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RESUMO
O trabalho desenvolvido teve como objetivo repensar os métodos usados na escola onde fiz
observações pedagógicas e entrevistas com professoras da Fase I, bem como ampliar minha
visão sobre os processos de alfabetização. Durante o desenvolvimento da pesquisa teórica, me
identifiquei com as palavras de Luiz Carlos Cagliari ao definir que o professor não precisa de um
método específico, ele faz seu próprio método, usando sua criatividade e experiência. As
professoras entrevistadas mostraram ser conscientes da necessidade de alfabetizar partindo do
conhecimento que o aluno traz consigo e de variedades textuais para visualização, para depois
transformar esse conhecimento em aprendizagem sistemática.
I. INTRODUÇÃO
O presente trabalho terá como objetivo discursar sobre um assunto que ocupa, hoje, o lugar
central na discussão da educação escolar no mundo, a alfabetização e seus problemas.
Mostrará também alguns pensadores e teóricos como Emília Ferreiro (1991), Cagliari (1998),
Moll (1996) que, através de seus trabalhos muito bem fundamentados, apresentam uma nova
visão de como ver o mundo da criança dentro do contexto da alfabetização, repensar o papel
do professor e do aluno no processo ensino/aprendizagem buscando alternativas para um
trabalho de qualidade.
As dificuldades que enfrentamos hoje na alfabetização são agravadas tanto pelo passado (a
herança do analfabetismo e das desigualdades), quanto pelo presente (a ampliação do
conceito de alfabetização e das expectativas da sociedade em relação a seus resultados).
Tem-se também alegado que o problema da alfabetização escolar tem como base principal a
implantação de metodologias de ensino baseadas no construtivismo e no conceito de
letramento. Por esta razão, defende-se a utilização de métodos de base fônica.
Seria ótimo que os problemas da alfabetização no país pudessem ser resolvidos por um
método seguro e eficaz. Mas sabemos que os métodos podem excluir o aluno que não
consegue acompanha-lo, pois não interpreta a necessidade do aluno, principalmente dos que
apresentam dificuldades de aprendizagem.
A cartilha, por exemplo, pode funcionar como um ponto de apoio, um modelo norteador para
a apresentação e desenvolvimento do conteúdo, sobretudo para professoras sem experiência
em alfabetização. Não se deve, no entanto, representar mais que do que um mero recurso,
pois está longe de dar conta dos múltiplos aspectos que envolvem a aquisição da leitura e da
escrita (p.88).
Não é raro que um professor limite-se à cartilha por sentir-se inseguro diante dos pressupostos
de outros autores, seja por desconhecê-los, seja porque estas concepções teóricas oferecem
uma análise do processo de aquisição da leitura e da escrita, mas não uma metodologia de
ensino.
Desde meu ingresso no Curso de pós-graduação venho analisando e refletindo sobre a questão
da leitura e da escrita, por isso desenvolvi esta pesquisa com a intenção de investigar quais os
métodos usados em uma escola pública estadual da rede de Cipotânea pela professoras
alfabetizadoras. Serão entrevistadas duas professoras que atuam em classes da fase I, da E. E.
José Dias Pedrosa, localizada na cidade de Cipotânea. As professoras em questão têm em
média, 20 anos de profissão e 9 anos em alfabetização, e serão analisados trabalhos feitos
pelos alunos das respectivas professoras.
É a partir dos questionamentos acima descritos que esta pesquisa destinou-se trilhar. Com esse
trabalho será possível perceber o caminho mais seguro para facilitar o processo de
aprendizagem da leitura e escrita dos alunos na fase inicial de alfabetização.
Serão pesquisadas estratégias pedagógicas utilizadas pelas professoras em sala de aula como
alfabetização com textos e alfabetização com silabação, observando como esses processos são
absorvidos pelos aprendizes e como eles podem facilitar o processo de aprendizagem dos
mesmos.
O indivíduo humano (…) interage simultaneamente com o mundo real em que vive e com as
formas de organização desse real dadas pela cultura. Essas formas culturalmente dadas serão,
ao longo do processo de desenvolvimento, internalizadas pelo indivíduo e se constituirão no
material simbólico que fará a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento ( p.13).
Evidentemente que é possível aprender a ler e escrever com as tradicionais cartilhas que usam
o método da silabação; entretanto, atualmente percebe-se que tal procedimento leva à mera
codificação (representação escrita de fonemas e grafemas) e decodificação (representação oral
de grafemas em fonemas), reduzindo a alfabetização a uma esfera mecânica.
