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Alterações

psicomotoras
no TEA
Tônus muscular
Postura (cabeça + tronco) em relação à gravidade.

Hipotônico Normotônico > 5 meses


Primeiros sinais de hipotonia
Os sinais de hipotonia podem ser observados em recém-nascidos, porém são mais frequentemente
notados durante a primeira infância e nos primeiros anos de vida.

Alguns sinais comuns de baixo tônus muscular são:


▪ Dificuldade de alimentação.
▪ Uma sensação de "frouxidão" ao segurar seu filho.
▪ Marcos motores grossos e finos atrasados (agarrar, rastejar, sentar, andar).
▪ Postura pobre.
▪ Excessivamente flexível.
▪ Reflexos lentos.
▪ Baixa resistência para atividades.
▪ Dificuldades de fala.
▪ Distúrbios do movimento ocular (olhos cruzados ou errantes).
A saúde da mitocôndria
As mitocôndrias são potências de produção de energia nas células humanas. Uma vez que nossos
músculos precisam de energia para se mover, se as mitocôndrias de nossas células não estiverem
funcionando corretamente, podemos ter uma deficiência de energia que acarretará em um baixo tô-
nus muscular.
A saúde da mitocôndria
É lógico que mitocôndrias saudáveis levarão à produção ideal de energia e ao tônus muscular apro-
priado. Logo, para um desempenho ideal, as mitocôndrias precisam de uma variedade de nutrientes,
que incluem:
▪ Magnésio.
▪ Zinco.
▪ Ferro.
▪ Vitaminas B.
▪ CoQ10.
▪ PQQ (pirroloquinolina quinona).
▪ Carnosina.
▪ Carnitina.
▪ Mutações em SHANK3 estão associadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e à Síndrome de
Phelan-McDermid (PMDS).

▪ Crianças com TEA ou PMDS apresentam anormalidades do neurodesenvolvimento e hipotonia do


músculo esquelético; os mecanismos que medeiam a diminuição do tônus muscular não são claros.

▪ Lutz et al. usaram material derivado de paciente e um modelo de camundongo para mostrar que
SHANK3 é expresso em sarcômeros musculares e desempenha um papel na maturação das jun-
ções neuromusculares (JNs).
Biópsias musculares de pacientes com PMDS mostraram alterações em JNs e sarcômeros. Da mesma
forma, a deficiência de SHANK3 em camundongos resultou em JNs menores, anormalidades do sarcô-
mero e hipotonia.

Sarcômero: Formado por monómeros de actina, Junção neuromuscular: Região de sinapse en-
nebulina, tropomiosina e troponina. Além destes tre fibra muscular estriada esquelética e axônio
filamentos, está presente uma proteína gigante motor, cuja função é a transmissão do impulso
denominada titina, que possui um alto grau de nervoso.
elasticidade. Sua função é a de evitar que ocorra
um estiramento excessivo do músculo.
Consequências da hipotonia
▪ Má postura (ao caminhar, os ombros podem parecer arredondados e, ao sentar, as crianças podem
ter uma postura desleixada).
▪ Fadiga fácil.
▪ Dificuldade em realizar tarefas motoras finas e grossas adequadas à idade.
▪ Consciência corporal deficiente.
▪ Dificuldade de mastigar.
▪ Dificuldade de fala.
Avaliação do tônus muscular
▪ Verificar a posição da criança.
▪ Alterações posturais.
▪ Mobilização.
▪ Observação e palpação.
Fator psicomotor Unidade Função

Tonicidade e equilíbrio Primeira unidade Atenção, alerta e vigília

Noção corporal, lateralidade e Análise, síntese e


Segunda unidade
estruturação espaço-temporal armazenamento

Organização, planejamento
Praxia global e praxia fina Terceira unidade
e planificação
Intervenção
▪ Fortalecimento do core.
▪ Consciência corporal.
▪ Fortalecimento de membros inferiores (sentar, levantar).
▪ Melhora da postura.
▪ Vibração (plataforma vibratória).
Ponta dos pés
▪ A marcha em pontas é caracterizada pela ausência de contato do calcanhar com o chão na fase do
contato inicial da marcha.
▪ Andar com os dedos dos pés é um fenômeno que pode ser encontrado em indivíduos com TEA du-
rante a marcha, mesmo que essa condição não tenha sido, necessariamente, relacionada apenas à
caminhada, uma vez que essas crianças também costumam ficar de pé e correr na ponta dos pés.
▪ Persistente em indivíduos com TEA, o andar na ponta dos pés pode contribuir para o encurtamento
secundário do tendão de Aquiles. Torna-se importante ter uma ferramenta de avaliação e/ou medi-
da de resultado para o ambiente clínico e de reabilitação.
Sentar em W
▪ A criança senta em W por falta do equilíbrio necessário, abrindo a
base para sentar e obter mais equilíbrio.
▪ Torna-se prejudicial para quadríceps, articulações, joelhos, torno-
zelo, pode ocasionar encurtamentos e lesões.
Primeira infância e idade escolar
Ament et al. (2015) avaliaram as evidências do comportamento motor de crianças com TEA, TDAH e
TDA por meio do MABC-2. O trabalho evidenciou que crianças com TEA entre 8 e 13 anos possuem
déficit motor global, enquanto crianças com TDAH apresentam problemas apenas do equilíbrio está-
tico e dinâmico.

