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Cristologia Paulina
Cristologia Paulina
1. Considerações Preliminares
9. Referências bibliográficas
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CRISTOLOGIA PAULINA
1. Considerações Preliminares
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da vida cristã. Essa referência ética é também uma confirmação do conhecimento que
Paulo tem do Jesus dos evangelhos. Nesta direção é importante considerar o Evangelho
de Lucas, tendo presente este colaborador de Paulo, que no seu trabalho, certamente,
visa ao atendimento de uma necessidade eclesial importante no que se refere à demanda
específica entre os gentios. Assim, pois, um caminho também muito rico é o de articular
as categorias do pensamento paulino e o conteúdo da vida humana de Cristo.
A compreensão da abordagem da visão de Paulo, marcada com os traços da
universalidade, tem importância própria na articulação desta com o que é próprio da
narrativa do Evangelho, enquanto mostra Jesus Cristo na sua longa peregrinação e rica
missão. Paulo ajuda a compreender, pois, que essa importante missão é sustentada por
um ato vivido de libertação na vida humana.
Paulo é um pensador muito criativo. Certamente, o mais criativo das
origens cristãs. Ele se beneficia, pois, das matrizes do judaísmo de origem e do
cristianismo anterior a ele. Sua impostação perpassa três referências temáticas
fundamentais: 1- Cristo como autor da salvação: I e II Tess; I Cor 15, acentuando a
perspectiva escatológica; 2- O dom de Cristo: I e II Cor, Gl e Rm, sublinhando a
soteriologia, enquanto focaliza a participação do cristão na vida do ressuscitado; 3- O
mistério de Cristo: Fil, Ef e Col, focalizando a identidade pessoal de Cristo,
particularmente a sua divindade.
É verdade que a experiência pessoal de Paulo contextualiza seu
pensamento cristológico. Contudo, é importante ter presente que sua Cristologia tem
objetividade própria. Portanto, sua Cristologia não é, simplesmente, uma hermenêutica
de sua experiência pessoal vivida na estrada de Damasco.
A compreensão da pré-existência de Cristo é determinante no pensamento
paulino, segundo o que aparece no hino pré-paulino de Fil 2,6-11.
A Cristologia Paulina, portanto, nos escritos de Paulo, não é tratada como
uma temática à parte. De tal modo que sua abordagem não é mais conveniente quando
se trata, por exemplo, carta por carta. Assim, sua Cristologia é a premissa indiscutível
para a abordagem de todas as outras questões e temáticas, tal como a soteriologia. Sua
Cristologia, então, nasce da consideração que ele tem de Jesus Cristo como o dado
determinante do seu discurso, a partir de uma compreensão que se tem d’Ele. O desafio
que permanece sempre na abordagem cristológica é, exatamente, o de garimpar sempre,
com precisão, os conteúdos das cartas e enuclear as elaborações explicitadoras do
significado de Cristo. Pode-se admitir que solus Christus é o princípio hermenêutico e
propulsor do pensamento paulino. Isto é, sem Cristo, Paulo não teria tomado, de modo
tão denodado, a atividade missionária, nem mesmo teria repensado e reorganizado o
patrimônio cultural-religioso que possuía como um fariseu fiel. Assim, Paulo não
trabalha como um filósofo que, no escritório, explicita conceitos. Na verdade, ele
interpreta uma história que tem como centro a morte-ressurreição de Cristo, sua
experiência pessoal na estrada de Damasco e a situação vivida pelas Igrejas às quais ele
dirige sua mensagem e ensinamentos. De tal modo que o discurso sobre Cristo não é
apenas um discurso informativo, mas performativo. Ressalta-se, então, a singularidade
da experiência do encontro pessoal com o Cristo que marcou o sentido decisivo e novo
da vida do apóstolo e o sentido de sua missão.
Tais aspectos abordados, e tantos outros, permitem perceber a riqueza e
complexidade da Cristologia Paulina. Ao mesmo tempo confirma que só por esse
prisma de leitura e compreensão é possível alcançar o sentido e a singularidade de sua
abordagem, possibilitando, no alcance de sua experiência como apóstolo e missionário,
a todos os crentes conquistarem a grandeza do que o mobilizou profundamente e fez
dele aquele de quem disse o Pe. Lagrange: “ Depois de Cristo, Paulo é único”.
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2. As origens da Cristologia Paulina
“ Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de
Deus e sabedoria de Deus.” (I Cor 1,24)
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a) Quando se pensa, pois, o Judaísmo, é inquestionável a força de sua influência na
concepção que Paulo tem a respeito da vinda do Messias. Ele não fala tão
explicitamente da sua concepção a partir da matriz farisaica. Não se detém nessa
explicitação. Obviamente que, na base de sua concepção messiânica, está a
convicção a respeito da vinda de um Messias, humano e de origem davídica. É claro
que Paulo recebe muito destas concepções do messianismo judaico, particularmente
do farisaísmo. A detecção desses estratos supõe um percurso próprio e abordagens
muito específicas. Aqui, basta a referência incontestável da influência dessas
concepções messiânicas existentes e presentes, de maneira forte, no tempo
precedente à vinda de Cristo.
“ Mas o Senhor disse a Ananias: Vai, porque este homem é um instrumento que
escolhi para levar o meu nome às nações pagãs e aos reis, e também aos israelitas.”
(At 9,15)
“Todos nós caímos por terra. Então, ouvi uma voz que me dizia, em hebraico:
Saul, Saul, por que me persegues? É inútil teimares contra o ferrão! Eu respondi:
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Quem és, Senhor? E o Senhor me respondeu: Eu sou Jesus, aquele que estás
perseguindo. Mas, agora, levanta-te e fica de pé…” ( At 26,14-16)
b) Cristo Ressuscitado e Exaltado: o apóstolo aprendeu que Cristo estava vivo. Ele era
um fariseu e acreditava na ressurreição. Sem dificuldade, compreendeu que os
cristãos professavam essa verdade da ressurreição de Cristo. Na 1ª Carta aos
Coríntios, ele sublinha essa perspectiva:
“Eu não vi o Senhor ressuscitado?” ( I Cor 9,1) e I Cor 15,8: “…por ultimo,
apareceu também a mim, que sou como um aborto.”
Paulo compreende que Jesus Ressuscitado, vivo no céu, é o ungido de Deus. Sua
morte vitoriosa o entroniza como o ungido de Deus. Ele se fez maldição por todos a
fim de redimir todos do jugo da lei. Assim, a ressurreição ilumina toda a
compreensão de Paulo a respeito de Jesus e sua crucifixão (I Cor 12,3) Foi a sua
experiência no caminho de Damasco que iluminou essa sua compreensão de Jesus.
Anteriormente, ele via Jesus do ponto de vista meramente humano (II Cor 5,16),
jamais como o messias judeu. Sua experiência o leva a ver Cristo Jesus como o
Filho de Deus, naturalmente sustentado pelas tradições apostólicas compartilhadas.