Conforme ZILBERMAN (1985) “A criança é vista como um ser em formação cujo potencial deve
se desenvolver a formação em liberdade, orientando no sentindo de alcance de total plenitude
em sua realização” (p. 27).
Se considerarmos a criança como um futuro cidadão, capaz de penar por si só, nós educadores,
teremos de lhe dar condições de ser autônoma, levando-a a resolver seus problemas e
evitando dar-lhe as respostas. Assim, a criança deve ter liberdade para interagir com seus
colegas e com seu professor, trocando pontos de vistas, confrontando opiniões, tomando
decisões próprias e deve ter autonomia para interagir com o objeto de seu conhecimento.
A escola, como espaço institucional de acesso ao conhecimento, para atender essa demanda,
tem o papel de rever as práticas de ensino, que tratam a língua como algo sem vida e os textos
como conjunto de regras a serem aprendidas. A postura a ser tomada é a constituição de
práticas que possibilitem ao aluno aprender a partir da diversidade de textos que circulam
socialmente.
A prática pedagógica de alfabetização com textos não é algo familiar à grande parte dos
formadores e dos alfabetizadores. A isso, soma-se o fato de que quanto mais novas e/ou
diferentes são as propostas sugeridas a quaisquer profissionais, maior a possibilidade de haver
distorção no entendimento de como podem ser implantadas, o que exige muita discussão,
tanto prévia como posterior, sobre os procedimentos utilizados.
E para facilitar esse processo é preciso propiciar condições para que o indivíduo tenha acesso
ao mundo da escrita, tornando-se capaz não só de ler e escrever, mas, sobretudo fazer uso real
e adequado da escrita com todas as funções que ela tem em nossa sociedade.
É a partir da necessidade que a criança vai construindo formas cada vez mais elaboradas de
representação, até chegar ao domínio do código escrito. Para uma compreensão abrangente da
alfabetização, é preciso que a resgatemos como objeto de conhecimento, do qual os indivíduos
se apropriam através de experiências significativas.
A criança que vive num ambiente estimulador vai construindo prazerosamente seu
conhecimento do mundo. Quando a escrita faz parte de seu universo cultural também constrói
conhecimento sobre a escrita e a leitura. Ler é conhecer. Quando mais tarde ela aprender a ler
a palavra, já enriquecida por tantas leituras anteriores, apropriar-se á de mais um instrumento
de conhecimento do mundo (p.69).
Porém a necessidade de ler e escrever não surge da mesma forma para todas as crianças, já
que elas vivem em meios diferentes que lhes proporcionam experiências diversas. Por
exemplo, a criança de classe média e da zona urbana, é favorecida por estar em contato com o
código escrito muito antes de ir à escola, através de letreiros de propagandas, cartazes, TV,
acesso a livros, revistas, etc.
A convivência sistemática e constante das crianças de classe média com a palavra é tão grande
que a descoberta do código passa muitas vezes, despercebida, sendo vista como algo
espontâneo e natural.
Entretanto, uma criança que vive num meio onde não tem contato com a palavra escrita, não
vai sentir a mesma urgência de ler. Assim, se em sua casa não existem livros, jornais, revistas,
se os pais não lêem, nem escrevem não vai se interessar tanto pela alfabetização, já que
palavra escrita não faz parte do seu dia-a-dia.
Segundo BRASIL (2001): “Para aprender a ler é preciso que o aluno se defronte com os escritos
que utilizaria se soubesse mesmo ler – com textos de verdade(….)” (p.56).
Portanto para que ocorra esta descoberta é necessária uma interferência do adulto levando a
criança a perceber porque e para que ler e escrever. Algumas atividades poderão ser
trabalhadas na linguagem oral como coro falado, conversas e discussões que poderão ser ricas
e produtivas se provocadas com objetivos sociais.
É um triste engano que traz sérias conseqüências para o aprendizado da língua, pois a
linguagem oral é o instrumento mais utilizado, isolado ou combinado pelas pessoas em todas
as circunstâncias de sua vida. O aluno precisa ser fluente, desinibido, capaz de organizar lógica
e coerentemente seus pensamentos e, através disso, poder usar a língua para todos os seus
objetivos de pessoa e cidadão consciente.
Ler é interagir com o autor, procurar e produzir sentidos, vivenciar experiências. Para leitura a
criança precisa interpretar símbolos, imagens, gestos, desenhos, etc., promovendo predições,
inferências e a comunicação de várias formas de textos entre si.
