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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH V


COLEGIADO DE LETRAS/ LÍNGUA PORTUGUESA E SUAS LITERATURAS

ANA FLÁVIA DE JESUS SILVA

O MITO DE PROMETEU E PANDORA

SANTO ANTÔNIO DE JESUS


2024
ANA FLÁVIA DE JESUS SILVA

O MITO DE PROMETEU E PANDORA

Texto de análise do mito de Prometeu e Pandora,


apresentado ao Curso de Licenciatura em
Letras/Língua Portuguesa e suas Literaturas, pela
Universidade do Estado da Bahia, DCH V, como
requisito para obtenção de nota/aprendizagem para o
componente curricular Filosofia e Educação. Esse
mito é mencionado por Hesíodo em dois trabalhos
atribuídos a ele: Teogonia e Os trabalhos e os dias.
Para esse texto tomaremos como base o título: Os
trabalhos e os dias.
Orientador: Josevandro Chagas Soares.

SANTO ANTÔNIO DE JESUS


2024
No texto “Os Trabalhos e os Dias” de Hesíodo, o mito de Prometeu e Pandora é narrado
para explicar a origem da humanidade e a introdução do mal no mundo. De acordo com o mito,
Prometeu rouba o fogo dos deuses para presentear os humanos, o que enfurece Zeus. Em
retaliação, Zeus ordena a criação de Pandora, a primeira mulher, e a envia para a Terra com
uma caixa que não deveria ser aberta. Curiosa, Pandora acaba abrindo a caixa, liberando assim
todos os males do mundo, sem conhecer a esperança, que permanecia escondida no fundo da
caixa.
Prometeu, um titã, roubou o fogo dos deuses no Monte Olimpo e o deu aos humanos,
por isso ficou conhecido como um herói, associado a capacidade humana de possuir
conhecimento e sabedoria, visto que, o fogo simboliza o conhecimento, a criatividade e o
progresso humano e era algo exclusivo aos deuses e proibido aos mortais.
Zeus, o rei dos deuses, puniu Prometeu amarrando-o a uma rocha, onde uma águia
comeria seu fígado todos os dias. O fígado se regenerava à noite, perpetuando seu sofrimento.
Essa punição é um exemplo da natureza punitiva e implacável dos deuses na mitologia grega,
e serve como lembrete das consequências de desafiar o poder divino. Podemos interpretar a
atitude de Prometeu em ter trazido fogo a humanidade como uma ação desafiadora das normas
divinas e patriarcais. Ele ousou ajudar os humanos, desafiando a autoridade de Zeus.
Pandora foi a primeira mulher criada pelos deuses como parte de um plano de Zeus
para punir a humanidade e trazer sofrimento ao mundo. A intenção de Zeus era vingar-se de
Prometeu e dos humanos, pois Prometeu havia desafiado o poder dos deuses ao roubar o fogo
para os mortais. Ela foi moldada por Hefesto e recebeu presentes de outros deuses, incluindo
beleza, graça e curiosidade. Zeus deu a Pandora uma caixa (ou jarro) e advertiu-a para não abri-
la. Curiosa, ela o fez, liberando todos os males (doença, tristeza, inveja etc.).
Embora o mito de Prometeu e Pandora não esteja diretamente ligado a questões de
gênero, está intimamente ligado à ideia de que a curiosidade feminina pode levar a
consequências desastrosas. Essa narrativa perpetua estereótipos de gênero, retratando Pandora
como a causa da entrada do mal no mundo e Prometeu como um herói benevolente que desafiou
os deuses para ajudar a humanidade. Em resumo, esses mitos exploram temas como
conhecimento, curiosidade, sacrifício, sexualidade e diferenças de gênero. Eles continuam a
nos fazer refletir sobre nossa própria humanidade e as complexidades das relações entre homens
e deuses.
No texto “Os trabalhos e os dias” se explica também o surgimento da necessidade
humana em ter que trabalhar para sobreviver, como uma consequência das ações humanas e a
origem das dificuldades enfrentadas pelos mortais. No início do poema lemos os seguintes
