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Andre Leites Contratransferencia PDF
Andre Leites Contratransferencia PDF
45 East 78th Street, New York, New York 10021 / Fone 737-8808
A CONTRATRANSFERÊNCIA
DO PONTO DE VISTA CARACTERIOLÓGICO
Este é um livro técnico, escrito para o terapeuta praticante que queira aprofundar a sua
compreensão de si mesmo, da sua prática e dos seus pacientes. Pode ser usado
simplesmente como um manual de referência, para ser consultado periodicamente, mas
seu objetivo é despertar no terapeuta, o que eu espero que seja uma nova forma de
abordar a contratransferência. Não é uma tentativa de sistematiza aquilo que por
definição desafia a sistematização – uma interação humana. Em vez disso, este livro
espera apenas agir como catalisador, oferecendo uma nova perspectiva, um novo modo
de ver a contratransferência.
O que esperamos é que o terapeuta, depois de ler este livro, comece a pensar dentro das
linhas gerais aqui sugeridas, sem se limitar às interações e aos mecanismos de defesa
aqui descritos. De acordo com a premissa sobre a qual este trabalho é baseado, conhecer
a sua própria estrutura de caráter, sua etiologia e defesas características deve ser útil ao
terapeuta na apreciação da forma pela qual ele afeta o paciente, bem como da forma pela
qual o paciente o afeta. Isto deve ajudá-lo a localizar problemas rapidamente, e talvez
mesmo a prevê-los (algumas vezes).
Certamente, nada pode substituir o trabalho experimental (mais uma vez, felizmente), em
minha opinião. Ele ainda constitui 80% do aprendizado; mas a maior parte dos outros
20% pode ser alcançada com a leitura desses três livros.
_____________________
Introdução........................................................................................................................ 07
O Homem Fálico-Narcisista.............................................................................................. 65
Esclarecimento Final........................................................................................................ 87
Apêndice I: Exemplos
Paciente Passivo-Feminino............................................................................................ 90
Terapeuta Rígido.............................................................................................................. 98
Paciente Rígido................................................................................................................ 99
Terapeuta Oral.....................................................................................................100
Paciente Oral.......................................................................................................101
Terapeuta Esquizóide...........................................................................................102
Paciente Esquizóide........................................................................................................103
Terapeuta Psicopata.......................................................................................................104
Paciente Psicopata..........................................................................................................105
Terapeuta Masoquista.....................................................................................................106
Paciente Masoquista.......................................................................................................107
Referências...................................................................................................................... 119
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INTRODUÇÃO
Realmente, o Dr. Sullivan definiu o assunto deste livro muito precisamente, porque nós
vamos lidar com a contratransferência da forma como ela acontece, no nível
caracteriológico; sendo hipótese básica que, assim como a estrutura caracteriológica nos
permite predizer com alguma precisão o tipo de respostas que pode ser esperado de
nossos pacientes sob um determinado estímulo, também podemos esperar do terapeuta o
mesmo padrão de ação-reação. Sendo assim, se pudermos criar um modelo para
descrever as interações entre terapeuta e paciente, a nível caracteriológico, nós
poderíamos ajudar o terapeuta a entender, pelos menos intelectualmente, a dinâmica de
uma seqüência contratransferencial específica, na qual ele pode se encontrar envolvido,
dando, assim, um passo muito positivo em direção à clareza. Certamente, deve ficar
entendido que nós estaremos descrevendo apenas um modelo, e um modelo parcial, uma
vez que não é possível predizer todas as interações.
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Entretanto, apesar de termos que fazer uma diferenciação clara entre um modelo e uma
situação real de terapia, onde nos relacionamos com indivíduos, e não com estruturas de
caráter, tais modelos são uteis se forem considerados como uma orientação geral e não
como uma tentativa de substituir a profunda compreensão intuitiva, que é a pedra básica
da boa terapia. Levando em consideração a característica básica de cada estrutura de
caráter, podemos tentar estabelecer o grau de “pureza” com que modelos hipotéticos
reagiriam entre si nesse nível.
O termo “dissolução” ou “resolução” das defesas do caráter deve ser entendido como uma
tentativa parcial de recobrar a flexibilidade do ego comprometida no passado, em troca de
defesas. Porque quanto mais rígida é a defesa, menos flexibilidade é disponível ao ego –
e mais limitada é a escolha de respostas disponível ao indivíduo. Esta é a razão do
tremendo, e totalmente injustificado, medo experenciado por nossos pacientes, toda vez
que chegam perto da possibilidade de uma resolução parcial, de uma defesa
profundamente enraizada na estrutura do caráter: subjetivamente, o ego está
experenciando a dissolução de uma defesa que, no passado, afastou com sucesso uma
ameaça importante; e certamente a maior ameaça de todas é a dissolução da barreira do
ego, que o protege dos processos primários.
Neste ponto, a terapia terminou. Existem basicamente duas formas pelas quais isto se
manifesta: a primeira é quando o terapeuta fica zangado, assume uma posição autoritária
(que pode ser o retraimento) e, de alguma forma – direta ou indiretamente, aberta ou
disfarçadamente – ataca o paciente. A zanga é o ponto básico dessa posição
contratransferencial. O terapeuta perde sua objetividade e sua habilidade de enxergar
através das defesas do paciente; ele personaliza o ataque do paciente e não pode mais
interpretar ou entender. A segunda possibilidade é a de que o terapeuta, num nível
consciente ou inconsciente, se recuse a lidar com o assunto que o paciente está
apresentando, provavelmente porque ele mesmo ainda não resolveu esse assunto. A
recusa é a defesa do terapeuta; isto leva a uma conspiração com o paciente, e elimina a
possibilidade de se trabalhar o problema real. Neste caso, o paciente vai aceitar
alegremente essa conspiração, pois, obviamente, ele não quer encarar aquilo que ele se
recusou a encarar durante toda sua vida. A terapia pode continuar por algum tempo,
lidando com assuntos mais ou menos superficiais e irrelevantes, evitando o problema real,
que continua inexplorado.
É obvio que todos nós, uma vez ou outra, conspiramos com nossos pacientes, e todos
nós, uma vez ou outra, ficamos zangados com nossos pacientes, isto não é novidade.
Este trabalho destina-se a nos ajudar a perceber, um pouco mais claramente, algumas
dessas interações, tipificando algumas das interações caracteriológticas, a fim de que,
quando você estiver em seu consultório e se defrontar com o sentimento desconfortável
de que, ou você quer explorar um assunto, ou fica zangado sem saber por que, você
possa perceber a interação específica que está acontecendo a nível caracteriológico.
Portanto, parece que estamos realmente lidando aqui com um problema de resistência:
resistência por parte do terapeuta, em resolver seus próprios problemas, seja no contexto
da sessão que está se desenrolando com o paciente, seja no contexto de sua própria
terapia; assim como resistência por parte do paciente que está tentando, algumas vezes
disfarçadamente, trazer um assunto que, devido à resistência, ele não tem podido
resolver em sua vida diária. Portanto, ambos – o paciente que traz o assunto não
resolvido, e o terapeuta que está lidando com uma contratransferência, por também ter
um assunto não resolvido – estão, na realidade, lidando com resistências.
Neste contexto, a contratransferência deve ser vista pelo terapeuta como a expressão da
necessidade de resolver algo dentro de si mesmo, uma fronteira inexplorada. Se esta
atitude for mantida, o trabalho de fazer terapia resultará numa sempre crescente
resolução dos problemas do terapeuta, e numa diminuição da resistência e da
contratransferência. Esta é a diferença entre um trabalho chato e aborrecido e uma visita
profissional excitante, onde as contratransferências são empreendidas como indicação de
páreas que necessitam de exploração e resolução dentro da psique do próprio terapeuta.
A contratransferência, e sua compreensão profunda podem, portanto, ser usadas como
uma ferramenta para a expansão e o crescimento.
Isto é percebido pelo terapeuta como algo muito ameaçador, como uma exigência para se
deixar completamente aberto e vulnerável aos ataques do paciente. Esta não é uma
percepção falsa. A distorção está em igualar vulnerabilidade com fraqueza, desamparo,
ameaça à vida, ou à própria sanidade. Mas também não é verdade que uma parte
importante do nosso trabalho como terapeutas é, justamente, ensinar aos nossos
pacientes, que na vulnerabilidade repousa a verdadeira força; que o crescimento exige o
abandono da concha protetora, mas opressora de nossas defesas?
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Se o melhor modo de ensinar é dar o exemplo, podemos ver como é necessário que o
terapeuta esteja bem enraizado em sua própria realidade, e confie no seu próprio
processo, para poder receber tal ataque, e ainda assim reagir racionalmente a ela. A
contratransferência ocorre em muitos níveis. Ela pode ter início num nível muito
superficial, facilmente identificável, ou pode permanecer completamente fora do alcance
do consciente do terapeuta. Entretanto, à medida que o relacionamento terapêutico se
desenvolve, qualquer contratransferência aparentemente pequena revelar-se-á
perniciosa, mais cedo ou mais tarde.
A interação a nível caracteriológico só poderá levar, mais cedo ou mais tarde, a uma
paralisação ou, em última instância, à rejeição por uma ou ambas as pessoas. A
paralisação só pode ser interrompida quando um dos participantes estiver disposto a
desistir de sua posição. Este tipo de interação acontece entre terapeuta e paciente,
marido e mulher, pai e filho, professor e aluno – geralmente em qualquer relacionamento
de pares. Alguns pares são, entretanto, mais ameaçadores que outros – por exemplo,
pares terapêuticos e maritais – à medida que cresce a intimidade, cresce a ameaça e, na
mesma medida, cresce a reação caracteriológica.
A interação descrita, assim como as histórias de casos, deve, portanto, ser consideradas
como uma das muitas fotografias que constituem um filme. De forma alguma, elas são o
filme, em sua totalidade. Assim como ajuda na compreensão do filme todo, a identificação
de fotos específicas importantes, assim também pode ser muito útil o reconhecimento da
resistência caracteriológica, das defesas, da transferência e da contratransferência. As
interações são modelos, e não devem ser aplicadas indiscriminadamente, mas sim como
exemplos típicos.
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A idéia deste trabalho surgiu durante um workshop conduzido pelos Drs. Robert Hilton e
Renato Manaco, em 1973. Eles faziam, e pelo que sei continuam fazendo, um trabalho
sobre contratransferência. Eu também quero agradecer ao Dr. Goodwin Watson,
Drª. Barbara Hogan, e Dr. Steve Adler, pelo firme apoio durante a “gestação” deste
trabalho. Um especial “obrigado” ao Dr. Robert Zimmermann, amigo e colega. Mas ao
Dr. John C. Pierrakos, meu amigo, mestre e professor, que tornou possível a realização
deste trabalho, eu não tenho palavras que possam expressar claramente o profundo amor
e gratidão que eu sinto. Foi com o seu amor pela vida, pelos seus pacientes, e pelo seu
trabalho que ele me ensinou. E a mensagem é clara: Quem cura é o amor; não importa
quão impreciso isto possa parecer no contexto do trabalho acadêmico.
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Mais duas pessoas se destacam no grupo de pessoas especiais para mim, e que se
tornaram amigos muito amados. Clare Solomon, que paciente e carinhosamente me
ajudou ao longo do caminho, e que teve que lidar com muitas contratransferências; e Eva
Pierrakos, cuja orientação espiritual, combinada com lógica brilhante, profundo
conhecimento e constante apoio afetivo foram pontos básicos no meu desenvolvimento.
