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Ribeirão Preto/SP
2014
Áquila Lanza de Paula
Ribeirão Preto/SP
2014
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
_____________________________________________________________
Educadora Carolina Godinho Retondo
Departamento de Química – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto –
Universidade de São Paulo
______________________________________________________________
Ms. Janaína de Godoy Gonçalves
Departamento de Química – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto –
Universidade de São Paulo
_______________________________________________________________
Ms. Bruno Zoccaratto Favarin
Departamento de Química – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto –
Universidade de São Paulo
Agradecimentos:
Ao meu irmão,
com quem dividi alegrias, tristezas e os anos de graduação, me mostrando como me portar
com estoicismo diante das agruras da vida,
Confúcio
De Paula, A. L. Análise da percepção dos alunos do Ensino Médio sobre a disciplina
Química. Monografia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto.
Universidade de São Paulo/USP. 2014.
RESUMO
Neste trabalho foi feita uma pesquisa de campo com os alunos do Ensino Médio de uma
escola pública de Monte Santo de Minas, em relação à disciplina Química. Para tal, foi
elaborado e aplicado um questionário semiaberto bem amplo. Por meio desse instrumento foi
verificado se os estudantes gostam ou não da disciplina, como são as atividades em sala de
aula e fora dela, se percebem sua importância no cotidiano, na indústria, no ambiente e na
sociedade. Além disso, foi verificado se o estudante prosseguiria seu estudo e escolheria a
área de Química. Os resultados mostraram que os recursos audiovisuais, a contextualização, a
interdisciplinaridade e a experimentação não estavam presentes na escola, porém, os
estudantes mostraram-se favoráveis a inserção da experimentação. Além disso, conclui-se que
muitos não possuem interesse pela disciplina, bem como não sabem o papel da Química na
sociedade e nas relações do cotidiano e com outras áreas do conhecimento, por vezes citando
exemplos distantes e estereotipados.
Tabela 1: Sistematização das respostas obtidas para a questão 30 (Qual o principal tipo de
material didático utilizado? Cite:)...........................................................................................49
Tabela 2: Sistematização das respostas obtidas para a questão 10 (Se respondeu mais ou
menos, por que?).......................................................................................................................54
Tabela 3: Sistematização das respostas obtidas para a questão 21 (Você sabe onde o químico
trabalha? Cite:)........................................................................................................................54
Tabela 4: Sistematização das respostas obtidas para a questão 24 (O professor explica sobre
as aplicações e utilidades da Química? Cite um aspecto do cotidiano relacionado com
química)....................................................................................................................................55
Tabela 5: Sistematização das respostas obtidas para a questão 29 (O professor relaciona
algum conteúdo de Química com conteúdos de outras disciplinas? Se sim ou às vezes,
cite)...........................................................................................................................................56
Tabela 6: Sistematização das respostas obtidas para a questão 25 (Consegue entender o
conteúdo das aulas de Química?).............................................................................................59
Tabela 7: Sistematização das respostas obtidas para as questões 25 e 26 (Consegue entender o
conteúdo das aulas de Química?/ Você tem dificuldade em entender a explicação do
professor?)...............................................................................................................................59
Tabela 8: Sistematização das respostas obtidas para a questão 24 (Você gosta do professor de
Química)...................................................................................................................................61
Tabela 9: Sistematização das respostas obtidas para a questão 13 (Você vai prestaria
vestibular para Química?)........................................................................................................62
Sumário
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 11
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
2 OBJETIVOS .............................................................................................................. 26
3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 27
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 68
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 70
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APRESENTAÇÃO
Como uma parcela das crianças, comecei a me interessar por ciências ao assistir
programas de televisão como “O mundo de Beakman” que traziam experimentos e
explicações sobre os fenômenos naturais. Nessa época, com aproximadamente 11 ou 12 anos,
eu morava na cidade de Campinas e estudava numa escola particular. Embora tivesse bons
professores de ciências, as aulas ministradas por eles não tinham experimentos, nem
explicações lúdicas como eram fornecidas na televisão, assim, meu maior interesse pelo
universo científico se dava pelo que assistia nos programas.
Pouco tempo depois, mudei para a cidade de Monte Santo de Minas e comecei a
trabalhar (aos 13 anos) como “aprendiz” em uma oficina de manutenção de implementos
agrícolas e usinagem. Mantive-me neste emprego por muitos anos, inclusive durante o Ensino
Médio. Embora, nem sempre tenha sido muito agradável, hoje em dia enxergo essa
experiência como positiva em alguns aspectos.
Ao chegar ao Ensino Médio, que cursei em escola pública, estava empolgado para
aprender formalmente sobre os conteúdos da ciência, que para mim eram fascinantes. Porém,
ao me deparar com um grupo de professores despreparados e um sistema educacional
decadente, em uma época em que eu já dividia o tempo de estudo com o do trabalho, a
decepção foi algo natural. Natural também foi a procura por outras atividades, como as
esportivas, uma vez que meu interesse pela escola foi diminuído.
Ocasionalmente lia um livro ou outro sobre Física, mas me faltava ânimo e um
conhecimento mais aprofundado para entender alguns temas. Vindo de uma cidade pequena,
onde não havia livrarias e a biblioteca da minha escola não funcionava, eu começava a achar
muito difícil estudar. Internet não era uma realidade para mim na época e só veio a ser depois
de um bom tempo.
A falta de preparo específico dos meus professores, a minha situação financeira, não
muito boa na época, a falta de interesse (ou apenas ignorância) da escola em apresentar as
universidades e as profissões são fatores que fizeram eu terminar o terceiro ano do Ensino
Médio sem saber o que era vestibular. Não que eu me importasse muito, tinha outras coisas
com o que me preocupar. Neste ponto – e em parte por pressão dos meus pais em continuar a
estudar alguma coisa – fui buscar um curso Técnico profissionalizante na área em que eu já
trabalhava. Comecei o Técnico em Mecânica, no tradicional Centro Paula Souza na cidade de
Mococa, que ficava a aproximadamente 50 km da cidade onde eu morava.
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enquanto outros são muito bons. Assim, de certa forma, os problemas que encontrei na
universidade são muito parecidos com os dos cursos que realizei anteriormente, só que em
escala e proporção diferentes.
Agora sob um novo prisma, posso olhar novamente para o Ensino Médio e ver que há
muitos problemas a serem resolvidos – não que eu seja capaz de resolvê-los. Desta nova ótica
é possível analisar como os estudantes se sentem em relação a determinadas disciplinas. No
meu caso, eu não obtive quase nenhum conhecimento de Química e Física nesta etapa do
ensino, havia um total descaso por parte dos docentes. Assim, nunca estive realmente
motivado para estudar tais disciplinas. Porém, é possível que se tenha professores que se
empenhem em ministrar o conteúdo de forma a torná-lo interessante ou até mesmo explícito
para os estudantes.
Assim, juntamente com a minha orientadora, resolvemos procurar perceber como os
estudantes no Ensino Médio entendem a disciplina de Química. Existem vários ângulos para
analisar esta percepção e também a motivação em relação a esta disciplina, como aspectos
curriculares, estrutura do curso, afinidade com os professores, problemas e situações próprios
à juventude (fase da vida em que se encontram), entre outros. A partir desta premissa, este
trabalho foi elaborado objetivando perceber como os estudantes interagem com a disciplina
mediante alguns destes aspectos.
