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MEDITAÇÃO PARA INICIANTES

J. I. Wedgewood

ÍNDICE
INTRODUÇÃO

PREFÁCIO

SIGNIFICADO DA MEDITAÇÃO

O QUE É MEDITAÇÃO

PRIMEIROS PASSOS

MEDITAÇÃO SOBRE OS CORPOS

UMA FORMA MAIS ELABORADA QUE ACIMA

CONCENTRAÇÃO

MEDITAÇÃO

MEDITAÇÃO SOBRE A SIMPATIA

MEDITAÇÃO PARA EXPANDIR A CONSCIÊNCIA

CONTEMPLAÇÃO

A BUSCA PELO MESTRE

A CONSTRUÇÃO DO CARÁTER

AUXÍLIOS FÍSICOS PARA A MEDITAÇÃO


POSTURA

RESPIRAÇÃO E OUTRAS QUESTÕES

HORÁRIOS

POSITIVIDADE E DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO

RELAXAMENTO

A SENDA DO SERVIÇO

INTRODUÇÃO

Recolha-se para dentro de você mesmo e olhe. E se você ainda não se


achar belo, faça como o criador de uma estátua que deve tornar-se bela; ele
desbasta aqui, suaviza ali, torna este contorno mais delicado, aquele outro
mais puro, até que ele revele um rosto formoso na estátua. Faça o mesmo;
remova tudo o que é excessivo, endireite tudo o que estiver torto, leve luz a
tudo o que o que for sombrio, trabalhe para fazer tudo incandescente de
beleza, e não pare de cinzelar sua estátua até que de lá brilhe sobre você o
divinal esplendor da virtude, até que você possa ver a bondade final
firmemente instalada no sacrário imaculado. Plotino, sobre o Belo (Tradução
a partir da versão inglesa de Stephen MacKenna)

PREFÁCIO

James Ingall Wedgewood nasceu em Londres, em 1883, e faleceu em


Farnham, em 1951. Ele era um membro da eminente família Wedgewood
que há algumas gerações tem se distinguido na arte, na ciência, na indústria
e em outros ramos do serviço público. Quando jovem estudou música de
igreja e construção de órgãos, e posteriormente recebeu o grau de Doutor
(Ciências) da Universidade de Paris por um livro sobre esse tema que ainda
hoje está em uso. Em 1904, profundamente influenciado por uma palestra
da Dra. Besant, juntou-se à Sociedade Teosófica, tornando-se Secretário
Geral da Seção Inglesa em 1911. Em 1916 foi consagrado como o primeiro
Bispo da Igreja Católica Liberal, um movimento devotado à liberalização do
pensamento Cristão, a qual ele muito contribuiu para criar. A reimpressão
deste pequeno mas inestimável livro sobre meditação tinha sido planejada
antes de sua morte. Os responsáveis por ela sabem que seus muitos
amigos não desejariam que aparecesse neste momento sem um breve
reconhecimento do débito a ele devido por estudantes e aspirantes de todo
o mundo. Sua publicação é somente um dos muitos tributos que continuarão
a ser pagos a ele, em apreciação do que ele deixou não só para os que o
conheceram, mas para toda a humanidade.

Londres, Maio de 1951.

*****

SIGNIFICADO DA MEDITAÇÃO

É significativo da tendência espiritual da Sociedade Teosófica que haja um


crescente interesse na meditação, e muitos agora desejam ajuda e
orientação nessa prática. Na Seção Interna da Sociedade Teosófica
(chamada Escola Esotérica) muita instrução definida e útil está disponível
para os estudantes dedicados e aceitos; mas há muitos que, talvez por
razões domésticas ou outras, não se sentem livres para assumir a pesada
responsabilidade implicada nesta associação, pois entrar na Escola
Esotérica implica que a Teosofia daí em diante se tornará um fator
dominante na vida. Esses membros freqüentemente desejam aprender
como meditar, e é na esperança de ajudar essa grande classe de pessoas
devotadas e espiritualmente orientadas que estas presentes sugestões são
oferecidas. Além disso, pode ser salientado, somente é possível ser
admitido na Escola Esotérica após três anos de filiação na seção externa da
Sociedade, e durante este período preliminar muito do necessário trabalho
prévio deve ser completado, com o resultado de que o aspirante esteja
melhor preparado para o treinamento da Seção Interna e do serviço maior à
sua vida corporativa.

As presentes indicações foram escritas mais especialmente para os


Teosofistas, ainda que possam ser de auxílio para outros que ainda não
abraçaram a filosofia de vida reunida sob o nome de Teosofia. Este curso
tem sido adotado com muita cautela, pois o autor acredita que é de pouca
utilidade por-se a trabalhar na séria prática da meditação até que os ensinos
sobre o controle e uso do pensamento e da emoção apresentados nos livros
Teosóficos tenham sido dominados, e até que o aspirante tenha saído do
estágio de diletante do ocultismo. Até então ele retirará maior benefício de
tranqüilas reflexões sobre livros devocionais ou das práticas dos métodos
mais antigos prescritas pelas várias religiões exotéricas. Para estudantes
mais avançados, que seguem outros métodos de estudo, o autor não se
considera apto a escrever.

O QUE É MEDITAÇÃO
A meditação consiste na tentativa de trazer à mente consciente, isto é, à
mente em seu estado normal de atividade, alguma percepção da
superconsciência, de criar pelo poder da aspiração um canal através do
qual a influência do princípio espiritual ou divino, o homem real, possa
irradiar-se à personalidade inferior. É uma projeção do pensamento e
sentimento em direção a um ideal, e uma abertura das portas da
aprisionada consciência inferior à influência daquela idéia. 'Meditação', diz H.
P.Blavatsky, 'é o inexprimível anelo do homem interior pelo Infinito'. O ideal
escolhido deve ser abstrato, pode ser uma virtude, tal como simpatia ou
justiça; pode ser o pensamento sobre a Luz Interna, aquela Divina Essência
que é a realidade mais íntima da natureza humana: ela pode mesmo ser
reconhecida apenas como uma vaga e pálida sensação do que há de mais
alto em nós. Ou o ideal pode ser personificado num Mestre, um Instrutor
Divino, na verdade ele pode ser visto encarnado em qualquer um que
sentimos de algum modo dignos de nosso respeito e admiração.
Conseqüentemente o assunto e o tipo de meditação variarão largamente de
acordo com o temperamento e raio do indivíduo. Mas em todos os casos é
essencialmente a elevação da alma à sua divina fonte, o desejo do eu
particular de tornar-se uno com o Eu Universal.

