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BARBOSA, Raoni Borges.

“Interação simbólica,
etnografia urbana, self e urbanismo: A leitura de
Hannerz da tradição teórico-metodológica da Escola
de Chicago”. RBSE Revista Brasileira de Sociologia
da Emoção, v. 16, n. 46, p. 136-146, abril de 2017
ISSN 1676-8965.
RESENHA
http://www.cchla.ufpb.br/rbse/

Interação simbólica, etnografia urbana, self e urbanismo: A leitura de Hannerz


da tradição teórico-metodológica da Escola de Chicago

HANNERZ, Ulf. Explorando a cidade: em busca de uma Antropologia Urbana. Petrópo-


lis: Vozes, 2015.

O livro de Hannerz, publicado simbólico e outras tradições próximas à


originalmente em 1980, ainda no con- Escola de Chicago, como a psicologia
texto do segundo deslocamento da An- social de Mead e a sociologia formal
tropologia, oferece ao leitor uma apre- simmeliana, o interesse maior de Han-
sentação historicista e crítica do que o nerz é pela estrutura social da metrópole
autor entende constituir a herança teóri- moderna e pelas relações causais que
co-metodológica e temática da Antropo- podem ser observadas e mensuradas
logia Urbana e, em geral, dos estudos e entre o indivíduo social urbanita e as
pesquisas sobre cidades e personagens redes, sistemas e setores urbanos que o
urbanos, processos de urbanização e conformam e o explicam.
industrialização de paisagens e, mais Para Hannerz, a complexidade, a
enfaticamente, sobre a emergência do diversidade e a politextualidade da es-
urbanismo industrial enquanto estilo trutura urbana reproduzem assimetrias e
moderno de vida urbana. Nesse sentido, gradientes de poder e de informação
ao lado das contribuições da geografia e entre os indivíduos posicionados na
da história para a pesquisa sobre cida- estrutura social urbana de redes e siste-
des, Hannerz apresenta o seu entendi- mas que funcionalmente organizam
mento de duas grandes tradições socio- papéis sociais e seus respectivos recur-
lógicas e antropológicas de abordagem sos materiais e simbólicos. Nestas for-
do urbano e do urbanismo: a Escola de matações de possibilidades de inter-
Chicago, abarcando o interacionismo e câmbio entre os atores, os vínculos e
o interacionismo-simbólico; e a Escola laços sociais individuais e coletivos se
de Manchester, com sua análise de re- estabelecem, reproduzindo a cidade
des e sistemas. enquanto redes de recursos simbólicos e
A história da Antropologia Ur- materiais em fluxo.
bana narrada por Hannerz é fortemente A obra Explorando a cidade: em
marcada pela sua formação na Antropo- busca de uma Antropologia Urbana se
logia social-estruturalista britânica, em organiza em seis generosos capítulos
cuja tradição o autor se esteia e a partir mais uma conclusão. No primeiro capí-
da qual desenvolve seu argumento sobre tulo, intitulado a Formação de um an-
o fenômeno urbano e o urbanismo. Mui- tropólogo urbano, Hannerz se localiza
to embora ele tenha realizado amplos como estudante de antropologia e etnó-
estudos sobre o interacionismo- grafo em formação interessado pelos
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estudos da cidade e do urbanismo. Bas- tem somente reproduzido e adaptado a


