O documento discute a construção simbólica da identidade socioterritorial do Nordeste brasileiro a partir da análise do filme "Central do Brasil". Historicamente, o Nordeste foi marcado por um imaginário criado por estereótipos midiáticos que retratam a região como pobre e carente. O filme reflete e reproduz esses estereótipos, contribuindo para a percepção do Nordeste como um território rígido preso ao passado.
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Título original
Construção Simbólica Da Identidade Socioterritorial Nordestina a Partir Da Análise Do Filme.2
O documento discute a construção simbólica da identidade socioterritorial do Nordeste brasileiro a partir da análise do filme "Central do Brasil". Historicamente, o Nordeste foi marcado por um imaginário criado por estereótipos midiáticos que retratam a região como pobre e carente. O filme reflete e reproduz esses estereótipos, contribuindo para a percepção do Nordeste como um território rígido preso ao passado.
O documento discute a construção simbólica da identidade socioterritorial do Nordeste brasileiro a partir da análise do filme "Central do Brasil". Historicamente, o Nordeste foi marcado por um imaginário criado por estereótipos midiáticos que retratam a região como pobre e carente. O filme reflete e reproduz esses estereótipos, contribuindo para a percepção do Nordeste como um território rígido preso ao passado.
NORDESTINA A PARTIR DA ANLISE DO FILME CENTRAL DO BRASIL
Hiram de Aquino Bayer
RESUMO
A regio Nordeste do Brasil marcada, historicamente, por um imaginrio criado em sua volta. Muito desse imaginrio criado acerca do Nordeste produto de esteretipos imagticos e de discursos estabelecidos pela mdia. Considerando a concepo de territrio simblico cultural que prioriza a dimenso simblica e mais subjetiva -, percebe-se que o Nordeste se constitui em uma espcie de territrio rgido, do qual pouco se muda em relao ao seu simbolismo, tanto por parte daqueles de fora, como para os prprios nordestinos. Como exemplo para elucidarmos como esse imaginrio aparece em produes artsticas, analisamos o filme Central do Brasil produo brasileira realizada em 1998, que retrata a histria de uma escriv de cartas da Central do Brasil, Rio de Janeiro, e sua saga para levar um menino recm- rfo de me a reencontrar seu pai no interior do nordeste. Considera-se, pois, a produo flmica no apenas como a representao da realidade, mas, tambm, como produtora dela. Dessa forma, analisar os discursos tecidos e as imagens postas em Central do Brasil, nos parece um bom exemplo, no meio de tantos outros, para se compreender a construo simblica dessa identidade socioterritorial nordestina. Palavras-Chave: Nordeste; Territrio; Identidade.
INTRODUO
O Nordeste brasileiro uma regio que, assim como todas as regies, apresenta particularidades que a distingui das demais. As msicas, as danas, o folclore, os aspectos naturais, so elementos elucidadores de um imaginrio acerca dessa regio que extrapola os limites de seu territrio e passam a povoar a cabea tanto dos prprios nordestinos, como do restante da populao. Esse pensamento sobre, formado a partir de esteretipos imagtico-discursivos, responsvel pelo desenvolvimento de um sentimento de pertencimento ao territrio, tornando-o preponderante na formao simblica de uma identidade socioterritorial nordestina. Neste trabalho utilizamos uma das ferramentas que cada vez mais tem ganhado importncia na anlise de realidades: as produes flmicas. Dessa forma, encontramos na produo brasileira Central do Brasil a partir das imagens e discursos postos - nosso objeto de reflexo para discutirmos a formao dessa identidade. Esse filme, portanto, se torna um espelho que reflete os esteretipos acerca da regio, sendo um elemento tanto propagador dessa realidade, como fruto dela.