Podemos verificar que as crianças nas classes de alfabetização formulam hipóteses de leitura.
Essas hipóteses de leitura vão avançando nas intervenções do ambiente e a criança percorre
um longo caminho que vai da identificação do texto e imagem, passando pela etiquetagem ou
hipótese do nome, até a tentativa de conciliar sua hipótese com os indicadores, isto é, os
signos já conhecidos.
(…) os alunos são capazes de enfrentar uma variedade enorme de textos. A restrição com
relação à escrita reside apenas nos casos em que os alunos não sabem decifrar determinadas
letras ou conjuntos de letras, dificultando ou impossibilitando a leitura. Depois que eles
decifram a escrita o texto pode ser qualquer um, desde que a criança tenha condições de
entender. (p.221)
Desse modo, o professor tem uma importante tarefa de propiciar aos seus alunos a diversidade
de texto que todos têm direito. Para FERREIRO (1993): “… a variedade de materiais não só é
recomendável (melhor dizendo, indispensável) no meio rural, mas em qualquer lugar onde se
realize uma ação alfabetizadora” (p. 33).
Neste sentido, entendemos que se a criança possui em casa outros recursos de leitura, não é
tão grave que a escola use só um único texto, mas se a escola é o único ambiente alfabetizador
do aluno, isto é gravíssimo, por não ampliar seu conhecimento e, consequentemente
prejudicar sua alfabetização.
Segundo CAGLIARI (1998), “existem dois métodos, um voltado para o ensino e outro voltado
para a aprendizagem”,(p.108) o primeiro tipo, que enfoca o ensino, é considerado por ele
inadequado porque nele a situação inicial do aluno é considerada uma página em branco onde
serão acrescentados informações uma após a outra enfocando o conhecimento já dominado e
para isso, decorar é fundamental. O autor cita como exemplo mais corriqueiro deste método, o
uso das cartilhas, onde o aluno precisa desmembrar palavras, decorar os pedaços e com eles
construir outras palavras.
No segundo tipo de método, que enfoca a aprendizagem, é centrado na reflexão onde o
aprendiz utiliza todo conhecimento adquirido a partir do momento que nasce para refletir
sobre todas as coisas. Esse método prega que o ensino é igual para todos enquanto a
aprendizagem é diferenciada para cada indivíduo, isto é, cada um tem momento adequado
para aprender.
O melhor método para um professor deve vir de sua experiência e deve ser baseado em
conhecimentos sólidos e profundos da matéria que leciona. O fato de não ter um método
preestabelecido não significa que o ensino seguirá navegando à deriva… Quando um professor
é bem conhecedor da matéria que leciona, ele tem um jeito particular de ensinar…e isso é
fundamental para o processo educativo (p.108).
Verifica-se que não há uma fórmula pronta. O professor desde os primeiros contatos com o
aluno terá idéias claras a respeito do que se espera destes alunos e a partir daí trabalharão
juntos com perseverança e calma porque, segundo CAGLIARI (1998) “a aprendizagem não tem
dia marcado para acontecer ” (p.110).
Nesta perspectiva, percebe-se que não há necessidade do uso de métodos ditos ‘tradicionais’
ou ‘novos’. É fundamental a experiência e a criatividade do professor. Ao entrar na sala de aula
ele saberá organizar seu processo de ensino: o que ensinar, quando e como de acordo com a
clientela; e ao associar tudo isso com a prática, o professor terá seu próprio método.
Podemos observar, no entanto que, se o professor limita-se à cartilha, é por se sentir inseguro
quanto a outros métodos, por desconhecê-los ou ainda, por estar à procura de uma
metodologia de ensino.
Emília Ferreiro não criou nenhuma metodologia específica, contudo, cabem a nós, educadores,
buscar a melhor maneira de ajudar nossas crianças a construir sua aprendizagem e adaptar
nossa prática metodológica à teoria comprovada pela pesquisadora.
Para ser assimilada, a informação deve ser integrada a um sistema previamente elaborado (ou
a sistema em processo de elaboração), não é a informação, como tal, que cria conhecimento. O
conhecimento é resultado da construção de um sujeito cognoscente conhecido. (p.10).
Um professor pode se tornar um mediador quando ele conhece as concepções que a criança
desenvolve a respeito da língua escrita e quando propõe atividades que levem a criança a
“desestruturar” o pensamento.