Sua experiência no caminho de Damasco o leva a compreender que Jesus é plena e
estreitamente identificado com os cristãos. O Senhor ressuscitado pergunta a Paulo:
“Por que me persegues? … Eu sou Jesus a quem estás perseguindo (At 9,4-5; At
22,7-8; At 26,14-15). Há, pois, uma conseqüente compreensão e conclusão de que
os cristãos formam o povo de Deus. Deus estava muito próximo daquele povo
perseguido por Saulo. Com esse povo, o Senhor se identificava. Assim, perseguir os
cristãos, povo de Deus, era fazer oposição a Deus. As aflições dos cristãos eram as
aflições de Deus.
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Cristo e sua experiência se tornaram, então, o centro de sua nova vida. Por isso, o
apóstolo compreende que Cristo é o ápice da lei. Pela ação da graça, ele é
capacitado para a obediência da fé. É a obediência da fé é fruto de uma experiência
de gratuidade. Não funciona mais aquela compreensão em que a vida diante de Deus
era vivida segundo o princípio ‘faz isto e viverás’. Obviamente que Paulo não
desconsidera ou esvazia o sentido da lei mosaica. A lei mosaica é justa, santa e boa,
e tantas de suas instruções têm um precioso valor moral. Mas, na verdade, a lei não
alcança mais do que a indicação do que é bem e mal. Ela, em si, não capacita para a
superação do mal. Só Cristo, por seu espírito, pode garantir a força e a condição
para a superação do mal. Compreendemos porque Paulo se concentra na pregação
de Cristo crucificado e ressuscitado, pois é Ele, Cristo, o evento que mudou a
situação humana diante de Deus. É mediante a graça e a fé que se alcança a
salvação. Paulo está consciente da força decisiva da escolha e da graça que recebe
por Cristo, quando afirma:
Ele está convicto de que a sua conversão tem tudo a ver com o seu chamado como
missionário para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo aos pagãos. Esse chamado
compete a sua experiência da graça de Deus. Por isso mesmo, entendendo que
diante de Deus vale a força da graça, entende também que não justifica e não tem
sentido que qualquer um fique fora da graça de Deus. Assim, é de se pressupor que
Paulo entende o coração do seu Evangelho a partir da sua experiência de conversão.
O Evangelho, é, pois, uma experiência de conversão. A revelação de Cristo para ele
é, pois, a experiência desta mudança, aquela luz que brilha e o cega. É a luz do
Cristo Ressuscitado, a glória de Deus (Gl1,12.16/II Cor 4,6). Paulo entende,
portanto, a revelação como a chegada da era escatológica, do tempo das coisas
novas de Deus. Cristo se torna, então, conseqüentemente, o centro da lei e da ética.
Por isso, ele relê a história de Israel à luz da história de Cristo.
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própria compreensão da fé, seja da fé hebraica, seja da fé cristã. Essa configuração
singular vem da singularidade do mistério de Cristo que ele compreende e explicita.
3.1. DEUS: passa a ser compreendido não apenas como o Pai de Israel, o Deus do
Shemah (Ex 4,22: Dt 32,6; Jr 3,4.19; Os 11,1), ou pai do Messias, ou ainda o pai no
sentido genérico ( I Cr 29,10; Is 63,15 ou M 6,9). Paulo focaliza toda sua
importância maior na referência a Deus como “O Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”
(Rm 15,6; II Cor 1,3; 11,31). Ele sublinha, de modo muito especial, a dimensão
relacional deste filho com o pai. O Pai envia ao Filho com a missão de realizar o ato
central da história e de sua ação no mundo, a redenção. Há, nesse âmbito, uma
perspectiva a ser sublinhada diferente da perspectiva presente na Haggadah pascal,
presente em Dt 26,8, que pensa Deus como o Salvador, ele próprio, sem nenhuma
mediação. Cristo, o Filho Amado do Pai, é o mediador. É por meio dele / dia que o
Pai realiza seu desígnio de salvação. Nesta relação com o Pai, na morte de Cristo
(Rm 7,4), na sua vida de ressuscitado ( I Cor 1,21), na sua pregação, e na condição
do cristão, ele Cristo é o mediador. É por Ele que se chega a Deus. O uso de
‘prosagogé’, único em toda a Bíblia Grega, ocorrências na literatura paulina, em Rm
5,2 e Ef 2,18 e 3,12, acentua a perspectiva de que é por meio de Nosso Senhor Jesus
Cristo que chegamos à graça na qual somos salvos. Esse verbo tem na sua
significação a nuance semântica da aproximação, num movimento semelhante ao do
barco que se aproxima do porto; semelhante a alguém que é introduzido para
audiência na presença do rei ou daquele que se aproxima do altar para fazer a sua
oferta. Cristo, como mediador de Deus, seu Filho Redentor, elimina toda distância e
sentimento de estranheza em se tratando da relação com Deus. Por Cristo, e com
Cristo todo homem pode olhar a Deus face a face e dele se aproximar.
3.2. O Espírito era uma referência para falar de Deus, o Santo. Paulo o compreende e o
qualifica como Espírito de Cristo (Rm 8,9), do Filho (Gl 4,6, de Jesus Cristo (Flp
1,19). É grande a importância do augúrio trinitário de II Cor 13,13:
3.3. A Igreja é entendida, à luz da Cristologia, como Corpo de Cristo ( I Cor 12,27).
Para além de um possível sentido de comparação metafórica, o apóstolo sublinha
especialmente o sentido de que a Igreja não existe e não subsiste sem um especial
relacionamento e referência a Cristo. É dele que vem a sua identidade. Uma
identidade que sustenta o verdadeiro sentido de Povo de Deus.
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Bem assim, o Cristão só define sua feição autenticamente na medida em que vive
sua vida ‘em Cristo Jesus’ e na medida em que nele Cristo vive. Esta vida do
cristão, na perspectiva do dia final, ‘o dia do Senhor’, é compreendido como um
momento decisivo vivido em Cristo e para Cristo.
É inquestionável, pois, que Paulo configura sua teologia a partir da sua fé
cristológica. Não é um segundo Deus, embora trabalhe de maneira clara sua
própria ontologia pessoal. Sua condição própria é esta: reconduzir o homem a uma
nova e profunda comunhão com Deus. Assim, seu senhorio realiza no mundo o
senhorio de Deus. Cristo é, portanto o mediador entre Deus e o homem.
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ama o Senhor, seja anátema. Maraná thá, vem, ó Senhor”. Bem assim, Jesus é
proclamado Senhor no contexto da experiência batismal, na liturgia eucarística e
batismal, um critério determinante para reconhecer a autenticidade das manifestações
carismáticas na comunidade de Corinto: “Ninguém pode dizer ‘Jesus é Senhor’, a não
ser pelo Espírito Santo” ( I Cor 12,3).