UM POUCO SOBRE TERRITRIO
Antes de falarmos propriamente sobre os processos que levaram construo simblica da identidade socioterritorial do Nordeste de suma importncia deixar clara a abordagem de territrio de que se est falando, bem como sua perspectiva. Primeiramente, devemos ter em mente que o territrio concebido a partir de dois pressupostos: o material e o simblico. Esses dois componentes no devem ser vistos de forma separada, pelo contrrio, so indissociveis. Para Haesbaert (2007), o territrio se mostra, ao mesmo tempo, funcional e simblico, na medida em que as relaes de poder apresentam um papel tanto na realizao de funes, como na produo de significados. nesse contexto do territrio produtor de significados que se insere a regio Nordeste do Brasil. A abordagem do fim dos territrios em uma sociedade globalizada tem se constitudo em uma das vertentes de interpretao. No entanto, podemos considerar que o Nordeste permanece como uma unidade que se enraza a partir de discursos e aes que a torna perene no cenrio nacional. Pertencer a regio ainda um elemento que persiste e resiste ao processo de globalizao, que tende a comprimir distncias e a eliminar as diferenas a partir de um trnsito cultural com tendncia homogeneizadora. No Brasil, no s o Nordeste que apresenta essa permanncia, quando ampliamos o nosso olhar podemos enxergar outros exemplos como o gauchismo. Segundo Haesbaert (1997), o sentimento de pertencimento to forte no gacho que este, mesmo deslocado de seu espao geogrfico, o carrega consigo. Assim, a nordestinidade e o gauchismo so exemplos desse sentimento arraigado na coletividade que no esquece suas razes, que mesmo distante, permanecem se sentindo apegados quele territrio. Pertencer a um territrio, enaltecendo suas singularidades, o requisito primrio para a construo e sedimentao de uma identidade territorial nordestina, e sobre isso que vamos discutir a partir de agora.
TERRITRIO DA SAUDADE: O NORDESTE QUE NOS ACOSTUMAMOS
A primeira forma de identificao do sujeito com o espao ocorre com o nascimento. Mas no basta s nascer em um lugar para que se estabeleam os laos de pertencimento. Pertencer a um lugar faz parte de uma construo imagtico-discursiva que se realiza, cotidianamente, por meio de estratgias e smbolos que tecem a trama do poder. Para Bourdieu (2006), o poder simblico um poder de construo da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseolgica. Esse poder simblico seria responsvel por uma espcie de homogeneizao (pelo menos em parte) do sentido imediato do mundo, no que Durkheim, citado ainda pelo autor, chamaria de conformismo lgico. No Nordeste, a formao de um imaginrio est tramada com os fios de uma identidade forjada pela dinmica de uma natureza hostil e de uma doena, chamada de pobreza que no tem cura. Esse pertencer pautado nesses elementos identitrios foi ultrapassando o tempo e suas transformaes, de maneira que o Nordeste foi se constituindo como um territrio da saudade. O olhar voltou-se sempre para trs, visando destruir os germes transformadores que tendiam a arruinar as imagens perenes de sua regionalidade. Para Albuquerque Jr. (2011), trata-se de uma inveno territorial que comea a ser lapidado a muito tempo, com diversos movimentos que ocorrem nesse sentido. Talvez o mais emblemtico seja o Congresso Regionalista de 1926 ocorrido em Recife. O primeiro trabalho realizado pelo movimento cultural iniciado nesse congresso, designado de regionalista e tradicionalista foi, justamente, o de atribuir a regio uma origem, uma histria. De acordo com Albuquerque Jr. (2011, p.: 93):
O discurso tradicionalista toma a histria como o lugar da produo da memria, como discurso da reminiscncia e do reconhecimento. Ele faz dela um meio de os sujeitos do presente se reconhecerem nos fatos do passado, precisando apenas ser anunciada.
As origens histricas regionais vo ser o pano de fundo para justificar uma identidade cultural capaz de dar visibilidade a um conjunto de informaes, prticas e discurso que assumem o papel central no enredo regional. A disperso dessa ideia vai servindo de alimento para a produo da literatura, da msica, das artes plsticas, da poltica, da economia, enfim dos
diferentes segmentos sociais. A palavra escrita vai ganhando novos aliados que passam a verbalizar e divulgar certa caracterizao regional; as imagens estticas dos jornais, das pinturas, das fotografias, abrem caminho para as imagens em movimento e com sons. Tudo isso auxiliou na difuso de uma dizibilidade e visibilidade (ALBUQUERQUE JR., 2011) acerca do Nordeste. A produo artstica foi, provavelmente, a principal difusora desse imaginrio. As obras de escritores como Ariano Suassuna, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, a msica de cantores e compositores como Luiz Gonzaga, e estudos folcloristas e histricos de Cmara Cascudo e Gilberto Freire, por exemplo, so fontes inesgotveis de imagens que formam discursos e de discursos que formam imagens do Nordeste. A obra desses e de muitos outros esto baseados em um saudosismo socioespacial do Nordeste que resume o Serto em adjetivos como pacato, seco e pobre, e o litoral como rico, prspero e culto. O nordeste mais parece um territrio rgido, preso ao passado, s memrias imutveis, um territrio da saudade. Esse cenrio propicia a formao de esteretipos que extrapolam os limites regionais. So recorrentes os exemplos que so dados sobre o Nordeste em que se ressaltam os aspectos anteriormente mencionados. A mdia televisiva assume importante papel na propagao desses esteretipos. Noticirios, novelas, programas, em sua maioria nos arriscaramos a dizer, tratam de um Nordeste e de nordestinos em situaes socialmente desprivilegiadas sem, no entanto, mostrar outro lado do Nordeste, ajudando a fortalecer esses esteretipos. interessante tambm falar dos nordestinos que fogem regra e no se enquadram nessa homogeneizao. Quantas vezes no ouvimos ou mesmo falamos a clebre frase ah, voc no nordestino, pelo simples fato de no se gostar de alguma comida tpica, ou de no saber danar uma dana popular? Essa subverso regra, para Claval (2001), pode fazer com que haja uma criao de fronteiras entre grupos. Em nosso exemplo podemos pensar nessa subverso como, no mnimo, a prova desses esteretipos. Esse esforo por criar uma identidade nordestina torna-se herana e, como herana, passada de gerao em gerao. Como um gesto que repetido sem jamais sequer ter sido questionado, assim a identidade territorial nordestina.
