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"A Europa jaz, posta nos cotovelos: De Oriente a Ocidente jaz, fitando, E toldam-
lhe românticos cabelos Olhos gregos lembrando. O cotovelo esquerdo é
recuado, O direito é em ângulo disposto. Aquele diz Itália onde é pousado; Este
diz Inglaterra onde, afastado, A mão sustenta, em que se apoia o rosto. Fita, com
olhar esfíngico e fatal, O Ocidente, futuro do passado. O rosto com que fita é
Portugal." Fernando Pessoa
Eis o mapa da Europa, terra do vinho, só que expresso em palavras. Ninguém teria
feito melhor, e de maneira mais poética, do que Fernando Pessoa. O "rosto da
Europa" é seu querido Portugal, que mira o Novo Mundo e está de costas para o
continente; uma metáfora que espelha muito bem a relação de deste país com o
restante da Europa.
Situado na parte mais ocidental do Velho Mundo - e por isso mesmo bem afastado
dos principais centros culturais e econômicos europeus -, esse pequeno país
conseguiu, com seu isolamento, preservar sua principal herança: uma vasta
variedade de uvas nativas que fazem seu diferencial diante de uma Europa tomada
pelas uvas ditas globalizadas.
A integração com seus parceiros só veio a acontecer nos anos mais recentes, mais
precisamente a partir 1986, quando foi aceito na Comunidade Europeia. A partir de
então, uma onda de modernização tomou o país, atingindo também a área
vitivinícola.
O plantio desordenado das vinhas - com grande mistura de castas - era um dos
principais problemas, que veio a ser solucionado pelo replantio e pela maior
organização, mas sem prejuízo da enorme tradição vitivinícola da nação.
Por ou tro lado, numa sábia decisão, conseguiu- se preservar sua maior riqueza: o
grande número de variedades de uvas autóctones, que fazem hoje o encanto do
vinho lusitano. Apesar de ser um país minúsculo, a variedade de uvas, regiões e
estilos de vinho em Portugal é enorme. Cada região apresenta seus próprios tipos
de uva, algumas aparecendo em várias zonas.
Para se ter uma ideia, são cerca de 50 variedades de castas nativas só no Douro.
Uvas de alta qualidade, algumas com nomes muito curiosos como Rabo de Ovelha,
Borrado das Moscas, Periquita, Esgana Cão, Rabigato etc, que têm dado origem a
vinhos muito interessantes, sendo a Touriga Nacional e a Tinta Roriz (a mesma
Tempranillo espanhola, chamada em algumas regiões de Aragonês) as jóias da
coroa.
OS NÚMEROS DE PORTUGAL
Produção: 7.266.000 hectolitros Consumo per capita: 46,7 litros Área plantada:
248.000 hectares Latitudes: 42o (Vinho Verde) e 37o (Algarve) *Dados da OIV -
Office International du Vin et de la Vigne - 2005
Norte de Portugal
VINHOS VERDES (MINHO)
Uvas
Com exceção daqueles elaborados com a uva Alvarinho (por sinal a mesma Albariño
espanhola), os vinhos devem ser bebidos bem jovens. A Associação dos Produtores
de Vinho Verde agrupa os melhores produtores. Produtores de destaque: Quinta da
Aveleda, Palácio da Brejoeira, Sogrape, Quinta da Portela, Anselmo Mendes, Casa
de Compostela, Quinta do Vale de Meão etc.
DOURO
Os vinhedos são plantados em terraços criados pelas mãos dos homens, patamares
estreitos encravados em montanhas, plantados em declives que vão de 35 a 75
graus de inclinação, sobre um solo xistoso recoberto por uma fina camada de
calcário, que precisa ser dinamitado para ser utilizado.
As raízes das plantas mergulham na ardósia e, através de suas fissuras, vão buscar
água e nutrientes a mais de 20 metros de profundidade. A mecanização é
totalmente inviável e o fato de se poder beber um vinho - que é fruto de condições
tão adversas - é, por si só, fascinante. Além disso, seus vinhos são excelentes.
O mais famoso deles é, sem dúvida, o Vinho do Porto, um fortificado, com alto teor
alcoólico e marcada doçura natural proveniente do açúcar residual do seu mosto.
Muito já foi dito e escrito sobre o vinho do Porto, e o assunto é tão vasto que
abrangeria todo nosso espaço.
Região do Douro é cortada pelo rio de mesmo nome, que termina na cidade do
Porto
Três sub-regiões
Uvas e vinhos
Centro de Portugal
DÃO
Dão e Bairrada são as duas mais importantes regiões do Centro de Portugal, onde
também se situam Estremadura, Ribatejo e Bucelas. Em sua zona mais central,
dentro da província de Beira Alta, vamos encontrar o Dão, cuja capital regional é
Viseu.