PRIMEIROS PASSOS

O primeiro passo na meditação consiste em cultivar o pensamento, até que


se torne habitual, de que o corpo físico é um instrumento do espírito. Os que
recém tomaram conhecimento do pensamento teosófico acham no começo
difícil de reverter seus pontos de vista; para eles a alma e o espírito são
irreais. Os planos e corpos, dos quais os escritores Teosóficos falam em
suas tentativas de transmitir com clareza e precisão científica um pequeno
vislumbre dos mistérios do ser humano, são memorizados em termos de
algum diagrama, sendo cada nome evocado com um esforço da memória. O
corpo físico é a única realidade tangível e o corpo supra-físico uma
evanescente e vaga, mera concepção intelectual. Mas gradualmente e
quase imperceptivelmente este sentimento é abandonado; um sentimento
de percepção do supra-físico começa a agir no cérebro físico e a dar vida ao
que antes era uma simples teoria intelectual. A razão para isso não precisa
ser procurada longe. Ler livros Teosóficos é pôr-se em contato com forças
poderosamente estimulantes no mundo dos arquétipos mentais; ler sobre os
corpos superiores tende, por direcionarmos a atenção para aqueles corpos,
a despertar a autoconsciência neles. Interesse e estudo do plano astral e do
corpo astral gradualmente despertam o estudante naquele plano durante o
sono físico. A estimulação dos corpos superiores à maior atividade também
é auxiliada ao estarmos dentro da aura de pessoas supra-fisicamente
desenvolvidas. Como um resultado natural esta expansão da natureza
interna começa a modificar a consciência desperta, o conhecimento do
Homem Superior lentamente se filtra para dentro do cérebro físico, e o
estudante verá seu panorama da vida sofrendo grande mudança. Uma
expansão da consciência se torna perceptível, novos horizontes de
pensamento e sentimento se abrem diante de si, seu ambiente na vida
assume um novo significado à medida que desperta para eles, e as
verdades da Teosofia começam a passar da teoria intelectual para a
experiência espiritual. Tal é, brevemente falando, a razão física para a
gradual expansão da consciência, que acompanha as primeiras
experiências da maior parte dos Teosofistas que são realmente sérios; e
podemos, de passagem, arriscar a idéia de que os três anos que devem
transcorrer antes que um estudante se torne admissível à Escola Esotérica
são prescritos não só para que sua perseverança na Teosofia possa ser
testada, mas também que esse tempo possa ser concedido para essa
mudança nos corpos supra-físicos, pela qual ele poderá intuitivamente vir a
sentir-se como o Homem Superior usando um instrumento físico.

Agora esse processo e esse despertar podem ser materialmente


estimulados. 'Ajude a Natureza', diz A Voz do Silêncio, 'e trabalhe com ela;
e a Natureza o verá como um de seus criadores e lhe será obediente'. Um
moderno escritor científico parafraseou a mesma verdade nas palavras 'a
Natureza é conquistada pela obediência'; temos apenas que entender as
leis da Natureza, e então, corretamente selecionadas e aplicadas, elas se
tornarão nossos servidores obedientes. Isso que ocorre lugar lenta e
gradualmente no decurso comum do tempo pode ser acelerado com um
esforço inteligente e bem direcionado. Por isso o primeiro exercício do
estudante em meditação pode apropriadamente ter em vista esta sua
aspiração de perceber conscientemente o Homem Superior.

A prática a seguir é uma que o presente autor utilizou com bons resultados,
até que não houve mais necessidade de continuá-la.

MEDITAÇÃO SOBRE OS CORPOS

Que o estudante comece pensando no corpo físico; então considere como é


possível controlá-lo e dirigi-lo, e então em pensamento se separe dele;
considere-o como um veículo, e imagine-se por alguns momentos vivendo
no corpo astral. Que reflita, então, que ele pode controlar suas emoções e
desejos; e, com um grande esforço, repudiar o corpo astral e perceber que
ele não é esse corpo de paixões, desejos e emoções em erupção e
combate. Que imagine-se vivendo no corpo mental; e considere mais uma
vez que pode controlar seus pensamentos, e que tem o poder de orientar
sua mente para pensar em qualquer coisa que queira, e novamente com um
esforço repudie o corpo mental. O estudante deveria agora deixar-se pairar
na livre atmosfera do espírito onde há paz eterna, e, descansando lá por
algum tempo, procure com grande intensidade perceber Aquele que é o
verdadeiro Eu.
Deixemo-lo agora descer novamente, trazendo consigo a paz de espírito
através dos diferentes corpos. Deixemo-lo imaginar a aura do corpo mental
irradiando à sua volta, e deixe que a influência da paz o inunde, enquanto
reafirma que ele é o Eu que usou o corpo mental como um instrumento a
seu serviço. Então descendo para o corpo astral, novamente permita que a
paz se irradie através da aura, enquanto reafirma que ele é aquele que usa
as emoções como suas servas; e finalmente, que retorne ao corpo físico,
reconhecendo-o como um instrumento, e um centro da divina paz, haja o
que houver no mundo.

O exercício pode a princípio parecer estranho e infrutífero, pois o corpo


físico ainda é a grande realidade, e pensamento e sentimento ainda são a
grande realidade, e pensamento e sentimento ainda são passíveis de serem
considerados como produtos do cérebro físico. O iniciante deve lembrar que
ele está procurando desfazer os hábitos mentais de anos, e portanto não
deve impacientar-se por resultados imediatos. Possivelmente muito tempo
poderá passar antes que sua intuição lhe assegure infalivelmente que há
um poder maior dentro de si, guiando suas ações e moldando seu curso
pela vida. Muito naturalmente, ele pode considerar a hipótese de auto-
hipnose, o pensamento de que ele possa por degraus sucessivos estar-se
iludindo em crenças fantasiosas que não possuem nenhum fundamento de
realidade. Para a mente bem equilibrada os primeiros estágios são de longe
os mais difíceis, porque há uma reticência natural em aventurar-se no
desconhecido e uma tendência em bater em retirada mental a cada suspeita
de perigo. A despeito disso, é bastante razoável fazer uma tentativa séria
num sistema exposto pelas maiores mentes da antigüidade, prescrito em
todas as grandes religiões e experimentado por pessoas eminentemente
sãs e sinceras dos dias de hoje. E uma prática um tanto regular e
persistente é necessária para conduzir à obtenção de certos resultados.
Quão nítidos serão esses resultados e com que rapidez eles aparecerão
naturalmente dependerá do temperamento, da diligência e das
possibilidades do indivíduo.

UMA FORMA MAIS ELABORADA QUE ACIMA

À medida que o iniciante for ficando mais familiarizado com a meditação


acima delineada, ele pode começar a elaborá-la, de acordo com a tendência
de seu temperamento. Ele pode achar de utilidade, por exemplo, considerar
a comparação do piano e do pianista. Como o piano produz som e música
organizada, assim o cérebro e o corpo físico dão expressão ao pensamento,
sentimento e atividade organizada. Mas é o pianista que expressa a si
mesmo por meio do instrumento. Da mesma maneira o corpo físico (em
suas atividades voluntárias) apenas vibra em resposta ao Homem Superior.

Apartando-se em pensamento do corpo físico e examinando-o com a fria


discriminação da mente, ele deveria tentar perceber que ele é só um
veículo, um instrumento, uma vestimenta de carne. A fim de que a
consciência, que é a manifestação do espírito, possa contatar o mundo
físico ela deve habitar um tabernáculo de matéria física relativo e afinado
àquele mundo físico, pois somente um veículo físico de consciência pode
entrar em relação vibratória com a matéria física. Pela multiplicidade de
experiências a serem obtidas do mundo físico e pela gradual adequação do
instrumento físico para responder-lhes, o espírito desdobra seus poderes
inatos da latência à potência.

Ele pode então considerar como é possível controlá-lo e dirigi-lo, como ele
responde aos ditames da inteligência diretriz, o Eu. Pois separando-se dele
em pensamento, deveria a seguir imaginar-se vivendo por alguns momentos
no corpo astral.

Que reflita, então, que o corpo astral não é seu Eu real. Ele pode controlar
suas emoções e desejos, ele pode regular o jogo dos sentimentos. Suas
emoções são apenas um aspecto de sua consciência trabalhando no e
limitada pelo corpo astral, o qual, por sua vez, é uma habitação construída a
partir da matéria do plano astral, para que a consciência interna possa
entrar em relações com ele. Ele próprio não é este corpo de paixões,
desejos e emoções irrompendo em luta. Em seus momentos mais tranqüilos
ele sabe que ele está acima da erupção das emoções. Seus arroubos de
paixão, de inveja, de medo, ou egoísmo e ódio, nada disso é ele mesmo, é
apenas o jogo das emoções que fugiram ao controle, como um cachorro
pode fugir da coleira. No coração de seu coração ele sabe que muito disso
já está sob seu controle, então pela força de paciência perseverante e
dedicado esforço tudo pode ser trazido no devido tempo para dentro dos
devidos limites, e a maestria sobre as emoções terá sido atingida.