DIZIBILIDADE E VISIBILIDADE DO NORDESTE EM CENTRAL DO BRASIL
Antes de adentrarmos propriamente s interpretaes sobre o filme, nos permitirmos a dissertar um pouco sobre a importncia da produo flmica para anlises de certos fenmenos, emergindo como um importante instrumento de pesquisa e campo rico para debates. Assim, O atual perodo de desenvolvimento tcnico pelo qual o mundo passa permite a utilizao de uma grande diversidade de possibilidades, que at ento no eram sequer concebidas de serem pensadas para se analisar realidades. Os filmes se mostram, na atualidade, como uma importante ferramenta que tem um amplo uso para essa finalidade. Pensaremos, aqui, na produo flmica no apenas como representao da realidade, mas, principalmente, como formadora dela. Dessa forma, a produo flmica, alm de ter arraigada nela os esteretipos existentes, seja quais forem, auxilia tambm na perpetuao desses esteretipos. De acordo com Gomes (2008, apud COSTA, 2009, p. 193) as representaes imagticas no espelham o mundo, elas o criam. A partir disso podemos citar o filme Central do Brasil como uma produo que ajuda a formar e a perpetuar uma simbologia identitria acerca do Nordeste. As imagens que so postas no caminho de regresso ao Nordeste por parte dos dois personagens principais acionam um imaginrio sobre a regio que formada por esteretipos imagticos e sobre discursos postos pela mdia e pela produo artstica, inclusive, dos prprios nordestinos. A seguir analisaremos Central do Brasil retomando algumas das discusses que tecemos at agora, mostrando como se d esse processo de dizibilidade e visibilidade do Nordeste nessa produo. Central do Brasil, em linhas gerais, uma produo brasileira realizada em 1998, que retrata a histria de uma escriv de cartas (Dora) da Central do Brasil, Rio de Janeiro, e sua saga para levar um menino (Josu) recm-rfo de me a reencontrar seu pai no interior de Pernambuco, Nordeste brasileiro, em uma cidade de nome Bom Jesus do Norte. O caminho de retorno ao nordeste posto a partir de uma srie de imagens e discursos que nos
possibilita utilizar esta produo para refletir sobre a formao da identidade nordestina, baseada em esteretipos imagtico-discursivos. Longe de querer realizar uma descrio exaustiva do filme ou ter o trabalho de um crtico at porque no teramos competncia para isso utilizaremos algumas imagens e discursos para problematizar o que estamos discutindo nesse trabalho. O filme tem incio na Central do Brasil, estao de trem situada no Rio de Janeiro. H nesse incio uma infinidade de rostos que passam, sem que se saiba a suas identidades. Dora, a escritora de cartas, comea seus trabalhos, algumas pessoas passam por ela, dissertam suas ideias que ela transforma em cartas e, aps algum tempo, podemos identificar as suas origens: a maioria so nordestinos. A carta representa o meio de comunicao entre aquele que partiu e aquele que ficou, sendo o primeiro indcio que a pelcula flmica nos lega sobre que imaginrio ser explorado em seu enredo. Os nordestinos so imigrantes que trazem consigo um territrio de saudades. A me do garoto Josu era uma das clientes de Dora. Em um acidente fatdico, minutos aps ter pedido Dora para redigir uma carta para seu marido que se encontrava no Nordeste, vem a falecer deixando Josu sozinho. Aps vrios desdobramentos, Dora decide levar Josu para sua casa. Nesse momento um dilogo entre os dois chama ateno. Dora fala a Josu da distncia que seu pai se encontrava: seu pai mora a milhares de quilmetros, ele mora em outro planeta. Alimentados pela discursividade da carncia, o Nordeste imaginado e posto em movimento se