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Álvaro de Campos

Índice
Apresentação do
O imaginário épico
heterónimo

As três fases A fase intimista

A fase decadentista Linguagem e estilo

A fase futurista Exercícios

Álvaro de Campos
Apresentação do heterónimo
«A origem dos meus heterónimos é
o fundo traço de histeria que existe em
mim. Não sei se sou simplesmente
histérico, se sou, mais propriamente, um
histero-neurasténico […]. Seja como for, a
origem mental dos meus heterónimos está
na minha tendência orgânica e constante
para a despersonalização e para a
simulação.» Excerto da Carta de Fernando Pessoa a
Adolfo Casais Monteiro, de 13 de janeiro
de 1935, in Correspondência 1923-1935,
ed. Manuela Parreira da Silva, Lisboa,
Assírio & Alvim, 1999

Fernando Pessoa, de Bottelho

Álvaro de Campos
Apresentação do heterónimo
«[…] pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à
vida. […] cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de
mim) seria um alarme para a vizinhança. […] Álvaro de Campos nasceu em
Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira
Gomes; […]. Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está
aqui em Lisboa em inactividade. […] Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura,
mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada
todos […] Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi
mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval.
Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o “Opiário”. Ensinou-lhe
latim um tio beirão que era padre. […].»
Excerto da Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de janeiro de 1935,
in Correspondência 1923-1935, ed. Manuela Parreira da Silva, lisboa, Assírio & Alvim, 1999

Álvaro de Campos
A Poesia de Álvaro de Campos pode subdividir-se em:

Fase Decadentista Fase Futurista Fase Intimista

o Vocabulário disfórico; o Recurso à ode; o Monólogo em tom confessional ;


o Tom emocional, evasivo e o Estilo declamatório e esfuziante; o Ritmo distendido;
que expressa emoção; o Ritmo desenfreado e tenso; o Vocabulário disfórico e emotivo;
o Recurso à metáfora e o Vocabulário do mundo moderno o Predomínio da metáfora;
anáfora. da máquina, incluindo o Recurso à exclamação,
neologismos e onomatopeias. reticências e interrogações.

Álvaro de Campos
A fase decadentista tem como características:
tédio de viver;
desilusão perante uma vida monótona e sem objetivos;
cansaço, frustração e enfado que levam o sujeito poético a desejar a evasão
para um não-lugar e a ver no ópio um refúgio;
procura de novas sensações;
atitude desafiadora das normas instituídas.

Álvaro de Campos
A fase futurista tem como características:
celebração da Modernidade: máquina,
energia e velocidade;

glorificação da tecnologia;

atitude provocatória e transgressora,


com o objetivo de escandalizar;

sensacionismo: desejo de experienciar


intensamente o mundo moderno nas suas
múltiplas facetas;

celebração do momento presente, onde


todos os tempos se fundem;

Álvaro de Campos
A fase futurista tem como características:
enaltecimento do cosmopolitismo,
sobretudo das nações ocidentais;

exaltação de uma nova conceção de


arte que privilegia a força, a tecnologia, o belo
feroz;

insatisfação e frustração perante a


incapacidade de abarcar a totalidade do real.

Álvaro de Campos
Celebração da modernidade: máquina «Ode triunfal»

«À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica


Celebração do momento presente, onde Tenho febre e escrevo.
tudo se funde (uso predominante do Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
presente do indicativo) Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Exaltação de uma nova conceção de arte


Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
baseada no belo feroz
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Celebração da modernidade: energia e Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
velocidade Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
Sensacionismo: desejo de experienciar De expressão de todas as minhas sensações,
intensamente o mundo moderno nas suas Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
múltiplas facetas
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical
Comparação inusitada entre os motores e a –
natureza, que promove uma atitude provocatória e
transgressora, com o objetivo de escandalizar […].»

Álvaro de Campos
O tom arrebatado e a paixão pelo Moderno da

Fase futurista

leva-nos a constatar

Imaginário Épico

Álvaro de Campos
O imaginário épico caracteriza-se pela:
exaltação da realidade tecnológica moderna em termos épicos;
glorificação da grandiosidade e da euforia do progresso, como uma proeza
heroica da humanidade;
representação da emoção violenta e da «pujança da sensação», com pendor
épico;
expressão elevada do grandiloquente progresso e da vida moderna das
cidades: arrebatamento do canto;
exaltação excessiva, torrencial e em delírio das sensações que o sujeito poético
experiencia no frenesim do tempo presente;
defesa de uma nova poesia como expressão da civilização moderna.

Álvaro de Campos
exaltação da realidade tecnológica «Ode triunfal»
moderna em termos épicos;
«[…]
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes —
Na minha mente turbulenta e encandescida
expressão elevada do grandiloquente Possuo-vos como a uma mulher bela,
progresso e da vida moderna das cidades: Completamente vos possuo como a uma mulher bela que
arrebatamento do canto; não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.

Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!


Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).

Álvaro de Campos
«Ode triunfal»

«[…]
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo
dele.
[…].»

exaltação excessiva, torrencial e em delírio das


sensações que o sujeito poético experiencia no
frenesim do tempo presente.