De Eva, John e Clare senti um contínuo e ininterrupto amor – não o amor incondicional,
que leva à simbiose, mas um amor adulto que leva à expansão. Nenhuma técnica pode
substituir isto, assim como nenhuma técnica pode ser efetiva sem esse amor. Talvez uma
melhor compreensão da contratransferência nos ajude a compreender melhor nossos
pacientes, e com isso possamos ultrapassar as defesas e alcançar o ponto profundo onde
repousa a alma do homem, cheia de amor e criatividade, esperando ajuda para liberar-se.
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A classificação geral “rígido” foi usada por diversos autores para incluir várias
sub-classificações que diferem um pouco em seus sistemas defensivos. Entre eles,
podemos considerar: o homem “fálico-narcisista” e a mulher “histérica” de Lowen; o
“crônico-depressivo”, o “maníaco-depressivo” e o “paranóide”, de Baker; o “histérico”, de
F. Lake; o “genital”, o “fálico” e o “histérico” de Reich, etc. Vamos usar aqui somente a
caracteriologia de Lowen, a fim de manter a consistência de nossas descrições.
Todas estas estruturas de caráter são pós-edipianas. A fixação teve lugar durante, ou
depois, do conflito edipiano, e é caracterizada pelo fato de que a libido (energia) fixou-se
na genitália, depois de ter atravessado as fases oral e anal, com algumas exceções, como
discutido no capítulo sobre Agressão como Agente Formativo nas Estruturas Rígidas.
De qualquer forma, entretanto, a sexualidade foi reconhecida e identificada pela criança,
apesar dela não ter diferenciado entre sexualidade e amor.
A princípio, a rejeição foi traduzida pela criança como uma rejeição de todo o seu ser,
mas, posteriormente, ela virá a associar sexualidade e/ou amor à rejeição. A palavra
essencial aqui é: e/ou; simbolizando a divisão entre sexualidade e amor. Antes da
sexualidade, seu amor era totalmente aceito, depois dela, não.
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A sexualidade se torna a culpada, a causa da rejeição. Nessa tenra idade, a criança ainda
é capaz de controlar isto. E apesar do trauma ser profundo e extremamente doloroso, a
criança pode reprimir a expressão sexual do seu amor, deixando-a em estado latente.
Entretanto, o trauma existe e, quando a criança chegar à adolescência e não puder mais
negar sua forte sexualidade; ela se defrontará com uma escolha impossível: expressar
sua irreversível e inegável sexualidade ou permitir que seu amor flua. Seu trauma de
infância lhe ensinou que amor e sexualidade são incompatíveis; que amor expresso
sexualmente significa rejeição imediata.
Uma escolha tem que ser feita, e desde que a sexualidade está emergindo com força
total, a expressão do amor se torna a única solução viável, se o preceito criado pelo
trauma tiver que ser obedecido. Enquanto na sua infância a criança era capaz de suprimir
a sexualidade e continuar expressando amor, na adolescência ela é forçada a reverter o
processo, desta vez permanentemente. Esta escolha, inaceitável, mas inevitável, entre
amor e sexualidade, gera um enorme ódio pela figura que criou esta dicotomia.
Agora, vamos dar uma olhada na situação edipiana. Como já vimos, o progenitor, do sexo
oposto foi desejado e amado e, entretanto, tornou-se odiado (sendo o ódio uma defesa
contra o desejo, como resultado da rejeição).
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Tipos rígidos são geralmente muito integrados. Seus membros são bem proporcionados.
São frequentemente pessoas atraentes com um grau muito alto de energia, capazes de
funcionar bem na sociedade. São bem sucedidos social e economicamente e,
frequentemente, casados, com relacionamentos aparentemente aceitáveis e significativos.
Entretanto, se olharmos esses relacionamentos mais de perto, descobriremos que eles
são baseados na sexualidade e na conveniência, onde ambos os parceiros estão usando
o outro para satisfazer suas necessidades sociais, econômicas e sexuais.
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Como já foi mencionado, tanto o homem quanto a mulher são atraentes. Seus
movimentos são graciosos, apesar de frequentemente darem a impressão de um corpo
rígido. Subjacente a esta aparente fluidez de movimentos existem, frequentemente,
profundas espasticidades, que Reich identificou como “armaduras moleculares”. Reich
postulou que essa estrutura blindada é, precisamente, a estrutura pós-genital, que é
capaz de distribuir a energia pelo corpo e criar a armadura muscular para proteger-se do
mundo, devido ao fato da libido se ter fixado no nível genital.
Reich descreve dois tipos: a armadura tipo placa, na qual grandes grupos de músculos
funcionam simultaneamente e criam placas de proteção em volta do corpo; e o tipo
“malha” (ou rede), na qual os músculos são aparentemente muito soltos, e operam
suavemente. A armadura tipo malha é muito difícil de ser penetrada e, no nível psíquico,
as defesas do indivíduo são extremamente fluídas e rápidas. Mesmo se a defesa é
momentaneamente penetrada, ela se fecha quase imediatamente depois. O indivíduo é
capaz de desviar os golpes que lhe são desferidos, saltando como um gladiador bem
treinado, que é capaz de pular de lado, desviar, absorver os golpes do oponente. Se a
armadura tipo placa pode ser comparada à armadura de um cavaleiro, a armadura tipo
malha é uma rede de arames de aço envolvendo a pessoa, que se torna quase
impenetrável e extremamente flexível.
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Estas analogias podem ser banais e superficiais, mas, mesmo assim, eu as acho muito
úteis quando procuro imaginar como as defesas de meus pacientes funcionam durante a
terapia. É claro que existem descrições muito mais profundas e sofisticadas, e o leitor
interessado pode explorar as definições de armaduras nos descritos de Reich, Lowen,
Boadella e Lake.
O homem fálico-narcisista usa sua sexualidade agressivamente contra a mulher. Ele está
tentando recuperar a mãe perdida, retomá-la de seu pai. Ele também está tentando provar
que sexualmente é tão potente quanto o odiado pai, e que agora pode competir e vencer,
num capo onde, na infância, ele era incapaz. Ele também usa sua sexualidade para
expressar diretamente seu ódio pela mulher que, na infância, o rejeitou por causa da sua
sexualidade. Ele não ama a mulher, e a considera um objeto sexual para satisfazer suas
necessidades sexuais e sociais. Uma mulher quebrou seu coração – e ele não está
disposto a tentar outra vez e tornar a experenciar seus sentimentos de dor que, na
infância, pensou fossem esmagá-lo. Ele não percebe que, como adulto, pode suportar a
dor, e que somente essa dor pode ajudá-lo a resolver o conflito e permitir-lhe estabelecer
um contato interpessoal íntimo com uma mulher.
Apesar de estas estruturas serem muito ativas sexualmente (a não ser em casos muito
traumáticos), também é verdade que, normalmente, elas não atingem o verdadeiro
orgasmo, na definição reichiana. Porque se elas o fizessem passariam a ser estruturas de
caráter “genital” - isto é, um modelo idealizado, não-neurótico, concebido por Reich e seus
seguidores e que, aparentemente, existe na realidade como ocorrência rara.
O orgasmo implica numa liberação energética total do organismo, similar para o homem e
para a mulher, sendo a ejaculação uma característica sexual específica do homem. A
liberação total implica numa dissolução momentânea das funções do ego, um verdadeiro
abandono aos processos involuntários - e, portanto, ao parceiro. Neste contexto, o
homem e a mulher rígidos têm grande dificuldade de alcançar o orgasmo, já que eles
raramente são capazes de abandonar verdadeiramente o controle do ego. Isto é ainda
mais significativo se considerarmos o fato de que ambas as estruturas usam sua
sexualidade de forma agressiva, para competir com o sexo oposto e obter vingança pela
dor que lhes foi infligida durante a infância.
Essa estrutura tem uma enorme sexualidade, porque a libido fixou-se fortemente na
genitália. Entretanto, muito frequentemente, a força da energia sexual, confrontada com
as conseqüências de ceder ao parceiro, e a correspondente resolução do conflito edipiano
primário, cria tal tensão nestes indivíduos, que eles preferem reprimir ou negar sua
sexualidade. Uma parte da energia sexual é sublimada e usada na vida social, econômica
ou profissional. Como a energia é muito grande, a repressão tem que ser igualmente
grande, e outros mecanismos de defesa, tais como deslocamento e somatização,
aparecem. No primeiro caso, o indivíduo se torna um pervertido sexual; no segundo caso,
a repressão se torna tão forte que aparecem dificuldades psicossomáticas. Estes foram,
na realidade, os primeiros casos de Freud, quando ele tratou de mulheres histéricas.
Em minha opinião, é significativo o fato de que, apesar do sintoma encontrado por Freud
no fim da era vitoriana ser raramente encontrado em nossa sociedade, as mulheres ainda
tenham alguns dos mesmos problemas, alguns dos mesmos sintomas de insatisfação e
infelicidade, a despeito de serem sexualmente dinâmicas e de estarem funcionando
continuamente. Não é suficiente para o aparato sexual funcionar separadamente da
totalidade do organismo, e estar envolvido num simples ato sexual.
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Orgulho e arrogância, que são expressas com desprezo pelo paciente (“ele é um
estúpido”, ou “ele não entende”, ou “eu sei, ele não sabe”). O orgulho é, geralmente
uma defesa contra o medo;
Quando o menino alcançou o estágio edipiano e começou a ter pela mãe desejos sexuais
evidentes, ela não pôde tolerar a situação e se esquivou, ou reprimiu diretamente. O
menino, cuja sexualidade tinha sido experenciada, até então, como uma reação orgânica
total, agradável e difusa por toda a superfície da pele, não pôde entender que a reação da
mãe foi apenas contra as manifestações sexuais, e identificou a rejeição da sua
sexualidade como a rejeição de todo o seu ser. Entretanto, ele tinha alcançado um nível
de desenvolvimento antes de esse trauma acontecer, por isso ele não abandonou
facilmente a luta pelo amor da mãe, e desenvolveu os recursos disponíveis para promover
ativamente a sua luta.
Ele se refez, se tornou competitivo com seu pai, invejou-o e então odiou-o diretamente. As
reações do pai, então, se tornam cruciais para o futuro desenvolvimento da criança,
porque ele tem duas opções – ou tolera a agressão da criança, ou a reprime. Se ele a
reprime demais, a criança pode ficar aterrorizada, a ansiedade de castração pode exceder
os níveis toleráveis, e a criança pode voltar aos estágios anteriores de desenvolvimento
com um componente anal muito alto (o que foi chamado de homem passivo-feminino, e
que será desenvolvido em outro capítulo).
Se a agressão não é excessivamente inibida pelo pai e/ou pela mãe, na vida posterior o
homem será capaz de expressá-la, mesmo se a sua sexualidade for inibida – no
verdadeiro sentido da palavra. (Em outras palavras, mesmo se ele for capaz de uma
ereção, ele pode ser impotente orgasticamente). E esta é a principal característica da
hostilidade do homem fálico, combinada com capacidade de ereção e impotência gástrica.
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O pai, entretanto, teve suficiente contato com a criança para que a identificação
ocorresse, a despeito do ódio do menino, ódio que se torna muito virulento nesse estágio.
O adulto fálico-narcisista, entretanto, cresceu tendo recebido uma considerável influência
de ambos os pais, tendo sido amado e cuidado, e tendo recebido permissão para
expressar-se e movimentar-se livremente.