Assim ficando como se de fora de suas emoções, olhando para baixo para a
inteira esfera de suas atividades, que imagine-se a seguir como vivendo no
corpo mental.

Não é difícil para o iniciante separar-se de seus corpos físico e emocional se


foi ensinado na prática da moralidade normal a detectar e controlar ações e
emoções violentas; mas provavelmente não terá recebido muita instrução
sobre o poder do pensamento, e conseqüentemente ele acha difícil
perceber de pronto a possibilidade de controlar seu pensamento.

Assim ele possui o poder de direcionar sua mente para qualquer objeto de
seu agrado, e por força da perseverança pode aprender a mantê-lo fixo lá. E
eventualmente pode ganhar tal controle sobre a mente que será capaz de
eliminar dela à vontade qualquer pensamento inoportuno.

E assim, passando através dos vários estágios, ele pode elevar-se à


contemplação dAquele que está além das palavras, inefavelmente real e
sagrado, alcançando o verdadeiro relicário de seu próprio ser, o altar sobre
o qual a própria Divina Shekinah1 (1 Segundo o Glossário Teosófico de H.
P. Blavatsky, Shekinah é a Graça Divina, ou a Luz Primordial eterna. É o
título aplicado pelos cabalistas ao Décimo Sephira, Kether (Coroa), o
primeiro da Tríade Suprema, o Mistério dos Mistérios. - N. do Trad.) se
manifesta, e trazer com ele aquela radiância para os mundos dos sentidos
exteriores.

Quando o estudante por sua meditação e por seu reiterado pensamento


durante o dia passou a considerar a si mesmo como o Homem Interno,
trabalhando externamente no mundo através da instrumentalidade de um
corpo físico, pode então passar para formas mais elaboradas e científicas
de meditação. Ele deveria começar a trabalhar com o mais completo
entendimento de seus vários detalhes e estágios, considerando-a ao
mesmo tempo como um meio de regeneração espiritual e crescimento e
uma ciência de controle da mente e dos sentimentos fugidios.

CONCENTRAÇÃO

A meditação é usualmente dividida em três estágios: Concentração,


Meditação e Contemplação. Poderia ser ainda mais subdividida, mas é
desnecessário fazê-lo aqui; de outra parte, o iniciante deveria manter em
mente que a meditação é uma ciência para toda a vida, de modo que não
deve esperar atingir o estágio da pura contemplação em seus primeiros
esforços.

A concentração consiste em focalizar a mente em uma única idéia e mantê-


la ali. Patanjali, o autor do clássico hindu Aforismos do Yoga, define Yoga
como 'a suspensão das modificações do princípio pensante'. Esta definição
é aplicável à concentração, ainda que Patanjali provavelmente vá além em
seu pensamento e inclua a cessação da faculdade mental de construção de
imagens e de todas as expressões concretas do pensamento, virtualmente
assim passando além do estágio da mera concentração para o da
contemplação.

Para poder se concentrar, então, é necessário ganhar controle sobre a


mente e aprender por prática gradual a estreitar seu leque de atividades, até
que se torne unidirecionada. Alguma idéia ou objeto é escolhido sobre o
qual concentrar-se, e o passo inicial é eliminar da mente todo o resto, excluir
portanto toda a corrente de pensamentos alheios ao assunto, que dançam
ante a mente como as imagens cambiantes do cinema. É verdade que muito
da prática inicial do estudante deverá ser nos estágios inicias esta forma de
exclusão repetida de pensamentos; e pôr-se a fazer isso é um treinamento
excelente. Mas há uma outra e muito melhor maneira de atingir a
concentração; consiste em se tornar tão interessado e absorvido no tema
escolhido que todos os outros pensamentos são por isso mesmo excluídos
da mente. Estamos constantemente fazendo isso em nossas vidas diárias,
inconscientemente e por força do hábito. Escrever uma carta, fazer contas,
tomar grandes decisões, resolver problemas difíceis, todas estas coisas
colaboram para que a mente seja induzida a um estado mais ou menos
profundo de concentração. O estudante deve aprender a consegui-la à
vontade, e será mais bem-sucedido cultivando o poder e o hábito de
observar e prestar atenção aos objetos externos.

Tome qualquer objeto: um porta-canetas, um pedaço de papel, uma folha,


uma flor, e note os detalhes de sua aparência e estrutura que normalmente
passam despercebidos; enumere uma por uma suas propriedades, e logo
achará o exercício de um interesse absorvente. Se for capaz de estudar o
processo de sua manufatura ou crescimento, o interesse aumentará ainda
mais. Nenhum objeto na natureza é de fato completamente tosco ou
desinteressante; e quando algo se nos aparece assim, a falha em apreciar a
maravilha e a beleza de sua manifestação reside em nossa própria falta de
atenção.

Como auxílio à concentração, é bom repetir em voz alta as idéias que lhe
passam pela mente. Assim; este porta-canetas é preto; ele reflete a luz da
janela em algumas partes de sua superfície; tem cerca de dezessete
centímetros de comprimento, cilíndrico; sua superfície é gravada com um
desenho; o desenho tem forma de galhos e é formado por séries de linhas
gravadas muito juntas; e assim por diante à vontade.

Desse modo o estudante aprende a retirar-se do mundo maior e fechar-se


no pequeno mundo de sua escolha. Quando isso for conseguido
satisfatoriamente terá atingido um certo grau de concentração; mas é
evidente que haverá ainda muitos e diversos pensamentos rolando pela
mente, ainda que todos em torno do porta-canetas. O falar em voz alta
ajuda a diminuir a velocidade dessa corrente de pensamentos e evita que a
mente devaneie. Gradualmente pela prática ele aprende a limitar ainda mais
o círculo de pensamentos até que literalmente pode direcionar a focalização
da mente para um só ponto.

A prática acima é por natureza um pouco difícil de ser conseguida; requer


um grau de aplicação estrênua, e, mais que tudo, pode aparecer algo fria ao
estudante, já que desperta pouca emoção. Um outro exercício de
concentração pode portanto ser feito correntemente, mas antes de descrevê-
lo devemos dizer que o exercício anterior, em algum momento da carreira
do estudante, precisa ser dominado. Algum grau de maestria nisso é pré-
requisito para a visualização bem-sucedida, isto é, o poder de reproduzir
mentalmente um objeto com minúcia de detalhes sem ele estar visível aos
olhos, e a visualização acurada é uma parte necessária de muito do
trabalho que é feito pelos estudantes treinados em métodos ocultos tais
como a construção deliberada de formas-pensamento e a criação mental de
símbolos no cerimonial. Coerentemente, o estudante que for mesmo
dedicado não negligenciará este tipo de trabalho por causa de sua
dificuldade e por requerer aplicação. Ele também se porá a trabalhar na
visualização, observando e perscrutando cuidadosamente um objeto, e
então com os olhos fechados tentará fazer uma representação mental dele.