Quando alguém se alfabetiza, percorre uma longa trajetória à qual é dado o nome de
“psicogênese da alfabetização”. A psicogênese se caracteriza, neste caso, por uma seqüência de
níveis de concepção dos sujeitos que aprendem. Esses níveis são ligados a uma hierarquia de
procedimentos, de noções e de representações, determinadas pelas propriedades das relações
e das operações em jogo. Em cada nível, a criança elabora suposições a respeito dos processos
de construção da leitura e da escrita, baseando-se na compreensão que possui desses
processos. Assim, a mudança de um nível a outro só irá ocorrer quando ela se deparar com
questões que o nível em que se encontra não puder explicar: ela irá elaborar novas suposições
e novas questões e assim diante, por isso, o processo de assimilação dos conceitos é gradativo,
o que não exclui “ida e vinda” entre os níveis.
• NÍVEL SILÁBICO: Nessa fase, a criança já conta os pedaços sonoros (sílaba) e coloca um
símbolo ( letra) para cada pedaço; já aceita palavras com uma ou duas letras, mas com certa
hesitação; utiliza uma letra para cada palavra ao escrever uma frase; falta definição das
categorias lingüísticas (artigo, substantivo, verbo, etc); maior precisão na correspondência
som/letra, mas não ocorre sempre; o essencial nessa fase, é a sonorização da escrita, já supõe
que a escrita representa a fala; pode ter adquirido, ou não, a compreensão do valor sonoro
convencional das letras; já supõe que a menor unidade da língua seja a sílaba; o sujeito desse
nível resolveu temporariamente o problema da escrita, mas vai se defrontar, mais cedo ou mais
tarde, com o problema da leitura. Saber escrever, mas não poder ler, o que foi escrito, é fator
gerador do conflito de passagem para o nível posterior.
• NÍVEL ALFABÉTICO: Nesse nível a criança transpõe a porta do mundo e das coisas
escritas. Consegue ler e escrever o que pensa e fala; compreende a lógica da base alfabética da
escrita ; compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros
menores que a sílaba; conhece o valor convencional de todas as letras, formando sílabas,
palavras e frases, mas, às vezes, ainda não divide a frase correspondência entre fonemas e
grafias; compreende que uma sílaba pode ter uma, duas ou três letras; pode omitir letras
quando mistura a hipótese silábica com a alfabética. Estar no nível alfabético não significa
ainda saber escrever corretamente, nem do ponto de vista ortográfico nem do ponto de vista
léxico. Este é o marco que Emília Ferreiro advoga como critério básico da alfabetização.
Nesta perspectiva, é necessário um trabalho de auxílio aos docentes por parte de especialistas
e psocpedagogos escolares, no sentido de auxiliar e incentivar os professores a inovarem suas
teorias, a buscarem novas práticas para sua sala de aula, principalmente, quando enfrentam
problemas de aprendizagem dos alunos.
Para estudar como se dá a aprendizagem da leitura e escrita dos alunos resolvi centrar esta
pesquisa centrou-se no mediador da aprendizagem, que é o professor, como cita CAGLIARI
(1998) “Ser um mediador é ajudar o aprendiz a construir seu conhecimento, passando a ele as
informações adequadas, explicando o que tem de ser explicado” (p. 55).
Diante disso, desenvolvi uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa. Para a
realização da pesquisa foi indispensável a observação e a entrevista semi-estruturada (roteiros
em anexo) com duas professoras alfabetizadoras da Fase I do Ensino Fundamental da E. E.
“J.D.P”, localizada na cidade de Cipotânea, interior de Minas Gerais. Esta escola foi escolhida
pelo fácil acesso e por ser onde estou trabalhando atualmente.
A professora (A. T.G) aqui chamada de P1, é professora com 20 anos de experiência, não só em
alfabetização, possui o curso normal superior em e leciona atualmente para 24 alunos da Fase I
na E.E. “J.D.P”.
A professora (G. F. M.), aqui chamada de P2, é professora com 13 anos de experiência, sendo 9
como alfabetizadora, possui o curso normal superior e participa ativamente de cursos de
capacitação em alfabetização.
Essa escolha deveu-se ao fato das professoras trabalharem há alguns anos com alfabetização e
serem única opção de escolha no universo de professoras alfabetizadoras da fase I na zona
urbana.
Para conhecer a atuação das professoras pesquisadas nas classes de alfabetização e investigar
se as mesmas estão favorecendo o desenvolvimento das competências necessárias para que os
alunos dominem a linguagem de maneira eficaz, estabeleceu-se alguns requisitos na coleta de
dados. Isso contribuiu para uma análise profunda sobre o tema da pesquisa.