O forte ódio do pai, combinado com um alto nível de energia, mais a grande habilidade
que essas pessoas em geral têm, resultam num caráter muito competitivo; ele acredita
que tem direito de tomar tudo aquilo que deseja; exagerando, poderíamos dizer que o
fálico acredita inconscientemente que ele é o rei, e que o mundo é seu reinado. Os fálicos
são arrogantes, narcisistas, dominantes e muito agressivos. Suas defesas são flexíveis e
poderosas. Eles podem usar quase qualquer defesa durante o curso da terapia, e o fazem
com incrível agilidade, de modo que frequentemente confundem o terapeuta. Eles são
extremamente persistentes e perseguirão seus objetivos sem descanso, uma vez que os
tenham definido. Entretanto, em parte por causa do orgulho narcisista, mais o sucesso,
mais a energia, eles frequentemente sofrem de fortes distorções intelectuais, no nível do
ego, que podem parecer absurdas a outras pessoas.
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Do ponto de vista físico, a estrutura fálica, como em todos os rígidos, é muito harmoniosa.
O corpo é bem proporcionado, simétrico e sensível. O indivíduo tem um sentido de
relacionamento espacial altamente desenvolvido, e pode geralmente identificar a posição
de qualquer parte de seu corpo, de olhos fechados. Isto é muito útil em termos de
diagnostico, especialmente quando alguém tem problemas para identificar um fálico –
esta pode ser uma das ferramentas. As extremidades – mãos e pés – são geralmente
bem quentes e energizadas. Elas são fortes e sensíveis. Em uma palavra, elas
respondem.
O contato a nível profundo é muito difícil para o fálico. A razão é simples: subjetivamente,
ele sente que perdeu a batalha pela mãe (apesar de nunca ter realmente desistido)
porque ele não era bom o suficiente. Seu pai era melhor, simplesmente porque venceu.
Assim, a experiência da infância é de baixa auto-valorização – que é confirmada na vida
de adulto, porque quando ele tem esses sentimentos negativos de ódio, arrogância e
desprezo, ele também sente culpa e dor – a nível inconsciente – por ter esses
sentimentos. Ter contatos íntimos significa arriscar trazer tudo isto para a realidade
consciente. Perceber a baixa auto-valorização, e seus componentes arcaicos irracionais,
leva à resolução da defesa do caráter – e o fálico, como qualquer outra estrutura,
defenderá sua estrutura de caráter por todos os meios disponíveis.
Pelo que foi dito acima, poder-se-ia concluir que o terapeuta fálico é virtualmente um
monstro, um ser negativo que deveria ser evitado. Muito pelo contrario, porque a energia,
o compromisso, a força e a sinceridade, geralmente encontrados nessas pessoas, as
ajudam a resolver em grande parte o seu problema caracteriológico. Se um fálico for
capaz de superar pelo menos uma parte do seu ódio e do seu orgulho narcisista, ele terá
reaberto o seu coração e se tornará caloroso, amoroso, e intensamente comprometido
com o seu trabalho. A contrapartida positiva das características negativas previamente
descritas pode florescer. Sexo e amor se equilibram, ele pode estabelecer um
relacionamento criativo e sólido na sua própria vida, e a partir dessa base sólida pode
compreender profundamente seu pacientes.
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A menina não podia entender isto, e repetiu suas tentativas para conseguir as atenções e
o amor do pai, tornando-se ainda mais sedutora - como é a tendência das meninas
pequenas. Isto, por sua vez, aumentou a ansiedade do pai, que reagiu rejeitando-a mais
ainda. Mais tarde, quando ela já tinha sido repentinamente desapontada, a menina
começou a personalizar e internalizar a rejeição, culpando a mãe por ser a competidora
bem sucedida na disputa pelo pai, sentiu-se desvalorizada e identificou sua sexualidade
como a causa da quebra do estado paradisíaco no qual ela se encontrava antes do seu
aparecimento. Finalmente, ela desenvolveu um laço ambivalente de amor e ódio com o
homem que vai dominar sua estrutura de caráter pelo resto da vida.
Não importa, a perda do pai (objeto amado) é diretamente relacionada com a aparição e
expressão da sexualidade. A solução temporária é reprimir a sexualidade, o que, quando
bem sucedido, leva a garotinha à felicidade da fase de latência, durante a qual ela
restabelece o contato com seu pai.
O que ela realmente consegue é odiar suas necessidades sexuais, que são a causa de
seu conflito e dor. Eventualmente, este ódio se transforma em ódio pela sua própria
genitália, que ela considera “suja”, “inferior”, etc. Outra possibilidade na sua escolha entre
sexualidade e amor poderia ser que ela tivesse reprimido ambas as modalidades ativas,
já que a agressão foi severamente inibida, e a sexualidade é uma expressão ativa e
agressiva do self – mas eu não estou certo disso.
A sedução, para a mulher histérica, constitui uma parte integrante do seu comportamento
como mulher adulta; ela está quase sempre inconsciente dessa mensagem, que ela está
constantemente emitindo para os homens à sua volta. Ela fica horrorizada quando um
homem a aborda sexualmente, acreditando – conscientemente - que ela não está
interessada nele “nesse” nível. A sedução é um instrumento usado para encobrir sua
insegurança, seu medo, seu desejo. De uma perspectiva psicodinâmica, o que acontece é
que ela aprendeu que homens (seu pai) eram atraídos (e, portanto, vulneráveis) pelo seu
comportamento sedutor, enquanto que, ao mesmo tempo, teve que reprimir a constatação
consciente de que seus atos levariam diretamente aos tabus da situação edipiana.
Entretanto, assim como sua contrapartida masculina, a divisão entre seu coração e sua
sexualidade permanece, e apesar de ceder sexualmente ao homem, ela nunca lhe
entregará seu coração. Por outro lado, ela se apaixonará por um homem que seja
sexualmente impotente, ou que não esteja disponível de alguma forma – ou porque é
casado, ou tem outro relacionamento; ou porque, de alguma forma, não está disponível
sexualmente (o “Sonho Impossível”). Qualquer uma dessas escolhas leva à ansiedade.
Uma das características da histérica é a habilidade de sublimar essas ansiedade, e
transformar a energia numa manifestação positiva, tal como sucesso na carreira ou a
nível social.
A expressão do seu ódio pelo homem é ainda mais inibida pelo seu medo físico do sexo
forte. Porque ela tem horror ao contato físico de qualquer tipo, que está associado – nos
níveis mais profundos do seu inconsciente – ao ato sexual. A imagem que vem à mente é
a da garotinha observando com ódio o seu grande e onipotente pai – fonte de frustração,
desejo e amor; amor frustrado que se transforma em ódio. Ela pode se tornar arrogante,
desdenhosa e dominante.
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Se a terapeuta histérica encara, e resolve com sucesso, os seus problemas principais, ela
pode ser excepcionalmente eficiente, compreensiva e profunda, porque ela tem a
integração e a força para entrar em áreas do inconsciente. Ela também representa,
frequentemente, a imagem idealizada que tem sido tão popularizada através da mídia, do
que uma mulher deveria ser: amorosa, compreensiva, bonita, atraente, sedutora e, até
certo ponto, ingênua.
O paciente oral tem carência de atenção e cuidados e irá a qualquer extremo para obter
gratificação, ou pseudo-gratificação, para essas necessidades não satisfeitas. A forma
geralmente usada para isso é uma atitude aparentemente passiva, que, na realidade, é
muito ativa, desde que é destinada a provocar (irritar) o terapeuta. O paciente oral
acredita, de forma distorcida, que a provocação é a única forma de obter atenção e,
eventualmente, amor. Há uma incapacidade para a expressão direta das reais
necessidades à nível de adulto – assim as tentativas de gratificação são sempre indiretas,
passivas e dissimuladas e, portanto, resultam em muito pouca, ou nenhuma, gratificação
real. Na experiência de vida do paciente, isto serviu somente para confirmar a premissa
neurótica de que suas necessidades nunca serão preenchidas. E então, ironicamente,
essa atitude cria condições para aumentar o vazio, que é um traço dominante deste tipo.
A zanga, exasperação ou impaciência, será percebida pelo paciente que, então, terá a
confirmação de que sua auto-desvalorização e auto-imagem negativa estão objetivamente
corretas. Ele é verdadeiramente uma pessoa sem valor e indigna de amor; não há
esperança, ele não deveria desperdiçar seu tempo e energia – e então ele permite que a
depressão subjacente suba à superfície.
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Por outro lado, se o terapeuta percebe que está trabalhando com um organismo de
energia muito baixa, que o progresso será lento, e que o principal objetivo da terapia
nesses casos é aumentar a energia disponível ao ego, grandes progressos se tornam
possíveis. O paciente se torna capaz de expressar suas próprias necessidades
diretamente, e toma as atitudes necessárias para satisfazê-las por si mesmo.
Este é o objetivo principal da terapia com esses pacientes – eles geralmente não carecem
de capacidade intelectual, insight, ou habilidade para experenciar sentimentos. A
liberação de energia disponível é de importância fundamental. Isto deveria ser alcançado
simultaneamente, através dos meios usuais, mas também fisicamente pelo aumento da
utilização dos pulmões, através da dissolução dos bloqueios do peito, que são o problema
físico dominante deste tipo.
O terapeuta nunca deve esquecer que o paciente oral não tem uma necessidade real de
ser nutrido e alimentado do exterior, porque agora ele é um adulto – o paciente apenas
finge ter essa necessidade. A real necessidade do paciente é neutralizar essa ilusão e sai
para o mundo para satisfazer suas necessidades por si mesmo. Enquanto o paciente oral
continuar na crença de que ele pode conseguir que o pai ausente finalmente lhe dê o
amor e a nutrição que lhe faltaram na infância, ele não sairá de sua posição defensiva, e a
terapia não progredirá. É, portanto, necessário que o terapeuta rígido transmita a idéia de
que é impossível ao paciente obter satisfação do mundo/realidade externos.
32
Como já foi dito, para a personalidade oral a necessidade de ser “alimentado” do exterior,
é muito grande. Algumas vezes, mulheres orais (especialmente aquelas que são
fisicamente atraentes) tendem a transferir essa necessidade e usar sua sexualidade, a fim
de serem “preenchidas” e, nesse caso, se tornam muito sedutoras. Esta é uma armadilha
para o terapeuta fálico-narcisista que, por seu lado, tem um forte desejo sexual. Será
igualmente perigoso para a terapeuta histérica, porque para ela o apelo será “servir de
mãe”, e isso, é claro, é igualmente verdadeiro para o homem oral.
O homem oral também usa a sexualidade para preencher seu vazio interior. Entretanto,
este não é um problema para os pares que estamos considerando. No caso de
homossexualidade, muitos outros fatores intervêm e, geralmente, sobrepujam este
aspecto (tais como submissão, fantasia de castração, vingança, ódio, etc.).
33
Somente quando ele perceber que é possível expressar sentimentos negativos sem
conseqüências desastrosas, é que ele poderá começar os processos de expansão da
auto-afirmação, que é a chave do processo de des-repressão, para este tipo de caráter.
Entretanto, isto é meio perigoso, porque os meios usados para negar a liberdade e a ação
expressiva foram a super-proteção, a super-preocupação com as necessidades físicas da
criança, em detrimento de sua necessidade emocional de protestar, expressar-se,
arriscar-se e individualizar-se. O terapeuta deve estar atento à reprodução desse
ambiente neurótico, pois (como sempre com os neuróticos) a menor suspeita de que o
trauma básico possa ser reproduzido, aciona as defesas de caráter.
