), a nação que não desenvolvesse sua força
aérea tenderia a ficar submetida às estratégias das potências
mundiais, colocando em jogo a sua independência nacional no
conflito futuro.
as forças armadas atuando de modo
“uníssono”

 Segundo Douhet (1988:31), para garantir respostas mais


eficazes, era preciso planejar a defesa do estado concatenando
as forças terrestre, marítima e aérea para dar suprimento aos
conflitos futuros.
 As guerras futuras assumirão nova forma, por onde a “nova
arma”, o poder aéreo, será o principal instrumento de
dominação dos conflitos.
 Estas “novas armas”, portanto, se mostravam mais eficazes
para preparar a defesa nacional, pois além de serem armas
ofensivas, forneciam uma visão tridimensional do espaço
geográfico, eliminando as fronteiras territoriais e nivelando
todos os cidadãos à condição de beligerantes.
 Seversky (1998:19) acreditava que “enquanto a aeronáutica
permanecesse meramente uma indústria como as outras, ou
somente uma auxiliar da defesa nacional, a América ficaria
relegada a posição secundária entre as potencias aéreas”.
 Para essa finalidade, sua obra buscava defender a concepção
básica de que a “emancipação” dos EUA só poderia ocorrer
por meio do avanço da força aérea e fortalecimento da ação
ofensiva, contribuindo para a segurança da América, e
“alcance da vitória na corrida pelo domínio do ar”.

 O axioma dessa emancipação pela força aérea se basearia na


“organização autônoma e especializada do poder aéreo,
livre das restrições e da inércia das organizações há muito
estabelecidas no exército e na marinha de guerra”.
Guerra do Vietnã (1964-1975)

 com os desdobramentos da Guerra Fria,


consequentemente, ocorreu a aceleração da corrida
armamentista que levou à corrida espacial entre as
nações mundiais;
 a Guerra do Vietnã (1964-1975), revolucionou a
tecnologia de guerra ao usar computadores nas
aeronaves espaciais.
sistemas espaciais

 os sistemas espaciais se mostraram com maior


valor operacional para combater guerras,
sobretudo, por que facilitam para o estado
obter informações do espaço através de
sistemas militares que alertam para conflitos
regionais ou globais (Cepik, 2015)
tecnologia espacial

 a tecnologia espacial passou a compor outros


sistemas e dispositivos para uso civil e comercial, “por
exemplo, sistemas de navegação por satélite, além de
satélites de comunicação, meteorológicos, de
sensoriamento remoto, entre outros”, para auxiliar o
estado para alertar a sociedade civil global em caso de
“prevenção e detecção de desastres naturais, o
aumento do nível do mar, a poluição do ar e marítima
e o aquecimento global” (Brittes et al., 20-?, p. 3).
o programa espacial do Brasil

 se iniciou na década de 60, e tinha por objetivo estruturar


projetos estratégicos para as forças armadas garantirem a
defesa nacional desenvolvendo:
 sistemas de comando e controle
 sistemas de segurança das informações
 radares
 equipamentos e plataformas de guerra eletrônica,
 veículos aéreos não-tripulados,
 armamentos inteligentes - guiagem de armas

 (Brittes et al., 20-?, p.2)


Estratégia Nacional de Defesa (2008)

 [...] Projeto e fabricação de veículos lançadores de satélites e no


desenvolvimento de tecnologias de orientação remota,
especialmente sistemas inerciais e tecnologias de propulsão de
combustível líquido.
 [...] Projeto e fabricação de satélites, sobretudo os
geoestacionários, as telecomunicações e os utilizados para as
tecnologias de alta resolução de sensoriamento remoto, multi-
espectral e desenvolvimento de satélites de controle de altitude.
 [...] Desenvolver tecnologias de comunicação, comando e
controle de satélites, juntamente com a terra, aéreo, marítimo e
as forças submarinas para que se tornem capazes de operar e
serem orientadas pela informação recebida dos satélites.
 (Estratégia Nacional de Defesa, 2008, p. 32-33 apud Brites et al.,
domínio aeroespacial

 O domínio aeroespacial, portanto, se torna


imprescindível para o estado construir um
sistema eficaz de vigilância, de
monitoramento e de guiagem de armas
aéreas, garantindo a defesa nacional em
caso de eclosão de uma guerra aérea.
 Douhet (1988) e Seversky (1988) pontuam a
capacidade destrutiva da arma aérea, e seu
caráter ofensivo como sendo crucial para impedir
a força aérea hostil de dominar o ar, por exemplo,
citando a vitória da força aérea nazista no ataque
às Ilhas Britânicas, em 1941.
 A nova arma, e seu caráter ofensivo “total”, no
caso dos EUA, possibilitou o alcance da vitória a
partir de um “bloqueio aéreo de três dimensões”.
 [...] o bloqueio impiedoso não só corta todas as
linhas externas de comunicação, à maneira do
bloqueio ortodoxo da era pré-aviatória, mas destrói
também as linhas internas e os centros principais da
vida nacional. Se o bloqueio do passado era um muro
ou cerca em torno do inimigo, o novo tipo de
bloqueio pode ser comparado a uma bacia invertida
ou cúpula, sob a qual o inimigo é gradualmente
sufocado (Seversky, 1988, p.22).
 A “guerra de três dimensões” ou a “guerra total”
introduz uma nova “palavra de ordem”, a
“destruição”, ou seja, postula-se que somente
através da ação ofensiva uma nação, por meio de uma
estratégia aérea, sistemática e científica, pode
garantir a efetiva defesa nacional e a “cessação das
hostilidades” (Seversky, 1988, p.24).
Corrida espacial no Brasil
 Década de 60
 O programa espacial brasileiro é criado; deriva da relação
bilateral Brasil-EUA:
 lançamento de dois foguetes brasileiros na mesma década,
Sonda I e II.
 Década de 70
 Criação da EMBRAER
 Cooperação Científica e Tecnológica com a Alemanha
 Criação do Instituto de Atividades Espaciais, hoje
conhecido como o Instituto de Aeronáutica e Espaço
 Criação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
 Criação da Missão Completa Espacial Brasileira (MCEB)
BASE DE ALCÂNTARA (CLA)