É, pois, evidente que a cristologia paulina determina o horizonte de
compreensão e significação de todas as demais perspectivas de sua teologia.
“Sabemos que o nosso homem velho foi crucificado com Cristo, para que seja
destruído o corpo sujeito ao pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado.
Pois, aquele que morreu está livre do pecado.” (Rm 6,6-7)
“Por um só homem que pecou, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na
vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e
transbordante da justiça.” (Rm 5,17)
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É forte e determinante, portanto, que Cristo Jesus é a opção para o ser
humano na vivência dramática de sua condição. Paulo, em Rm 7,18-13, descreve essa
dramaticidade. Termina exclamando: “Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste
corpo de morte?” (Rm 7,24) A resposta a essa pergunta está na iniciativa de Deus Pai
que mediante o envio de Jesus Cristo, o Filho, eliminou o pecado e assim tornou
possível o que jamais a lei poderia alcançar, a plena realização da justiça de Deus.
Essa radical mudança da situação dos crentes, por meio de Cristo, é o que Paulo entende
como uma nova criação. Por isso ele proclama: “Ser ou não ser circuncidado não tem
importância; o que conta é ser nova criatura.” (Gl 6,15)
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“ Nós, ao contrário, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos como Salvador o
Senhor Jesus. Ele transformará o nosso corpo, humilhado, tornando-o semelhante
ao seu corpo glorioso, graças ao poder que o torna capaz também de sujeitar a si
todas as coisas” (Flp 3,20-21).
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A Cristologia Paulina, portanto, causou impacto mesmo fora do contexto
cristão primitivo. Por exemplo, é grande sua influência na chamada Carta aos Hebreus,
como no 4º. Evangelho. No 4º. Evangelho se encontra uma compreensão de exaltação
na morte sacrifical de Cristo, associando-o ao cordeiro pascal. Assim como a
pneumatologia do 4º. Evangelho é relacionada com a compreensão da morte e
ressurreição de Cristo ( Jo 14,18-21). Pode-se constatar sua influência na I Pedro e na
IIa.
Um aspecto singular da Cristologia Paulina, como força de impacto, é o uso
da fórmula ‘em Cristo’, para falar da união espiritual profunda entre Cristo e os cristãos.
Esse é um conceito desenvolvido por Paulo sem paralelo no cânon do Novo
Testamento. Essa é uma singularidade do modo como Paulo vê a condição daquele que
crê inserido em Cristo. É a graça de Deus que realiza o processo de inserção e
configuração do crente na morte e ressurreição de Cristo. Assim, a união do que crente
com Cristo no seu corpo faz deste um em Espírito com Cristo.
Uma observação importante é que em Paulo não se encontra a referência de
Jesus como o Filho do Homem, distinguindo-se dos Evangelhos. Paulo usa, na verdade,
a tipologia do novo Adão. Portanto, Paulo se inspira mais no Gênesis do que em Dn 7
ou Ezequiel. A cristologia do Filho do Homem não focaliza com a perspectiva do novo
fundador da nova raça do ser humano. Nesse sentido, a teologia do novo Adão é mais
universal do que aquela do Filho do Homem. A teologia do novo Adão trabalha com o
conceito de ser humano, abrindo espaço para inclusão tanto de judeus quanto de gentios,
já que são humanos igualmente.
A Cristologia Paulina sempre impactou na história. Por isso mesmo, ela é
central, até mesmo eclipsando outras cristologias no Novo Testamento. É uma
cristologia complexa, desafiando a todo tipo de trabalho que tenta fazer um seu sumário.
Suas partes não facilitam esta possível pretendida síntese. Para se compreender isso se
diz que a Cristologia Paulina é fundamentada na história sagrada de Cristo que, por sua
vez, tem suas raízes na história de Israel, como configuração da história de toda a raça
humana.
Rm 3,21 – 21Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e
pelos profetas; 22justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos
os que crêem; porque não há distinção,
II. Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores – Rm 5,1-11
Rm 5,8 – 8Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo
morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
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Rm 5,17 – 17Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os
que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um
só, a saber, Jesus Cristo.
Rm 6, 8 – 17Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os
que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um
só, a saber, Jesus Cristo.
1Cor 1,23-25 – 22Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam
sabedoria; 23mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura
para os gentios; 24mas para que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a
Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. 25Porque a loucura de Deus é mais sábia do
que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
1Cor 3,11 – 11Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o
qual é Jesus Cristo.
1Cor 12,12-13 – 12Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os
membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.
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Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.
2Cor 4,7 – 7Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do
poder seja de Deus e não de nós.
Títulos cristológicos
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A titulação critológica na literatura paulina não inclui certos títulos próprios
da tradição sobre Jesus, como mestre, profeta, filho do homem e servo. Paulo trabalha
com três títulos fundamentais, com desdobramentos cristológicos qualificativos.
Entre os títulos tradicionais estão: Cristo/ Christós; Senhor/Kúrios; Filho de Deus/Ùiós
tou Theoú. Entre os títulos novos, desdobrados destes três tradicionais estão: Último
Adão/ ò eschatos Adam; Imagem de Deus/ Eikón Theoú; Deus.
a) Cristo/Kristós
Este é o título mais freqüente, cerca de 270 ocorrências, com mais outras 114
nas cartas deutero - paulinas. De certo modo, o grande número de ocorrências leva a
uma qualificação do título como nome próprio de pessoa, especialmente quando junto
de Jesus, Rm 1,1, perdendo a força significativa de Messias. Parece que essa era já uma
prática antes de Paulo. Talvez em Rm 9,5 e I Cor 10,4 esteja presente no vocábulo o
sentido de título. Contudo, é observável que Paulo nunca afirma explicitamente que
Jesus é o Cristo-Messias prometido no Antigo Testamento. Mas, parece que ele
pressupõe o sentido de título quando “Senhor é Jesus”, Rm 10,9, I Cor 12,3, ou o
“Senhor é Jesus Cristo”, Flp 2,11, ou “o Senhor nosso Jesus Cristo”, nunca usando
“Senhor é Cristo”.
A significação semântica desse título se apreende no enunciado das fórmulas de fé,
referência aos conceitos relativos ao evento salvífico, como a cruz, os sofrimentos, a
ressurreição, corpo-sangue, o Espírito, o ágape, a glória, a libertação, reconciliação,
justificação, fé. Ele nunca diz ‘os sofrimentos do Senhor ou do Filho’. Ele sempre diz
dos sofrimentos de Cristo, como em II Cor 1,5 e Flp 3,10. Compreende-se que Cristo
designa a pessoa do evento salvífico.
O título também aparece nas locuções eclesiológicas, seja em referências individuais,
como apóstolo, servo, diácono. A referência é sempre ‘de Cristo’. Ou em referências de
caráter comunitário como a expressão típica ‘corpo de Cristo’, significando pertença e
ao que é constitutivo da vida cristã.
