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Polybat

“Polybat”: um jogo para pessoas com paralisia cerebral


*Universidade
CDD. 20.ed. 616.836 Aline Miranda STRAPASSON* Paranaense.
796.019
Edison DUARTE** ** Universidade Esta-
dual de Campinas.

Resumo
Este trabalho teve como objetivos: oferecer aos professores de Educação Física e pessoas interessadas,
uma atividade recreativa/esportiva inclusiva para alunos com Paralisia Cerebral e ou deficiência física
frequentadores de escolas especiais ou regulares; propor atividades que estejam de acordo com as
habilidades motoras dos alunos, incentivando a evolução das mesmas e verificar se houve melhora do
envolvimento físico/motor através das atividades desenvolvidas. Desenvolvemos nosso estudo na Asso-
ciação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Palmas - PR, durante o ano de 2004, contando com
seis alunos participantes, com idades entre oito e 20 anos. Realizamos 32 aulas, ministradas semanal-
mente, com uma hora e 25 minutos de duração cada. As atividades estavam de acordo com as habilida-
des motoras dos alunos e os resultados obtidos através da observação sistemática e registrados no
diário de campo foram: melhora do controle postural e do alcance nas laterais da mesa; melhora do
controle da raquete e da raquete sobre a bolinha, consequentemente dos fundamentos do jogo e dos
ralis; melhora da força e precisão dos golpes; compreensão das regras; melhora da concentração, auto-
motivação e aceitação da derrota (quando ocorre).

UNITERMOS: Educação física para deficientes; Esporte para deficientes; Inclusão; Paralisia cerebral; Defi-
cientes físicos.

Introdução
A pessoa com Paralisia Cerebral (PC) apresenta especial (Associação de Pais e Amigos dos
padrão de postura e movimento “anormais” o que Excepcionais - APAE), notamos que em muitas
impede ou dificulta o desenvolvimento “normal”. A aulas de Educação Física ocorre a exclusão (mesmo
PC incapacita, limita ou impede os indivíduos de que sem querer) dos alunos com deficiência física,
realizarem a maioria das atividades desejadas, sejam principalmente dos que se utilizam de cadeira de
elas simples ou complexas, devido as alterações da rodas. Percebemos assim a necessidade de envolver
coordenação dos movimentos e do tônus muscular. esses alunos em uma atividade adaptada à sua
Todavia, mesmo que essas pessoas tenham limi- condição, permitindo a prática plena de uma
tações evidentes, consideramos que as suas necessi- modalidade recreativa/esportiva específica para a
dades e o desejo de participar das aulas de Educação referida clientela.
Física ou de atividades recreativas em geral são idên- O “polybat” vem sendo desenvolvido em nossa
ticos ao de qualquer criança. escola desde o ano de 2001 através da iniciativa de
Os alunos com PC com ou sem deficiência men- duas professoras de Educação Física. Em princípio
tal associada participam das aulas de Educação Fí- pensou-se que poderia dar certo, mesmo com o
sica, mas muitos não são inclusos adequadamente comprometimento mental dos alunos participan-
nas atividades propostas, ou seja, não saem satisfei- tes (tendo em vista que a deficiência mental limita
tos das aulas devido a falta de atividades adaptadas ou impede a aprendizagem, bem como a prática de
para as suas condições. atividades ou esportes). Com os treinamentos se-
Como professora de Educação Física Adaptada manais, percebemos que o “polybat” começou a fa-
desde o ano de 1997, trabalhando em uma escola zer parte da rotina dos alunos escolhidos,

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melhorando o desempenho e relacionamento no Os objetivos desta pesquisa são: oferecer aos pro-
ambiente escolar. Por conta disso, sentimos a ne- fessores de Educação Física e pessoas interessadas,
cessidade de auxiliar escolas especiais e regulares a uma atividade recreativa/esportiva inclusiva para
desenvolverem esta atividade. alunos com Paralisia Cerebral e ou deficiência físi-
Para a realização desta pesquisa, foram escolhidos ca frequentadores de escolas especiais ou regulares;
não-aleatóriamente seis alunos com PC. Os critérios propor atividades que estejam de acordo com as
utilizados para a seleção foram: 1) apresentar condições habilidades motoras dos alunos (atividades simples
de manter-se sentado em cadeira de rodas ou com aumento do grau de dificuldade
deambular; 2) apresentar condições de segurar a gradativamente), incentivando a evolução das mes-
raquete, golpear e recepcionar as bolinhas; 3) apresentar mas e verificar se houve melhora do envolvimento
condições de entender regras sem complexidade. físico/motor através das atividades desenvolvidas.