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1 INTRODUÇÃO
É possível identificar pelo conceito de “educação bancária”, descrito por Freire, que o
saber ocorre como uma doação. O autor enfatiza que o saber é entregue aos que julgam nada
saber por aqueles que se julgam sábios, constituindo um instrumento da ideologia da
opressão. Ocorre, então, uma “alienação da ignorância” - onde esta se encontra sempre no
outro. Hypolito (2010) discute que isso pode ser resultado, em alguns casos, da intervenção e
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Nesse sentido, pode-se perguntar: O currículo é feito para os alunos ou para formar
cidadãos desejáveis à sociedade e suas necessidades econômicas inseridas na nova ordem
mundial? O que esses cidadãos desejáveis devem saber, de acordo com o que está
estabelecido neste currículo? Quem impõe o currículo nas escolas brasileiras? O Estado? A
direção da escola? Os professores? Os autores dos materiais didáticos adotados? Ou ainda a
combinação de todos esses atores? Como é definido esse currículo que é recebido, muitas
vezes, de forma passiva e obrigatória pelos alunos? Ou seja, quem determina o currículo e
como o mesmo é determinado? Todas essas questões não são fáceis de responder, inclusive,
não há uma resposta definida para elas. Sabe-se que o currículo é resultado de várias
interações e relações que são estabelecidas entre as diferentes classes, mas principalmente é
produto das ideologias dos grupos dominantes. De acordo com Apple (1989), na obra
“Currículo e Poder”:
[…] o currículo não existe como um fato isolado. Ao invés, ele adquire
formas sociais particulares que corporificam certos interesses que são eles
próprios os resultados de lutas contínuas dentro e entre os grupos
dominantes e subordinados. Ele não é resultado de algum processo abstrato,
mas é o resultado dos conflitos, acordos e alianças de movimentos e grupos
sociais determinados (APPLE, 1989, p. 47).
ambiguidades, dúvidas e conflitos”, falam sobre a responsabilidade das escolas para contribuir
com a educação:
Dessa forma, os autores defendem que o currículo nas escolas é influenciado por
vários fatores tanto intrínsecos à instituição, quanto externos a esta. Dessa forma, o educador
sofre a influência da sua própria formação, das concepções de ensino da direção e dos demais
professores, ao mesmo tempo em que têm que seguir documentos legais que representam o
Estado, os materiais didáticos adotados pela escola e tem que pensar em para quê será
utilizado aquele conhecimento (como no caso das escolas que adotam seu ensino visando a
preparação para o vestibular). Os autores ainda refletem que há outras influências no arranjo
dos saberes escolares:
A educação no Brasil, no período da Primeira República (período que vai de 1889 até
1930), começava seus primeiros passos no sentido de estabelecer um ensino formal e gratuito
que atingisse uma maior fatia do contingente populacional. Boa parte da população era
analfabeta e o acesso às escolas era praticamente restrito às classes dominantes. Assim, neste
período, primeiras mudanças começaram a ocorrer e de acordo com Rossi et al. (2009):
Neste período a importância do ensino das Ciências Naturais começou a fazer parte da
pauta dos educadores e este processo pode ser mais bem compreendido levando em
consideração vários aspectos, inclusive os políticos-educacionais. Do ponto de vista histórico,
pode-se identificar uma preocupação dos educadores com a situação da educação em geral,
inclusive essa necessidade de mudança foi expressa com a publicação do Manifesto da
Educação Nova (1932). Sobre o Manifesto, Machado (2009) reflete que:
Ainda na vigência do Estado Novo ocorreu também a Reforma Capanema (1942) com
uma nova reestruturação do curso secundário “passando a ser constituído do ginásio de quatro
anos e colegial de três anos, este dividido em curso clássico (com predominância de
humanidades) e científico” (ARANHA, 1996, p. 202). A Reforma Capanema buscava
promover o espírito científico de uma maneira que este se tornasse ativo (SICCA, 1990).
No período da Segunda Guerra Mundial, houve um grande desenvolvimento nas
ciências. Com o Projeto Manhattan e o produto gerado por ele e também com as
comunicações, o advento do radar e dos computadores. Assim, a guerra influenciou no
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desenvolvimento científico mundial, quase sempre com consequências desastrosas, como foi
o caso das bombas atômicas, embora esse desenvolvimento seja possível em tempos de paz.
No Brasil, com o fim do Estado Novo teve-se, então, no período entre 1945 e 1964 um
retorno ao estado de direito, com esperanças de uma aceleração no progresso (ARANHA,
1996). No governo de Juscelino Kubitscheck (1956 a 1961), foi implementada uma proposta
de grande desenvolvimento (pelo seu lema 50 anos em 5), e ocorreu “na Educação, um debate
nunca visto tem como pano de fundo o anteprojeto das Leis de Diretrizes e Bases (LDB), que
leva 13 anos para entrar em vigor” (ARANHA, 1996, p. 204).
Desta maneira, o período iniciado na década de 1950 até os dias atuais, ficou marcado
pela crescente preocupação e mobilização de educadores no Brasil pela inserção de um ensino
de Ciências de qualidade nas escolas primárias e secundárias, que atendesse as necessidades
vigentes, como a profissionalização, a prática social e tendência de uma maior participação
das ciências no currículo.
Este período coincidiu também com o pós-guerra (II Guerra Mundial) e a influência
que as grandes potências passaram a exercer mediante o novo imperialismo. Merece destaque,
em especial, o que se refere aos investimentos feitos pelos Estados Unidos na década de 1960
para melhorias no campo do Ensino de Ciências em suas escolas, durante a Guerra Fria (1947
a 1953), decorrente do final da Segunda Guerra Mundial e do surgimento da dicotomia
capitalismo-socialismo. Esse movimento, que se iniciou no final da década de 1950, teve
grande influência no Brasil:
Porém, na década de 1960, iniciou-se no Brasil o período militar que foi de 1964 até
1985. Durante a ditadura ocorreram outras mudanças no ensino, inclusive foi promulgada
outra LDB (Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971), que desta vez, fixou alguns parâmetros
para o ensino profissionalizante. Novamente o currículo de ciências foi afetado, desta vez,
entretanto, houve regulamentações em relação às modalidades de ensino oferecidas. Assim:
“Mais uma vez as disciplinas científicas foram afetadas, agora de forma adversa, pois
passaram a ter caráter profissionalizante, descaracterizando sua função no currículo”
(KRASILCHIK, 2000, p. 87). Desta forma, a lei, no seu artigo 5, parágrafo 2º, diz que:
Essa legislação ficou em vigor por mais de vinte anos, pois somente em 1996 é que foi
feita outra LDB. Desta vez, em seu 2º parágrafo do artigo 1º, enfatiza-se que a prática social e
também o trabalho deveriam estar atrelados à educação escolar e, em seu artigo 26º fala-se
que os ensinos fundamental e médio deveriam ter uma base nacional comum, como pode ser
visto na própria lei:
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Percebe-se, a partir deste breve resumo, no qual foram abordados apenas alguns
tópicos, que muitas mudanças ocorreram no cenário educacional brasileiro e que o Ensino de
Ciências se modificou ao longo dos anos, buscando sempre atender certos requisitos que eram
determinados em grande parte pelo Poder Público. Muitas dessas mudanças foram propostas a
partir das LDB‟s. Em relação ao Ensino Médio, além da LDB, a partir da década 1990 foram
promulgados documentos orientadores como o PCN, PCN+ e as Orientações Curriculares
para o Ensino Médio, que afetaram todas as disciplinas, inclusive a Química.