tante autobiográfica esta introdução Antropologia da alteridade radical aos
direciona a atenção do leitor para o tipo seus objetos e objetivos de estudo da
de abordagem que a obra pretende cons- alteridade próxima. Com efeito, a des-
truir sobre a tradição teórico- coberta da cidade como locus de pes-
metodológica simbólico-interacionista, quisa antecede a abordagem consciente
gerada na Escola de Chicago, e social- deste fenômeno social como focus de
estruturalista, desenvolvida na Escola uma teorização específica e sistemática.
de Manchester. Este defeito de origem seria o
Mais do que uma tensão, Han- responsável pela incoerência teórico-
nerz entende a herança antropológica metodológica, ainda mais acentuada por
para uma Antropologia Urbana a partir uma diversidade temática carente de
desta bipolaridade de estudos do self e profundidade conceitual, da Antropolo-
do urbanismo, pela tradição de Chicago, gia Urbana, cujas preocupações iniciais
e de estudos de sistemas de relaciona- teriam sido: a necessidade de reforma
mentos, pela tradição de Manchester. A social, o aumento da pobreza, a multi-
perspectiva simbólico-interacionista é plicação dos guetos, as ondas de imi-
apresentada e discutida nos capítulos gração, as fricções étnicas, a dissolução
dois, três e seis, respectivamente deno- de aldeias e de comunidades campone-
minados de Etnógrafos de Chicago, A sas, a emergência da sociedade de mas-
busca pela cidade e A cidade como tea- sas, a escandalização midiática da cri-
tro – Contos de Goffman; enquanto que minalidade e a delinquência, ou seja,
a perspectiva relacional, social- toda uma paleta temática que desafiava
estruturalista é debatida nos capítulos o ethos e o ideal de progresso do capita-
quatro e cinco, intitulados respectiva- lismo industrial do século XX e a ética
mente A vista do Copperbelt e Pensan- protestante que ainda lhe lastreava.
do com redes. No capítulo final, Con- Nas palavras de Hannerz (2015,
clusão, Hannerz faz um balanço das p. 13):
duas escolas centrais para o pensamento Não foram tanto suas próprias refle-
antropológico sobre cidades e estilos de xões sobre a natureza e o estado de
vida urbanos, mas reitera sua postura sua disciplina (a Antropologia) que
social-estruturalista. os (os Antropólogos) levaram lá (à
Interessa discutir aqui, mais do cidade), mas sim eventos externos
que o argumento social-estruturalista de que insistentemente exigiam atenção.
Hannerz sobre a cidade, a compilação e Em uma corrida desenfreada para um
sistematização que o autor faz sobre a campo definido por conflitos raciais,
Escola de Chicago e sua consequente instituições que funcionavam mal e o
crescimento de favelas, eles muitas
contribuição teórico-metodológica para
vezes, refletiam pouco sobre o que é
o urbanismo. Neste ínterim, a perspecti-
urbano na antropologia urbana e o
va de Hannerz sobre a obra de Goffman, que é antropológico a respeito dela.
autor central da terceira geração da Es- Havia apenas a transferência mais
cola de Chicago, completa o quadro que simples e menos autoconsciente pos-
o autor oferece da tradição simbólico- sível da antropologia básica para o
interacionista em Antropologia Urbana. novo contexto.
Hannerz questiona, na introdu-
Esta leitura de Hannerz tende à
ção de sua obra, se há de fato uma An-
exageração da influência da Antropolo-
tropologia Urbana ou se o que os antro-
gia Social Britânica, cuja ênfase era o
pólogos interessados nas formas urba-
estudo holístico das estruturas sociais de
nas de vida e na cidade moderna en-
sociedades tribais distantes e exóticas,
quanto estrutura social sui generis não
na formação da Antropologia Urbana. A

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aldeia urbana e o continuum folk- goffmaniana como expoente tardio do


urbano redfieldiano, reiteradas vezes interacionismo-simbólico a partir da
citados na obra de Hannerz, constituiri- crítica à leitura social-estruturalista de-
am, assim, o paradigma norteador dos senvolvida por Hannerz. Para o autor, a
primeiros estudos sobre o urbano e o antropologia é o exercício de estranha-
urbanismo. mento, mediante a comparação estrutu-
A contradição apresentada pelo ral e histórica, sincrônica e diacrônica,
próprio Hannerz reside, entre outros, no de modos e estilos de vida instituciona-
fato de que estudos sociológicos, histó- lizados, denominados de sistemas de
ricos e geográficos marcaram fortemen- relacionamentos, a partir da etnografia,
te a Escola de Chicago, caracterizada enquanto descrição ricamente contextu-
pelo uso da cidade de Chicago como alizada, destas formas social e cultural-
laboratório social, mas também pela mente dispostas de organização da vida
interdisciplinaridade, como se percebe coletiva humana. Os repertórios simbó-
no interesse de alguns de seus autores licos, - a cultura -, acionados pelas pes-
por psicologia social e por modelos bio- soas, neste esquema de análise, estão
lógicos e cibernéticos de análise, e pela causalmente relacionados aos sistemas
proximidade entre os departamentos de de relacionamentos - à estrutura social.
antropologia e sociologia. Cabe ressal- Hannerz, portanto, tem como
tar, ainda, a considerável influência da ponto de partida de suas análises uma
filosofia social e da sociologia formal estrutura social específica, como, por
simmelianas nas obras de autores cen- exemplo, o urbanismo. Uma vez mape-
trais da Escola de Chicago, como Park, ada a forma e a dinâmica deste sistema
Thomas, Mead, Wirth e o próprio de relacionamentos, o autor avança na
Goffman. análise dos conteúdos simbólicos histo-
A tese de Hannerz (2015, p. 16) ricamente desenvolvidos e estrutural-
de que a Antropologia Urbana seria a mente determinados. Os indivíduos apa-
aplicação, na realidade ocidental urba- recem como variáveis actanciais que
na, de uma herança cumulativa da An- desempenham papéis sociais, ou seja,
tropologia básica em “[...] décadas de modos institucionalizados de intercâm-
trabalho construindo um sistema concei- bio simbólico a partir de uma ancora-
tual para a compreensão de sociedades gem estrutural de suas posições, recur-
tradicionais distantes [...]”, torna-se sos e motivações.
ainda mais frágil no confronto com a No capítulo Etnógrafos de Chi-
etnografia urbana de Goffman, caracte- cago, Hannerz chama a atenção do lei-
rizada por preocupações e estilos sim- tor para o projeto da Escola de Chicago,
melianos e durkheimianos e ainda enri- já a partir de 1930, de fazer daquela
quecida por uma abordagem sociolin- cidade o laboratório social para estudos
güística e dramatúrgica da interação sobre cidade e urbanismo com base em
humana. Goffman, diferentemente da uma proposta teórico-metodológica que
tradição teórico-metodológica da An- combinava uma filosofia social especu-
tropologia Social Britânica com sua lativa da sociedade humana com a pro-
ênfase na estrutura social, entende a dução de dados empíricos sobre a vida
interação como jogo tenso e criativo de cotidiana real de indivíduos marginais
produção indeterminada de sentidos, na metrópole industrial emergente. A
situações e contextos por selves em in- cidade de Chicago, com efeito, repre-
tercâmbio comunicacional. sentava não somente a expansão da civi-
Faz-se interessante, assim, apre- lização americana e de seu ideal de pro-
sentar e discutir a Escola de Chicago, o gresso com todos os seus limites e con-
urbanismo como estilo de vida e a obra tradições sendo testados, mas também a