Paralisia cerebral
A expressão Paralisia Cerebral (PC) surgiu em Como podemos observar, através das definições
1853 para descrever uma enfermidade caracteriza- citadas, a PC é decorrente de uma lesão que acomete
da por rigidez muscular, predominando nos mem- o Sistema Nervoso Central (SNC) imaturo e acarreta
bros inferiores, e ocasionada por diferentes distúrbios da motricidade. Quando dizemos que uma
transtornos provocados por asfixia, diminuição ou criança tem PC significa que existe uma deficiência
ausência de oxigênio do recém-nascido durante o motora consequente de uma lesão no cérebro, quando
nascimento. este ainda não estava completamente desenvolvido.
DIAMENT e CYPEL (1996) relatam que PHELPS Além dos problemas motores, podem estar associados
(1964) generalizou o uso do termo PC para deficiência mental, auditiva, visual, odontológica,
diferenciá-lo do termo paralisia infantil, causada distúrbios de linguagem, do comportamento, da
pelo vírus da poliomielite e que causava paralisias sensibilidade, entre outros.
flácidas. Quanto às formas de manifestações clínicas, a
Atualmente sabemos que a criança com PC é vista PC compreende quatro grupos: as formas espásticas,
como um portador de uma desordem sensório- as atetósicas/discinéticas e as atáxicas, sendo fre-
motora que tem efeito na interação da criança com quente a associação de duas ou três formas desses
o meio ambiente incluindo a exploração e a fun- tipos, caracterizada como mista.
ção. Este tipo de desordem limita o desenvolvimento As formas espásticas caracterizam-se pelo
geral (MEYERHOF & PRADO, 1998). aumento dos reflexos de estiramento, aumento de
Entre as principais definições que foram sendo tônus e fraqueza muscular do tipo neurônio motor
formuladas ao longo do tempo sobre PC, encontramos superior. As diferentes formas de PC relacionam-se
a de BOBATH (1979) que define PC como sendo o com os segmentos corpóreos afetados, que
resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do exteriorizam as áreas cerebrais comprometidas.
cérebro, de caráter não progressivo e existindo desde a Consideram-se então as formas mono, di, tri, tetra
infância. A deficiência motora se expressa em padrões e hemiparéticas ou hemiplégicas, conforme sejam
anormais de postura e movimentos, associados com o afetados, um, dois, três ou quatro membros, ou um
tônus postural “anormal” interferindo no dimídio corporal (CASTRO, 1996).
desenvolvimento motor da criança (BOBATH, 1979). Para LIANZA (1995, p. 289) a classificação de acor-
BRANDÃO (1992) cita a PC como a designação do com as características semiológicas da PC, “pode
dada ao quadro clínico apresentado pelos indiví- ser a seguinte: espástica 75%, atetósica 18%, atáxica
duos que sofreram uma lesão no encéfalo imaturo, 2% e mistas -”.
de caráter não progressivo, nas áreas que contro- Todas essas alterações, consequentemente, fazem
lam os movimentos, a coordenação e o tônus. com que os movimentos funcionais se manifestem
Conforme L EVIT T (2001) PC é o nome de forma deficitária, impedindo que a pessoa
comumente usado para um grupo de condições execute os padrões de movimento
caracterizadas por disfunção motora em razão de coordenadamente. Em geral apresentam uma
uma lesão cerebral não progressiva no início da vida. atitude típica de movimento, sofrendo uma variação

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a partir da característica do tônus determinado pelo DIAMENT e CYPEL (1996) explicam que 30% dos casos
tipo de PC. de PC acontecem por causa pré-natal, 60% dos casos por
Em relação à etiologia, DIAMENT e CYPEL (1996) causa peri-natal e 10% dos casos por causa pós-natal.
relatam que existe uma variação muito grande quan- Quanto a incidência de PC por nascimento, esta
to às causas que ocasionam a PC, como: varia de país para país e de autor para autor. Se-
a) causas pré-natais: genéticas e/ou hereditárias; gundo REED (1991) nos países desenvolvidos varia
circulatórias; hipóxico-isquêmicas, hipotensão; de 1,5 a 7/1.000 nascidos vivos, sendo a prevalência
eclâmpsia; hemorragias com ameaça de aborto; de 500/100.000 pessoas. Calcula-se que nos países
desprendimento prematuro da placenta; má posição industrializados, relativamente há crianças em ida-
do cordão umbilical; infecções (rubéola, toxoplasmose, de escolar frequentando centros reabilitadores, a
lues, herpes); metabólicas (diabetes, desnutrição); prevalência seja de dois para 1.000.
tóxicas (medicamentos, drogas); malformações Para MEYERHOF e PRADO (1998) a incidência de
congênitas; e físicas (radiações, raios x); PC é entre 0,6 a 2,4 para cada 1.000 nascidos vivos
b) causas peri-natais: parto distócico; asfixia e conforme MATTOS (2004), em cada 1.000 bebês
(hipóxia ou anóxia); hemorragias intracranianas; que nascem, dois podem ser afetados pela PC. A
prematuridade e baixo peso; icterícia grave incidência desse problema diminui a medida em
(hemolítica ou por incompatibilidade); infecção que melhora o conhecimento e o desenvolvimento
pelo canal do parto; dos serviços de saúde.
c) causas pós-natais: meningencefalites Portanto, de acordo com a gravidade da lesão, o
bacterianas e virais; traumatismos crânio-encefálico; quadro clínico pode ser leve (desajustamento
encefalopatias desmielizantes (pós-infecciosas ou generalizado quase imperceptível, que torna as pessoas
pós-vacinas); processos vasculares; desnutrição, desajeitadas ao andar, falar ou usar as mãos) até severa
epilepsia. (incapacidade motora grave, impossibilidade de andar
De acordo com REED (1991) não existe limite e falar, gerando dependência para o desempenho das
rígido de idade para que uma lesão pós-natal possa atividades de vida diária) e o conhecimento desses
ocasionar quadro motor seqüelar de PC, o impor- dados e classificações é importante, pois será utilizado
tante é que incida sobre um SNC imaturo. nas atividades e esportes adaptados.