Também, o título Cristo aparece nas parêneses, enquanto o apóstolo recomenda o
acolhimento ou gestos fraternos e solidários como Cristo. Isso evoca o fundamento
cristológico da ética e sua importância na obra salvífica de Cristo. Neste mesmo âmbito
aparecem referências mais de tipo místico como aquela de Gl 2,20: “Não sou eu quem
vive, é Cristo quem vive em mim” ou “para mim viver é Cristo.” (Flp 1,21)
Outras ocorrências aparecem em referência à parusia quando se refere ao ‘dia de
Cristo’, em Flp 1,6.10; 2,16.
Conclui-se que a significação semântica da referência Cristo é consistente e própria. É
diferente da compreensão semântica presente na lingüística messiânica do Judaísmo,
contexto do qual ele procede. Cristo é, pois, é a referência que significa a indicação
daquele que é o protagonista dos eventos salvíficos, o objeto essencial da fé e o
elemento distintivo da identidade cristã.
Senhor/Kúrios
São 190 ocorrências deste título nas cartas autênticas e 82 nas deutero-
paulinas, sendo que uma boa parte é referência a Deus, de modo semelhante à
compreensão de sua tradição judaica. Isso se torna, naturalmente, um desafio
hermenêutico. Quando, então, o título Senhor se une ao título Cristo o sentido
cristológico é incontestavelmente evidente. São 64 ocorrências, como em Rm 14,14,
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quando Paulo diz: “Eu sou e fui persuadido pelo Senhor Jesus”, ou I Cor 9,1: “Não
vi o Senhor?”.
‘Senhor’, como referência de significação cristológica, tem este sentido
quando o título aparece inserido em frases como: I Cor 2,9 “...não crucificaram o
Senhor da Glória?”; I Cor 6,14: “ Deus ressuscitou o Senhor”; I Cor 7,10: “ordeno
não eu mas o Senhor”. Rm 14,6-9 o título ‘Senhor’ aparece por seis vezes em
referência ao tema pascal do morrer-viver em Cristo. Compreende-se que dele como
Senhor é que vem o sentido da vida e da morte do cristão.
‘Em Cristo/ én Kúryó” ocorre cerca de 30 vezes com um evidente sentido cristológico,
com alguma nuance tomada do Antigo Testamento, como em I Cor 1,31 e II Cor 10,17,
em referência a Jer 9,23, mas em paralelo ao sintagma.
Em algumas citações bíblicas o título se refere a Deus e a Cristo, como em Rm 10
citando Jl 3,5; I Cor 1,31 citando Jer 9,23; I Cor 2,16 citando Is 40,13; I Cor 10,26
citando Sl 24.
‘Dia do Senhor’/ éméra Kúryou tem raízes no Antigo Testamento,
mantendo algumas vezes o sentido teológico original de ‘dia de ira e da manifestação do
juízo de Deus’, como em Rm2,5. A conotação cristológica é evidente quando se usa a
expressão “dia do Senhor nosso Jesus Cristo ( I Cor 1,8; II Cor 1,14), ou “dia de Cristo”
( Flp 1,6.10 e 2,16), ou ainda o uso tradicional de “dia do Senhor” ( I Cor 5,5; I Tess
5,2.4). Isso se confirma quando aparece em correlação à parusia, dita de Cristo (I Cor
15,23), ou do Senhor Jesus (I Tess 2,19; 3,13; 5,23), ou do Senhor (I Tess 4,15). Ou
também nas referências às vindas futuras.
É importante sublinhar, nesse contexto, entre outros aspectos, a grande
novidade cristã quando se trata do Shemá, a confissão fundamental da fé hebraica, Dt
6,4. Em Flp 2,11 o estrito monoteísmo hebraico é enriquecido pela introdução da
qualificação “Deus” e “Senhor”, com uma evidente coincidência.
Em síntese, a semântica cristã da significação do título ocorre especialmente
quando se trata de aclamações, quando os cristãos firmam sua identidade reconhecendo
o Cirsto como seu Senhor e Senhor do mundo ( Rm 10,9; I Cor 8,6); e nas exortações
parenéticas, quando se firma que o batizado não tem outro Senhor a não ser Jesus
Cristo, no compromisso de viver toda a sua existência buscando agradá-lo (I Cor
7,10.32)
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antropológica da constituição da família de Deus, referindo-se aos batizados, entre os
quais Jesus tem o papel de primogênito, Rm 8,29. Ainda, a significação aparece na
referência à parusia, sublinhando a permanência de uma comunhão que sustenta o
cristão diante da ira de Deus ( I Cor,19; I Tess 1,10, bem como a submissão
escatológica do Filho ao Pai mostrando o que se chama ‘teoarquismo’ e ‘teotelismo’ do
Pai no processo de salvação ( I Cor 15,28).
Esse título configura a proximidade e afinidade de Jesus Cristo com Deus,
um relacionamento de geração e não de adoção. Contudo, este título que ocorre tão
pouco não só ele diz tudo da afirmação da divindade de Jesus. Na verdade, o título
Kyrios é que sugere e sublinha a equiparação de Jesus com Deus. O título Filho de Deus
expressa o conceito de uma relação que une Jesus a Deus, impedindo que Ele como
Senhor venha ser considerado como um segundo Deus.
Outros títulos ocorrem como “Último Adão” ( I Cor 15,45), quando Paulo
acentua a tipologia antitética Adão-Cristo, em I Cor 15,21-22.45-49, focalizando a
morte física e a ressurreição de todos; e em Rm 5,12-21, com uma perspectiva sobre o
pecado, focalizando o resultado danoso do pecado e sua redenção. Observa-se que Paulo
usa nessa tipologia Adão e não Moisés, acentuando a dimensão universal e menos
aquela nacionalista.
Entre estes outros títulos, “Imagem de Deus”, II Cor 4,4, uma referência a
Gn 1,26; 9,6, falando da imagem e semelhança; Sab 7,26 em referência à Sabedoria
como reflexo da luz perene e espelho da luz sem mancha da atividade e da bondade de
Deus.
É um título rico de significações. Cristo não é uma cópia, mas um
representante vivo de Deus, por isso digno do culto de adoração religiosa.
Os Cristãos são chamados a ser ‘conforme a imagem do Filho de Deus’ ( Rm 8,29).
Isso significa dizer, um chamado à participação efetiva na filiação de Cristo, uma
referência única para configurar sua identidade nesta e na outra vida.
‘Deus’ é também uma qualificação referida a Cristo, Rm 9,5, o Deus bendito nos
séculos. Ele está acima de qualquer coisa. Ele não usa o título Deus para qualificar a
Cristo. Em I Cor 8,6 distingue claramente entre ‘um só Deus’, referência ao Pai, e ‘um
só Senhor’, em referência a Cristo. Não é que venha negada a divindade de Cristo. Ela é
afirmada especialmente com os três conceitos tradicionais referidos anteriormente.