Mas, mesmo com as várias mudanças propostas nas últimas décadas para a Química,
ainda se observa em muitas escolas que os conteúdos são apresentados de maneira hermética,
o que contribui negativamente para o processo de aprendizagem. Essa maneira de transmitir
conceitos, sem discussões e sem apresentar situações problemas, faz com que o conhecimento
científico se torne difícil de ser entendido e estudado e isso não produz resultados satisfatórios
na educação. Inclusive nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) há um trecho que diz:
Dessa forma, vários fatores podem contribuir, em determinado grau, para uma
predileção por parte do estudante para as disciplinas que mais lhe aprazem e um afastamento
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das que sente mais dificuldade. Desta maneira, algumas disciplinas chegam a gerar um
repúdio quando não é possível compreender e obter o rendimento necessário, ainda mais se
houver um histórico de reprovação. Devido a essa situação, na disciplina de Química, as
aplicações e a compreensão dos fenômenos e transformações que ocorrem em processos
naturais e industriais não são desenvolvidas adequadamente por uma parcela dos estudantes.
Como agravante, na área das ciências da natureza há uma dificuldade com relação ao
entendimento por parte de alguns membros da comunidade discente, devida à abstração
cobrada e não trabalhada adequadamente por alguns profissionais, muitas vezes, não
construída em diálogos e discussões no ambiente da sala de aula. Sabe-se ainda que há uma
carência de aulas de reforço nas instituições públicas para as disciplinas em geral, o que com
o passar dos semestres gera uma defasagem no processo de aprendizagem com relação à
determinados conteúdos. Com isso o estudante não entende determinado conteúdo e suas
aplicações, enquanto novos conteúdos são aplicados. Isto gera um desânimo e um desconforto
durante as aulas de Química, pois cada vez fica mais difícil entender o conteúdo ministrado.
Esses e outros fatores contribuíram para que fossem propostas várias mudanças tanto nos
conteúdos curriculares, quanto na forma de se ensinar a disciplina. Essas modificações foram
propostas por professores, pesquisadores da universidade e também por membros do Poder
Público.
Neste contexto, foi inserido nos PCN‟s (2000) ideias desses diversos atores e com isso
passou-se a valorizar mais a disciplina de Química como uma ciência que possui implicações
sociais, ambientais, políticas e econômicas, que tem caráter interdisciplinar e que pode ser
explicada de maneira contextualizada. No próprio documento é destacado que “A Química
participa do desenvolvimento científico-tecnológico com importantes contribuições
específicas, cujas decorrências têm alcance econômico, social e político” (BRASIL, 2000,
30). Em 2002, os Parâmetros Curriculares Nacionais - Orientações Educacionais
Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+) foram publicados para
complementar o que já estava vigente nos PCN‟s, dessa forma, a intenção não era de uma
mudança radical:
De acordo com a maneira como a abordagem deve ser realizada em sala de aula é dito
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nos PCN+ (2002) que: “A proposta apresentada para o ensino de Química nos PCNEM se
contrapõe à velha ênfase na memorização de informações, nomes, fórmulas e conhecimentos
como fragmentos desligados da realidade dos alunos” (BRASIL, 2002, p. 87).
Vale ressaltar que esses documentos são orientadores e não ditadores do ensino. No
entanto, muitas das modificações que eles propõem acabam sendo incorporados nos
documentos escolares e materiais didáticos. Porém, em certos casos, não chegam até a sala de
aula e o ensino oferecido continua sendo descontextualizado, com ênfase em fórmulas,
esquemas e informações que não fazem parte do cotidiano dos alunos. Além disso, em muitas
escolas, os docentes ainda continuam aderindo a “educação bancária”.
Dada a importância do conhecimento químico para a formação de diversos
profissionais e também para a formação do indivíduo como cidadão consciente, a abordagem
no ensino de Química não pode representar algo que afugente os estudantes das aulas.
Assim, a partir de um enfoque que busque trabalhar os conceitos de uma maneira
abrangente, o ensino de Química pode se tornar mais interessante se a escola e o professor se
aproximarem do universo do aluno e de sua realidade. Os PCNEM e PCN+ fornecem uma
referência para um trabalho que inclua o estudante de uma maneira mais envolvente com as
disciplinas ministradas, sempre em busca de aproximar conteúdos com o cotidiano e
contextualizá-los abordando temas tecnológicos, sociais e ambientais. Com o uso dos PCN's
para orientar o trabalho nas escolas, pretende-se que a abordagem bancária deixe de ser
utilizada e assim:
A disciplina de Química é ministrada nos três anos do Ensino Médio, se esta disciplina
não possuir uma boa receptividade por parte dos estudantes, assim como um bom
entendimento ao longo desse ciclo, os alunos não irão se concentrar, se esforçar e tampouco
entender e acompanhar o andamento das aulas. A importância da disciplina para o
desenvolvimento cognitivo, para um domínio das relações com o ambiente e para uma
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2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
Prezado(a) aluno(a),
O questionário abaixo é parte de um instrumento de pesquisa, que visa analisar a receptividade de
estudantes do Ensino Médio em relação à disciplina de Química. Essa pesquisa está sendo realizada no âmbito
da disciplina de Monografia oferecida pelo DQ-FFCLRP-USP e será importante para a conclusão do meu curso
de Licenciatura em Química. VOCÊ NÃO SERÁ IDENTIFICADO(A). Agradecemos sua valiosa colaboração.
Graduando do Curso de Licenciatura em Química: Áquila Lanza de Paula.
Orientadora: Educadora Carolina Godinho Retondo.
1.Idade:
( ) 14 anos ( )15 anos ( )16 anos ( ) 17 anos ( ) 18 anos ( )19 anos ( ) 20 anos ( ) 21 ou mais anos
2. Sexo:
( ) Masculino ( ) Feminino
3. Ano:
( ) Primeiro ( ) Segundo ( ) Terceiro
4. Período:
( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite
5. Você trabalha?
( ) não ( ) sim, em período integral ( ) sim, em meio período
Qual é o seu trabalho? ________________________________
6.Você utiliza os conceitos de Química no seu trabalho?
( ) não ( ) sim
Caso tenha respondido sim, quais? _________________________________________
7.Você gosta de Química?
( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos
8. Se respondeu sim, por que?
( ) é fácil ( ) possui afinidade com exatas ( ) gosta das aulas de laboratório (caso haja aulas no laboratório) ( )
gosta das fórmulas e de estudar as substâncias ( ) a química está relacionada com o seu cotidiano
9. Se respondeu não, por que?
( ) é difícil ( ) é abstrato demais ( ) não possui afinidade com exatas ( ) não gosta das aulas de laboratório ( ) não
entende
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4 REFERENCIAL TEÓRICO
Para a maioria das escolas de ensino regular é possível afirmar que o público do
Ensino Médio se encontra na adolescência, que é uma fase na qual as mudanças acontecem
rapidamente e vão além das que ocorrem no organismo, pois envolvem outros componentes
desse ser, tal como afirma os autores a seguir:
Esse adolescente que está passando por tantas mudanças, ainda se vê obrigado a
pensar sobre seu futuro profissional, tendo que decidir se irá continuar seus estudos e, se
escolher dar prosseguimento, tem que pensar em uma área a ser seguida. Tanto para os
adolescentes, quanto para a sociedade de uma maneira geral, a educação é vista como um
modo do sujeito conseguir uma ascensão ou uma projeção social, que pode estar associada a
uma maior acumulação de renda e consequentemente a aquisição dos bens de consumo
disponíveis, independência financeira, etc. O Ensino Médio e o Superior apresentam
possibilidades que, quando exploradas, podem levar a uma participação social mais ativa, não
somente do ponto de vista econômico. É difícil definir sucesso na sociedade atual, porém a
educação é tida como fator preponderante que facilita a via para este entre os estudantes, pois:
financeira que será importante para a constituição de uma família. Sobre isso, Marilia Pontes
Sposito (2005) diz que:
Assim, o modo como os jovens vivem essa etapa de vida também se altera,
uma vez que a escolaridade já não se afigura mais como elemento garantidor
da entrada no mundo do trabalho, especialmente se considerarmos o ingresso
no mercado formal de ocupações e as posições dos extratos menos
privilegiados da sociedade, exatamente aqueles que têm acesso tardiamente
aos degraus mais elevados do sistema de ensino ( p. 205).
No decorrer desse processo, pode ocorrer de alguns destes jovens estudantes perderem
um pouco (ou toda) a confiança na instituição escolar que os prepara para o ambiente de
trabalho ou que contribui para que eles consigam um emprego. Este processo, então, é de
acordo com Abad (2003):
Toda escola tem uma organização curricular. Essa é proposta pelos diferentes
membros do corpo docente, que trabalham junto com a coordenação/direção em consonância
com o que é proposto pelas ações governamentais. Existe, então, um currículo que é proposto
e que está materializado nos documentos escolares. No entanto, nada garante que esse
currículo é de fato desenvolvido. Souza Junior & Santiago & Tavares (2011), no texto
“Currículo e saberes escolares: ambiguidades, dúvidas e conflitos”, dizem, sobre a
responsabilidade das escolas para contribuir com a educação:
Apple (1989), em sua obra “Currículo e Poder”, pondera sobre essa questão: “Neste
ponto devemos ser bastante cautelosos. Facilmente podemos fazer parecer que tudo que é
relativo à educação pode ser reduzido às necessidades da divisão do trabalho ou das forças
econômicas fora da escola” (APPLE, 1989, p. 48). Assim, é preciso ter cuidado com uma
simplificação do quadro total, pois o currículo e suas implicações são muito mais complexos
do que isto. Embora haja uma tendência considerável do currículo e das políticas curriculares
de estabelecer uma diferenciação e favorecer determinadas fatias da população, há muitas
outras variáveis a considerar.
Para os estudantes, de qualquer forma, a organização curricular chega pronta, nas
disciplinas ministradas em sala de aula. Embora eles, e muitos professores também, não
percebam, essa organização também é influenciada por estas características de cunho político,
ideológico e por razões de caráter econômico, ditadas em parte pelo mercado de trabalho e
suas necessidades.
Logo, não se pode olhar para o currículo como um meio imparcial de transmissão de
conhecimentos aos estudantes, conhecimentos estes que deveriam ser devidamente
selecionados por sua importância no contexto da sociedade atual. Há também no currículo, e
em grande parte do que rege sua confecção, os fatores mencionados por Silva (2006), que não
só favorecem, mas também constroem nos alunos tais valores. Ou seja, os valores afetivos não
são trabalhados juntamente aos estudantes e na maioria das vezes não são considerados para a
34
promoção dos mesmos. Ainda, os valores procurados são aqueles que se ajustam a uma
competitividade predatória, de obtenção de valores puramente econômicos, como a favorecida
pela enorme globalização vigente na nova ordem mundial. Há um pouco de neoliberalismo
incrustado no modelo de ensino, aparentemente meritocrático e livre.
Se por um lado as medidas governamentais teoricamente podem oferecer uma maior
autonomia para o professor, por outro também podem desamparar o mesmo e o sistema
educacional. Além disso, tem-se ainda a agregação de alguns valores que são ensinados
implicitamente pelo chamado currículo oculto:
A partir dessa análise de Silva (1999), pode-se identificar que certos valores buscados,
como o conformismo e o individualismo, além da aceitação das estruturas injustas que o
capitalismo provoca; são trabalhados pelo currículo oculto, assim como a maneira como o
indivíduo deve se portar de acordo com a orientação sexual, raça ou etnia. Entretanto, tão
importante quanto o currículo oculto é o currículo que é expresso pelas disciplinas e pelo
conteúdo que se pretende trabalhar, que é mais explícito.
No desenrolar das atividades curriculares explícitas, espera-se que o aluno obtenha o
rendimento mínimo necessário, em relação às notas estabelecidas como médias suficientes
para ser promovido à próxima série do nível de ensino. Obtendo-se tal rendimento, não
importa o que o aluno pensa, seus interesses, se possui bom comportamento e relacionamento
com professores e outros alunos. Porém, o que, muitas vezes, se observa é que certos jovens,
mesmo que reconheçam que a educação é importante para uma projeção social, não estão
interessados em aprender, nem mesmo a tirar boas notas. Alguns não se interessam por uma
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determinada área, outros possuem um desinteresse geral. Dessa forma, na próxima parte do
texto trataremos da motivação para os estudos de uma maneira geral e da motivação para os
estudos relacionados com a Química, que embora seja importantíssima para a sociedade, é
uma ciência de difícil compreensão, porque envolve muita abstração.
A motivação pode ser interpretada de várias maneiras e ainda ter diversas definições,
de acordo com o ponto de vista dos diferentes autores. Todorov e Moreira (2005), no texto “O
Conceito de Motivação na Psicologia”, dizem que:
Dessa forma, a motivação pode ser interpretada como uma força interna, ou seja, algo
que faz parte do sujeito. Porém, a motivação também pode estar relacionada com outros
aspectos da vivência desse ser, assim, seria influenciada por fatores externos. Todorov e
Moreira citam ainda mais exemplos sobre como a motivação pode ser definida, mediante
diferentes significados atribuídos por outros autores, explicando que:
Embora, ambos autores expressem que a motivação está relacionada com uma força
interna, sendo intrínseca do sujeito, diversos fatores externos podem também alterar a
motivação, fazendo que a pessoa queira algo ou queira fazer algo, ou dirigindo determinadas
ações nos estudantes. Com isso, a motivação, esta força que guia os indivíduos a realizar
determinadas ações, no entanto, pode ser trabalhada externamente ao ser. Assim, no espaço da
sala de aula, o professor é um dos elementos fundamentais para executar o processo de
motivar os estudantes, objetivando a construção de uma aprendizagem significativa no
contexto da disciplina ministrada. Sobre esta situação, tem-se que:
Aliás, no ensino, de uma maneira geral, boa parte dessa carga de responsabilidade
concernente à motivação, fica sobre o professor, que precisa estar preparado para lidar com
diversas situações na sala de aula, que incluem a indisciplina, o desinteresse e até mesmo a
violência. Além disso, as jornadas de trabalho longas, normalmente em mais de uma escola,
os baixos salários (ainda mais quando comparados às outras profissões, cujos profissionais se
preparam tanto quanto um licenciado), a descrença na profissão e também o pouco caso dos
governantes perante esta situação, faz com que o professor sinta-se, muitas vezes,
desmotivado em vários aspectos.
