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OXIGENIOTERAPIA 1

Isabel Maria Henriques Simões


Amélia Filomena Oliveira M. Castilho
José Carlos Amado Martins

O oxigénio é um elemento vital sem o qual as células são incapazes de


desenvolver de forma eficiente as suas actividades ou mesmo sobreviver.
Como qualquer outro fármaco, não está isento de riscos, pelo que requer na sua
utilização que o enfermeiro conheça correctamente as suas indicações, métodos de
administração, doses adequadas e efeitos secundários.
A oxigenoterapia consiste na administração de oxigénio suplementar com o
objectivo de elevar ou manter a saturação de oxigénio acima de 90%, corrigindo os
efeitos da hipoxémia, assegurando assim a correcta oxigenação celular.
O recurso à oxigenoterapia deve ser bem ponderado e sempre que possível, com
base em parâmetros utilizados para avaliar o grau de oxigenação sanguínea. A pressão
parcial de oxigénio (PaO2), no sangue arterial, normalmente entre 70 e 100 mmHg,
deve ser avaliada. Valores abaixo da normalidade indicam trocas gasosas ineficientes.
Outro índice importante é a saturação da oxigénio arterial (SaO2) que é
proporcional à quantidade de oxigénio transportado pela hemoglobina. O valor normal é
igual ou maior que 97% e pode ser monitorizada pela oximetria de pulso ou de forma
invasiva por análise do sangue arterial (gasometria). A saturação venosa de oxigénio
(SvO2), a pressão de oxigénio venoso misto (PvO2), a pressão parcial de CO2 (PaCO2)
e o conteúdo do oxigénio arterial (CaO2) são outros parâmetros que devem ser
considerados.
A oxigenoterapia está pois indicada sempre que exista uma deficiência no aporte
de oxigénio aos tecidos. A hipoxia celular pode ser causada pela diminuição da
quantidade de oxigénio no ar inspirado (exposição a elevadas altitudes), diminuição da
ventilação alveolar, alterações na relação ventilação/perfusão, aumento do shunt
intrapulmonar, alterações de transferência gasosa, em situações de choque hipovolémico
e diminuição ou alterações moleculares da hemoglobina.

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Adaptado de artigo publicado na Revista Referência nº6 (Maio, 2001)
MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO

O método de administração depende essencialmente da concentração de oxigénio


que se pretende administrar, do padrão respiratório e ainda das características do doente.
Existem sistemas de administração de baixo e alto débito:

Os sistemas de baixo débito fornecem oxigénio com fluxo menor que as


necessidades do doente, com concentrações que variam de 24 a 90%, pelo que a este se
associa o ar ambiente para satisfazer todo o volume inspiratório necessário A utilização
do sistema de baixo débito implica que o doente apresente um ritmo respiratório
regular, com volume corrente maior que 5ml/kg e uma frequência respiratória menor
que 25 ciclos por minuto.
Nos sistemas de baixo débito o oxigénio pode ser administrado por:

- cateter nasal;

- cânula nasal;

- máscara simples;

- máscara de reinspiração parcial.

Fig 1- Sistemas de baixo débito


O cateter e a cânula nasais são dispositivos que podem ser utilizados quando se
pretendem administrar concentrações baixas, inferiores a 40% (5-6 l/m). Os dois
métodos são normalmente bem tolerados pelo doente, no entanto a cânula apresenta
algumas vantagens em relação ao cateter, por ser menos traumática da mucosa nasal e
não provocar irritações da faringe.
As máscaras, embora não tão bem toleradas como os métodos anteriores, são
extremamente úteis quando há obstrução nasal ou quando se pretende administrar
concentrações de oxigénio superiores a 40%. A particularidade da máscara de
reinspiração parcial é que permite que o doente reinspire um terço do ar que expirou, ar
este rico em oxigénio, aumentando assim a concentração de oxigénio administrado.
Os sistemas de alto débito proporcionam a quantidade suficiente de gás necessária
ao volume de ar inspirado e não são afectadas pelo padrão respiratório do doente.
São sistemas de alto débito:

- máscara de não reinspiração parcial;

- máscara de Venturi.

Fig 2- Mascara de Venturi

A primeira permite administrações de altas concentrações de oxigénio, mas sem


humidificação, o que se afigura como uma desvantagem, dada a tendência do gás para
secar as mucosas. A máscara de Venturi é munida de um dispositivo, que lhe confere
grande precisão, permitindo administrações exactas tanto altas como baixas, além de
aumentar a velocidade de débito do gás, pelo que são particularmente úteis em doentes
com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

MATERIAL

- fonte de oxigénio;

Fig 3 - Rampa de oxigénio

- fluxómetro;

Fig 4 - Fluxómetro e humidificador com água destilada

- humidificador com água destilada em conformidade com as instruções do


fabricante;
- tubo conector;
- cateter, cânula ou qualquer outro dispositivo consoante o método seleccionado;
- lenços de papel;
- material para higiene nasal e oral;
- saco para sujos;
- luvas de protecção.

Sempre que o método de administração seleccionado for o cateter nasal deve fazer
parte do material:
-lubrificante hidrossolúvel;
-espátula;
-adesivo hipoalérgico.