Sabe-se que o domínio da língua é fator essencial para a plena participação social, uma vez que
á através dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos
de vista, enfim, produz conhecimento.
A partir dos dados coletados foram alcançados alguns resultados considerados importantes
que foram divididos em 3 categorias.
Pelos relatos das professoras entrevistadas e a partir das práticas pedagógicas observadas
percebe-se a priorização da utilização de vários tipos de textos para facilitar o processo de
aprendizagem dos alunos.
P1 argumenta “A criança precisa ter contato com vários tipos de textos antes mesmo de saber
lê-los. Se viver num ambiente com estes recursos não terá dificuldades na leitura e escrita”. P2
completa “As crianças precisam de atividades diversificadas, leituras de diversos tipos de
textos, pois o aluno que lê muito escreve bem”.
Percebe-se que P1 e P2 têm a preocupação em propiciar aos seus alunos condições e acesso ao
mundo da leitura e escrita, esses aspectos considerados importantes podem facilitar o
processo de aprendizagem levando em conta que as professoras afirmam que não utilizam
livros como (cartilhas) o que é importante já que ROJO (1990) apresenta na fala de CAGLIARI a
seguinte caracterização dos métodos de cartilhas: ” alunos que são submetidos a um processo
de alfabetização seguindo o método das cartilhas (com livro ou não), são alunos expostos
exclusivamente ao processo de ensino” (p.65).
Neste sentido podemos observar que, os métodos das cartilhas não levam em consideração o
processo de aprendizagem do aluno. As cartilhas dirigem a vida escolar do aluno, obrigando
todos seguirem por um mesmo caminho e levando-os a pensar conforme o método usado.
Ao invés de ficar presas em métodos de cartilhas observei que os recursos utilizados como
poesias, músicas, parlendas e outros por P1 e P2 podem ser úteis para que os alunos façam uso
da escrita em situações sociais que os beneficiem em aprendizados futuros.
Para CAGLIARI (1998), existem práticas sadias de alfabetização, que nada tem a ver com
cartilhas.
Foi observada em sala de aula que atividades programadas com textos pequenos que os alunos
já dominam podem ser uma atividade de grande enriquecimento, já que esses textos podem
facilmente ser gravados. Logo é só ler acompanhando as palavras (não as letras). Essas
atividades são aconselháveis. Segundo CAGLIARI (1998). “No entanto os aspectos que podem
facilitar a aprendizagem devem ser da maior responsabilidade dos professores” (p.167). Neste
sentido conclui-se que as atividades devem ser bem elaboradas, passo a passo, para que o
caminho da alfabetização seja percorrido com segurança.
Para aprender a ler, é preciso interagir com a diversidade de textos escritos, testemunhar a
utilização que os já leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato; é preciso
negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, o que está atrás e
diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes. BRASIL (2001:56)
A fala da professora entrevistada não condiz com o autor. Para P1 “as crianças têm que ter
contato com textos mesmo antes de saber lê-los”. Sendo assim perguntei que tipos de textos
ela utiliza, ela respondeu: – “Textos mimeografados ou recortados do livro didático (cartilha),
poesias e reportagens”.
Já P2 respondeu: “Histórias, músicas, parlendas, trava-língua, panfletos de propagandas e
poesias.” Percebe-se que P2 tem uma visão mais ampla sobre os textos considerados
adequados para alunos na fase inicial de alfabetização.
Nesta perspectiva, a escola fornecerá bons livros, jornais, revistas, vídeos, atividades, abrindo o
universo do conhecimento, para que o aluno possa usufruir desse acervo, beneficiando-se
intelectualmente e para que o professor utilize-os para um bom trabalho de alfabetização.
Observa-se em práticas de sala de aula que trabalhar a literatura com o objetivo de formar
leitores, automaticamente se estará ensinando a língua. As crianças devem ver nos textos
literários algo de interessante e desafiador que pode ser uma conquista capaz de dar
autonomia e independência.
Na abordagem sobre os tipos de métodos que davam prioridades em suas práticas do dia-a-
dia, as professoras entrevistadas responderam:
P1 - “Utilizo ambos os métodos (textos e silabação) não abandono a silabação mas utilizo
vários tipos de textos.”
Para P1 “Utilizar os tipos de métodos aqui citados é uma maneira de buscar o método que o
aluno precisa”. Ela centra seus trabalhos nas necessidades que seus alunos têm, suprindo
alguma falha que possa ter ficado com a utilização de algum método em específico.
