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Carlos Amade, MD [A MALÁRIA NA MIDIA MOÇAMBICANA]

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE SAÚDE

Mestrado em saúde pública

Módulo de Educação e Comunicação em Saúde

Trabalho de investigação:

A malária nos meios de comunicação social moçambicanos

Discente:
Carlos Armando Amade

Docente:

Dr Crescêncio Pereira

Junho de 2013
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

Carlos Armando Amade

csapura@gmail.com Formatted: Portuguese (Portugal)

A malária nos meios de comunicação social moçambicanos

O texto apresenta de forma crítica o manejo da malária na mídia moçambicana enquanto e Commented [c1]: Sugiro que use a terminologia inglesa media
ou portuguesa “comunicação social” ou “meios de comunicação
paralelamente explora conceitos aprendidos durante o curso de mestrado em saúde pública sobre social”
Formatted: Portuguese (Portugal)
ECS. A malária é um tema apetecível para as entidades de saúde, governamentais e a população
em geral, por dar encargos a saúde pública. Commented [c2]: Use outro termo como “desafiar”
Formatted: Portuguese (Portugal)
A malária é a principal causa de morte de crianças em Moçambique, apesar de prevenível e
passível de tratamento. Esta doença é responsável por cerca de 40 por cento das consultas externas
e 60 por cento dos internamentos nas enfermarias pediátricas. Estima-se que mais de uma em cada
cinco mortes de crianças com menos de cinco anos se deva à malária. (MISAU, 2012). Metade da
população mundial vive em zonas de risco de transmissão da malária. Dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS) indicam uma ocorrência mundial anual em 2012 de cerca de 92.264.626
de casos de malária e, 89% das 660,000 de mortes ocorreram na África (WHO world malaria
report, 2012). Commented [c3]: Rever normas de citação
Formatted: Portuguese (Portugal)
A malária é uma doença infecciosa causada por um parasita denominado Plasmódio. Das 4
espécies existentes, o plasmódio falciparum é o que atrai mais atenção porque, por um lado, está
relacionado a cerca de noventa por cento dos casos de malária ao nível mundial, incluindo
Moçambique e, por outro, é o que provoca as formas graves de malária (Lucas, 2003).

Comummente, a malária, como doença, manifesta-se por dor de cabeça, febre, vómitos, fraqueza
e, em crianças, anemia. Entretanto, existem variadas apresentações desta doença, em geral com
manifestações inespecíficas, o que torna difícil estabelecer o seu diagnóstico em casos em que o
teste laboratorial for negativo. Há também pessoas cujo teste laboratorial de malária é positivo
apesar de o indivíduo não apresentar sintomas. Surgem então dúvidas em considerar a pessoa como
doente, como também incerteza na necessidade de tratamento (Bowles, 2009).1

1
Para economizar medicamentos, em Moçambique, somente é aceite o tratamento de malária confirmanda
laboratorialmente sendo desencorajada a consideração como malária de todas as outras causas de febre.
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

As dúvidas na classificação de pessoas em saudáveis ou doentes acompanham a ciência médica


em toda a sua evolução. O conceito de saúde reflecte a conjuntura social, econóômica, política e
cultural;. O ou seja,: saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da
época, do lugar e, da classe social. Dependerá também de valores individuais, de concepções
científicas, religiosas e, filosóficas. O mesmo, aliás, pode ser dito das doenças. Aquilo que é
considerado doença varia muito (Scliar, 2007).

Segundo CANGUILHEM (1978), até o século XIX, as formas de representação da doença podiam Commented [c4]: Rever normas de citação aqui e seguintes

ser sintetizadas em duas vertentes fundadas na unicausalidade: a ontológica e a dinâmica. A


concepção ontológica atribuía à enfermidade um estatuto de causa única e de entidade, sempre
externa ao ser humano e com existência própria - um mal (hegemonia da interpretação mágico-
religiosa). O homem não tinha qualquer participação ou controle desse organismo no processo de
causação"2

Na representação dinâmica a doença era vista como o produto do desequilíbrio ou desarmonia


entre os princípios ou forças básicas da vida, mas compreendia também a busca do reequilíbrio,
como mostra Hipócrates de Cós (460-377 a.C.) no seu texto “a doença sagrada”, “A doença
chamada sagrada não é, em minha opinião, mais divina ou mais sagrada que qualquer outra
doença; tem uma causa natural e sua origem supostamente divina reflecte a ignorância humana”.