constitui em um territrio isolado, distante das transformaes que so vivenciadas em regies como Sul e Sudeste. O territrio sem oportunidades, sem desenvolvimento, onde predomina a seca, o analfabetismo e a pobreza esto bem distantes do sopro que anima a grande cidade. A trajetria de Dora e Josu para o Nordeste um autntico Road Movie (filme de estrada) gnero em que o enredo se desenvolve durante uma viagem. Agora as imagens postas assumem um carter sumariamente de clichs. A seca vem tona, mostra-se a pacacidade, a ruralidade, a falta de infraestrutura dos ambientes que atravessam essa viagem. As imagens a seguir confirmam o imaginrio do Nordeste baseado na seca. Bem sabido que a indstria da seca no nordeste surge no intuito de se garantir recursos para a regio. Dessa forma, essa imagem veiculada
fortemente pela mdia sem ser combatida, afinal de contas ela uma grande auxiliadora na obteno de dinheiro para encher os bolsos dos polticos da regio. O discurso da seca se faz presente tambm na fala dos personagens. Ao final do filme algum reza agradecendo a Bom Jesus pela chuva que veio sobre suas terras: Obrigado, Bom Jesus, por ter feitos chover l na roa.
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As imagens e os discursos sobre um Nordeste pouco desenvolvido bastante forte. Basta perguntar a algum de outra regio do pas, principalmente do Sul e Sudeste, sobre qual era sua viso a cerca do Nordeste que provavelmente voc ir escutar uma resposta, falando dele prprio ou de algum conhecido, sobre um Nordeste onde no h cidades desenvolvidas, com predomnio dos campos secos, sombrios e pouco coloridos. As imagens a baixo mostram cenas do filme que reforam esse pensamento.
Figura 1: Imagens da seca em "Central do Brasil". Fonte: imagens retiradas do prprio filme.
Figura 2: Imagem do Nordeste com reas pobres em "Central do Brasil". Fonte: imagem retirada do prprio filme.
A figura a cima mostra bem a situao do nordeste pobre, atrasado. Na primeira imagem, uma casa modesta, na beira da estrada, ao fundo uma imensido de nada, apenas vegetao. Na segunda imagem o nordeste ainda rural, pr-capitalista, a porteira e a cerca do a tnica desse imaginrio; o solo sem nenhum tipo de cobertura, totalmente exposto ajuda a enfatizar; ao longe mais casas humildes. Outro imaginrio recorrente sobre o Nordeste o da falta de infraestrutura. O filme apresenta isso com bastante veemncia durante todo o trajeto em direo a Bom Jesus do Norte. As vrias paradas que ocorrem mostram rodovirias que parecem abandonadas ou que no possuem o
mnimo de infraestrutura ou conforto. Isso se mostra tambm nos comrcios em que os personagens realizam algumas paradas. As lanchonetes e mercadinhos mais parecem comrcios de sculos passados, onde ainda prevalecia relaes pr-capitalistas. Abaixo algumas imagens que exemplificam esse fato. A primeira exibe um comrcio com visvel falta de estrutura de qualidade; a segunda, uma das rodovirias em que a dupla chega; pela cabine de passagens imagina-se como deveria ser o restante da rodoviria.
Outro ponto a ser salientado diz respeito ao transporte que utilizado. Percebe-se que as cenas que permeiam o filme se baseiam, essencialmente, em um Nordeste pobre. So vistos poucos automveis e, assim como as casas, os que so mostrados so automveis visivelmente mal conservados. A primeira imagem a baixo mostra uma carroa e uma bicicleta; a segunda Figura 3: Estabelecimentos precrios no Nordeste em "Central do Brasil". Fonte: imagens do prprio filme.
imagem mostra o famoso pau-de-arara, meio de transporte muito presente antigamente, mas pouco visto na atualidade.
