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Psicologia
da Educação
Manaus 2006
FICHA TÉCNICA
Governador
Eduardo Braga
Vice-Governador
Omar Aziz
Reitor
Lourenço dos Santos Pereira Braga
Vice-Reitor
Carlos Eduardo S. Gonçalves
Pró-Reitor de Planej. e Administração
Antônio Dias Couto
Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários
Ademar R. M. Teixeira
Pró-Reitor de Ensino de Graduação
Carlos Eduardo S. Gonçalves
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Walmir de Albuquerque Barbosa
Coordenador Geral do Curso de Matemática (Sistema Presencial Mediado)
Carlos Alberto Farias Jennings
NUPROM
Núcleo de Produção de Material
Coordenador Geral
João Batista Gomes
Projeto Gráfico
Mário Lima
Editoração Eletrônica
Helcio Ferreira Junior
Revisão Técnico-gramatical
João Batista Gomes
Inclui bibliografia.
Palavra do Reitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
A realidade amazônica, por si só, é um desafio à educação tradicional, aquela que teima em ficar arraigada
à sala de aula, na dependência única dos métodos triviais de ensino. A Universidade do Estado do
Amazonas já nasceu consciente de que o ensino presencial mediado é a única estratégia capaz de respon-
der aos anseios de um público que, por estar disperso, tem de ser atendido por projetos escudados em
dinamismo técnico-científico.
Assim, a Licenciatura Plena em Matemática, ancorada no Sistema Presencial Mediado, nasceu para ofere-
cer aos discentes as habilidades necessárias para que eles venham a construir seus próprios objetivos exis-
tenciais, estimulando-lhes a ousadia de aceitar o novo e de criar novas possibilidades de futuro, dando-lhes
uma visão multifacetada das maneiras de educar.
Os livros-textos em que o curso se apóia são produzidos com o rigor didático de quem sabe que a história
da educação, no nosso Estado, está sendo reescrita. Os agentes desse processo têm visão crítica e apos-
tam na formação de novos professores que saberão aliar inteligência e memória, não permitindo que o ensi-
no em base tecnológica ganhe a conotação de “um distanciado do outro”.
A autonomia de agir que cada um está aprendendo a conquistar virá, em breve, como resposta aos desafios
que se impõem hoje.
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INTRODUÇÃO
No sentido amplo, a Psicologia pode ser compreendida como a ciência do comportamento humano.
Embora – como vamos ver nessa disciplina – diversas Teorias conceituem Aprendizagem de maneiras vari-
adas, todas são unânimes em concordar em alguns pontos básicos:
O conteúdo dessa Disciplina forma uma unidade integradora, em que as principais Teorias das diversas cor-
rentes psicológicas procuram explicar o processo da Aprendizagem. E embora todas essas Teorias tenham
fornecido importantes contribuições para o seu conhecimento, nenhuma conseguiu, até hoje, explicar o que
ocorre no interior de nossa mente quando aprendemos algo.
Os estudos da Neuroquímica indicam que estamos próximos de desvendar este mistério. E as descobertas,
certamente, vão provocar uma revolução em nosso conceito de aprendizagem e, conseqüentemente, exigir
novas mudanças em nossas vidas.
Pelas características introdutórias dos textos, você encontrará pela frente um material apresentado de forma
sintética (mas razoavelmente estruturada) e simples (mas não superficial).
Os textos apresentam teorias de certo modo clássicas, porém sinalizam para um debate atualizado de con-
ceitos e dão margem para uma leitura atenta, permitindo a escolha de um entre vários caminhos que, em
tese, podem levar à educação emancipadora.
Sem duvida, você deve considerar não ser possível – nem recomendável – nenhuma aplicação asséptica
dos pressupostos apresentados, uma vez que a Psicologia, de fato, ainda que comparada em cuidados com
eventuais cânones de cientificidade, não pode prescindir da compreensão ético-política das práticas
humanas e, por extensão, das práticas educacionais.
Bom estudo!
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UNIDADE I
Compreendendo o processo de aprendizagem
Psicologia da Educação – Compreendendo o processo de aprendizagem
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UEA – Licenciatura em Matemática
Do mesmo modo se diz que se aprende pela Nesse caminho, Otte (1994, p. 43) afirma que
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Psicologia da Educação – Compreendendo o processo de aprendizagem
“é preciso que haja intercessão e interação O que sabemos nós por introspecção? Apenas
entre as informações e o projeto pessoal, pois damo-nos conta de que, ao prestarmos aten-
só nesse momento cria-se o sentido. E o co- ção, ao nos interessarmos por um tema, aca-
nhecimento é a composição da informação bamos por compreendê-lo: temos o insight,
com o sentido.” (OTTE, M. 1994). isto é, a iluminação de que entendemos a sig-
Obviamente, isso acarreta consequências im- nificação de uma palavra, o sentido de um
portantíssimas para o ensino. Portanto é pre- fenómeno, de que sabemos como os fenô-
ciso substituir a concepção linear da apren- menos se relacionam, de quais são as causas
dizagem de um sujeito “atento”, “na escuta” e quais os efeitos. Enfim, aprendemos. Mas o
das informações, por uma concepção dinâmi- que se passou em nós? Podemos, assim, ana-
ca de interação, na qual os conhecimentos são lisar o fenômeno da aprendizagem como:
integrados ao próprio sujeito e que, de certo
[...] aprender, “ apprehendereé” , prender con-
modo, vivem apenas nele e por ele. O proces-
so consiste em se dar imagens mentais ao que sigo, é tomar para si, ou, em outras palavras,
se está percebendo. “tornar próprio”, ou, se quisermos empregar
uma metáfora da Biologia, assimilar: tornar
A aprendizagem não é a simples passagem da
semelhante a si (pois que, similís = seme-
ignorância ao saber, sem resistências e sem
lhante). A aprendizagem é, pois, um fenô-
conflitos. Na aprendizagem, acontece algo novo,
meno ou uma operação pela qual um sujeito
não é uma simples reestruturação. Por con-
(uma pessoa) torna seu ou torna sua uma
seguinte, o novo é uma nova estruturação, o
que significa deixar antigas estruturas. Quando nova forma de conduta, uma informação,
as crianças aprendem, precisam abandonar a transformando-a em conhecimento, algum
“centração”. Na situação de aprendizagem, é hábito ou alguma atitude. (LAKOMY, 2004, p. 43)
preciso que haja desestabilização e conflito Entendemos, assim, que a aprendizagem é uma
com estruturas pré-adquiridas. Voltando à cen-
operação do sujeito, isto é, é algo que resulta
tração, no caso da história, trata-se de passar
de uma ação própria do sujeito, em primeira
do tempo vivido próprio para o tempo históri-
pessoa: não pode ser algo que resulte de uma
co. São outros os parâmetros de medida e de
simples maturação1. Então, dizemos que a
percepção, pois o tempo de vida da criança
aprendizagem é ativa.
não chega nem perto ao tempo da história,
muito menos do tempo cósmico. Aprender é adquirir um comportamento que
anteriormente não apresentávamos. Na maio-
Outro exemplo seria a aprendizagem da multi-
ria da vezes, associamos a palavra “aprendiza-
plicação, que é a superação ou ultrapassa-
gem” somente com o ato de aprender na esco-
mento da adição. Do mesmo modo, a adição.
E isso poderia ser feito com todas as apren- la, o que representa apenas uma face da
dizagens. aprendizagem.
1Maturação é o processo por meio do qual ocorre a mudança e o crescimento progressivo, nas áreas física e psicológica do organis-
mo humano. Subjacentes a tais mudanças, existem fatores intrínsecos transmitidos por hereditariedade, bem como extrinsecos (ambi-
ente, condições sócio-culturais e etc.) que interferem nesse processo. (LAKOMY, 2004).
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UNIDADE II
Teorias
Psicologia da Educação – Teorias
TEMA 03 TEMA 04
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UNIDADE III
Abordagem humanista
Psicologia da Educação – Abordagem humanista
INTRODUÇÃO
A abordagem humanista reúne as tendências ou TEMA 05
os enfoques encontrados predominantemente no
sujeito, sem que, todavia, essa ênfase signifique
nativismo ou apriorismo puros. Isso não quer CONCEPÇÃO DE HOMEM
dizer, no entanto, que essas tendências não
O homem é considerado uma pessoa situada
sejam, de certa forma, interacionistas, na análise
no mundo. É único, quer em sua vida interior,
do desenvolvimento humano e do conhecimento.
quer em suas percepções e avaliações do
Considerando-se a literatura mais difundida e mundo. A pessoa é considerada em processo
estudada no Brasil, há dois enfoques predom- contínuo de descoberta de seu próprio ser, li-
inantes: o de Carl Rogers e o de A. Neill. gando-se a outras pessoas e grupos.
Segundo Mizukami (2004), embora Neill seja
Quanto à epistemologia subjacente a essa
classificado comumente como “espontaneísta”
posição, a experiência pessoal e subjetiva é o
(propõe que a criança se desenvolva sem in-
fundamento sobre o qual o conhecimento
tervenções) e sua obra consista muito mais
abstrato é construído. Não existem, portanto,
num relato de uma experiência e na exposição
de idéias sobre homem, educação e vida, do modelos prontos nem regras a seguir, mas um
que uma proposta sistematizada, incluem-se processo de vir-a-ser. O objetivo último do ser
aqui algumas das suas concepções, dada a humano é a auto-realização ou o uso pleno de
ênfase no papel do sujeito como principal ela- suas potencialidades e capacidades.
borador do conhecimento humano. O homem não nasce com um fim determinado,
A proposta rogeriana é identificada como repre- mas goza de liberdade plena e se apresenta
sentativa da psicologia humanista, a denomina- como um projeto permanente e inacabado.
da terceira força em psicologia. O “ensino cen- Não é um resultado, cria-se a si próprio. É, por-
trado no aluno” é derivado da teoria, também tanto, possuidor de uma existência não condi-
rogeriana, sobre personalidade e conduta. cionada a priori.
