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Carlos Biasotti

Mandado de Segurança
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2021
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado
de São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB,
AASP, IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia
Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte,
Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor
de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos
Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), além
de numerosos artigos jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo


(nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em
14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honorícos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado
de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de
São Paulo; medalha cultural “ Brasil 500 anos”; medalha “ Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
Mandado de Segurança
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

Mandado de Segurança
(Doutrina e Jurisprudência)

2a. ed.

2021
São Paulo, Brasil
Índice

1. Prefácio..........................................................................................................9

2. Mandado de Segurança: Ementas (Doutrina e Jurisprudência)............11

3. Casos Especiais (Reprodução Integral do Voto)......................................59


Prefácio

O intuito de concorrer, bem que em mínima parte, para


atenuar possíveis dificuldades na elaboração de arrazoados
forenses (e porventura decisões judiciais), fez que me
determinasse a publicar este opúsculo.
Nele achará o leitor ementas de votos que, integrante da
15a. Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São
Paulo e da 5a. Câmara de Direito Criminal do Tribunal de
Justiça, proferi em processos de Mandado de Segurança.
As espécies em causa e seu alcance constam dos
respectivos acórdãos, em que há menção expressa do número
do feito.
10

Em resumo: estão compendiados nesta plaqueta alguns


casos judiciais, expostos e julgados na esfera do Mandado de
Segurança, que “é uma ação constitucional de rito próprio
sumaríssimo, destinada a proteger direito líquido e certo,
ameaçado ou violado por ato praticado ilegalmente ou com
abuso de poder, concedendo-se a ordem para que o coator cesse
imediatamente a ameaça ou a violação” (Carlos Alberto
Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed.,
p. 21).
Pela atenção da leitura, meu agradecimento.

O Autor
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de Justiça:
www.tjsp.jus.br).

• Mandado de Segurança
(art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.; Lei nº 1.533/51)

Voto nº 10.390

Mandado de Segurança nº 993.08.031107-2


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.;
art. 499 do Cód. Proc. Penal

— Nos processos intentados em Juízo, como em tudo o mais, prepondera o


princípio da provocação da parte interessada.
— A liberdade de requerer, escreveu o insigne Ministro Bento de Faria, “não deve
degenerar em abuso por forma a paralisar a marcha do processo, com o
propósito de retardar a administração da justiça ou de tumultuar a ordem
processual” (Código de Processo Penal, 1960, vol. II, p. 210).
— Apenas a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto, autoriza
a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).
— Em obséquio à segurança jurídica – objetivo a que devem atender, por
princípio, todas as decisões da Justiça –, não há conceder mandado de
segurança senão em face de direito líquido e certo, que, na expressão
memorável de Hely Lopes Meirelles, “é direito comprovado de plano”
(Mandado de Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).
12
Voto nº 10.272

Mandado de Segurança nº 993.08.021471-9


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 7º, nº XV, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.

— Apenas a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto, autoriza


a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).
— O direito líquido, certo e incontestável, objeto do mandado de segurança,
conforme os anais do Pretório Excelso, “é aquele contra o qual se não podem
opor motivos ponderáveis, e sim meras e vagas alegações cuja improcedência
o magistrado pode reconhecer imediatamente sem necessidade de detido
exame” (apud Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança,
1957, p. 128).
— Ainda que se haja de franquear autos de processo ou inquérito policial ao
advogado, em obséquio à majestade e importância de seu claro ofício, urge
atender a que tenha interesse jurídico na questão. O argumento de que, nos
termos do art. 7º, nº XV, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia), tem
direito de “vista dos processos judiciais e administrativos de qualquer
natureza”, não se recebe “sine grano salis”. É que a sobredita regra geral sofre
restrição expressa em seu art. 7º, § 1º, nº I, “in verbis”: não se aplica o disposto
nos incisos XV e XVI “aos processos sob regime de segredo de justiça”.
—“O direito do advogado a ter acesso aos autos de inquérito não é absoluto,
devendo ceder diante da necessidade do sigilo da investigação, devidamente
justificada na espécie (art. 7º, § 1º, 1, da Lei nº 8.906/94)” (STJ; RMS
nº 15.167-PR; rel. Min. Felix Fischer; DJU 10.3.2003).
13
Voto nº 2045

Mandado de Segurança nº 358.402/1


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 32, § 7º, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

— Admite a Jurisprudência mandado de segurança para alcançar efeito


suspensivo ao recurso interposto de decisão que o não tenha, desde que prove o
impetrante, além da certeza e liquidez do direito violado, a ilegalidade do ato.
Não é desse número, evidentemente, a hipótese em que se denega o sobredito
efeito ao apelo de decisão que manda emissora de televisão retificar fato
inverídico ou errôneo, pois que isto decorre da vontade expressa da Lei de
Imprensa (Lei nº 5.250, de 9.2.67): “da decisão proferida pelo juiz caberá
apelação sem efeito suspensivo” (art. 32, § 7º).
— Nos casos de ofensa à honra pelos meios de informação e divulgação,
unicamente a ação penal (que não a civil) poderá operar como causa extintiva
do direito de resposta (art. 29, § 3º, da Lei de Imprensa), pois não é no foro
cível, mas no Juízo da “persecutio criminis”, que se apura a responsabilidade
por fato que a lei define e pune como ilícito penal.

Voto nº 2372

Mandado de Segurança nº 366.302/4


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança)

— Desde que ofensivo de direito líquido e certo do impetrante, é passível de


mandado de segurança todo ato judicial.
— Cabe mandado de segurança para obter efeito suspensivo à correição parcial,
desde que de sua não-concessão possa advir lesão grave e difícil de reparar a
direito do impetrante.
14
Voto nº 11.800

Mandado de Segurança nº 990.09.065694-8


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 748 do Cód. Proc. Penal

— Mandado de segurança é “remédio judicial restrito à proteção daqueles


direitos cuja certeza e liquidez sejam manifestos e que resistam a uma
contestação razoável” (Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de
Segurança, 1957, p. 123).
— Não viola direito líquido e certo decisão que indefere a autor de infração penal
pedido de cancelamento de registro no Distribuidor Criminal e no Instituto de
Identificação do Estado. A conservação dos registros criminais decorre da
vontade da lei.
— Ao determinar que a condenação não será mencionada na folha de
antecedentes do reabilitado (art. 748 do Cód. Proc. Penal), a Lei assegura-lhe o
rigor do sigilo, não o cancelamento dos registros criminais, cuja conservação
importa à ordem social, à segurança pública e aos altos interesses da Justiça.
15
Voto nº 4901

Mandado de Segurança nº 445.174/1


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
arts. 29, § 3º, e 30 da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

— Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,


autoriza a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const.
Fed.).
— O direito líquido, certo e incontestável, objeto do mandado de segurança,
conforme os anais do Pretório Excelso, “é aquele contra o qual se não podem
opor motivos ponderáveis, e sim meras e vagas alegações cuja improcedência
o magistrado pode reconhecer imediatamente sem necessidade de detido
exame” (apud, Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança,
1957, p. 128).
— Não é inconstitucional o art. 32, § 7º, da Lei de Imprensa, que nega efeito
suspensivo à apelação. A Constituição Federal, ao garantir aos litigantes e aos
acusados ampla defesa, atribui-lhes, do mesmo passo, os meios e recursos a
ela inerentes (art. 5º, nº LV). Inerente é voz que trai a ideia de “tudo aquilo que
é propriedade ou qualidade de qualquer pessoa ou coisa, ou lhe está unido
intimamente” (cf. Bluteau, Vocabulário, 1713, t. IV; Morais, Dicionário
da Língua Portuguesa, 1813; Constâncio, Novo Dicionário da Língua
Portuguesa, 1877; Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua
Portuguesa, 1925; v. inerente), etc. Ora, o recurso inerente ou apropriado à
decisão que ordena a publicação de resposta do ofendido no jornal é a apelação
sem efeito suspensivo (art. 32, § 7º, da Lei de Imprensa).
— Admite a Jurisprudência mandado de segurança para alcançar efeito
suspensivo ao recurso interposto de decisão que o não tenha, desde que prove o
impetrante, além da certeza e liquidez do direito violado, a ilegalidade do ato e
os requisitos com que se autoriza a tutela de urgência no processo penal
(“fumus boni juris” e “periculum in mora”).
16
Voto nº 7898

Mandado de Segurança nº 1.027.510-3/8-00


Arts. 5º, nº LXIX, e 125, § 1º, da Const. Fed.;
art. 33 da Lei nº 11.340/2006 (“Lei Maria da Penha”);
art. 24, § 4º, da Constuição Paulista

—“Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,


autoriza a impetração de mandado de segurança” (art. 5º, nº LXIX, da Const.
Fed.).
—“A expressão direito líquido e certo tem o alcance próprio de direito manifesto,
evidente, que exsurge da lei com claridade” (Carlos Alberto Menezes Direito,
Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).
— A falta de elementos de prova que esclareçam o espírito do Juiz acerca da
“causa petendi”, ou estado de fato contrário ao direito, é razão relevante para
denegar a tutela jurisdicional requerida com fundamento na Lei nº 11.340/2006
(“Lei Maria da Penha”).
— Juristas de alto coturno têm posto o estigma de inconstitucional à Lei nº
11.340/2006 (“Lei Maria da Penha”): “algumas medidas, restrições e sanções
previstas na lei, parecem-nos na contramão do processo histórico--cultural
que envolve e conduz o Direito como instrumento de controle social e solução
de conflitos individuais e interpessoais” (João José Leal, in Revista Jurídica
nº 346).
17
Voto nº 2814

Embargos de Declaração nº 372.478/5 2


Art. 29, § 3º, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

— Em linha de princípio, o mandado de segurança não se presta a substituir


recurso previsto na lei processual para o caso concreto.
— Desde que a mais alta Antiguidade cunhou a parêmia “sapientis est mutare
consilium”, já ninguém deve correr-se de mudar de parecer, sobretudo se a
mudança é para melhor.
—“Não constitui omissão do acórdão embargado deixar de tratar de tema que
extrapola os termos da causa” (Rev. Tribs., vol. 548, p. 429; rel. Min. Rafael
Mayer).

Voto nº 3330

Mandado de Segurança nº 390.092/7


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 197 da Lei de Execução Penal

—“Cremos não ser justo nem legal que, por deficiência do sistema penitenciário,
seja (o condenado) constrangido a cumprir pena no regime fechado mais
tempo do que a lei determina” (Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 17a. ed., p. 606).
— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de
legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo ao
agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se presumem,
na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É para supor
que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os
Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da
Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
18
Voto nº 3885

Mandado de Segurança nº 407.880/9


Arts. 6º, nº II, e 118 do Cód. Proc. Penal

— Procede com acerto e sabedoria o Magistrado que, antes do trânsito em julgado


da sentença final, indefere pedido de restituição de coisas apreendidas e, de
igual passo, lhes proíbe a remoção (com base na concepção jurídica de que a
posse induz a propriedade) e nomeia fiel depositário (art. 118 do Cód. Proc.
Penal).
— Em princípio, não comete ilegalidade nem abuso de poder a autoridade policial
que, ao receber “notitia criminis”, determina a apreensão de objetos
relacionados com o fato, pois se trata de ato de sua discrição, previsto em lei
(art. 6º, nº II, do Cód. Proc. Penal).

Voto nº 3970

Mandado de Segurança nº 400.640/9


Art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.;
art. 303 do Código de Trânsito;
art. 107, nº IV, do Cód. Penal

— Na ação penal, legitimado para recorrer é o Ministério Público (“dominus


litis”), não a vítima, exceto se habilitada nos autos como seu assistente,
conforme a regra do art. 268 do Cód. Proc. Penal. O agente da ação penal
pública será sempre o Promotor de Justiça; o ofendido, este, nos casos em que a
lei o admite, será assistente ou auxiliar de acusação.
— O direito líquido e certo, amparável pelo mandado de segurança, é aquele
comprovado de plano e incontestável à luz da razão lógica.
19
Voto nº 4365

Mandado de Segurança nº 427.918/9


Arts. 112 e 197 da Lei de Execução Penal

—“Cremos não ser justo nem legal que, por deficiência do sistema penitenciário,
seja (o condenado) constrangido a cumprir pena no regime fechado mais
tempo do que a lei determina” (Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 17a. ed., p. 606).
— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de
legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece--lhe a
pertinência subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo ao
agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se presumem,
na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É para supor
que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os
Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da
Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
20
Voto nº 1532

Mandado de Segurança nº 344.766/2


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança)

— Empresa proprietária de veículo objeto de arrendamento mercantil (“leasing”)


presume-se interessada em reavê-lo, no caso de inadimplência contratual; pelo
que, tem legitimidade “ad causam”, ou “a pertinência subjetiva da ação, a
titularidade na pessoa que propõe a demanda” (Alfredo Buzaid, Do Agravo de
Petição, 1956, p. 89).
—“Depois de pronunciada a sentença, o Juiz perde a jurisdição e não pode
corrigi-la, quer haja exercido seu ofício bem, quer o tenha feito mal” (Ulpiano;
apud Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. II, p. 353).
— Não se conhece da impetração de mandado de segurança que desatende a
um dos cânones principais a que está subordinada: a indicação correta da
autoridade coatora.