A Cristologia Paulina tem como ponto de partida uma experiência e não uma
referência doutrinal. Quando Paulo passa a falar de Cristo não o faz por ter ouvido dizer
a respeito dele. Mas porque o encontrou na experiência singular vivida na estrada de
Damasco. A singularidade dessa experiência se comprova, por exemplo, no fato
significativo do seu discípulo Lucas, nos Atos dos Apóstolos, narrá-lo por três vezes em
At 9,1-22; 22,1-21; 26,1-23 com ecos fortes em várias passagens de suas cartas, como I
Cor 9,1; 15,8; II Cor 4,6; Gl 1,12.15-16; 2,20; Flp 3,7-10.12. Essa perspectiva não só
toca profundamente a subjetividade do apóstolo como também reorienta toda a sua
compreensão de mundo. Naturalmente, daí vem o seu ímpeto profético e a beleza
sedutora do seu falar. Compreende-se, então, o que produz sua força querigmática na
pregação, uma experiência pessoal de ter sido conquistado e de viver esta conquista com
grande paixão. Ele diz: ...continuo correndo para alcançá-lo, visto que eu mesmo fui
alcançado pelo Cristo Jesus. Eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém,
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faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente.” (Flp
3,12b-13)
Em Gl 1,15ss, Paulo expõe o alcance e a significação da cristofania
acontecida, proporcionando o entendimento da experiência por ele vivida. São três
componentes fundamentais na explicitação deste acontecimento, à luz da consciência
que Paulo elabora do fato. Há uma componente de caráter teológico, na medida em que
Paulo aponta Deus como o responsável e, também, o primeiro agente da experiência
pessoal por ele vivida. Bem assim, a nomeação de Cristo como seu Filho. Por isso o
apóstolo sublinha que Deus o colocou à parte, o chamou, revelou-se nele. Compreende-
se, conseqüentemente, que o acontecimento é pela força da graça de Deus e de seu
beneplácito amoroso. Paulo acentua que o encontro e conhecimento de Cristo é fruto da
ação luminosa de Deus, como Deus que na criação, recordando Gn 1,3, ordena e
acontece a luz. O seu coração foi iluminado por essa luz criadora de Deus.
Um segundo componente é, naturalmente, de caráter cristológico. O episódio
revela a identidade de Cristo Jesus como Filho de Deus. Este título não expressa toda a
riqueza da compreensão que o apóstolo tem da identidade de Cristo. Ele compartilha o
grande impacto que a pessoa de Cristo causou na sua pessoa, levando-o a considerar
como lixo tudo o que precedentemente era de grande importância para ele: “ Julgo que
tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus,
meu Senhor. Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de
ganhar Cristo...” ( Flp 3,8).
O terceiro componente é de caráter missionário com raízes nos componentes
precedentes. Ele sabe que o seu chamado é em razão da missão de anunciar o Evangelho
aos gentios ( Rm 11,13). Assim, sua compreensão cristológica e teológica não tem um
fim em si mesma. Mas, a razão é a missão recebida a partir do chamado que ele recebe.
É central nesse componente missionário a consciência que ele tem e aprofunda de que
Cristo Vivente é o verdadeiro mediador entre Deus e o homem. Para ele não é mais a
lei. Existencialmente, ele experimenta a mediação de Cristo que modifica a sua vida e
faz dele seu missionário. Embora não use o vocábulo discípulo, neste horizonte está a
compreensão e a explicitação do que é ser e viver a experiência de discípulo.
Nesse contexto é que se levanta a pergunta se a experiência vivida por Paulo é uma
experiência de chamado ou de conversão. Em que categoria se localiza o que ele
compartilha como sendo sua experiência central diante de Cristo Jesus? Alguns
exegetas indicam que é mais pertinente pensar a categoria chamado. Isso porque o
próprio apóstolo não faz uso, nas explicitações que faz dessa experiência, do
vocabulário de conversão ( metanoein/ épistréfein), mas usa o vocabulário que se refere
ao chamado (kalein/ áforizein, apokalúptein), sublinhando mais o aspecto teológico do
evento do que aquele de caráter antropológico. Algo semelhante ao que viveram
profetas como Isaías ou Jeremias. O próprio fato do acontecimento se localiza na
estrada de Damasco, relembrando o que é próprio de uma vocação profética. É
interessante, nesse sentido, observar a nuance em que o acontecimento de Damasco não
identifica, imediatamente, a figura de Cristo com o Deus invisível e nem com um
simples homem. Muitos pensam que Paulo interpretou o acontecimento nos parâmetros
de categorias místico-apocalípticas, como se apresenta em Ezequiel 1. Uma ligação
entre aspecto humano e divindade caracteriza a compreensão que Paulo dá ao
entendimento desta cristofania. Nesse sentido são muitos elementos que podem ser
explicitados para se configurar tal compreensão. No entanto, para se considerar a
experiência como conversão se pode focalizar o elemento da descontinuidade na sua
biografia. É a referência à passagem da sua condição de perseguidor àquela de
evangelizador. Esta é, de fato, uma mudança muito grande. O que para ele era uma
grande honra, a LEI, torna-se lixo.
18
É importante considerar que Paulo não se converte a uma doutrina ou a uma
instituição. Mas ele se converte a uma pessoa, Cristo Jesus, estabelecendo com ele um
relacionamento vivíssimo e totalizante. Tudo é Cristo: “Não sou eu mais que vivo, mas
Cristo vive em mim.” (Gl 2,20) A pessoa de Cristo se torna, pois, a verdadeira razão
de ser e passa a ser o único e abrangente sentido de sua vida. Essa experiência pessoal
se torna o substrato essencial de seu pensar e do seu agir. Não é uma referência para
comprovar seus argumentos cristológicos ou outros quaisquer. A cristofania vivida por
ele fundamenta e comprova o sentido profundo do seu apostolado.
A experiência de Paulo como conversão tem no seu reverso o chamado.
Assim como o chamado tem no seu reverso a conversão. Isso significa dizer que o
chamado inclui uma profunda experiência de conversão, dando sustento à condição de
uma fecunda missão evangelizadora. Compreende-se que a experiência de conversão do
apóstolo é conseqüência do seu chamado. O chamado exige intrinsecamente o processo
de radical mudança. Só esta radical mudança como processo de conversão a Deus,
constituindo o apóstolo, um apaixonado por ele, dá sustento e consistência à missão
decorrente deste chamado. Distintas, a experiência do chamado e a experiência da
conversão são inseparáveis. Só um chamado convertido sustenta a experiência da
missão na grandeza do seu sentido e no alcance de sua significação.
1Cor 9,1
“Acaso não sou livre? Não sou apóstolo? Não vi o Senhor Jesus? E não sois vós a minha obra
no Senhor?”