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Psicologia da Educação – Abordagem humanista
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seu desenvolvimento tanto intelectual quanto 2. O alvo da educação – o que vem a ser o
emocional. alvo da vida – é trabalhar jubilosamente e
encontrar a felicidade. Ter felicidade, se-
Seria a criação de condições nas quais os gundo Neill, significa estar interessado na
alunos pudessem tornar-se pessoas de iniciati- vida.
va, de responsabilidade, de autodeterminação, 3. Na educação, o desenvolvimento intelec-
de discernimento, que soubessem aplicar-se a tual não é o bastante. A educação deve
aprender as coisas que lhes servirão para a ser, ao mesmo tempo, intelectual e emo-
solução de seus problemas e que tais conhec- cional, considerando-se as necessidades
imentos capacitassem-nos a se adaptar com psíquicas da criança.
flexibilidade às novas situações, aos novos
problemas, servindo-se da própria experiência, 4. Disciplina e castigo, dogmaticamente ex-
com espírito livre e criativo. Seria, enfim, a cri- postos, geram medo, e medo gera hostili-
ação de condições nas quais o aluno pudesse dade. Tal hostilidade pode não ser con-
tornar-se pessoa que soubesse colaborar com sciente e manifesta, mas, apesar disso,
os outros, sem por isso deixar de ser indivíduo. paralisa o esforço e a autenticidade do
sentimento. A disciplina extensiva impos-
Segundo Mizukami (2002), para Rogers tudo o ta às crianças é prejudicial e impede o
que estiver a serviço do crescimento pessoal, desenvolvimento psíquico sadio.
interpessoal ou intergrupal é educação. O ob-
5. Liberdade não significa licenciosidade: o
jetivo da educação será uma aprendizagem
respeito pela pessoa deve ser mútuo.
que abranja conceitos e experiências, tendo
como pressuposto um processo de aprendiza- 6. Há necessidade do uso de verdadeira sin-
gem pessoal. Nesse processo, os motivos de ceridade por parte do professor.
aprender deverão ser os do próprio aluno. Es-
7. O desenvolvimento humano torna
sa aprendizagem implica necessariamente mu-
necessário que a criança corte, eventual-
danças.
mente, os laços essenciais que a ligam a
Tanto em Rogers quanto em Neill, pode-se seu pai e a sua mãe, ou a substitutos pos-
constatar a ênfase na unicidade e na dignidade teriores, na sociedade, a fim de tornar-se,
do homem, o primado do sujeito. O processo de fato, independente.
da educação centrada no sujeito leva à val-
8. Sentimento de culpa tem, antes de mais
orização da busca progressiva de autonomia
nada, a função de prender a criança à
(darem-se regras a si mesmo, assumir na sua
autoridade.
existência as regras que propõe ao próprio
grupo e a si mesmo) em oposição à anomia
De acordo com Almeida (2002), Rogers e Neill
(ausência de regras) e à heteronomia (normas
são dois autores cuja literatura é veiculada em
dadas por outros).
cursos de Licenciatura, onde um deles (Ro-
Em Liberdade sem Medo, (Neill, 1963) sintetiza gers) parte da terapia e dela extrapola princí-
os pontos básicos do seu sistema, fornecendo pios e conceitos para a realidade educacional,
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Psicologia da Educação – Abordagem humanista
e o outro (Neill) que realizou uma prática edu- cidadãos não criadorés que desejam crianças
cacional reduzida a um pequeno grupo, a con- dóceis, nâo-criadoras, prontas a se adapta-
sideração de educação como um processo rem a uma civilização cujo marco de sucesso
envolvente no qual o sujeito sempre tem de é o dinheiro. (NEILL apud MIZUKAMI, 2004, p.
ocupar posição central e, por outro lado, uma 104)
crítica à sociedade atual que cada vez mais
coloca situações de contorno que impedem a Ressalta ainda Neill “[...] criadores aprendem o
auto-realização. que desejam aprender para ter os instrumen-
tos que o seu poder de inventar e o seu gênio
Instituição Escolar exigem. Não sabemos quanta capacidade de
criação é morta nas salas de aula; [...] impor
A escola decorrente de tal posicionamento
qualquer coisa atrás de autoridade é errado
será uma escola que respeite a criança tal qual
[...]” (p. 125).
é, e ofereça condições para que ela possa de-
senvolver-se em seu processo de vir-a-ser. É A experiência de Neill mostrou a possibilidade
uma escola que ofereça condições que possi- de uma escola governar-se pelo princípio da
bilitem a autonomia do aluno. Analisando suas autonomia democrática, pois as leis são estab-
experiências em relação ao ensino, Rogers elecidas por um parlamento escolar que se
(1972, p. 152) coloca que: reúne periodicamente. O princípio básico con-
siste na idéia da não interferência com o
Se as experiências dos outros forem iguais crescimento da criança e de nenhuma pressão
às minhas, e nelas se descobrirem significa- sobre ela. Pela própria essência dessa abor-
dos idênticos, daí decorreriam muitas conse-
dagem, essa experiência não poderia ser rea-
qüências:
lizada em escolas comuns.
1. Tal experiência implica que se deveria
abolir o ensino. As pessoas que quisessem O caráter utópico da proposta de Neill fica
aprender se reuniriam umas com as ou- claro quando se considera, dentre outros, o
tras. reduzido número de alunos que a escola tem
2. Abolir-se-iam os exames. Estes só podem condições de absorver, os rumos que a escola
dar a medida de um tipo de aprendizagem tomou após sua morte, as tentativas de con-
inconseqüente. tinuidade da experiência, atualmente por parte
3. Pela mesma razão, abolir-se-iam notas e de sua filha e as dificuldades de aceitação,
créditos. mesmo ou principalmente dentro da Inglaterra,
4. Em parte, pela mesma razão, abolir-se-iam do que foi por ele idealizado e praticado.
os diplomas dados como títulos de com-
petência. Outra razão está em que o diplo-
Quanto à proposta rogeriana, várias tentativas
ma assinala o fim ou a conclusão de algu- de aplicação têm sido feitas, até o momento,
ma coisa, e o aprendiz só se interessa por utilizando-se os espaços possíveis dentro de
um processo continuado de aprendizagem. cada escola.
5. Abolir-se-ia o sistema de expor con-
clusões, pois verificar-se-ia que ninguém
adquire conhecimentos significativos por
meio de conclusões.
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UEA – Licenciatura em Matemática
O ensino, numa abordagem como essa, con- 2. “Parece-me que qualquer coisa que eu
siste num produto de personalidades únicas, possa ensinar a outro é relativamente irrel-
respondendo a circunstâncias também únicas, evante e tem pouca ou insignificante influ-
num tipo especial de relacionamento. ência sobre seu comportamento”.
Os conceitos básicos da teoria da aprendiza- 3. “Compreendo, cada vez mais, que só me
gem resultantes da análise realizada por
interesso pelas aprendizagens que influ-
Mahoney (apud MIZUKAMI, 2004, p. 91) são:
am significativamente sobre o comporta-
potencialidade para aprender, tendência à real-
mento”.
ização (desta potencialidade), capacidade
organísmica de valoração, aprendizagem sig- 4. “Acabei por sentir que a única aprendiza-
nificativa, resistência, abertura à experiência, gem que influi significativamente sobre o
auto-avaliação, criatividade, autoconfiança, comportamento é a que for autodirigida e
independência. Utilizando esses conceitos auto-apropriada”.
básicos, a Autora reorganizou-os pela apli-
cação do instrumental lógico-formal. A partir 5. “Toda aprendizagem autodescoberta, a
da análise realizada, foi-lhe possível afirmar a verdade pessoalmente apropriada e assim-
existência de uma teoria da aprendizagem na ilada no curso de uma experiência, não
proposta rogeriana para educação. pode ser diretamente comunicada a outro”.
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Psicologia da Educação – Abordagem humanista
11. “Outra maneira de aprender, para mim, O processo de ensino, portanto, irá depender
do caráter individual do professor, como ele
consiste em afirmar as minhas próprias
se inter-relaciona com o caráter individual do
incertezas, tentar elucidar as minhas per-
aluno. Não se pode especificar as competên-
plexidades e, assim, chegar a aproximar- cias de um professor, pois elas dizem respeito
me do significado que a minha experiên- a uma forma de relacionamento de professor
cia parece realmente ter”. e aluno, que sempre é pessoal e única.
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Psicologia da Educação – Abordagem humanista
sáveis quanto às suas próprias orien- declaram que o aprendizado livresco é edu-
tações, assim como assumir a respons- cação [...] Os livros são o material menos
abilidade das conseqüências de suas op- importante da escola. Tudo quanto a criança
ções erradas, tanto quanto das certas. precisa aprender é ler, escrever e contar. O
5. Dê ao aluno papel participante na for-
resto deveria compor-se de ferramentas, argila,
mação e na construção de todo o progra-
esporte, teatro, pintura e liberdade. (NEILL,
1963, p. 24)
ma de que ele é parte.
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UEA – Licenciatura em Matemática
crité-rios para avaliar até onde estão sendo cer-se indefinidamente. É, antes, necessário
atingidos os objetivos que pretende. “A avali- estar à altura de aproveitar e explorar, do
ação de cada um de sua própria aprendizagem começo ao fim da vida, todas as ocasiões de
é um dos melhores meios pelo qual a apren- atualizar, aprofundar e enriquecer estes
dizagem auto-iniciada torna-se aprendizagem primeiros conhecimentos, e de se adaptar a
responsável.” (ROGERS, 1972, p. 142) um mundo em mudança. Para poder dar
resposta ao conjunto das suas missões, a edu-
A atualidade do pensamento de Carl cação deve organizar-se em torno de quatro
Rogers aprendizagens fundamentais que, ao longo de
toda a vida, serão de algum modo, para cada
Pelo que foi até aqui apresentado, diante da indivíduo, os pilares do conhecimento: apren-
vasta produção de Rogers, não se precisa de der a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos
justificativas sobre sua atualidade. No entanto da compreensão; aprender a fazer, para poder
recorremos a Pablo Neruda para entender que agir sobre o meio envolvente; aprender a viver
“as coisas por sabidas não são ditas e, por não juntos, a fim de participar e cooperar com os
serem ditas, são esquecidas”. Até porque “cer- outros em todas as atividades humanas; final-
tas idéias que Rogers defendia tornaram-se tão mente, aprender a ser, via essencial que inte-
amplamente aceitas que é difícil lembrarmos gra as três precedentes. (DELORS, 1999, p. 90)
quão novas, mesmo revolucionárias elas eram
em seu tempo” (KRAMER, 1999, p. 09). Então, Não nos parece que Rogers tenha falado de
apresentaremos algumas contribuições que outra coisa, em seus livros, até com uma ter-
parecem particularmente relevantes hoje. minologia muito próxima da empregada no
Relatório. Acreditamos mesmo que se pode-
Segundo Almeida (2002), é importante res-
ria inferir dos textos de Rogers a pergunta
saltar que os livros de Rogers, em especial
que norteou seus estudos:
Tornar-se Pessoa e Liberdade para Aprender,
são, para nós, educadores, clássicos. Clás- Quais são as condições que permitem ao
sicos na acepção dada pelo Aurélio (2002, 67), homem desenvolver seu autoconhecimen-
“cujo valor foi posto à prova do tempo”. Esses to? Com o pressuposto de que o homem se
livros permanecem no tempo porque trouxer- conhecendo dispõe adequadamente de sua
am uma discussão importante na época em vida.
que foram escritos. Uma discussão que não E como nosso compromisso é com as con-
estava presente até então. Trouxeram uma tribuições dos últimos 30 anos, sinto neces-
contribuição de fôlego que pode ser retomada sidade de recuperar um texto escrito em
hoje, em outras bases, com a incorporação 1966, de autoria de Maria Amélia Azevedo
dos subsídios que as ciências trouxeram no Goldberg, que foi sobejamente discutido pe-
tempo que sucedeu à sua publicação. los orientadores educacionais. Nele, a auto-
ra afirma que:
Algumas das contribuições de Rogers, em
relação às discussões postas hoje na Sob um segundo ponto de vista, que cha-
Educação (ALMEIDA, 2002): maremos pedagógico, a orientação seria uma
técnica pedagógica, à qual caberia a respon-
1. O relatório Delors, elaborado em 1996, por
sabilidade pela mais fundamental de todas as
Comissão Internacional constituída pela
aprendizagens: a aprendizagem do EU, na
Unesco para discutir a educação para o
linguagem de Cari Rogers, isto é, a descober-
século XXI, sob o título Educação, um
ta das próprias potencialidades e a aceitação
tesouro a descobrir afirma:
das próprias limitações... Mas, como bem o
[...] uma bagagem escolar cada vez mais mostraram os existencialistas, a aprendiza-
pesada já não é possível nem mesmo adequa- gem do EU não ocorre senão conjugada à
da. Não basta, de fato, que cada um acumule aprendizagem do OUTRO, já que este, no
no começo da vida uma determinada quanti- dizer de Sartre, guarda um segredo: o segre-
dade de conhecimentos de que possa abaste- do do que eu sou. ( p. 95)
32
Psicologia da Educação – Abordagem humanista
O aprender a ser, o aprender a viver junto, dos “projetos” dos quais tem participado. O
são o fio condutor da obra de Rogers. E professor, no seu processo de formação
hoje, sempre que se enfocam as relações continuada, está aprendendo, e pode haver
entre pessoas – professor-aluno, aluno- desconforto no ato de aprender. Ou seja,
aluno, professor-profes-sor, administração- reconhecer-se como não sabendo pode
equipe, escola-comunidade –, Rogers tem provocar um bloqueio, ao invés de despertar
uma contribuição importante a dar. Aliás, o desejo de aprender, porque isso represen-
mesmo os críticos mais ferrenhos de suas ta uma ameaça, pois evidencia uma dis-
propostas sempre lhe deram o crédito de ter crepância entre a experiência e os valores
colocado em discussão a problemática das com os quais o professor está identificado
relações interpessoais. afetivamente. A resistência, então, é um me-
canismo regulador, inerente à pessoa, que
2. A discussão hoje posta nas escolas e na
representa a reação do organismo à amea-
sociedade, sobre cidadania, não significa
ça, a fim de manter a estrutura do eu.
