Este documento resume o ensaio "Dialética da Malandragem", de Antonio Candido, no qual ele analisa o romance "Memórias de um sargento de milícias", de Manoel Antonio de Almeida. Candido usa o personagem Leonardo Filho para interpretar as relações sociais da época retratada no livro. Ele argumenta que a obra representa de forma implícita a realidade cotidiana do Rio de Janeiro do período joanino, mesmo que exclua os escravos.
Descrição original:
Resenha de Dialética da malandragem, de Antônio Cândido.
Este documento resume o ensaio "Dialética da Malandragem", de Antonio Candido, no qual ele analisa o romance "Memórias de um sargento de milícias", de Manoel Antonio de Almeida. Candido usa o personagem Leonardo Filho para interpretar as relações sociais da época retratada no livro. Ele argumenta que a obra representa de forma implícita a realidade cotidiana do Rio de Janeiro do período joanino, mesmo que exclua os escravos.
Este documento resume o ensaio "Dialética da Malandragem", de Antonio Candido, no qual ele analisa o romance "Memórias de um sargento de milícias", de Manoel Antonio de Almeida. Candido usa o personagem Leonardo Filho para interpretar as relações sociais da época retratada no livro. Ele argumenta que a obra representa de forma implícita a realidade cotidiana do Rio de Janeiro do período joanino, mesmo que exclua os escravos.
Resenha Dialtica da malandragem, de Antonio Candido.
Rodrigo E. Mendes
No toa que hoje, no Brasil, somos amplamente conhecidos e reconhecidos
por sermos um povo malandro e esperto. Tais eptetos, consagrados em msicas como Homenagem ao malandro, de Chico Buarque, por exemplo, apenas exprimem este sentimento h muito adquirido e cultivado. Sendo desta forma, era inevitvel que, em algum momento, a arte respondesse, neste caso em forma de romance, a este fato. Talvez dessa mistura sentimental frente efervescncia poltica o perodo joanino em que foi escrito, Memrias de um sargento de milcias, de Manoel Antonio de Almeida, seja um perfeito exemplo. Tendo como base o livro citado acima, Candido disseca, em seu ensaio intitulado Dialtica da Malandragem, no s o texto, mas tambm as relaes sociais poca. Assim como Kafka canalizou os preconceitos de uma sociedade inteira a um inseto em A Metamorfose, Candido usou Leonardo Filho para estabelecer sua linha de raciocnio para analisar o romance. A escolha foi oportuna, pois o prprio Almeida elencou o personagem a este nvel, transitando entre vrios mbitos da sociedade do Rio de Janeiro joanino. Atravs de 5 tpicos, Candido disseca vrios elementos da narrativa, demorando-se um pouco em seu protagonista, para ento abrir a gama de argumentos e alar sua interpretao a camadas scias que permeiam a produo do livro (como o fato de este ter sido escrito em folhetins em um espao satrico). Candido foi inteligente ao perceber os planos (in)voluntrios na obra de Manoel Antonio. Assim, foi possvel que argumentasse o quanto o texto de Almeida social justamente representar o cotidiano carioca ao passo que simula acontecimentos corriqueiros de uma sociedade como esta era. O fato de o autor das Memrias transitar por diversas classes sociais desde barbeiros a sargentos-, faz com que Candido busque em Debret um auxlio para interpretao. Tal escolha acertada pois, paradoxalmente, o pintor mostrava em suas imagens os escravos, justamente o contrrio de Almeida. Este os exclui. Assim, Candido estabelece a dicotomia do trabalho enquanto comprova que, mesmo omitidos nas Memrias, presentes esto de maneira implcita. Tal como as canes de Belchior, que com um tom coloquial tem um alcance enorme na sociedade, o romance de Almeida utiliza-se desse aspecto da linguagem, talvez involuntariamente, mas que exerce, assim, a funo de romance realista das classes no dominantes. Candido aponta para esta natureza popular na obra, talvez como ponto chave para compreendermos Leonardo Filho e a obra inteira. No por acaso (e Candido tem esse conhecimento) que o livro, em sua primeira edio, saiu no com o nome de Manoel Antonio de Almeida, mas sim como um brasileiro, fazendo jus argumentao de Candido sobre o tom popular e a natureza real explcita no livro.