1Cor 15,4-8
19
“Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia,
foi ressuscitado, segundo as Escrituras, e apareceu a Cefas e, depois aos Doze. Mais tarde,
apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez. Destes, a maioria ainda vive e alguns já
morreram. Depois, apareceu a Tiago depois, a todos os apóstolos; por último apareceu a
mim, que sou como um aborto.”
Gl 1,11-12
“Irmãos, asseguro-vos que o evangelho pregado por mim não é conforme critérios humanos,
pois não o recebi nem aprendi de uma instância humana, mas por revelação de Jesus Cristo.”
20
Cristo junto aos pagãos, prestando um serviço sacerdotal ao evangelho de Deus, para que os
pagãos se tornem uma oferenda bem aceita, santificada no Espírito Santo”.
1Cor 1,1
21
“Paulo, chamado a ser apóstolo do Cristo Jesus, por vontade de Deus...”
Rm 1,1.5
“Paulo, servo do Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o
evangelho de Deus. Por ele recebemos a graça da vocação para o apostolado a fim
de trazermos à fé, para a glória de Deus, todas as nações.”
Gl 1,1-2
“Paulo, apóstolo – não por iniciativa humana nem por intermédio de nenhum homem, mas por
Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos – e todos os irmãos que estão
comigo...”.
1Cor 1,1
“Paulo, chamado a ser apóstolo do Cristo Jesus por vontade de Deus...”
2Cor 1,1
“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus...”
Gl2,8-9
“ De fato, o mesmo que tinha separado Pedro para o apostolado entre os judeus, preparou
também a mim para o apostolado entre os pagãos. Reconhecendo a graça que me foi dada,
Tiago, Cefas e João, considerados as colunas da Igreja, deram-nos a mão, a mim e a Barnabé,
como sinal de comunhão recíproca. Assim ficou confirmado que nós iríamos aos pagãos e
eles, aos judeus.”
22
Ser apóstolo para Paulo significa ter sido preparado, separado, escolhido e
chamado por Deus mesmo para uma missão específica e necessária. Não podendo a
comunidade cristã sobreviver sem o testemunho do apóstolo, pois “na Igreja, Deus
estabeleceu, primeiro, os apóstolos...” (1Cor 12,28a), o ministério de Paulo foi
estabelecido por Deus para dar vida, sustento e dinamismo às igrejas helênicas.
Como apóstolo legítimo, autêntico, idôneo e autônomo, mesmo em profunda
comunhão com “as colunas da Igreja”, Paulo pôde orientar livremente as suas
comunidades, dar normas próprias para uma série de situações pastorais concretas e
encaminhar soluções a pendências sem ter de consultar ninguém. Seu apostolado é
conseqüência direta do encontro pessoal com o Senhor ressuscitado e da resposta fiel a
ele, por meio de sua radical e total conversão.
Rm 1,1
“Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado a ser apóstolo, separado para o Evangelho de
Deus...”
Fl 1,1
Paulo e Timóteo, servos de Jesus de Cristo..”
1Cor 4,1
“Que as pessoas nos considerem como ministros de Cristo e administradores dos
mistérios de Deus.”
Gl 1,10
“Tenho eu buscado a aprovação dos homens ou a de Deus? Acaso procuro agradar aos
homens? Se ainda quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.”
Paulo não aceita ser igualado a Jesus. Jesus Cristo é o Senhor e ele, o seu
apóstolo e discípulo, é o seu servo (doulos). Paulo sabe que “o servo (doulos) não pode
ser maior que seu senhor, nem o mensageiro (apóstolo) maior do que aquele que o
envia.” (Jo 13,16)
Dos títulos usados para definir sua missão, Paulo prefere se considerar um
“diácono”, isto é, um servidor das mesas, um garçom, um ministro . Ao redor do ícone
da “diaconia”, uma profunda teologia dos cargos e funções na igreja pode ser
desenvolvida. Vejamos o belo caminho do serviço pelo qual Paulo nos conduz:
2Cor 3,4-9
23
“É por Cristo que temos total confiança perante Deus. Por nós mesmos, não somos capazes de
pôr a nosso crédito qualquer coisa como vinda de nós; a nossa capacidade vem de Deus, que
nos tornou capazes de exercer o ministério (diaconia) da aliança nova, não da letra, mas do
Espírito. A letra mata, o Espírito é que dá a vida. Se o ministério (diaconia) da morte, gravado
em pedras com letras, foi cercado de tanta glória que os israelitas não podiam fitar o rosto de
Moisés, por causa do seu fulgor, ainda que passageiro, quanto mais glorioso não será o
ministério (diaconia) do Espírito? Pois, se o ministério (diaconia) da condenação foi
glorioso, muito mais glorioso há de ser o ministério (diaconia) da justificação.”
2Cor 6,4-5
“Pelo contrário, em tudo nos recomendamos como ministros (diáconos) de Deus, por uma
constância inalterável em tribulações, necessidades, angústias, açoites, prisões, tumultos,
fadigas, vigílias, jejuns...”
2Cor 11,23-28
“São ministros (diáconos) de Cristo? Delirando, digo: Eu mais ainda. Muito mais do que
eles, pelos trabalhos, pelas prisões, por excessivos açoites, muitas vezes em perigos de morte,
cinco vezes recebi dos judeus quarenta chicotadas menos uma; três vezes, fui batido com
varas; uma vez, apedrejado; três vezes naufraguei; passei uma noite e um dia em alto-mar; fiz
inúmeras viagens com perigos de rios, perigos de ladrões, perigos da parte de meus
compatriotas, perigo da parte dos pagãos, perigos nas cidades, perigos em regiões desertas,
perigos no mar, perigos por parte de falsos irmãos; trabalhos e fadigas, inúmeras vigílias, fome
e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez; e, sem falar de outra coisa, a minha preocupação de
cada dia, a solicitude por todas as igrejas.”
2Cor 5,18-20
“Ora, tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério
(diaconia) da reconciliação. Sim, foi o próprio Deus que, em Cristo, reconciliou o mundo
consigo, não levando em conta os delitos da humanidade, e foi ele que pôs em nós a palavra
da reconciliação. Somos, pois, embaixadores de Cristo; é como se Deus mesmo fizesse seu
apelo através de nós. Em nome de Cristo, vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus”.
2Cor 4,1-2
“Por isso, não desanimamos no exercício deste ministério (diaconia) que recebemos da
misericórdia divina. Rejeitando todo procedimento dissimulado e indigno, feito de astúcias, e
não falsificamos a palavra de Deus.”