outra coisa senão a discussão de como aju-
dar a criança e o jovem a dinamizar sua O sentir-se aceito, valorizado, ouvido, faz
forma de ser nas relações. Vale lembrar a que a ameaça seja diminuída, e a aprendi-
afirmação de Milton Santos: “ser cidadão é zagem venha a ocorrer.
viver valorando as relações interpessoais, as
5. A discussão hoje se faz sobre a educação
relações com a comunidade, os problemas
ao longo de toda a vida e, particularmente, a
nacionais” (SANTOS, 1998).
educação para a velhice. Também aí, Ro-
3. A discussão sobre o fracasso escolar, sobre gers tem uma contribuição, pela sua postu-
o desinteresse do aluno pela escola passa, ra quanto ao envelhecimento. Em um artigo
necessariamente, pela discussão do clima autobiográfico (ROGERS, 1983), escrito aos
da sala de aula e da escola. Os repetentes 75 anos, analisa dois tipos de pessoas:
não aprenderam nada? Sim, aprenderam
“as que crescem envelhecendo e as que
que são incapazes. Um clima acolhedor,
envelhecem crescendo”. As do segundo
que não repita o clima agressivo da casa,
tipo são as que têm abertura para novas
um clima de consideração no qual o aluno
ideias, lançam-se a novos empreendimen-
sinta que é digno de respeito, que é com-
tos, assumem riscos. Mas o que lhes asse-
preendido, podem provocar uma auto-esti-
gura essas características? Coerente com
ma positiva e condições para superar suas
sua teoria das relações interpessoais, para o
“dificuldades de aprendizagem”.
idoso assumir riscos, Rogers afirma que o
4. A discussão que se faz, hoje, sobre a forma- fator mais importante é o seu grupo de refer-
ção de professores e que passa pelos estu- ência – são as interações nesse grupo que o
dos sobre o pensamento do professor, o pro- encorajam a fazer coisas novas e a en-
fessor reflexivo, a produção dos saberes pro- frentar desafios. E para lançar-se a novos
fissionais, os ciclos de vida dos professores, empreendimentos, também o outro signi-
a complexidade da ação educativa, o confli- ficativo é o responsável; ele é, para Rogers,
to de valores que enfrentam os professores quem “aperta o botão” para o início de uma
em sua atuação, passa, necessariamente, nova ação.
pela discussão do professor como pessoa.
Finalizando, Almeida (2002) assinala que,
Nóvoa insiste que “O professor é a pessoa.
cumpre lembrar que outra grande con-
E uma parte importante da pessoa é o pro-
tribuição de Rogers, hoje, está nas pessoas
fessor” (NÓVOA, citando NIAS, 1992, p. 25).
que trabalharam com sua abordagem, mes-
Segundo Almeida (2002), Rogers descreve, mo que tenham incorporado outras aborda-
com minúcias, essa pessoa. E sua abor- gens teóricas. Os princípios da Abordagem
dagem explica, entre outras coisas, a resis- Centrada na Pessoa, a confiança no ser hu-
tência do professor à mudança em muitos mano, o respeito pelo outro, a preocupação
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UEA – Licenciatura em Matemática
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UNIDADE IV
Freud e a Educação: contribuições e limitações
Psicologia da Educação – Freud e a Educação: contribuições e limitações
A escola privilegia os processos intelectuais da relação, o foco recai sobre o aluno. Além de
implicados no processo de ensino e aprendiza- desfigurar o problema, essa abordagem par-
gem. Da parte do professor, em termos gerais, cial causa a ilusão de que está calcada na ciên-
considera-se que o profissional competente e cia psicológica, quando, sobretudo, resulta da
comprometido com as finalidades sociais da operação reducionista que tantas vezes atribui
Educação reúne os requisitos básicos para o insucesso da empresa educativa a supostos
ensinar. Da parte do aluno, em termos gerais, traumas emocionais do aprendiz – como se
entende-se que as condições intelectuais mí- dissintonias dessa ordem não fossem comuns
nimas qualificam-no para aprender. à vida psíquica humana em geral.
É provável que a perspectiva educacional de A tradição cultural e científica que dissocia int-
Freud contribua para determinar uma orientação elecção de afeto concorre para autorizar inter-
que pode ser observada nos cursos de formação pretações equivocadas subjacentes a esse
pedagógica. Neles, a Psicologia da Educação,
tipo de viés “psicologista”, calcado na atomiza-
focada quase que exclusivamente no aluno,
ção por meio da qual a parte foi tomada pelo
acaba conferindo maior ênfase à dimensão cog-
nitiva dos processos de desenvolvimento psí- todo. Em vez de conferir o lugar adequado
quico e dos processos de aprendizagem. No para a emoção, no início, deixa-se para abor-
suporte conceitual buscado na Psicologia, a dá-la como último recurso, quando talvez não
Didática e a Metodologia, também focadas qua- haja mais interferência pedagógica possível.
se que exclusivamente no aluno, acabam por
conferir ênfase à mesma dimensão cognitiva.
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UEA – Licenciatura em Matemática
TEMA 09 TEMA 10
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Psicologia da Educação – Freud e a Educação: contribuições e limitações
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UEA – Licenciatura em Matemática
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Psicologia da Educação – Freud e a Educação: contribuições e limitações
desses intensos sentimentos edipianos, con- convém distinguir identificação de amor sensu-
comitantemente à intensificação regressiva do al e, também, de hostilidade. A identificação,
vínculo identificatório original. Assim, a diferen- na sua infusão com a sensualidade, fundamen-
ciação psíquica está calcada em um ininterrup- ta os vínculos duradouros de amizade facilita-
to ir-e-vir da pulsão inibida em sua finalidade dores das formações coletivas. O mesmo não
sexual e da pulsão diretamente sexual, tantas ocorre com o amor sensual – duradouro so-
vezes mescladas à também intercambiante mente se mesclado à ternura – e com a hostil-
pulsão destrutiva, inibida e desinibida. idade, desfavoráveis à convivência grupal.
Identificação original/ identificação regressiva e
Ego e superego operam também inconsciente-
identificação parcial constituem a personali-
mente para poder suportar as intensas pres-
dade psíquica, no processo em que ego e
sões a que são constantemente submetidos:
superego diferenciam-se do id. A estrutura
de um lado, as exigências postas pela reali-
dessas três instâncias, bem como o jogo de
dade; de outro, as avassaladoras demandas
forças entre elas, consubstanciam-se em senti-
pulsionais do id. Originariamente inconsciente,
mentos heterogêneos, alimentados pelas inter-
o último é alheio à realidade, à distinção entre
cambiantes pulsões inibidas e desinibidas. Im-
passado e presente, à moral cultural e à con-
pedidas de concretização pelo recalque ocorri-
tradição. Norteado pelo princípio de prazer,
do na dissolução edípica, essas intensas de-
empenha-se tão somente na incansável luta
mandas pulsionais passam a pressionar para
pela descarga pulsional. Disso resulta que a
atingir a representação consciente. Desenca-
maior parte do psiquismo humano é incon-
deadora do processo identificatório do qual
sciente. As identificações que o diferenciam e
decorreu a submissão à autoridade, a relação
estruturam deixam no ego e no superego o
original implica, desse modo, frustração e
precipitado daquilo que deve ser esquecido e
incansável tentativa de concretizar a satisfação
daquilo que pode ser lembrado.
adiada.
Uma outra modalidade de identificação con-
Prototípica de todas as demais, a relação orig-
corre para o enriquecimento do psiquismo.
inal pode ser reeditada a cada nova relação
Trata-se da identificação parcial, ou terciária, na
travada pelo sujeito, movido por demandas
qual não está implicado investimento libidinal de
pulsionais outrora frustradas. Por causa dessa
objeto. Derivada da percepção de característi-
dinâmica, relações subseqüentes de autori-
cas partilhadas com outras pessoas, propicia os
dade atualizam a relação original. Quando a
laços de amizade, a formação dos grupos e,
ela se fundem, quando a ela se somam, quan-
portanto, o desenvolvimento dos sentimentos
do a ela se sobrepõem ou quando a subs-
sociais. Calcada nas pulsões sexual e destrutiva
tituem, essas relações atuais arcam com os
inibidas, favorece a ternura e o respeito a partir
antagônicos sentimentos da primeira e com os
dos quais os laços e as formações sociais esta-
conflitos provocados por tal antagonismo.
belecem-se e consolidam-se.
Portanto a coexistência de ternura, de afeição,
Por causa das suas bases eróticas e destruti- de respeito, de sensualidade e de agressivi-
vas inibidas, os sentimentos cívicos brandos, dade representa a herança emocional imposta
predominantes nessas relações sociais, po- às relações atuais de autoridade pela relação
dem, com facilidade, transformar-se em sensu- original.
alidade ou em hostilidade: a pulsão desinibida
Transferência refere-se à operação psicológi-
sobrepõe-se à pulsão inibida. Essa plastici-
ca inconsciente por meio da qual os referidos
dade, da articulação e do intercâmbio pulsion-
afetos da relação original são trazidos para a
al, permite que a ternura e o respeito trans-
relação atual. Essa relação fundadora determi-
formem-se em erotismo, ou em ódio, e vice-
na, portanto, o modo como o sujeito se coloca
versa – como se vê, por exemplo, na amizade
nas novas relações. Reimprimindo-se como
quando metamorfoseada em relação erótica,
um clichê, os protótipos originários que vêm à
ou em relação hostil, e nas últimas quando
cena podem ser em seguida remodelados,
metamorfoseadas em amizade. Ainda assim,
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UEA – Licenciatura em Matemática
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Psicologia da Educação – Freud e a Educação: contribuições e limitações
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UEA – Licenciatura em Matemática
visa à dissolução transferencial. Nessa relação, o aluno lhe atribui. Desse modo, a assimetria
em que a transferência e a contratransferência entre professor e aluno remete à polaridade ini-
foram primeiramente detectadas, pretende-se cial entre o genitor – que sabe e provê – e a cri-
superação progressiva desse campo que ança, que quer saber e ser provida.