Se o estudante não se sente a vontade na presença do professor, por qualquer que seja
a razão - desinteresse do professor, apatia, animosidade - isso provavelmente irá afetar a
qualidade do aprendizado. Com isso, o estudante pode não conseguir manter-se atento durante
a aula, não realizar as atividades propostas, não perguntar quando houver dúvida ou até
mesmo uma curiosidade relacionada com a disciplina. Esta relação professor-aluno é descrita
em um estudo realizado sobre a motivação dos estudantes frente a disciplina de Matemática
realizado por Porto (2005):
localidades, o estudante ainda só tem acesso a essa Química pelo professor, portanto, nesses
casos, um bom relacionamento dentro e fora da sala de aula é imprescindível. A motivação
aqui é diretamente ligada ao professor, a quanta influência este exerce e se esta é positiva ou
negativa. Um professor motivado e com bom relacionamento com a sua sala de aula e seu
ambiente de trabalho terá resultados melhores no desempenho e qualidade de aprendizado de
seus alunos.
Há muitas tendências educacionais e recursos que podem ser inseridos na organização
curricular da Química escolar. Muitas delas podem, inclusive, motivar os estudantes. Na
próxima parte do texto discutiremos algumas dessas propostas para a suposta melhoria do
ensino de Química da atualidade.
Levando isso conta, vê-se a abrangência que a política curricular exerce, assim como o
alcance de sua influência, que pode ser notada em maior ou menor escala na implementação
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vivenciados pelos estudantes. Mas, para isso é necessário que o professor se mantenha atento
a este tema, utilizando este conceito em sua totalidade, ou pelo menos não excluindo outros
tipos de contextualização que podem ser utilizados. Desse modo, Wartha, Silva e Bejarano
(2010) concluem que:
Desta forma, tem-se uma disciplina que apresenta uma orientação curricular híbrida,
com algumas dificuldades a se superar para efetivamente concretizar o que é proposto nos
documentos orientadores.
Com relação aos temas expostos (interdisciplinaridade e contextualização), é razoável
esperar que estes sejam abordados de uma maneira abrangente e coerente - conforme retratado
pelos autores citados anteriormente - nos materiais e recursos didáticos utilizados pelos
estudantes e professores.
Os materiais mais utilizados em sala de aula são os livros didáticos e as apostilas.
Esses exibem e refletem em seu conteúdo as competências que a política curricular determina
e orienta. A partir disso, e levando em consideração a discussão sobre o currículo abordada
anteriormente neste texto, tem-se que estes materiais não são apenas uma simples catalogação
dos conhecimentos necessários ao cumprimento das orientações curriculares e outros
documentos, mas também são detentores de conflitos que se dão nestes campos, entre
educadores e pesquisadores da área de educação e ensino. Abreu, Gomes e Lopes (2005),
sobre os livros didáticos de Química, dizem que:
43
Além dos materiais didáticos mais tradicionais, como os livros e as apostilas, cada vez
mais, especialmente em escolas mais abastadas, tem sido incorporados os recursos
tecnológicos, disponíveis ou não na internet, como sites com simulações, animações e vídeos.
Assim, para auxiliar o trabalho dos professores há novas tecnologias que podem ser
empregadas para auxiliar na apresentação de conteúdos e explicações. Estes novos recursos
tecnológicos, em geral, aparecem hoje na sociedade como formas de facilitar o cotidiano e na
escola para facilitar o ensino. É uma realidade que está presente e não pode ser negligenciada
no que se refere ao seu uso em sala de aula. De acordo com Lima e Moita:
Em alguns casos como, por exemplo, nas escolas que não possuem laboratórios ou
locais apropriados para a realização de práticas experimentais, pode ser realizada então
experimentação por simulação, ou seja, por um recurso tecnológico se mostra como é feito
um determinado experimento.
Desta maneira, há diferentes maneiras de explorar os conceitos e fenômenos químicos
que não somente apenas das costumeiras aulas, utilizando os diversos recursos didáticos que
estão disponíveis ao professor. Com isso, além de facilitar a visualização de conceitos que de
outro modo seriam muito abstratos, pode-se ainda tornar a aula mais agradável aos alunos.
46
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A escola onde foi aplicado o questionário fica no município de Monte Santo de Minas,
Minas Gerais, que faz parte do circuito das montanhas cafeeiras do sul de Minas. A cidade
fica localizada próxima a fronteira com o estado de São Paulo, a aproximadamente 140 km de
Ribeirão Preto, 50 km de Mococa e 330 km da capital.
O colégio funciona nos três períodos e possui cerca de mil alunos matriculados,
estando localizado em um bairro predominantemente residencial, cercado por várias
moradias. À sua frente encontra-se um Seminário Religioso Camiliano (prédio atualmente de
posse da Igreja, mas que não funciona como escola para futuros párocos) e uma pequena
praça. Existem também no entorno alguns estabelecimentos comerciais: lanchonetes, uma loja
material de construção, um posto de gasolina, uma oficina automotiva e uma academia de
ginástica e musculação. A escola atinge praticamente toda a população jovem da cidade, uma
vez que é a única instituição pública de Ensino Médio existente no município. Os alunos que
não querem estudar ali ou vão para uma escola particular fixada no município (também uma
escola apenas) ou se deslocam para os municípios vizinhos.
De acordo com os dados obtidos através da secretaria da escola, a mesma é composta
de 13 salas de aula bem arejadas, com espaço físico adequado, portas e janelas de madeira
maciça, com piso de granito. Na instituição há um laboratório de ciências (que está
desativado), uma biblioteca, um laboratório de informática (sala multimídia) e um salão nobre
para realização de atividades culturais, exibição de filmes e reuniões. Também há televisores
e computadores para uso dos discentes, um pequeno pátio, uma quadra esportiva coberta e
outra sem cobertura. A cozinha é grande e atende as necessidades da vigilância sanitária e há
um refeitório com mesas e cadeiras.
A distribuição das idades dos estudantes é: 14 anos - 6%; 15 anos - 31%; 16 anos -
31%; 17 anos - 25%; 18 anos - 3,6%; 19 anos - 1,2%; 20 anos - 1,2% e 21 anos ou mais -
1,2%. Pode-se observar que a maioria está na idade considerada como ideal para o que se
refere à idade de escolarização. A distribuição de idades por série é apresentada na figura 2.
48
Dos estudantes entrevistados, 76,19% disseram não trabalhar, enquanto 5,7% disseram
trabalhar em período integral, 11,9% em meio período e 9,52% não responderam. Dos alunos
que trabalham: 7,14% são do primeiro ano, 5,95% são do segundo ano e 4,76% são do
terceiro ano. Verifica-se que o trabalho na zona rural totaliza 30,77% da atividade dos
entrevistados. A figura 3 apresenta os empregos dos estudantes distribuídos por série.
Figura 3: Sistematização das respostas obtidas para a questão 5 (Você trabalha? Qual é o seu trabalho?).