versos “senão comodamente em um só dia trabalharias / para teres por um ano, podendo em
ócio ficar;” (vv. 43-44). Em seguida, Hesíodo canta resumidamente o mito de Prometeu,
dizendo que Zeus ocultou o fogo (v. 50) dos homens e que “de novo o bravo filho de Jápeto /
roubou-o do tramante Zeus para os homens mortais / em oca férula” (vv. 50-52). Zeus responde
a Prometeu: “grande praga para ti e para os homens vindouros! / Para esses em lugar do fogo
eu darei um mal e / todos se alegrarão no ânimo, mimando muito este mal.” (vv. 56-58).
Em seguida, Zeus convoca Hefesto para criar a forma humana que ordena, “terra à água
misturar e aí pôr humana voz e / força, e assemelhar de rosto às deusas imortais / esta bela e
deleitável forma de virgem;” (vv. 61-63); e chama Atena para à figura ensinar trabalhos e tecer
complexo tecido. Também convoca Afrodite e Hermes, que também obedecem a Zeus. Na
figura, Zeus manda “pôr espírito de cão e dissimulada conduta” (v. 67). Hermes, Mensageiro
Argifonte, coloca em seu peito “mentiras, sedutoras palavras e dissimulada conduta” (v. 78).
Finalmente, “a esta mulher chamou / Pandora” (vv. 80-81), um “mal aos homens que comem
pão.” (v. 82).
Quando Prometeu recebe o presente, logo entende o que acontecerá aos homens mortais.
Se antes estes não conheciam trabalho ou pesares, agora o conhecerão. Canta Hesíodo: “Antes
vivia sobre a terra a grei dos humanos / a recato dos males, dos difíceis trabalhos, / das terríveis
doenças que ao homem põem fim; / mas a mulher, a grande tampa do jarro alçando, / dispersou-
os e para os homens tramou tristes pesares.” (vv. 90-95). No jarro, fica a Expectação
[“Esperança”], mas “outros mil pesares erram entre os homens” (v. 100). Assim como o
“episódio” termina com a reiteração do poder absoluto de Zeus: “Da inteligência de Zeus não
há como escapar” (v. 105).
Em resumo, o mito de Prometeu e Pandora nos traz explicações do surgimento de coisas
que nos afligem, mesmo nos dias de hoje, trazendo sua versão sobre o motivo de haver males
no mundo, porque devemos trabalhar, qual a circunstância da criação da mulher e serve de base
ainda para discussões sobre patriarcado, questões de gênero e a relação entre os deuses e a
humanidade.
Moisés dos Santos Viana afirma em seu artigo “Mito e linguagem: breve reflexão sobre
o discurso” que:
Ele [o mito] é a palavra que se transforma em símbolo dúbio,
signo que esconde e revela a realidade, obscurece e esclarece o
sentido do mundo, detendo um poder próprio dado e potenciado
do discurso[...]. O mito não morreu, está entre nós, faz parte do
ser humano que desde muito é um ser de linguagem, um ser
narrativo/discursivo, portanto mítico.

Entendemos que não há como negar o mito. Mesmo que este seja transfigurado,
denominado ou tido na sociedade contemporânea ou passada, como uma mera mentira, a
narrativa existe, os males existem, a esperança existe, o homem, a mulher e o trabalho existem.
Para o surgimento dos exemplos citados cada povo, nação ou comunidade trarão suas
explicações.
Conclui-se, portanto, que hoje em dia os mitos nos lembram da importância de controlar
nossa curiosidade e buscar equilíbrio entre os avanços e a ética. Essas lições são relevantes,
pois nos convidam a refletir sobre nossas escolhas e abordar questões éticas e morais em um
mundo de evolução.

REFERÊNCIAS:
HESÍODO. Os Trabalhos e os Dias. Tradução de Mary de Camargo Neves Lafer. São Paulo:
Iluminares, 1991.

VIANA, Moisés dos Santos. Mito e linguagem: breve reflexão sobre o discurso. Disponível
em: <
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/download/3999/3999/>
Acesso em: 14 abr. 2024.

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