“Polybat”: um jogo para pessoas com paralisia cerebral1


O “polybat” ou tênis de mesa lateral, como também equilíbrio de membros inferiores que ele possua.
é conhecido, é uma nova prática esportiva que foi Na classe “D” o jogador fica somente em pé.
criado na Inglaterra em meados dos anos 80. Surgiu Essa classificação procura comparar o grau de
como alternativa recreativa para aqueles que não severidade e a distribuição topográfica do acometi-
possuíam o perfil funcional da Bocha Adaptada2 e mento em função das capacidades para a prática
não conseguiam praticar o tênis de mesa convencional. esportiva, bem como estabelecer um ponto de par-
O jogo permite que qualquer pessoa pratique esta tida justo e igualitário para as competições.
atividade, não se restringindo quanto ao compro- O jogo pode também ser disputado em duplas,
metimento motor, basta que o praticante tenha a a divisão é por classe e não por sexo, desta forma
possibilidade de segurar a raquete e movimento de homens e mulheres participam juntos.
membros superiores. É uma atividade de adaptação e regras simples
O “polybat” é dividido em classes quanto a que pode ser desenvolvida com sucesso em escolas,
coordenação e domínio de membros que o clubes, associações de deficientes, entre outros.
indivíduo possua (classificação funcional). A classe
“A” é a mais baixa, na qual os alunos participantes O jogo
são os mais comprometidos. Em seguida aparecem
as classes “B”, “C” e “D”, respectivamente. As O jogo é praticado em uma mesa de tênis de
principais distinções entre as classes são que na classe mesa sem rede - 1,2 m x 2,4 m (FIGURA 1) ou
“A” o jogador fica somente sentado; nas classes “B” uma mesa com as mesmas dimensões. A mesa tem
e “C” o jogador fica sentado ou em pé, conforme o em suas laterais uma proteção (para que a bola não

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saia pelo lado) que apresenta o comprimento total Vence quem atingir 11 ou 21 pontos primei-
da mesma e possui uma altura não mais que 10 ro, caso o jogo empate em 10 a 10 ou 20 a 20,
centímetros que não pode adentrar na área da mesa quem fizer o 11o ou 21o ponto vencerá. Não ocor-
em direção ao centro em mais de 3,5 centímetros - re a vantagem, desta forma toda a bola ou infra-
esses devem ser afixados de uma maneira firme. ção resulta em ponto. Não existe também o
A bola utilizada é a plástica de golfe macia, tipo “airflow” pedido de tempo.
(FIGURA 2), possui baixo potencial de quique e deve ser Chances são aplicadas se:
rolada na superfície da mesa o tempo todo. ♦ A bola é levantada na área de junção central
A raquete deve possuir uma área de batida de 18 centí- (entre as duas mesas) ou painéis laterais;
metros quadrados e um comprimento máximo de 30 cen- ♦ A bola ficar estacionada fora do lance dos seus
tímetros, tendo um cabo lateral ou central (FIGURA 2). jogadores.
A pontuação é a seguinte:
♦ Cada ponto jogado resulta em um ponto para
o sacador ou receptor;
♦ Pontos são ganhos ou perdidos devido as faltas
que ocorrem;
♦ Cada servidor irá sacar cinco vezes de qual-
quer lado da mesa;
♦ Um jogador tem permissão para fazer mani-
pulações múltiplas antes de devolver a bola;
♦ Os jogadores (sentados ou em pé) podem
apoiar qualquer parte superior do corpo na mesa
para equilibrar-se;
♦ O juiz irá interpretar decisões relacionadas com:
FIGURA 1 - Mesa de “polybat” da APAE de Palmas - PR. o contato corporal, bolas levantadas, procedimen-
tos do servidor, bolas paradas e ocorrência;
♦ Jogadas complexas o juiz irá indicar claramente
quem ganhou o ponto e dar o sinal apropriado;
♦ Em um jogo de duplas, qualquer receptor pode
rebater a bola sacada. No entanto, o mesmo sacador,
saca cinco vezes, e então o (direito de sacar) vai para
o primeiro sacador da oposição. Esses sets de saques
são então alternados entre os quatro jogadores. Um
sacador deve sacar todos os cinco saques do mesmo
lado. Receptadores e novos sacadores não podem
mudar de lado da mesa durante o jogo;
FIGURA 2 - Equipamentos oficiais de “polybat”. ♦ Um servidor deve sacar todas as cinco servidas
do mesmo lado durante o jogo;
A raquete deve manter contato com a mesa (ela ♦ O vencedor é o primeiro jogador ou par ao
é arrastada) e a bolinha deve ser lançada nas bordas alcançar 11 pontos ou 21 pontos. Em competições
laterais, com objetivo de rebater a bola para fora do importantes (grandes), deve-se jogar apenas 11 pontos;
lado do oponente ou forçando um ponto decisivo. ♦ Um juiz tem direito de vetar qualquer aspecto,
A bola levantada/quicada que for parar de um comportamento ou equipamento que não for
dos lados (painéis ou bordas laterais) da mesa será considerado dentro do espírito de jogo.
considerado falta - ponto do adversário, ou seja, a
bola deve manter contato constante com a mesa. “Polybat” em educação física adaptada
Se a bola for parada e estacionar durante uma batida
de bloqueio ou um movimento de manipulação, isto O “polybat”, como vimos, é uma modalidade
caracteriza uma falta. esportiva ou recreativa que pode ser praticada com
Um ponto é perdido se a bola for tocada com os fins competitivos ou de diversão. Ele possibilita a
braços ou mãos do jogador, mas não a parte da mão inclusão de alunos com deficiência física, visto que
segurando o cabo da raquete. foi criado especificamente para esse fim. Essa