geralmente passa despercebido nos outros
Mesmo em situações consideradas ideais, em
contextos relacionais. Ao contrário do contexto
que a autoridade pedagógica formal coincide
analítico, pode-se dizer que os demais contex-
relativamente com a autoridade pedagógica
tos estimulam a reedição prototípica das ima-
real, o campo transferencial pode dificultar, ou
gens originais, transformadas em ideais soci-
até mesmo inviabilizar, a concretização dos
ais. A ressignificação dos protótipos pode
objetivos propostos. O aluno pode incluir o
ocorrer nessas outras relações, sem que para
professor, em uma série psíquica hostil, mani-
isso concorra qualquer esforço consciente dos
festando, por exemplo, o desinteresse próprio
sujeitos implicados.
de quem não reconhece a autoridade
As relações institucionalizadas de autoridade pedagógica. Concomitantemente, essa trans-
apresentam peculiaridades que dificultam a ferência negativa pode ativar núcleos incon-
percepção do campo transferencial. A de- scientes hostis do professor que, em vez de
finição institucional prévia acentua ainda mais trabalhar os conteúdos da aula, reage contra-
o componente de autoridade – daquele que transferencialmente promovendo, por exemp-
tem mais a dizer, daquele que melhor sabe o lo, um enfrentamento verbal.
que fazer –, antecipando a constituição desse
A curiosidade intelectual, tão necessária ao
campo. Ao mesmo tempo, tal antecipação dis-
ensino e à aprendizagem, é importante ele-
simula os afetos envolvidos – para aquele que
mento constitutivo da personalidade psíquica.
ocupa o pólo hierarquicamente superior e para
Mais ou menos entre três e cinco anos de
aquele que ocupa o pólo hierarquicamente
idade, a criança que a respeito de tudo pergun-
inferior –, pois a relação é travada como se o
ta manifesta uma curiosidade sexual sublima-
campo transferencial a precedesse. É isso que
da em curiosidade intelectual. Essa curiosi-
ocorre na relação pedagógica.
dade deriva da percepção da diferença
anatômica entre os sexos, fonte de todas as
O contexto social da educação
suas perguntas referentes à relação sexual
entre seus pais e à sua própria origem. As teo-
A sedução na relação professor-aluno deriva rias sexuais que constrói como resposta espe-
do campo transferencial. O contexto dessa
lham-se nas características correspondentes
relação produz expectativas transferenciais e
que observa em si própria, nos seus pais, em
contratransferenciais que evocam os protóti-
pos identificatórios mais primitivos. O profes- outras crianças e nos animais. Como a consti-
sor é formalmente investido de autoridade, tuição anatômica infantil ainda não produziu o
pela instituição educacional e pela sociedade, esperma e nem o orifício sexual feminino,
independentemente de sua competência real essenciais à reprodução da espécie, a criança
para ensinar. De maneira análoga, a autori-
fica sem o nexo que, conferindo realidade às
dade para educar os filhos é juridicamente
suas excêntricas teorias sexuais, desvendaria
conferida aos pais. Supõe-se assimetria entre
o suposto nível superior de conhecimento do o enigma existencial subjacente a toda curiosi-
professor e o suposto nível inferior de conhe- dade.
cimento do aluno que, constituído nesse
Além da sublimação, a curiosidade infantil tam-
processo intersubjetivo, deposita no primeiro a
esperança de superar a assimetria. bém enfrenta a ação do recalque. Por causa
desses dois processos, a criança pergunta
sobre uma infinidade de coisas que, aparente-
Vislumbrando-o como aquele que poderá
mente, nada têm de sexual. No apogeu do con-
provê-lo de conhecimento, o aluno elege o
flito edipiano, os intensos sentimentos eróticos
professor como autoridade. Quando ensina, o
e os intensos sentimentos hostis depositados
professor supõe concretizar a autoridade que
nos genitores são recalcados, para atender às
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Psicologia da Educação – Freud e a Educação: contribuições e limitações
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UEA – Licenciatura em Matemática
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Psicologia da Educação – Freud e a Educação: contribuições e limitações
mação de suas tendências nas atitudes do pro- stituição da personalidade do outro. A busca
fessor. Em vez de amenizar certas inclinações do entendimento desses dois aspectos, pre-
já constituídas, o professor, por descuido ou sentes em todas as nossas relações interpes-
excesso de zelo, acaba fazendo recrudescer soais, não só as que se passam na escola, é
traços de personalidade que trazem sofrimen- uma maneira de amenizar frustrações.
to ao educando.
E preciso reconhecer que seu esforço como
O psicanalista francês Georges Mauco escre- professor pode não obter muitos resultados na
veu que uma das contribuições da Psicanálise formação da personalidade do aluno, e isso não
à educação consiste em elucidar a importância implica apatia e aceitação cômoda dos proble-
do mestre como modelo e possibilitador de mas com que se depara. Esse reconhecimen-
diálogo. Como modelo, porque a teoria psica- to ocasiona, isto sim, empenho ainda maior na
nalítica não deve ser confundida com ausência superação de seus próprios conflitos interiores
de autoridade e liberdade total para a realiza- e a percepção dos pequenos ganhos que um
ção de desejos reprimidos. Mauco ressalta a simples gesto pode trazer.
integridade psicológica do mestre como recur-
É certo que o paradigma psicanalítico não
so para a boa equilibração da personalidade
comporta indicações quanto a procedimentos,
dos alunos. Ao fornecer-lhes um ego ideal com
técnicas ou modelos de ação pedagógica, o
que possam identificar-se, o professor trabalha
que caberia ser desenvolvido por especialistas
para que as energias irracionais do incon-
em metodologia de ensino. Como paradigma,
sciente possam ser convertidas em forças
a Psicanálise não passa de um referencial de
socialmente úteis.
compreensão do ser humano. Eis o seu papel
Possibilitar diálogo significa, para Mauco, como ciência, que contribui para uma Psico-
respeitar a pessoa e manter a necessária dis- logia da Educação.
tância entre adulto e criança, para que esta
possa adquirir autonomia e compreensão das Concepções sociais de Freud
regras que constituem a vida coletiva. Reafir-
No plano do desenvolvimento individual, já
ma-se, assim, o papel do mestre como autori-
vimos o conflito que opõe as pulsões sexuais e
dade capaz de nortear a vida pulsional de seus
os ordenamentos morais internalizado pelo su-
educandos, antes que outras agências sociais
perego. Esse conflito entre o princípio do pra-
façam-no, causando danos para o indivíduo e
zer e o princípio da realidade termina com a
para a sociedade.
vitória deste último, consubstanciada na pre-
O professor pode contribuir muito, a começar, dominância da pulsão genital sobre as pulsões
sem dúvida, pelo abandono do sentimento de infantis. Em algumas de suas obras, Freud de-
onipotência que atribui a ele o poder de moldar dicou-se a encontrar, na história da huma-
a personalidade do aluno. Uma das aflições do nidade, eventos que pudessem auxiliar a com-
educador, não só nessa etapa da escolariza- preensão desse processo de desenvolvimento
ção, é a incapacidade que sente diante de cer- individual que, segundo ele, faz parte da vida
tas atitudes das crianças e dos jovens. O pro- de todos os seres humanos.
fessor possui objetivos, conceitos e valores que
Seus estudos levaram-no a perceber a ausên-
deseja ver refletidos nas pessoas que educa e
cia de explicações plausíveis sobre a proibição
sente-se frustrado, muitas vezes, por não con-
ao incesto, tabu existente em praticamente to-
seguir fazer valer o seu exemplo de vida. Seus
das as culturas. Unindo os resultados das ob-
alunos não são as pessoas que ele gostaria
servações clínicas psicanalíticas às conclusões
que fossem.
da antropologia de sua época, Freud elaborou
Essa frustração instala-se quando o professor uma narrativa “histórica” sobre fatos de um
não percebe a dinâmica de seu inconsciente e tempo distante. A expressão “histórica” deve
se deixa levar por vínculos transferenciais. Mais ser lida com cuidado, uma vez que Freud con-
ainda, quando não considera a história de con- struiu, segundo suas próprias palavras em
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UEA – Licenciatura em Matemática
Totem e Tabu, “um vislumbre de uma hipótese O princípio do prazer, portanto, deve ceder ao
que pode parecer fantástica”, mas que vinha princípio da realidade em benefício da consti-
ao encontro de seus objetivos. tuição da ordem social, como foi no início,
A narrativa do criador da Psicanálise pode ser quando os filhos tiveram que impor a si mes-
assim resumida. No tipo mais primitivo de orga- mos aquelas proibições em prol da existência
nização social, as pessoas viviam em pequenos da horda. Daí Freud ser absolutamente cético
agrupamentos compostos por um homem, suas quanto à possibilidade de criarmos uma so-
mulheres e seus filhos. O chefe era um pai vio- ciedade desprovida de repressão sexual. Or-
lento e ciumento que se apropriava das fêmeas ganização social e sexualidade reprimida são
com exclusividade e expulsava os membros termos gêmeos. O primeiro não existe sem o
masculinos do grupo, assim que estes cresci- segundo.
am. Numa dessas hordas, os filhos expulsos Mais ainda, Freud via que, quanto mais desen-
retornaram, certa vez, e assassinaram o pai. volvida e sofisticada torna-se nossa sociedade,
Esse ato, contra o qual ainda não havia qual- maior é a repressão sexual imposta a seus
quer proibição moral ou jurídica, colocou o membros. Ou, se quisermos inverter essa
grupo em total desordem. Os jovens foram equação: quanto mais repressão à libido,
tomados pelo sentimento de culpa, pois odia- maior o progresso social e cultural. Trata-se,
vam o pai, mas também o amavam, e além aqui, da concepção de Freud em que a ener-
disso começaram a lutar entre si pelas mul- gia sexual reprimida converte-se em sentimen-
heres. Colocado em risco o agrupamento, os tos úteis à convivência social – a sublimação,
assassinos estabeleceram dois acordos funda- conforme já vimos.
mentais: a proibição do homicídio e o impedi-
Esses sentimentos produzidos pelo constrang-
mento de relações sexuais com mulheres da
imento à sexualidade – amizade, fraternidade,
própria horda.
amor ao próximo, etc. – são empregados para
O sentimento de culpa dos filhos gerou, assim, contrabalançar a agressividade inata do ser
os dois tabus que deram origem à civilização humano. O mesmo que ocorreu com os filhos
que hoje conhecemos: “não matarás” e “não que assassinaram o pai na horda primeva. Eles
cometerás incesto”. Observe-se que a trama tiveram que interditar seu próprio prazer sexu-
elaborada por Freud, bem como o seu desfe- al, organizaram-se como grupo que não mata
cho, coincide com a situação edipiana que ele seus semelhantes, desenvolveram normas pa-
considerou parte constituinte da vida de todos ra conter a agressividade e a impulsívidade
os seres humanos do sexo masculino. Freud sexual e, a partir de então, progrediram em
entendia que essa trama data dos primórdios torno de nobres sentimentos gregários.
da humanidade, tendo sido escrita por Só-
focles no século IV a. C. com base em mitos Educação e sociedade
contados de geração em geração.