Portanto, o terapeuta deve ter em mente que qualquer choque direto com esse tipo de
personalidade é experenciado pelo paciente como uma reprodução dos métodos
repressivos (e humilhantes) usados na infância. Duas das experiências condicionadoras
mais traumáticas foram: alimentação forçada e aplicação de lavagens; tendo ambos
resultado em fixação no estágio anal. Subjetivamente, isto foi experenciado pelo paciente
como uma violação do seu ser físico e emocional, uma verdadeira invasão de seus limites
e privacidades. Portanto, se o paciente percebe que o terapeuta tem uma necessidade de
forçar assuntos, mesmo que esta necessidade se expresse de forma sutil (por exemplo,
por intervenções excessivas, ou pela expectativa de resultados e progressos), o paciente
interpretará isto como uma reprodução das expectativas dos pais de que ele comesse
bem, defecasse bem e se comportasse bem.
A terapia com o paciente masoquista deve ser orientada, no sentido de ensiná-lo a ter
confiança em que sua necessidade de expressão será bem recebida. Para um terapeuta
rígido, isto significa que ele deve – muito gradual e cuidadosamente – apontar as defesas
de caráter, que são trazidas para a sessão pelo paciente, sem qualquer expectativa de
resultados, ou progressos, ou mudanças rápidas. Métodos analíticos do caráter devem
caminhar paralelamente com o trabalho bioenergético – mas também têm que ter um
aspecto didático. Porque o masoquista precisa ser ensinado que a expressão e a
expansão são aceitáveis – que, na realidade, elas são desejáveis.
A defesa de caráter, como é bem sabido e abundantemente descrito por todos os autores,
desde Freud, é expressa através de uma atitude provocativa e queixosa, destinada a
atrair agressão. O masoquista, disse Freud, tira o prazer da dor. Isto levou Freud ao
postulado do “Princípio da Morte” (Tanatos), em oposição a Eros, a Força da Vida.
35
Neste caso, a terapia pode ser muito ajudada pelas técnicas bioenergéticas, porque a
necessidade de expressar-se e de protestar pode ser particularmente bem canalizada
através da bioenergética. Entretanto, o terapeuta tem que compreender que o paciente
tem que fazer isso por si mesmo. Ele tem que ensinar a técnica ao paciente, e permitir
que ele a realize, sem sugestão ou pressão posterior. Onde o apoio é, frequentemente,
recomendado para outras estruturas de caráter, neste caso o terapeuta deve lembrar-se
constantemente de que nenhum apoio é necessário; nenhuma simpatia é exigida. O
problema do masoquista é romper a cadeia que ele criou com suas formidáveis defesas.
Se o terapeuta puder realmente manter-se afastado, e deixar o masoquista trabalhar por
si mesmo, logo o paciente começará a produzir material que poderá ser analisado da
maneira normal. É muito importante repetir mais uma vez, que esse material tem que ser
produzido pelo paciente, e não oferecido pelo terapeuta; mesmo que o paciente exija,
algumas vezes, que o terapeuta o ajude.
36
Os sistemas de energia das duas pessoas envolvidas nessa dupla são similares e,
portanto, isto não é um motivo de consideração. O maior problema repousa no fato de
que os dois têm defesas similares que podem enganchar-se. O paciente pode facilmente
identificar o sistema básico de defesa do terapeuta, e o terapeuta pode (se não for
realmente atento e cuidadoso) interagir com o paciente a nível caracteriológico.
O maior problema aqui, eu acredito, acontece quando o paciente e o terapeuta não são
do mesmo sexo, porque precisamos lembrar que a sedução é um sistema básico de
defesa da estrutura rígida. Ela é quase incontrolável, e se expressa em gestos e olhares
quase imperceptíveis; ela permeia o comportamento da personalidade rígida e ocorre
constantemente. Como as duas pessoas utilizam o mesmo mecanismo de defesa, as
duas serão igualmente sensíveis à utilização dessa defesa pelo outro. Portanto, quando o
sexo entra em cena, seja ele homossexual ou heterossexual, uma forte sedução pode
estar ocorrendo a nível inconsciente, ou pré-consciente. Alem disso, as duas pessoas
nesse par têm um medo incomum de rejeição, ambos têm necessidade de representar, e
têm dificuldade de expor seus sentimentos reais, especialmente os de amor e ternura.
Pode realmente parecer simples e tentador para o terapeuta, conspirar e deixar de lado,
pois o paciente pode não colocar os problemas em discussão.
37
Há, pelo menos, dois importantes pontos de orientação para indicar a conspiração: o
primeiro é quando o paciente “se sente bem” durante períodos prolongados, não trazendo
novos problemas, enquanto, ao mesmo tempo, não resolve a transferência, nem tenta
cortar o relacionamento terapêutico; ou, em outras palavras, quando é mantida a ausência
de transferência negativa e/ou expressão de sentimentos negativos, em relação ao
terapeuta, o pai, ou ao companheiro. O segundo é atitude de “bom menino” (ou boa
menina), onde o paciente adota essa posição, e o terapeuta não se confronta com ela,
permitindo que essa situação se mantenha. Este último pode tomar a forma de
promessas, ou sedução sexual.
Apesar disso, eu acredito que a interação do terapeuta e do paciente que têm a mesma
estrutura caracteriológica básica é essencialmente muito positiva, na medida em que o
terapeuta compreende profundamente o problema que o paciente está enfrentando. Eu
não gostaria que o leitor acreditasse que o prognóstico para este tipo de interação é
pobre. Pelo contrário, acontece justamente o oposto, porque se a resistência inicial é
enfrentada e resolvida, as estruturas rígidas podem entrar muito fundo em seus
sentimentos. Crescimento e mudanças realmente acontecem, e o trabalho com este tipo é
muito recompensador para o terapeuta.
A sedução, que está sempre presente no início, precisa ser entendida como uma defesa,
atrás da qual está um garoto (ou garota) assustado, que não tem coragem de colocar sua
necessidade de amor e seu desejo, que foram reprimidos na infância. Se o terapeuta
puder aceitar e expor ao paciente o jogo da sedução, bem como o que está por trás dele,
será capaz de alcançar o coração do paciente, já que (no caso das estruturas rígidas mais
do que em outros tipos) esta é a chave que libera a totalidade da personalidade. As
estruturas rígidas têm essencialmente uma grande quantidade de sentimentos que foram
reprimidos, a nível pré-consciente, e que podem se tornar repentinamente disponíveis, se
as defesas forem expostas e trabalhadas.
A gênese do trauma infantil básico da estrutura rígida foi a rejeição abrupta e repentina
dos avanços sexuais da criança, em relação ao progenitor do sexo oposto. Isto foi
experenciado durante a fase edipiana, e foi tão forte que o adulto irá a extremos
extraordinários para evitar qualquer possibilidade de confronto com uma situação
semelhante. A facilidade de reprimir é justamente a fraqueza e a força do sistema de
defesa da personalidade rígida.
38
O terapeuta do sexo masculino também deve perceber que, para a sua paciente mulher
ele representa uma figura extremamente ameaçadora – o homem poderoso, zangado e,
pelo menos potencialmente, sexualmente disponível. Pode ser muito difícil alcançar a
raiva profundamente reprimida, especialmente porque ela está, provavelmente, misturada
com o desejo. Frequentemente, a raiva do pai foi fortemente reprimida na infância, e se
tornou praticamente inalcançável, já que a sua expressão foi igualada à perda do objeto
do amor. A raiva também foi reprimida pela mãe, apesar de ser mais acessível aqui,
porque a ameaça de perda não era séria.
39
Portanto, para o terapeuta do sexo masculino, pode ser mesmo muito difícil alcançar o
nível indispensável. Algumas vezes, pode ser útil solicitar os serviços de uma colega do
sexo feminino, seja em base temporária para consultas, seja para fazer com que o
paciente trabalhe simultaneamente com as figuras materna e paterna. Isto lhe permitirá
explorar sua raiva num ambiente mais seguro - proporcionado pela terapeuta do sexo
feminino. Para o terapeuta fálico-narcisista, esta co-responsabilidade pode significar abrir
mão de seu orgulho, porque então ele terá que aceitar que ele não é mais o “grande
terapeuta” que vai “salvar” seu paciente, mas que ele precisa da colaboração de uma
mulher – sua colega. No nível profundo, irracional, estas são coisas difíceis de serem
aceitas por um terapeuta fálico-narcisista.
Por outro lado, se a terapia é bem sucedida, então o coração do histérico terá sido
atingido. Será como um maravilhoso fluxo se abrindo, e se dando sem reservas, o tipo de
“dar-se” de que as garotinhas são capazes. Será algo assexual, não-ameaçador, e sem
exigências – tudo aquilo que o terapeuta- fálico-narcisista deseja no fundo de seu
coração. E nesse momento, ele pode começar a resolver a transferência, enviando a
paciente para os braços de outro homem e assim, de certa forma, re-encenar o trauma de
sua própria infância. Trágico? Poético? Talvez, mas uma bonita expressão do amor
verdadeiro e desinteressado, que expandira os horizontes do próprio terapeuta. E este é,
talvez, o motivo pelo qual muitos de nos estão nesta profissão.
40
A sua estrutura, como descreve o trabalho seminal* de Pierrakos sobre este assunto,
apresenta quadris largos; peitos menores, mas de bonito formato; olhos faiscantes – o
tipo ideal de beleza feminina em nossa cultura. É claro que elas sabem disso, e sabem
como usar isso em seu beneficio. O homem fálico-narcisista, sexualmente potente,
zangado, sedutor e atraente também, é um alvo natural para esta estrutura. Entretanto, o
terapeuta não pode esquecer nunca, que por trás da sedução está a necessidade de
controle, e que a sexualidade é usada para este fim.
Uma vez que os jogos de sedução tenham sido expostos, a raiva reprimida contra o
homem (o pai) pode ser trabalhada. Porque essa é uma das chaves para o trabalho bem
sucedido com essa estrutura. E aqui o terapeuta fálico-narcisista pode ser muito eficiente,
representando facilmente a figura do pai, se tiver a habilidade de manter a objetividade.
_____________________
* relativo a sêmen, embrionário.
41
Com a terapeuta histérica, o problema ainda é o controle – mas a dinâmica do jogo sexual
está ausente. A contratransferência é mais difícil de acontecer e, como já foi dito, é mais
fácil para o paciente alcançar sua agressão reprimida. Entretanto, o nível de agressão,
que é facilmente atingido nessa dupla, é a hostilidade, com relação à mãe – e não o ódio
pelo pai, que é um dos problemas subjacentes básicos para este tipo de paciente.
Portanto, assim como na interação do par anterior, será uma atitude inteligente da
terapeuta do sexo feminino procurar a ajuda de um colega do sexo masculino – e isto, por
si mesmo, ativa as defesas caracteriológicas da histérica, de desprezo e ódio pelo
homem, expressas por uma atitude de auto-suficiência; e também requer a resolução
parcial do orgulho para poder admitir que precisa de ajuda.
Como analogia, para descrever essas duas personalidades, poderíamos imaginar uma
ameba com um membrana muito rígida e inflexível, que assegura os limites do organismo,
enquanto, simultaneamente, impede a sua mobilidade – um requisito indispensável para a
extensão de pseudópodes. Supondo que a entrada de alimento fosse, ainda assim,
adequada e constante, o problema dessa ameba seria mover-se e descarregar o excesso
de energia acumulada no protoplasma, pela constante entrada de alimento e oxigênio.