Cl 1,23
24
“Isso, enquanto permaneceis bem fundados na fé, sem vos desviardes da esperança dada pelo
evangelho que ouvistes, pregado a toda criatura debaixo do céu e do qual eu, Paulo, me
tornei ministros (diácono).”
e. Diácono da Igreja: Paulo aceita, com Cristo, sofrer por sua Igreja. Vejamos seu
belíssimo testemunho:
Cl 1,24-26
“Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo, na minha carne, o que
falta às tribulações de Cristo em favor do seu corpo que é a Igreja. Dela eu me fiz ministro
(diácono), exercendo a função que Deus me confiou a vosso respeito: a de fazer chegar até
vós a palavra de Deus, ministério (diaconia) que ele manteve escondido desde séculos e
por inúmeras gerações e que, agora, acaba de manifestar a seus santos.”
1Ts 4,1
“Enfim, irmãos, nós vos pedimos e exortamos, no Senhor Jesus, que progridais sempre
mais no modo de proceder para agradar a Deus.”
1Cor 1,10
“Irmãos, eu vos exorto, pelo de nosso Senhor Jesus Cristo, a que estejais todos de acordo
no que falais e não haja divisões entre vós.”
2Ts 3,6
“Exortamos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que eviteis todos irmãos que
leve uma vida desordenada e contrária à tradição que de nós recebestes.”
1Ts 4,2
“Sabeis quais são as normas que vos temos dado da parte do Senhor Jesus.”
2Ts 3,12
“A essas pessoas, ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem
tranqüilamente e, assim, comam o seu próprio pão.”
1Cor 5,3-5
25
“Pois bem, embora ausente fisicamente, mas presente em espírito, já julguei, como se estivesse
aí entre vós, aquele que assim procede: em nome do Senhor Jesus, estado vós e eu em
espírito unidos com o poder de nosso Senhor Jesus, entregamos esse indivíduo a Satanás,
para a destruição de sua índole carnal, a fim de que seu espírito seja salvo no dia do Senhor”.
1Ts 4, 15
“Eis o que temos a vos dizer, de acordo com a palavra do Senhor: nós, os vivos, os que
ficarmos em vida até a vinda do Senhor, não passaremos à frente dos que tiverem morrido”.
Gl 2,20
“Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim. Minha vida atual na carne, eu a
vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.
Fl 1,21
“Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro”.
Rm 8,35-39
“Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez,
perigo, espada? Pois está escrito: ‘Por tua causa somos entregue à morte, o dia todo, fomos
tidos como ovelhas destinas ao matadouro’. Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores,
graças àquele que nos amou. Tenho a certeza de que nem a morte, nem a vida, nem os
anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potências, nem a altura,
nem a profundeza, nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus,
que está no Cristo Jesus, nosso Senhor.”
Da mesma forma como Paulo age somente em nome de Jesus Cristo, suas
cartas aprofundam e prolongam a força da Palavra de Deus que nele e em sua missão é
manifestada às igrejas. Como Paulo mesmo nos diz: “Agradecemos a Deus sem cessar,
porque, ao receberdes a palavra de Deus que ouvistes de nós, vós a recebestes não
como palavra humana, mas como o que ela é de fato: palavra de Deus, que age em vós
que acreditais.” (1Ts 4,13)
26
Sendo a vontade de Deus a origem do ministério de Paulo, ele não aceita
prestar contas a ninguém de sua missão, a não ser ao próprio Senhor. Mantendo sempre
a plena comunhão com os outros apóstolos e com a igreja e Jerusalém, enfrentou com
toda coragem e segurança os seus inimigos, chamando-os de “Satanás disfarçados em
anjo de luz” (2Cor 11,14). Eis como Paulo testemunha sua responsabilidade unicamente
diante de Deus:
2Ts 2,4
“Mas Deus nos examinou e provou para nos confiar o evangelho, e é assim que falamos, não
para agradar a seres humanos, mas a Deus que examina os nossos corações.”
Gl 1,10
“Tenho eu buscado a aprovação dos homens ou a de Deus? Acaso procuro agradar aos
homens? Se ainda quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.”
1Cor 4,3-5
“Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por alguma instância humana. Nem
eu me julgo a mim mesmo. É verdade que minha consciência não me acusa de nada. Mas isto
não quer dizer que eu deva ser considerado justo. Quem me julga é o Senhor. Portanto, não
queirais julgar antes do tempo. Aguardai que o Senhor venha.”
2Cor 10.12-18
“Na verdade, não ousamos equiparar-nos nem comparar-nos com alguns que se recomendam a
si próprios. Quanto a nós, não nos gloriamos além da medida, mas somente dentro dos
limites que Deus marcou para nós, fazendo-nos chegar até vós. De fato, não estamos
ultrapassando os nossos limites, como seria o caso, se não os tivéssemos chegado até vós. Na
verdade, somos os primeiros a chegar até vós pregando o evangelho de Cristo. Não nos
gloriamos, indevidamente, em trabalho alheios. Mas esperamos que, com o progresso da vossa
fé, nós também cresçamos sobremaneira no meio de vós, dentro dos limites marcados para nós.
Assim, poderemos levar o evangelho além de vossas fronteiras, nunca nos gloriando do que os
outros tenham feito no seu terreno e a seu modo. Quem se gloria, glorie-se no Senhor. Pois é
aprovado só aquele que o Senhor recomenda, não aquele que se recomenda a si mesmo.”
27
a. Modelo de união com Cristo
1Cor 11,1
“Sede meus imitadores, como eu sou do Cristo.”
1Ts 1,6
“Tanto assim que vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra em
meio a muita tribulação e, no entanto, com a alegria que vem do Espírito Santo.”
2Ts 3,7-8
“Sabeis muito bem como deveis imitar-nos, porque não vivemos entre vós de maneira
desordenada. De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário
enfrentamos um trabalho penoso e cansativo, de noite e de dia, para não sermos pesados a
nenhum de vós.”
Gl 4,12
“Irmãos, eu vos suplico: sede como eu, pois eu também me tornei como vós.”
1Cor 4,15-16
“De fato, mesmo que tenhais milhares de educadores em Cristo, não tendes muitos pais. Pois
fui eu que, pelo anúncio do evangelho, vos gerei em Cristo Jesus. Portanto, eu vos peço,
sede meus imitadores.”
Fl 3,17
“Irmãos, sede meus imitadores, todos vós, e reparai bem os que vivem segundo o exemplo
que tendes em nós. Já vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos por aí que
se comportam como inimigos da cruz de Cristo.”
28
A estrutura física franzina, o semblante alquebrado, o temperamento
explosivo e problemas de comunicação geraram muitas críticas ao ministério de Paulo.
Mas, tendo consciência de tudo isso, pois sabe “que ele não é nada” (2Cor 12,11),
Paulo faz da perseverança, da humildade e dos sofrimentos as marcas essenciais da
pregação do evangelho. Ele mesmo nos fala de suas limitações humanas:
1Cor 2,1-4
“Irmãos, quando fui até vós anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri à oratória ou ao
prestígio da sabedoria. Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não se Jesus Cristo, e
este, crucificado. Aliás, estive junto de vós com fraqueza e receio, e com muito temor.
Também a minha palavra e a minha pregação não se apoiaram na persuasão da sabedoria,
mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de
Deus e não na sabedoria humana.”
2Cor 10,9-10
“De fato, não quero dar a impressão de vos amedrontar com minhas cartas. Pois há quem diga:
‘As cartas são severas e enérgicas, mas a presença física é fraca e o discurso, desprezível.”
2Cor 12,5-6
“Quanto a esse homem, eu me gloriarei, mas, quanto a mim mesmo, não me gloriarei,
a não ser em minhas fraquezas. No entanto, se eu quisesse gloriar-me, não seria
louco, pois só estaria dizendo a verdade. Mas evito gloriar-me, para que ninguém faça
de mim uma idéia superior àquilo que vê em mim e ouve de mim.”
2 Cor 12,7-9
“E para que a grandeza das revelações não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho
na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear, a fim de eu não me torne orgulhoso. A
esse respeito, roguei três vezes ao Senhor que o afastasse de mim. Mas o Senhor disse-me:
Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente.”
29
transformará o nosso corpo, humilhado, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso,
graças ao poder que o torna capaz também de sujeitar a si todas as coisas.”
Paulo não se deu o título de discípulo e nem aos cristãos, usando esse
vocábulo presente nos evangelhos. Contudo, claramente se percebe o seu interesse pela
vida de Cristo e seus ensinamentos. Isso aparece no uso do vocábulo “Jesus” e “Cristo
Jesus”. Mas pode afirmar-se que, na sua compreensão, o discípulo é aquele que assume
a imitação do mestre. Cristo deu sua vida. Sua imitação inclui a corajosa oferta de si na
caridade, abnegação e humildade. Os cristãos, portanto, são desafiados a humilhar-se e a
entregar-se por seus irmãos. Cristo se fez pobre e de todos cuidou. Esse é o parâmetro
da imitação que cabe aos seus discípulos, configurando o relacionamento com o Mestre.
Nesse íntimo relacionamento, Paulo compreende que está o fundamento da moral dos
discípulos, de tal modo que as relações humanas devem ser para facilitar a experiência
do relacionamento com Cristo. O relacionamento com Cristo é a iluminação de todos os
relacionamentos de modo que no outro cada um é chamado a ver o Cristo. No bilhete a
Filêmon 915-16), com uma extraordinária delicadeza, Paulo faz uma comunicação ao
seu discípulo Filêmon quanto ao retorno de Onésimo. Filêmon é instado a encontrar em
Onésimo não mais um escravo, mas um irmão bem amado no Senhor Jesus. É Cristo
Jesus quem permite alcançar a possibilidade desta igualdade. No contexto parenético de
Romanos, 14-1-12, o apóstolo indica a importância do respeito a cada qual,
particularmente o respeito à consciência dos fracos. Vivendo ou morrendo, tudo tem
que ser para Cristo. Essa intimidade, configurando o relacionamento entre Cristo e os
cristãos, tem uma adequada expressão na imagem tradicional do matrimônio. A
intimidade com Cristo se constitui numa verdadeira união conjugal. Tal pertença não é
jurídica. É uma propriedade que atinge o fundo do ser de cada discípulo.
Quando Jesus revela aos discípulos que eles tinham um Pai no céu sublinha
que este é também o seu Pai. Ele é o Pai de misericórdia e das consolações, o Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Pai ( II Cor 1,2-3).
O apóstolo explica, como em Gl 3,26ss, que a consciência do estado real
dos filhos e filhas de Deus vem da ação do Espírito Santo. A fé em Cristo faz, pois,
passar do estado de escravidão à condição da verdadeira liberdade.
“É porque sois filhos que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de
seu Filho, que clama Abba,Pai.” (Gl 4,3-6)/ (Cf Rm 8,14-16) Este Espírito configura
a verdadeira identidade de filhos de Deus. O apóstolo experimenta essa realidade de
maneira muito forte, enchendo-o de uma confiança absoluta. Por isso ele exclama:
“Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8, 35-39) Paulo entende que essa
união profunda sustenta a participação do cristão na morte e na vida do ressuscitado.
Esta união se verifica pelo batismo, pela Ceia eucarística, pela participação na paixão e
participação na vida do ressuscitado.
A experiência do batismo, prática das primeiras comunidades, é a
experiência de penitência e renúncia ao pecado para receber o dom do Espírito Santo.
Paulo fala da riqueza desse rito, Rm 6,3-13, como uma consagração ao Mestre,
vinculando o discípulo. Por isso, o mergulho do batismo é imagem de um sepultamento.
É Deus operando para a conquista de uma vida nova, realidade ontológica que será
acompanhada de novos costumes, excluindo o pecado.
A comunhão na Ceia eucarística, longe de toda idolatria, é a prova da
experiência de profunda intimidade e proximidade do cristão de Cristo. Ele exemplifica:
“Não sabeis que aquele que se une a uma prostituta torna-se com ela um só corpo?
30
Mas quem adere ao Senhor torna-se com ele um só espírito.” (Rm 6,16-17) Esta
união com o Senhor na Ceia tem, pois, uma importância fundamental e determinante. É
um contato físico, real com o corpo e o sangue do Senhor, garantindo uma profunda
união com ele.
A comunhão na Paixão de Cristo é muito forte na teologia Paulina. Ele
enfrenta muitas dificuldades que são apontadas como fraquezas no seu ministério e na
sua vida apostólica, os ataques dos judaizantes na defesa da lei, a atitude dos coríntios e
outros pecados nas igrejas. Ele compreende e focaliza o sentido da participação dos
sofrimentos de Cristo. A participação nesses sofrimentos garante a conquista da
ressurreição. A ressurreição é a vida dilatada na alegria. A vida de Cristo se manifesta
no seu corpo e no seu ministério. É o Espírito que faz experimentar a vida de Cristo no
discípulo.
31
9
Por isso, Deus o exaltou recapitular tudo em Cristo,
acima de tudo e lhe deu o tudo o que existe no céu e
Nome que está acima de na terra.
todo nome, 10para que, em 11
Em Cristo, segundo o
o Nome de Jesus, todo propósito daquele que
joelho se dobre, no céu, na opera tudo de acordo com a
terra e abaixo da terra, 11e decisão de sua vontade,
toda língua confesse: fomos feitos seus
“Jesus Cristo é o Senhor”, herdeiros, predestinados 12
para a glória de Deus Pai. a ser, para louvor da sua
glória, os primeiros a pôr
em Cristo nossa esperança.
13
Nele, também vós
ouvistes a palavra da
verdade, a Boa-Nova da
vossa salvação. Nele
acreditastes e recebestes a
marca do Espírito Santo
prometido, 14que é a
garantia da nossa herança,
até o resgate completo e
definitivo, para louvor da
sua glória.
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33