O segundo método mencionado antes é o de não se concentrar sobre um


objeto físico, mas sobre uma idéia. Se alguma virtude for tomada isso terá a
vantagem de despertar o entusiasmo e a devoção do estudante, e essa é
uma consideração muito importante nos estágios iniciais da prática, quando
a perseverança e firmeza são com freqüência penosamente testadas. Além
disso, os esforços constroem aquela virtude no caráter. Neste caso a
concentração é mais dos sentimentos e menos evidentemente um processo
mental. O estudante se esforça por reproduzir em si mesmo a virtude,
digamos simpatia, pela qual anseia, e por força de manter-se numa única
emoção, pelo poder da vontade eventualmente terá sucesso em sentir
simpatia. É mais fácil ser unidirecionado no sentimento do que no
pensamento, pois este último é mais sutil e ativo; mas se uma intensa
concentração de sentimento puder ser induzida, a mente em certa medida a
seguirá.

MEDITAÇÃO

Tendo assim considerado a concentração podemos passar agora à segunda


divisão principal de nosso assunto, isto é, a meditação.

A meditação é a arte de considerar um assunto ou analisá-lo mentalmente


em seus vários atributos e relações. Propriamente falando, o estágio de
meditação não se segue diretamente à completa unidirecionalidade da
mente que discutimos acima, antes secunda aquele estágio de
concentração relativa que baniu da mente todas as idéias alheias ao único
assunto sob consideração; mas a eficiência de concentração será requerida
à medida que cada variedade de meditação for trabalhada. Não precisamos
ocupar mais espaço com outras definições de meditação, mas podemos
passar imediatamente para certos esquemas da prática que ilustrarão sua
natureza e método mais claramente que dissertações teóricas. Falamos
acima no pensamento sobre a simpatia e podemos usá-lo como tema de
meditação.

MEDITAÇÃO SOBRE A SIMPATIA


Reflita que como todas as outras virtudes esta é um atributo da Consciência
Divina; tente entender sua natureza e função no mundo; considere-a como
um poder unificante ligando um eu particular a outro. Compare-a com o
amor: simpatia implica entendimento do outro e o poder de colocarmo-nos
em seu lugar; amor não necessita implicar esse entendimento; por outro
lado para sua completa expressão a simpatia requer um forte poder de
motivação interna que só o amor pode conceder. Imagine a divina simpatia
como se fluindo para o mundo através do homem ideal: o Cristo ou o
Mestre; e então como se dirigida para alguém particular.

O estudante deveria então com uma forte aspiração ativa mergulhar a si


mesmo na corrente desta influência inefável que se irradia do Mestre, e
procurar atingir o objeto de sua devoção. (Aqui o estágio da contemplação
pode ser atingido). Ele deveria então pensar nessa virtude aplicada à sua
vida cotidiana, aos seus amigos e pessoas amadas e mesmo àqueles com
quem haja necessidade de um melhor entendimento; imagine-os um por um
perante Ele e os envolva com a influência que está se derramando através
dEle. Uma outra e mais elaborada meditação pode ser dada para o
benefício daqueles que são incapazes de permanecer por qualquer período
em um único pensamento.

MEDITAÇÃO PARA EXPANDIR A CONSCIÊNCIA

O estudante poderia elevar sua consciência e contemplar as imensidões do


universo; a imagem dos céus estrelados, a suave radiância do pôr-do-sol,
ou o pensamento do cosmos incluso no átomo infinitesimalmente pequeno,
o ajudarão nisso, e poderá, se assim quiser, usar o método de elevar-se
através dos corpos descrito antes neste livro. Então direcione seus
pensamentos na mais alta aspiração em direção ao Logos2 (2 Logos: a
Divindade manifesta. N. do Trad.) de nosso sistema e imagine todo o
sistema como se contido nos limites de Sua consciência: 'nEle nós vivemos
e nos movemos e temos nosso ser'. Ele pode então seguir a linha de
pensamento desenvolvida pela Sra. Besant no panfleto intitulado Sobre os
Temperamentos; a saber, que ainda que possamos naturalmente pensar
nos membros excelsos da Hierarquia como estando mui distantes de nós e
quase além do alcance da nossa débil aspiração devido ao seu
distanciamento dos interesses humanos mesquinhos, o inverso é que é a
verdade, e nós estamos literalmente no mais íntimo contato com a
consciência todo-abrangente do Logos. O estudante pode achar útil pensar
sobre o aumento progressivo da aura à medida que o desenvolvimento
espiritual é obtido; na do homem normal, na dos discípulos e iniciados, na
aura do Mestre e na estreita relação de consciência entre o Mestre e seus
discípulos e outros a quem está ajudando, na aura do Senhor Buda que de
acordo com a tradição se estendia por quase três quilômetros em torno de
Sua Pessoa, e então alçando-se em pensamento poderia conceber um ser
cuja aura ou campo de consciência abrangesse a totalidade de nosso
planeta, e nAquele que assim abraça todo o sistema a que pertencemos.
Literalmente é verdadeiro que cada ação, cada sentimento e cada
pensamento a que damos expressão são parte dEle; melhor, que nossa
própria memória é parte de Sua memória, pois não é toda a recordação
apenas o poder de tocar os registros akáshicos da natureza, que é só uma
expressão de Si Mesmo?

O estudante pode então passar a pensar em algumas daquelas qualidades


que ele pode associar com a manifestação de Deus em Seu mundo;
tomemos a justiça e a beleza e o amor; que a justiça do Supremo se revele
nas invariáveis leis da natureza, na lei da conservação da energia, a fórmula
de Newton que diz que ação e reação são equivalentes e opostas, na lei da
retribuição kármica que dá a cada homem a justa paga por seus feitos. Que
pense no que a fé no karma realmente implica: a mão que desfere um golpe
terrível é o seu próprio passado redivivo; e com tais reflexões possa
contentar-se com o que quer que suceda ou não a ele. Que pense ainda
nas inumeráveis relações sob esta lei estreitadas entre um homem e outro,
o desdobrar do plano de Deus no universo, e veja nestas complexas
relações a imutável lei da justiça perfeita.

Passando adiante para o aspecto da beleza ele pode estudar o


extraordinário plano do Grande Arquiteto e Grande Geômetra do universo, e
olhando com atenção mais fina para cada criatura da natureza possa
perceber a universalidade daquele aspecto do Supremo que se expressa
pela beleza ou harmonia. Passando da beleza natural para aquela criada
pelo homem ele pode voar alto nas asas da imaginação e contemplar as
obras-primas da arte humana que se beiram o território da divindade,
porque em plena verdade os materiais nas mãos do artista são os poderes
divinos da natureza. Assim, na música, as poderosas estruturas sonoras
refletem em muitos aspectos aquelas forças arquetípicas da natureza que
emanam das resplandecentes hostes dos Gandharvas3 (3 Gandharvas: os
músicos celestes. - N. do Trad.), revelando ao homem o poder do Verbo
oculto e elevando-o para cima de volta ao reino de sua herança divina.

E no amor compassivo do Supremo todas as relações humanas de ternura


e amor têm sua origem. Ao olho do espírito a beleza da mulher não dá
margem ao desejo carnal, mas é antes uma razão para que ela seja
respeitada como uma criança de Deus e uma manifestação de Sua beleza
suprema. Há somente um amor disseminado por todo o universo, dado pelo
Divino Pai à custódia de Suas criaturas; é a única força primal que em seus
aspectos criativos elementares produz a multiplicidade das formas e em seu
aspecto mais elevado reúne as almas em direção à unidade na Vida Una.

