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NATAL
2023
MARIA CLARA VALENÇA NASÁRIO MENDES
NATAL
2023
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INTRODUÇÃO
[...] Prometeu astuto de iriado pensar e o sem-acerto Epimeteu que foi um mal dês o
começo aos homens come-pão, pois primeiro aceitou de Zeus moldada a mulher
virgem. (HESÍODO, 2022, p. 144)
Segundo Hesíodo, Prometeu é filho de Jápeto e Climene (esta uma oceânides, filha do
Oceano com a deusa Tétis; aquele, um dos 12 titãs clássicos, filhos de Urano e Gaia), sendo
dos seus filhos o mais astuto e inteligente. Segundo a etimologia do seu nome, Prometeu
(Προμηθεύς em grego) é a junção de duas concepções: “pensar, aprender” e “antes”, uma
espécie de “antevisão”. Portanto, Prometeu significa “o que pensa antes”, traduzindo a astúcia
que Hesíodo conclama ao titã durante todo o poema.
De acordo com Stephanides (2016, p. 13 – 15), os homens viviam nas cavernas, sem
ter acesso ao fogo; é quando Prometeu decide ajudá-los a viver melhor, ainda que fosse
castigado por Zeus. Ele entrega o fogo aos homens e assim, os homens não aprendem apenas
o uso do fogo, mas também as artes. O uso do fogo abre os horizontes da humanidade e
diminui a diferença entre homens e deuses – agora a única coisa que os separa é a
imortalidade. Zeus, irado com tudo isso, castiga Prometeu, prendendo ele às rochas do
Cáucaso e fazendo uma grande águia comer seu fígado, que era regenerado para ser comido
novamente no dia seguinte. Curiosamente, é um filho de Zeus – Hércules ou Herácles
(Ηρακλής em grego) – que liberta Prometeu de sua tortura e prisão.
Entretanto, Prometeu comete outra desobediência: na partilha das partes dos animais
sacrificados aos deuses, ele engana Zeus fazendo os deuses ficarem com os ossos e vísceras
enquanto os homens ficariam com as carnes. Zeus mais uma vez se ira com Prometeu e em
castigo, tira o fogo dos homens. Prometeu então devolve o fogo aos homens e para castigar os
preferidos de Prometeu, Zeus entrega a Epimeteu (irmão de Prometeu, conhecido por ser o
oposto do irmão. tanto que a etimologia do nome de Epimeteu – Ἐπιμηθεύς em grego –
significa “pensar depois” ou “visão póstuma”) Pandora, a primeira mulher, que abre a ânfora
(em muitas traduções, caixa, vaso ou jarro) dada a Epimeteu por Prometeu, liberando todos os
males para a humanidade, como a fome, a doença, o ódio, a vingança, etc. É interessante
ressaltar que para Hesíodo, o pior castigo para Prometeu foi a chegada de Pandora para os
homens. Ou seja, para Hesíodo, Prometeu era tanto o herói da humanidade que seria “mais
castigado” com um castigo feito aos humanos que um castigo feito a ele mesmo.
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1.1. PARA HÉSIODO, CULPADO OU INOCENTE?
Segundo Ésquilo, Prometeu é filho da titânide Tétis (na obra de Hesíodo Tétis seria
“avó” de Prometeu, já que esta é mãe de Clímene e das oceânides), sendo esta chamada de
sábia por Hefesto (o deus responsável por prender Prometeu nas rochas do Cáucaso), o que
nos dá uma ideia de que Ésquilo estaria justificando o pensamento astuto e ágil de Prometeu
ao lhe atribuir filiação com uma deidade sábia. Prometeu começa a peça de Ésquilo sendo
preso e torturado nas rochas do Cáucaso e é durante a narrativa que descobrimos porque ele
está sendo castigado: diversos personagens, como Poder, Hefesto, Io, Força, falam não apenas
com a platéia/leitor sobre os crimes de Prometeu, mas também sobre a crueldade do castigo
de Zeus. Apesar de Zeus não aparecer no texto de Ésquilo, ele é referenciado a todo instante.
Os demais personagens servem-lhe como mensageiros, principalmente o deus Hermes, que é
o único que defende Zeus e justifica seu castigo. Ao final, Prometeu conta para Io (outra
castigada pela ira de Zeus) que um descendente dela, da linhagem de Zeus irá libertá-lo. Esse
filho seria o herói Herácles (ou Hércules). Segundo Sottomayor (2001, p. 135), o objetivo da
tragédia escrita por Ésquilo é mostrar como a filantropia de Prometeu ao ajudar a humanidade
vai de encontro à tirania de Zeus; e que este, esquecendo da sabedoria do titã, castiga
Prometeu mesmo que este saiba como Zeus poderia derrotar os titãs.