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porta de entrada para o Ocidente: o ca- Hannerz afirma a importância de


dinho onde se encontravam as culturas Thomas para a Escola de Chicago com
do leste europeu, dos países asiáticos, e, base em sua noção de “definição da
além disso, onde o “problema social” situação” e em seu método empírico e
enfaticamente se organizava como po- micro-sociológico de estudo do cotidia-
breza, delinqüência e segregação social. no do homem comum. Esta combinação
Thomas, Park, Turner, Wirth, possibilitou a aproximação do olhar
Reiss, Faris, Short Jr., Hughes, Burgess, sociológico e antropológico com preo-
Volkart, Znaniecki, Anderson, Trasher, cupações próprias da psicologia social e
Whyte, Wirth, Zorbaugh, Cressey e da sociolingüística: como seres huma-
muitos outros, entre eles Joas, Becker e nos produzem, no ato comunicacional, a
Goffman, mais tardiamente, encontra- realidade social, os mundos, em que
ram-se nesta proposta teórica de con- vivem enquanto indivíduos reflexivos e
cepção da cidade como forma social dotados de agência? A noção de “defi-
produto da ação individual humana nição da situação”, de Thomas, aproxi-
combinada em processos de interação mou e direcionou a Escola de Chicago
comunicativa. Em tal dinâmica, - tensi- para as teorias do self, da formação da
onal, criativa e indeterminada -, contex- pessoa enquanto individualidade social
tos semânticos, gramáticas morais e e culturalmente dinâmica em jogos inte-
culturas emocionais são socialmente racionais.
construídos, conformando o indivíduo Park, que fora aluno de Simmel,
social e os espaços de sociabilidade em formulou magistralmente o interesse da
que este reconhece a si e ao outro rela- Escola de Chicago pelo estudo da “or-
cional como pessoas, trajetórias, memó- dem moral” na cidade moderna. Interes-
rias e narrativas em disputas por auto- e sava compreender, assim, como o estilo
alter-definição. de vida urbano na modernidade capita-
A contraparte metodológica da lista era vivido por indivíduos reais. De
proposta teórica da Escola de Chicago Simmel, Park herdava noções sobre a
enfatiza a observação de dados empíri- modernidade como contexto de ações
cos micro-sociológicos, de uma pers- pautado na divisão funcional do traba-
pectiva processual, e que busca perceber lho e no intercâmbio mercadológico e
a desorganização social (esgarçamento monetário de bens materiais e simbóli-
das grandes estruturas morais e emocio- cos. A economia monetária, com sua
nais comunitárias) e a consequente e- lógica quantificadora, niveladora, inte-
mergência das individualidades em con- lectualista e superficial, produziu o in-
textos urbanos de diversidade cultural, dividualismo quantitativo dos liberais,
segmentação de escalas sociais e desor- com suas noções de justiça formal e de
dem normativa. Thomas, nesse sentido, redução da qualidade à quantidade; e o
faz uso de objetos pessoais para o estu- individualismo qualitativo dos românti-
do de como o homem comum, no coti- cos, com a sua exageração da noção de
diano, “define a situação” em que se EU como a- e supra-social, como uma
engaja e constrói trajetórias singulares. mônada ou Geist.
Park, por seu turno, nutria-se de uma Sobretudo, Park complexificava
ampla experiência como jornalista e a noção simmeliana de cidade como
assessor de movimentos sociais, conhe- comunidade paradoxal, em que a agita-
cendo profunda e intimamente o mundo ção nervosa e o excesso de estímulos
cotidiano das ruas e da opinião pública, produzem posturas de reserva e indife-
das relações raciais e do gueto, da imi- rença em relação ao outro, assim como
gração e da criminalidade urbana. personalidades blasées ou compulsiva-
mente aficionadas em esbanjar ou cole-