TÉCNICA

- Identifique o doente e seleccione o método de administração de acordo com as


características e a prescrição clínica.
- Explique o procedimento ao doente
- Posicione o doente em semi-fowler, sempre que a sua situação o permita.
- Proceda à lavagem das mãos.
- Prepare o material necessário.
- Coloque água destilada no copo do humidificador até ao nível aconselhado.
- Efectue higiene oral e nasal (se utiliza cateter, deve limpar a pele do nariz para
uma melhor aderência do adesivo), utilizando as luvas de protecção e desperdiçando-as
em seguida.
- Adapte o tubo conector à saída do gás do humidificador.
Se utiliza cateter, meça a distância entre a fossa nasal e o pavilhão auricular, para
determinar a porção de cateter a introduzir na narina. A sua introdução deve ser feita
com movimentos suaves, após ter sido lubrificado. Verifique com ajuda da espátula a
correcta colocação do cateter na orofaringe e fixe-o com uma tira de adesivo ao nariz.

Fig. 5 - Sequência de introdução do cateter nasal


Se utiliza cânula ou máscara, estas devem ser ajustadas às fossas nasais ou face
respectivamente, para que se reduza ao mínimo as fugas de gás.
- Adapte o cateter, cânula ou máscara ao tubo conector de oxigénio e regule no
fluxómetro o débito pretendido.
- Proceda à recolha do material que foi utilizado na execução da técnica, dando-
lhe o destino adequado.
- Antes de deixar o doente certifique-se da sua reacção ao tratamento.
- Proceda à lavagem das mãos.
- Registe o procedimento executado, hora, método utilizado, dose e duração da
administração assim como a reacção do doente ao tratamento.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

A oxigenioterapia previne ou inverte a hipoxémia e reduz o trabalho respiratório


(a hiperventilação é uma resposta normal ao déficie de oxigénio).
O estado de oxigenação de um doente deve idealmente proporcionar uma pressão
parcial de oxigénio no sangue arterial (PaO2) entre 70 e 100 mmHg e consequentemente
obter-se uma saturação de oxigénio na hemoglobina superior a 90%. Considera-se
hipoxémia valores de PaO2 inferiores a 70 mmHg com necessidade de suplemento de
oxigénio. Convém aqui relembrar que doentes com DPOC, caquexia ou em ventilação
mecânica prolongada apresentam habitualmente valores de PaO2 mais baixos, sendo este
o estímulo para respirarem. Subidas bruscas destes valores por administrações de
grandes concentrações de oxigénio (> 40%) reduz ou anula-lhe esse estímulo
ventilatório podendo provocar-lhes hipoventilação ou desenvolver apneia.
Embora o pulmão possua alguma capacidade de adaptação a concentrações de
oxigénio superiores às do ar atmosférico, esta capacidade é limitada, pelo que
concentrações elevadas e prolongadas produzem efeitos adversos e toxicidade
(atelectasias, colapso alveolar e desenvolvimento de síndrome de dificuldade
respiratória aguda - SDRA), pelo que se deve ter sempre em conta que:
- Na presença de hipoxémia, a oxigenioterapia não pode ser vista como um
procedimento isolado mas sim inserida num conjunto de intervenções que melhorem a
oxigenação sanguínea (arejamento, relaxamento, humidificação, drenagem brônquica e
aspiração de secreções).
- Usar sempre que possível a mais baixa concentração de oxigénio, a mínima
suficiente para manter uma PaO2 dentro de valores aceitáveis.
- A administração prolongada de concentrações de oxigénio superiores a 50%
potencializa os efeitos tóxicos do gás. Utilização de concentrações mais altas durante
menos tempo acarreta menos riscos para o doente.

- O oxigénio é um gás comburente e seco, pelo que requer alguns cuidados


especiais no seu manuseamento, de forma a prevenir possível combustão de produtos
que sejam facilmente inflamáveis e que se encontrem perto da fonte gasosa.
- Deve ser sempre humidificado, diminuindo assim, o risco de lesão das mucosas
das vias respiratórias provocada pela sua secura.
- Com o objectivo de prevenir infecções nosocomiais, os sistemas de
administração de oxigénio devem ser mudados diariamente quando o doente faz
oxigenioterapia 24 horas/dia, ou sempre que inicia o procedimento no caso deste ser
intermitente.
- Deve avaliar se periodicamente a funcionalidade do sistema de oxigenioterapia.

A avaliação do tratamento deve ser contínua e com base em dados objectivos


(gasometria e oximetria), de forma a podem fazer-se os ajustes necessários ou mesmo
suspender a terapêutica, tendo particular cuidado na vigilância da oxigenioterapia em
doentes com DPOC. É igualmente importante o despiste precoce de efeitos adversos e
toxicidade do fármaco, no sentido de se poder, atempadamente, tomar as medidas
correctas.

BIBLIOGRAFIA

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PHIPPS, Wilma J; SANDS, Judith K; MAREK, Jane F. - Enfermagem médico-
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Guanabara Koogan, 1994. ISBN 85-277-0278-8.

FICHA DE TRABALHO

1 – Quais os procedimentos normalmente associados à oxigenoterapia e porquê?


2 – Que riscos estão associados à oxigenoterapia?
3 – Se a administração de oxigénio for por cateter nasal, que cuidados deve ter na sua
colocação?
4 – Quais os sinais e sintomas que nos podem dar a indicação de que o doente está em
hipoxémia?
5 – Em que aspectos devem incidir os registos sobre um doente que se encontra a fazer
oxigenoterapia?
NOTAS

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