Dos estudantes que trabalham, dois alunos (23,08%) disseram usar conceitos de
Química em seus empregos. As respostas obtidas para o uso dos conceitos foram: “utiliza em
basicamente tudo, pois a química é algo que usamos e nem percebemos” (aluno 1) e
“formulação NPK para adubos” (aluno 2), sendo que o primeiro era do terceiro ano e o
segundo do primeiro ano.
A resposta do aluno 1 contém uma contextualização mais genérica, enquanto a do
aluno 2 apresenta um aspecto mais específico da utilização da Química. Entretanto, pela
resposta do aluno 1 percebe-se que este consegue ao menos entender o alcance desta ciência,
embora sem muitos detalhes. Com relação ao aluno 2, de acordo com Santos e Mortimer
(1999) e Wartha e Alário (2005), pode-se perceber que, a partir da contextualização, ele tenta
aproximar a descrição científica com os fatos e processos do cotidiano. O aluno 2 apresenta
uma contextualização relacionada com uma aplicação do conhecimento químico (Wartha,
Silva e Bejerano, 2010), mostrando que o conhecimento Químico é aplicado na lavoura pelo
uso dos adubos.
49
Com relação ao material didático utilizado em sala, 73,81% disseram que o livro era o
principal material utilizado, 2,38% disseram apostila, 21,43% disseram que outros materiais
eram utilizados e 2,38% dos estudantes não responderam esta questão. As respostas dos
outros tipos de materiais didáticos usados foram:
Tabela 1: Sistematização das respostas obtidas para a questão 30 (Qual o principal tipo de material didático
utilizado? Cite:).
Desta forma, percebe-se que o livro didático é o material de apoio mais utilizado em
sala de aula, seguido do uso concomitante, porém, eventual, de apostilas. Os livros didáticos
adotados são aqueles que foram aprovados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
Tais livros sofreram algumas mudanças nos últimos anos, em geral, para se adequar aos
PCN's. Porém, de acordo com Abreu, Gomes e Lopes (2005), a maioria dos livros didáticos
ainda aborda as disciplinas de maneira fragmentada, o que dificulta o seu entendimento. E
ainda, um aspecto que desperta atenção nos livros didáticos é a importância dada aos exames
nacionais. Com isso, pode-se entender que, em alguns casos, o livro didático mantém este
aspecto disciplinar e também tem como uma de suas finalidades preparar os estudantes para a
execução de um exame.
O livro didático, deste modo, ajuda a consolidar também o currículo disciplinar, uma
vez que mantém o seu conteúdo restrito ao universo da Química. Isso se deve, de acordo com
Lopes (2005), a facilidade oferecida pelo currículo disciplinar:
Esta relação entre o livro didático e a disciplina, em um sistema curricular que mantém
uma estratificação, uma classificação dos estudantes de acordo com seus desempenhos em
avaliações (muitas vezes na forma de exames pontuais escritos), não favorece o
desenvolvimento de uma motivação nos alunos. É claro que há outros fatores envolvidos e
não é possível apontar isto como fator exclusivo para a falta de motivação, mas é evidente que
este é um ponto que poderia ser trabalhado e melhorado. Moraes e Varela (2007), explicam
que:
Adiante será discutida a influência das notas na motivação dos estudantes. Com
relação a esta nova abordagem citada por Moraes e Varela, a experimentação pode servir
como uma ferramenta para atrair a atenção dos estudantes, desde que usada corretamente e
atendidos os requisitos para o estudo da Química.
Com relação ao laboratório, 85,71% disseram existir laboratório na escola, 9,52%
disseram não existir e 4,76% não responderam. Sobre o uso de experimentos 3,57% disseram
que o professor utiliza esse recurso, 92,86% disseram que não, 1,19% responderam às vezes e
2,38% não responderam. Dos que responderam sim, algumas respostas sobre os experimentos
realizados foram: o filtro de separação (2,38%) e como separar água do óleo (1,19%). Um
estudante (1,19%) respondeu que “falta de aparelhos” era o motivo de não haver
experimentos. Quando questionados se gostariam de ter mais aulas com experimentos ou no
laboratório, 83,33% responderam que sim, 15,48% responderam não e 1,19% não
responderam. A distribuição das respostas por ano está na figura seguinte.
52
Figura 4: Sistematização das respostas obtidas para a questão 32 (O professor faz uso de experimentos ou leva a
turma para o laboratório?).
Giordano (1999) diz que os professores sabem que a experimentação provoca forte
interesse nos estudantes. Isso vai ao encontro do que foi obtido nos resultados, pois a grande
maioria dos estudantes respondeu que gostaria de ter mais aulas de laboratório. Porém, o
laboratório da escola está atualmente desativado, devido à falta de vidrarias e reagentes, de
acordo com o professor da disciplina.
Conforme as respostas dadas pelos alunos, o professor utiliza pouco ou não utiliza o
recurso do uso dos experimentos. Sicca (1996) diz que o prioritário não é a manipulação dos
materiais em si, mas o desenvolvimento dos aspectos teóricos, antes da utilização deste
recurso, ou seja, a construção de conceitos prévios à experimentação. No entanto, como não
houve nenhuma atividade prática, esses conceitos e o trabalho que seria desenvolvido
anteriormente à ida ao laboratório não foram construídos junto aos estudantes.
Apesar disso, mesmo com o laboratório estando atualmente desativado e levando em
consideração que talvez possa haver algumas dificuldades na realização de experimentos em
sala de aula, os mesmos poderiam ser apresentados por recursos audiovisuais.
Sobre utilização de recursos audiovisuais nas aulas de Química: 2,38% disseram que
são ministradas aulas com o uso de tais recursos, 86,90% disseram que não, 9,52%
responderam às vezes e 1,19% não respondeu. Nenhum exemplo de recurso audiovisual foi
citado pelos estudantes. Sobre a questão de serem assistidos filmes sobre as temáticas
químicas: 1,19% responderam que sim, 89,29% que não, 8,33% responderam que não, mas o
professor indica e 1,19% não responderam. Nenhum exemplo de filme foi citado pelos alunos.
53
MOTIVOS
“não gosta das aulas de teoria” 1,19%
“não gosto muito” 2,38%
“porque não é uma matéria que eu gosto muito” 2,38%
“porque a matéria é complicada, porque as vezes é complicado de fazer a fórmulas” 1,19%
“porque eu só tiro nota baixa, não vejo interesse em tudo” 1,19%
“não me chama a atenção” 1,19%
“não consegue entender completamente; tem um pouco de fórmulas” 1,19%
“por ter muitas fórmulas” 1,19%
“não entendo” 1,19%
“porque é uma matéria interessante” 1,19%
“gosta de algumas matérias” 1,19%
“gosto apenas de algumas partes” 1,19%
“quando se entende é legal, mas as vezes tenho dificuldade para aprender” 1,19%
“algumas matérias são interessantes” 1,19%
Tabela 2: Sistematização das respostas obtidas para a questão 10 (Se respondeu mais ou menos, por que?).
Com relação aos estudantes que responderam “mais ou menos”, pode-se perceber que
a maioria não gosta da disciplina e, ainda, apresenta alguma dificuldade no entendimento. Dos
que responderam não gostar, os motivos foram: 1) porque acham a disciplina difícil (35%); 2)
não entende (25%); 3) é abstrato demais (15%); 4) não possui afinidade com exatas (10%); 5)
não gosta das aulas de laboratório (5%) e 5% não responderam a questão. Novamente, achar a
disciplina difícil e não entendê-la teve a maior parte das respostas dadas pelos estudantes.