Mesmo com a professora afirmando que usa a silabação, não percebi o uso de cartilhas
durante a observação, o que indica que a silabação é apenas um recurso a mais por ela
utilizado. Além disso, encontrei expostos na sala cartazes com palavras com letras iniciais em
negrito, evidenciando que o método das cartilhas tão recriminado por vários autores, não está
sendo utilizado.
A maneira como as cartilhas lidam com a fala e a escrita confunde as crianças uma vez que
passa a idéia de que a linguagem é uma ‘soma de tijolinhos’ representados pelas sílabas e
unidades geradoras. Ora, as crianças aprenderam a falar de outra maneira e, portanto, para
elas a linguagem apresenta-se como um todo organizado de maneira muito diversa daquela
que a escola lhes mostra. No fundo, as cartilhas deixam de lado toda a trama da linguagem,
ficando apenas com o que há de mais superficial (p.82).
Há, ainda hoje, professores que ficam presos aos métodos das cartilhas e que parecem não
perceber que podem ocasionar inúmeras dificuldades aos aprendizes porque suas experiências
de vida são desconsideradas e esses são expostos simplesmente a um processo de ensino.
P2 refere-se aos textos como “arma para afugentar a silabação”, e reforça que, os textos mais
usados são: historinhas, músicas, panfletos de propagandas e poesias. Textos pequenos de fácil
absorção que podem facilitar o trabalho na hora do aprendizado.
O texto tem evidente importância e sendo bem trabalhado será o vínculo para formar bons
leitores. A leitura nos fornece matéria prima para a escrita, trata-se da compreensão na qual o
sentido começa a ser constituído.
O referido trabalho foi realizado com objetivo de repensar sobre os métodos tradicionais de
alfabetização, e discutir as novas abordagens teóricas para a construção da leitura e escrita em
crianças na Fase I do Ensino Fundamental, constatou-se a importância da conscientização por
parte dos educadores quanto a necessidade de se repensar a prática pedagógica direcionada às
crianças em fase de alfabetização.
Quando se trabalha com um modo de alfabetizar que visa a transformação, deve-se levar em
consideração não só o aspecto cognitivo de uma criança. É importante refletir também sobre
os aspectos afetivos individuais, uma vez que o aluno é um ser complexo, de múltiplas
dimensões. Com base nisso, foi constatado durante a observação em sala de aula, que o
carinho das professoras entrevistadas por seus alunos, cria um ambiente favorável à
aprendizagem.
Através da realização desta pesquisa, conclui que, num mundo em constante evolução,
constituído por um panorama histórico e político de idéias diversificadas, faz-se necessário a
valorização do homem como sujeito-reflexivo capaz de atuar dialeticamente neste contexto
social. Por isso, é necessário que seja realizado um trabalho de alfabetização que valorize a
formação de um sujeito autônomo construtor da própria história.
A leitura na escola tem sido fundamentalmente, um objeto de ensino e, para que ela possa
constituir também um objeto de aprendizagem, é necessário que faça sentido para o aluno,
isto é, a atividade de leitura deve responder a objetivos de realização imediata.
A questão metodológica não é a essência da educação, apenas uma ferramenta. Por isso, é
preciso ter idéias claras a respeito do que significa assumir um ou outro comportamento
metodológico no processo escolar. É fundamental saber tirar todas as vantagens dos métodos,
bem como conhecer as limitações de cada um.
Às vezes é preciso voltar às origens, aos princípios básicos, às coisas mais simples e claras para
rever alguns pontos a respeito de ensino, aprendizagens e métodos. Existe uma confusão entre
ensino e aprendizagem, visando somente o ensino, supondo que a aprendizagem ocorre
automaticamente como fruto inevitável do ensino, o que é um pensamento errado, pois um
bom trabalho de alfabetização precisa levar em conta o processo de ensino e de aprendizagem
de maneira equilibrada e adequada.
V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o ba-be-bi-bo-bu. Ed. Scipione. São Paulo. 1998.
FERREIRO, Emília. Com todas as letras. Editora Cortez. São Paulo. 1993.
MOURA, Maria Lúcia. Manual de elaboração de projetos de pesquisa. Rio de Janeiro: Ed. UERJ,
1998.
ROJO, Roxane. Alfabetização e letramento: Perspectivas Lingüísticas. Mercado das letras. São
Paulo. 1990.