CONTEMPLAÇÃO
Ao iniciante que tenta as meditações citadas previamente, elas no começo
parecerão provavelmente pouco mais que exercícios intelectuais, mais ou
menos interessantes de acordo com a feição de seu temperamento e
capazes de suscitar um pouco de emoção. Mas perseverando em seus
esforços e penetrando mais na maravilha e beleza dos grandes conceitos
que ele está considerando, gradualmente ganhará algo daquela experiência
espiritual pessoal que transpõe o hiato entre o homem de conhecimento e o
homem de sabedoria, e atingirá alguma percepção daquela paz interna e
exaltação de alma, da qual Santo Alfonso de Ligório fala quando descreve a
meditação como 'a bendita fornalha em que as almas são inflamadas de
Amor Divino'. Pois a meditação harmoniza os corpos em que trabalhamos,
possibilitando à luz do espírito brilhar e iluminar os escuros recessos de
nossa consciência desperta. Ela sossega o turbilhão de nossas
personalidades, a mente, as emoções, a incansável atividade de nosso
cérebro, e por causa das vibrações sincrônicas dos corpos inferiores
possibilita ao Ego que influencie a personalidade. E assim o estudante se
enriquecendo de experiência espiritual, encontrará novos níveis de
consciência gradualmente se abrindo em si. Fixado em aspiração sobre seu
ideal, ele logo se tornará consciente da influência daquele ideal descendo
sobre ele, e fazendo um esforço supremo para atingir o objeto de sua
devoção, por um breve momento as próprias comportas do céu se abrirão e
ele se encontrará unificado com sua idéia e inundado pela glória de sua
realização. Estes são os estágios de contemplação e união. Os primeiros
são a subida, quando as figuras mentais mais comuns forem transcendidas,
estes últimos são o alcance daquele estado de êxtase do espírito, quando
os membros da personalidade se desprenderam e toda a sombra de
separatividade foi dissipada na perfeita união entre objeto e buscador. Seria
fútil tentar maiores descrições destas experiências, pois não estão além da
possibilidade de expressão formal? As palavras podem servir apenas como
sinais apontando o caminho para aquilo que é inefavelmente glorioso, para
que o peregrino possa saber para onde direcionar seus passos.

A BUSCA PELO MESTRE

As meditações esboçadas acima servirão como uma boa base para o


trabalho do iniciante, e, se seguidas conscienciosamente, devem conduzir a
bons resultados. Qual precisamente há de ser o valor desses resultados
dependerá, é claro, do indivíduo. Mas o crescimento dentro da vida interna
de experiência espiritual pode ser acelerado tomando-se partido de certas
oportunidades que são privilégio do Teosofista. Nenhum estudante sério
pode continuar sendo Membro da Sociedade Teosófica se não perceber que
a pedra angular de todo o nosso edifício espiritual é a concepção dos
Mestres, e que seu poder é o verdadeiro sangue vital da Sociedade. Somos
informados de que a Sociedade foi fundada pelos Irmãos da Grande Loja
Branca, para ser em um sentido particular seu instrumento no mundo; se
isso for verdade, as oportunidades do Teosofista devem ser
transcendentemente magníficas. Resta ao iniciante provar este grande fato
por si mesmo, como outros o têm provado antes dele.

Foi dito uma vez pela Sra. Besant que um Mestre declarou que quando uma
pessoa se une à Sociedade Teosófica ela se conecta aos Irmãos Mais
Velhos que dirigem seu trabalho através de um tênue fio de vida. Este fio é
o canal de sintonia magnética com o Mestre, e o estudante pode, com árduo
esforço, pela devoção e pelo serviço altruísta, reforçar e alargar o fio até
que se torne uma linha de luz viva. Os Mestres tomam como discípulos
aqueles que oferecem as qualificações especiais necessárias. O fato de que
haja poucos que obtêm este privilégio excepcional não precisa deter de
modo algum o estudante dedicado, pois há muitos abaixo do grau de
discípulo nos quais o Mestre têm um interesse e a quem auxiliam de tempos
em tempos seja de um modo genérico ou com atenção especial. Na
verdade, pode ser dito que há uma constante pressão da força do Mestre
por trás da Sociedade, assim aqueles membros que hão de se abrir a ela
podem se tornar canais pelos quais ela flua, capacitando-os a fazer em
nome do Mestre trabalhos maiores que os seus próprios.

Percebendo isso, o Teosofista imbuído no delineamento de sua empreitada


espiritual desejará com toda probabilidade alcançar o Mestre, como o mais
elevado ideal dentro de seu leque de aspirações espirituais. Como ele pode
preparar-se para essa tarefa? Primeiro, por serviço dedicado, tanto em sua
vida diária quanto à Sociedade que é o instrumento físico dos Mestres.
Tendo isso como garantido; e que mais pode ser dito senão como ele deve
proceder? O próximo passo dependerá de seu temperamento. Ele pode
imaginar para si um Homem Ideal, sintetizando nele as qualidades e
atributos de caráter que mais fortemente o atraem, e se esforçando para
desempenhar todas as suas ações em seu nome e alcançá-lo em sua
meditação. Outros escolherão ainda um método mais concreto e tentarão
alcançar os Grandes Seres através daqueles que são seus alunos e
discípulos no mundo externo. Tome por exemplo aqueles que se nos
aparecem como os líderes mais largamente reconhecidos do movimento
Teosófico. Aqueles líderes representam para muitos de nós os Mestres que
estão por trás da Sociedade, e são os canais na Sociedade para sua
poderosa influência. É verdade que algumas pessoas detestam a atitude de
culto a heróis e devoção a pessoas; essa aversão remonta mui amiúde, ai!,
de esperanças do passado, desapontamento e rupturas, enquanto em
outros casos é com certeza mais fundamental e própria do temperamento.
O instrumento humano pode, e geralmente o faz, mostrar muitas
imperfeições; o buscador certamente não deve imitá-los, mas tampouco
precisa se afligir com isso, pois não é certo que ele reverencia a idéia que
anima a forma?

Pois 'não sabeis que vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que está em
vós, e o recebestes de Deus?' (I Coríntios VI, 19). As características que
admiramos em um homem são manifestações da Luz Divina brilhando
através dele, e aquele sentimento de admiração é a resposta dentro de nós
ao ideal que vemos expresso no outro. Conseqüentemente, podemos bem
nos permitir ignorar as faltas nos outros, e, mesmo evitando o tolo exagero
de colocá-lo em um pedestal, sermos gratos pelos vislumbres da luz divina
que eles nos revelam. A vantagem deste método de chegar ao Mestre é de
que ele dá ao estudante um ideal constantemente dentro do alcance,
definido e tangível a ele. Há muitos que fazem eco ao lamento de
Lamartine, de que ele tinha necessidade de um Deus próximo e pessoal
para ele, um Deus Cujos braços pudessem abraçar a humanidade sofredora
e Cujos pés pudessem ser beijados pelos pecadores arrependidos. O
mesmo pensamento, ainda que com diferente aplicação, é expresso no bem
conhecido texto 'pois se ele não tiver amado o seu irmão que ele pode ver,
como amará a Deus que ele não vê?' (I João, IV, 20)

Cada chela4 (4 Chela: menino. Termo aplicado ao discípulo formalmente


aceito. Fonte: Glossário Teosófico, de H. P. Blavatsky. - N. do Trad.)
regularmente aceito por um Mestre, e é ainda mais cada vitorioso que
atravessou os portais das iniciações, é um canal da influência do Mestre;
através dele o Mestre pode ser alcançado. O Mestre assumiu certa
responsabilidade definida sobre dele, e ele é um posto avançado do
trabalho do Mestre no mundo. Destarte, qualquer serviço feito para ele, é
feito também, de certo modo, para o Mestre, mesmo que seja meramente
de maneiras tão pequenas como facilitando seu trabalho ou cuidando de
seu conforto físico, para não falarmos de modos mais extensos.