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inclusão acontece porque a atividade permite que a) Envolvimento Físico/motor: controle de padrões
alunos com problemas motores participem com motores; controle de mão e braço (MMSS); controle
sucesso devido as adaptações que oferece. da bola; postura corporal e balanço/equilíbrio; orientação
De acordo com C AMPEÃO (2003), M ATTOS da raquete; antecipação de direção e rebatida; foco em
(2004) e CASTRO (2005), atividades adaptadas na seguir a bola; concentração na competição; prática de
Educação Física fazem com que os participantes se batidas específicas; percepção de ataque e defesa.
tornem mais independentes, com maior controle b) Envolvimento Psicológico: ênfase da diversão;
corporal, com maior auto-estima, mais socializa- apreciação do aspecto diversão; foco em aspectos
dos, mais atentos, mais autônomos, entre outros. perceptuais; interação com o “co” jogador; coope-
A Educação Física é um excelente coadjuvante ração com parceiros em duplas; conseguir satisfa-
na melhora do desenvolvimento físico, cognitivo, ção pessoal; sensação de segurança e confiança;
afetivo e social, e o que devemos fazer é oportunizar conseguir um grau de independência; independên-
as pessoas com deficiência física (tema dessa pes- cia na pontuação; tomar iniciativa em organização.
quisa) com atividades adaptadas, com atividades que O “polybat” possibilita as pessoas com deficiência
elas consigam realizar. física participar de um esporte e de competir com
Os dados seguintes, segundo WILLIAMSON ([entre sucesso e igualdade, e/ou de uma atividade de lazer,
1990 e 2000]), darão uma indicação de alguns dos de descontração, de brincadeira. É uma prática que
objetivos para os quais esse jogo pode ser utilizado: deve ser incentivada em nosso país.

Metodologia
Para cumprirmos os objetivos propostos neste Portanto, este estudo foi aprovado pelo Comitê de
trabalho, realizamos uma pesquisa descritiva, do Ética em Pesquisa - CEP, da Faculdade de Ciências
tipo estudo de caso, com abordagem qualitativa Médicas - FCM da Universidade Estadual de
através de um diário de campo (resultado de obser- Campinas - UNICAMP (parecer no 658/2004) e
vações sistemáticas), com enfoque pedagógico. desenvolvido na Associação de Pais e Amigos dos
(THOMAS & NELSON, 2002; VÍCTORA, KNAUTH & Excepcionais - APAE de Palmas - PR, no qual foram
HASSEN, 2000). selecionados não-aleatóriamente seis alunos com
O diário de campo se constituiu num valioso Paralisia Cerebral, sendo dois do sexo feminino e quatro
recurso utilizado por nós para a obtenção e registro do sexo masculino; com idades entre oito e 20 anos;
das informações observadas. Observamos, fotogra- com os seguintes quadros clínicos: um hemiplégico,
famos, filmamos e registramos no nosso diário de dois diplégicos, um triplégico e dois quadriplégicos
campo os seguintes aspectos do envolvimento físi- (todos espásticos, sendo que um, além da espasticidade,
co/motor: apresenta movimentos atetóides). Os diagnósticos
a) Postura corporal e equilíbrio na cadeira de rodas; foram obtidos nos prontuários dos alunos disponíveis
b) Controle de mão e braço; na escola e autorizados pela direção da Instituição.
c) Controle de bola; Os alunos envolvidos na pesquisa obtiveram a
d) Controle de raquete; autorização dos pais, através do termo de consenti-
e) Controle de raquete/bola; mento livre e esclarecido para participarem deste
f ) Foco em seguir a bola (concentração); trabalho, bem como, para a divulgação de fotos e
g) Alcance nas laterais da mesa; filmagens, com objetivos educacionais, que foram
h) Percepção de ataque e defesa. realizadas nas aulas.

Resultados
As 32 aulas foram aplicadas durante o ano de 2004, PR, das 10h30min às 11h55min, tendo como estrutura:
todas as quintas-feiras, no salão social da Escola de 1) Apresentação do material, explicação e de-
Educação Especial Sinhara Vianna - APAE de Palmas - monstração o jogo;

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2) Realização de deslocamentos variados em ca- Resultados individuais obtidos


deira de rodas, exemplo: cada um deslocando-se através de observação sistemática
como consegue para pontos determinados na qua- e registro em diário de campo
dra esportiva ou em uma sala grande;
3) Realização de alongamentos antes de Aluno 1 - A.S. (oito anos)
iniciarmos com o material (passivos e ativos de
membros superiores - MMSS e inferiores - MMII) A.S. (diplégico) desloca-se no solo, arrasta-se em
e exercícios de mobilidade de tronco (para frente, decúbito dorsal, ventral e rola com facilidade;
para os lados); engatinha tracionando os dois joelhos ao mesmo
4) Colocação de forma correta em suas cadeiras tempo e os ombros mantêm-se em rotação interna.
de rodas com o intuito de quebrarmos padrões de Mesmo assim, tem facilidade e independência para
espasticidade (colocar apoios para os pés, almofadas engatinhar e se locomover dessa forma para aonde
nas costas ou nas laterais da cadeira para permitir deseja. Não consegue andar de joelhos. No início
boa postura). Segundo THORNTON e KILBRIDE (2000) do nosso trabalho tinha dificuldades em sentar na
o posicionamento correto na cadeira de rodas é posição de índio, mas logo se adaptou.
essencial para reduzir posturas incorretas e o Em relação aos deslocamentos em cadeira de rodas,
desconforto, evitar úlceras de pressão e deformidades tanto para frente quanto para trás, em piso liso e reto
e maximizar a função. O apoio adequado ajuda a não apresenta dificuldades; tem boa mobilização de
criança a enfrentar a força da gravidade sem lançar tronco em cadeira de rodas, consegue realizar os
mão de atividade “anormal” excessiva. Para MATTOS movimentos de flexão, flexão lateral e extensão da
(2004), é importante manejar e posicionar a criança coluna lombar com facilidade e equilíbrio.
com Paralisia Cerebral devagar, dando oportunidade Quanto aos alongamentos ativos, realiza-os com
para ela se ajustar às mudanças de posição; facilidade (sendo que os mesmos são: 1) Coluna
5) Mobilização dos MMSS e tronco utilizando Cervical: flexão, extensão e rotação; 2) Ombros: ele-
somente a raquete (arrastar a raquete de uma borda vação, depressão, flexão, extensão, adução, abdução,
lateral a outra, com grande amplitude de movimento); rotação, circundução; 3) Cotovelos: flexão, exten-
6) Realização do trabalho de ataque e defesa, são; 4) Coluna lombar: flexão, extensão; 5) Qua-
utilizando os mais variados exercícios, como por dril: flexão, extensão, adução, abdução, rotação; 6)
exemplo: atacar várias bolas seguidas de um lado, Joelhos: flexão, extensão, rotação; 7) Tornozelos:
depois de outro; atacar com o intuito de acertar ou flexão plantar e dorsal).
derrubar objetos; atacar e defender em meia mesa Nos exercícios de arrastar a raquete na mesa de
frente a uma parede; atacar forçando a passagem um lado para o outro, tocava nas bordas laterais
lateral, pois no centro da mesa terá um obstáculo; necessitando de flexão lateral da coluna lombar para
realizar os mesmos exercícios defendendo. As bolas aumentar a amplitude de movimento e alcance nas
utilizadas foram variadas durante todo o tempo da laterais da mesa. Atualmente, esse movimento não
aula (bolas de tênis de mesa, de tênis de mesa furada, é mais executado com dificuldade. Já a realização
de isopor, de plástico, de desodorante, de meia); é dos saques, executa os saques fechados (partindo
importante fazê-los entender as regras e a pontuação, de frente do corpo num movimento de abdução
uma das atividades pode ser deixá-los arbitrar as horizontal do ombro e extensão do cotovelo) e aber-
partidas. Para C AMPEÃO (2003), estimular a tos (partindo do movimento de abdução horizon-
participação na arbitragem e na organização das tal do ombro e extensão do cotovelo para o
atividades é uma estratégia que permitirá a fixação movimento de adução horizontal do ombro) com
e o repasse das normas, promovendo maior facilidade, exceto o saque fechado para o lado con-
aprendizagem e compreensão das regras. trário da mão dominante, o qual apresenta um pou-
7) Finalização com jogo e relaxamento (trabalho co de dificuldade (acredito ser por causa da abdução
de respiração e/ou alongamento). de punho que é necessário fazer). Seus saques evo-
As brincadeiras e atividades de “polybat” criadas luíram em relação a força e colocação.
e desenvolvidas nas aulas poderão ser encontradas A.S. consegue manter-se concentrado nas aulas
com detalhes em STRAPASSON (2005). e no jogo. No decorrer dos treinos se mostrou