Sob a ótica da concepção freudiana de so-
O que Freud concluiu, portanto, é que a atra- ciedade, qual é o sentido da educação, seja no
ção sexual do menino por sua mãe e o ódio
lar, seja na escola? Inevitavelmente, a edu-
por seu pai são sentimentos que estiveram
cação visa reprimir a energia sexual para con-
presentes na origem de nossa civilização. E
vertê-la em sentimentos que possam ser em-
que a proibição ao incesto – bem como ao
pregados em prol da harmonia social. Esse
homicídio – foi o que permitiu o desenvolvi-
pressuposto aplica-se a qualquer tipo de orga-
mento dessa mesma civilização. O horror ao
nização social, capitalista ou socialista.
incesto transformou-se, com o tempo, em uma
série de outras repressões da pulsão sexual, O que Freud quis dizer é que não existe a mín-
ao ponto de em certo momento só sermos ima possibilidade de vivermos coletivamente
capazes de obter prazer genital, só nos permi- sem que cada indivíduo aprenda sentimentos
tirmos ligações monogâmicas, com pessoas como solidariedade, fraternidade e coopera-
de outro sexo e assim por diante. ção. E estes sentimentos são realmente apren-
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Psicologia da Educação – Freud e a Educação: contribuições e limitações
didos, segundo ele; não são próprios do ser escolar – da mesma forma que para outros
humano, conforme ficou evidente nos eventos setores de nossa vida – é um processo com-
da horda primitiva. Como são resultados de plexo em que estão envolvidas várias deci-
aprendizagem, precisam ser ensinados, pela sões. Uma delas diz respeito ao equaciona-
família e pela escola. mento entre liberdade e autoridade, terreno em
que o professor é colocado quando opta pelo
Entretanto desenvolver sentimentos desse
paradigma psicanalítico como guia de suas
tipo, construtores da sociabilidade, não é tare-
ações. Outra decisão crucial, estreitamente
fa fácil. Já vimos que a criança nasce com pul-
vinculada à primeira, é quanto às finalidades
sões totalmente não-socializadas, egoístas,
sociais e políticas em que situa o seu trabalho.
que buscam exclusivamente o prazer a qual-
quer preço. Essas energias que formam o id Somente uma ampla reflexão sobre esses
precisam ser reprimidas para que parte delas temas permitirá encontrarmos o caminho que
possa ser convertida – sublimada – em favor melhor possibilite à Psicanálise oferecer con-
da vivência grupal. tribuições para a Psicologia da Educação.
Nessa perspectiva, pode-se imaginar que os
educadores adeptos da Psicanálise sejam fa-
voráveis a uma escola organizada de acordo
com os moldes tradicionais, impositora, cas-
tradora, autoritária. Não é o que acontece, con-
forme foi assinalado aqui mesmo nestas pági-
nas. Em geral, os autores que refletem sobre a
educação sob a inspiração das idéias psicana-
líticas tendem a posicionar-se favoravelmente a
posturas menos repressivas no trato com cri-
anças e jovens.
Um exemplo real e interessante vem de Sum-
merhill, a escola inglesa criada nos anos de
1920 – e que existe ainda hoje, aliás – por A. S.
Neill, cujos livros tiveram grande sucesso em
nosso país nas décadas de 1960 e 1970.
Naquela instituição, os alunos têm toda liber-
dade para estudar o que quiserem, na hora em
que bem desejarem, sob uma orientação
pedagógica não-diretivista. No corpo teórico
dos argumentos que sustentam Summerhill,
há conceitos nitidamente inspirados na Psica-
nálise, favoráveis à liberação dos desejos de
cada um – dentro de normas definidas coletiva-
mente – em benefício do bem-estar de todos.
Como é possível a existência de uma escola
como Summerhill? Ou ainda, como podem os
educadores psicanalistas endossar um sis-
tema de ensino baseado em menor repressão?
Se Freud estiver certo em suas análises, a lib-
eração de desejos conduz inevitavelmente à
barbárie, e não à cooperação.
Ocorre que a transposição dos ensinamentos
da Psicanálise para o campo da educação
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UNIDADE V
O comportamentalismo de Skinner
Psicologia da Educação – O comportamentalismo de Skinner
A máquina de ensinar
O psicólogo norte-americano Burrhus Frederic
Skinner acreditava que poderia ser possível
ensinar aritmética mais eficientemente utilizan-
do máquinas como a da ilustração, que ele ini-
cialmente utilizou para ensinar animais. Com
esses instrumentos, se o estudante escolhesse
a resposta certa, ele poderia mover um botão
e ir para outro problema. Caso contrário, ele
teria que continuar trabalhando no mesmo
problema até resolvê-lo. Skinner apresentou
sua máquina em março de 1954, em uma con-
ferência na Universidade de Pittsburgh. Em
versões posteriores de seu dispositivo, uma
segunda sequência de questões repetiam
aquelas que tinham sido perdidas anterior-
mente. As idéias de Skinner, em combinação
com trabalhos de outros cientistas, deram
origem a inúmeras tentativas de automatizar a
aprendizagem, em direçâo ao que seria co-
nhecido como “aprendizagem programada”.
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UEA – Licenciatura em Matemática
Outras teorias
Mais recentemente, estudiosos comportamen-
tais como, por exemplo, Albert Bandura B
(WOOLFOLK, 2000), perceberam que o pro-
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UNIDADE VI
O construtivismo psicogenético – Jean Piaget (1896–1980)
Psicologia da Educação – O construtivismo psicogenético – Jean Piaget
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Psicologia da Educação – O construtivismo psicogenético – Jean Piaget
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UEA – Licenciatura em Matemática
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Psicologia da Educação – O construtivismo psicogenético – Jean Piaget
Quadro comparativo de uma sala de aula baseada numa educação tradicional e uma sala de aula construtivista
TRADICIONAL CONSTRUTIVISTA
Atividades baseadas em livros-texto e cadernos de Os alunos são vistos como agentes ativos e pen-
exercício. sadores de teorias emergentes sobre o mundo.
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UEA – Licenciatura em Matemática
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UNIDADE VII
A teoria socio-interacionista de Lev Semynovitch Vygotsky
(1986–1934)
Psicologia da Educação – A teoria socio-interacionista de Lev Semynovitch Vygotsky
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UEA – Licenciatura em Matemática
gotsky. Chegou ele à conclusão de que os Fonte: Oliveira, 1993, pp. 32-33 (Infográfico de C. de A.)
homens precisam de signos para aprender, Nesse primeiro caso, houve poucos acer-
quando comparou a inteligência humana tos. Mas, numa segunda fase, as teclas
com o comportamento animal. Os animais traziam marcas identificadoras que serviam
não criam instrumentos e não inventam sig- para lembrar as figuras: a faca pode lem-
nos como os homens de todas as culturas. brar o pão; leite, a vaca, etc. Nessa segun-
Assim, os instrumentos são mediações, co- da fase, lembraram-se muito mais e houve
mo os signos da escrita que servem para muito mais acertos.
nos lembrar o que dizemos. Desse modo,
c) A linguagem também tem um importante
os signos constituem um poderoso inter-
mediário para aprendizagem. papel na sistematização das experiências
da criança, pois serve para orientar seu
É o que acontece quando escrevemos algo
comportamento social. Por exemplo, no pe-
na agenda, ou damos nó no lenço para não
ríodo pré-verbal, a açâo das crianças é
esquecer um compromisso ou as listas de
comparável a dos macacos antropóides.
compra.
Mas quando a fala e os signos se incorpo-
Baseado nisso, Vygotsky e seus colabo- ram à sua açâo, esta se transforma, assu-
radores fizeram experimentos com crianças
mindo características humanas.
para verificar a importância da mediação do
signo ou do símbolo na aprendizagem. d) Quando os adultos nomeiam objetos e es-
tabelecem associações e relações, eles es-
Com crianças de 5 a 6 anos, apresentaram
uma série de figuras que estavam numa tão auxiliando a criança na construção de
espécie de máquina de escrever, mas cujas formas mais complexas e sofisticadas de
teclas, numa primeira fase, estavam em conceber a realidade. Assim, nas situações
branco. Elas deveriam, ao ver as figuras, diárias, quando pais ou outras pessoas
acionar a tecla correspondente. Nesse chamam a atenção da criança para objetos,
primeiro caso, houve poucos acertos. pessoas ou fenômenos do meio, estão pro-
Mas, numa segunda fase, as teclas traziam porcionando elementos para a criança or-
marcas identificadoras que serviam para ganizar sua percepção. Por meio dessa in-
lembrar as figuras: a faca pode lembrar o teração, a criança é orientada a discriminar
pão; leite, a vaca, etc. Nessa segunda fase, o essencial; mais tarde, ela passa a fazer
lembraram-se muito mais, e houve muito essa discriminação sozinha ao tentar com-
mais acertos. preender a realidade a sua volta.
e) Ao longo do desenvolvimento cognitivo, a
relação entre a fala e a ação modifica-se.
• Na Fase da fala social (até os 3 anos), a
fala acompanha as ações da criança, de
forma dispersa e caótica, refletindo as
dificuldades que ela sente para solucio-
nar as questões que lhe são colocadas.
• Na Fase da fala egocêntrica (3-6 anos), a
fala passa a preceder a açâo, mudando a
sua função. Agora, ela passa a atuar
como auxiliar do plano de açâo já conce-
bido, mas ainda não realizado.
• Na Fase da fala interior (após os 6 anos),
a fala externa da criança vai desapare-
cendo até tornar-se interna. A internaliza-
ção progressiva da fala permite que a cri-
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Psicologia da Educação – A teoria socio-interacionista de Lev Semynovitch Vygotsky
Privilegia a maturação biológica em que o desenvolvi- Enfatiza o papel da linguagem no processo de desen-
mento segue uma seqüência fixa e universal. volvimento e aprendizagem social, cultural e histórica.
Os conhecimentos são elaborados espontaneamente Os conhecimentos são elaborados por meio das inter-
pela criança. ações entre a criança e o meio.
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UEA – Licenciatura em Matemática
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UNIDADE VIII
A teoria da instrução de Jerome Bruner
Psicologia da Educação – A teoria da instrução de Jerome Bruner
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UEA – Licenciatura em Matemática
a) A Motivação
b) A Estrutura
Para Bruner (1995), todas as crianças pos-
“Qualquer assunto pode ser ensinado efi-
suem o que ele chama de “desejo de
cazmente, de alguma forma intelectualmen-
aprender”, ou seja, elas têm uma moti-
te e honesta, a qualquer criança em qual-
vação interna ou intrínseca que as predis-
quer fase do desenvolvimento.” (BRUNER,
põe à aprendizagem. Elas podem se sentir
1995, p. 35)
motivadas a aprender algo diante de fatores
extrínsecos, porém os efeitos desses fato-
res são transitórios ou passageiros. En- Bruner afirma que qualquer conteúdo
quanto fatores intrínsecos são compensa- pode ser transmitido e compreendido por
dores por si mesmos e, portanto, são auto- qualquer aluno desde que ele esteja ade-
quadamente estruturado ou organizado
mantenedores.
cognitivamente. Ele não diz que uma cri-
Para o autor, crianças nascem com uma ança de 6 anos pode aprender a Teoria da
Relatividade mas, se a explicação dada
grande curiosidade, estimuladora de seu
for adequadamente estruturada, a idéia
desejo ou vontade de aprender sobre o central de Einstein pode ser entendida
mundo que as rodeia. Por exemplo, levadas pela criança, que pode até dar sua pró-
pela curiosidade, crianças pequenas pas- pria explicação sobre a teoria.
sam, frequentemente, de um brinquedo a
outro. Bruner também defende a idéia de Complementando, segundo Bruner, um
que nós nascemos com um impulso intrín- conteúdo ou matéria pode ser caracteriza-
seco para “adquirirmos competências” e, do de três maneiras:
assim, estarmos equipados para enfrentar
• pelo modo de apresentação: a forma uti-
as situações-problema que nos são colo- lizada pelo professor para apresentar ou
cadas. transmitir um conteúdo deve ser adequa-
Assim, crianças tendem a sentirem-se moti- da ao nível de desenvolvimento cognitivo
e à experiência da criança;
vadas, na maioria das vezes, a participar de
atividades nas quais se saem bem porque • pela economia de apresentação: o pro-
possuem as competências necessárias. fessor deve ser econômico e conciso nas
informações que transmite ao aluno, não
Finalmente, Bruner afirma que nós também
só para que ele seja capaz de conservá-
nascemos com uma motivação ou necessi-
las na mente por mais tempo, mas tam-
dade de trabalhar de forma cooperativa com
bém para que elas sirvam de estímulo
os outros, ou seja, uma motivação que en-
para que ele continue querendo apren-
volve a “reciprocidade”.
der mais sobre o assunto;
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Psicologia da Educação – A teoria da instrução de Jerome Bruner
c) A Sequência
Bruner afirma que a seqüência que um pro-
fessor utiliza para apresentar um assunto TEMA 21
determina o grau de dificuldade ou facilida-
de do aluno em compreender aquilo que
lhe é apresentado. A seqüência também O MÉTODO DA APRENDIZAGEM
está relacionada ao grau de desenvolvi- POR DESCOBERTA
mento intelectual da criança.