A compreensão de tudo isso deve ser completamente clara ao estudante


que voltou-se seriamente para a meta com determinação em seu coração.
De muitos modos ele pode se colocar em contato com, digamos, um dos
grandes líderes do Movimento Teosófico. Ele pode sintonizar sua mente
com aquele líder através de suas palestras ou escritos. Uma fotografia pode
ajudá-lo na meditação; e a intervalos regulares ao longo do dia ele pode
fixar a imagem em sua mente e enviar pensamentos de amor, devoção,
gratidão e força. Em dois pontos ele deve exercer escrupuloso cuidado,
quais sejam, que sua mente esteja pura e elevada e não cheia de
pensamentos mundanos quando a direcionar ao seu ideal; para isso alguns
poucos momentos podem ser tomados para uma sintonização ou limpeza
prévia; e em segundo lugar, que não deveria haver qualquer expectativa
egoísta de ajuda, de benefícios ou favores a serem recebidos em troca. É
um ponto que merece ser lembrado na meditação, que se alguém procurar
rebaixar seu ideal para sua posse pessoal, ou semi-conscientemente
procurar por gratificação pessoal ou um senso de poder ou outros
resultados egoístas, o esforço não será coroado com o sucesso devido: o
que é necessário é um ato pura aspiração altruísta, é o projetar-se para o
alto, com nenhum pensamento exceto o de dar, para o objeto de sua
adoração. Somente quando livre da mancha do egoísmo pessoal o
pensamento do estudante funcionará em um nível suficientemente alto para
abrir-se ao influxo de influências mais altas.

Muito êxito pode resultar ao longo de tais linhas de esforço; pois a lei é
certa, e uma vez que a proximidade do resultado infundir mais intensidade
de entusiasmo, maior proporcionalmente será o resultado. Se o motivo for
mantido completamente puro, e o pensamento do Mestre constantemente
em mente, o estudante pode um dia perceber que a influência que ele
contata provém através, antes do que da própria pessoa que personifica o
ideal, e assim ele gradualmente se alçará à direta consciência da presença
do Mestre. Pode ser que em alguma palestra ou cerimônia ou reunião
devocional, ele se torne consciente de um Presença maior do que o
instrumento físico, pois os Mestres freqüentemente se comprazem em
conceder em pessoa suas bênçãos sobre tais encontros de membros
dedicados.

De tais modos o estudante verá que mesmo que de início os Mestres sejam
para ele apenas uma concepção intelectual, uma necessidade lógica no seu
esquema de filosofia, gradualmente, à medida em que seus corpos se
tornam mais responsivos a influências superiores, Eles se tornarão uma
realidade viva em sua vida, reconhecida e percebida tanto pelo coração
como pela cabeça.

A CONSTRUÇÃO DO CARÁTER

Poucas palavras precisam ser ditas sobre este aspecto da meditação, pois
está subentendido no que já foi discutido. Meditação sobre uma virtude faz
um homem crescer gradualmente na aquisição daquela virtude; é colocar
deliberadamente os corpos a vibrar em resposta ao pensamento naquela
virtude, e o estabelecimento de um hábito de resposta conseqüente, pois
com cada repetição do pensamento sua recorrência se torna mais fácil.
Finalmente, é dito numa escritura hindu 'Naquilo em que um homem pensa
ele se torna; portanto pense no Eterno'.

Deveria ser usada especialmente a faculdade mental de visualização, ao


par de estrênuo esforço na prática da virtude desejada. Se um estudante
carece de coragem, ele deveria imaginar-se em circunstâncias que
requeiram sua expressão, e levar a cena toda a uma conclusão arrojada.
Como na vida real se oferecem ocasiões para uma conduta corajosa, o
pensamento na coragem mais e mais rápido afluirá à mente, e o esforço na
prática remediará o defeito original.

É bom tomar todas as virtudes como objeto de meditação, e pelo exercício


da mente e do poder da imaginação treinar-se para ser capaz de senti-las
todas à vontade.
Na luta para erradicar suas faltas uma sugestão pode provar-se de utilidade
ao estudante. O hábito de remoer sobre as faltas não conduz à saúde da
mente, mas, ao contrário, tende a encorajar a morbidez e depressão, que
agem como uma parede que repele as influências espirituais. Como um
recurso prático, é melhor ignorar as faltas de disposição o mais possível, e
concentrar toda a aspiração e diligência em direção à construção da virtude
oposta no caráter.

Um afamado escritor e pregador expressou esta verdade com veemência.


'Lembre-se de que você não pode ver ambos os lados da moeda ao mesmo
tempo. Quando você estiver desencorajado pelo descontrole de sua
natureza animal, e profundamente desgostoso de si mesmo, e odiando-se
como se fosse um completo degenerado, o mais nobre exercício para sua
faculdade mental é olhar para o outro lado da moeda- você, e pensar
intensamente neste outro lado. Diga, "Eu sou o Senhor; meu verdadeiro Ego
é Seu Divino espírito" '. (Luz sobre os Problemas da Vida, do Arquidiácono
Wilberforce).

O sucesso na vida espiritual é obtido menos por feroz combate contra a


natureza inferior do que por um crescimento no conhecimento e apreciação
das coisas superiores. Pois uma vez que tivermos experimentado
suficientemente a felicidade e júbilo da vida mais alta, por contraste os
desejos inferiores empalidecem e perdem seus atrativos. Foi dito uma vez
por um grande Instrutor que a melhor forma de arrepender-se de uma
transgressão era olhar à frente com esperançosa coragem, acompanhada
de um firme propósito de não cometer a transgressão novamente.

AUXÍLIOS FÍSICOS À MEDITAÇÃO

Ainda que a parte mais importante da meditação tenha ligação com o


direcionamento da vontade, pensamento e sentimento, é óbvio que não
podemos prescindir do corpo físico, de modo que alguns conselhos sobre
procedimentos no plano físico não estarão fora de lugar; na verdade devem
necessariamente estar entre as coisas que engajarão a mente do estudante
que está iniciando na prática, como distinta da teoria, da meditação.

POSTURA

Assim como certos pensamentos e emoções se expressam em


característicos movimentos e posturas do corpo, igualmente, pelo processo
inverso, posições do corpo tendem a induzir estados mentais e emocionais,
e ajudar os estudantes a atingi-los. É uma questão de harmonizar o físico
com os corpos superiores e com o jogo nele das forças externas da
Natureza.

No início da meditação o estudante pode adotar uma das duas posturas


recomendadas por peritos no assunto; ele pode sentar-se em uma
confortável cadeira de braços, cujo encosto não deve ser indevidamente
inclinado; as mãos podem ser cruzadas e pousar sobre as pernas ou ficar
suavemente sobre os joelhos; e os pés estarão postos juntos ou cruzados
com o direito sobre o esquerdo.

A posição deve ser cômoda e relaxada, a cabeça não deve cair sobre o
peito mas inclinar-se levemente, os olhos e boca fechados, e, como foi
sugerido por um afamado escritor indiano sobre o Yoga: a coluna vertebral,
ao longo da qual há muito fluxo magnético, ereta. Ou ainda ele pode sentar
em uma posição similar em uma poltrona, num banquinho junto ao solo, de
pernas cruzadas, à moda oriental. O fechamento das extremidades do corpo
também é recomendada para evitar o extravasamento de magnetismo, que
é um fenômeno natural, pelas pontas dos dedos, pés, etc. A posição de
pernas cruzadas é levemente mais eficaz de certos modos, uma vez que o
magnetismo então liberado diz-se que se ergue em torno do corpo em um
escudo protetor. Mas esta é uma postura excessivamente inconveniente
para a maior parte das pessoas ocidentais, ao contrário do que no Leste, de
onde a maioria de nossos modernos preceitos de yoga são originários; é a
maneira natural de sentarem, e já foi assinalado com vivacidade por um
autor que 'as dificuldades iniciais são muitas, mas são consideravelmente
aumentadas por aqueles que pensam que é necessário assumir fantásticas
posturas orientais para aborrecer o corpo, que deveria estar tranqüilo, se for
para ser ignorado com sucesso'. (Meditações, de Alice C. Arnes)

Uma posição que não deveria ser adotada, salvo em casos muito raros, é a
deitada, pois sua tendência natural é induzir ao sono. Mais ainda, o cérebro
não pode responder sincronicamente às vibrações mais elevadas dos
corpos supra-físicos se a circulação do sangue for lenta, daí o valor de uma
ducha fria ou uma caminhada ativa antes da prática matutina.

RESPIRAÇÃO E OUTROS TÓPICOS

As posturas do corpo acima recomendadas não só facilitam, mas pode-se


dizer mesmo induzem, uma ampla respiração abdominal, como a que é
praticada por cantores bem treinados. Há uma conexão íntima entre
meditação profunda e meditação. George Fox, o Quaker4 (4 Os Quakers
formam uma seita religiosa fundada na Inglaterra em 1647 por George Fox,
caracterizada por sua simplicidade e severidade de costumes. Excluem o
cerimonial, o clero e o culto exterior, e consideram a si mesmos templos do
Espírito Santo. - N. do Trad. Fonte: Glossário Teosófico, H.P.Blavatsky) e
alguns dos Quietistas5 (5 O Quietismo é uma seita religiosa fundada pelo
sacerdote espanhol Miguel de Molinos, e que pregava que a única prática
religiosa possível era a contemplação. - N. do Trad. Fonte: Glossário
Teosófico, H.P.Blavatsky) alegam ter recebido o dom da respiração interna.
Isso é encontrado na prática real, pois à medida que o corpo se harmoniza
na meditação a respiração se torna mais profunda, regular e rítmica, até um
grau em que se torna tão lenta e plácida que quase deixa de ser perceptível.
Este efeito tem sido notado, e o processo é inverso no Hatha Yoga, onde
por deliberada regulação da respiração busca-se harmonizar as funções do
corpo e, finalmente, os trabalhos da mente. Mas o estudante deveria se
precaver contra a prática indiscriminada de exercícios respiratórios
apregoada em toda a literatura ocidental sobre Yoga. Para começar, é
sempre mais perigoso em cultura física trabalhar de baixo para cima; fazer
travessuras com o corpo físico antes que levar no coração o profundo
preceito da Voz do Silêncio: 'A Mente é a grande Assassina do real. Que o
Discípulo mate a Assassina'. O estudante será mais prudente se aprender a
controlar o pensamento ao longo das linhas do Raja Yoga, deixando que
seus esforços na meditação façam seu efeito natural no desenvolvimento de
seu corpo físico e na modelação de seus órgãos psíquicos. Além disso, o
que pode ser praticado impunemente em um corpo oriental nem sempre
com a mesma adequação pode ser tentado em um corpo ocidental; e alguns
desses exercícios são excessivamente perigosos e acarretam
conseqüências desastrosas. Pode ser dito de passagem que não há
nenhuma objeção à simples respiração profunda, desde que nenhuma
constrição indevida seja feita sobre o coração ou pulmões e nenhuma
tentativa seja feita de concentrar o pensamento nos vários centros do corpo.

O estudante pode achar útil queimar um pouco de bom incenso, pois isso
purifica a atmosfera de um ponto de vista oculto: ele pode mesmo ser
auxiliado por belas cores e imagens em torno, flores e outros meios de
elevar a mente e os sentidos.

Será também de utilidade observar certas restrições dietéticas, indo mesmo


à completa abstinência de álcool e carne. O consumo de álcool
conjuntamente à prática de intensa meditação pode ocasionar sintomas
inflamatórios no cérebro; mas a questão é integralmente discutida na
literatura Teosófica. (Vide O Homem e Seus Corpos, de Annie Besant, e
Alguns Vislumbres do Ocultismo, de C. W. Leadbeater, capítulo X).

HORÁRIO

Um outro ponto que não deve ser negligenciado é a questão do horário.


Será bom, ainda que não seja imprescindível, que o horário escolhido seja
regularmente seguido. Muito da dificuldade inicial da meditação provém da
consciência automática dos vários corpos, chamada às vezes de elementais
dos corpos, resistindo com uma espécie de instinto, que mesmo cego de
todo modo freqüentemente tem extrema força, a tentativas de impor-lhes
novos hábitos. Três momentos do dia são ditos como mais apropriados
magneticamente; quais sejam, ao nascer do sol, ao meio-dia, e no ocaso.
Estes foram os momentos escolhidos pelos antigos devotos, ainda que
naturalmente eles devam ser modificados para se adequar às condições da
vida moderna. Em acréscimo a esses horários, seria bom se se pudesse
cultivar o hábito de voltar a mente a cada hora durante o tempo desperto em
direção à percepção de si mesmo como Homem Espiritual. Esta prática
conduz ao que se chama na teologia mística Cristã como auto-recolhimento.
É o objetivo do estudante treinar a mente para voltar-se automaticamente a
pensamentos espirituais.

Não é bom meditar imediatamente após uma refeição ou tarde da noite; no


primeiro caso o processo de pensamento impede que o sangue auxilie o
processo digestivo, e no outro os corpos estão cansados e o duplo-etérico
mais facilmente deslocável, e, mais ainda, está em ação a influência
negativa da lua, de modo que resultados indesejáveis são mais propensos a
ocorrer.

POSITIVIDADE E DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO

O sistema de meditação aqui exposto para o estudante tem como seus


objetivos o desenvolvimento espiritual, mental e ético, e o controle da mente
e dos sentimentos. Não se deseja desenvolver faculdades psíquicas de
baixo para cima. Mas seu resultado natural pode ser a abertura de uma
espécie de psiquismo intuitivo em pessoas de constituição suficientemente
sensível, que se mostrarão cada vez mais sensíveis à influência de pessoas
e lugares, à recordação de memórias fragmentárias de experiências
noturnas no plano astral, em uma maior suscetibilidade de direta orientação
do Ego, no poder de reconhecer a influência do Mestre e de pessoas
espiritualmente desenvolvidas, e daí por diante.

Há uma situação especial que o estudante seguindo os métodos de auto-


desenvolvimento positivo aqui descritos deve cuidadosamente evitar, é o
desenvolvimento de mediunidade passiva e controle por espíritos através de
métodos negativos de meditação; pois, quaisquer que sejam os méritos do
espiritismo, os dois sistemas são absolutamente incompatíveis. Por
exemplo, em alguns livros de Yoga ocidentalizada o estudante é instruído a
começar a meditação rolando seus olhos para cima e mantendo-os fixos
assim. O efeito disso é impor uma tensão ao mecanismo visual e desse
modo de certa maneira bloqueando o cérebro, resultando que um estado
negativo de auto-hipnose é induzido, e pode sobrevir um semi-transe,
acompanhado de certas manifestações psíquicas. Um efeito similar é obtido
pelo uso de um cristal.

Também pode causar confusão ao iniciante quando escritores lhe


recomendam abrir-se a influências espirituais e ao mesmo tempo ser
positivo. A dificuldade vem de uma confusão dos estágios. O esforço
positivo é necessário como uma condição preliminar, e a condição passiva
segue depois. A positiva intensidade de esforços eleva a consciência para
trabalhar através dos planos mais elevados de seus diferentes veículos, ou,
vendo de um outro ângulo, harmoniza os veículos, trazendo-os a uma
relação sincrônica entre si, de modo que a influência mais elevada pode agir
em baixo; e só então é seguro relaxar o esforço para cima na percepção da
paz assim atingida. Talvez, depois de tudo, a frase abrindo-se a influências
espirituais em tais condições não signifique nada mais que manter uma
atitude de intensa quietude num alto nível espiritual. O presente escritor
uma vez ouviu um ponto semelhante ser bem ilustrado pelo Monsenhor
Robert Hugh Benson. Ele evocou a imagem de uma gaivota enfrentando
uma ventania; de fato para o observador o pássaro pareceria passivo e
imóvel, não obstante se sabe que há um poderoso esforço continuamente
mantido nas asas e espáduas.

Agora, é óbvio que esta intensa quietude assinala um estágio separado por
anos de esforços persistentes da atitude de pessoas que alegam poder
atingir grandes alturas espirituais enquanto atiradas de costas em uma
cama quente e confortável ou mesmo em um quente banho de banheira!
Tais pessoas tomam por meditação o que é meramente um langor corporal
e um preguiçoso arremesso de pensamento sobre algum tópico calmante e
agradável. Não é assim que o reino dos céus é conquistado pela força!

Meditação real significa intensíssimo esforço, não é a sensação de


felicidade que surge de um estado de semi-sonolência e volúpia corpórea. O
homem que está começando uma concentração real de pensamento não
deveria de início exceder os cinco ou dez minutos no máximo, sob o risco
de sobrecarregar o cérebro. Muito gradativamente o intervalo pode ser
estendido para quinze, vinte e trinta minutos.

RELAXAMENTO

Uma vez que meditação envolve esforço, o estudante faria bem em lembrar
que o efeito natural de concentrar a mente é produzir tensão nos músculos
do corpo. O hábito comum de franzir as sobrancelhas é evidência desse
automatismo corporal. Esta tensão dos músculos não só induz grande
fadiga corporal, mas age como um obstáculo ao influxo de forças espirituais.
Desse modo o estudante deveria periodicamente em sua meditação, e
repetidamente ao longo da vida diária, voltar sua atenção para o corpo e
deliberadamente soltar-se em relaxamento. Pessoas de natureza intensa e
forte freqüentemente acham dificuldade em se expressar seja pela fala ou
por escrito devido ao hábito de impor excessiva e súbita pressão no
cérebro. Eles deveriam aprender a deixar o cérebro carregar-se
gradualmente, como diria um eletricista. Um momento de completo
relaxamento os livraria da dificuldade. De modo muito semelhante se um
conferencista sofrer de fadiga cerebral e súbito esquecimento de sua
seqüência de idéias ou incapacidade de escolher uma palavra, de longe a
providência mais sábia é ter a coragem de entrar momentaneamente em
completo relaxamento, antes que esforçar-se por lembrar, pois esse esforço
adicional só aumentaria a tensão em torno do cérebro.

O estudante deveria também lembrar que a meditação não é uma questão


de esforço físico. No momento em que a mente se volta para um
pensamento ela está concentrada nele. É difícil expressar em palavras o
que, enfim, deve ser experimentado para ser compreendido; mas
concentração é menos uma questão de manter à força a mente sobre dado
pensamento do que de permitir à mente que repouse longamente sobre
esse pensamento em perfeita imobilidade e quietude.

Mais adiante o estudante poderá captar, e aplicar-se pelo que é verdadeiro


em sua própria experiência interior, a idéia de que é o corpo mental e não
cérebro a sede do pensamento, e que ainda que nos estágios inicias o
esforço deva parecer se concentrar na tarefa de aquietar o cérebro, de
qualquer maneira a concentração realmente concerne ao corpo mental mais
que ao cérebro físico.

A SENDA DO SERVIÇO

O estudante Teosófico deveria sempre lembrar que a motivação correta é


de importância primordial em todo o trabalho que ele assumir, e que só pela
força da motivação altruísta e do sincero desejo de auxiliar a humanidade os
Mestres podem ser alcançados. Não é necessário que o aspirante em seus
estágios iniciais possua um intenso amor pela humanidade como um todo;
podemos seguramente presumir que será suficiente se ele procurar agir
altruisticamente em relação àqueles de seu ambiente imediato, pois à
medida que persevere ele inevitavelmente deve tornar-se mais e mais
sensível ao grito da humanidade sofredora em seu aspecto coletivo.

Portanto é bom que o Teosofista que está despertando para alguma


percepção da vida espiritual entenda que a meditação e o serviço são
complementares um para o outro e que os melhores resultados advirão
quando forem combinados. Não estamos na Sociedade Teosófica apenas
pelo que possamos ganhar dela; nós somos membros porque os preceitos
da Sabedoria Eterna penetraram fundo em nossos corações e estão
remodelando nossas vidas. É o distintivo do homem espiritual dar livremente
aos outros antes do que pedir para si; nisso somente a verdadeira felicidade
será encontrada. Daí que nossa atitude para com a Sociedade deveria ser
por natureza uma interrogação contínua: O que posso fazer para ajudar?
Ao recém-chegado na Sociedade são dadas suas oportunidades e de
acordo com sua capacidade é julgado pelo uso que fizer delas. Pequenos
serviços bem feitos freqüentemente contam mais que ambiciosos
compromissos irregularmente cumpridos. O estudante que melhor progride
é o que desobriga-se fielmente de pequenas coisas, o que está desejoso de
limpar as vidraças e acender as luzes da sala da Loja, o que assume
diversas tarefas pequenas nos encontros, no que regular e infalivelmente
freqüenta a Loja, ou outros encontros em que lhe prometem participação,
para treinar-se na preleção e na escrita. Nada mais é preciso dizer sobre
isso; uma sugestão para o estudante devoto é suficiente, e a parábola dos
talentos é extremamente aplicável ao trabalho Teosófico.

Ao longo de tais linhas de serviço o caminho para o Mestre será


desvendado; pois o serviço oferecido voluntariamente deve ser a palavra-
chave do aspirante e ele aprenderá a esquecer de si mesmo e de seu
próprio progresso pela alegria de prover as necessidades alheias. Que
procure desempenhar cada ato de serviço em Nome do Mestre; e assim
progrida em perseverança e firmeza até o dia em que ele conhecer o Mestre
face a face, e das profundezas de seu ser oferecer-se em feliz entrega ao
seu Senhor.

Mas que não pense que a relação entre o Mestre o discípulo seja de alguma
forma coercitiva ou uma em que a individualidade do discípulo é submersa
na torrente de poder do Mestre. Ao contrário, a influência do Mestre não é
uma força hipnótica de fora mas uma inexprimivelmente maravilhosa
iluminação a partir de dentro, irresistível porque tão profundamente sentida
como estando em perfeito acordo com as mais altas aspirações do discípulo
e como a auto-revelação de sua própria natureza espiritual. O próprio
Mestre é em plena extensão um canal da Vida Divina e aquilo que emana
dele desperta à atividade a semente de divindade dentro do discípulo. Na
verdade o estudante que acha inspiração no estudo científico pode
descobrir uma analogia sugestiva no fenômeno elétrico da indução. É por
causa da identidade de natureza nos dois que a influência do Mestre
estimula ao mais alto grau todas as mais nobres e refinadas qualidades no
discípulo. O amor do Mestre por um discípulo pode ser comparado à luz do
sol que desabrocha o botão do lótus ao fresco ar matinal, e mui
verdadeiramente pode ser dito que um sorriso do Mestre evoca uma
erupção tal de afeto no pupilo que só seria obtida por meses de meditação
escolástica sobre a virtude do amor.

Possam essas poucas sugestões sobre meditação ganhar alguns para o


conhecimento dos Grandes Instrutores e para o serviço da humanidade em
seus nomes.
Tradução: Ricardo Frantz

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