A definição de saúde como um estado de completo “bem-estar físico, mental e social, e não
meramente a ausência de doença ou enfermidade”, inserida na Constituição da OMS no momento
de sua fundação, em 1948, é a mais aceite actualmente, sendo também uma clara expressão de uma
concepção bastante ampla da saúde, para além de um enfoque centrado na doença.

Esta definição trouxe a vista a necessidade de se investir em prol da prevenção comunitária de


doenças tais como a malária, e da promoção da saúde e do bem-estar de todos, dando também
importância a percepção de que uma política consistente, com intervenções educativas, formais,

2
Essa concepção, que LUZ (1979:96) define como "organicista, localizante e mecanicista em termos de causalidade", ainda
subsiste no pensamento contemporâneo, apesar das transformações históricas de que foi alvo.
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

informais, bem como acções para o desenvolvimento comunitário, aumenta o capital social
(Loureiro e Miranda 2010 por Pereira s/d).3

A promoção de saúde enquadra-se perfeitamente nas acções de saúde pública, como mostra a
definição de Last (1988) de que a saúde pública é “um esforçco organizado através da sociedade
para proteger, promover e restaurar a saúde das populações”. Acrescenta ainda que a saúde pública
é uma combinação de ciência, habilidades e crenças que são direccionadas para a manutenção e
melhoria da saúde das pessoas através de acções sociais e colectivcas. Veja-se que a malária é um
problema de saúde pública.

Para a prevenção da malária necessita o emponderamento da população por meio de sua educação
para a saúde. Para Hubly (2004), a educação para a saúde cria bases para a possibilidade de fazer
escolhas nas decisões sobre a saúde por aumentar conhecimentos e disseminar informações.

Ross e Mico (1997) definem a educação para a saúde como “um processo com dimensões
intelectuais, psicológicas e sociais relacionado a actividades que aumentam a capacidade das
pessoas em fazer escolhas que afectam o bem-estar pessoal, familiar e da comunidade”

Estas definições não se distanciam da visão da Organização Mundial da Saúde que diz que
Educação (e Comunicação) em saúde é a soma de experiências de aprendizagem que favorecem
aos cidadãos e as comunidades a melhorarem a sua saúde e seus estilos de vida, aumentando sua
literacia, seu conhecimento ou influenciar suas atitudes (OMS por Pereira, s/d).

Hubly (2004) considera que a educação envolve um marketing social4 que deve envolver a mídia.
Sendo assim, a mídia de massa é usada para uma expansão de informações para o maior número
possível de pessoas, de forma rápida e usando baixos custos.

3
O capital social é um conjunto de elementos da organização social como: confiança, normas de reciprocidade e
solidariedade, envolvimento cívico e pertença a redes e a grupos sociais que facilitam a coordenação da acção
colectiva em prol do alcance de benefícios mútuos, como é o caso de conseguir um estado de saúde equilibrado e
normal (Pereira, s/d)

4
Segundo Kotler (2004), marketing social é a criaçao, implementação e controle de programas voltados para
influenciar a aceitabilidade das ideias sociais e envolvendo o planeamento, comunicação e marketing do produto.
Vaz (1995) acrescenta que o marketing social está virado para problemas de higiene e saneamento, educação,
ambiente, habitação e nutrição.
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

Perceba-se que no fim da idade média, com a invenção da impressora móvel, tornou-se propício o
desenvolvimento de técnicas de comunicação, onde se observa a transformação de documentos
escritos em livros impressos. Estava feito o alicerce para o tratamento de assuntos do quotidiano,
incluiíndo a saúde, no espaço público (Pereira, s/d).

Actualmente, os temas ligados à saúde, medicina, ciências biomédicas e medicamentos dominam


a cobertura jornalística da ciência. Isto porque, segundo alguns estudos, o interesse nas notícias
médicas é, no mínimo, tão grande como nas notícias de desporto. A razão parece evidente: as
histórias médicas lidam com a vida humana. “Desde o surgimento da imprensa, saúde e doença
ocupam espaço nas páginas dos mais importantes periódicos mundiais” (Azevedo: 2009, 3).