Um dos imaginrios mais fortes que se faz do Nordeste quanto f de seus habitantes. As imagens das romarias, dos pagadores de f, do Padre Ccero, enchem o imaginrio das pessoas. Essa f chega, inclusive, a caracterizar seus habitantes, auto intitulados povo de f. Figura 4: Transportes pouco desenvolvidos no Nordeste em "Central do Brasil". Fonte: imagens retiradas do prprio filme.
Figura 5: A f como caracterstica do povo nordestino em "Central do Brasil". Fonte: imagens retiradas do prprio filme.
Um dos imaginrios que se sobressaem, perdendo apenas, talvez, para a seca, em relao ao esteretipo que faz da fisionomia do nordestino. O rosto sofrido devido sede e a fome, os trajes rotos, a pele marcada pelo sol, povoam o imaginrio de muitas pessoas.
Figura 6: Bitipo do "nordestino sofredor" em "Central do Brasil". Fonte: imagens retiradas do prprio filme.
Essa descrio no teve a pretenso de realizar uma crtica sobre o filme, pelo contrrio, acreditamos ser esta uma das maiores produes flmicas brasileiras. O utilizamos para mostrar como se d esse processo de dizibilidade e visibilidade acerca do Nordeste, como as imagens e os discursos foram postos nessa produo, promovendo uma reflexo sobre o que foi abordado anteriormente. Assim, o filme nos serviu como objeto de anlise e como um bom exemplo dos esteretipos imagtico-discursivos que feito na regio. Essas imagens e discursos so preponderantes para a formao de uma identidade socioterritorial do nordestino. Esses mecanismos fazem com que no apenas se crie uma identidade baseada em esteretipos, como pudemos ver no filme, que fazem parte da viso dos de fora do Nordeste pelo menos uma grande parte como tambm dos prprios nordestinos que se identificam
com esses esteretipos, formando um sentimento de pertencimento com esse territrio. importante salientar que todo o desenvolvimento da histria de Central do Brasil se desenvolve a partir desses esteretipos. As imagens utilizadas neste trabalho foram escolhidas dentre muitas outras, no so imagens pontuais, que apareceram poucas vezes durante a narrativa. Assim, percebemos que muitas produes foram influenciadas por esse imaginrio Central do Brasil foi apenas um exemplo e uma escolha nossa. E, mais que isso, as produes artsticas (no nosso caso a flmica) contribuem para a formao desse imaginrio, propagando esses esteretipos.
CONCLUSO
Nordeste uma fico! Nordeste nunca houve! (...) No, eu no sou do lugar dos esquecidos! No sou da nao dos condenados! No sou do serto dos ofendidos! Voc sabe bem: conheo o meu lugar Belchior
Como pudemos ver os discursos e as imagens postas historicamente ajudaram a forjar o que hoje chamamos de identidade nordestina. Essa identidade socioterritorial foi formada, sobretudo, a partir de esteretipos imagtico-discursivos acerca da regio e de seus habitantes. Esses esteretipos no apenas habitam o imaginrio daqueles que se encontram em outras regies, como tambm povoam a cabea dos prprios nordestinos, inclusive sendo eles prprios um dos principais formadores desses esteretipos. Os prprios nordestinos foram responsveis por uma indstria de dizibilidades e visibilidades sobre essa regio atravs de suas produes intelectuais e artsticas. Os filmes, as msicas, a literatura, os estudos folclricos, passaram a pensar o Nordeste a partir de um saudosismo, de uma saudade dos tempos que no voltam mais. O Nordeste torna-se, pois, em um territrio da saudade.
Todas essas imagens e discursos foram responsveis por uma formao de uma identidade socioterritorial nordestina, fazendo com que houvesse uma espcie de homogeneizao desse territrio, constituindo um imaginrio coletivo desses grupos, criando um sentimento de pertencimento a este territrio. Utilizamos a produo cinematogrfica brasileira Central do Brasil como objeto para analisarmos como estes esteretipos se fazem presentes. Atribumos a produo flmica um carter no apenas representacionista, mas tambm um carter formador de realidades. Assim, passamos a pensar esse filme como objeto desses esteretipos e, concomitantemente, como auxiliador na propagao dos mesmos. O Nordeste tambm estas imagens, mas no somente. O Nordeste se constitui em uma regio que vem crescendo cada vez mais, desenvolvendo-se, deixando para trs seu passado difcil, olhando para a realidade do presente e vislumbrando o sucesso do futuro.
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A Representação Da Figura Do Nordestino e Do Espaço Sertão em Filmes Brasileiros: Uma Análise Sobre As Discrepâncias Entre "Gonzaga, de Pai para Filho" e "Boi Neon"
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