No outro extremo do espectro, uma ameba com uma estrutura de caráter esquizóide teria
uma membrana muito permeável e frágil, talvez até fragmentada. Aí, o perigo para a
ameba seria a perda de protoplasma, através de uma membrana que não consegue
contê-lo devidamente. Sendo assim, quando um paciente esquizóide interage com um
terapeuta histérico/fálico-narcisista, o terapeuta deve sempre ter em mente a fragilidade
de seu paciente. O terapeuta deve lembrar-se que sua necessidade de uma resolução
rápida e eficiente pode desenvolver-se em impaciência, exasperação, e mesmo, raiva,
sentimentos que despertarão o trauma primário do paciente.
43
O terapeuta precisa perceber que os esquizóides são, geralmente, pacientes para a vida
toda. O problema do esquizóide é sua falta de habilidade para manter contato com a
realidade exterior. O contato com o terapeuta, e com a realidade é, talvez, o único ponto
importante para essas estruturas. O terapeuta precisa, frequentemente, agir como uma
ponte, como um guia, para ajudar seu paciente. Nenhuma resolução rápida é possível,
nenhum grande progresso vai acontecer por longos períodos de tempo. O terapeuta
precisa realmente “ensinar”, às vezes a níveis quase elementares.
O homem fálico-narcisista usa a raiva e a agressão como defesa básica contra sua
própria vulnerabilidade. Mas não o esquizóide, que usa o retraimento. Isto é exatamente o
que acontece quando o terapeuta fálico-narcisista pressiona um avanço, fica zangado ou
impaciente, ou faz qualquer outra coisa que agrida o paciente. O paciente se retrai, senão
fisicamente, pelo menos emocionalmente, ad infinitum, exasperando, ainda mais, o
terapeuta. Eventualmente, o retraimento se transforma em descompensação, e a
regressão pode acontecer, levando – em casos extremos – a incidentes psicóticos. Este
não é um problema serio para a mulher histérica, cuja linha básica de defesa é a sedução,
em vez da raiva.
44
Eles são capazes de manter muitos dos exercícios bioenergéticos mais ativos, por muito
mais tempo do que outras estruturas de caráter, e se beneficiarão enormemente por
atingirem os limites físicos de tolerância; porque é nestes limites que eles perceberão
mais claramente a realidade do seu corpo. É fato sabido, por exemplo, que muitos dos
maiores dançarinos têm fortes componentes esquizóides, porque isto lhes permite levar
seu corpo muito além dos limites de tolerância de outras estruturas.
É claro que é indispensável fazer trabalho analítico continuamente também. Porém, mais
uma vez, a análise deve ser orientada para a consolidação dos limites do ego, em vez da
descoberta de material arcaico. Este material é, precisamente, o que está constantemente
em maior contato com o paciente, e ele tem medo disto, porque não tem certeza se isto
pode ser suficientemente reprimido, para manter o equilíbrio.
A sexualidade não deve ser um problema nesta dupla, em particular, apesar de que, em
geral, sexualidade/sedução seja um perigo contratransferencial básico para o terapeuta
histérico/fálico-narcisista. A razão disto é que a sexualidade, geralmente, não é um
problema para a personalidade esquizóide – ou ela é muito reprimida, e o paciente tem
um interesse limitado por sexo; ou é abertamente usada, de um modo tão obvio e rude,
que é fácil de reconhecer e trabalhar com ela.
1. Ele precisa, acima de tudo, ser real e perceber que o seu paciente pode quase “ler
seus pensamentos”. É inútil mentir;
3. Ele tem que entender a raiva, como uma expressão de dor e frustração, por ser
incapaz de manter contato com a realidade. Contato é o ponto principal.
O terapeuta é a ponte para a realidade.
46
Portanto, o terapeuta deve ser muito cuidadoso com os “presentes” que o paciente vai,
quase continuamente, produzir. Estes “presentes” podem tomar qualquer forma, incluindo
produção de sonhos e material de inconsciente profundo, que o paciente acredita (em
nível mais profundo) que o terapeuta espera. O paciente está sempre antecipando as
expectativas do terapeuta, e irá a extremos absolutos para satisfazer essas expectativas,
frequentemente fantasiadas. Por outro lado, este tipo de paciente precisa que o terapeuta
lhe dê apoio, e lhe assegure que ele é aceito e amado. Para o homem fálico-narcisista,
isto é mais uma vez um desafio, já que uma de suas dificuldades básicas é amar de forma
genuína, sem manipular. Como o paciente passivo-feminino é, essencialmente, um
manipulador que exige e requer amor e apoio, a tendência do terapeuta, de conter seu
amor (experenciada como “uma exigência desnecessária do paciente”) será exacerbada.
Este não é um grande problema para a terapeuta histérica. Primeiro, porque é muito mais
fácil para ela amar a figura do “menino desamparado” que o seu paciente apresenta.
Depois, porque ela é uma mulher, e o paciente fica mais confortável com mulheres
(contanto que elas permaneçam assexuadas), do que com homens, que são mais
ameaçadores. Não esqueçamos que a principal área problemática do passivo-feminino é
com o homem – e não com a mulher. Os problemas com mulher/mãe afloram, às vezes
violentamente, quando a sexualidade aparece – mas para que isso aconteça, é preciso
que uma confiança considerável se desenvolva, e um bom relacionamento terapêutico é
indispensável – e nesse ponto, muitas situações contratransferenciais já terão sido
trabalhadas.
47
Há uma forte tentação para o terapeuta de conspirar com seu paciente, e de aceitar os
“presentes”, que são apenas uma sedução por parte do paciente. Entretanto, se o
terapeuta aceitar esses presentes sem analisar seu verdadeiro propósito e significado, e
sem desmascarar a resistência de forma analítica, ele estará fazendo o jogo de defesa
caracteriológica do seu paciente. Por outro lado, se ele confrontar o paciente de forma
muito rude, apontando a verdadeira irrelevância desse material, frequentemente inútil, e a
forma como é usado como defesa contra o progresso, o paciente passivo-feminino
perceberá isto como uma reprodução do seu trauma infantil original, e se retrairá ainda
mais para a sua passividade, ressentimento e medo.
Certamente é aqui que está a solução. Porque o terapeuta rígido deve realmente ter calor
e bons sentimentos pelo paciente passivo-feminino, antes de concordar em trabalhar com
ele. De outra forma, a terapia será extremamente difícil, e os prognósticos duvidosos.
Se, no início da terapia, o terapeuta rígido perceber em si mesmo, raiva ou desprezo pelo
paciente, ele deve considerar – depois de trabalhar estes sentimentos dentro de seu
próprio trabalho – a possibilidade de enviar o paciente para outro terapeuta. Por outro
lado, se os sentimentos positivos e calorosos realmente existirem, então o relacionamento
entre estas duas estruturas pode levar a uma experiência frutífera, produtiva e gratificante
para as duas pessoas envolvidas.
49
Aqui, o terapeuta rígido vai encontrar um desafio real. No caso do paciente psicopata, ele
está encontrando um paciente cujo sistema energético é similar ao seu próprio, no que se
refere à grande quantidade de energia disponível. Entretanto, o psicopata deslocou sua
energia para a parte superior do seu corpo, e sobrecarregou a sua mente. As funções do
ego são extremamente ativas, talvez até super ativas.
Os psicopatas precisam estar certos sempre. Sua receptividade está diminuída, sua auto-
afirmação não deixa lugar para dúvidas ou desafios. Entretanto, eles têm grande
dificuldade em aceitar qualquer sugestão do terapeuta. Eles também resistirão fortemente
a muitas das técnicas físicas disponíveis em bioenergética, realizando-as mecanicamente,
e dissociando-se de qualquer percepção de sentimentos novos e, portanto,
desconhecidos. Devemos lembrar que a defesa do psicopata se originou pelo excesso de
manipulação da mãe sedutora, o que, através da negação, resultou numa ênfase
excessiva do ego, em detrimento de todas as outras percepções. O problema
fundamental é que eles nem mesmo tentam desafiar a sua própria interpretação da
realidade, que foi frequentemente ajustável e funcional em sua vida exterior (com exceção
de seus relacionamentos interpessoais).
Por outro lado, o terapeuta histérico ou fálico-narcisista tem uma enorme dificuldade em
expressar amor diretamente. Ele teme a rejeição que, na infância, criou sua própria
estrutura de caráter. Daí resulta uma retenção de amor, ou uma forma indireta de
expressá-lo, que pode parecer ao paciente psicopata a manipulação, as mensagens
duplas, a trapaça, a falta de segurança, às quais ele este sujeito. Além disso, o psicopata
tem um comportamento de rejeição, constantemente expresso em todos os níveis, o que
ativa o medo básico de rejeição do terapeuta rígido – isto é subjetivamente e
conscientemente percebido como frustração extrema, que pode levar à raiva defensiva.
Além do mais, o psicopata provavelmente rejeitará qualquer tentativa do terapeuta de
atingi-lo diretamente. Tudo isto inevitavelmente ativa as defesas caracteriológicas do
terapeuta rígido. Para evitar a rejeição, o terapeuta terá a tendência de se retrair, ficar
passivo, deixar o paciente tomar o controle que ele deseja, e talvez não vá nem mesmo
confrontar o paciente, quando isto for necessário.
50
O terapeuta sentirá que o paciente psicopata não quer realmente mudar, que a motivação
é muito limitada, e poderá cair na armadilha de acreditar que seu paciente não está
realmente decidido a mudar. Pode haver alguma verdade nisso; o psicopata acredita,
basicamente, que ele está certo e a sociedade está errada, que as regras impostas a ele
do exterior são o produto de uma mãe irracional.
Resumindo, vemos que a estrutura rígida precisa atuar e obter resultados; a estrutura
psicopata pondera; a estrutura rígida se enraivece ou se torna sedutora, e confirma a
crença do psicopata de que o mundo é louco e ele é são. Esta é uma das dinâmicas
típicas que podem ocorrer entre o terapeuta rígido e o paciente psicopata. A solução é o
terapeuta experenciar totalmente, e expressar o seu desamparo, mostrando ao paciente a
dor infligida. Somente então o terapeuta poderá alcançar o coração do paciente, que é a
chave para a resolução do conflito. O terapeuta precisa ter sempre em mente que a
rejeição é uma modalidade operacional normal do psicopata, que o desprezo se
manifestará a toda hora durante a terapia, que o psicopata realmente acredita que ele
está certo e os outros estão errados. Talvez, então, o terapeuta possa entender e aceitar
a rejeição, a dúvida e o desprezo, o que é tão difícil para a estrutura rígida, onde o
orgulho é um dos traços dominantes.
51
Esta estrutura de caráter foi amplamente descrita por Reich, em seu livro Análise do
Caráter, onde ele discute a historia de um caso bem sucedido, usando precisamente o
seguinte ponto de vista:
1. Ódio pela mulher, que é forte, bem evidente e, algumas vezes, violento;
As expressões desse ódio foram toleradas até certo ponto, mas a criança percebeu a dor
que ela estava infligindo. Seguiu-se a culpa. Eventualmente, a agressão aberta contra o
pai foi reprimida, e mais tarde deslocada para a mulher por que – como entidade
conhecida – ela se tornou menos ameaçadora do que o pai desconhecido e irreal.
Assim, além da forte culpa edipiana, descobrimos culpa associada ao amor recebido do
pai (e, portanto, associada também ao amor pelo pai). Também encontramos culpa ligada
à expressão do princípio agressivo, já que essa mesma agressão – recebida como
tolerância, paciência, e até amor – foi reprimida tanto pela criança, porque era percebida
(mais uma vez subjetivamente e, portanto, não necessariamente de forma precisa) como
a causa do sofrimento do pai.