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cionar como motivo de compensação de ficação das interações cotidianas dos


uma tradição comunitária perdida para a moradores da cidade.
liberdade vazia da cidade. A visão de Entende-se aqui, portanto, que
Park sobre o urbanismo parecer não ser Hannerz equivocou-se ao atribuir a Park
tão melancólica quanto a visão de Sim- um interesse quase que unidimensional
mel e de outros românticos alemães, por uma análise ecológica e darwinista
mas o autor é enfático ao descrever, em da cidade como estrutura resultante de
um relampejo goffmaniano de lucidez uma dinâmica de disputa por espaço,
teórica, as consequências da “ordem em que seria possível a condução de um
moral” urbana para o indivíduo isolado estudo sobre “[...] os determinantes so-
destituído de um vínculo comunitário cioestruturais do comportamento na
forte: cidade” (HANNERZ, 2015, p. 35). Isto
Sob essas circunstâncias o status do implicaria afirmar, entre outros, um
indivíduo é determinado por um grau suposto desinteresse de Park pelo estu-
considerável de sinais convencionais do da interação simbólica, da formação
- por moda e ‘fachada’ - e a arte de social e reflexiva da pessoa e das regi-
viver é enormemente reduzida a uma ões morais da cidade, sempre em conta-
patinação sobre gelo fino e ao estudo to tenso e criativo, tal como no exercí-
meticuloso de estilo e maneiras. cio democrático da opinião pública, tão
(Park, 1952, p. 47, Apud Hannerz, cara a Park.
2015, p. 35). Hannerz situa, ainda, figuras
Park contribuiu enormemente como Leslie White e Robert Redfield,
para a formação conceitual da Escola de na tradição da Escola de Chicago. O
Chicago. Como bem enfatiza Hannerz, segundo, contudo, caminhou para uma
de Park são as noções de “ordem mo- proposta antropológica de análise de
ral”, “região moral” e “mundos sociais”, sociedades primitivas e de comparação
que guardam enormes semelhanças com destas com os estilos de vida urbanos,
a noção de “definição da situação”, de ao passo que White caminhou para a
Thomas. Ambos os autores afirmam o antropologia evolucionista. Estes auto-
mundo social como processo de cons- res representam, com isso, a ruptura que
trução intersubjetiva mediante o jogo progressivamente se aprofundou na Es-
comunicacional. Park, contudo, mais do cola de Chicago: por um lado, estudos
que Thomas, preocupou-se com o estu- sociológicos quantitativos, de base esta-
do da cidade enquanto locus de disputas tística e afeitos às generalizações e às
raciais e morais, assim como conjunto visões panorâmicas da cidade; por outro
fraturado e segmentado de relações en- lado, estudos antropológicos de recorte
tre grupos humanos exercitando formas etnográfico, de longa duração e em am-
de consenso e dissenso. biente natural e que enfatizavam os pro-
Nesse sentido, Park desenvolveu cessos intersubjetivos e interacionais de
noções como a de “contágio social” e a construção continuada da cidade e do
de “homem marginal”, consolidando urbanismo.
uma visão de urbanismo e cidade como Estudos clássicos da vertente an-
estilo de vida pautado na disputa pelo tropológica da Escola de Chicago são o
espaço, mas também nas acomodações e The Hobo, de Nels Anderson; The
criações de novos sentindo e repertórios Gang, de Frederick M. Trasher; The
simbólicos: a ordem ecológica, assim, Ghetto, de Louis Wirth; The Gold Coast
era tensionada pela ordem democrática, and the Slum, de Harvey W. Zorbaugh;
apoiada, principalmente, na instituição The Taxi-Dance Hall, de Paul G. Cres-
da opinião pública e do jornal como sey e The Jack-Roller, de C. R. Shaw.
exercícios de reflexividade e complexi- Nas palavras de Hannerz (2015, p. 64):

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[...] a Escola de Chicago teve mais ou mentos de pertença e solidariedade é a