Bruner não inventou o método de aprendiza-
Assim, para Bruner, a seqüência emprega- gem por descoberta do aluno, mas, depois de
da pelo professor deve seguir o desenvolvi- uma série de estudos e pesquisas com profes-
mento cognitivo da criança, que é seqüen- sores e alunos, tornou-se um dos seus maiores
cial, ou seja, parte da fase enativa para a
defensores entre os professores.
icônica e finalmente simbólica. Por exemp-
lo, para uma criança na primeira fase, o pro- A aprendizagem por descoberta não é a única
fessor deve relacionar um assunto com forma de aprendizagem. Também os alunos
mensagens que envolvem ações; na se- não devem sempre ser orientados a descobrir,
gunda fase, deve utilizar representações por si mesmos, a solução para um problema
gráficas, figuras ou desenhos para explicar
proposto. Porém, se induzidos por meio de
um tema; e na última fase, pode transmitir
perguntas feitas pelo professor, podem desco-
sua mensagem através de palavras.
brir, sozinhos, algumas idéias ou princípios
e) O Reforçamento básicos relacionados com a questão colocada.
Assim, essa forma de aprendizagem baseia-se
Bruner aponta para a necessidade de o alu-
numa distinção feita pelo autor entre a maneira
no receber um feedback ou retorno sobre a
qualidade do seu trabalho ou desempenho. expositiva e a maneira hipotética de conduzir
Assim, cabe ao professor fornecer informa- uma aula. Por exemplo:
ções sobre os resultados obtidos pelos alu-
nos, nem muito cedo (para não confundi-los)
• na maneira expositiva de dar aula, o profes-
sor já traz o conteúdo pronto, e o aluno tor-
nem muito tarde (quando já incorporaram
na-se um agente passivo do processo de
informações que podem ser incorretas).
aprendizagem;
Quanto ao reforço utilizado pelo professor,
esse também deve ser adequado ao nível • na maneira hipotética de ministrar aula, o
do desenvolvimento cognitivo da criança. professor traz o conteúdo sob forma de
Por exemplo, para crianças no nível enativo, problema, a ser resolvido de forma ativa
o reforço mais adequado pode ser “bater pelo aluno, por meio de investigação, per-
palmas”; no nível icônico, o professor pode guntas, pesquisa, experimentação, etc. O
desenhar estrelas para demonstrar que ela professor ajuda-o a resolver o problema,
realizou um bom trabalho; no nível simbóli- discutindo as alternativas apresentadas.
co, um elogio pode ser eficaz.
Entretanto Bruner lembra que a instrução é A aprendizagem realizada de maneira
um estado provisório cujo objetivo é tornar hipotética, segundo Bruner, permite que o
o aluno auto-suficiente. aluno atinja um nível de compreensão do
conteúdo, que vai além da simples me-
Por isso, o professor: morização, ou seja, ele torna-se capaz de
1. não deve confundir reforço com recom- entender as relações entre os fatos.
pensa no sentido behaviorista;
2. deve saber administrar adequadamente Assim, essa forma de aprender pode ser uti-
esse reforço para não tornar o aluno de- lizada em qualquer área do conhecimento des-
pendente porque, em última análise, é ele de que o professor:
que deve assumir uma função autocorre-
a) tenha conhecimento sobre o assunto;
tiva, ou seja, deve ser capaz de perceber,
refletir e corrigir seus próprios erros. b) entenda que esse é um processo lento de
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UEA – Licenciatura em Matemática
aprendizagem e que não pode ser apressa- dagem tradicional ou expositiva. Na classe B
do, pois a verdadeira compreensão do alu- foi utilizada a abordagem hipotética, sendo
no (em vez da simples memorização) é o que foram dados aos alunos mapas contendo
principal objetivo da aprendizagem; apenas a localização dos principais recursos
naturais. A tarefa desses alunos era localizar,
c) seja capaz de estruturar a matéria iniciando-
sem consulta, as principais cidades e as
a pelas idéias mais gerais, elementares e
estradas de ferro e de rodagem. Segundo o
essenciais. Por exemplo, o professor deve
autor, “um grupo aprendeu geografia como um
estruturar o conteúdo a partir dos conceitos
conjunto de atos racionais de indução – as
mais gerais e principais do tema e, a partir
cidades surgiram onde havia água, recursos
daí, desenvolvê-los como uma espiral, sem-
naturais, onde havia coisas que deviam ser
pre dos conceitos mais gerais para os par-
transportadas. O outro grupo aprendeu, passi-
ticulares, aumentando, gradativamente, a
vamente, que havia cidades arbitrárias, em
complexidade das informações;
locais arbitrários, ao lado de conjuntos arbi-
d) desenvolva e estimule uma atitude de inves- trários de água e de recursos. Um aprendeu
tigação por parte dos alunos. Essa investi- geografia como uma forma de atividade. O
gação deve estar voltada para a compreen- outro guardou alguns nomes e algumas
são das relações entre os fatos e as idéias, posições, como forma passiva de registro.”
única forma de garantir a transferência do (Bruner In: Penteado, W. (Org.), 1986).
conteúdo aprendido para novas situações;
e) reconstitua o caminho do raciocínio do alu-
no para encontrar o momento do erro e, a
partir daí, reconduzi-lo ao raciocínio correto.
O erro, portanto, deve ser instrutivo;
f) conheça e utilize a teoria piagetiana na qual
as possibilidades e os limites da criança em
cada fase do desenvolvimento estão clara-
mente definidos. Em outras palavras, o pro-
fessor deve usar uma linguagem acessível e
estar ciente dos conhecimentos anteriores
da criança e do que ela é capaz de atingir
de acordo com seus limites e possibilida-
des;
g) finalmente, para que o método tenha suces-
so, é necessário que o professor conheça a
realidade da vida do seu aluno – sua classe
socioeconômica, suas experiências, dificul-
dades, sua família, etc. –, para que a
dinâmica tenha algum significado e impor-
tância para o contexto de vida do aluno,
bem como seja capaz de motivá-lo.
74
UNIDADE IX
A teoria da aprendizagem significativa – David Ausubel
Psicologia da Educação – A teoria da aprendizagem significativa - David Ausubel
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UEA – Licenciatura em Matemática
78
UNIDADE X
A teoria da afetividade – Henri Wallon
(1879–1962)
Psicologia da Educação – A teoria da afetividade - Henri Wallon
TEMA 23 TEMA 24
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UEA – Licenciatura em Matemática
82
UNIDADE XI
A teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner
Psicologia da Educação – A teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner
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UEA – Licenciatura em Matemática
86
Psicologia da Educação – A teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner
Gosta de geometria, construir maquetes; tem facilidade para indicar trajetos, ler mapas,
Espacial
gráficos e plantas, criar imagens; movimenta-se com facilidade entre objetos, etc.
Sensível à entonação, ritmo, timbre e à emoção contida em uma música; gosta de cantar
Musical
ou tocar instrumentos, reconhece e discute diferentes estilos e gêneros musicais, etc.
Bom relacionamento com as pessoas e boa comunicação; pode liderar opiniões; gosta
Interpessoal de atividades grupais, de cooperar, de fazer interação na percepção e expressão; tem
facilidade de adaptação e de influenciar as outras pessoas.
Fonte: Gardner,1997.
87
UEA – Licenciatura em Matemática
88
UNIDADE XII
Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE)
Psicologia da Educação – Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE)
Apesar de já ser estudada há cerca de um É notório que estes enunciados de valor são
século, nos nossos dias não existe uma defi- resultantes da profunda influência que a obra de
nição holística, global e consensual sobre a Vygotsky, (1986,1979a, 1962), além das de
cognição. Presentemente, considerando mesmo Piaget e de Bruner, exercem sobre Reuven
todos os esforços encetados por importantes Feuerstein. É devida ao grande psicólogo
investigadores, estamos longe de chegar a soviético a concepção de desenvolvimento
compreender a natureza da inteligência, daí potencial, ou melhor, de zona de desenvolvimen-
que seja necessário refletir sobre o que ela é e to proximal, que consiste “na distância entre o
como se pode avaliar e otimizar, pelo que se nível real de desenvolvimento do indivíduo (retro-
justifica a introdução da perspectiva co-cons- spectivo), determinado pela capacidade em
trutivista e dinâmica da Modificabilidade Cog- resolver um problema com independência, e o
nitiva Estrutural (MCE) de Reuven Feuerstein, nível de desenvolvimento potencial (prospecti-
aluno de Piaget e colaborador de André Rey, vo), determinado pela resolução de um proble-
cuja teoria e prática transcende, em muito, o ma segundo a orientação de um colaborador
âmbito puramente cognitivista. mais eficiente e experiente” (VYGOTSKY, 1984),
Toda a obra deste autor está imbuída de um destacando o papel intencional e ativo do medi-
postulado de base: todo o ser humano é modi- atizador algo de suma importância nas apli-
ficável. Um verdadeiro sistema de crenças. cações da teoria da Modificabilidade Cognitiva
Sem esta determinante motivacional essencial, Estrutural (MCE), e que se concentram funda-
a compreensão da teoria, da avaliação e da mentalmente na perspectiva dinâmica da avali-
intervenção na MCE não é possível. Segundo ação do potencial cognitivo (FONSECA, 1987).
este postulado, todos os indivíduos que se Como Vygotsky e Bruner, Feuerstein preocupa-
queiram envolver num processo de transmis- se mais com os processos mentais do indivíduo
são cultural (pais, educadores, professores, for- e com o desenho de programas de enriqueci-
madores ou mediatizadores) deverão subme- mento cognitivo do que com os resultados de
ter-se a esta crença, só assim se pode avaliar um teste de capacidade intelectual. Nesse sen-
se está preparado para assumir essa função. tido desenvolveu um modelo de diagnóstico e
Nesse contexto, Feuerstein, (1975,1989), avan- um modelo de intervenção psicopedagógica
ça com cinco proposições básicas que se total e radicalmente inovadores em comparação
devem colocar ao mediatizador. (ver tabela) com a avaliação e a intervenção tradicionais.