 Década de 80
 Esfriamento das relações Brasil-EUA
 Fortalecimento da relação Brasil, China, França e
Alemanha
 1983- Inauguração da CLA
 1985 – criação do Ministério de Ciência e Tecnologia
(autonomia para o INPE)
 Década de 90
 1994 – criação da Agência Espacial Brasileira (AEB), vinculada
ao Estado Maior das Forças Armadas.
 1997 – lançamento de dois foguetes: um explode e o outro
apresenta falhas técnicas
 Cooperação científica e tecnológica Brasil-Argentina-Chile
(coordenado pela AEB e o Centro Nacional de Estudos
Espaciais (CNES).
 Brasil assina acordo de Cooperação dos Usos Pacíficos do
Espaço Exterior
Acidente na Base de Alcântara
 Começo do século XXI
 Cooperação Brasil e China contribui para o lançamento de
foguetes com sucesso.
 2001 – Os EUA pressionam o Brasil para alugar a CLA (Acordo de
Salvaguardas Tecnológicas)
 2003 – Acidente na Base incendia um dos foguetes do VLS nº 1
 2006 – Brasil estabelece com a Ucrânia um Tratado sobre
Cooperação ao Longo Prazo na utilização do Veículo Lançador
Cyclone-4, no CLA,, possibilitando a criação da empresa binacional
Alcântara-Cyclone Space
 2017 –Lançamento do primeiro satélite geoestacionario feito por
brasileiro, com finalidade civil e militar, na base da Guiana Francesa.
Acidente ou sabotagem?

 Ronaldo Schlichting, perito em armas, afirmou que até


uma bala de Fuzil Barret nº50, com alcance de até 3 km,
pode ter sido a causa do impacto no foguete.
 O professor do Centro Tecnológico da Aeronáutica, Dr.
Edilson Bittencourt, nega a hipótese de “ignição
espontânea” num dos 4 foguetes de do VLS-1.
 O professor do Departamento de Ciência e Computação,
Pedro Antônio Dourado de Rezende, acredita que até por
radiofrequência em algum ponto próximo à base pode ser
“crackeada” a comunicação brasileira.
A importância geográfica do CLA
 as vantagens comparativas da Base de Alcântara mostram-se
superiores a qualquer outra base de lançamento no mundo.
 Sua latitude, ou seja, a distância a partir da Linha do Equador,
medida em graus, apresenta o melhor posicionamento, estando
situado a apenas 2º ao Sul do Equador,
 base de Kourou, na Guiana Francesa, está a 5º ao Norte,
 o Centro de Espacial Kennedy a 28º ao Norte
 e a futura base da Ilha Terceira a 38º ao Norte.

 Esse posicionamento privilegiado contribui para a economia de


30% do combustível dos foguetes, o que equivale de 25 a 30
milhões de dólares economizados para o lançamento do veículo
espacial
Considerações Finais
 Atualmente o Brasil se encontra entre um dois oito países
no mundo que possui um programa espacial completo.
 Segundo o ministro de defesa Raul Jungmann e o
ministro de tecnologia e comunicação Gilberto Kassab, o
projeto de LSG brasileiro tem por objetivo:
 1. controlar as fronteiras do contrabando e narcotráfico,
 2. universalizar o acesso à banda larga no Brasil
 3. dar continuidade no programa espacial brasileiro,
visando alcançar a soberania na operação, construção,
produção e lançamento de satélites para inserção do
Brasil no comércio mundial de satélites.
Efetiva defesa nacional
 Quanto maior for a capacidade geoestratégica do estado pelo
domínio do ar, em sua ação ofensiva para aniquilar a força aérea
hostil, maior será sua capacidade de garantir a efetiva defesa
nacional.
 Além da questão relacionada com a guerra futura, a defesa da
grande extensão territorial do Brasil carece de satélites para
mapear as regiões mais remotas, conduzir medidas de combate
ao desmatamento e ocupação irregular de terras; mitigação de
desastres naturais ou provocados pelo homem; conservação das
reservas naturais (por exemplo, das minas de ouro e diamante
em territórios indígenas que são saqueados por grileiros e
estrangeiros); controle do agropecuário; prospecção de solos,
mares e rios; patrulhamento efetivo de nossa extensão marítima
e de nossas fronteiras terrestres.
A Guerra aérea do futuro

 Portanto, com maiores investimentos para a


modernização da CLV de Alcântara e compreensão da
importância geoestratégica da base de Alcântara, o
Brasil pode de forma efetiva garantir a defesa do
território nacional dos conflitos e problemas
domésticos, bem como, de uma guerra aérea no
futuro.
FIM!

 MUITO OBRIGADA!

 Magrinelli.lisboa@gmail.com

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