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interessado e motivado, compreendeu as regras e dificuldade. Seus saques evoluíram em relação a


arbitrou várias partidas. Tem um ótimo domínio força e a direção.
postural, uma boa amplitude de movimento, é Os itens que o aluno 2 obteve melhora foram: a
rápido nas defesas e forte nos ataques. No início, concentração, atualmente mostra-se alerta nas jogadas;
ficava irritado e amuado quando perdia, e após o controle postural e equilíbrio em cadeira de rodas;
várias conversas foi entendendo que faz parte do controle de mão e braço, de bola, de raquete, controle
jogo ganhar ou perder. de raquete-bolinha; os saques e as recepções. É um
Enfim, os itens que permaneceram inalterados aluno esforçado e vibra quando consegue obter êxito.
foram: a postura corporal e o equilíbrio em cadeira Demonstra gostar muito do jogo.
de rodas e a concentração. Os itens que obtiveram R.R. demonstrava não acreditar muito no seu
melhora foram: sentar na posição de índio; alcance potencial, ou seja, nas suas possibilidades. Nas
nas laterais da mesa; saque fechado para a direita; primeiras aulas nos surpreendeu conseguindo realizar
colocação e força dos saques; controle de bola, de várias atividades propostas com um bom domínio.
raquete e de raquete/bola; recepção e, a melhora Apresentou facilidade em aprender o jogo e as regras
mais significativa foi no sentido de compreender básicas. Demonstrou alta motivação e interesse pela
que num duelo há vencedores e perdedores e que atividade durante as aulas. Obteve significativa
nem sempre os vencedores somos nós. evolução motora, conforme citado acima.
Observação: para melhorar sua postura e visão,
Aluno 2 - R.R. (10 anos) utilizamos almofadas que eram colocadas entre suas
costas e o encosto da cadeira de rodas.
R.R. (diplégico) apresenta facilidade nos movi-
mentos de arrastar-se em decúbito ventral e rolar; Aluno 3 - I.X. (13 anos)
executa com dificuldade o movimento de arrastar-
se em decúbito dorsal, e o engatinhar é substituído Dentre todos os alunos selecionados para participar
pelo arrastar-se em decúbito ventral devido a difi- deste estudo, I.X. é o mais comprometido. Apresenta
culdade em colocar-se na posição de quatro apoios Paralisia Cerebral quadriplégica do tipo mista
e superar a espasticidade dos membros. Não conse- (espasticidade, atetose e ataxia) e os movimentos
gue andar de joelhos nem ficar de joelhos. Não do- trêmulos involuntários o atrapalham muito.
minava a posição de índio sem apoio e nos dias de No chão, se desloca com dificuldade (movimen-
hoje consegue manter-se nesta posição e brincar por tos de se arrastar em decúbito dorsal, ventral e ro-
um bom tempo. lar); não consegue engatinhar, pois seus quadris
Quanto aos deslocamentos em cadeira de rodas, apresentam um padrão de adução muito forte (te-
movimenta sua cadeira para frente com movimen- soura) e ele não consegue se manter na posição de
tos lentos e para trás com muita dificuldade. Não quatro apoios. Não consegue andar de joelhos nem
tem independência neste item. A mobilização do ficar de joelhos. Na posição de índio, apresenta bom
tronco em cadeira de rodas é feita com facilidade, equilíbrio e mobilidade dos membros superiores.
desde que os movimentos sejam de pouca amplitu- Estes itens permaneceram inalterados após as 32
de para não haver desequilíbrio. aulas de “polybat”.
Em relação aos alongamentos ativos, apresenta- Deslocando-se em cadeira de rodas, faz muito
va dificuldade na realização dos mesmos e ao longo esforço para obter pouco resultado, ou seja, os
das aulas obteve melhora neste item. movimentos utilizados para movimentar sua cadeira
Nos exercícios de arrastar a raquete na mesa de são insuficientes, necessitando sempre de ajuda. Em
um lado para o outro, toca nas bordas laterais relação a mobilização de tronco em cadeira de ro-
necessitando de flexão lateral da coluna lombar para das, consegue fazer flexões frontais e laterais da co-
aumentar a amplitude de movimento e alcance nas luna lombar com boa amplitude somente
laterais da mesa. Nos exercícios utilizando caixas segurando-se nos apoios laterais da cadeira. Seu
(obstáculos) no centro da mesa, era o segundo que controle postural é auxiliado com almofadas para
mais as acertava, ou seja, o domínio do movimento apoio do corpo e equilíbrio. Os exercícios de alon-
para acertar as bordas laterais (regra do jogo) era gamento ativo são realizados com dificuldade.
ruim. Executa os saques fechados e abertos com Nos exercícios de arrastar a raquete na mesa de
facilidade, exceto o saque fechado para o lado um lado para o outro toca nas bordas laterais com
contrário da mão dominante, o qual apresenta dificuldade necessitando da flexão lateral da coluna