menos os pioneiros em virtualmente contrapartida simbólica, emocional e
todos os tipos de antropologia tópicas moral, para uma interação regulada pelo
na cidade com as quais hoje estamos engajamento total das personalidades
acostumados: estudos de enclaves ét-
em interação.
nicos, estudos de gangues, estudos de
ocupações dissidentes, estudos de
O engolfamento cotidiano das
comportamento em locais públicos relações, com efeito, produziria uma
ou de entretenimento público; estu- situação de não criticidade e reflexivi-
dos de bairros mistos. dade em relação às tradições comunais,
vividas inconscientemente nas relações
Isto posto fica evidente a impor- de parentesco, afinidade, dádiva e favor.
tância desta tradição teórico-metodo- O social idealmente se configura, nestes
lógica para a Antropologia Urbana. termos, como espaço sagrado e totali-
Muito embora a Escola de Chicago te- zante, em que o indivíduo é subsumido
nha extrapolado, de forma etnocêntrica, no vínculo forte com a comunidade,
a validade de suas afirmações sobre o aldeia ou sociedade primitiva.
urbanismo a partir da cidade de Chicago O urbanismo como estilo de vida
como laboratório social, bem como te- na metrópole moderna, como desenvol-
nha falhado, em alguns pontos, em vido por Wirth, tornou-se conceitual-
combinar profundidade teórica e inven- mente o antípoda da noção de folk ou de
tividade e pioneirismo na etnografia dos sociedade primitiva de Redfield. Wirth
espaços urbanos e seus respectivos esti- entendia a vida urbana a partir de ele-
los de vida ou “mundos sociais”. mentos como tamanho, densidade e
Em A busca pela cidade, Han- heterogeneidade do agrupamento hu-
nerz apresenta sua leitura sobre as obras mano concebido como urbano. Urbano,
de Wirth e de Redfield como elementos nesse sentido, seria o espaço da multi-
dialógicos para a construção conceitual dão de anônimos conectados por múlti-
da noção de urbanismo. A obra Urba- plos vínculos fracos e contatos secundá-
nism as a Way of Life, publicada por rios e culturalmente diversos e funcio-
Wirth, em 1938, e os estudos de Redfi- nalmente recíprocos, de modo que as
eld sobre anticidade e sobre as socieda- personalidades individuais poderiam
des populares e primitivas, nesse senti- experimentar a individualidade e a sin-
do, são contrastadas com base em ques- gularidade de trajetórias pessoais, assim
tões como: o que perfaz o estilo de vida como a superficialidade das relações
urbano e quais os impactos do urbanis- pautadas na economia monetária, na
mo na vida interior e exterior do urbani- divisão funcional do trabalho e na sepa-
ta. Além disso, Hannerz busca uma de- ração de esferas domésticas e laborais,
finição transcultural do urbanismo, va- privadas e públicas.
lendo-se de estudos da geografia e da Diferentemente da vida interior
história. próxima e previsível dos contatos face a
O tipo ideal de sociedade primi- face da sociedade folk, o urbanismo
tiva, tal como proposto por Redfield, teria como marcas a impessoalidade, a
concebia um agrupamento humano cul- superficialidade, a transitoriedade e a
turalmente coeso e hermético e social- segmentalidade dos contatos humanos.
mente isolado, cujos membros viviam Neste contexto de ampla desorganiza-
em comunhão íntima mediada pela ora- ção normativa, de intensa proximidade
lidade. Tal contexto societal era caracte- física combinada com grandes distanci-
rizado pela semelhança de seus mem- ais sociais, o urbanita se veria lançado
bros, guiados por hábitos consolidados em posturas blasées e de reserva, de-
de pensar, fazer e sentir, de modo que senvolvendo condutas e comportamen-
uma cultura emotiva pautada em senti-

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tos esquizóides como cínicos, perdulá- ção de selves e repertórios simbólicos