Outros autores, como Hanaie et al. (2016), Liu e Breslin (2013), Liu (2013) e Whyatt e Craig (2012),
também utilizaram o MABC-2 com a população com TEA e todos os trabalhos obtiveram, em seus re-
sultados, um déficit motor significativo em todas as áreas avaliadas no teste (equilíbrio, coordenação
motora fina e global), se comparados a outros grupos como TDAH e crianças típicas.
Hirata et al. (2014) realizaram um estudo que avaliou 26 indivíduos de 7 a 17 anos com TEA, com o
objetivo de verificar a relação entre habilidades motoras e déficits sociais. Os autores aplicaram o
MABC-2 e o SRS, questionário aplicado aos pais que avalia diferenças individuais no comprometimen-
to social. Os resultados do estudo mostraram que a destreza manual foi o déficit mais frequente en-
tre os indivíduos e houve correlação com os déficits sociais.

Outro estudo (Hirata et al., 2015) foi realizado com 19 crianças japonesas de 7 a 17 anos, onde se
obteve o mesmo objetivo e ratificou os resultados anteriores, afirmando que a gravidade dos prejuí-
zos sociais em crianças com TEA está relacionado não apenas às habilidades motoras fundamentais
da criança, mas também às habilidades motoras práticas na vida cotidiana.
Bhat et al. (2011) afirmam que o surgimento precoce de deficiências motoras tem um impacto nos
aspectos do desenvolvimento social e comunicativo, por exemplo, prejudicando a capacidade de uma
criança para interagir com outras em uma situação de jogo.

Alguns estudos longitudinais revelam que há conexão entre questões motoras, linguagem e cognição
e afirmam que o comprometimento aparece na infância e continua quando a criança é incluída em
ambiente escolar. Os déficits começam a ficar em evidência, pois as crianças começam a vivenciar e
receber estímulos motores.

Diante disso, crianças que possuem problemas motores podem sofrer exclusões e bullying no ambi-
ente escolar, como nas brincadeiras, e podem ainda apresentar maiores dificuldades em tarefas aca-
dêmicas, como a escrita e leitura (Papadopoulos et al., 2012).
Gusman (2017) verificou a aplicabilidade da Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa Neto em 10
crianças com TEA, de 6 a 8 anos de idade. A escala avalia coordenação motora global e fina, equilí-
brio, esquema corporal, organização espacial e temporal. Os resultados mostraram ampla defasagem
em relação a crianças típicas na correlação de dois avaliadores em seis áreas do perfil motor: coorde-
nação motora fina e global; equilíbrio e organização temporal/linguagem; organização espacial e es-
quema corporal/rapidez.
Transtorno de coordenação
O TDC (Transtorno de Desenvolvimento da Coordenação) é uma dificuldade de coordenação motora
que limita o desempenho em atividades como correr, saltar, agarrar uma bola, andar de bicicleta, cor-
tar comida, amarrar sapatos e escrever.
Distribuição de G2 nas zonas do Semáforo MABC-2
Habilidades motoras básicas
Habilidades manipulativas: Habilidades locomotoras: Habilidades de estabilização:
▪ Arremessar. ▪ Andar. ▪ Flexionar.
▪ Quicar. ▪ Correr. ▪ Equilibrar-se.
▪ Chutar. ▪ Saltar. ▪ Estender-se.
▪ Lançar. ▪ Saltitar. ▪ Girar.
▪ Rebater. ▪ Escorregar. ▪ Posições invertidas.
▪ Cabecear. ▪ Escalar.
▪ Agarrar. ▪ Rolar.
▪ Rolar. ▪ Desviar.
Déficits motores
O comprometimento motor é uma comorbidade neurológica associada à epilepsia, distúrbios do sono,
estereotipias, comprometimento na coordenação motora fina e global e deficiências na marcha. Além
disso, discutem que esses sinais poderiam estar presentes nos primeiros anos de vida nos casos de
TEA (Rinehart et al., 2010; Jeste, 2011).
Problemas motores
▪ Problemas de aprendizagem.
▪ Problemas na linguagem.
▪ Problemas de atenção.
▪ Problemas na socialização.
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