Quando questionados se sabiam onde o químico atuava no mercado de trabalho,
32,14% disseram saber, 65,48% não saber e 2,38% não responderam. Complementando essa
questão, foi pedido aos estudantes que citassem os locais onde o químico trabalha. As
respostas obtidas estão apresentadas na tabela 3, em relação aos estudantes que responderam
sim na questão anterior:
Tabela 3: Sistematização das respostas obtidas para a questão 21 (Você sabe onde o químico trabalha? Cite:).
Pelas respostas do questionário, percebe-se que muitos estudantes não sabem onde o
químico exerce sua função no mercado de trabalho. Os que disseram saber citaram o
55
laboratório como local da principal atividade. O químico possui atribuições que o permitem
trabalhar em diversas áreas e, no entanto, os estudantes responderam majoritariamente que
este exerce sua função no laboratório, o que representa uma resposta genérica. Desta forma,
nota-se que os estudantes não conhecem bem o que um químico pode fazer como profissional.
Isso pode explicar porque alguns não possuem muito interesse e não gostam da disciplina.
Aqui, pode-se perceber outra característica do currículo. Com a falta de atividades
extracurriculares que ampliam a visão dos estudantes sobre esta profissão, os mesmos
acabam por acreditar que a Química é uma ciência distante e puramente disciplinar e que
enfatiza fórmulas. Ainda, pode-se observar que os valores transmitidos para os estudantes
sobre a profissão, nem sempre são suficientes, uma vez que os alunos não deram muitos
exemplos sobre o mercado de atuação do químico.
Ao serem questionados se o professor explicava as aplicações da química 64,29%
responderam sim, 27,38% não e 8,33% não responderam. Sobre o caso de o professor
explicar aspectos do cotidiano relacionados com a Química 34,52% disseram que sim,
sempre, 57,14% sim, às vezes, 7,14% responderam não e 1,19% não responderam. Na tabela
4 estão os exemplos citados sobre o que alguns estudantes escreveram como os aspectos da
Química presentes no cotidiano.
Tabela 4: Sistematização das respostas obtidas para a questão 24 (O professor explica sobre as aplicações e
utilidades da Química? Cite um aspecto do cotidiano relacionado com química).
Embora a maior parte tenha respondido que o professor explica e relaciona aspectos
do cotidiano relacionados com a Química, poucos responderam esta questão. No entanto, o
item “fabricação de remédios” apareceu com maior frequência, o que reforça a resposta
anterior que muitos estudantes disseram que o laboratório era o local de trabalho do Químico.
Nota-se que as respostas dadas pelos estudantes são muito genéricas e que não foi citado um
56
Tabela 5: Sistematização das respostas obtidas para a questão 29 (O professor relaciona algum conteúdo
de Química com conteúdos de outras disciplinas? Se sim ou às vezes, cite).
Figura 5: Sistematização das respostas obtidas para a questão 22 (Você acredita que aprender Química irá
ajudá-lo(a) em algo na vida ou seu no dia-a-dia?).
Percebe-se, de acordo com este gráfico, que os alunos de primeiro ano possuem uma
visão mais otimista em relação à utilidade da Química, enquanto que os alunos de segundo e
terceiro ano estão quase que uniformemente distribuídos entre as três outras respostas, embora
a maioria acredite nessa utilidade. Também foi perguntado aos estudantes sobre para que
serve a Química. A figura 6 mostra o gráfico com a distribuição das respostas para essa
questão, de acordo com a série.
Figura 6: Sistematização das respostas obtidas para a questão 20 (Para você, a Química serve para:).
58
Figura 7: Sistematização das respostas obtidas para a questão 19 (Como você se sente nas aulas de Química?).
Observa-se que a maior parte dos estudantes se sente interessada, seguido por
descontraída e cansada. Uma pequena parte se sente contente, chateada e irritada. Também
houve estudantes que responderam “contente”. O fato de alguns estudantes se sentirem
cansados pode estar relacionado com várias razões: 1) ao deslocamento que precisam fazer da
zona rural até a escola, por estradas de terra; 2) pelo fato de trabalharem meio período; 3) por
não gostarem da disciplina e 4) por não entenderem o conteúdo e as explicações dadas pelo
professor. Assim, pode-se perceber que a motivação, de uma maneira geral, depende de várias
situações específicas. Observando os resultados, tem-se que, apesar da grande maioria dos
estudantes não possuir sentimentos negativos durante a aula de Química, outros fatores (que
serão vistos adiante) como nota, compreensão mais profunda da disciplina, extrapolação do
59
conteúdo para o cotidiano e diversas situações, dinâmica da aula monótona, irão contribuir
para um decréscimo na motivação dos estudantes.
Os estudantes também foram questionados se entendem o conteúdo das aulas de
Químicas. As respostas para essa questão estão sistematizadas na tabela seguinte.
Tabela 6: Sistematização das respostas obtidas para a questão 25 (Consegue entender o conteúdo das aulas de
Química?).
Em relação a explicação do professor, boa parte disse que tem dificuldade para
entender, mas a maioria disse que tem dificuldade somente “às vezes”. Sobre os motivos desta
dificuldade, mais da metade dos estudantes respondeu que a maior dificuldade é acompanhar
o raciocínio exposto. Os resultados de ambas as questões estão apresentados na tabela 7.
Você tem dificuldade em entender a explicação do professor?
sim 25,0%
não 13,1%
às vezes 58,3%
não respondeu 3,6%
Se respondeu sim ou às vezes, por que?
é difícil acompanhar o raciocínio 52,4%
não presta atenção 10,7%
não entende o que o professor quer dizer 14,3%
não gosta de Química 8,3%
não gosta de exatas 1,2%
não gosta de nenhuma disciplina 1,2%
não respondeu 6,0%
Tabela 7: Sistematização das respostas obtidas para as questões 25 e 26 (Consegue entender o conteúdo das
aulas de Química?/ Você tem dificuldade em entender a explicação do professor?).
Analisando estas respostas, percebe-se que 21,4% e 25% dos estudantes responderam
que entendem realmente o conteúdo e as explicações do professor, respectivamente. A razão
dada pela maioria foi a dificuldade de acompanhar o raciocínio, enquanto que apenas 8,3%
disseram que o motivo é não gostar de Química. Desta maneira, acredita-se que a forma como
os estudantes percebem a disciplina de Química pode alterar a maneira como estes irão se
motivar e estudar.
Foi levantada a distribuição das notas dos estudantes e correlacionadas com a
afinidade que tinham pela disciplina e também com o ano cursado. A distribuição está
apresentada na figura 8.
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Figura 8: Sistematização das respostas obtidas para a questão 11 (Qual a nota de Química que você tirou no
último bimestre?).
Como pode ser observado na figura 8, os estudantes que disseram gostar mais ou
menos de Química têm suas notas mais distribuídas no intervalo de 6,1 a 8,0, assim como os
que disseram não gostar. Os estudantes que disseram gostar de Química têm suas notas mais
distribuídas no intervalo de 8,1 a 10,0.
Analisando a distribuição de notas de acordo com a afinidade com a disciplina, pode-
se afirmar que os estudantes que gostam da disciplina possuem um melhor desempenho nas
avaliações, enquanto poucos que não gostam possuem notas maiores que 8,1. Os estudantes
que disseram gostar mais ou menos, em sua maioria, ficam com a média das avaliações entre
4,0 e 8,0.