rios, esbanjadores, colecionistas e ou- específicos poderiam ser preditos medi-
tros, de modo a compensar a perda da ante mensurações estatísticas de tama-
segurança e da pertença próprias dos nho, densidade e heterogeneidade das
vínculos comunais. relações.
A rotina na cidade faz uso de A crítica social-estruturalista de
meios generalizados e impessoais de Hannerz ao modelo de urbanismo de
comunicação, com os sinais de trânsito, Wirth, - apesar de situá-lo como uma
o relógio, o dinheiro, a moda, o direito superação dos estudos ecológicos em
positivo e o jornal, conectando os indi- sociologia urbana da Escola de Chicago
víduos sociais em amplas cadeias de -, concebe a cidade e o estilo de vida
interpendência. Hannerz enfatiza que o urbano não a partir de definições do
tipo ideal de urbanismo de Wirth dá todo urbano e de suas possíveis dinâmi-
continuidade, de certa forma, aos estu- cas, mas com base nos envolvimentos
dos simmelianos sobre a emergência da situacionais que cada indivíduo social
metrópole moderna, tida como espaço funcionalmente desempenha no contex-
produto da economia monetária e onde to societal e cultural urbano. Por envol-
mais avançou o efeito nivelador e quan- vimentos situacionais Hannerz entende
tificador do dinheiro sobre as relações o papel social, ou seja, um padrão inte-
sociais, bem como onde mais cresceu a rativo, cognitivo-emocional e moral-
cultura objetiva em detrimento da cultu- comportamental estabelecido a partir de
ra subjetiva. seleções de comportamentos, recursos e
Tal combinação faz do urbanis- posturas conscientes para a consecução
mo um estilo de vida pautado em liber- de objetivos socialmente construídos.
dades individuais, não mais presas à Nas palavras de Hannerz (2015,
tradição, mas também de esgotamento e p. 113):
exaustão das forças vitais pelo excesso As pessoas podem ter muitos papéis;
de estímulos nervosos e de exigências aos tipos de envolvimentos situacio-
institucionais. A cidade, tal como se nais que servem a um propósito que
pode deduzir do paradigma Wirth- compõem a ronda da vida de um in-
Redfield de contínuos primitivo-urbano divíduo chamamos de seu repertório
ou rural-urbano, emerge como contexto de papéis. À totalidade de tipos des-
de potencialização das vulnerabilidades ses envolvimentos que ocorrem entre
interacionais nas trajetórias individuais. os membros de alguma unidade mais
Este argumento foi tangenciado ampla tais como uma comunidade ou
por alguns dos críticos de Wirth e de uma sociedade, chamamos de seu in-
ventário de papéis. Como uma classi-
Redfield mais sensíveis à dimensão
ficação rudimentar do inventário de
simbólica e interacional do estilo urba- papéis da cidade ocidental moderna,
no de vida. Nesse sentido, o modelo podemos talvez dividi-la em cinco
recebeu críticas severas de autores que o setores, cada um contendo inúmeros
consideraram pesadamente etnocêntrico papéis: (1) doméstico e de parentes-
ao confundir urbanismo com industria- co, (2) aprovisionamento, (3) recrea-
lismo e capitalismo, como bem discorre ção, (4) vizinhança e (5) tráfico.
Hannerz a partir de modelos de cidades A ênfase nos papéis sociais, e
tirados de estudos históricos e geográfi- não nos atores sociais em interação real,
cos. O paradigma Wirth-Redfield foi permite a Hannerz salvaguarda sua pre-
também criticado por ter uma visão ide- ocupação com a estrutura urbana, na
al-típica fortemente marcada que con- qual o urbanismo é definido como um
cebia a cidade como uma estrutura ou arranjo de amplas possibilidades de va-
sistema fechado, cujos efeitos na produ- riação nas constelações de papéis e a

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noção de self ou pessoa corresponde ao de ambígua, tensa e inacabada, constru-


inventário de papéis sociais que um ída nos processos indeterminados de
indivíduo social desempenha, deslocan- interação simbólica entre indivíduos
do-se, deste modo, pelos vários setores criativos e reflexivos em movimentos
da vida urbana. O self individual, neste de aproximação e intimidade, de estra-
modelo de análise, não se configura nhamento e segregação.
como a cultura subjetiva simmeliana; ou Goffman, em sua formação na
com uma agência reflexiva, criativa, Escola de Chicago, como aluno de Park,
tensa e ambígua, que define situações e foi também iniciado na análise natura-
interpreta o mundo enquanto mundo lista e na observação empírica de pesso-
social, formatando exterioridades em as comuns em interação e da cidade
objetos sociais, tal como se pode con- como realidade em movimento de for-
cluir de autores caros ao interacionis- mas e sentidos transintencionais. Ao
mo-simbólico, como Mead, Cooley, contrário de alguns trabalhos de Park e
Thomas e Park. de alguns sociólogos urbanos, o interes-
Em A cidade como um teatro – se de Goffman não estava na disputa
Contos de Goffman, Hannerz se apro- pelo espaço ou em modelos ecológicos,
xima mais ousadamente da etnografia estatísticos e explicativos sobre a cidade
urbana goffmaniana sem, contudo, per- e o urbanismo, mas na formação e apre-
ceber o quanto este autor tardio da Es- sentação social do self nos mais diver-
cola de Chicago superou modelos eco- sos contextos de relações sociais.
lógicos, etnocêntricos e fechados de Hannerz, em linhas gerais, en-
análise da cidade e do urbanismo, aden- tende a obra goffmaniana como a análi-
trando na dimensão microscópica das se de processos de gerenciamento de
gramáticas emocionais e morais do in- impressões produzidos por indivíduos
divíduo urbano moderno. Goffman, situados em ocasiões sociais. Ou seja,
muito embora apresentado como autor em contextos breves de co-presença,
de noções e conceitos densos e impor- monitoramento recíproco face a face e
tantes para a antropologia urbana, é en- interação verbal e gestual, em que per-
tendido como um autor que teoricamen- formatizam ritualmente suas respectivas
te não sistematizou o seu pensamento, linhas e fachadas, atentando para as
praticando um método experimental e regras de um jogo em que preservar a
interessando-se por temas bastante dis- fachada se coloca como objetivo tácito
persos. de cada ator social.
Hannerz, contudo, ao contrário No entender de Hannerz, e esta
de uma leitura apressada da obra de talvez seja sua maior crítica, Goffman
Goffman, logrou perceber o quanto este desenvolveu um tipo de análise etnográ-
autor soube desenvolver um estilo pró- fica de interações simbólicas no isola-
prio de antropólogo-etnógrafo do urba- mento aparente de suas realidades só-
no, do cotidiano, do trivial e do banal da cio-estruturais, de modo que seus atores
vida, sem com isso ignorar os elementos sociais, - em sua maioria, pequenos
sagrados e fundamentais da vida huma- burgueses decadentes e ciosos de man-
na. Nesse sentido, Goffman combinou ter pequenas etiquetas e rebuscamentos
aspectos vigorosos da obra durkheimia- em uma Chicago metropolitana e hiper-
na, como a perspectiva do social como complexa -, flutuam em interações dra-
sagrado e como horizonte coletivo de matúrgicas, tanto em sentido metafórico
experiências morais e emocionais; e da quanto metonímico. Nesse sentido, a-
obra simmeliana, como uma leitura da firma (Hannerz, 2015, p. 231): “Pode
cidade como comunidade social e cultu- ser em sua abstração de situações de
ralmente paradoxal e como sociabilida- estruturas e sua separação de atividades