Aqui precisamos compreender que a afirmação saudável foi exagerada até chegar ao
ódio e, em última instância, a impulsos assassinos, já que o pai, afinal, forneceu a
ameaça edipiana. A afirmação se confundiu com agressão – e ambas foram reprimidas. A
modalidade de comportamento resultante é a aparente submissão ao homem. Isto serve a
um duplo propósito – elimina o risco de confronto (com a ameaça de liberação de
impulsos assassinos) e é usado como expiação pela culpa, que é um componente tão
importante desta estrutura de caráter. Na realidade atual, o ódio reprimido, exacerbado
pela contínua submissão ao homem, é deslocado para a mulher, onde se torna
controlável. Mas o processo de relacionamento do casal sofre severamente, e esta é
frequentemente uma das queixas presentes.
54
Muitas vezes, o indivíduo lembra seu papel de infância como “o verdadeiro homem da
família” – e isto, até certo ponto, pode ter sido verdade. Seu pai fraco, retraindo-se diante
da mãe afirmativa, pode ter usado a criança como pára-choque. Por seu lado, a mãe
insatisfeita pode ter colocado sua sexualidade para a criança inofensiva. Qualquer uma –
ou ambas – as manobras, resultaram no fato da criança se sentir obrigada a “lutar a
batalha do pai”, ou se sentir “o homem da família”, etc.
A criança também tentou (e foi parcialmente bem sucedida) identificar-se com a mãe. É
ela que a criança deseja, e com ela teve um relacionamento muito íntimo e, às vezes,
simbiótico, antes da manifestação de sua sexualidade. Portanto, a identificação com, e a
introjeção da figura feminina é, parcialmente, uma adaptação, especialmente por que não
há figura masculina para compensar. Estas duas manobras servem para manter a
esperança de que um dia a criança vá recobrar a intimidade como a mãe, enquanto –
mais uma vez – aplaca a ameaça real, o pai, castrando-se simbolicamente. O resultado
geral é a submissão, que é interpretada pela família como uma atitude de “bom menino”,
e é bem-vinda quando o indivíduo é uma criança. Mais tarde, na vida, esta atitude se
torna, talvez, a mais chocante manifestação desta estrutura de caráter. Descobrimos que
o homem passivo-feminino carece de espontaneidade e objetividade, e tem uma forte
inibição da capacidade de expressar necessidades e desejos. O nível energético não é
tão alto como se poderia esperar de uma estrutura de caráter pós-genital, como
mencionado anteriormente, este tipo tem a parte inferior do corpo pesada e masoquista, e
um grau considerável de oralidade na parte superior.
55
Esse desejo de agradar a mulher se origina, é claro, da sua necessidade de agradar sua
mãe, para obter seu amor. O desejo e a ambição, que essas pessoas em geral, têm,
resultam da tentativa da criança de competir com seu pai, a fim de conseguir o amor
prometido, mas sempre inalcançável. A criança compreende que o pai é o provedor e
protetor da casa. A criança iguala sucesso social e poder material, com fraqueza
emocional, timidez e submissão à mulher. Já que o pai tem poder financeiro bem como o
amor da mãe, obviamente o caminho para conquistar a mãe é obter o sucesso financeiro.
Entretanto, a criança pensa que ela tem que ter mais poder financeiro do que seu pai,
para que a escolha se torne obvia para a mulher. Esta distorção, carregada para a vida
adulta, persiste como um desejo inconsciente de obter cada vez mais bens, na esperança
de que, eventualmente, uma quantidade suficiente seja obtida, e a mãe, perdida há tanto
tempo, seja finalmente reconquistada.
Para o paciente esquizóide, cujas necessidades básicas são: reintegrar sua percepção do
mundo externo, e consolidar suas defesas do ego, o terapeuta passivo-feminino pode ser
muito adequado. Porque a ansiedade de castração (medo de destruição) do próprio
terapeuta, encontra um paralelo, pelo menos parcialmente, no medo de aniquilação total
do esquizóide – ambos sendo experenciados como ameaça física à existência. O medo
do terapeuta, em reconhecer sua raiva e seu ódio, também encontra um paralelo no medo
da própria raiva que o paciente esquizóide tem – o que, algumas vezes, é quando muito
pré-consciente.
Esta compreensão fará com que a terapia, necessariamente longa com este tipo de
paciente, seja muito fácil para o terapeuta, já que ele será capaz de avaliar as
necessidades do paciente, de uma perspectiva diferente. Naturalmente, o paciente
também se beneficiará.
58
Além disso, como esses pacientes têm geralmente pouca energia, o “eu não preciso de
você” pode mudar muito rapidamente para uma atitude passiva, que na realidade
transforma essa afirmação em “você faz isso por mim”. O terapeuta tem que estar de
sobreaviso para esta manobra, já que esses pacientes são extremamente propensos a
criar este tipo de dependência.
O terapeuta passivo-feminino experencia esses pacientes, como buracos sem fundo que
nunca podem ser satisfeitos. Pode haver alguma verdade nisso, já que a necessidade oral
é realmente inextinguível; mas na contratransferência, o terapeuta experencia a si mesmo
como sempre tentando agradar seu paciente, e nunca conseguindo isso completamente.
Isto desencadeia a raiva.
59
O terapeuta também precisa ser capaz de, gentilmente, frustrar as exigências de amor
maternal e de apoio que o paciente tem, enquanto aceita seu ódio e rejeição defensivos.
O ódio e a rejeição aparecerão quer o terapeuta aceite, ou não, “servir de mãe” ao
paciente, já que neste caso estamos lidando com a expressão de um ódio não
diferenciado, que é conseqüência das necessidades orais/infantis frustradas. Estes
sentimentos negativos são aqueles que mais requerem expressão e, eventualmente,
diferenciação. Portanto, o terapeuta passivo-feminino deve aprender a tolerar e aceitar
totalmente a raiva, o ódio, e a rejeição do paciente.
60
Nós não devemos subestimar a dor do paciente – ela está lá, e é resultado de uma
espaticidade quase crônica e permanente, em todo o sistema muscular voluntário,
incluindo, frequentemente, uma parte da musculatura involuntária (veja o trabalho seminal
de Gerda Boyesen sobre psicoperistalse). Essa espasticidade é a expressão física da
defesa que o paciente construiu em torno de si mesmo quando criança, e que serviu a
diversas funções importantes: 1. Conteve e dissipou, até certo ponto, a sobrecarga
energética resultante de alimentação excessiva e contato emocional deficiente;
2. Mais tarde, durante a fase edipiana, serviu para proteger seus genitais de uma possível
castração que ele fantasiava.
61
A explicação completa dessa dinâmica pode ser encontrada no capítulo sobre o terapeuta
masoquista; para entender o relacionamento desse par, basta dizer que o masoquista se
encontra aprisionado dentro de sua musculatura, que ele agora quer abandonar para
poder participar dos prazeres da vida, que ele vê em torno de si. O masoquista ainda se
apega ao princípio do prazer, mas não pode tolerar o crescimento energético até o ponto
da descarga do prazer. Portanto, ele nunca experencia realmente uma genuína descarga,
e vai sempre parar antes de atingir um clímax. Isto é particularmente verdadeiro em
relação à sua sexualidade – ele é raramente capaz de liberar a tensão através de uma
descarga sexual, apesar de ter uma excelente potencia eretiva, e, respectivamente,
lubrificadora. O homem pode ter problemas para ejacular, e a mulher, para atingir o
orgasmo. Algumas vezes, a ejaculação masculina não é acompanhada de contrações
pulsantes; em vez disso, é um fluxo contínuo de sêmen, muito semelhante ao ato de
urinar. Isto resulta numa falta de gratificação sexual que não é realmente percebida como
tal. Por isso, as reclamações que ele apresenta raramente incluem expressões de
distúrbios sexuais. Entretanto, trabalhar os problemas sexuais frequentemente se torna
uma das chaves do processo terapêutico.
Precisamos lembrar agora, que as duas fraquezas básicas do terapeuta são a submissão
e a passividade, que se originaram do medo da figura masculina; ambas resultam em
extrema dificuldade de confrontação direta. Neste caso, nosso paciente continuamente
(embora de forma dissimulada) ameaça partir, rejeitando assim, o terapeuta, caso ele não
corresponda. Às vezes, ele também é agressivo, e o terapeuta pode sentir-se na
presença de um organismo que tem mais poder do que ele próprio.
62
Além disso, se o terapeuta realmente tentar ajudar o paciente, como vimos acima, isto
será subjetivamente percebido pelo paciente, como uma repetição do relacionamento
sufocante que ele tinha com sua mãe. É, portanto, necessário que o terapeuta mantenha
estritamente o princípio da realidade, permanecendo objetivo e real, e não aceitando os
desafios, ameaças ou comportamento sedutor do paciente, enquanto o confronta
continuamente e utiliza técnicas analíticas do caráter (Reich).
O terapeuta precisa estar consciente de que ele não pode, de modo algum, resolver o
conflito do paciente; isto depende inteiramente do paciente, e é ele quem tem que
resolver fazê-lo – se, e quando quiser. O terapeuta precisa, também, encarar seu próprio
medo do objeto primário, que é defendido pela raiva – e deve estar atento para não atacar
o seu paciente defensivamente (e em contratransferência). O papel do terapeuta, neste
caso, é simplesmente o de reforçar constantemente o princípio de realidade, apontando
as defesas de caráter do paciente, enquanto se mantém a uma distância suficiente (para
que o paciente possa se mover em direção a ele), sem perder o contato.
A mulher agressiva-masculina foi descrita recentemente pelo Dr. John Pierrakos, de forma
bastante extensiva, assim, limitarei minha descrição a um breve sumário. Eu sugiro ao
leitor que queira desenvolver melhor seu conceito sobre esta importante estrutura de
caráter, que se reporte à literatura apropriada.
A mulher agressiva-masculina tem uma aparência física bem específica. Seus quadris e a
metade inferior do seu corpo, inclusive as pernas, são pesados, de compleição
masoquista, e apresentam profunda espasticidade, coberta por camadas de gordura.
Essa parte do corpo é pesada, carece de mobilidade, e frequentemente de sensibilidade e
percepção. Esse peso se manifesta na dificuldade em pular, correr, ou em qualquer outra
forma de deixar o chão. A mobilidade física da pessoa fica prejudicada – mas a
mobilidade emocional, nem tanto. A metade superior é fraca no peito, e pode ser muito
delicada e bonita quando comparada à metade inferior. A discrepância entre a fragilidade
da metade superior e a grande força da metade inferior é extremamente chocante para o
observador treinado. A cabeça é, muito frequentemente, bonita e energizada. Os olhos
são brilhantes, a pessoa é inteligente, sutil, perspicaz, e muito capaz no plano intelectual.
Estas mulheres são muito, frequentemente, bem sucedidas em suas carreiras. Como elas
têm uma enorme energia que não foi capaz de encontrar a descarga normal através do
canal sexual, essa energia é sublimada e utilizada para competir no mundo dos homens.
Com relação ao seu desenvolvimento, a mulher com esta estrutura de caráter geralmente
teve um ótimo relacionamento com seu pai, até que o conflito edipiano aparecesse, ou às
vezes, até um pouco depois. De qualquer forma, a nutrição foi fornecida por um pai
amoroso e terno que, de repente, por alguma razão, desapareceu. Algumas vezes, esse
desaparecimento pode ter sido uma ausência física, tal como divórcio ou morte, outras
vezes, pode ser simplesmente um retraimento emocional. A mãe, muito provavelmente,
dominava o pai fraco, e foi experenciada pela criança como uma pessoa fria, forte, e que
a rejeitava frequentemente. Essa experiência subjetiva pode ser o resultado de uma falta
de contato emocional entre a mãe e a criança (daí a oralidade). O pai era a figura que
nutria, e não a mãe.