Prometeu durante a peça discorre sobre sua tragédia, sobre como seu castigo é injusto
e como ele se encontra preso graças à tirania de Zeus. É interessante ressaltar que o próprio
Prometeu esmiúça seus crimes, não escondendo nada do que fez, mas ainda assim, defende-se
e garante que Zeus irá se arrepender de tê-lo castigado, pois o fim do trono de Zeus, tal como
fora profetizado por seu pai Cronos, estava próximo; e somente Prometeu, segundo ele
mesmo, teria o poder de evitar isso. Também vale ressaltar a ira de Prometeu sobre Hermes,
que serve como mensageiro e defensor de Zeus – é chamado por Prometeu de “moço de
recados” (ÉSQUILO, 1993, formato epub, posição 1203). Ao final, Prometeu ouve os raios e
trovões de Zeus anunciando que seu castigo continuará até que Zeus se redima ou que ele seja
libertado, invocando mais uma vez sua mãe, a justa Têmis, para interceder por ele.
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1.1. PARA ÉSQUILO, CULPADO OU INOCENTE?
Neste trabalho, podemos compreender que tanto Hesíodo quanto Ésquilo tem, além de
uma visão diferente sobre o mito de Prometeu, uma narrativa diferente sobre o mito.
Entretanto, apesar de diferentes, ambos defendem os atos de Prometeu – enquanto um atribuí
uma atitude heróica de defensor da humanidade em Prometeu, outro o justifica pela dureza do
castigo de Zeus. (AZAMBUJA, 2013, p. 19-27).
Também vale salientar que mesmo sem a concepção de pecado, é importante entender
que os crimes de Prometeu podem ser considerados pecados ante ao deus Zeus. Segundo
Drummond (2014, p. 42), cometer um excesso (ou seja, um pecado), uma hamartía (em grego,
ἁμαρτία, falha, erro) era ultrapassar a medida, cometer uma falha e segundo a Poética de
Aristóteles, fazia alusão direta aos heróis e suas tragédias. Prometeu paga pelo “pecado”, ou
seja, paga pela sua desobediência, portanto, mesmo com conceitos diferentes, há a redenção
do pecado/desobediência de Prometeu para com Zeus, o que faz inocente aos olhos dos
leitores dos textos de Ésquilo e Hesíodo.
Assim sendo, a desobediência do titã ao rei dos deuses é uma atitude heróica, não
podendo ser vista como um “pecado” ou crime, mas sim, como uma atitude honrosa. Ratifica
essa ideia Omena (2013, p. 40) ao afirmar que o titã Prometeu é, na Teogonia de Hesíodo, o
responsável pela separação entre homens e deuses, o primeiro protetor dos homens; logo, a
importância de seu sacrifício daria o destaque heróico que a divindade mereceria.
Corrobora essa visão Raaflaub (2002, p 13), ao afirmar que Prometeu desde muito
cedo era visto como um protetor da humanidade, sendo, portanto, a humanidade objeto da ira
de Zeus quando este é enganado por Prometeu; portanto, é essencial observar na poética de
Hesíodo e Ésquilo o caráter heróico do titã. De acordo com Da Costa (2014, p. 9), é a
compaixão demonstrada por alguns personagens, como Hefesto, que mostram ao leitor a
injustiça da condenação de Prometeu, mesmo que este, durante o transcorrer da narrativa, se
mostre realmente culpado e não arrependido de seus crimes. Afinal, Prometeu admite ter feito
tudo o quanto foi acusado de fazer e até mais; mas justifica seus feitos perante seu amor pela
humanidade e pela dureza do castigo. Portanto, ao finalizar essa análise, podemos concluir
que o castigo de Prometeu não apenas o redime, mas segundo Ésquilo e Hesíodo, é a
justificativa e causa para o culto a esta divindade mitológica.
REFERÊNCIAS
AZAMBUJA, Celso Candido. Prometeu: a sabedoria pelo trabalho e pela dor. Revista
Archai, n. 10, p. 19-27, 2013.
ÉSQUILO. Prometeu Acorrentado – Uma tragédia grega. Trad. de Mário da Gama Kury.
Editora Expresso Zahar, 1993, formato epub.
HESÍODO. Teogonia. Trad. de Christiano Werner. Editora Hedra, 2022, formato epub,
p.144-147.
OMENA, Leandro Gama et al. Ex Oriente Fiat Lux A Queda do Titã Prometeu na Grécia
Antiga. Monografia do curso de Licenciatura em História do Instituto Multidisciplinar da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2013.