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comunicativas da vida material que ante deferências e trabalhos simbólicos


Goffman aproxima-se especialmente da de aproximação e de evitação que po-
“sociologia formal” de Simmel”. dem facilmente sair do controle dos
Ainda nas palavras de Hannerz atores sociais e redundar em situações
(2015, p. 221-222): de embaraço, constrangimento e vergo-
O interesse de Goffman está em deta- nha.
lhar as maneiras pelas quais as pes- A sociologia da sinceridade de
soas, estejam ou não plenamente ci- Goffman teria aberto o caminho para o
entes disso, lutam para apresentar um desenvolvimento de outras escolas teó-
quadro de si mesmas que lhes é van- rico-metodológicas interessadas na aná-
tajoso e ao mesmo tempo crível para lise da interação humana como processo
os outros que, presumivelmente, sen- ritual, tanto em contextos de engaja-
tem que eles foram capazes de for- mento e engolfamento total dos selves
mar sua própria opinião da evidência. (quartéis, hospícios, presídios, interna-
Nesse exercício de apresentação tos) quanto em situações de anonimato e
de si e de monitoramento e classificação multidão, próprias da metrópole moder-
do outro, o ator social organiza o seu na. A Etnometodologia, a Sociologia
self em regiões frontais, abertas para o Existencial e a Fenomenologia, nesse
público (a face em jogo), e em regiões sentido, nutriram-se fartamente dos es-
traseiras (os segredos, os interditos e os tudos goffmanianos em hospitais psi-
silêncios), organizando linhas de condu- quiátricos, em casas de jogos e apostas e
tas e comportamentos e construindo nas ruas de Chicago.
fachadas passíveis de performatização A sociologia do engano de
em papéis sociais legítimos, a depender Goffman, no entender de Hannerz, a-
do contexto interacional. O ator social, presenta uma visão cínica e um tanto
com efeito, tem a disposição uma mul- perversa da sociedade como caos admi-
tiplicidade de eus, ou seja, perspectivas nistrado em ordens possíveis. No mais
morais e equipamentos emocionais e das vezes esta é uma ordem oportunista,
cognitivos variados para lançar-se no estrategicamente talhada com base em
jogo social enquanto jogador e enquanto trapaças, evitações, segregações de pla-
imagem projetada de si para o outro, téias e de papéis e de um uso reflexivo
desempenhando seus papéis sociais a- das regiões frontais e traseiras do self,
prendidos e desenvolvendo de forma de modo que o ator social faz um uso
cada vez mais refinada e sofisticada conveniente de fachadas e de bastidores,
suas capacidades de lealdade, disciplina organizando uma subvida e um sub-
e circunspecção dramatúrgica. mundo à parte de exigências de poderes
Em sua verve social- sociais estabelecidos.
estruturalista, Hannerz identifica no Nesse sentido, Goffman, mais
modelo goffmaniano de self como ator que qualquer outro teórico da sociedade
social uma contradição irresoluta entre e da cultura, teria percebido, e talvez
uma sociologia da sinceridade e uma extrapolado, a capacidade do indivíduo
sociologia do engano. A sociologia da social de criativamente expandir e redu-
sinceridade, de inspiração fortemente zir seus círculos e escalas sociais e cul-
durkheimiana, enfatizaria os processos turais mediante a prática do segredo.
de formação e de apresentação do self Para Hannerz, porém, a contradição
como dimensão social individualizada entre um eu sagrado e delicado e um eu
das espacialidades e temporalidades manipulador e oportunista constitui uma
sagradas do social, de modo que o eu falha considerável na construção teórica
constituiria um fenômeno social sagrado goffmaniana.
e delicado, acessível ritualmente medi-

