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"Em uma fórmula sumária, poder-se-ia dizer que as águas simbolizam a totalidade das
virtualidades; elas são fons et origo, a matriz de todas as possibilidades de existência.
(...) Princípio do indiferenciado e do virtual, fundamento de toda manifestação cósmica,
receptáculo de todos os germes, as águas simbolizam a substância primordial da qual
nascem todas as formas e à qual elas retornam, por regressão ou por cataclisma."
Idotea diz a Menelau que seu pai, todo dia, quando o Sol estava no meio do céu, saía
das águas coberto de algas (um símbolo da incapacidade de distinguir-se totalmente do
elemento aquático) e, em uma caverna, contava focas como um pastor de ovelhas,
deitando-se no meio daqueles animais marinhos. A deusa fornece ao espartano uma pele
de foca esfolada e sugere que ele se esconda sob a pele e aguarde a saída de Proteu
das águas a fim de agarrá-lo e forçá-lo a dizer como sair da ilha. Proteu resistirá, diz
Idotea, e assumirá diversas formas até que, retornando à forma original, interrogará
Menelau na língua dos homens.
Proteu assume aqui a função do mantis, do vidente, isto é, revelar a vontade dos deuses
na qualidade de um oráculo. Mircea Eliade, em seu Traité d'histoire des religions, afirma
que "a potência profética emana das águas, intuição arcaica que encontramos em uma
área muito vasta. O oceano, por exemplo, é denominado pelos babilônicos como 'casa da
sabedoria'." Essa identificação não é de todo surpreendente, dado que as águas
simbolizam o repositório das possibilidades de existência, e, portanto, de tudo o que pode
existir ou de tudo que existirá em algum momento. Proteu é o senhor desse
conhecimento simbolizado por sua natureza aquática.
A passagem também pode ser alocada nos mitos tradicionais da luta do herói contra o
monstro marinho (Marduk versus Tiamat, por exemplo) que possuem um sentido
cosmogônico. O herói, simbolizando o pólo definidor e ordenador da realidade, entra em
luta com a besta aquática, símbolo do imanifestado, do amorfo e do caótico, a fim de,
:
vencendo, trazer o mundo à existência. Menelau, o poder ordenador, δηµιουργός, luta
com Proteu, o monstro aquático, até que este seja finalmente controlado e definido,
assumindo uma forma compreensível pela linguagem humana, símbolo da ordem.
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