As funções do jornalismo na área da saúde são: “informar com rigor, clareza e exactidão sobre os
avanços científicos no diagnóstico e na terapia; difundir as características das distintas doenças e
seus sintomas iniciais; atender ao direito dos pacientes a estarem plenamente informados. Os
media deveriam ter um papel activo e não apenas serem considerados como espectadores ou
críticos de um processo social de melhoria da saúde” (Niza: 1989)

Entre as principais críticas que são feitas actualmente ao jornalismo na área médica estão: a
abordagem sensacionalista de alguns temas, a criação de falsas expectativas de cura ou alarmes
sociais injustificados e o facto de ser, muitas vezes, um suporte para publicidade encoberta,
nomeadamente a medicamentos (Ramírez e Moral: 1999).

A malária é um dos temas mais reportados na imprensa nacional, no que respeita aos assuntos
relacionados com a saúde. Nos primeiros seis meses de 2007 por exemplo, foi o segundo tema de
saúde mais reportado, depois do HIV e SIDA (UNICEF 2007). Entretanto, a imprensa dos países
desenvolvidos geralmente não fala da malária, por não serem atingidos por esta doença,
considerada como doença negligenciada.5

5
Doenças negligenciadas são aquelas que existem em países desenvolvidos e em não desenvolvidos, mas com
proporção de casos maior em países pobres. As doenças muito negligenciadas existem somente em países pobres.
Pesquisas e produção de medicamentos para estas doenças são muito limitadas por falta de interesse dos paíes
desenvovidos (WHO Commission on Macroeconomics and Health, 2001)
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

Apesar da sua importância, não se dispõe de estudos que exploram o papel a influência daos media Commented [c5]: Sugiro “existem poucos estudos que…
Formatted: Font: Italic
social na cobertura da malária em Moçambique. Existe somente um estudo com esta abordagem
feito pelaA UNICEF, por exemplo, em 2007, que avaliou a menção cobertura da malária feita
pela rádio, televisão e jornal notícias. A seguir passarei a discutir de forma crítica os resultados
deste estudo. Recorde-se que as mídias participam activamente na construção do imaginário social Commented [c6]: Fonte de letra diferente

6 Formatted: Highlight
a respeito das epidemias e endemias.

Vários temas relacionados com a malária são abordados nos artigos, com destaque para as
estatísticas em relação à casos de malária, internamento hospitalar e óbitos devido à malária, os
diferentes métodos de prevenção promovidos pelo Ministério da Saúde e parceiros, e a
participação das comunidades nas acções de prevenção.

No entanto, nota-se um desequilíbrio no número de vezes em que cada um destes aspectos é


mencionado nos vários artigos, bem como a falta de desenvolvimento destes assuntos na maioria
dos artigos em que são abordados.

A prevenção através das campanhas de pulverização é o aspecto mais referido, seguido do uso de
redes mosquiteiras. Porém, apesar da sua menção não existem exemplos de realização prática e
exemplar das campanhas de pulverização.

O saneamento do meio ambiente é dos métodos de prevenção da malária menos reportados, sendo
poucas as notícias que referem as más condições de saneamento em vários pontos do país como
um dos factores que contribuem para a propagação dos mosquitos transmissores da malária, e
muito poucos são os exemplos colhidos no terreno, do impacto positivo de acções desenvolvidas
ao nível da comunidade para a eliminação de focos de multiplicação do mosquito. Esta posição
mascara a necessidade de melhoria do meio ambiente pelas comunidades e pelo governo. Recorde-
se que este meio de prevenção da malária é o mais eficaz e mais duradoiro.

O tratamento da malária é abordado de forma superficial. Mas a situação preocupante ainda é a


falta de abordagem do diagnóstico correcto da malária, principalmente o uso de testes laboratoriais.

6
Epidemia é a ocorrência de casos de uma doença mais do que o esperado paru um determinado lugar em
determinado período do ano, enquanto que por Endemia refere-se a ocorrência de casos em número estável (igual).
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

Esta situação influencia o facto de que as pessoas que têm febre considerem-se como tendo malária
.

Há falta de testemunhas sobre o impacto da malária em mulheres grávidas e crianças, pelo facto
da imprensa limitar-se a dar palavras a dirigentes relacionados ao ministério da saúde.