Álvaro de Campos
A fase intimista tem como características:
a consciência (lucidez) que desencadeia uma reflexão existencial angustiante;
o eu tem uma consciência dramática da identidade fragmentada;
a deceção, o desalento e a angústia existencial da vida moderna;
o vazio, a falta de afeto e a ausência de ligação aos outros;
o abatimento, que leva o eu a sofrer fechado em si, consciente de que não sairá
deste estado;
Manifestação do vazio interior, cansaço e falta de ânimo, que se associam à
incapacidade de sentir, ao pessimismo e ao desencanto;

Álvaro de Campos
A fase intimista tem como características:
O sujeito poético sente-se minado pela «dor de pensar», como se lia na poesia
do ortónimo;
o eu revela um individualismo exacerbado que o condena ao isolamento
(solidão) e o impede de criar laços afetivos e de se relacionar com os demais;
a recordação nostálgica da infância, tempo dos afetos, que não voltará a aceitar.

Álvaro de Campos
Linguagem e estilo
Irregularidade estrófica, rítmica e métrica (verso longo e branco);
Linguagem simples, objetiva, prosaica com recurso a onomatopeias,
neologismos, empréstimos, topónimos e antropónimos;
Inclusão de diferentes registos de língua (do literário ao calão);
Presença de vocabulário concreto;
Construções sintáticas nominais, gerundivas, infinitivas e, por
vezes, presença de construções sintáticas inusitadas;
Privilégio do presente do indicativo;
Recursos expressivos predominantes: aliteração,
anáfora, apóstrofe, enumeração, gradação e metáfora.

Álvaro de Campos
Uso do presente do indicativo
«Lisbon Revisited»

«Não: não quero nada


Inclusão de diferentes registos de
língua: do literário ao coloquial Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!


Uso de exclamações para reforço de
A única conclusão é morrer.
frases imperativas

Não me tragam estéticas!


Não me falem em moral!
Análise Formal:
Tirem-me daqui a metafísica!
Irregularidade estrófica: dísticos, sextilha e monóstico; Não me apregoem sistemas completos, não me
enfileirem conquistas
irregularidade rítmica: aa/bc/defggh/i – versos soltos, Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
na sua maioria;
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
irregularidade métrica:
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Ex. 1 – Não | Não | Que| ro| na| da – 5 sílabas
métricas;
Ex. 2 – Não | me | tra | gam | es| té| ti| cas– 6 sílabas […].»
métricas

Álvaro de Campos
Exercícios

Álvaro de Campos
Exercícios Solução

1. Assinale como verdadeiras ou falsas as afirmações.

A. A poesia de Álvaro de Campos apresenta três fases: estoica, futurista e intimista.


• Falsa

B. Na primeira fase, a sua poesia caracteriza-se pelo desejo de evasão.


• Verdadeira

C. O heterónimo pessoano apresenta características em comum com o ortónimo, como a


nostalgia da infância.
• Verdadeira

Álvaro de Campos
Exercícios Solução

1. Assinale como verdadeiras ou falsas as afirmações.

D. A «Ode Triunfal» ilustra o período intimista de Campos.


• Falsa

E. A ode surge como forma poética predominante da fase intimista.


• Falsa

Álvaro de Campos
Exercícios Solução

2. Complete as frases com a palavra adequada.

A.
2.2 Álvaro
Mensagemde Campos
aproxima-se
é odaheterónimo
obra Os Lusíadas,
mais próximo
uma vez que…
do ortónimo, destacando-se, nesta
aproximação, a temática (do fingimento
fingimento artístico/ da nostalgia
artístico/da nostalgia da
dainfância).
infância).
a) … ambas as obras têm como tema central o nacionalismo.
B. O tom épico pode ver-se em poemas como («Opiário»/«Ode Triunfal»),
(«Opiário»/«Ode sendo este exemplo
Triunfal»),
b) … têm ambas a mesma autoria.
da fase (futurista/decadentista).
(futurista/decadentista).
c) … são as duas obras de caráter poético.
C. O imaginário épico surge, devido ao enaltecimento da (máquina/evasão).
(máquina/evasão).
d) … ambas são escritas em português contemporâneo.
D. O tédio de viver é uma das características predominantes da fase (decadentista/intimista).
(decadentista/intimista).

E. A (regularidade/irregularidade)
(regularidade/irregularidade) formal subjacente à poesia deste heterónimo traduz a
(importância/insignificância) dada ao conteúdo.
(importância/insignificância)

Álvaro de Campos
Exercícios Solução

3. Selecione a opção correta para cada alínea.

1. Na poesia de Campos predomina o recurso

a) ao hipérbato, à metáfora e à personificação.


b) ao hipérbato, à apóstrofe e à anáfora.
c) à metáfora, à gradação
gradação ee àà apóstrofe.
apóstrofe.
d) ao eufemismo, à personificação e à comparação.

Álvaro de Campos
Exercícios Solução

3. Selecione a opção correta para cada alínea.

2. A deceção, o desalento e a angústia existencial são características que marcam a poesia


alvariana na sua vertente

a) sensacionista.
b) futurista.
c) intimista.
intimista.
d) épica.

Álvaro de Campos
Exercícios Solução

3. Selecione a opção correta para cada alínea.

3. A poesia do heterónimo, na sua fase intimista, caracteriza-se, essencialmente

a) pela desilusão
desilusão ee cansaço
cansaçoperante
peranteaavida.
vida.
b) pela vontade de superar a nostalgia da infância.
c) pela certeza da dor subjacente ao uso do ópio.
d) pelo uso de vocabulário épico e enaltecedor.

Álvaro de Campos

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