64
A espasticidade da pélvis e das pernas, mais a camada de gordura, foram utilizadas como
defesa pela garotinha, que desenvolveu sentimentos muito intensos pelo seu pai, que
foram interrompidos como conseqüência de seu repentino retraimento ou abandono.
Deixada com esses sentimentos, ela tentou resolvê-los diminuindo, tanto quanto possível,
a consciência de sua genitalidade. A estrutura espástica e a gordura serviram para tornar
tão difícil quanto possível a percepção de sua área pélvica. Este é o propósito do peso e
da tensão.
Nessa situação, o terapeuta deve estar atento para qualquer provocação, seja ela sexual,
intelectual, emocional, ou uma combinação das três. O que pode parecer, a princípio, um
simples desafio intelectual, pode resultar num impasse competitivo. A mulher nessa
situação irá a extremos incríveis para sobrepujar sua contrapartida masculina, já que esse
é seu padrão básico de relacionamento.
65
O HOMEM FÁLICO-NARCISISTA
Esta estrutura de caráter pós-genital aparece como defesa contra a dor da rejeição da
mãe, quando a criança manifestou sexualidade durante a fase edipiana. Mais uma vez, a
criança tinha um relacionamento satisfatório com ambos os pais, de modo que a fixação
dominante não ocorreu no nível pré-genital. Entretanto, quando a criança tentou
manifestar seu amor através de sua recém-descoberta sexualidade; em outras palavras,
quando o menino tentou expressar-se com a totalidade do seu ser, que inclui se corpo
e/ou sua latente virilidade, a mãe, com medo, o rejeitou. Essa rejeição, não
compreendida, foi experenciada como totalmente devastadora.
Mais tarde, na terapia, um dos gritos profundos que o homem fálico-narcisista emite é:
“Por quê?” Esta repentina rejeição induz à dissociação entre a sexualidade e os
sentimentos suaves de amor que a criança experimentava anteriormente; a sexualidade,
que até então não tinha aparecido, se torna a causa da rejeição da mãe. O menino vai,
portanto, tentar reprimir sua sexualidade, e muito provavelmente vai ser bem sucedido
durante os estágios infantis de desenvolvimento.
Entretanto, durante a adolescência, como a energia libidinal ficou bem fixada nos genitais,
a sexualidade se afirma fortemente. Essa sexualidade frequentemente pode ser
experenciada como indesejada, apesar de irrevogável. E assim, por causa da dissociação
entre amor e sexualidade, o indivíduo é forçado a reprimir sua capacidade de amar, em
vez de sua inevitável sexualidade. Por isso, é característico de toda estrutura de caráter
genital ter dificuldade em amar.
Em outras palavras, ele experenciou a sexualidade de seu pai como aceitável para a mãe,
enquanto a sua foi rejeitada. É claro que a única diferença era uma questão de potência;
portanto, o homem fálico-narcisista desenvolve um alto nível de potência para compensar
sua fantasiada deficiência da infância. Frequentemente, esses homens têm percepções
distorcidas quanto à adequação de sua genitália, apesar de serem eretivamente muito
potentes; eles frequentemente têm dúvidas quanto à sua habilidade de, realmente,
funcionar sexualmente. Ejaculação precoce ou incapacidade de ejacular são muito
comuns. Tudo isto pode estar escondendo profundas tendências homossexuais que, em
geral, são reprimidas com tanto sucesso que o paciente não manifesta nem mesmo um
nível normal de material homossexual inconsciente.
68
Nosso terapeuta passivo-feminino defronta-se, neste caso, com uma estrutura de caráter
que é mais altamente energizada do que a sua. Ele também se defronta com um homem
que aceitou uma posição agressiva no mundo, e que tem força, onde o terapeuta tem
fraqueza. A passividade e a identificação feminina do terapeuta não podem competir com
o homem viril e forte que ele está enfrentando. Isto pode acionar um medo profundo,
ligado às associações parentais não resolvidas do terapeuta, e pode bloquear a
expressão da transferência negativa do paciente, já que o terapeuta irá conspirar com o
paciente para evitar essa confrontação indispensável.
A descarga de ódio pela mulher é uma das chaves para a terapia bem sucedida com essa
estrutura de caráter. Inicialmente, o ódio será, provavelmente, experenciado como
ego-sintônico, e muito terá que ser feito pelo paciente para desenterrá-lo; toda a sua vida
manifesta uma contínua troca (sexual e de outros tipos) com as mulheres. Por isso, a
reclamação apresentada raramente incluirá uma expressão desse ódio e, em vez disso,
apresentará relacionamentos superficialmente bons, que podem ser até um casamento
bem sucedido que dura há muitos anos.
69
O paciente pode parecer muito desdenhoso, e com tendência a fazer julgamentos. Isto
irá, ao mesmo tempo, provocar e ameaçar o terapeuta passivo-feminino, levando-o ao
retraimento e à passividade. Nessa situação, ele vai deixar de confrontar, ou irá fazê-lo
apenas parcialmente, ambiguamente, hesitantemente – o que, se for percebido pelo
paciente, só irá aumentar seu desdém. Eventualmente, o paciente se sentirá superior ao
terapeuta, e obviamente partirá.
Assim, o terapeuta não pode hesitar – neste caso mais do que em qualquer outro – em
confrontar diretamente o paciente. Ele não pode ter medo – seu paciente é tão poderoso
que, sob condições apropriadas, pode suportar praticamente qualquer coisa. A dificuldade
é alcançar o paciente – porque uma grande parte da energia do paciente é usada para
manter as pessoas à distância.
70
Mulheres histéricas foram as primeiras pacientes tratadas por Freud, e existe muita
literatura com descrições sobre elas. Entretanto, como este trabalho é apresentado de um
ponto de vista bioenergético, eu acho que é pertinente descrever muito rapidamente
alguns traços marcantes dessa personalidade.
A mulher histérica é fisicamente muito atraente, bonita e sedutora. Seus movimentos são
fluíidos e geralmente muito harmoniosos; o corpo é bem proporcionado e permanece
relativamente em boa forma, mesmo após a gravidez, ou com o passar dos anos. O corpo
é harmonioso e existe uma qualidade sedutora e sexualmente atraente nessa mulher. Ela
é bonita, e manterá sua beleza mesmo em idade avançada.
Mais uma vez, como em estruturas de caráter anteriores, a frustração só veio depois que
ela começou a expressar sua sexualidade, desta vez com relação ao pai. Anteriormente,
o desenvolvimento psicossexual foi tal, que encontrou muito pouco conflito com o exterior,
e assim foi harmonioso. Apesar de que algumas fixações possam ter ocorrido em estágios
anteriores, foi somente quando a criança tentou expressar-se com a totalidade do seu ser
– incluindo, obviamente, a sexualidade - que ela foi rejeitada.
Possivelmente, essa rejeição jamais foi entendida e, de qualquer forma, nunca foi aceita
pela paciente. Permitiram-lhe expressar sua rebelião livremente, mas ela ficou frustrada
quando percebeu que não era compreendida. Sua defesa contra a rejeição do pai foi
desenvolver ainda mais a sua sexualidade; ela viu a figura bem sucedida da mãe obtendo
o amor do pai, e identificou a diferença básica entre ela e mãe como uma diferença
sexual.
Depois da fase edipiana, todo componente sedutor desta estrutura de caráter se tornou
inconsciente, e assim a mulher histérica, apesar de ser permanentemente sedutora,
nunca está consciente do que está fazendo. Portanto, quando os homens respondem à
sua sexualidade, ela os rejeita imediatamente – não entendendo porque foi abordada – e
censura os homens por seus desejos sexuais exagerados.
71
Todo este mecanismo serve para protegê-la de seus próprios sentimentos sexuais
incestuosos por seu pai, que ela nunca reconheceu, e que constituem a base de seu
problema. Como no caso do homem fálico-narcisista, que é sua contrapartida masculina,
ela será inteligente, bem sucedida, bonita, e não hesitará em manipular quem quer que
seja, ou o que quer que seja necessário para alcançar seus objetivos.
Ela vai continuamente conter seus sentimentos, sem expressá-los, e vai usar a
sexualidade e outros instrumentos para alcançar seus objetivos. Entretanto, onde o
homem fálico-narcisista – quando confrontado com a escolha entre amor e sexualidade –
escolheu a segunda, a mulher histérica escolhe o primeiro. Então ela acredita que ama
todo mundo, homens e mulheres, da mesma forma – e fica surpresa quando os homens
respondem à sua sexualidade e as mulheres a repudiam como “namoradeira”, “vaquinha”
ou “prostituta”. Sua guerra contra as mulheres foi aceita há muito tempo – e
eficientemente resolvida. É a resposta sexual do homem à sua sedução inconsciente que
ela não aceita, porque ela sente que apenas os “ama” de uma forma “bonita”, sem
sexualidade. Ela se torna a “bela adormecida” esperando eternamente pelo “príncipe
encantado” – o seu paizinho, é claro.
Ela também expressará desprezo pelo terapeuta que – se for capaz de tolerar isto sem
rejeitá-la, se confrontará, então, com o ódio real da paciente pelos homens e,
eventualmente, com o seu desejo inconsciente de castrá-los. Esse ódio pelos homens é a
chave para o problema da paciente. E já que esta é também a chave para o problema do
terapeuta, uma conspiração pode muito bem acontecer.
Entretanto, o ódio / raiva da mulher contra o homem pode também ameaçar o terapeuta.
Não vamos esquecer que sua própria mãe foi subjetivamente percebida como fria,
distante, e, ainda, dominadora, sedutora e bem sucedida no controle de seu pai. O
terapeuta passivo-feminino levou sua infância lutando contra a mulher agressiva – e
perdeu. Assim, a agressão da histérica pode assustá-lo; e a sua reação poderá ser não
confrontar a paciente. A conspiração é realmente o maior problema que o terapeuta
enfrenta, porque sua paciente histérica ficará muito feliz, como dissemos anteriormente,
em apresentar material ilimitado, cujo objetivo é, simplesmente, fugir do problema central.
A sexualidade foi reprimida, mas a agressão foi permitida, até certo ponto. A repressão
total dos sentimentos foi menor para a mulher agressiva-masculina, do que para a
histérica. A criança pode até ter pensado que realizou a fantasia edipiana – de qualquer
modo, ela realmente se tornou “a mulherzinha da casa”. Ela era mais forte do que sua
mãe, mais agressiva, mais poderosa e (como provavelmente a fraqueza da mãe resultou
num relacionamento deficiente com seu homem) tornou-se a “favorita”. Eventualmente, é
claro, a repressão da agressão realmente aconteceu, mas, enquanto isso, a sexualidade
já tinha se fixado muito fortemente no corpo, através de quadris pesados, apresentando
uma aparência quase “masoquista”.
A estrutura é, portanto, dividida – uma pélvis masoquista e/ou um peito oral. As pernas
serão masoquistas (pesadas) ou orais (muito finas), dependendo do grau de dominância
de cada um dos pais. Quanto maior o componente oral, maior será o grau de psicopatia
que está sempre presente neste tipo. Mais tarde, a retenção da pélvis se manifestará pela
incapacidade de liberação orgástica: ao mesmo tempo, a carga de energia na vagina será
tão excessiva que frequentemente agirá no pênis do homem, levando à ejaculação
prematura e/ou perda de ereção. Isto não quer dizer os “problemas” da mulher sejam
responsáveis pelos do homem – mas sim que a energia excessiva da mulher pode
assustar um homem que já seja inseguro de sua própria sexualidade. Um homem forte,
bem definido, seguro de sua sexualidade, não teria esse problema; porque é verdade,
acredito eu, que cada indivíduo é totalmente responsável por sua própria sexualidade.