Surge, pois, a necessidade de existir um diálogo mais próximo entre os media e os parceiros que
intervêem na resposta à malária, para melhor coordenação e identificação das lacunas na cobertura
jornalística e informação dos assuntos mais preocupantes sobre a malária que devem ser levados
ao conhecimento público. Paralelamente, precisam existir mais estudos sobre a influência da mídia
na malária.

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BIBLIOGRAFIA

 AZEVEDO, Ana P.(2009). O jornalismo na saúde: uma visão transcontinental. Braga:


Universidade do Minho, Instituto de Ciências Sociais-Portugal
 AROSO, Inês (2012) Os Media Como Fonte De Informação Sobre Saúde: Riscos e
oportunidades, Revista Iberoamericana de Salud y Ciudadanía, Vol. I, no 2, Julio-
Diciembre, 2012, ISSN 2182-4185 Commented [c7]: Não encontro esta obra no texto principal. Só
deve incluir nas referências bibligráficas obras que usou no texto.
 BOWLES, Edmée (2010), Malaria presentation, Gelre Hospitals, the Netherlands.
 CANGUILHEM, G. (1978) O normal e o patológico. Rio de Janeiro, Forense-
Universitária-Brasil
 HUBLY, John (2004), communicating health, Macmillan, Malaysia.
 KOTLER, Phillip (2004), marketing essencial, São Paulo, Brasil.
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

 LUZ, M.T. (1979), As instituições médicas no Brasil: instituição e estratégia de hegemonia.


Rio de Janeiro, Graal-Brasil
 LAST, J M. Dictionary of Epidemiology. Oxford University Press. 1995,
http://www.liv.ac.uk/PublicHealth/mph/Programme_philosophy.htm Formatted: Portuguese (Portugal)
Formatted: English (South Africa)
 MISAU, 2012 (malaria)
 http://www.sitesdemocambique.com/estado/misau-ministerio-da-saude-de- Formatted: Portuguese (Portugal)

mocambique/608
 NIZA, José. (1989), Os jornalistas e a droga: Gabinete de Planeamento e Coordenação do
Combate à Droga e Direcção Geral da Comunicação Social. Lisboa, portugal.
 PEREIRA, Crescêncio (s/d), Dinâmicas do pensamento sobre a saúde e a doença, artigo
entregue aos estudantes de mestrado em saúde pública (2013), Faculdade de Ciências de
Saúde, Beira-Moçambique.
 ______________________, Media e seu papel na formação do espaço público: A saúde
e a doença como notícia artigo entregue aos estudantes de mestrado em saúde pública
(2013), Faculdade de Ciências de Saúde, Beira-Moçambique.
 ______________________, O VIH/SIDA nos meios de comunicação social :artigo
entregue aos estudantes de mestrado em saúde pública (2013), Faculdade de Ciências de
Saúde, Beira-Moçambique
 ______________________, Educação e Comunicação para A Saúde, , palestra apresentada
aos estudantes de mestrado em saúde pública (2013), Faculdade de Ciências de Saúde,
Beira-Moçambique.
 RAMÍREZ, Francisco Esteve e MORAL, Javier Fernández del. (1999). Áreas de
Especialización Periodística. Madrid: Fragua. Espana
 ROSS, Helen e MICO, Paul (1997). Theory and Practice in Health Education. Mayfield
Publishers, USA.
 SCLIAR, Moacyr (2007), História do Conceito de Saúde, Rio de Janeiro, Brasil.
 VAZ, Gil Nuno (1995), marketing instituicional, o mercado de ideias e imagens, São Paulo,
Brasil. Commented [c8]: Rever. Deve seguir rigorosamente uma das
normas convencionais de apresentação de referências bibliográficas
 Who world malaria report 2012 e de trabalhos académicos, em geral, nomeadamente APA,
HARVARD, etc.
http://www.who.int/malaria/publications/world_malaria_report_2012/en/
Formatted: Portuguese (Portugal)
Formatted: Portuguese (Portugal)
A malária na midia moçambicana Carlos Amade, MD

Muito bom trabalho em termos de estrutura e seguimento lógico. Além das referências
obrigatórias, optou por literatura relevante. Falha apenas na capacidade de síntese relativamente
ao limite exigido. Mas pela ambição, criatividade e rigor na análise e discussão críticas, o seu
trabalho tem uma avaliação positiva.

Nota: 18

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