Voto nº 1750

Mandado de Segurança nº 348.054/9


Art. 32, § 7º, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

— Admite a Jurisprudência mandado de segurança para alcançar efeito


suspensivo ao recurso interposto de decisão que o não tenha, desde que prove o
impetrante, além da certeza e liquidez do direito violado, a ilegalidade do ato.
Não é desse número, evidentemente, a hipótese em que se denega o sobredito
efeito ao apelo de decisão que manda emissora de televisão retificar fato
inverídico ou errôneo, pois que isto decorre da vontade expressa da Lei de
Imprensa (Lei nº 5.250/67): “da decisão proferida pelo juiz caberá apelação
sem efeito suspensivo” (art. 32, § 7º).
21
Voto nº 9244

Mandado de Segurança nº 1.114.791-3/8-00


Arts. 5º, nº II, e 18 da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 118 do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.; Súmula nº 267 do STF

—“(...) parece-nos, portanto, mais consentâneo com o espírito da Constituição


entender-se não ser aplicável a limitação temporal de cento e vinte dias para
o exercício da garantia constitucional do mandado de segurança (...)”
(Nelson Nery Jr., Código de Processo Civil Comentado, 9a. ed., p. 1.300).
—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição” (Súmula nº 267 do STF).
—“É apelável a decisão que indefere pedido de restituição de coisa apreendida”
(Rev. Tribs., vol. 525, p. 363).
—“Dominando o instituto da restituição das coisas apreendidas, há uma regra
muito importante que deflui do art. 118 do Cód. Proc. Penal: antes de
transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão ser
restituídas enquanto interessarem ao processo” (Tourinho Filho, Processo
Penal, 1997, vol. III, pp. 5-7).
— Direito líquido e certo é aquele “sobranceiro a qualquer dúvida razoável e
maior do que qualquer controvérsia sensata” (Orosimbo Nonato; apud Carlos
Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).
22
Voto nº 11.042

Mandado de Segurança nº 990.08.084879-8


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 89 da Lei nº 9.099/95

—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou


correição previstos na lei processual” (Jurisprudência do Tribunal de
Justiça, vol. 141, p. 442; rel. Nélson Fonseca).
— Em obséquio à segurança jurídica – objetivo a que devem atender, por
princípio, todas as decisões da Justiça –, não há conceder mandado de
segurança senão em face de direito líquido e certo, que, na expressão
memorável de Hely Lopes Meirelles, “é direito comprovado de plano”
(Mandado de Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).
23
Voto nº 11.378

Mandado de Segurança nº 990.08.161415-4


Art. 659 do Cód. Proc. Penal

—“Perde o objeto o mandado de segurança quando a própria autoridade revoga


o ato atacado” (STJ; MS nº 6.377/MG; rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito;
j. 15.10.96).
—“Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou coação ilegal,
julgará prejudicado o pedido” (art. 659 do Cód. Proc. Penal).

Voto nº 12.137

Mandado de Segurança nº 990.09.112636-5


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 76 da Lei nº 9.099/95

— Incorre na “sanctio juris” de carecedor da ação de mandado de segurança o


impetrante que indica por autoridade coatora sujeito que lhe não violou direito
algum, porque parte ilegítima.
—“É preciso ter atenção para que seja corretamente identificada a autoridade
coatora. É ela, sempre, aquela que ordena ou omite a prática do ato
impugnado. Em uma palavra, autoridade coatora é a responsável pelo ato
lesivo” (Carlos Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança,
4a. ed., p. 101).
24
Voto nº 191

Apelação Criminal nº 1.036.285/0


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 120 do Cód. Proc. Penal

— No que toca ao meio de que se valeu a impetrante para assegurar seu direito à
tutela jurisdicional do Estado, foi o que lhe deparou a Lei: o mandado de
segurança.
— De feito, “o remédio primeiro, de que se pode valer quem sofre apreensão de
seu veículo por ordem de autoridade policial em inquérito para apuração de
crime, é o pedido de restituição, fundado no art. 120 do Cód. Proc. Penal,
observados, no mais, se for o caso, os parágrafos desse mesmo dispositivo.
Nada impede, porém, que o prejudicado se valha do remédio heroico do
mandado de segurança, evidenciando, desde logo, direito líquido e certo à
restituição” (Rev. Tribs., vol. 510, p. 86; rel. Sydney Sanches).
—“Não se justifica recusar ao proprietário a restituição do veículo apreendido
com terceiro por adulteração de chassi, quando não existe suspeita de
envolvimento do titular dominial na prática de crime. A apreensão de
automotor vinculado a prática de crime só se justifica se o proprietário
estiver envolvido na infração ou pelo tempo necessário à apuração delitiva.
A apreensão duradoura vulnera o direito de propriedade, de índole
constitucional e, se incontestável, enseja concessão de segurança” (TACrimSP;
Recurso de Ofício nº 948.679/3, de Piracicaba; 11a. Câm.; j. 22.5.95; v.u.;
rel. Renato Nalini).
25
Voto nº 661

Mandado de Segurança nº 312.610/9


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei nº 7.210/84

— Não tem efeito suspensivo o agravo interposto contra decisão proferida pelo
Juízo da execução penal (art. 197 da Lei nº 7.210/84).
— Quando a lei é clara, não há mister interpretação (“interpretatio cessat in
claris”).
— Em mandado de segurança, o “periculum in mora” “só pode ser alegado em
favor do sentenciado e nunca em benefício da sociedade” (Rev. Tribs., vol. 655,
p. 294).

Voto nº 5932

Mandado de Segurança nº 470.536-3/0-00


Art. 5º, nº II, da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
arts. 118 e 119 do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 267 do STF

—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou


correição” (Súmula nº 267 do STF).
—“É apelável a decisão que indefere pedido de restituição de coisa apreendida”
(Rev. Tribs., vol. 525, p. 363).
— Nisto de restituição de coisa apreendida, é força atender à regra do art. 119 do
Cód. Proc. Penal, que prevê a perda automática em favor da União do produto
do crime (art. 91, nº II, alínea b, do Cód. Penal).
— Direito líquido e certo é aquele “sobranceiro a qualquer dúvida razoável e
maior do que qualquer controvérsia sensata” (Orosimbo Nonato, apud; Carlos
Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).
26
Voto nº 1821

Mandado de Segurança nº 349.918/2


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 366 do Cód. Proc. Penal

— É o mandado de segurança via judicial própria a impugnar decisão que, na


órbita da Lei nº 9.271/96 (que deu nova redação ao art. 366 do Cód. Proc.
Penal), indefere produção antecipada de prova testemunhal. Trata-se de
corolário da teoria geral do instituto: “é cabível mandado de segurança contra
ato judicial de qualquer natureza e instância, desde que ilegal e violador de
direito líquido e certo do impetrante, e não haja possibilidade de coibição
eficaz e pronta pelos recursos comuns” (cf. Hely Lopes Meirelles, Mandado de
Segurança, 17a. ed., p. 36).
— Que o Promotor de Justiça tenha “legitimatio ad causam” e capacidade
postulatória para impetrar mandado de segurança perante os Tribunais é
questão superior a toda a dúvida, segundo o magistério da Jurisprudência.
— Nisto de produção antecipada de prova (art. 366 do Cód. Proc. Penal), é mister
atender ao requisito primordial da urgência. Consideram-se urgentes, para os
efeitos do mencionado dispositivo legal, as provas que, por circunstâncias
pessoais das testemunhas, primeiro que pela tirania implacável do tempo
(“sepultura de todas as coisas”), se devam produzir desde logo, aliás poderão
perder-se para sempre.
— Nem por ser o tempo o devorador de todas as coisas (“edax rerum”), haverão
elas de fazer-se antes de seu tempo. O Magistrado, com prudente arbítrio, nisto
como no demais, avaliará a conveniência de deferir, ou não, o requerimento que
tire ao fim de abreviar a oportunidade da produção de provas, sob color de que
urgentes.
27
Voto nº 1834

Mandado de Segurança nº 351.138/8


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 32, § 7º, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

— Não é inconstitucional o art. 32, § 7º, da Lei de Imprensa, que nega efeito
suspensivo à apelação. A Constituição Federal, ao garantir aos litigantes e aos
acusados ampla defesa, especifica o fará com os “meios e recursos a ela
inerentes” (art. 5º, nº LV). Inerente é voz que trai a ideia de “tudo aquilo que é
propriedade ou qualidade de qualquer pessoa ou coisa, ou lhe está unido
intimamente” (cf. Bluteau, Vocabulário, 1713, t. IV; Morais, Dicionário da
Língua Portuguesa, 1813; Constâncio, Novo Dicionário da Língua
Portuguesa, 1877; Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua
Portuguesa, 1925; v. inerente), etc. Ora, o recurso inerente ou apropriado à
decisão que ordena a publicação de resposta do ofendido no jornal é a apelação
sem efeito suspensivo (art. 32, § 7º, da Lei de Imprensa).
— Admite a Jurisprudência mandado de segurança para alcançar efeito
suspensivo ao recurso interposto de decisão que o não tenha, desde que prove o
impetrante, além da certeza e liquidez do direito violado, a ilegalidade do ato.
Não é desse número, evidentemente, a hipótese em que se denega o sobredito
efeito ao apelo de decisão que manda publicar resposta do ofendido em jornal,
pois que isto decorre da vontade expressa da Lei de Imprensa (Lei nº 5.250,
de 9.2.67): “da decisão proferida pelo juiz caberá apelação sem efeito
suspensivo” (art. 32, § 7º).
28
Voto nº 4692

Mandado de Segurança nº 440.474/9


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 29 da Lei nº 5.250/67 (Lei de Impensa);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.

— Aquele que não foi ofendido pelos meios de informação e divulgação (art. 29 da
Lei de Imprensa) não pode invocar o direito de resposta, de que aliás é
carecedor.
— Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,
autoriza a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const.
Fed.).
— O direito líquido, certo e incontestável, objeto do mandado de segurança,
conforme os anais do Pretório Excelso, “é aquele contra o qual se não podem
opor motivos ponderáveis, e sim meras e vagas alegações cuja improcedência
o magistrado pode reconhecer imediatamente sem necessidade de detido
exame” (apud Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança,
1957, p. 128).

Voto nº 5987

Mandado de Segurança nº 476.825-3/3-00


Art. 19 da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança)

— Em obséquio aos princípios da celeridade e economia, é dispensável a citação


do litisconsorte passivo para compor a relação processual, se da decisão de
mérito não lhe resultar prejuízo (art. 19 da Lei nº 1.533/51).
—“O mandado de segurança só é idôneo se o direito pleiteado for escoimado de
qualquer dúvida razoável” (Carlos Alberto Menezes Direito, Manual do
Mandado de Segurança, 2003, p. 72).
29
Voto nº 6176

Mandado de Segurança nº 476.589-3/5-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LVI, da Const. Fed.

— É da natureza especial do mandado de segurança “proteger direito líquido e


certo malferido por ilegalidade ou abuso de poder” (cf. Carlos Alberto
Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 51).
— A impetração de mandado de segurança pressupõe liquidez e certeza do direito
que se afirma violado (art. 1º da Lei nº 1.533/51).
—“Direito líquido e certo é o que resulta de fato certo, e fato certo é aquele capaz
de ser comprovado de plano” (Theotonio Negrão, Código de Processo Civil,
26a. ed., p. 1.117).
— Não constitui ilegalidade nem vicia o processo a retirada de sangue para a
realização de exame de dosagem alcoólica, se o sujeito o houver autorizado.
Afirmar, em tal caso, ofensa ao privilégio contra a auto-incriminação (“nemo
tenetur se detegere”) será imolar na ara do “frívolo curialismo”, que o jurista
Francisco Campos estigmatizou com ferro em brasa (Exposição de Motivos do
Código de Processo Penal, nº XVII).

Voto nº 6155

Mandado de Segurança nº 476.242-3/2-00


Art. 5º, nº II, da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.;
Súmula nº 267 do STF

— Aquele que renuncia ao direito de recorrer não pode, ao depois, sem manifesta
ofensa da lei, impugnar os efeitos da decisão mediante mandado de segurança
(art. 5º, nº II, da Lei nº 1.533/51).
—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição” (Súmula nº 267 do STF).
— Direito líquido e certo é aquele “sobranceiro a qualquer dúvida razoável e
maior do que qualquer controvérsia sensata” (Orosimbo Nonato, apud; Carlos
Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).
30
Voto nº 5941

Mandado de Segurança nº 464.059-3/4-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 312 do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.

—“As atribuições do Ministério Público, bem compreendidas, são as mais belas


que existem” (De Molénes; apud J. B. Cordeiro Guerra, A Arte de Acusar, 1a.
ed., p. 99).
—“Não podem ser ampliados os casos de efeito suspensivo de recurso em sentido
estrito” (apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 17a.
ed., p. 414).
— Mesmo em se tratando de crime hediondo, têm nossas Cortes de Justiça
consagrado a orientação de que o réu faz jus à liberdade provisória, se ausente
hipótese que lhe autorize a decretação da prisão preventiva, a qual deve
assentar em razão sólida, justificada pela necessidade (art. 312 do Cód. Proc.
Penal).
— Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,
admite a concessão de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).

Voto nº 6863

Mandado de Segurança nº 868.102-3/7-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 120 do Cód. Proc. Penal

— Provado que o dinheiro que lhe apreendeu a Polícia era de origem lícita (e não
produto de crime), mostra-se de rigor sua devolução à impetrante, como forma
de restauração do direito violado (art. 120 do Cód. Proc. Penal).
— É o mandado de segurança meio idôneo para obter a liberação de coisas
irregularmente apreendidas em inquérito policial (cf. Rev. Tribs., vol. 749,
p. 675).
31
Voto nº 7040

Mandado de Segurança nº 957.318-3/6-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
arts. 118 e 120 do Cód. Proc. Penal

— Em caráter excepcional, por evitar dano de difícil reparação, admite-se


mandado de segurança contra decisão impugnável mediante recurso ordinário.
— Mandado de segurança é “remédio judicial restrito à proteção daqueles
direitos cuja certeza e liquidez sejam manifestos e que resistam a uma
contestação razoável” (Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de
Segurança, 1957, p. 123).
— Poderá o juiz ordenar a restituição de coisa apreendida, se não existir “dúvida
quanto ao direito do reclamante” (art. 120 do Cód. Proc. Penal).
— Não tem direito à restituição de veículo, apreendido pela autoridade policial
por suspeita de ser produto de crime, quem não lhe prova o domínio (art. 120
do Cód. Proc. Penal).
32
Voto nº 7041

Mandado de Segurança nº 959.306-3/6-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei de Execução Penal

— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de


legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo
ao agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se
presumem, na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É
para supor que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais,
decidam os Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar”
(V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
—“É uníssona a jurisprudência desta Corte no que tange à ilegitimidade do
Ministério Público em impetrar mandado de segurança para conferir efeito
suspensivo a recurso que não o contém, como é o caso do agravo em execução”
(STJ; HC nº 237.975-SP; 6a. Turma; rel. Min. Paulo Medina; j. 23.9.03; DJU
13.10.03).
33
Voto nº 7445

Agravo Regimental nº 1.003.811-3/8-0001


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
Súmula nº 622 do STJ

— Carece de pressuposto objetivo de admissibilidade o agravo regimental


manejado contra decisão que indefere pedido de medida liminar em “habeas
corpus”. A razão é que, segundo o teor literal do art. 798 do Regimento Interno
do Tribunal de Justiça, cabe somente de decisão que “negar seguimento a
recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou
contrário à Súmula do Tribunal de Justiça, se houver, ou dos Tribunais
Superiores”. Demais, ao julgador é defeso ampliar a esfera de aplicação de
recurso, em contradição com a lei expressa.
— É jurisprudência comum e assente do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo que ao agravo regimental, interposto contra decisão do relator que
concede ou indefere liminar em “habeas corpus”, aplica-se, por analogia, a
Súmula nº 622 do Colendo Superior Tribunal de Justiça: “Não cabe agravo
regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em
mandado de segurança”.
— Princípio e fundamento de toda a ordem judicial, conforme os velhos praxistas,
“a citação é tão essencial que nem o Príncipe a pode dispensar” (Cons.
Ramalho, Postilas de Prática, 1872, p. 71).
34
Voto nº 7659

Mandado de Segurança nº 1.006.700-3/1-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei de Execução Penal

— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de


legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo
ao agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se
presumem, na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É
para supor que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais,
decidam os Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar”
(V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
—“É uníssona a jurisprudência desta Corte no que tange à ilegitimidade do
Ministério Público em impetrar mandado de segurança para conferir efeito
suspensivo a recurso que não o contém, como é o caso do agravo em execução”
(STJ; HC nº 237.975-SP; 6a.Turma; rel. Min. Paulo Medina; j. 23.9.03; DJU
13.10.03).
— Em obséquio à segurança jurídica – objetivo a que devem atender, por
princípio, todas as decisões da Justiça –, não há conceder mandado de
segurança senão em face de direito líquido e certo, que, na expressão
memorável de Hely Lopes Meirelles, “é direito comprovado de plano”
(Mandado de Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).
35
Voto nº 6286

Mandado de Segurança nº 496.531-3/8-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal)

— Não tem efeito suspensivo o agravo interposto contra decisão proferida pelo
Juízo da execução penal (art. 197 da Lei nº 7.210/84).
— Quando a lei é clara, não há mister interpretação (“interpretatio cessat in
claris”).
— Em mandado de segurança, o “periculum in mora só pode ser alegado em
favor do sentenciado e nunca em benefício da sociedade” (Rev. Tribs., vol. 655,
p. 294).
— Admite a Jurisprudência mandado de segurança para alcançar efeito
suspensivo ao recurso interposto de decisão que o não tenha, desde que prove o
impetrante, além da certeza e liquidez do direito violado, a ilegalidade do ato e
os requisitos com que se autoriza a tutela de urgência no processo penal
(“fumus boni juris” e “periculum in mora”).
— Na decisão do caso concreto, é defeso ao juiz servir-se de outra craveira que a
prova dos autos.
36
Voto nº 10.706

Mandado de Segurança nº 990.08.041143-8


Art. 5º, nº II, da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.; art. 118 do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 267 do STF

—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou


correição” (Súmula nº 267 do STF).
—“É apelável a decisão que indefere pedido de restituição de coisa apreendida”
(Rev. Tribs., vol. 525, p. 363).
—“Dominando o instituto da restituição das coisas apreendidas, há uma regra
muito importante que deflui do art. 118 do Cód. Proc. Penal: antes de
transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão ser
restituídas enquanto interessarem ao processo” (Tourinho Filho, Processo
Penal, 1997, vol. III, pp. 5-7).
— Direito líquido e certo é aquele “sobranceiro a qualquer dúvida razoável e
maior do que qualquer controvérsia sensata” (Orosimbo Nonato, apud; Carlos
Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).
37
Voto nº 7740

Mandado de Segurança nº 1.017.759-3/5-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.

—“As atribuições do Ministério Público, bem compreendidas, são as mais belas


que existem” (De Molénes; apud J. B. Cordeiro Guerra, A Arte de Acusar, 1a.
ed., p. 99).
—“Não podem ser ampliados os casos de efeito suspensivo de recurso em sentido
estrito” (apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 17a.
ed., p. 414).
— Mesmo em se tratando de crime hediondo, têm nossas Cortes de Justiça
consagrado a orientação de que o réu faz jus à liberdade provisória, se ausente
hipótese que lhe autorize a decretação da prisão preventiva, a qual deve
assentar em razão sólida, justificada pela necessidade (art. 312 do Cód. Proc.
Penal).
— Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,
admite a concessão de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).
38
Voto nº 8229

Mandado de Segurança nº 1.054.038-3/6-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei de Execução Penal

— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de


legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo ao
agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se presumem,
na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É para supor
que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os
Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da
Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
—“É uníssona a jurisprudência desta Corte no que tange à ilegitimidade do
Ministério Público em impetrar mandado de segurança para conferir efeito
suspensivo a recurso que não o contém, como é o caso do agravo em execução”
(STJ; HC nº 237.975-SP; 6a.Turma; rel. Min. Paulo Medina; j. 23.9.03; DJU
13.10.03).
— Em obséquio à segurança jurídica – objetivo a que devem atender, por
princípio, todas as decisões da Justiça –, não há conceder mandado de
segurança senão em face de direito líquido e certo, que, na expressão
memorável de Hely Lopes Meirelles, “é direito comprovado de plano”
(Mandado de Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).
39
Voto nº 9047

Mandado de Segurança nº 1.079.952-3/0-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 105 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.

— Não há que opor contra decisão que, embora pendente recurso do Ministério
Público, determina a expedição de guia de recolhimento provisória a favor de
réu preso, condenado a cumprir pena sob o regime prisional semiaberto, pois
mesmo que provido o recurso, está obrigado às condições do regime recluso
(inexistirá, portanto, o “periculum in mora”, o risco de fuga do sentenciado à
execução da pena ou algum prejuízo para a sociedade).
— Ao dispor que a guia de recolhimento provisória será expedida “quando do
recebimento de recurso da sentença condenatória”, o Provimento nº 653/99,
do egrégio Conselho Superior da Magistratura não excetua hipótese em
que recorrente seja a Acusação. Donde se infere, à luz de hermenêutica
tradicional, que, ainda no caso de ter apelado o Ministério Público, o Juiz da
condenação expedirá guia de recolhimento provisória ao réu preso. “Ubi lex
non distinguit nec nos distinguere debemus”.
— Também os que violaram a ordem jurídica e social têm seus direitos; ainda o
mais vil dos homens não decai nunca da proteção da Lei. A presteza com que
encaminha o réu para a Vara das Execuções Criminais serve de timbre de honra
do Juízo da condenação, não de labéu (art. 105 da Lei de Execução Penal).
— Fere os princípios da Justiça e repugna à consciência jurídica submeter o réu
condenado a efeitos mais graves do que os estipulados no título executório,
mesmo no caso de ter sido interposto recurso pela Acusação.
— Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,
admite a concessão de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).
40
Voto nº 11.258

Mandado de Segurança nº 990.08.157453-5


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 654 do Cód. Proc. Penal;
art. 66, nº III, alínea f, da Lei de Execução Penal

— Ao contrário do “habeas corpus” —— que “poderá ser impetrado por qualquer


pessoa” (art. 654 do Cód. Proc. Penal) ——, somente poderá requerer mandado
de segurança quem detiver o “jus postulandi”, isto é, o advogado no exercício
pleno de seu múnus.
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros incidentes de
execução da pena são da competência originária do Juízo das Execuções
Criminais (art. 66, nº III, alínea f, da Lei de Execução Penal); ao Tribunal,
apenas em grau de recurso, cabe o reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe
defeso deferi-lo na via sumaríssima e estreita do mandado de segurança.
— Em obséquio à segurança jurídica – objetivo a que devem atender, por
princípio, todas as decisões da Justiça –, não há conceder mandado de
segurança senão em face de direito líquido e certo, que, na expressão
memorável de Hely Lopes Meirelles, “é direito comprovado de plano”
(Mandado de Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).
41
Voto nº 2675
Mandado de Segurança nº 372.478/5
Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 32, § 7º, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

— Não é inconstitucional o art. 32, § 7º, da Lei de Imprensa, que nega efeito
suspensivo à apelação. A Const. Fed., ao garantir aos litigantes e aos acusados
ampla defesa, especifica o fará com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º,
nº LV). Inerente é voz que trai a ideia de “tudo aquilo que é propriedade ou
qualidade de qualquer pessoa ou coisa, ou lhe está unido intimamente” (cf.
Bluteau, Vocabulário, 1713, t. IV; Morais, Dicionário da Língua Portuguesa,
1813; Constâncio, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 1877; Caldas
Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, 1925; v. inerente),
etc. Ora, o recurso inerente ou apropriado à decisão que ordena a publicação
de resposta do ofendido no jornal é a apelação sem efeito suspensivo (art. 32,
§ 7º, da Lei de Imprensa).
— Admite a Jurisprudência mandado de segurança para alcançar efeito
suspensivo ao recurso interposto de decisão que o não tenha, desde que prove o
impetrante, além da certeza e liquidez do direito violado, a ilegalidade do ato.
Não é desse número, evidentemente, a hipótese em que se denega o sobredito
efeito ao apelo de decisão que manda transmitir resposta do ofendido em
emissora de televisão, pois que isto decorre da vontade expressa da Lei de
Imprensa (Lei nº 5.250/67): “da decisão proferida pelo juiz caberá apelação
sem efeito suspensivo” (art. 32, § 7º).
42
Voto nº 3071

Mandado de Segurança nº 382.556/5


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei de Execução Penal

—“Cremos não ser justo nem legal que, por deficiência do sistema penitenciário,
seja (o condenado) constrangido a cumprir pena no regime fechado mais
tempo do que a lei determina” (Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 17a. ed., p. 606).
— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de
legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo ao
agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se presumem,
na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É para supor
que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os
Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da
Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
43
Voto nº 3949

Mandado de Segurança nº 410.266/6


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.;
art. 170, parág. único, da Const. Fed.

— Remédio jurídico-processual de rito sumário e eficaz, é sobretudo ao mandado


de segurança que recorre o titular de direito líquido e certo para protegê-lo
contra ilegalidade ou arbítrio de autoridade pública, ou obter-lhe a restauração
quando violado (art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).
— O direito líquido, certo e incontestável, objeto do mandado de segurança,
conforme os anais do Pretório Excelso, “é aquele contra o qual se não podem
opor motivos ponderáveis, e sim meras e vagas alegações cuja improcedência
o magistrado pode reconhecer imediatamente sem necessidade de detido
exame” (apud, Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança,
1957, p. 128).
— Ato lesivo que é ao direito de propriedade e ao franco exercício de atividade
econômica, assegurados a todos pela Constituição da República (art. 170,
parág. unico), a diligência de busca e apreensão de máquinas de diversão
eletrônicas, regularmente importadas, instaladas e em funcionamento segundo
as prescrições legais, pode impugnar-se e resolver na esfera do mandado de
segurança, instrumento judicial rápido e específico à reparação do direito
violado por ato manifestamente ilegal de autoridade pública.
44
Voto nº 4377

Mandado de Segurança nº 425.324/3


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 25, § 1º, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa)

— Ao examinar, nos termos do art. 25, § 1º, da Lei nº 5.250/67 (Lei de Imprensa),
as explicações do responsável por matéria publicada, para verificar se
satisfatórias ou não, deverá o Magistrado haver-se com prudente cautela, não
venha a ferir-lhes o próprio mérito. A lição não é menos que de Nélson Hungria:
“(...) os autos serão entregues ao suplicante, independentemente de traslado,
abstendo-se o juiz de qualquer apreciação de meritis das explicações acaso
prestadas, pois, do contrário, estaria prejudicando o recebimento ou rejeição
preliminar da queixa ulterior” (Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VI,
p. 129).
— A curul do Magistrado, cátedra permanente da honra e da verdade, não pode
transigir nos princípios éticos em que assenta a ordem social. Destarte, não há
que opor contra a decisão que, de ofício, determina a remessa de cópias de
peças dos autos ao Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação
Publicitária) para a apuração de eventual prática de infração ética na
propaganda comercial por veículo de comunicação.

Voto nº 5178

Apelação Criminal nº 1.410.431/3


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 267, nº VI, do Cód. Proc. Civil

— Não se conhece de agravo de instrumento interposto contra decisão que


indefere medida liminar em mandado de segurança, se o feito já foi declarado
extinto, sem julgamento do mérito, por falta de condição da ação (art. 267,
nº VI, do Cód. Proc. Civil).
45
Voto nº 6791

Mandado de Segurança no 900.722-3/8


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal)

—“Cremos não ser justo nem legal que, por deficiência do sistema penitenciário,
seja (o condenado) constrangido a cumprir pena no regime fechado mais
tempo do que a lei determina” (Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 22a. ed., p. 656).
— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de
legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo ao
agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se presumem,
na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É para supor
que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os
Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da
Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
46
Voto nº 6886

Mandado de Segurança nº 878.581-3/0-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, ns. LXIX e LXXV, da Const. Fed.;
arts. 42 e 51 do Cód. Penal

— A Lei nº 9.268/96 alterou a redação do art. 51 do Cód. Penal para atribuir à


pena de multa a natureza de dívida de valor, vedando, assim, a possibilidade de
sua conversão em pena privativa de liberdade.
— Revogado o art. 182 da Lei de Execução Penal – cujo § 1º dispunha acerca da
conversão da pena de multa em detenção: “a cada dia-multa corresponderá
um dia de detenção” –, é forçosa a consequência de que já não há substrato
jurídico nem critério legal que autorizem a aplicação de detração analógica, ou
de pena de multa (art. 42 do Cód. Penal).
—“Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,
autoriza a impetração de mandado de segurança” (art. 5º, nº LXIX, da Const.
Fed.).
—“A expressão direito líquido e certo tem o alcance próprio de direito manifesto,
evidente, que exsurge da lei com claridade” (Carlos Alberto Menezes Direito,
Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).
47
Voto nº 6952

Mandado de Segurança nº 910.734-3/0-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 120 do Cód. Proc. Penal

— Em caráter excepcional, por evitar dano de difícil reparação, admite-se


mandado de segurança contra decisão impugnável mediante recurso ordinário.
— Mandado de segurança é “remédio judicial restrito à proteção daqueles
direitos cuja certeza e liquidez sejam manifestos e que resistam a uma
contestação razoável” (Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de
Segurança, 1957, p. 123).
— Poderá o juiz ordenar a restituição de coisa apreendida, se não existir “dúvida
quanto ao direito do reclamante” (art. 120 do Cód. Proc. Penal).
— Não tem direito à restituição de arma de fogo apreendida o Delegado de Polícia
aposentado que não prova ser-lhe o legítimo dono, como requer a lei (art. 120
do Cód. Proc. Penal), porque propriedade da Segurança Pública do Estado.
48
Voto nº 7036

Mandado de Segurança nº 954.113-3/9-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei de Execução Penal

— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de


legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo
ao agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se
presumem, na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É
para supor que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais,
decidam os Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar”
(V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
—“É uníssona a jurisprudência desta Corte no que tange à ilegitimidade do
Ministério Público em impetrar mandado de segurança para conferir efeito
suspensivo a recurso que não o contém, como é o caso do agravo em execução”
(STJ; HC nº 237.975-SP; 6a.Turma; rel. Min. Paulo Medina; j. 23.9.03; DJU
13.10.03).
49
Voto nº 7755

Mandado de Segurança nº 1.013.103-3/3-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
arts. 118 e 120 do Cód. Proc. Penal

— Mandado de segurança é “remédio judicial restrito à proteção daqueles


direitos cuja certeza e liquidez sejam manifestos e que resistam a uma
contestação razoável” (Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de
Segurança, 1957, p. 123).
— Poderá o juiz ordenar a restituição de coisa apreendida, se não existir “dúvida
quanto ao direito do reclamante” (art. 120 do Cód. Proc. Penal).
— Não tem direito à restituição de veículo, apreendido pela autoridade policial
por suspeita de ser produto de crime, salvo se comprovada sua aquisição livre
de malícia ou dolo.

Voto nº 7824

Mandado de Segurança nº 1.013.953-3/1-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.

— Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,


autoriza a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const.
Fed.).
— O direito líquido, certo e incontestável, objeto do mandado de segurança,
conforme os anais do Pretório Excelso, “é aquele contra o qual se não podem
opor motivos ponderáveis, e sim meras e vagas alegações cuja improcedência
o magistrado pode reconhecer imediatamente sem necessidade de detido
exame” (apud, Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança,
1957, p. 128).
— Constitui cerceamento de defesa desatender o Juízo ao pedido formulado pelo
patrono do réu, de juntada aos autos de documento de notória importância para
a elucidação dos fatos. Em verdade, “só merece o nome de defesa a que for livre
e completa” (J. Soares de Mello, O Júri, 1941, p. 16).
—“O direito de defesa é, entre todos, o mais sagrado e inviolável” (Sobral Pinto;
apud Pedro Paulo Filho, A Revolução da Palavra, 2a. ed., p. 168).
50
Voto nº 7830

Mandado de Segurança nº 1.026.058-3/7-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 197 da Lei de Execução Penal

— À luz da melhor orientação jurisprudencial, carece o Ministério Público de


legitimidade para impetrar mandado de segurança com o intuito de alcançar
efeito suspensivo a agravo em execução, que o não tem; falece-lhe a pertinência
subjetiva “ad causam”.
— A vontade mesma da lei é a que obsta à concessão de efeito suspensivo ao
agravo, como o dispõe o art. 197 da Lei de Execução Penal. Não se presumem,
na lei, palavras inúteis, conforme retrilhado aforismo jurídico. É para supor
que, nos casos sob o regime da Lei nº 7.210/84, como nos mais, decidam os
Juízes com acerto. “Os Juízes, por definição, não podem errar” (V. César da
Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, vol. II, p. 588).
—“É uníssona a jurisprudência desta Corte no que tange à ilegitimidade do
Ministério Público em impetrar mandado de segurança para conferir efeito
suspensivo a recurso que não o contém, como é o caso do agravo em execução”
(STJ; HC nº 237.975-SP; 6a.Turma; rel. Min. Paulo Medina; j. 23.9.03; DJU
13.10.03).
— Em obséquio à segurança jurídica – objetivo a que devem atender, por
princípio, todas as decisões da Justiça –, não há conceder mandado de
segurança senão em face de direito líquido e certo, que, na expressão
memorável de Hely Lopes Meirelles, “é direito comprovado de plano”
(Mandado de Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).
51
Voto nº 8077

Mandado de Segurança nº 1.032.336-3/5-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.;
art. 7º, § 1º, ns. I e XV, da Lei nº 8.906/94

— Apenas a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto, autoriza


a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).
— O direito líquido, certo e incontestável, objeto do mandado de segurança,
conforme os anais do Pretório Excelso, “é aquele contra o qual se não podem
opor motivos ponderáveis, e sim meras e vagas alegações cuja improcedência
o magistrado pode reconhecer imediatamente sem necessidade de detido
exame” (apud, Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança,
1957, p. 128).
— Ainda que se haja de franquear autos de processo ou inquérito policial ao
advogado, em obséquio à majestade e importância de seu claro ofício, urge
atender a que tenha interesse jurídico na questão. O argumento de que, nos
termos do art. 7º, nº XV, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia), tem
direito de “vista dos processos judiciais e administrativos de qualquer
natureza”, não se recebe “sine grano salis”. É que a sobredita regra geral sofre
restrição expressa em seu art. 7º, § 1º, nº I, “in verbis”: não se aplica o disposto
nos incisos XV e XVI “aos processos sob regime de segredo de justiça”.
—“O direito do advogado a ter acesso aos autos de inquérito não é absoluto,
devendo ceder diante da necessidade do sigilo da investigação, devidamente
justificada na espécie (art. 7º, § 1º, 1, da Lei nº 8.906/94)” (STJ; RMS
nº 15.167-PR; rel. Min. Felix Fischer; DJU 10.3.2003).
52
Voto nº 8180

Mandado de Segurança nº 1.054.938-3/3-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 1º, nº III, da Const. Fed.

— Mandado de segurança é “remédio judicial restrito à proteção daqueles


direitos cuja certeza e liquidez sejam manifestos e que resistam a uma
contestação razoável” (Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de
Segurança, 1957, p. 123).
— Indiciado, em bom direito, é só aquele a quem se imputa, no inquérito policial,
a prática de ilícito penal (cf. Julio Fabbrini Mirabete, Processo Penal, 2a. ed.,
p. 88).
— Dar indiciado ao mero suspeito da prática de delito, sobre ser atecnia jurídica
e impropriedade vocabular, constitui violação grave do princípio da dignidade
da pessoa humana, que a Constituição Federal consagrou em seu art. 1º, nº III,
pois que ao referido termo é inerente a ideia aviltante de infrator. Apelidar
alguém de indiciado, portanto, será o mesmo que lhe dilacerar a reputação e
detrair a honra, a qual o portentoso Antônio Vieira afirmou que era “mais
preciosa e mais amável que a mesma vida” (Sermões, 1710, t. XIV, p. 121).
53
Voto nº 8241

Mandado de Segurança nº 1.047.606-3/2-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed; Súmula nº 267 do STF;
art. 118 do Cód. Proc. Penal

—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou


correição” (Súmula nº 267 do STF).
—“É apelável a decisão que indefere pedido de restituição de coisa apreendida”
(Rev. Tribs., vol. 525, p. 363).
—“Dominando o instituto da restituição das coisas apreendidas, há uma regra
muito importante que deflui do art. 118 do Cód. Proc. Penal: antes de
transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão ser
restituídas enquanto interessarem ao processo” (Tourinho Filho, Processo
Penal, 1997, vol. III, pp. 5-7).
— Direito líquido e certo é aquele “sobranceiro a qualquer dúvida razoável e
maior do que qualquer controvérsia sensata” (Orosimbo Nonato, apud; Carlos
Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).

Voto nº 8290

Mandado de Segurança nº 1.033.281-3/0-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 7º, § 1º, da Lei nº 8.906/94;
art. 20 do Cód. Proc. Penal

— Embora considere o art. 20 do Código de Processo Penal ser o sigilo inerente


ao inquérito policial, não o confunde com o segredo de justiça, ao qual,
unicamente, é vedado o acesso ao advogado (art. 7º, § 1º, da Lei nº 8.906/94).
—“O sigilo não atinge o advogado, salvo nos processos sob o regime de segredo
de Justiça” (Julio Fabbrini Mirabete, Código de Processo Penal Comentado,
3a. ed., p. 59).
54
Voto nº 9842

Mandado de Segurança nº 1.162.755-3/0-00


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
art. 654 do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 267 do STF

— Ao contrário do “habeas corpus” – que “poderá ser impetrado por qualquer


pessoa” (art. 654 do Cód. Proc. Penal) –, somente poderá requerer mandado
de segurança quem detiver o “jus postulandi”, isto é, o advogado no exercício
pleno de seu múnus.
—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição” (Súmula nº 267 do STF).
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros incidentes de
execução da pena são da competência originária do Juízo das Execuções
Criminais (art. 66, nº III, alínea b, da Lei de Execução Penal); ao Tribunal,
apenas em grau de recurso, cabe o reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe
defeso deferi-lo na via sumaríssima e estreita do mandado de segurança.
55
Voto nº 10.626

Mandado de Segurança nº 993.08.030224-3


Art. 1º da Lei nº 1.533/51 (Lei do Mandado de Segurança);
arts. 74, § 1º; 421, parág. único, e 423 do Cód. Proc. Penal;
arts. 87 e 151 do Cód. Proc. Civil

— Nos processos por crimes dolosos contra a vida, não é o princípio da


“perpetuatio jurisdictionis” (art. 87 do Cód. Proc. Civil) o que deve
prevalecer, na hipótese de superveniência de nova divisão judiciária, senão o do
foro do delito, em obséquio ao postulado capital da instituição do Júri, do
julgamento do réu por seus pares (art. 74, § 1º, do Cód. Proc. Penal).
—“Desdobrada a área geográfica de um certo Tribunal do Júri, criando-se outro,
para este devem ser remetidos os processos em curso, pouco importando a
fase em que se encontrem (...)” (STF; HC nº 71.810-DF; 2a. T.; rel. Min. Marco
Aurélio; DJU 25.11.94, p. 32.302).
—“Perde o objeto o mandado de segurança quando a própria autoridade revoga
o ato atacado” (STJ; MS nº 6.377-MG; rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito;
j. 15.10.96).
56
Voto nº 11.300

Mandado de Segurança nº 990.08.157127-7


Art. 25, § 2º, da Lei nº 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente);
art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.

— Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,


autoriza a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da Const.
Fed.).
— O direito líquido, certo e incontestável, objeto do mandado de segurança,
conforme os anais do Pretório Excelso, “é aquele contra o qual se não podem
opor motivos ponderáveis, e sim meras e vagas alegações cuja improcedência
o magistrado pode reconhecer imediatamente sem necessidade de detido
exame” (apud, Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de Segurança,
1957, p. 128).
— Por violar direito líquido e certo, pode ser impugnada mediante mandado de
segurança a decisão que, com base no art. 25, § 2º, da Lei nº 9.605/98 (Lei do
Meio Ambiente), decreta o perdimento da totalidade de mercadoria (carga de
madeira serrada), apreendida pela Polícia por irregularidade consistente na
diferença entre seu peso real e o declarado em nota fiscal. Nesse caso,
por evitar lesão ao direito de propriedade e em atenção ao critério da
razoabilidade, comum a todo ato decisório, apenas na parte excedente irregular
haverá de recair a sanção legal do perdimento.

Voto nº 12.309
Mandado de Segurança nº 990.09.172074-7
Art. 180, “caput”, do Código Penal;
art. 659 do Cód. Proc. Penal

—“Perde o objeto o mandado de segurança quando a própria autoridade revoga


o ato atacado” (STJ; MS nº 6.377 — Minas Gerais; rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito; j. 15.10.96).
—“Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou coação ilegal,
julgará prejudicado o pedido” (art. 659 do Cód. Proc. Penal).
57
Voto nº 12.388

Mandado de Segurança nº 990.09.204410-9


Arts. 155, § 4º, nº IV, e 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 366 e 659 do Cód. Proc. Penal

— Nisto de produção antecipada de prova (art. 366 do Cód. Proc. Penal), é mister
atender ao requisito primordial da urgência. Consideram-se urgentes, para os
efeitos do mencionado dispositivo legal, as provas que, por circunstâncias
pessoais das testemunhas, primeiro que pela tirania implacável do tempo
(“sepultura de todas as coisas”), se devam produzir desde logo, aliás poderão
perder-se para sempre.
— Nem por ser o tempo o devorador de todas as coisas (“edax rerum”), haverão
estas de fazer-se antes de seu tempo. O Magistrado, com prudente arbítrio,
nisto como no demais, avaliará a conveniência de deferir, ou não, o
requerimento que tire ao fim de abreviar a oportunidade da produção de
provas, sob color de que “urgentes”.
—“Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou coação ilegal,
julgará prejudicado o pedido” (art. 659 do Cód. Proc. Penal).

Voto nº 12.439

Mandado de Segurança nº 990.09.190997-1


Art. 659 do Cód.Proc. Penal

—“Perde o objeto o mandado de segurança quando a própria autoridade revoga


o ato atacado” (STJ; MS nº 6.377 — Minas Gerais; rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito; j. 15.10.96).
—“Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou coação ilegal,
julgará prejudicado o pedido” (art. 659 do Cód. Proc. Penal).
Casos Especiais
(Reprodução integral do voto)
PODER JUDICIÁRIO

1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Mandado de Segurança nº 1.054.939-3/3-00


Comarca: Viradouro
Impetrante: FMLPG
Impetrado: MM. Juízo de Direito da Comarca de Viradouro

Voto nº 8180
Relator

— Mandado de segurança é “remédio judicial restrito à


proteção daqueles direitos cuja certeza e liquidez sejam
manifestos e que resistam a uma contestação razoável”
(Themistocles Brandão Cavalcanti, Do Mandado de
Segurança, 1957, p. 123).

— Indiciado, em bom direito, é só aquele a quem se


imputa, no inquérito policial, a prática de ilícito penal
(cf. Julio Fabbrini Mirabete, Processo Penal, 2a. ed.,
p. 88).
62

— Dar indiciado ao mero suspeito da prática de delito,


sobre ser atecnia jurídica e impropriedade vocabular,
constitui violação grave do princípio da dignidade da
pessoa humana, que a Constituição Federal consagrou
em seu art. 1º, nº III, pois que ao referido termo é
inerente a idéia aviltante de infrator. Apelidar alguém de
indiciado, portanto, será o mesmo que lhe dilacerar
a reputação e detrair a honra, a qual o portentoso
Antônio Vieira afirmou que era “mais preciosa e mais
amável que a mesma vida” (Sermões, 1710, t. XIV,
p. 121).

1. FMLPG, assistido de advogado, impetra a este Egrégio Tribunal


de Justiça Mandado de Segurança contra ato do MM. Juízo de
Direito da Comarca de Viradouro, que, a seu aviso, lhe violara direito
líquido e certo.

Afirma, na petição de fls. 4/10, elaborada por talentoso e


renomado patrono (Dr. Alberto Zacharias Toron), que “é vítima de
grave violação de direito”, uma vez que seu nome foi inscrito na capa de
autuação de 14 inquéritos policiais como indiciado, ao passo que neles
figurava apenas como investigado.

Alega mais que, assessor jurídico da Prefeitura Municipal


de Viradouro, foi ouvido em declarações em 14 inquéritos policiais,
instaurados para “investigar supostas irregularidades na contratação
de empresa pela Prefeitura”.

Acrescenta o impetrante que, embora jamais indiciado,


corriam debaixo de seu nome 14 inquéritos policiais no Distribuidor
Criminal da Comarca de Viradouro, com essa designação.

Aduz ainda que a ilegalidade de tal situação lhe estava a


infligir sério constrangimento, máxime pelas circunstâncias pessoais
do impetrante, veterano advogado que, obra de 50 anos, se dedicava “à
prestação de serviços públicos (professor, diretor de escola, supervisor
de ensino, Delegado de Ensino em Bebedouro, Diretor Regional de
Ensino em Ribeirão Preto e, atualmente, assessor jurídico da
Prefeitura de Viradouro desde fevereiro de 1992, aprovado por
concurso público)”.
63

Asseverou que esclarecia, a bem da verdade, ter sido uma só vez


ouvido em declarações, cujo termo, após reprodução, a autoridade
policial mandou juntar a 14 inquéritos.

Rematou que, intentando pôr cobro à manifesta coação ilegal,


o impetrante requereu ao MM. Juiz de Direito se dignasse ordenar a
exclusão do termo indiciado “na capa do inquérito”, pedido que Sua
Excelência considerou “impossível”, atentas as “peculiaridades do
caso” (fl. 24).

Instruiu o pedido com cópias de documentos de interesse do


processo (fls. 11/30).

Malcontente, comparece perante esta Corte de Justiça com


o fito de alcançar o que lhe denegou o MM. Juízo de Direito de
Primeiro Grau, a saber: a exclusão da referência ao nome do
impetrante “como indiciado na capa de Inquéritos Policiais em que
figura apenas como investigado” (fl. 26).

O despacho de fls. 32/36 deferiu a medida liminar pleiteada.

A mui digna autoridade impetrada prestou as informações de


praxe (fls. 41/40), nas quais esclareceu que “o impetrante figura como
averiguado, e não indiciado, nos referidos inquéritos” (fl. 41).

Remata que já oficiara à autoridade policial para exclusão do


termo “indiciado” das capas das autuações dos inquéritos policiais em
que o paciente figura como investigado.

O ofício de informações acompanha-se de numerosas peças dos


autos da ação penal (fls. 43/49).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e escorreito


parecer do Dr. Ailton Cocurutto, opina pela concessão da segurança
(fls. 51/55).

É o relatório.
64

2. A pretensão do impetrante cifra-se em obter, mediante


mandado de segurança, decisão que lhe permita expungir a
designação indiciado das capas de autuação dos inquéritos policiais
em que figurou como investigado.

A alegação de que o termo indiciado consta da capa de


inquéritos policiais (nos quais foi ouvido o impetrante) não se estriba
em prova documental: presume-se, no entanto, já pela idoneidade e
rara inteireza de seu advogado (que o afirma), já porque não se lhe
opôs formal contradita.

Ora, indiciado, em bom direito, é só aquele a quem se


imputa, no inquérito policial, a prática de ilícito penal (cf. Julio
Fabbrini Mirabete, Processo Penal, 2a. ed., p. 88).

Mas o impetrante “foi ouvido tão-somente em declarações nas


investigações” (fl. 5).

Logo, não lhe cabe a qualificação de indiciado senão com


afronta da terminologia jurídica e de seu “status dignitatis”.

Destarte, ainda que possa, lá para o diante, ser o impetrante


indiciado em inquérito policial (“quod avertat Deus”!), dar-lhe ora
esse tratamento constitui violação grave de seu direito à honra
objetiva.

O subscritor do parecer da Procuradoria Geral de Justiça, com


sua peculiar clarividência e abalizado bom-senso, tratou de maneira
magistral a questão e deu-lhe a solução que melhor dizia com as
regras de Direito: o impetrante, “embora sujeito de investigação
em procedimento administrativo policial (inquérito), não foi
formalmente indiciado (fls. 49), de modo que qualquer registro de seu
nome, nessa qualidade, afronta ao princípio da dignidade da pessoa
humana” (fl. 53)

Realmente, dar indiciado ao mero suspeito da prática de delito,


sobre ser atecnia jurídica e impropriedade vocabular, constitui
violação grave do princípio da dignidade da pessoa humana, que a
65

Constituição Federal consagrou em seu art. 1º, nº III, pois que ao


referido termo é inerente a ideia aviltante de infrator. Apelidar
alguém de indiciado, portanto, será o mesmo que lhe dilacerar a
reputação e detrair a honra, da qual o portentoso Antônio Vieira
afirmou que era “mais preciosa e mais amável que a mesma vida”
(Sermões, 1710, t. XIV, p. 121).

Em suma – e isto mesmo pareceu à douta Procuradoria Geral


de Justiça –, “os efeitos dessa providência administrativa de
registro do nome do paciente como indiciado deverão ser obstados,
ressalvando-se, evidentemente, os casos em que de modo concreto se
tenha o oferecimento da denúncia e a instauração da competente
ação penal (...)” (fl. 53)

3. Pelo exposto, concedo a segurança para determinar a exclusão


do termo indiciado com relação ao impetrante, nas capas de
autuação dos inquéritos policiais em que figura como investigado,
confirmada a medida liminar.

São Paulo, 30 de março de 2007


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

2
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Mandado de Segurança nº 1.033.281-3/0-00


Comarca: Barueri
Impetrante: Dr. Pedro Novaes Bonome
Impetrado: MM. Juízo de Direito do Foro Distrital de
Jandira (Comarca de Barueri)

Voto nº 8290
Relator

— Embora considere o art. 20 do Código de Processo


Penal ser o sigilo inerente ao inquérito policial, não
o confunde com o segredo de justiça, ao qual,
unicamente, não poderá ter acesso o advogado (art. 7º,
§ 1º, da Lei nº 8.906/94).

— “O sigilo não atinge o advogado, salvo nos processos


sob o regime de segredo de Justiça” (Julio Fabbrini
Mirabete, Código de Processo Penal Comentado, 3a.
ed., p. 59).
67

1. O ilustre advogado Dr. Pedro Novaes Bonome impetra


Mandado de Segurança a este Egrégio Tribunal contra ato do MM.
Juízo de Direito do Foro Distrital de Jandira (Comarca de
Barueri), que, afirma, lhe violara direito líquido e certo.

Alega, na petição de fls. 2/10, que representa a viúva de Almir


Oliveira Santos, morto em acidente de trânsito, cujas circunstâncias
foram apuradas no Inquérito Policial nº 498/2006, distribuído à Vara
Distrital de Jandira (Comarca de Barueri).

Acrescenta que, no entanto, o MM. Juízo de Direito não lhe


permitiu vista dos autos para deles extrair cópias com que instruísse
pedido de pagamento de seguro obrigatório (DPVAT), de benefícios
do INSS, e ajuizasse ação de indenização contra o autor do fato.

Ajunta o digno impetrante que a decisão judicial implicara


sério gravame a seus constituintes – familiares da vítima –,
pessoas de notória miserabilidade.

Pleiteia, destarte, à colenda Câmara tenha a bem conceder-lhe


segurança que o autorize a extrair dos autos de Inquérito Policial
nº 498/2006 as cópias necessárias à instrução dos procedimentos
legais de interesse da família da vítima.

À petição inicial foram acostadas cópias de peças processuais


de interesse da ação (fls. 11/20).

O despacho de fls. 22/26 deferiu a medida liminar pleiteada.

A mui digna autoridade impetrada prestou as informações de


praxe (fl. 36).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e abalizado


parecer do Dr. Márcio José Lauria Filho, opina pela concessão da
segurança (fls. 38/39).

É o relatório.
68

2. A pretensão do impetrante cifra-se em obter, mediante


mandado de segurança, decisão que lhe autorize extrair cópias dos
autos do Inquérito Policial nº 498/2006, para instruir, na qualidade
de advogado da viúva da vítima, pedido de pagamento de seguro
obrigatório (DPVAT), de benefícios do INSS, e ajuizar ação de
indenização contra o autor do fato.

Em que pese aos talentos e virtudes da distinta Magistrada


prolatora do despacho impugnado (fl. 11), tenho por mui digna de
deferir a segurança requerida, sem violar o Direito Positivo nem
ofender o zelo da Justiça, antes com bom crédito seu.

Com efeito, o r. despacho exarado a fl. 11 indeferiu ao


impetrante pedido de vista dos autos de Inquérito Policial
nº 498/2006, para extrair cópias reprográficas, sob o argumento de que
era, “por sua natureza, sigiloso”.

Tal proibição, contudo, encontra e fere o preceito do art. 7º,


nº XIV, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia):

“Art. 7º São direitos do advogado:


.............................................................................................................
XIV — examinar, em qualquer repartição policial, mesmo sem
procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo
copiar peças e tomar apontamentos”.

Assim, não obstante considere o art. 20 do Código de Processo


Penal ser o sigilo inerente ao inquérito policial, não o confunde com
o segredo de justiça, ao qual, unicamente, não poderá ter acesso o
advogado (art. 7º, § 1º, nº 1, da Lei nº 8.906/94).

A lição de Julio Fabbrini Mirabete vem aqui de molde:

“O sigilo não atinge o advogado, salvo nos processos sob o


regime de segredo de Justiça” (Código de Processo Penal
Comentado, 3a. ed., p. 59).
69

Por esta mesma craveira têm decidido nossos Tribunais:

“Deve ser concedida a ordem de mandado de segurança


impetrado por advogado com pedido de liminar inaudita
altera parte, objetivando que seja garantido o acesso aos
autos de expediente provisório instaurado em Vara de Júri,
tantas vezes quanto necessário, pois não há razão legal
para impedir a participação do advogado constituído nos
atos investigatórios e nem para recusar a entrega de cópias
dos procedimentos, mesmo em se tratando de inquérito
policial que corre em sigilo, pois este cabe à imprensa e aos
demais cidadãos, nunca ao causídico constituído, conforme
dispõe o art. 7º, nº XIII, XIV, e § 1º, nº I, da Lei nº 8.906/94”
(Rev. Tribs. vol. 776, p. 588; rel. Rocha de Souza).

Ora, no particular em causa, não corre sob segredo de justiça o


inquérito policial; pelo que, nada obsta lhe tenha acesso o advogado
apercebido de regular mandato.

À derradeira —— e disse-o bem o douto parecer da Procuradoria


Geral de Justiça ——, trata-se de decisão satisfativa, visto que “o
impetrante já teve oportunidade de extrair as cópias das quais
tinha necessidade para o exercício de seu nobre mister” (fl. 39).

3. Pelo exposto, concedo a segurança para autorizar o impetrante


a extrair cópias dos autos do Inquérito Policial nº 498/2006 (Foro
Distrital de Jandira, Comarca de Barueri) e ter-lhes acesso,
respeitadas as normas e a boa exação do serviço cartorário,
confirmada a medida liminar.

São Paulo, 17 de abril de 2007


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

3
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Mandado de Segurança nº 372.478/5


Comarca: Osasco
Impetrante: TVSBT Canal 4 de São Paulo S.A.
Sistema Brasileiro de Televisão
Impetrado: MM. Juiz de Direito da 2a. Vara
Criminal da Comarca de Osasco
Litisconsorte: Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade — TFP

Voto nº 2675
Relator

— Não é inconstitucional o art. 32, § 7º, da Lei de


Imprensa, que nega efeito suspensivo à apelação. A
Const. Fed., ao garantir aos litigantes e aos acusados
ampla defesa, especifica o fará com os “meios e
recursos a ela inerentes” (art. 5º, nº LV). Inerente é voz
que trai a ideia de “tudo aquilo que é propriedade ou
qualidade de qualquer pessoa ou coisa, ou lhe está
unido intimamente” (cf. Bluteau, Vocabulário, 1713,
t. IV; Morais, Dicionário da Língua Portuguesa, 1813;
Constâncio, Novo Dicionário da Língua Portuguesa,
1877; Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo da
Língua Portuguesa, 1925; v. inerente), etc. Ora, o
recurso inerente ou apropriado à decisão que ordena a
publicação de resposta do ofendido no jornal é a
apelação sem efeito suspensivo (art. 32, § 7º, da Lei de
Imprensa).
71

— Admite a Jurisprudência mandado de segurança para


alcançar efeito suspensivo ao recurso interposto de
decisão que o não tenha, desde que prove o impetrante,
além da certeza e liquidez do direito violado, a
ilegalidade do ato. Não é desse número, evidentemente,
a hipótese em que se denega o sobredito efeito ao apelo
de decisão que manda transmitir resposta do ofendido
em emissora de televisão, pois que isto decorre da
vontade expressa da Lei de Imprensa (Lei nº 5.250, de
9.2.67): da decisão proferida pelo juiz caberá apelação
sem efeito suspensivo (art. 32, § 7º).

1. A TVSBT Canal 4 de São Paulo S.A. (Sistema Brasileiro de


Televisão), pessoa jurídica de direito privado, impetrou mandado de
segurança contra ato do MM. Juízo de Direito da 2a. Vara Criminal da
Comarca de Osasco.

Em peça jurídica de fino quilate, que acrescenta a boa opinião


de seus insignes patronos, alega que a digna autoridade impetrada
lhe arrostara direito líquido e certo, ao negar efeito suspensivo à
apelação interposta da sentença que determinou, conforme a Lei
nº 5.250, de 9.2.67 (Lei de Imprensa), a transmissão pela televisão,
em rede nacional, no denominado Programa do Ratinho, de
resposta de desagravo da Sociedade Brasileira de Defesa da
Tradição, Família e Propriedade (TFP).

Foi o caso que o apresentador do referido programa,


transmitido ao vivo e em rede nacional aos 13.3.2000, ofendera a
honra da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e
Propriedade (TFP); daqui o haver-lhe aforado pedido de resposta,
que o MM. Juízo de Direito da 2a. Vara Criminal da Comarca de
Osasco deferiu (fls. 179/185).

Inconformada com a solução do pleito, a impetrante interpôs


recurso de apelação, recebido no efeito somente devolutivo.

Destarte, requer a esta augusta Corte de Justiça seja servida


conceder-lhe mandado de segurança para que se receba ele também
no efeito suspensivo (fls. 2/11).
72

Instruiu o pedido com numerosas peças processuais de


interesse da causa (fls. 13/252).

A egrégia Vice-Presidência do Tribunal, pelo r. despacho de


fl. 254, deferiu a medida liminar “para suspender a ordem de
publicação das respostas até julgamento deste mandamus”.

Prestou informações a mui digna autoridade impetrada.


Esclareceu que a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade (TFP) propusera Ação de Obrigação de Fazer
para Exercício de Direito de Resposta (fls. 258/260).

Acompanha-se de novas cópias do processo o ofício de


informações (fls. 261/324).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em minucioso e


circunspecto parecer do Dr. Luís Daniel Pereira Cintra, opina pela
denegação da segurança (fls. 326/330).

Intimada, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,


Família e Propriedade (TFP) integrou a lide e propugnou a
denegação da segurança (fls. 334/340). Acostou à sua petição
documentos de interesse do litígio (fls. 333/358).

É o relatório.

2. O r. despacho cuja cópia se vê à fl. 233 destes autos recebeu,


sem efeito suspensivo, o recurso interposto pela impetrante contra a
r. sentença proferida nos autos do pedido de resposta formulado
perante o MM. Juízo de Direito da 2a. Vara Criminal da Comarca de
Osasco.

Ao revés do que inculca a impetrante, a r. decisão impugnada


não violou o art. 5º, nº LV, da Constituição Federal, que assegura aos
litigantes e aos acusados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes.
73

A denegação do efeito suspensivo à apelação interposta da r.


sentença, que determinou a publicação da resposta da ofendida
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
(TFP), catou estrita observância ao preceito da lei.

Deveras, dispõe o art. 32, § 7º, da Lei de Imprensa que da


decisão proferida em tal hipótese caberá apelação sem efeito
suspensivo.

Demais, repugna ao referido dispositivo a nota de


inconstitucional que lhe apôs a impetrante, no pressuposto de
que fere de frente a regra do art. 5º, nº LV, de nossa Carta Magna.

Na real verdade, quando o texto constitucional garantiu aos


litigantes e acusados ampla defesa, acrescentou que o faria com os
meios e recursos a ela INERENTES (é meu o versal). Inerente é
voz que significa “tudo aquilo que é propriedade ou qualidade de
qualquer pessoa ou coisa”, ou o que lhe “está unido intimamente”,
como trazem os mais reputados lexicógrafos (cf. Bluteau,
Vocabulário, 1713, t. IV; Morais, Dicionário da Língua Portuguesa,
1813; Constâncio, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 1877;
Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa,
1925; v. inherente – respeitada a grafia arcaica, etc.).

Ora, o recurso inerente ou apropriado à decisão que ordena


a divulgação da resposta do ofendido por sistema de televisão é
a apelação sem efeito suspensivo (art. 32, § 7º, da Lei de Imprensa).

Portanto, a norma da lei especial não se acha às testilhas com


o mandamento constitucional, tratando-se de “jus receptum”.

E, o que é mais, o direito de resposta que a Lei de Imprensa


assegura ao acusado ou ofendido (art. 29) tem alcance de garantia
fundamental da pessoa, inscrito no art. 5º, nº V, da Constituição da
República: é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo (art. 5º, nº V).
74

De todo o ponto desarrazoada, pois, a arguição de


inconstitucionalidade com que a impetrante ferreteou o art. 32
da Lei de Imprensa.

3. A impetrante, por mandado de segurança, requereu a


concessão do efeito suspensivo ao recurso interposto e, de igual
passo, o sobrestamento da determinação contida na r. decisão de
Primeira Instância.

Tenho, porém, que lhe não assiste razão, sem embargo dos
dotes de espírito de seus advogados, profissionais competentíssimos.

É que, na conformidade de copiosa e pacífica jurisprudência


dos Tribunais, o mandado de segurança, para alcançar efeito
suspensivo a recurso que o não tenha, deve satisfazer rigorosamente
aos pressupostos da liquidez e certeza do direito violado e da
ilegalidade do ato (art. 1º da Lei nº 1.533/51).

Ora, na espécie, não foram tais requisitos preenchidos, porque


– e aqui bate o ponto – a decisão que recebe o recurso no efeito
meramente devolutivo não é ilegal, senão que decorre de norma
expressa de nosso ordenamento jurídico, o art. 32, § 7º, da Lei de
Imprensa: “Da decisão proferida pelo juiz caberá apelação sem
efeito suspensivo”.

São mais que muitos os julgados deste Egrégio Tribunal que


sufragam tal opinião:

a) “A Lei de Imprensa conferiu apenas o efeito devolutivo à


apelação tirada de decisão que ordena a publicação de
resposta: § 7º do art. 32 da Lei nº 5.250, de 9.12.67.
A impetração de segurança visando a conferir
efeito suspensivo se mostra inadmissível, diante da
explicitude da norma legal” (Rev. Tribs., vol. 764, p. 579;
rel. Renato Nalini);
75

b) “Para a admissibilidade do mandado de segurança


impetrado visando à obtenção de efeito suspensivo a
recurso de apelação, é necessário que o ato judicial seja
ilegal, que haja violação de direito líquido e certo, bem
como a insuficiência do recurso para assegurar o
direito do impetrante a evitar a irreparabilidade do
dano, o que não ocorre com a decisão judicial que, em
sede de crime de imprensa, determina a transmissão em
programa televisivo do direito de resposta do ofendido,
pois, nos termos do art. 33 da Lei nº 5.250/67, o órgão de
informação terá direito à reparação pecuniária da
transmissão se reformada a sentença concessiva” (Rev.
Tribs., vol. 764, p. 576; rel. Osni de Souza);

c) “Inviável a concessão de ordem em mandado de


segurança, impetrado por órgão de informação e
divulgação, que vise ao deferimento de efeito suspensivo
a recurso interposto de decisão judicial que determina
a publicação de resposta do ofendido, uma vez que
inexistente o periculum in mora, já que a Lei de
Informação, em seu art. 33, estabelece forma especial de
reparação pecuniária do custo da transmissão, em caso
de reforma da referida decisão” (RJDTACrimSP, vol. 29,
p. 346; rel. Damião Cogan).

De tudo o sobredito se mostra claro que, no particular, não


conspiram os requisitos legais da concessão do mandado de
segurança.

4. Isto posto, denego a segurança e casso a liminar.

São Paulo, 13 de dezembro de 2000


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

4
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Mandado de Segurança nº 993.08.030224-3


Comarca: Atibaia
Impetrante: Ministério Público
Impetrado: MM. Juízo de Direito da Comarca de Atibaia

Voto nº 10.626
Relator

— Nos processos por crimes dolosos contra a vida, não é o


princípio da “perpetuatio jurisdictionis” (art. 87 do
Cód. Proc. Civil) o que deve prevalecer, na hipótese de
superveniência de nova divisão judiciária, senão o do
foro do delito, em obséquio ao postulado capital da
instituição do Júri, do julgamento do réu por seus pares
(art. 74, § 1º, do Cód. Proc. Penal).

—“Desdobrada a área geográfica de um certo Tribunal do


Júri, criando-se outro, para este devem ser remetidos
os processos em curso, pouco importando a fase em
que se encontrem (...)” (STF; HC nº 71.810/DF; 2a. T.;
rel. Min. Marco Aurélio; DJU 25.11.94, p. 32.302).

—“Perde o objeto o mandado de segurança quando a


própria autoridade revoga o ato atacado” (STJ; MS
nº 6.377 — Minas Gerais; rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito; j. 15.10.96).
77

1. O ilustre representante do Ministério Público (Dr. Sebastião


José Pena Filho) impetra a este Egrégio Tribunal Mandado de
Segurança, com pedido de liminar, contra decisão do MM. Juízo de
Direito da Vara do Júri da Comarca de Atibaia.

Em extensas e bem elaboradas razões, alega que, pelo MM.


Juízo de Direito da Comarca de Atibaia, tramitam os autos de certo
processo por crime doloso contra a vida (tentativa de homicídio),
ocorrido na cidade de Nazaré Paulista.

Afirma também que, regularmente processado o feito perante


a 2a. Vara Criminal de Atibaia, foi proferida sentença de pronúncia,
que transitou em julgado.

Acrescenta que o referido processo foi distribuído à Vara do


Júri da Comarca de Atibaia.

No entanto, argumenta o digno impetrante, como foi instalado


em 8.10.2007 o Foro Distrital de Nazaré Paulista (integrado pelos
municípios de Nazaré Paulista e Bom Jesus dos Perdões), era esse o
competente para julgar a causa-crime, pelo que lhe deveriam ser
remetidos os autos.

A douta Juíza de Direito da Vara do Júri da Comarca de


Atibaia, porém, aduz o impetrante, não esteve pelo seu parecer e,
firme no princípio da “perpetuação da jurisdição”, indeferiu-lhe o
pedido de declinação da competência.

Irresignado com o teor do despacho, veio o combativo


impetrante impugná-lo a esta colenda Corte de Justiça (fls. 2/9).

O despacho de fls. 56/61 indeferiu a medida liminar pleiteada.

A mui digna autoridade judiciária indicada como coatora


prestou as informações de praxe (fls. 102/109), nas quais esclareceu
que “a distribuição da ação penal de que se cuida” decorreu da
“criação do Foro Distrital de Nazaré Paulista”.
78

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e objetivo


parecer do Dr. Renato N. Fabbrini, opina pela concessão da ordem
(fls. 88/90).

É o relatório.

2. Os argumentos expendidos pelo douto impetrante objetivam à


concessão da segurança para que os autos da ação penal a que
responde o réu MP perante o Juízo de Direito da Comarca de Atibaia
sejam remetidos à recém-criada Comarca de Nazaré Paulista,
competente para o seu processo e julgamento.

Cabe ressaltar, primeiro que o mais, que a decisão impugnada


não aberrou das normas de direito, antes professou a doutrina
geralmente recebida e o magistério da jurisprudência dos Tribunais.

Deveras, a lição de Vicente Greco Filho, a que se arrimou sua


distinta e competente prolatora, representa, acerca do ponto, a
“communis opinio doctorum”:

“Fixada a competência, mediante a aplicação de todos os


critérios anteriormente referidos, ela não mais se altera,
ainda que alguma alteração de fato ou de direito venha
a ocorrer posteriormente, como por exemplo a mudança
de domicílio do réu ou a criação de nova comarca
com desmembramento de anterior” (Manual de Processo
Penal, 4a. ed., p. 161).

Finalmente, o erudito José Frederico Marques:

“O art. 151 do Cód. de Proc. Civil consagra o denominado


princípio da perpetuatio jurisdictionis, consubstanciado
na máxima de que per citationem perpetuatur jurisdictio,
por entender que todo litígio deve terminar perante o juízo
em que foi iniciado: ubi acceptum est semel judicium, ibi
et finem accipere debet. Daí ter estatuído aquele texto do
79

Código que alterações supervenientes à propositura da


demanda (como as transformações relativas ao domicílio,
cidadania das partes, objeto da causa ou seu valor) não
influirão na competência do juízo” (Elementos de Direito
Processual Penal, 1a. ed., vol. I, p. 293).

3. De presente, contudo, é o entendimento exposto na petição de


mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público o que tem
prevalecido no âmbito dos Tribunais.

Com efeito, havendo consideração ao postulado capital da


instituição do Júri – julgamento do acusado por seus pares –, não
é possível, como acentuou a douta Procuradoria Geral de Justiça,
“invocar o princípio da perpetuação da jurisdição ante fato novo
que transmuda a competência, no caso estabelecida em razão da
matéria e, portanto, absoluta” (fl. 89).

Doutrina é essa que o Colendo Supremo Tribunal Federal tem


professado em arestos notáveis, de que faz menção (transcrevendo-
-lhes as ementas) o ven. acórdão, de que foi relator o eminente
Des. Sérgio Rui, proferido nos autos de Mandado de Segurança
nº 993.08.033428-5-Atibaia, juntado a estes autos por cópia (fls.
91/100):

I. “Júri: competência territorial: princípio da perpetuatio


jurisdictionis: incidência na fase anterior ao julgamento pelo júri.
1. Regra geral, aplica-se ao processo penal, por analogia o
princípio da perpetuatio jurisdictionis estatuído no art. 87 do Cód.
Proc. Civil (cf. RHC 83.181, Pleno, 6.8.03, red. p/ acórdão Joaquim
Barbosa, DJ 22.10.04). 2. Dadas as peculiaridades do processo nos
crimes dolosos contra a vida, contudo, somente se justifica a
aplicação do princípio da perpetuatio jurisdictionis na fase
anterior ao julgamento pelo Júri: se o objetivo é preservar o
julgamento do réu pelos seus pares, o que se deve alterar, no
momento próprio, ante a superveniência de nova divisão
judiciária, é apenas a competência territorial do Júri. 3. Nestes
80

termos, a competência originariamente estabelecida permanece


até a fase de apresentação da contrariedade ao libelo (Cód.
Proc. Penal, art. 421, par. único) ou, se deferidas diligências
eventualmente requeridas (Cód. Proc. Penal, art. 423), até serem
estas concluídas. 4. Portanto, o que se pode sujeitar à sanção de
nulidade relativa – passível de preclusão – é a eventual
realização do julgamento pelo Júri no foro originário e, ainda
assim, ressalvada a hipótese de para este não ser desaforado o
judicium causae. 5. Ausência, no caso, de irregularidade a ser
sanada, dada a aplicação, por analogia, do art. 87, do Cód. Proc.
Civil e consequente perda de relevo da disciplina dos Provimentos
COGER 19 e 25, do TRF/1a. Região” (STF; HC 89849/MG; 1a. Turma,
rel. Min. Sepúlveda Pertence; j. 18.12.06; DJU 16.2.07, p. 49);

II. “Competência — Júri — Nova circunscrição. A atuação do


Tribunal do Júri é norteada pelo princípio segundo o qual o réu
deve ser julgado pelos concidadãos (pares). Esta peculiaridade
transmuda a espécie de incompetência, excepcionando a regra
referente à definida a partir do elemento territorial. De relativa,
passa a absoluta. Desdobrada a área geográfica de um certo
Tribunal do Júri, criando-se um outro, para este devem ser
remetidos os processos em curso, pouco importando a fase em que
se encontrem, no que envolvam acusados domiciliados na área
resultante do desmembramento. Esta conclusão mais se robustece
quando haja surgido uma nova circunscrição, uma nova Comarca,
alfim, um novo foro, como ocorreu relativamente à organização
judiciária do Distrito Federal – Lei nº 8.185/91 – e, mais
especificamente, quanto às circunscrições de Taguatinga e
Ceilândia. Inaplicabilidade da norma vedadora da redistribuição
às novas Varas” (STF; HC 71810/DF; 2a. Turma; rel. Min. Marco
Aurélio; j. 27.9.94; DJU 25.11.94, p. 32.302).

Assim, dado que o lugar onde ocorreu o homicídio atribuído


ao réu – Nazaré Paulista – ostenta hoje a categoria de Foro
Distrital, é forçoso para aí remeter os autos da ação penal que lhe
instaurou a Justiça Criminal de Atibaia.
81

4. A questão submetida ao Tribunal, no entanto, já decaiu de


interesse e relevo, uma vez que a autoridade judiciária apontada
como coatora – a mui distinta e culta Juíza de Direito da Vara do
Júri da Comarca de Atibaia –, reconsiderando pedido da digna
Promotoria de Justiça, foi servida ordenar, por despacho de 28.7.08,
a remessa dos referidos autos ao Foro Distrital de Nazaré Paulista.

A pretensão do impetrante, destarte, foi já satisfeita.

Alguma ilegalidade (que pudesse ter havido) foi a tempo


reparada, restaurando-se a ordem jurídica.

A essa conta, perdeu seu objeto a impetração, pois


desapareceu a “causa petendi” (alegada violação de direito líquido e
certo).

Isso mesmo têm proclamado nossos Tribunais, como persuade


o ven. aresto abaixo comemorado por sua ementa:

“Perde o objeto o mandado de segurança quando a própria


autoridade revoga o ato atacado” (STJ; MS nº 6.377 — Minas
Gerais; rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito; j. 15.10.96).

Assim, tenho por prejudicada a impetração.

5. Pelo exposto, considero prejudicado o mandado de segurança.

São Paulo, 12 de setembro de 2008


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Mandado de Segurança nº 1.114.791-3/8-00


Comarca: São Paulo
Impetrante: ROL
Impetrado: MM. Juízo de Direito da 31a. Vara Criminal da
Comarca da Capital

Voto nº 9244
Relator

—“(...) parece-nos, portanto, mais consentâneo com o


espírito da Constituição entender-se não ser aplicável
a limitação temporal de cento e vinte dias para o
exercício da garantia constitucional do mandado de
segurança (...)” (Nelson Nery Jr., Código de Processo
Civil Comentado, 9a. ed., p. 1.300).

—“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial


passível de recurso ou correição” (Súmula nº 267 do
STF).

—“É apelável a decisão que indefere pedido de restituição


de coisa apreendida”(Rev. Tribs., vol. 525, p.363).

—“Dominando o instituto da restituição das coisas


apreendidas, há uma regra muito importante que
deflui do art. 118 do Cód. Proc. Penal: antes de
transitar em julgado a sentença final, as coisas
apreendidas não poderão ser restituídas enquanto
interessarem ao processo” (Tourinho Filho, Processo
Penal, 1997, vol. III, pp. 5-7).
83

— Direito líquido e certo é aquele “sobranceiro a


qualquer dúvida razoável e maior do que qualquer
controvérsia sensata” (Orosimbo Nonato; apud Carlos
Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de
Segurança, 4a. ed., p. 66).

1. Contra a r. decisão do MM. Juízo de Direito da 31a. Vara


Criminal da Comarca da Capital, indeferindo-lhe pedido de
restituição de veículo, impetra ROL Mandado de Segurança a este
Egrégio Tribunal, levando a mira em reformá-la.

Afirma, na petição de fls. 2/6, que policiais apreenderam


o veículo Volkswagen/Logus GLi 1.8, placa BQZ 7890, de sua
propriedade, que estava em poder do irmão EFS, suspeito da prática
de crime.

Alega que lhe emprestara o veículo, porém não tinha ciência


de que o usaria para a prática de ilícitos penais.

Acrescenta que o ato do nobre Juízo lhe está causando dano


excessivo, pela desvalorização e deterioração do veículo.

Pleiteia, portanto, à colenda Câmara tenha a bem conceder


a segurança para o efeito de lhe ser restituído o veículo de sua
propriedade.

À petição inicial foram acostadas cópias de peças processuais


de interesse da ação (fls. 8/30).

O despacho de fl. 33 indeferiu a medida liminar pleiteada.

A mui digna autoridade impetrada prestou as informações de


praxe (fls. 37/38) e informou que os autos foram remetidos a este
Egrégio Tribunal de Justiça.

Ao ofício de informações foram acostadas novas cópias de


peças dos autos da ação penal (fls. 63/123).
84

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e incisivo


parecer do Dr. Valter de Jesus Fernandes, opina pelo não-
-conhecimento do pedido, por extemporâneo, ou pela denegação da
segurança (fls. 40/41).

É o relatório.

2. Conheço do pedido, a despeito da matéria preliminar de


intempestividade que suscitou a douta Procuradoria Geral de
Justiça (fl. 40).

Deveras, embora disponha o art. 18 da Lei nº 1.533/51 (Lei do


Mandado de Segurança) que o direito de requerer mandado de
segurança extingue-se após 120 dias da ciência, pelo interessado,
do ato impugnado, tem sido a referida norma arguida de
inconstitucional.

A lição do preclaro Nelson Nery Jr. faz ao propósito:

“Diante de tudo isso, parece-nos, portanto, mais consentâneo


com o espírito da Constituição entender-se não ser aplicável
a limitação temporal de cento e vinte dias para o exercício
da garantia constitucional do mandado de segurança (...)”
(Código de Processo Civil Comentado, 9a. ed., p. 1.300).

3. Sem embargo dos bons esforços de seus advogados, a


segurança que o impetrante requer não lhe pode ser concedida.

De feito, reza a Súmula nº 267 da jurisprudência do Colendo


Supremo Tribunal Federal que “não cabe mandado de segurança
contra ato judicial passível de recurso ou correição”.

Ora, no caso de que se trata, competia ao impetrante impugnar


mediante o recurso adequado – que não o mandado de segurança
– a decisão que lhe indeferiu o pedido de restituição de coisa
apreendida.
85

Tal recurso, na conformidade da boa doutrina e da


jurisprudência consagrada pelos Tribunais, era a apelação.

O magistério do insigne Damásio E. de Jesus vem aqui a pelo:

“É apelável a decisão que indefere pedido de restituição de


coisa apreendida (TACrimSP, RT 525/363 e 485/ 314), não
cabendo correição parcial, que não pode ser conhecida ainda
que manifestada no prazo do apelo (TACrimSP, RT 549/343)”
(Código de Processo Penal Anotado, 17a. ed., p. 424).

Faz muito ao caso, igualmente, a lição de Hely Lopes Meirelles:

“Inadmissível é o mandado de segurança como substitutivo do


recurso próprio, pois por ele não se reforma a decisão
impugnada, mas apenas se obtém a sustação de seus efeitos
lesivos ao direito líquido e certo do impetrante, até a revisão
do julgado no recurso cabível” (Mandado de Segurança, 17a.
ed., p. 35).

A hipótese dos autos, portanto, cai sob a disciplina do art. 5º,


nº II, da Lei nº 1.533/51: “Não se dará mandado de segurança
quando se tratar: II — de despacho ou decisão judicial, quando haja
recurso previsto nas leis processuais ou possa ser modificado por
via de correição”.

4. Mas, ainda que se admitisse como o recurso curial para


impugnar decisão denegatória de pedido de restituição, não havia
deferir, “in casu”, o mandado de segurança.

Em verdade, nisto de devolução de coisas apreendidas, é força


atender à regra do art. 118 do Código de Processo Penal, “antes de
transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não
poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo”.
86

Assim, conforme salientou o parecer da douta Procuradoria


Geral de Justiça: “a questão da propriedade do veículo é
controvertida, na medida em que o impetrante admitiu a venda do
veículo” (fl. 41).

Esta, aliás, é a lição da doutrina:

“Dominando o instituto da restituição das coisas apreendidas,


há uma regra muito importante que deflui do art. 118 do
Cód. Proc. Penal: antes de transitar em julgado a sentença
final, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas
enquanto interessarem ao processo” (Tourinho Filho, Processo
Penal, 1997, vol. III, pp. 5-7).

O pedido do impetrante, destarte, carece de fomento de bom


direito.

5. À derradeira, por atribuição constitucional (art. 5º, nº LXIX,


da Const. Fed.), destina-se o mandado de segurança a proteger
direito líquido e certo, convém a saber, aquele que, na frase de
Orosimbo Nonato, “é sobranceiro a qualquer dúvida razoável e
maior do que qualquer controvérsia sensata” (apud Carlos Alberto
Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed., p. 66).

“Direito líquido e certo” – esclareceu o eminente Ministro do


Superior Tribunal de Justiça Carlos Alberto Menezes Direito – “é
aquele de conhecimento manifesto, insuscetível de qualquer dúvida
razoável” (op. cit., p. 192).

Ora, não reveste esse caráter a postulação do impetrante; logo,


não há deferir-lhe a segurança pleiteada.

6. Pelo exposto, denego a segurança.

São Paulo, 14 de setembro de 2007


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

6
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Mandado de Segurança nº 990.08.157453-5


Comarca: Itapetininga
Impetrante: DFB

Voto nº 11.258
Relator

— Ao contrário do “habeas corpus” —— que “poderá ser


impetrado por qualquer pessoa” (art. 654 do Cód.
Proc. Penal) ——, somente poderá requerer mandado de
segurança quem detiver o “jus postulandi”, isto é, o
advogado no exercício pleno de seu múnus.

— Questões relativas à progressão de regime prisional


e a outros incidentes de execução da pena são da
competência originária do Juízo das Execuções
Criminais (art. 66, nº III, alínea f, da Lei de Execução
Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe
o reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso
deferi-lo na via sumaríssima e estreita do mandado de
segurança.

— Em obséquio à segurança jurídica – objetivo a que


devem atender, por princípio, todas as decisões da
Justiça –, não há conceder mandado de segurança
senão em face de direito líquido e certo, que,
na expressão memorável de Hely Lopes Meirelles,
“é direito comprovado de plano” (Mandado de
Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).
88

1. DFB, em causa própria, impetra a este Egrégio Tribunal


Mandado de Segurança Preventivo sob a alegação de que sofre
iminente violação de direito líquido e certo.

Alega o impetrante, na petição manuscrita de fls. 2/5, que,


sob o regime prisional fechado, cumpre pena privativa de liberdade
que lhe impôs a Justiça Criminal.

Afirma que, ante a desativação das Penitenciárias I e II de


Bauru, foi removido para a Penitenciária de Guareí II. Receia no
entanto por sua vida, já que membros de facção criminosa juraram
eliminá-lo.

Argumenta que só a transferência imediata para outro


estabelecimento prisional poderá livrá-lo da morte.

Destarte, pleiteia à colenda Câmara tenha a bem conceder-lhe


a segurança e transferi-lo para a Penitenciária II de Sorocaba.

Não instruiu o pedido com documento algum.

A mui digna autoridade impetrada prestou as informações de


praxe (fls. 17/18) e informou que o impetrante se encontra recolhido
na Penitenciária de Guareí, em cumprimento de pena.

Esclareceu ainda que, nos autos de execução penal relativa ao


impetrante, não há pedido algum de transferência de presídio sob o
fundamento de “risco de vida”.

Rematou Sua Excelência que “os detentos recolhidos nas


penitenciárias em questão (Guareí I e Guareí II) têm usado
deste argumento para pleitear suas transferências para
estabelecimentos prisionais localizados em regiões mais próximas
de seus familiares” (fl. 18).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e incisivo


parecer do Dr. Saulo de Castro Abreu Filho, opina pela extinção do
processo sem o julgamento do mérito, ou pela denegação da
segurança (fls. 20/25).
89

É o relatório.

2. A preliminar arguida em seu parecer pela douta Procuradoria


Geral de Justiça procede às inteiras: carece o impetrante de
capacidade postulatória.

Com efeito, ao invés do que ocorre com o “habeas corpus” ——


que “poderá ser impetrado por qualquer pessoa” (art. 654 do Cód.
Proc. Penal) e prescinde de procuração “ad judicia” (cf. Damásio E.
de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 527) ——,
mandado de segurança unicamente poderá requerer o que detiver o
“jus postulandi, isto é, o poder de agir e de falar em nome das
partes no processo” (cf. José Frederico Marques, Elementos de
Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. II, p. 24).

Ora, a petição inicial não foi subscrita por quem tenha poderes
para procurar em Juízo.

Destarte, forçosa e pontual é a conclusão do douto parecer da


Procuradoria Geral de Justiça: “(...) o impetrante é desprovido de
capacidade postulatória que nada mais é do que exigência legal
para que um indivíduo possa ir a juízo pleitear um direito,
ressalvado raríssimas hipóteses em lei previstas – tal como em
certas demandas nos Juizados Especiais Cíveis – indispensável é
que o mesmo venha representado por um advogado constituído nos
autos, sendo, portanto, considerada inexistente uma petição não
subscrita por um causídico” (fl. 23).

Pelo mesmo teor, a jurisprudência dos Tribunais:

“Aquele que não é advogado somente pode postular na Justiça


Criminal habeas corpus, em seu próprio benefício ou de
terceiro, e revisão criminal de sua condenação, sendo-lhe
vedado requerer mandado de segurança, mesmo que
em causa própria” (Rev. Tribs., vol. 633, p. 276; rel. Cunha
Camargo).
90

Pelo que, não há conhecer da pretensão do impetrante.

3. Ao demais, a providência que reclama o impetrante não haverá


de pleiteá-la à Câmara, senão ao Juízo da Execução, ao qual toca,
originariamente, o exame de questões relativas a incidentes de
execução penal (art. 66, nº III, alínea f, da Lei de Execução Penal);
ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o reexame do ponto ali
decidido.

Além de que, o impetrante não fez prova do alegado; esqueceu-


-lhe a regra principalíssima em Direito: o ônus da prova incumbe
àquele que alega (“onus probandi ei qui dicit”).

A alegação que faz o impetrante – de que receava pela


própria vida no presídio – não assenta porém em prova, mesmo
indireta ou indiciária. Competia-lhe demonstrá-lo, instruindo seu
pedido com provas pré-constituídas.

Esta é a doutrina consagrada nos Tribunais, conforme a


advertência de Maynz: “o magistrado não acredita em nada, tudo
deve ser provado” (Washington de Barros Monteiro, Curso de
Direito Civil, Parte Geral, 3a. ed., p. 257).

No caso, tal prova devia ser produzida por mais forte razão,
já que insistentes rumores correm na esfera da Comarca de
Itapetininga, de que “os detentos recolhidos nas penitenciárias em
questão (Guareí I e II) têm usado deste argumento para pleitear
suas transferências para estabelecimentos prisionais localizados
em regiões mais próximas de seus familiares” (fl. 18).

4. Cumpre notar que o direito do impetrante não é líquido, certo


e incontroverso; ao invés, contrapõe-se-lhe a expressão mesma da lei
(art. 5º, nº LXIX, da Const. Fed.).
91

Deveras, não se presumem, na lei, palavras inúteis, conforme


retrilhado aforismo.

Em suma, o direito que invoca o impetrante carece dos


pressupostos de liquidez e certeza.

A lição de Hely Lopes Meirelles vem aqui de molde:

“Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua


existência, delimitado na sua extensão e apto a ser
exercitado no momento da impetração. Por outras
palavras, o direito invocado, para ser amparável por
mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal
e trazer em si todos os requisitos e condições de sua
aplicação ao impetrante: se a sua existência for duvidosa;
se a sua extensão ainda não estiver delimitada; se o
seu exercício depender de situações e fatos ainda
indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora
possa ser definido por outros meios judiciais.

Quando a lei alude a direito líquido e certo, está


exigindo que esse direito se apresente com todos os
requisitos para o seu reconhecimento e o seu exercício no
momento da impetração. Em última análise, direito
líquido e certo é direito comprovado de plano” (Mandado de
Segurança e Ação Popular, 5a. ed., p. 16).

Ainda:

“Ausente o pressuposto básico à sua concessão, que é a


existência de direito incontroverso a amparar o pedido dos
impetrantes, é de ser denegado o mandado de segurança”
(Rev. Tribs., vol. 611, p. 352; rel. Dirceu de Mello).

Em suma: por exceder às lindas do remédio heroico do


mandado de segurança e por falta de regular representação
processual, impossível conhecer desta impetração.
92

5. Pelo exposto, não conheço da impetração.

São Paulo, 2 de fevereiro de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio; pronúncias e
construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos Jurídicos);
Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
56. Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência);
57. Alimentos (Doutrina e Jurisprudência);
58. Estado de Necessidade (Doutrina e Jurisprudência);
59. Receptação (Doutrina e Jurisprudência);
60. Inquérito Policial. Indiciamento (Doutrina e Jurisprudência);
61. A Palavra da Vítima e seu Valor em Juízo;
62. A Linguagem do Advogado;
63. Memorando aos Colegas da Advocacia e da Magistratura.
www.scribd.com/Biasotti
Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência) Carlos Biasotti

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