Dessa forma pode-se analisar o sucesso e fracasso com relação às notas na disciplina
de Química. De acordo com Moraes e Varela (2007, p. 3) “a motivação pode ser entendida
como um processo e, como tal, é aquilo que suscita ou incita uma conduta”, dessa foram, os
estudantes que ficam com médias baixas, passam a se sentir desmotivados, pois uma vez que
não conseguem a média, também não se esforçam no processo de aprendizagem.
Neste contexto, de acordo com as respostas, as notas baixas e mais a dificuldade de
entender o conteúdo e as explicações do professor, o cansaço durante a aula e o fato de não
conseguirem acompanhar o raciocínio, podem trazer prejuízos educacionais e motivacionais
aos estudantes.
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Tabela 8: Sistematização das respostas obtidas para a questão 24 (Você gosta do professor de Química).
De acordo com os dados da tabela acima, a grande maioria dos estudantes gosta do
professor da disciplina. Uma vez que 23,8% dos estudantes disseram não gostar da disciplina
e apenas 2,4% disseram não gostar do professor, percebe-se que os estudantes que não gostam
da disciplina, em sua maioria, podem não ter a relação com o professor como motivo para
isso. No caso da maioria dos estudantes que respondeu o questionário, o relacionamento
professor-aluno é bom, o que então leva a crer que o problema da motivação nesta disciplina
não tenha tanta influência negativa por parte da relação com o docente. No entanto, para esses
2,4%, um dos motivos para não gostar de Química pode ser o fato de não gostarem do docente
responsável pela disciplina. De acordo com Moraes e Varela, “O tema motivação ligado à
aprendizagem está sempre em evidência nos ambientes escolares, impelindo professores a se
superar ou fazendo-os recuar[...]”. Assim, mesmo com pouca rejeição dos estudantes com a
figura do professor, este precisa sempre levar em consideração que não deve despertar apatia
em seus alunos.
Sobre o ingresso em uma faculdade, a maioria dos estudantes disse que irá prestar
vestibular (53,57%); 9,52% disseram que não vão; 35,71% disseram não saber e 1,19% não
responderam a essa questão. Isso reforça que os estudantes reconhecem a importância da
continuidade dos estudos para a obtenção do sucesso em suas vidas, como mostrado
anteriormente (UNICEF, AYRTONSENNA e ITAUSOCIAL, 2007, p.35). Embora mais da
62
metade dos estudantes dissesse que prestará vestibular, há ainda um grupo considerável que
não sabe se continuará os estudos. A figura 9 apresenta o gráfico com as respostas dessa
questão correlacionadas com o ano. O fato destes estudantes não saberem se vão ou não
prestar vestibular pode ser influenciado pela faixa etária dos mesmos. De acordo com Zecker
(1985), a adolescência é um momento que requer mais maturidade emocional, o que é
necessário para escolher uma carreira, por exemplo.
Figura 9: Sistematização das respostas obtidas para a questão 12 (Você vai prestar vestibular?).
Tabela 9: Sistematização das respostas obtidas para a questão 13 (Você vai prestaria vestibular para Química?).
Figura 10: Sistematização das respostas obtidas para a questão 14 (Se respondeu sim ou talvez, por que?)
Figura 11: Sistematização das respostas obtidas para a questão 15 (Se respondeu não, por que?).
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Figura 12: Sistematização das respostas obtidas para a questão 16 (Prestaria vestibular para as profissões
correlatas como farmácia, engenharia química, engenharia de alimentos, etc.?).
Figura 13: Sistematização das respostas obtidas para a questão 17 (Se respondeu sim ou talvez, por que?).
65
Figura 14: Sistematização das respostas obtidas para a questão 18 (Se respondeu não, por que?).
Com isso, ao analisar como os estudantes percebem esta disciplina e suas aplicações,
no que se refere também na escolha de uma carreira que tenha relação com o estudo dessa
disciplina, mesmo que apenas em parte, pode-se afirmar que a maioria dos estudantes não se
sente à vontade para prosseguir os estudos em cursos que possuam relação com Química.
A partir da perspectiva da motivação intrínseca e seu efeito sobre o indivíduo, Moraes
e Varela dizem que:
De acordo com a definição de motivação intrínseca, por mais difícil que esta disciplina
seja ou possa vir a ser, levando em consideração essa propensão inata do ser humano para
exercitar sua capacidade, deveria haver menos rejeição por esta área do conhecimento. Ao
66
analisar os dados, percebe-se que as respostas dos estudantes muitas vezes caminham mais
para a rejeição da disciplina do que por afinidade por outras disciplinas, o que pode ser
observado na tabela 13 ao comparar as respostas sobre prestar para outras áreas e não prestar
para áreas correlatas á Química.
Supõe-se assim, que algo acontece durante o estudo desta disciplina que passa a
desmotivar os estudantes sobre a possibilidade de se dedicar e prosseguir os estudos nessa
área. Ao considerar também como o currículo pode exercer um papel na relação desta
disciplina e subsequente motivação dos estudantes, pode-se dizer que “as visões tradicionais
sobre as relações entre currículo e cultura estão assentadas numa concepção estática e
essencializada de cultura”, de acordo com Silva (2006, p.14).
Isto quer dizer que, somando-se ao discutido anteriormente sobre o currículo
disciplinar, livro didático disciplinar e também no ensino fragmentado da disciplina, tem-se
em algumas instituições, na prática, apesar de esforços e de todo os documentos orientadores
publicados, o conhecimento como algo estático. Desta forma, a Química chega aos estudantes
como um conhecimento absoluto, e estes não serão capazes de se apropriar do mesmo.
Esta cultura que é “concebida como um produto acabado” que “não é feita, não se
transforma”, de acordo com Silva (2006, p. 14), parece não exercer atração sobre os
estudantes e pior ainda a maneira como essa disciplina é ensinada parece causar repulsa na
maioria deles, mesmo naqueles que inicialmente se mostraram propensos a estudá-la.
Extrapolando o assunto, ainda de acordo com Silva (2006, p. 22) “O currículo visto
como produto acabado, concluído, não pode deixar de revelar as marcas das relações sociais
de sua produção”. Com isso, é preciso levar em consideração a maneira como o currículo é
apresentado, apesar de diversas mudanças que ocorreram no sentido de melhorar não só este
isoladamente, mas também as relações interdisciplinares ministradas dentro do mesmo. Deste
modo, este ainda guarda as relações de classe em que foi criado, mantendo uma estrutura
classificatória e excludente, no que diz respeito ao sistema de classificação por provas
pontuais (geralmente, mas nem sempre) que classificam o estudante implicitamente em
melhor ou pior de acordo com suas notas.
A nota final no boletim, para muito destes estudantes, não significa muito, ainda mais
por saberem da progressão continuada, e tampouco o aprendizado da disciplina em si, já que
não conseguem visualizar como poderão utilizá-la no cotidiano. Ainda, de acordo com os
dados obtidos, quase metade dos estudantes disse que não sabe ou não irá prosseguir os
estudos. Nessa realidade, o sistema curricular, como dito anteriormente, com objetivo de
classificar os estudantes para o temido mercado de trabalho e ingresso em faculdades, não
67
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS