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ESTUDO DE LIBRAS
Caro(a) Acadêmico(a),
Com certeza, você deve estar se perguntando: “LIBRAS?
Como aprender uma Língua gestual/espacial na modalidade
à distância?” De fato, temos um grande desafio à nossa fren-
te. Todavia, na Apresentação deste Manual, quero esclarecer
que nosso objetivo principal não é a aprendizagem da Lín-
gua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em si, apesar de fazer parte
da nossa proposta a aprendizagem de alguns sinais básicos,
que subsidiem minimamente a comunicação entre você e seus
futuros/as alunos/as surdos/as. Outra pergunta pode surgir,
então: “Qual a função dessa Disciplina?” Alerto a você que
nosso objetivo principal é discutir e aprofundar a importân-
cia dessa Língua para o surdo, bem como a sua estrutura, de
modo que você tenha condições de avaliar esse aluno,
entendê-lo em suas especificidades e se sinta capaz de
escolarizá-lo. Assim, faremos discussões teóricas sobre a edu-
cação inclusiva, o aluno surdo no ensino regular, o professor
intérprete e, claro, a LIBRAS como meio de comunicação que
deve ser garantido em todo ambiente escolar. Penso que te-
mos, também, como central em nossa discussão a sua imersão
no mundo do silêncio, um mundo que fala por si só, através
dos gestos, expressões, corpos, mãos... Um mundo encanta-
dor. Convido a você para, juntos, trilharmos um caminho do
conhecimento que é, no mínimo, impactante, pois enxergar
“o outro” a partir da sua diferença é algo que mudará a nossa
visão sobre nós mesmos.
Raquel Elizabeth Saes Quiles
A gaivota cresceu e voa com suas próprias asas.
Olho do mesmo modo com que poderia escutar.
Meus olhos são meus ouvidos. Escrevo do mesmo
modo que me exprimo por sinais. Minhas mãos
são bilíngues. Ofereço-lhes minha diferença.
Meu coração não é surdo a nada neste
duplo mundo...
(Emmanuelle Laborrit)
SUMÁRIO
UNIDADE I
Surdez e Linguagem
1.1 Apontamentos históricos sobre a
educação de surdos e a Língua Brasileira de Sinais 9
1.2 Aspectos gerais sobre a surdez 24
1.3 Surdez e Linguagem 28
1.4 Interagindo com o texto 31
UNIDADE II
UNIDADE III
UNIDADE IV
UNIDADE V
Libras em Ação
Referências 126
6 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
OBJETIVOS
O Guia de Estudo de LIBRAS tem como objetivos:
• Discutir sobre aspectos relacionados à surdez e à aquisição da
Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
• Estudar os aspectos linguísticos da LIBRAS visando a compre-
ensão da organização estrutural da Língua.
• Refletir alguns conceitos relacionados aos surdos no âmbito da
inclusão escolar, visando desfazer mitos, ideias discriminatórias
e excludentes.
• Propor redimensionamentos para a efetivação da prática inclusi-
va do aluno surdo a partir da aprendizagem da Língua Brasileira
de Sinais.
• Identificar as barreiras atitudinais frente ao processo de interação
e comunicação com alunos surdos.
• Discutir sobre a produção textual do aluno surdo na perspectiva
do ensino da Língua Portuguesa como segunda Língua.
• Conhecer alguns sinais básicos da LIBRAS, visando o conheci-
mento mínimo e inicial da Língua.
EaD • UFMS
Surdez e Linguagem 7
ESTUDO DE LIBRAS
Unidade 1
SURDEZ E LINGUAGEM
8 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Surdez e Linguagem 9
Unidade 1
SURDEZ E LINGUAGEM
TEXTO
sem que ela não estivesse permeada por relações de poder e confli-
tos sociais evidenciados em cada momento histórico. Assim, a
sequência de fatos que se seguem, apesar de serem apresentados
linearmente, não configuram uma perspectiva histórica linear, ou
seja, acreditamos que cada momento histórico e as consequências
educacionais advindas dele têm uma explicação nas relações soci-
ais que os homens foram desenvolvendo, dando, portanto, à edu-
cação dos surdos, um caráter e uma essência que estão atrelados às
concepções e paradigmas de cada período subjacente.
Para compor as informações abaixo, utilizamo-nos de três au-
tores, especialmente. Dois que estudaram a fundo a Educação Es-
pecial no Brasil (JANNUZZI, 2004; MAZZOTTA, 2005) e uma au-
tora que dedicou seus estudos à educação do surdo, no Brasil (SO-
ARES, 2005).
Jannuzzi (2004) nos alerta que a história educacional brasilei-
ra fornece elementos para o entendimento da história da educação
do deficiente, pois a escola se encarrega de selecionar os “anor-
mais”. Vale ressaltar que a educação do surdo se delineia, inicial-
mente, no bojo da educação do aluno deficiente.
los, para que eles se tornassem cidadãos iguais aos outros. Impor-
tava que o surdo deixasse de ser mudo, para se tornar útil e produ-
tivo. Com isso, a educação fica pautada meramente em aspectos
técnicos. Além disso, a capacidade do surdo em desenvolver a lin-
guagem oral estava subordinada à sua inteligência, à sua perda
auditiva. Pouco importavam os conteúdos necessários à formação
de um sujeito cidadão, isto é, a educação não era pensada do ponto
de vista da instrução.
Isso não acontece só em relação à educação dos surdos. De
maneira geral, os deficientes, independente de qual seja a sua limi-
tação, foram marginalizados, excluídos e privados do processo de
ensino, ou pela deficiência mesmo, ou por serem desfavorecidos
economicamente ou, ainda, por falta de conhecimento. É o que
alerta Mazzotta (2005), ao considerar que:
Voltando ao CENESP...
A meta prioritária de ação do CENESP foi o apoio técnico à
Educação Especial. Foram elaboradas diversas propostas
curriculares, com adaptações de conteúdos e métodos para as di-
versas “categorias” da excepcionalidade. Com um número maior
de docentes treinados para atender as especificidades desse alunado,
o número de excepcionais atendidos cresceu um pouco. Todavia,
existe ainda nesse momento uma dificuldade de integração desses
alunos no ensino regular. As práticas vão se concretizando através
de classes especiais, classes comuns, Instituições especializadas,
oficinas etc.
É importante enfatizar que os anos 1980 foram significativos
para a concretização de algumas mudanças e a realização de mais
conquistas legais, inclusive, o ano de 1980 foi considerado o Ano
internacional das Pessoas Deficientes. Especificamente, quanto aos
surdos, em 1984, cria-se a Federação Nacional de Educação de
Surdos (FENEIS), para somar às Associações Nacionais que come-
çam a se movimentar em busca da preservação de seus direitos,
inclusive o de opinar sobre os problemas referentes ao atendimen-
to direcionado aos deficientes. E, aos poucos, esses movimentos
vão se integrando a Instituições e organizações internacionais. A
FENEIS, por exemplo, liga-se a World Federation of Deaf.
Outras conquistas legais ainda continuam acontecendo.
Em 1979, o MEC publica uma Proposta Curricular que forne-
ce subsídios e apoio ao trabalho do professor de surdos. Todavia,
destaca-se que a orientação dada ao professor estava bastante vol-
tada a uma atuação clínica, como um terapeuta da fala.
Em 1986, ocorre a criação da CORDE (Coordenadoria Nacio-
nal para a Integração da Pessoa Deficiente), que traz em sua
implementação a marca de alguma participação dos próprios defi-
cientes, o que não acontecia anteriormente. Um exemplo disso é
que no seu Conselho Consultivo, criado em 1987, participava o
presidente da FENEIS (Federação Nacional de Educação e
Integração dos Surdos).
EaD • UFMS
Surdez e Linguagem 19
Fonte: http://www.ines.gov.br/paginas/ines01.JPG
1.1.2 HISTÓRICO DA
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Após termos visualizado a educação do surdo, no Brasil, en-
tendemos ser importante sabermos como a LIBRAS se delineou
nesse processo. Para tanto, vamos buscar as raízes históricas relaci-
onadas à Língua de Sinais no mundo e nos basearemos em Ramos
(2003).
Os primeiros relatos publicados sobre a Língua de Sinais da-
tam de 1644, pelo autor Jhon Bulwer. Ele foi o primeiro a acreditar
que a Língua de Sinais é um sistema complexo. No seu segundo
livro, destaca que o surdo pode se expressar verdadeiramente por
sinais.
EaD • UFMS
Surdez e Linguagem 21
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Jbulwer.jpg
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Gallaudet_University
TEXTO
1.2.1 DEFINIÇÃO
Vimos no item anterior, que historicamente a tradição médi-
co-terapêutica influenciou a definição da surdez, definindo-a como
déficit auditivo, o que gerou diversas classificações ao longo dos
anos. Assim, inicialmente o surdo era considerado surdo mudo
(completo e incompleto, a depender de sua capacidade de adqui-
rir a fala), semi-surdo ou semimudo.
IMPORTANTE
Causas Pré-Natais:
• Desordens genéticas ou hereditárias;
• Doenças infecto-contagiosas, como: rubéola, sífilis, citome-
galovírus, toxoplasmose e herpes.
• Remédios ototóxicos, drogas, alcoolismo materno.
• Desnutrição/subnutrição/carências alimentares da mãe.
• Pressão alta, diabetes.
• Exposição à radiação.
• Outras.
Causas Peri-Natais:
• Pré-maturidade;
• Pós-maturidade;
• Anóxia;
• Fórceps;
• Infecção hospitalar;
• Outras.
Causas Pós-Natais:
• Doenças como: Meningite, Sarampo e Caxumba.
• Remédios ototóxicos em excesso, ou sem orientação médica
• Exposição contínua a ruídos ou sons muito altos.
• Traumatismos cranianos.
Outras.
TEXTO
ESTUDO DE LIBRAS
Unidade 2
Unidade 2
TEXTO
• O SISTEMA EDUCACIONAL
As transformações que delinearão uma educação inclusiva de-
vem começar no interior dos próprios órgãos implementadores
de políticas públicas de cunho educacional, pois, por mais am-
pla que seja a autonomia das escolas, “elas estão inseridas num
contexto educacional que elege princípios, estabelece objetivos
e identifica diretrizes de ação para as quais são necessários recur-
sos financeiros, materiais e humanos que não estão, necessaria-
EaD • UFMS
Inclusão do aluno surdo no ensino regular 37
• AS ESCOLAS
É evidente que queremos uma escola para todos, mas isso não
significa apenas o acesso ao ensino regular. Mais do que isso, a
escola inclusiva precisa assegurar a aprendizagem e a partici-
pação de TODOS os alunos. Para tanto, segundo Carvalho
(2008), as escolas precisam construir culturas inclusivas (co-
munidades escolares seguras e receptivas, com valores demo-
cráticos de reconhecimento das diferenças), políticas inclusi-
vas (projeto político pedagógico que defenda a possibilidade
de aprendizagem de todos os alunos, organizando apoios que
garantam o desenvolvimento de atividades que aumentem a
capacidade da escola de responder às diferenças dos alunos) e
práticas pedagógicas inclusivas (atividades de sala de aula sig-
nificativas a todos os alunos, das quais participem toda comu-
nidade escolar).
• A SALA DE AULA
A sala de aula se constitui como um grande desafio na efetivação
da educação inclusiva. Carvalho (2008) discorre sobre algumas
sugestões para o trabalho do professor que deseja e acredita nes-
se tipo de educação, como: elaborar um plano de trabalho para a
turma toda, considerar a participação dos alunos como os mais
valiosos recursos disponíveis em sala de aula, ser um professor
pesquisador, construir materiais de ensino aprendizagem pelos
próprios alunos, avaliar a aprendizagem se baseando no percur-
so de cada estudante e trabalhar com oficinas ou “laboratórios”
de aprendizagem.
Assim:
IMPORTANTE
TEXTO
Muitas Legislações, principalmente, a partir da década de 1990,
compuseram um arcabouço legal que garantiu ao surdo, além de
sua inserção/acesso ao ensino regular, a utilização da LIBRAS como
sua Língua de comunicação e mediação da aprendizagem. Todas
as garantias legais que vão sendo determinadas no País, no que diz
respeito à educação de pessoas com necessidades especiais, de al-
guma forma, contemplaram os alunos surdos, salientando sobre a
eliminação das barreiras atitudinais e de comunicação, a impor-
tância de estratégias de ensino diferenciadas, recursos visuais, pro-
fessores capacitados, dentre outros aspectos que dizem respeito à
escolarização de TODOS, sem exceção.
Diante de tantos documentos legais, que orientam à educação
ideal que o País deve buscar com relação ao atendimento dos alu-
nos com necessidades educacionais, no que se refere aos surdos,
consideramos importante destacar dois documentos que, no nos-
so entendimento, são essenciais para a configuração educacional
atual. São eles: a Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005.
40 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
• DECRETO 5.626/2005
• Regulamenta a Lei nº 10.436/2002.
• Define pessoa surda como aquela que, por ter perda auditiva,
compreende e interage com o mundo por meio de experiên-
cia visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso
da LIBRAS.
• Ressalta a inclusão da LIBRAS como disciplina escolar obriga-
tória, definindo os cursos de Magistério todos os cursos de
Licenciatura, o curso Normal Superior, o curso de Pedagogia
e o curso de Educação Especial. Para os outros cursos, a LI-
BRAS é indicada como disciplina optativa.
• Indica que a formação de docentes para o ensino da LIBRAS
deve ser realizada em nível superior, e deve priorizar as pesso-
as surdas.
• Estabelece que o ensino da modalidade escrita da Língua Por-
tuguesa, como segunda Língua para as pessoas surdas, deve
ser incluído como disciplina curricular nos cursos de forma-
ção de professores para a Educação Infantil e os primeiros anos
do Ensino Fundamental, bem como nos cursos de Licenciatu-
ra em Letras/Língua Portuguesa.
• Salienta que as instituições de ensino devem garantir às pesso-
as surdas, obrigatoriamente, acesso à comunicação, à infor-
mação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e
conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, eta-
pas e modalidades da educação, desde a Educação Infantil até
o Ensino Superior.
• Determina que as escolas devem ser providas de quatro pro-
fissionais distintos: professor de LIBRAS, tradutor e intérpre-
EaD • UFMS
Inclusão do aluno surdo no ensino regular 41
TEXTO
Antes de aprofundarmos nossas discussões sobre a inclusão
do aluno surdo, julgamos ser importante esclarecer que neste mo-
mento refletiremos sobre a inserção do aluno que se utiliza da Lín-
gua Brasileira de Sinais na escola. Existe a possibilidade de termos
também no ambiente escolar alunos que optam pela oralização, o
42 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
• INTÉRPRETE DE LIBRAS
• Trata-se de um tradutor que se coloca entre os que ouvem e se
expressam por meio da voz e os que se comunicam por meio
de sinais e alfabeto manual.
• Facilita e media a comunicação, compreensão e acesso às in-
formações.
• Transmite os pensamentos, palavras e emoções tanto de quem
sinaliza quanto de quem fala.
• Deve ter competências nas duas Línguas: a oral e a de Sinais;
• É um profissional bilíngue, que precisa conhecer as implica-
ções da surdez no desenvolvimento do indivíduo surdo.
EaD • UFMS
Inclusão do aluno surdo no ensino regular 45
IMPORTANTE:
Como Avaliar?
A avaliação é outra questão que tem promovido intensos de-
bates e reflexões na educação de alunos surdos, pois, mais uma
vez, não se pode esperar desse aluno os mesmos resultados “escri-
tos” dos alunos ouvintes, considerando a sua especificidade
linguística.
EaD • UFMS
Inclusão do aluno surdo no ensino regular 49
ESTUDO DE LIBRAS
Unidade 3
LÍBRAS
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
54 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras - Língua Brasileira de Sinais 55
Unidade 3
TEXTO
Afinal, o que é LIBRAS???
• Significa Língua Brasileira de Sinais.
• É uma Língua completa, com gramática e estrutura própri-
as, como qualquer Língua oral.
• É capaz de expressar qualquer idéia, situação ou sentimento.
• É uma Língua gestual-visual (ou espacial-visual), portanto,
totalmente diferente da Língua Portuguesa, que é oral-au-
ditiva.
56 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
3.1.4 A SEMÂNTICA DA
LÍNGUA DE SINAIS
A Semântica refere-se à natureza, função e uso dos significa-
dos, que podem ter variação regional e social. Quanto à Semânti-
ca da LIBRAS, aspecto de fundamental importância para a análi-
se da produção textual do aluno surdo, destacamos alguns aspec-
tos:
• O significado de um sinal pode não corresponder exatamen-
te ao de uma palavra equivalente em Português.
• Palavras polissêmicas (com vários significados), em LIBRAS,
podem não ter equivalentes polissêmicos em Português e
vice-versa.
• As expressões de polidez são, muitas vezes, obtidas pelo uso
de expressões faciais.
• Os atos de fala podem se distinguir pelas expressões faciais
e pelo ritmo que são equivalentes às entonações em Portu-
guês.
Diante da estrutura gramatical da LIBRAS apresentada, pode-
mos afirmar que a LIBRAS é, de fato, uma Língua, pois possui
todas as características para atingir esse status. Esse entendimento
é central no processo ensino-aprendizagem, pois o professor não
pode esperar do aluno surdo a mesma produção textual e entendi-
mento da Língua Portuguesa que espera do aluno ouvinte, já que
sua forma de pensar e significar se dá em outra estrutura linguística,
que não é melhor nem pior que a da Língua Portuguesa, é apenas
diferente. São sobre essas diferenças que trataremos no próximo
item.
Visual-espacial Oral-auditiva
Fonte: http://3.bp.blogspot.com
EaD • UFMS
Libras - Língua Brasileira de Sinais 69
ESTUDO DE LIBRAS
Unidade 4
Unidade 4
TEXTO
4.1.1 ORALISMO
A proposta oralista parte do princípio de que o surdo deve se
reabilitar para conviver em sociedade, ou seja, deve parecer o má-
ximo possível com os ditos “normais”. Tem como objetivo inte-
grar os surdos nos espaços sociais através da fala, condicionando-
os e desenvolvendo-os na linguagem oral. Para se ter uma boa co-
municação é necessário que o surdo se oralize bem.
Essa proposta educacional se impõe mundialmente a partir
do século XVIII. Conforme já mencionado, em 1878, foi realizado
o I Congresso Internacional sobre a Instrução de Surdos, em Paris.
Nas discussões ocorridas nesse Congresso, alguns educadores de-
fendiam a ideia de que falar era melhor que usar sinais. Todavia,
entendia-se que os sinais também eram importantes para a comu-
nicação.
Já o II Congresso Internacional, ocorrido em 1880, em Milão,
foi organizado por uma maioria oralista. O objetivo do Congresso
era que as discussões se transformassem em Leis que direcionassem
a educação de surdos com ênfase na linguagem oral. Com exceção
da delegação americana, todos os participantes, em sua maioria
europeus, votaram pela aprovação do uso exclusivo e absoluto da
metodologia oralista e a proibição da Língua de Sinais.
Segundo Lacerda (1998), as resoluções do Congresso foram
determinantes no mundo todo, especialmente na Europa e Améri-
ca Latina. A linguagem gestual passa a ser banida como forma de
comunicação e, portanto, não poderia mais ser utilizada nos espa-
ços educacionais. Ainda, conforme Lacerda (1998), com o Con-
gresso de Milão, termina uma época de convivência tolerada na
educação dos surdos entre a linguagem falada e a gestual e desapa-
rece a figura do professor surdo. Essa abordagem não foi questio-
nada durante quase um século. No entanto, os resultados não fo-
ram satisfatórios, pois a maioria dos surdos profundos não desen-
volveu a fala como os ouvintes. Além disso, ocorreram muitas difi-
culdades ligadas à aprendizagem da leitura e da escrita. Lacerda
(1998) aponta que a leitura e escrita desses alunos eram sempre
tardias, cheias de problemas e mostravam sujeitos parcialmente
alfabetizados após anos de escolarização.