91
UEA – Licenciatura em Matemática
92
Psicologia da Educação – Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE)
TEMA 26 TEMA 27
MODIFICABILIDADE COGNITIVA
A modificabilidade é um conceito central, pois A cognição diz respeito aos processos pelos
refere-se às mudanças que se podem produzir quais um indivíduo percebe (input), elabora e
no próprio indivíduo, na sua personalidade, na comunica (output) informação para se adaptar.
sua maneira de pensar e no seu nível global de
adaptabilidade.
Não se trata de modificação ou de uma
mudança que ocorre como resultado dos
processos circunstanciais e acidentais de
desenvolvimento e de maturação, mas sim de
modificabilidade, entendida como modifi-
cação estrutural do funcionamento do indiví-
duo, produzindo-se nele uma mudança no
desenvolvimento qualitativa e substancial-
mente diferente da prevista pelos tradicionais
contextos genéticos, neurofisiológicos ou
educacionais (FONSECA, 1998, p. 43.)
93
UEA – Licenciatura em Matemática
94
Psicologia da Educação – Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE)
95
UEA – Licenciatura em Matemática
• Vivemos numa nova cultura tecnológica que • Dificuldade em ver relações entre diferentes
se instala progressivamente, para a qual mui- acontecimentos.
tos indivíduos (por exemplo, trabalhadores)
não estão preparados e para os quais não • Dificuldade em mobilizar imagens mentais.
se perspectivou qualquer metodologia dife- Uma vez que as funções cognitivas básicas
rencial de formação. são indispensáveis para aprender noções aca-
dêmicas e sociais, as deficiências no desen-
• A nova cultura tecnológica põe em jogo no-
volvimento de tais funções resultam em apren-
vas modalidades de pensamento, de comu-
dizagens inadequadas, que se situam muito
nicação e de ação que o indivíduo deverá
aquém das expectativas para a idade mental
assimilar para responder aos novos desa-
desses indivíduos (FONSECA E SANTOS,
fios da produtividade.
1995c).
Reuven Feuerstein foi mais além na elaboração Para esse psicólogo israelita, as crianças
das características necessárias para que um adquirem funções cognitivas por meio da
desenvolvimento social proporcione um de- aprendizagem não só por intermédio de uma
senvolvimento cognitivo. exposição direta aos estímulos e acontecimen-
A sua teoria, como temos analisado, centra-se tos do meio ambiente, incluindo o feedback
no enriquecimento interacional da intencionali- ambiental, mas também por meio de um proces-
dade dos pais e professores para reduzir a dis- so de ensino conhecido como experiência de
crepância entre as perfomances típicas e as aprendizagem mediatizada (EAM), o qual é
perfomances potenciais das crianças. guiado pelos pais, avós, irmãos e irmãs mais
velhos ou pelos seus professores. Feuerstein
nota que este processo é essencial para um
A inteligência é vista como um conjunto de
adequado desenvolvimento cognitivo das cri-
um número finito de funções cognitivas bási-
cas. Estas funções são componentes emergi- anças.
das de atividades inatas da criança, da sua
As condições associadas a um desenvolvi-
história de aprendizagem, das suas atitudes
perante a aprendizagem e das suas moti-
mento cognitivo inadequado – e, portanto, a
vações e estratégias. Estas funções cogniti- aprendizagens ineficazes e com possibilidades
vas básicas foram identificadas primaria- de resolução de problemas também ineficazes
mente em crianças com problemas sociais e – são, antes, a falta de experiências de apren-
com problemas de aprendizagem. (FEUER-
dizagem mediatizadas em número suficiente em
STEIN, 1980,1985)
vez de serem o produto de possíveis deficiên-
cias da criança.
Feuerstein propõe que certas funções cogniti-
vas deficientes ocorrem geralmente em crian- Uma vez que experiências de aprendizagem
ças e adolescentes, nos quais se detectam cli- mediatizadas inadequadas são prováveis de
nicamente as seguintes condições: ocorrer quando certas condições estão pre-
sentes, é bastante razoável assumir que se
• Percepção hesitante e confusa.
devem fornecer mais experiências de apren-
• Comportamento exploratório assistemático. dizagem mediatizadas às crianças que estão
mais predispostas a riscos ou a dificuldades.
• Orientação espacial e temporal diminuída.
96
Psicologia da Educação – Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE)
97
UNIDADE XIII
Psicopedagogia: conceitos e contribuições
Psicologia da Educação – Psicopedagogia: conceitos e contribuições
O termo Psicopedagogia apresenta-se, hoje, desse corpo teórico, começando por tentar
com uma característica especial. Quanto mais definir a Psicopedagogia.
tentamos elucidá-lo, menos claro ele nos parece.
Para Maria M. Neves, “falar sobre psicopeda-
À primeira vista, o termo sugere tratar-se de uma
gogia é, necessariamente, falar sobre a articu-
aplicação da Psicologia à Pedagogia, porém tal
lação entre educação e Psicologia, articulação
definição não reflete o significado que esse termo
essa que desafia estudiosos e práticos dessas
assume em razão do seu nascimento. Como diz
duas áreas. Embora quase sempre presente
Macedo (1992, p. 65), “o termo já foi inventado e
no relato de inúmeros trabalhos científicos que
assinala de forma simples e direta uma das mais
tratam principalmente dos problemas ligados à
profundas e importantes razões da produção de
aprendizagem, o termo Psicopedagogia não
um conhecimento científico: o de ser meio, o de
consegue adquirir clareza na sua dimensão
ser instrumento, para um outro, tanto em uma
conceitual” (1992, p. 10). Segundo essa auto-
perspectiva teórica ou aplicada”. Nesse sentido,
enquanto produção de conhecimento científico, ra, a Psicopedagogia, inicialmente, foi utilizada
a Psicopedagogia, que nasceu da necessidade como adjetivo, indicando uma forma de atua-
de uma melhor compreensão do processo de ção que apontava a inevitável interseção dos
aprendizagem, não se basta como aplicação da campos do conhecimento da Psicologia e da
Psicologia à Pedagogia. Macedo lembra-nos, Pedagogia. Diz Neves: “dentro dessa cono-
ainda, que, no Dicionário Aurélio da Língua tação adjetiva da Psicopedagogia, alguns
Portuguesa, o termo psicopedagogia é definido autores, principalmente pertencentes ao cam-
como “aplicação da psicologia experimental à po pedagógico, no final da década de 70 e iní-
pedagogia” (2000). cio dos anos 80 no Brasil, chamaram de ati-
tude psicopedagógica o que em verdade era
Os diversos autores que tratam da Psicopeda-
um psicologismo radical. Por isso, tratavam de
gogia enfatizam o seu caráter interdisciplinar.
denunciar a formação dos professores por eles
Reconhecer tal caráter significa admitir a sua
cognominada de psicopedagógica” (ibidem).
especificidade enquanto área de estudos, uma
vez que, buscando conhecimentos em outros Posteriormente, ainda segundo a professora
campos, cria o seu próprio objeto, condição Neves, a Psicopedagogia assumiu uma cono-
essencial da interdisciplinaridade. tação substantiva, o que por um lado corres-
pondeu a uma aplicação conceitual e, por
Mediante os estudos de Bossa (1994), ao admitir
outro, causou um lamentável estado de con-
essa interseção, não nos resta alternativa senão
fusão, devido à utilização de toda uma polis-
abandonarmos a idéia de tratar a Psicopeda-
semia aplicada a um só termo. Concordo com
gogia apenas como aplicação da Psicologia à
Pedagogia, pois, ainda que se tratasse de recor- Neves quando se refere à questão conceitual
rer apenas a essas duas disciplinas na solução mencionando a confusão que se apresenta, e
da problemática que lhe deu origem – os proble- creio que essa ambiguidade ou dubiedade
mas de aprendizagem – não seria como mera estende-se também à prática.
aplicação de uma à outra, mas sim na constitu- Para Kiguel, que também tem contribuído nesse
ição de uma nova área que, recorrendo aos con- processo de construção do saber psicope-
hecimentos dessas duas, pensa o seu objeto de dagógico, “historicamente a Psicopedagogia
estudo a partir de um corpo teórico próprio, ou surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psico-
melhor, que busca constituir-se. logia, a partir das necessidades de atendimento
A Psicopedagogia, como área de aplicação, de crianças com ‘distúrbios de aprendizagem’,
antecede o status de área de estudos, a qual consideradas inaptas dentro do sistema educa-
tem procurado sistematizar um corpo teórico cional convencional” (1991, p. 22) e “no momen-
próprio, definir o seu objeto de estudo, delimi- to atual, à luz de pesquisas psicopedagógicas
tar o seu campo de atuação, e, para isso, que vêm se desenvolvendo, inclusive no nosso
recorre à Psicologia, Psicanálise, Lingüística, meio, e de contribuições da área da psicologia,
Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia. Pode- sociologia, antropologia, lingüística, epistemolo-
mos citar alguns profissionais brasileiros que gia, o campo da psicopedagogia passa por uma
objetivam dar a sua contribuição na formação reformulação. De uma perspectiva puramente
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UEA – Licenciatura em Matemática
102
Psicologia da Educação – Psicopedagogia: conceitos e contribuições
rentes etapas do desenvolvimento, sobre o Segundo Jorge Visca (apud LAKOMY), a Psi-
progresso nos processos de aprendizagem, copedagogia, que inicialmente foi uma ação
sobre as condições psicodinâmicas da apren- que teve subsídios da Medicina e da
dizagem, sobre as condições determinantes Psicologia, perfilou-se como um conhecimento
de dificuldades de aprendizagem. O enfoque independente e complementar, possuída de
terapêutico considera o objeto de estudo da um objeto de estudo – o processo de apren-
psicopedagogia a identificação, análise, ela- dizagem – e de recursos diagnósticos, corre-
boração de uma metodologia de diagnóstico tores e preventivos próprios (2004).
e tratamento das dificuldades de aprendiza-
gem (1985, p. 13).
A Psicopedagogia ocupa-se da apren-
Para Rubinstein, “num primeiro momento, a psi- dizagem humana, que adveio de uma
copedagogia esteve voltada para a busca e o demanda – o problema de aprendizagem,
colocado num território pouco explorado,
desenvolvimento de metodologias que melhor
situado além dos limites da Psicologia e da
atendessem aos portadores de dificuldades, própria Pedagogia – e evoluiu devido à
tendo como objetivo fazer a reeducação ou a existência de recursos, ainda que embrio-
remediação e desta forma promover o desa- nários, para atender a essa demanda, consti-
parecimento do sintoma”. E, ainda, “a partir do tuindo-se, assim, numa prática. Como se
preocupa com o problema de aprendizagem,
momento em que o foco de atenção passa a
deve ocupar-se inicialmente do processo de
ser a compreensão do processo de aprendiza- aprendizagem. Portanto vemos que a Psico-
gem e a relação que o aprendiz estabelece pedagogia estuda as características da
com a mesma, o objeto da psicopedagogia aprendizagem humana: como se aprende,
passa a ser mais abrangente: a metodologia é como essa aprendizagem varia evolutiva-
apenas um aspecto no processo terapêutico, e mente e está condicionada por vários fatores,
como se produzem as alterações na apren-
o principal objetivo é a investigação de etiolo-
dizagem, como reconhecê-las, tratá-las e
gia da dificuldade de aprendizagem, bem preveni-las. (BOSSA, 1994, p.18)
como a compreensão do processamento da
aprendizagem considerando todas as variáveis
Esse objeto de estudo, que é um sujeito a ser
que intervêm neste processo” (1992, p. 103).
estudado por outro sujeito, adquire caracterís-
Do ponto de vista de Weiss (apud BOSSA, ticas específicas a depender do trabalho clíni-
1994), “a psicopedagogia busca a melhoria co ou preventivo (BOSSA, 1994).
das relações com a aprendizagem, assim como
a melhor qualidade na construção da própria • O trabalho clínico dá-se na relação entre um
sujeito com sua história pessoal e sua
aprendizagem de alunos e educadores” ( p. 6).
modalidade de aprendizagem, buscando
Essas considerações, em relação ao objeto de compreender a mensagem de outro sujeito,
estudo da Psicopedagogia, sugerem que há implícita no não-aprender. Nesse processo,
um certo consenso quanto ao fato de que ela em que investigador e objeto-sujeito de estu-
deve ocupar-se em estudar a aprendizagem do interagem constantemente, a própria alte-
humana, porém é uma ilusão pensar que tal ração torna-se alvo de estudo da Psicope-
consenso nos conduza a um único caminho. É dagogia. Isso significa que, nessa modali-
importante, no entanto, ressaltar que a con- dade de trabalho, deve o profissional com-
cepção de aprendizagem é resultado de uma preender o que o sujeito aprende, como
visão de homem, e é em razão desta que acon- aprende e por quê, além de perceber a
tece a práxis psicopedagógica. dimensão da relação entre psicopedagogo e
sujeito de forma a favorecer a aprendizagem.