Os rios Dão e o Mondego cortam essa bela região cercada por serras e coberta por
farta vegetação, constituída principalmente por pinheirais. É enorme o prazer de se
caminhar por essas terras verdejantes, encher os pulmões com seu ar tão puro e
apreciar a beleza da paisagem marcada pelos vinhedos já levemente acobreados
pelo início do outono.
O clima ali é temperado e seco no verão, ideal para a maturação das uvas, e frio no
outono e no inverno, quando a vinha hiberna. O granito e o xisto cobrem a maior
parte das encostas, onde são plantados os vinhedos de suas principais cepas
regionais: as tintas Alfrocheiro, Touriga Nacional, Tinta Pinheiro, Bastardo, Tinta
Roriz, Jaen; e as brancas Encruzado, Sercial, Malvasia fina, Verdelho e Borradodas-
Moscas.
O Renascimento do Dão
BAIRRADA
Aqui predomina o solo argilo-calcário (barro), que acabou por emprestar o nome à
região: Bairrada. Seu clima sofre forte influência marítima, sendo bastante úmido.
A uva símbolo é a tinta Baga - pequena, de casca grossa, ácida e bem tânica. A
Castelão Franco, Moreto e Tinta Espinheira são as outras tintas. Bical, Maria Gomes,
Rabo de Ovelha, Sercial e Arinto, as brancas.
Muito vinho rosado é também elaborado na região, sendo o Mateus Rosé o mais
famoso, embora não seja o melhor. Há também bons espumantes, brancos e
rosados, feitos pelo método tradicional. O produtor Luís Pato, autor do Quinta do
Ribeirinho Pé Franco, é o mais renomado da zona, embora utilize a denominação
Beiras em seus rótulos.
Vale também provar o Buçaco, feito no famoso palácio, hoje Palace Hotel do
Buçaco. Mais do que isso: vale a pena conhecer o palácio, lá se hospedar e
degustar alguns de seus vinhos guardados por mais de 30 anos. Merecem citação
também Caves Aliança, José Maria da Fonseca, Vinhos Messias, Adega Cooperativa
de Cantanhede e Quinta das Bágeiras.
Sul de Portugal
SETÚBAL
Bem próximo de Lisboa, bastando apenas que se cruze a ponte sobre o Tejo,
chega-se à Península de Setúbal, que abriga também as sub-regiões de Palmela e
Arrábida. O vinho licoroso Moscatel de Setúbal é seu filho dileto e tem longa
tradição e muito prestígio.
Ele é feito com a variedade Moscatel, que teria sido trazida à região pelos fenícios
há mais de 2 mil anos. Assim como o Vinho do Porto, sua gradação alcoólica beira
os 20%, e pode ser branco - quando feito com a uva Moscatel de Alexandria - ou
tinto - com a variedade Moscatel Roxo -, este último produzido em menor escala.
José Maria da Fonseca é o grande nome entre os produtores da região, seguido pela
J.P. Vinhos, firma dirigida por Antonio Francisco Avillez. Vale lembrar que os tintos
de mesa Periquita (um campeão de vendas entre nós), além do Quinta da Bacalhôa
e o Má Partilha, são da região.
ALENTEJO
Essa vasta zona do centro-sul ocupa um terço da área do país. A cultura do vinho
chegou à região mais uma vez pelas mãos dos fenícios e se consolidou durante a
longa ocupação romana. Com altos e baixos, a tradição vinícola persistiu.
Por volta do século XVII, o forte e concentrado vinho alentejano já era exportado
para outros países, o que não acontecia com os vinhos de outras regiões
portuguesas. Seu destino era o Brasil, os Países- Baixos, a África e a Índia. O século
XIX reservou ao vinho do Alentejo rudes provações, assim como aos demais países
de Europa. Endemias como o oídio, o míldio, e - a mais devastadora delas - a
filoxera destruíram os vinhedos da região, provocando um natural desalento nos
vinhateiros, que passaram a diversificar os riscos, dedicandose também ao cultivo
da oliveira.
Videiras e oliveiras eram plantadas lado a lado, sem critério, o que provocou um
definhamento das cepas, por causa do maior poder vegetativo das oliveiras. O
plantio desordenado deixava pouco espaço para a vinha, impedindo qualquer
possibilidade de mecanização.
O cenário vitivinícola do Alentejo hoje é mais do que animador. Foi, sem dúvida, a
região de Portugal que experimentou maior progresso, produzindo atualmente
vinhos de alta qualidade e de reconhecimento internacional.
Para se chegar a tanto, foi preciso uma grande mudança de postura, o que implicou
nos seguintes pontos:
Pesquisa científica permanente;
Disciplina na implantação e condução da vinha;
Disciplina no controle da produção e seleção das castas;
Formação profissional adequada dos enólogos e dos quadros médios de
funcionários;
Ações de marketing.
(Adega)