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lombar para aumentar a amplitude de movimento se tratando do membro superior direito (não
e alcance nas laterais da mesa. Nos exercícios comprometido).
utilizando caixas (obstáculos) no centro da mesa, Tem um bom domínio dos fundamentos do
era o que mais as acertava, ou seja, o domínio do “polybat”, bom alcance nas laterais da mesa, é rápi-
movimento para acertar as bordas laterais (regra do da e entende as regras.
jogo) era ruim. Executa os saques fechados e abertos A aluna 4 apresentava-se desconcentrada e
com facilidade, exceto o saque fechado para o lado desmotivada no início do nosso trabalho. Com o
contrário da mão dominante, o qual apresenta desenrolar das atividades, obteve melhora significativa em
muita dificuldade. Seus saques evoluíram em relação sua concentração, atualmente está atenta nos educativos
a força e direção. bem como no jogo; auto-motivação, principalmente após
Em se tratando de atenção, melhorou muito a sua descobrir ser a melhor nos exercícios que requerem
concentração. No início do trabalho, qualquer coisa pontaria; alcance nas laterais da mesa; controle da raquete
que estivesse fora do contexto do “duelo” já o fazia e da raquete-bolinha e evoluiu em relação a força e
olhar, distraindo-o da partida ou atividade. Atualmente colocação dos golpes. Em relação aos itens que
ele consegue disputar um rali sem perder pontos por permaneceram inalterados, citamos: postura corporal e
causa da falta de atenção. Mostra-se atento nas bolas, equilíbrio em cadeira de rodas.
mas não as domina completamente - não tem agilidade
para recepcionar bolas rápidas, nem tem um bom Aluna 5 - S.S. (17 anos)
controle voluntário para jogar nas bordas laterais.
Quando joga forte, seu braço sobe com a raquete, mas S.S. desloca-se no solo com facilidade. Rola, ar-
ele está conseguindo segurá-la e voltar para a mesa rasta-se e engatinha com facilidade. A hemiplegia
para esperar a próxima bola. faz com que o movimento de engatinhar seja um
Outro ponto importante para ser citado é o con- pouco mais lento, mas ela o executa bem dentro de
trole sobre o braço/raquete/bolinha e controle suas possibilidades. Consegue andar de joelhos. Sen-
postural que o fez melhorar nos ataques e recep- ta-se em posição de índio com destreza.
ções principalmente. A raquete não cai mais da mão Os deslocamentos em cadeira de rodas são execu-
o tempo todo, só eventualmente. Demonstra gos- tados com tranquilidade (lentamente), pois, devido
tar muito do jogo. ao comprometimento de um lado do corpo ela usa
Portanto, os itens que obtiveram melhora foram: apenas uma mão para mover as rodas. Tem bom con-
postura corporal e equilíbrio em cadeira de rodas; trole postural e equilíbrio sentada, boa mobilização e
controle de mão e braço, de bola, de raquete e de amplitude da coluna lombar. Executa os alongamen-
raquete-bola, foco em seguir a bola (concentração); tos ativos com facilidade do lado não afetado e com
alcance nas laterais da mesa e percepção de ataque um pouco de dificuldade do lado não afetado.
e defesa. Tem um bom domínio dos fundamentos do
“polybat”, bom alcance nas laterais da mesa, é rápi-
Aluna 4 - J.S. (14 anos) da e entende as regras.
S.S. apresenta-se sempre motivada, concentrada e
A aluna 4 (triplégica), desloca-se no solo com interessada nas aulas. Executou dia a dia as atividades
facilidade, embora o resultado não seja o mesmo propostas o que a fez melhorar gradativamente sua
para o movimento de engatinhar. Não consegue habilidade e destreza. Os itens que obtiveram melhora
manter-se em posição de quatro apoios e quando o foram: alcance nas laterais da mesa; percepção de ataque
faz, apóia-se com apenas uma das mãos e traciona e defesa e os fundamentos do jogo, com golpes mais
os joelhos simultaneamente. Quanto a andar de fortes e precisos. Já, os itens que permaneceram inalterados
joelhos, ela o faz com muita dificuldade. Senta-se foram: postura corporal e equilíbrio em cadeira de rodas;
de índio com facilidade, com bom equilíbrio e do- controle de mão e braço, de bola, de raquete e de raquete-
mínio dos membros. bola e foco em seguir a bola (concentração).
Nos deslocamentos em cadeira de rodas, o uso
de apenas uma das mãos a põe em desvantagem Aluno 6 - V.P. (20 anos)
com os demais colegas, mas o controle postural, o
equilíbrio e a mobilidade da coluna lombar sentada, O aluno 6 é o único participante que se locomove
são bons. Em relação aos alongamentos ativos, sem a utilização de aparelhos auxiliares como
realiza-os com um pouco de dificuldade, exceto em muletas, andadores ou cadeira de rodas. Auxilia