Dos profissionais brasileiros citados, torna-se
importante verificar que o tema da aprendiza- • No trabalho preventivo, a instituição, en-
gem ocupa-os e preocupa-os, sendo os pro- quanto espaço físico e psíquico da apren-
blemas desse processo (de aprendizagem) a dizagem, é objeto de estudo da Psicope-
causa e a razão da Psicopedagogia. dagogia, uma vez que são avaliados os
103
UEA – Licenciatura em Matemática
104
Psicologia da Educação – Psicopedagogia: conceitos e contribuições
problemas estruturais que intervêm no surgi- sa-nos saber como e o que o sujeito pode
mento dos transtornos de aprendizagem e no aprender, e perceber o interjogo entre o dese-
processo escolar. jo de conhecer e o de ignorar. Para isso, é
necessária uma leitura clínica na qual, por
Faz-se, desta maneira, imperioso que apren-
meio da escuta psicopedagógica, se possam
damos sobre como os outros sujeitos apren-
decifrar os processos que dão sentido ao ob-
dem e também sobre como nós aprendemos.
servado e norteiam a intervenção. Perceber
Para Alicia Fernández (apud BOSSA, 1994),
esse interjogo, ouvir essa mensagem, enfim,
esse saber só é possível com uma formação
assumir essa atitude clínica, requer um conjun-
que se oriente sobre três pilares:
to de conhecimentos estruturados de forma a
a) prática clínica: em consultório individual- se constituir uma matriz teórica interpretativa.
grupal-familiar; em instituições educativas e
sanitárias; Dificuldades de Aprendizagem da
b) construção teórica: permeada pela prática Matemática
de forma que, a partir desta, a teoria psi- Trata-se de dificuldades significativas no de-
copedagógica possa ser tecida; senvolvimento das habilidades relacionadas
c) tratamento psicopedagógico-didático: se- com a matemática (Semrud-Clikemann e
gundo essa autora argentina, o tratamento Hynd, 1992). Essas dificuldades não são oca-
psicopedagógico-didático é fundamental na sionadas pela deficiência mental, nem por
formação do psicopedagogo, pois consti- escolarização escassa ou inadequada, nem
tui-se num espaço para a construção do por déficits visuais ou auditivos (Smith e
olhar e da escuta clínica – a partir da análise Rivera, 1991). Apenas se classificam como tais
do seu próprio aprender –, que configuram se acontece uma alteração ou deterioração re-
a atitude psicopedagógica. levante dos rendimentos escolares ou da vida
cotidiana (Keller e Sutton, 1991).
Ainda de acordo com Alicia Fernández, todo
sujeito tem a sua modalidade de aprendiza- As dificuldades dos transtornos do desenvolvi-
gem, ou seja, meios, condições e limites para mento da matemática vão incidir em diversas
conhecer. Modalidade de aprendizagem sig- atividades:
nifica uma maneira pessoal para aproximar-se
do conhecimento e constituir o saber. Tal Estas incluem habilidades ‘lingüísticas’ (co-
modalidade constrói-se desde o nascimento, é mo a compreensão e o emprego da nomen-
como uma matriz, um molde, um esquema de clatura matemática, a compreensão ou de-
operar que vamos utilizando nas situações de nominação de operações matemáticas e a
aprendizagem. codificação de problemas representados com
símbolos matemáticos), habilidades ‘percep-
Essa modalidade é fruto do seu inconsciente tíveis’ (como o reconhecimento ou a leitura
simbólico constituído na sua inter-relação com de símbolos numéricos ou sinais aritméti-
o outro e de sua atividade estruturante de um cos, e o agrupamento de objetos em con-
universo estável: relação causa-efeito, espaço- juntos), habilidades de ‘atenção’ (como
temporal, objetividade. Assim, organizam-se as copiar figuras corretamente nas operações
operações lógicas, classificadas e de relação matemáticas básicas, recordar o número
que de um nível de elaboração simples passa que ‘transportamos’ e que devemos acres-
a outro cada vez mais complexo. Esse sujeito centar a cada passo, e observar os sinais
envolve, num único personagem, o sujeito das operações) e as habilidades ‘matemá-
ticas’ (como o seguimento das seqüências
epistêmico e o sujeito do desejo. Isso significa
de cada passo nas operações matemáti-
que a possibilidade de aprender está situada
cas, contar objetos e aprender as tabuadas
no nível inconsciente, no desejo de conhecer. de multiplicar)”. Costumam associar-se, de
(BOSSA, 1994, p. 8) forma superposta, os transtornos do desen-
No trabalho clínico, conceber o sujeito que volvimento da linguagem do tipo receptivo,
aprende como um sujeito epistêmico-episte- os transtornos do desenvolvimento da leitura
e escrita, os transtornos do desenvolvimento
mofílico implica procedimentos diagnósticos e
na coordenação e as dificuldades de atenção
terapêuticos que considerem tal concepção.
e de memória (GARCIA, 2003).
Por exemplo, no processo diagnóstico, interes-
105
UEA – Licenciatura em Matemática
106
Psicologia da Educação – Psicopedagogia: conceitos e contribuições
REGIÃO CAPACIDADE
107
UEA – Licenciatura em Matemática
IDADE INFANTIL (3-6 ANOS) PRIMÁRIA (6-12 ANOS) SECUNDÁRIA (12-16 ANOS)
Capacidade para: compreen- Capacidade para: agrupar objetos de Capacidade para: usar os nú-
der igual e diferente; ordenar 10 em 10; ler e escrever de 0 a 99; meros na vida cotidiana (por exem-
objetos pelo tamanho, cor, dizer a hora; resolver problemas com plo, medidas, uso de receitas; usar
forma; classificar objetos por elementos desconhecidos; compreen- o sistema métrico decimal; usar os
suas características; compre- der meios e quartos; medir objetos números romanos); uso de cálcu-
ensão dos conceitos de: nomear o valor do dinheiro; medir o los, somas mecânicas, com calcu-
longo, curto, pouco, algum, volume; contar cada 2, 5, 10; resolver ladoras; usar a estimativa de cus-
grande, pequeno, menos que, a soma e a subtração; usar reagrupa- tos, em comércio; ler quadros, grá-
mais que; ordenar objetos pelo mento; compreender números ordi- ficos, mapas;compreender dire-
tamanho; compreender a cor- nais; completar problemas mentais ções; utilizar a solução de proble-
respondência 1 a 1; usar obje- simples; iniciar as habilidades com mas para projetos caseiros ou
tos para somas simples; mapas; julgar lapsos de tempo; esti- bricolagem; compreender a proba-
reconhecer números de O a 9; mar soluções; executar operações bilidade; desenvolver a solução fle-
contar até 10; reproduzir figu- aritméticas básicas. xível de problemas.
ras com cubos; copiar núme-
ros; agrupar objetos pelo no-
me do número; nomear for-
mas; reproduzir formas e figu-
ras complexas.
108
Psicologia da Educação – Psicopedagogia: conceitos e contribuições
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Psicologia da Educação – Psicopedagogia: conceitos e contribuições
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UEA – Licenciatura em Matemática
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Psicologia da Educação – Psicopedagogia: conceitos e contribuições
Buscas curtas. Trabalha rápido demais. Comete muitos erros por descuido.
Não usa estratégias de planejamento. Frustra-se facilmente. Ainda que con-
Impulsividade
ceitualize bem, é impaciente com os detalhes. Cálculos imprecisos.
Desatenção ou omissão de símbolos.
Acredita que nem o maior esforço irá levá-lo ao êxito. Nega a dificuldade.
Auto-estima É muito sensível a críticas. Opõe-se a ajuda ou rechaça-a.
113
UEA – Licenciatura em Matemática
SUGESTÃO 3:
TEMA 35 ESTIMULAR A PARTICIPAÇÃO ATIVA E INDE-
PENDENTE NO PROCESSO DE APREN-
DIZAGEM
ALGUMAS SUGESTÕES PARA A
Quando se requer a participação da classe
INTERVENÇÃO NOS CASOS DE ALUNOS
no estabelecimento de critérios de avaliação,
COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
aumenta a motivação e o interesse e fomen-
As orientações que podem ser úteis no ensino ta-se a responsabilidade do aluno.
da matemática para alunos com dificuldades
Incitar os alunos a estabelecer problemas e
de aprendizagem constituem-se numa preocu- apresentá-los no quadro-negro para fazê-los
pação dos estudiosos do tema, visando auxi- em casa.
liar os professores na consecução dos obje-
Expor questões e, depois, dirigir-se a um
tivos didático-pedagógicos dessa disciplina.
aluno para que as responda. Isso faz que
Garcia (2003), apresenta-nos as seguintes su- estejam mais atentos e aplicados.
gestões: Dar sugestões, ajudas ou guias para que o
SUGESTÃO 1: aluno saiba encarar e monitorizar adequada-
mente os erros.
ESCLARECIMENTO DA ESTRUTURA E
DAS EXIGÊNCIAS
É necessário tornar explícitos os objetivos da SUGESTÃO 4:
atividade, assim como as exigências que im-
plicam. Igualmente, devem ser esclarecidas PRINCÍPIOS DO ENSINO
as expectativas e os procedimentos de con-
cessão de notas. É importante que o aluno Esclarecer todos os termos relevantes do
saiba com clareza o horário de apoio, ajus- vocabulário. Usar a terminologia de forma
tando verbalmente e por escrito as horas, consistente na descrição dos procedimentos,
assim como animando-o a utilizá-lo para a evitando uma linguagem pesada e longa, ou
resolução ou discussão de dificuldades ou
estruturas sintáticas complicadas.
para realizar as adaptações necessárias. E
importante proporcionar um alto grau de Promover, nos alunos, o uso e o desenvolvi-
estruturação que seja compartilhado por ele, mento de estratégias de memorização (evitar
tal como o emprego dos livros-textos. excessos e/ou exclusividade de seu uso) e
Deverá ser fomentada a responsabilidade do recuperação da informação.
aluno.
SUGESTÃO 2:
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