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CENTRO DE ESTÁGIO

Prática Processual Civil

30 de Março de 2009

2º CURSO DE ESTÁGIO DE 2008

TESTE DE PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL


30 de Março de 2009

Imagine que, sendo já advogado, é procurado por Ambrosino Caldeira, residente em Sabacheira, Tomar, que
lhe relata a seguinte situação:

Em 24 de Abril de 1985, por acordo verbal com José e Carlota, residentes na Rua dos Caloteiros, nº 26, 1º,
em S. Brás de Alportel, Faro, casados segundo o regime da comunhão de adquiridos desde 1970, comprou a
estes um prédio rústico, sito na freguesia de Rendufe, concelho de Guimarães.

Os únicos documentos que possui quanto à venda, e que lhe entregou, são o recibo da quantia que pagou
(6.014.460$00, que correspondem hoje a 30.000,00 €) e o conhecimento de Sisa emitido pela Repartição de
Finanças competente.

Em 4 de Maio de 1990, o Ambrosino casou com Alice sem convenção antenupcial, com a qual teve
entretanto dois filhos.

Até recentemente o Ambrosino estava convencido de que tinha a situação do terreno regularizada, até porque
tem tido a posse pública e pacífica do terreno, e sempre pagou os impostos devidos na Repartição de
Finanças lá da terra, conforme mostram os recibos que lhe entregou.

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Sucede, porém, que recentemente ouviu dizer nas notícias da SIC que agora se podia pedir certidões do
registo predial pela internet, e ele quis experimentar, a ver como era o terreno dele na internet, mas não
apareceu nada. Foi à Conservatória reclamar por o prédio dele não aparecer na internet, e lá disseram-lhe
para tirar uma certidão ao balcão, o que ele fez.

Verificou então, com grande surpresa, e até se sentiu mal e teve de se sentar, que o prédio afinal ainda está
em nome do José e da Carlota.

A filha de um amigo, que está a fazer o estágio para ser advogada, disse-lhe que o recibo assinado pelos
vendedores não vale nada, e aconselhou-o a fazer uma escritura pública.

Mas acontece que o José e a Carlota, quando foram contactados para se fazer tudo direitinho, se recusaram a
fazer a escritura, e o Ambrosino desconfia que se calhar estão a querer usar o terreno para plantar ananases,
que é fruta que cresce depressa ali na zona e se vende muito bem para o estrangeiro.

O Ambrosino não se conforma em ficar sem o terreno, ao qual ficou muito ligado ao longo destes anos todos
e onde tem ensinado aos filhos as artes da agricultura biológica.

I – Tendo em conta a situação descrita, supra, e ficcionando apenas o estritamente necessário, elabore a
minuta da peça processual adequada à satisfação do interesse de Ambrosino.

(16 valores)

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II – Imaginando agora que no Processo n º 002 / 08.5 TJLSB, que corre termos no 4º Juízo Cível da Comarca
de Lisboa, 1ª Secção, recebe no seu escritório no dia 26 de Março de 2009, carta de notificação, expedida no
dia anterior do Tribunal, contendo o Despacho Saneador, de que não pretende interpor recurso, da Matéria de
Facto Assente e Base Instrutória, das quais não pretende reclamar e, simultaneamente, para cumprir o
disposto no artigo 512º, 1 do C. Processo Civil, diga:

1. Em que dia está notificado?


2. Qual o primeiro dia do prazo para apresentação da competente peça em juízo?
3. Qual o último dia para a apresentação da mesma peça em juízo?
4. Qual o ultimo dia para apresentar a peça em juízo com multa?

NOTA:

1. Na justificação às respostas das questões do segundo grupo, é suficiente a simples indicação das normas
jurídicas respectivas, desde que, completas;

2. A falta de justificação às respostas do segundo grupo, implica a sua não cotação;

3. As justificações deficientes implicarão desvalorização das mesmas, de acordo com o critério que irá ser
fixado no tópico de correcção do teste.

(4 valores)

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TÓPICOS DE CORRECÇÃO

QUESTÃO I

A) Correcta Identificação da competência do tribunal (Juízos Cíveis de Guimarães) 1,5

B) Correcta indicação da forma de processo (processo comum sumário) 0,5

C) Correcta identificação das partes

a) do Autor: 0,5 1
b) dos RR., com litisconsórcio necessário passivo: 0,5
se acção proposta apenas contra um dos “vendedores”, zero valores em b)

D) Correcta factualização e articulação dos seguintes items:

a) descrição e localização do prédio – 0,5


b) alegação da existência do acordo verbal – 0,5
c) data da aquisição da posse - 1
d) correcta indicação de que o preço foi integralmente pago – 0,5
11
e) posse pública – 2
f) posse pacífica – 2
g) posse de boa fé – 2
h) pagamento da SISA e impostos subsequentes – 0,5
i) recusa da outorga da escritura por parte dos RR. – 1
j) atribuição de valor ao prédio – 1

E) Correcta indicação da matéria de direito (arts. 1287º e 1296º, ambos do CC) – 0,25 cada 0,5

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F) Correcta formulação do pedido (reconhecimento de que o A (AA) adquiriu (adquiriram) o


0,5
direito de propriedade sobre o prédio por usucapião

G) Correcta indicação do valor da causa (30.000,00 €) 0,5

H) Juntada (procuração forense, documentos, cópia dos documentos, duplicado(s) e


0,5
comprovativo de pagamento da taxa de justiça inicial – 0,10 por cada

NOTAS:

1 – Caso o formando atribua ao prédio, na articulação da peça, um valor superior aos


30.000,00 € (preço pago) e, em consequência dessa atribuição e em simultâneo, dê o
referido valor à causa e considere que a acção segue a forma de processo comum ordinário, e
a tenha proposto nas Varas Mistas de Guimarães, nesse caso e apenas nesse caso, serão
devidas as cotações previstas para a competência do tribunal, a forma de processo e o valor
da causa.

2 – A acção deveria ser proposta contra ambos os “vendedores”, por estar em causa um bem
comum do casal. Quanto à legitimidade activa, embora se entenda que a acção poderia ser
proposta apenas pelo marido, admite-se que por mera cautela os formandos indiquem ambos
os cônjuges como AA.

3 – Se for elaborada peça diferente da acção declarativa correcta (p.ex. procedimento cautelar
ou acção de despejo), serão atribuídos ZERO valores aos pontos B, D, E e F, apenas podendo
ser cotados os pontos A, C, G e H.

4 – A indicação da “espécie de acção”, de entre as mencionadas no art. 4.º do CPC, era


irrelevante, já que apenas é obrigatória a indicação da forma de processo.

5 – Se for indicado Juízo, Vara, Secção e/ou nº de processo, atribuir-se-á zero valores à
indicação da competência do tribunal, ainda que territorial e materialmente correcta.

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QUESTÃO II

a) 30 de Março de 2009 – art. 254.º, nº 3 do CPC 1

b) 31 de Março de 2009 – art. 279.º, b) do CC ou 153.º, nº 2 do CPC 1

c) 23 de Abril de 2009 – arts. 512.º, nº 1 e art. 144.º, nº 1, ambos do CPC e art. 12.º da
1
LOFTJ

d) 28 de Abril – art. 145.º, nº 5 do CPC 1

Nota: A falta de justificação das respostas à Questão II implica a sua não cotação; à justificação
deficiente será atribuída cotação proporcional às normas jurídicas invocadas.

Não será atribuída qualquer cotação à justificação – ainda que tecnicamente correcta ou escorreita – caso
haja erro na data indicada.

Desvalorizações

Erros ortográficos Até -2 na globalidade da peça

6/6

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