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Esta polarização da obra de tualidade, segmentalidade funcional,


Goffman em uma sociologia da sinceri- complexidade cultural e imprevisibili-
dade e uma sociologia do engano impe- dade interacional administradas median-
de Hannerz de apreciá-lo como uma te uma comunicação sofisticada e im-
analista brilhante, em uma proposta pessoal de símbolos generalizados e
compreensiva do real, das tensões inte- midiatizados e por um self complexo,
riores e exteriores da vida urbana, ainda amadurecido em um longo processo de
que, como bem acusa Hannerz, de uma aprendizado. Em tal contexto, o self se
perspectiva fatalmente centrada em as- confronta consigo mesmo enquanto self
pectos da cultura anglo-americana. As- contrastante em uma trajetória de papéis
sim expressa Hannerz sua indignação múltiplos e também com uma alteridade
perante a não preocupação de Goffman móvel e estranha, desenvolvendo, por
com uma proposta transcultural, histori- contraste, uma consciência de si e do
cista e comparativa de fazer antropoló- outro.
gico e etnográfico: O modelo de privação, por sua
Goffman tende a não se preocupar vez, enfatiza o impacto do industrialis-
muito com a questão de onde o indi- mo e da burocracia na configuração da
víduo adquire sua própria ideia de si cidade moderna como espaço de atitu-
mesmo, como ele é ou como deseja des de reserva e, portanto, de personali-
ser. Essa ideia está simplesmente lá, dades blasées. O indivíduo social, ao
e ele deseja que ela seja reconhecida experimentar a ruptura entre o espaço
pelos demais. E na sociologia do en- da casa e o espaço do trabalho, entre as
gano de Goffman, isso não pode ser esferas privadas e públicas da vida cole-
exatamente uma meta. (p. 245) tiva, também experimenta a si mesmo
Em resposta ao olhar goffmania- como self cindido em um self privado,
no microscópico e presenteísta das inte- voltado para os vínculos mais fortes de
rações simbólica, Hannerz apresenta um parentesco, afinidade, amizade e amor,
balanço de estudos sobre a emergência e um self público, voltado para a racio-
do indivíduo moderno desde as nuclea- nalidade instrumental do mercado e do
ções urbanas medievais européias até os estado.
atuais centros urbanos metropolitanos, Ambos os modelos de emergên-
passando por nomes como Berger, cia da autoconsciência do self, afirma
Luckmann, Morris, Sennet, Barth e Ge- Hannerz, são intuitivamente levados em
aring. Nesta breve análise de tempo conta por Goffman. Contudo, o autor
longo, - que estranhamente ignora os teria negligenciado esse aporte histórico
trabalhos de Elias sobre o avanço do e sociológico da formação da pessoa no
limiar da vergonha na modernidade e ocidente moderno e capitalista em sua
sobre a formação codependente de ca- obra, preferindo dedicar-se a uma etno-
deias sociais cada vez mais complexas e grafia pitoresca e expressionista dos
selves mais reflexivos e autoconscientes processos interacionais e simbólicos de
-, o autor discute a relação entre as pos- formação e apresentação de um self
sibilidades de autoconsciência do self e privado em situações de anonimato na
o urbanismo como estilo de vida singu- multidão, de estranhos em um bar ou
lar a partir do que define como modelo em uma casa de apostas ou, ainda, em
de privação e modelo de contraste na uma instituição total.
emergência da consciência do self. Em tom conclusivo, Hannerz
O modelo de contraste, bem ao (2015, p. 248) reafirma a sua leitura
modo de Wirth e de outros chicagoenses social-estruturalista do interacionismo
anteriores a Goffman, enfatiza a cidade simbólico de Goffman:
como fenômeno de diversidade, politex-

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É difícil imaginar um self que esteja


totalmente separado de seus envol-
vimentos sociais. Embora o indivíduo
não precise ser apenas a soma de seus
papéis, ele é, pelo menos em grande
parte, uma maneira específica de uni-
los e desempenhá-los, com prazer em
alguns casos e talvez desprazer em
outros
Esta resenha buscou apresentar
uma faceta da obra de Hannerz Explo-
rando a cidade: Em busca de uma An-
tropologia Urbana, aquela que diz res-
peito à sua leitura da tradição teórico-
metodológica e temática da Escola de
Chicago, passando por seus fundadores,
autores de relativo destaque e culmi-
nando com o mais destacado dos seus
expoentes tardios: Erving Goffman.
Esta resenha teve por objetivo, enfim,
apresentar criticamente a visão de Han-
nerz sobre a Escola de Chicago no de-
senvolvimento de uma Antropologia
Urbana a partir de uma indagação bási-
ca sobre a formação e apresentação do
self na cidade moderna e no urbanismo
como estilo de vida culturalmente sin-
gular.

Raoni Borges Barbosa

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