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Polybat

deslocando os que se utilizam de cadeira de rodas fundamentos e golpes do jogo. Tornou-se mais rápido,
durante os educativos e jogos, pega as bolinhas que com golpes mais fortes e precisos. Demonstrou alta
caem no chão e está sempre disposto a ajudar no motivação durante as aulas e grande disponibilidade
que for necessário (é o assistente da turma). em nos ajudar e ajudar os colegas, vivenciando e
Desloca-se no solo com facilidade, exceto para enfatizando atitudes de: colaboração, cooperação,
engatinhar, engatinha tracionando os dois joelhos coleguismo, respeito e amizade.
ao mesmo tempo e os ombros mantêm-se em rota- Observamos que todos os alunos se relacionaram
ção interna. Andar de joelhos é um exercício traba- bem entre si, se respeitaram, se ajudaram. Durante as
lhoso e árduo para ele. Não consegue sentar de partidas competitivas houve uma grande rivalidade e
índio. Tem marcha independente e os movimentos o desejo de ganhar (embora aceitassem quando eram
de andar para os lados e para trás são realizados derrotados). Vibraram na hora de irem para a aula e
com cautela, evitando ir ao chão pelo próprio peso reclamaram quando a mesma terminava.
ou por desequilíbrio. Realiza os alongamentos ati- Apesar de todas as dificuldades demonstradas pelos
vos com facilidade. participantes, uns com mais outros com menos,
Na mesa, apresenta bom controle postural, bom verificamos superação, que foi evidenciando-se passo
alcance nas laterais da mesa, bom controle da ra- a passo no decorrer das aulas ministradas. Por isso a
quete, tem um bom domínio dos fundamentos, faz importância de oportunizar nossos alunos a
jogadas rápidas e fortes e entende as regras do jogo. demonstrar suas capacidades e potencialidades, para
Em termos de evolução, nossas aulas o auxiliaram que eles possam acreditar em si próprios e com isso
no equilíbrio postural; no aperfeiçoamento dos transpor as barreiras do seu eu e da sociedade.

Discussão e considerações finais


As atividades desenvolvidas nas 32 aulas minis- CARMINATO, GORLA e CALEGARI (2005) demonstra-
tradas estavam de acordo com as habilidades ram que os exercícios e as atividades físicas melho-
motoras dos alunos, na qual tivemos o cuidado de ram a amplitude de movimento e o alcance nas
não gerar frustração pela incapacidade de realiza- laterais da mesa, a coordenação motora e a força
ção dos exercícios e incentivamos a evolução das dos membros. Resultados confirmados em nossa
mesmas. Os resultados, notados com maior pesquisa.
frequência, obtidos através da observação sistemá- CIESIELSKI JUNIOR (2005), membro do Centro de
tica e registrados no diário de campo, foram: me- Estudos de Educação Física, Esporte e Lazer (CEEFEL)
lhora do controle postural e do equilíbrio em cadeira da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP),
de rodas; melhora do alcance nas laterais da mesa; percebeu que os frequentadores e atletas da instituição,
melhora do controle de braço, de raquete e de ra- através do “polybat” e demais esportes e atividades
quete sobre a bolinha consequentemente dos fun- adaptadas, ampliaram e melhoraram os movimentos
damentos do jogo e dos ralis; melhora da força, corporais comprometidos; resgataram a auto-estima, a
direção e precisão dos golpes; melhora da concen- auto-valorização, a auto-motivação; aceitação e
tração, auto-motivação e tolerância a frustração superação de expectativas próprias, demonstrando que
(aceitação da derrota, quando esta ocorre), verifi- não há deficiência na produtividade esportiva, pois
cando assim, melhora do envolvimento físico/mo- cada um na sua medida desempenha seu papel com a
tor dos alunos participantes. máxima eficiência.
Esses resultados vêm ao encontro do trabalho Concordamos com CIESIELSKI e afirmamos que
desenvolvido por WILLIAMSON ([entre 1990 e 2000]), através da prática do “polybat”, nossos alunos su-
idealizador da modalidade, que demonstrou uma série peraram suas expectativas próprias e a melhora da
de benefícios observados em seus alunos de polybat: auto-motivação foi visível devido as oportunidades
melhora da postura, controle de coordenação motora e as sucessivas situações de sucesso.
e membros, tomada de decisões, capacidade de atenção O programa elaborado pelo professor pode dar
e focalização aumentada. às pessoas a oportunidade de melhorar habilidades,
Estudos realizados por SAURON (1990), FERREIRA demonstrar coragem, e compartilhar a alegria de
(1997), FERRAREZI e GUEDES (2000), COLETTA, atingir metas individuais de desenvolvimento motor

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STRAPASSON, A.M. & DUARTE, E.