No início da década de 1950, surgem as próteses. Esse avanço
na medicina altera as possibilidades educacionais, pois a partir de
então as técnicas de aprendizagem se voltam para a vocalização,
enfocando a percepção auditiva e a leitura labial. Esperava-se que
EaD • UFMS
A Libras na sala de aula 75
4.1.3 BILINGUISMO
O modelo de educação bilíngue contrapõe-se ao modelo
oralista porque considera o canal visual/gestual de fundamental
importância para a aquisição de linguagem da pessoa surda. Con-
trapõe-se, também, à comunicação total porque defende um es-
paço efetivo para a Língua de Sinais, indicando que não se “mis-
ture” uma Língua com a outra. Nesse modelo, o que se propõe
é o ensino de duas línguas: a Língua de Sinais (como primeira
Língua) e a Língua do grupo ouvinte (no caso brasileiro, a Lín-
gua Portuguesa), como segunda Língua. Conforme Lacerda
(1998):
TEXTO
IMPORTANTE
Apesar disso, essa mesma autora assevera que: ler não é ape-
nas reconhecer palavras isoladas, mas, sim, compreender e nego-
ciar sentidos na interação com o texto escrito. Nesse sentido, o pro-
fessor tem fundamental importância, pois é ele que irá construir
pontes de significado entre o conhecimento prévio que o aluno
traz e o conhecimento veiculado pelo texto.
Isto é, o professor precisa preparar atividades de leitura visan-
do os interesses dos alunos. Segundo Quadros e Schmiedt (2006),
a motivação para ler um texto é imprescindível. A criança surda
precisa saber por que e para que está lendo. Instigar os alunos,
durante a leitura, a curiosidade pelo desenrolar dos fatos no texto é
fundamental. Ainda, é muito importante que a criança consiga
expor seu pensamento, para que a leitura lhe seja atraente e desafi-
adora.
Fernandes (2006) assegura que:
TEXTO
ESTUDO DE LIBRAS
Unidade 5
LIBRAS EM AÇÃO
90 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 91
Unidade 5
LIBRAS EM AÇÃO
ALFABETO MANUAL
NUMERAL
EaD • UFMS
Libras em ação 93
FAMÍLIA
94 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
CASA
EaD • UFMS
Libras em ação 95
96 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
TEMPO
EaD • UFMS
Libras em ação 97
98 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 99
CORES
100 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
PRONOMES
EaD • UFMS
Libras em ação 101
ADJETIVOS ANTÔNIMOS
102 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 103
104 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 105
106 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 107
LOCALIDADES
108 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
DIVERSOS
EaD • UFMS
Libras em ação 109
110 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 111
112 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 113
VERBOS
114 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 115
116 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 117
118 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 119
120 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 121
122 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 123
124 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
EaD • UFMS
Libras em ação 125
PALAVRAS FINAIS
Prezado(a) Acadêmico(a),
Ao final deste estudo, espero que você tenha refletido sobre a
educação do aluno surdo, sua inserção no ensino regular, a impor-
tância da LIBRAS e a valorização do espaço dessa Língua no cotidi-
ano escolar para a garantia da escolarização de todos os alunos.
Compreendo o quanto é desafiadora a proposta inclusiva e
que ainda faltam muitos subsídios para sua efetivação. Todavia,
ressalto que não só o aluno surdo, mas todos aqueles que apresen-
tam necessidades educacionais especiais, têm o direito de estarem
incluídos no sistema público de ensino, como qualquer outro alu-
no e para que essa inclusão dê certo é preciso que todos nós esteja-
mos atentos às necessidades individuais de cada um.
A educação da pessoa surda depende de muito mais que boas
intenções. Depende da unidade entre todos os profissionais que
estarão na escola, da garantia da utilização da LIBRAS, do ensino
da Língua Portuguesa apenas como segunda Língua, enfim... de
um ambiente de ensino acolhedor, que reconheça a diferença e a
valorize como algo positivo, necessário ao crescimento humano.
Desejo que a LIBRAS, a partir deste Guia, faça parte da sua
vida, que suas mãos possam romper o silêncio esmagador vivido
por tantos séculos e que, através dos sinais, você possa somar à
educação das pessoas surdas, pois:
“Muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coi-
sas pequenas, mudará a face da terra”... (Pensamento africano).
126 ESTUDO DE LIBRAS EaD • UFMS
REFERÊNCIAS / BIBLIOGRAFIA
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