(BRASIL, 1990). Assim, THELEN e SMITH (1994) individualização do próprio corpo, até a consciên-
citam que a capacidade para realizar movimentos cia em si, o movimento é revelador de uma con-
atua como parâmetro de controle para o quista progressiva da independência. Notamos, em
desenvolvimento dos sistemas motor, cognitivo, nossos alunos, maior independência durante os
afetivo e social. CABRAL (1991), EVANGELISTA (1999), deslocamentos no solo e em cadeira de rodas, nas
TAVEIRA e SANTOS (2001) e STRAPASSON (2002) atividades de mobilização dos membros e nos alon-
constataram em seus trabalhos com pessoas com gamentos ativos.
Paralisia Cerebral melhora dos envolvimentos A Educação Física Adaptada através de jogos e
motores, cognitivos, afetivos e sociais através da recreação pode auxiliar no desenvolvimento
recreação e da Educação Física Adaptada. psicossocial, uma parte importante que pode evitar
DIAMENT e CYPEL (1996), bem como CAMPEÃO uma eventual perda da auto-estima. (A DAMS ,
(2003) acreditam que as atividades físicas e a DANIEL, CUBBIN & RULLMAN, 1985). MELLO, TUFIK
iniciação desportiva adaptada sejam meios e SILVA (1996), COSTA e DUARTE (2001, 2002),
facilitadores e motivadores para a aquisição de novas MARCELINO e VIEIRA (2005) afirmam que a Educa-
e melhores habilidades motoras; permite integrar a ção Física Adaptada proporciona melhora da auto-
noção de esquema corporal, estabelecer o equilíbrio, imagem, auto-estima, auto-confiança e autonomia.
o ritmo, a coordenação dinâmica geral, a Para ADAMS et al. (1985), as atividades realizadas
organização espacial e as relações temporais. Um com sucesso pelos alunos com Paralisia Cerebral
dos resultados positivos do nosso estudo foi a ou deficiência física nas aulas de Educação Física,
melhora do equilíbrio em cadeira de rodas, citado estimulam o aprendizado, a auto-expressão e a
anteriormente. interação social. Esses itens também foram demons-
SOUZA (1994) enfatiza a importância da Educa- trados pelos nossos alunos, que arbitraram várias
ção Física e dos esportes adaptados para pessoas com partidas com desenvoltura, se expressaram com au-
deficiência física, pois a prática valoriza a pessoa, a tonomia e segurança e interagiram com seus cole-
sua competência; eleva as suas capacidades funcio- gas de forma adequada.
nais e habilidades motoras; previne os males do O “polybat” oferece ocasiões oportunas para que
sedentarismo, do ócio e da depressão; contribui com as pessoas com deficiência aprendam e ou aprimo-
o bem estar físico, psíquico e social; melhora a qua- rem seus movimentos; interajam com outras pes-
lidade de vida, tornando os indivíduos mais inde- soas; vivenciem situações de lazer e recreação;
pendentes, confiantes nas suas capacidades e participem de eventos esportivos de competição;
possibilidades, mais dinâmicos e participativos. Já melhorem sua auto-imagem e auto-estima;
GHORAYEB e BARROS (1999), citam que estudos mos- experienciem e conheçam seu próprio corpo, en-
tram que deficientes ativos apresentam melhores fim, para que se conheçam como um todo.
aptidão cardiorrespiratória, capacidade funcional, A forma como será realizada cada adaptação de-
auto-estima e bem estar geral, além de menos inci- pende, além dos conhecimentos teóricos, da
dência de complicações como depressão, infecções criatividade e sensibilidade do professor, que ade-
do trato urinário e úlceras de pressão. quará a situação para a condição das atividades e
Conforme ROSADAS (1989), a prática esportiva do jogo de cada executante, deverá combinar nu-
para a pessoa com deficiência estimula o convívio merosos procedimentos para remover barreiras, pro-
social, estimula a iniciativa mental, a concentração, mover a aprendizagem e a inclusão de seus alunos.
evita o tédio pela falta de movimento, conduz a O “polybat” faz parte de uma realidade e cotidi-
descoberta de suas próprias possibilidades, possibi- ano escolar que vale a pena ser incentivado e prati-
litando aos mesmos melhora da qualidade motora cado em outras instituições (especializadas ou não),
e maior independência nas atividades de vida diá- pois é uma atividade/modalidade de fácil acesso e
ria (AVD’s). De acordo com FONSECA (1998), des- adaptação e os alunos, professores, pessoas envolvi-
de a exteriorização das emoções, até a consciência e das e interessadas só tendem a ganhar com ela.

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Polybat

Abstract
Polybat: a game for people with cerebral palsy

This study aimed at offering to the Physical Education teachers and enthusiasts a recreational activity
that includes students with brain palsy and/or physical disabilities who attend special or regular schools.
The aim is to provide activities that are appropriate to the students' motor abilities; encouraging and
evaluating the progression of these abilities and the involvement with the activities per se. We developed
our study in the Parents and Friends of the Exceptional Association in the city of Palmas, Paraná state
during the year of 2004. Six students between eight and 20 years old participated on this study. We
accomplished 32 classes, which were given weekly, with the duration of 1 hour and twenty-five minutes
each. The activities dealt with the motor abilities of the students and the results obtained and registered
through the systematic observation in the daily field were: improvement in the posture control and
reach of the table corners; improvement in the control of the racket and of the ball on the racket, which
resulted in a better understanding of the fundamentals of the game and of the rallies; improvement of
strength and precision of the strokes; understanding of the rules; improvement in concentration, self-
motivation and acceptance of defeat(when it occurs).

UNITERMS: Physical education for disabled; Sports for disabled; Inclusion; Brain Paralysis; Physically disabled.

Notas
1. Fonte: Williamson (1990, 2000, [entre 1990 e 2000]) e Strapasson e Duarte (2006).
2. Bocha adaptada: modalidade Paraolímpica.

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ENDEREÇO
Aline Miranda Strapasson Recebido para publicação: 18/01/2006
Av. Parigot de Souza, 1818 - apto. 22 Revisado em: 16/08/2008
85906-070 - Toledo - PR - BRASIL Aceito: 04/05/2009
e-mail: alinestrapasson@hotmail.com

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