Realmente, muito trabalho físico tem que ser feito; a função de “base”, como descrita por
Lowen, é geralmente uma área problemática. O bloco pélvico maciço, e as conseqüentes
deficiências nas pernas (seja fraqueza oral, ou retenção masoquista) são os agentes
causais disso, tornando difícil para essas mulheres perceber o chão sob seus pés.
A teoria bioenergética clássica declara que quando a pessoa não tem “base” há uma
dificuldade concomitante em testar a realidade. A mulher agressiva-masculina tenta
compensar essa deficiência com uma atitude agressiva, em relação ao mundo, que é
expressa diretamente através de seu ego. Ela reforça seu ego, a ponto de torná-lo sua
principal ferramenta no contato com a realidade, de modo que, quando esse contato é
ameaçado, toda a estrutura defensiva entra em funcionamento. Daí o desenvolvimento de
tendências paranóides, as atitudes extremamente voluntariosas, a necessidade de criar
sua própria realidade, a grande dificuldade em ser receptiva e em desenvolver um
princípio de receptividade, enquanto o princípio de agressividade é super desenvolvido. A
necessidade de impor sua vontade, a receptividade deficiente, a necessidade de
resultados (que é comum a todas as estruturas rígidas) e as fortes tendências paranóides
são alguns dos problemas contratransferenciais que uma terapeuta com este tipo de
estrutura vai encontrar.
76
Como veremos nas interações, estes temas aparecem repetidamente. Existe, além disso,
outro tipo de problema contratransferencial que merece atenção especial, e cuja origem é
o componente oral. A nossa terapeuta precisa ser “alimentada”, “nutrida”. Essa oralidade
é expressa fisicamente no peito, e psicologicamente pela necessidade de gratificação
narcisista do ego – a necessidade de ser “nutrida”.
Ela é inteligente, brilhante, agressiva, saliente. Sua receptividade pode ser deficiente, e
ela pode ter dificuldade em perceber claramente a realidade da outra pessoa, devido ao
seu princípio de receptividade deficiente. Na tentativa de conseguir clareza, ela pode
distorcer as informações de seus pacientes, sem estar consciente disso. Sua atitude
vigorosa pode, algumas vezes, levar o paciente a aceitar sua autoridade, apesar de não
acreditar realmente no que ela diz, pois é mais fácil aceitar, do que confrontar essa figura
autoritária tão forte.
O leitor pode inferir, pelo que foi dito acima, que a mulher agressiva-masculina é uma
criatura monstruosa que deveria ser evitada a todo custo. A realidade é exatamente o
oposto. Porque quando a mulher agressiva-masculina resolve, através de sua própria
terapia, alguns dos problemas que são típicos da sua estrutura, ela pode ser brilhante,
energética, clara e amorosa. Ela tem sentimentos e energia em abundancia; tem um
coração caloroso, profunda compreensão, coragem e facilidade de expressão.
Lembramos ao leitor, que a ênfase deste trabalho é a descrição das defesas expressas
caracteriologicamente – não é uma descrição do ser maravilhoso que reside dentro
dessas defesas, no coração do homem (ou da mulher), no âmago da humanidade.
78
Nós sabemos que a defesa do esquizóide é apresentar uma máscara, que mesmo
podendo ser frágil e rígida, dura e inflexível, é usada contra a hostilidade e o medo. A
terapeuta agressiva-masculina sensível será capaz de ver através da máscara e de
alcançar a agressão que está sob as defesas. Ela deve ser cuidadosa, para não colidir
com essas defesas muito violentamente. Ela precisa entender que o esquizóide tem
necessidade de um alter-ego pelo qual modelar-se, e que esse alter-ego precisa manter
uma distância respeitosa e não ser muito exigente, não ter expectativas elevadas, nem
esperar que o paciente abandone suas defesas rapidamente.
A terapeuta precisa se dar conta de que suas necessidades orais narcisistas não serão
preenchidas pelo seu paciente, que o paciente precisa aprender sobre forças de contato
primitivas, onde não existe gratificação do ego; que ela precisa permitir que o paciente
faça contato da forma que preferir; e que, apesar de ser um símbolo sólido e concreto da
realidade, ela precisa abdicar de uma grande parte do controle.
Ela precisa perceber que o esquizóide tem uma profunda compreensão dos assuntos
essenciais, e que essa compreensão é, geralmente, mais clara do que a sua. Precisa
aceitar – e certamente esclarecer – a percepção frequentemente real, mas
grosseiramente distorcida, do esquizóide; e desafiar suas próprias idéias sob a luz das
informações recebidas de seu paciente. O esquizóide precisa de um terapeuta muito
receptivo que possa decodificar a realidade distorcida que é, surpreendentemente, muito
acurada e, ao mesmo tempo, muito distorcida.
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A terapeuta precisa lembrar que o esquizóide tem uma percepção profunda dos
verdadeiros assuntos em jogo, mas não consegue organizá-los ou apresentá-los de forma
organizada, uma vez que a expressão da percepção se torna distorcida, ao passar
através do ego defeituoso. Cabe à terapeuta esclarecer essas distorções, ser receptiva à
informação fornecida pelo paciente esquizóide, e ser capaz de interpretar de forma lógica,
realista e ordenada, a mensagem que está recebendo do esquizóide.
Essencialmente, ela deve ser real no nível mais profundo da forma mais profunda. Aqui, o
seu brilho intelectual é muito útil, mas ela deve ser cuidadosa para não obstruir o seu
princípio receptivo e se impor, porque o esquizóide geralmente vai preferir aceitar, a
desafiar a autoridade poderosa que está enfrentando. Isto o levaria a reprimir ainda mais
a sua raiva e sentimentos negativos e, mais tarde, a se retrair ainda mais em suas
defesas, ou mecanismos de proteção. As tendências paranóides frequentemente
encontradas na estrutura esquizóide podem também coincidir com as tendências do
terapeuta. E isto pode levar à conspiração.
Talvez as coisas mais importantes que a mulher agressiva-masculina deva ter em mente
sejam: que o processo do esquizóide é lento e gradual; que ele interpreta a confrontação
excessiva como uma violação, e se defende dela com o retraimento; e que o ponto crucial
é sempre o contato, tanto interpessoal quanto o que chamaremos de intrapessoal, contato
com o self, com seus sentimentos, com seu corpo e, portanto, com a realidade.
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Essa retenção de sentimentos leva à raiva, que então aciona as defesas da mulher
agressiva-masculina em dois níveis: o componente paranóide será ativado pela raiva; e a
sua energia extrovertida, agressiva, será ativada pela retenção. Se a mulher agressiva-
masculina aceitar esses dois desafios, o paciente estará com o controle total da terapia, e
a contratransferência pode ser tão forte que a terapeuta pode se surpreender
sistematicamente zangada com seu paciente.
A princípio, essa zanga pode ser difusa, injustificada, obscura – mas em breve a mulher
masculina-agressiva, usando suas habilidades intelectuais, será capaz de encontrar um
bom motivo para justificar sua raiva e frustração. Certamente, esta é uma grande
armadilha, pois esse motivo geralmente não corresponde ao problema real, que é
simples: ela está muito zangada com a retenção do paciente, com as exigências
continuamente não expressas, com a passividade e a falta de resposta que a terapeuta
percebe como “não dar”, enquanto ela está “dando tudo”. Isto, é claro, faz reviver o
trauma oral da terapeuta, e lhe dá um motivo perfeito para culpar o paciente e não
assumir nenhuma responsabilidade pela interação da culpa.
Devemos lembrar que a oralidade é gerada quando o bebê não consegue um contato
satisfatório com sua mãe, pois, apesar de estar sempre procurando, ele não a encontra.
Mais tarde, isto é expresso como uma descrença na possibilidade de procurar satisfação
e obtê-la, pois a total frustração que a criança sentiu quando procurou sua mãe e não a
encontrou está gravada, e aciona reações automáticas.
Aqui, a terapeuta precisa ter em mente que a aproximação terapêutica básica com o
masoquista é fazê-lo entender qual é o seu problema, qual é sua possível resolução, e
então permanecer afastada e deixar o masoquista agir. Porque, no caso de uma estrutura
masoquista, qualquer tentativa da terapeuta de se intrometer e “fazer” ativará
imediatamente a barreira defensiva que, na realidade, diz: “Eu posso agüentar, eu não
tenho que me render, eu posso encarar qualquer coisa que você me apresente”.
Uma possível resolução para este problema é que a terapeuta evite tanto quanto possível,
qualquer tipo de interação verbal, e trabalhe fisicamente com seu paciente, porque esta é
a área onde o maior conhecimento da terapeuta irá ajudá-la incomensuravelmente. Os
psicopatas precisam ser fixados na realidade, eles precisam ter seu senso de realidade
reforçado.
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A paranóia da mulher agressiva-masculina pode também aparecer como fator, e ela pode
querer inibir a expressão de agressão a fim de proteger-se. A combinação de sua
necessidade de controle, com sua atitude extrovertida e tendências paranóides, pode
resultar, como especificado anteriormente, numa forte inibição da transferência negativa,
que certamente é um requisito básico na terapia das estruturas rígidas.
A coisa mais importante a ser lembrada pela mulher agressiva-masculina talvez seja que
ela deve manter um grande espaço físico entre ela e seu paciente. Porque todas as
estruturas rígidas têm uma dificuldade considerável com relação ao contato – de um
modo peculiar, eles se parecem com as estruturas esquizóides. Lake chamou-os de
“iguais e opostos” – o esquizóide respondeu ao trauma infantil com uma contração em
direção ao centro, e um congelamento da periferia; o rígido respondeu ao trauma infantil
com uma expansão aos limites mais extremos de suas fronteiras (que são altamente
energizadas e quentes), e um congelamento de seu âmago – seu coração. A terapia para
todas as estruturas rígidas consiste sempre em abrir o coração, liberar a capacidade de
amar e de dar verdadeiramente.
A terapeuta deve lembrar que, se a teoria de Reich sobre A Praga Emocional estiver
certa, ela pode muito bem parecer-se realmente, pelo menos em atitudes, com a
verdadeira mãe do paciente. Ela tem que ser capaz de enfrentar a expressão aberta da
sexualidade/sedução de seu paciente sem reagir, nem positiva, nem negativamente – ela
precisa ser capaz de entender que esses jogos são na realidade testes, e que seu
paciente a está testando para ver se ela o ama por sua sexualidade (pois para ele as
mulheres geralmente o fazem) ou por ele mesmo.
O paciente faz a diferença entre “ele mesmo” – que geralmente quer dizer seu “ser”
elementar – e o adulto realizado, o adulto bem sucedido, o adulto sexual que tem direito
ao “amor da mãezinha, porque ele conquistou”. A mulher agressiva-masculina precisa ter
em mente que o coração fechado do homem rígido é, em parte devido à baixa
auto-valorização – um mecanismo de auto-desvalorização originado da divisão entre
coração e sexualidade; a culpa edipiana entra aqui como um grande reforço.
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ESCLARECIMENTO FINAL
Assim, em minha mente, o trabalho não está completo, e eu não inclui o costumeiro
resumo que, em geral, conclui um livro deste tipo. De fato, eu ainda não posso escrevê-lo,
pois ainda não terminei o livro.
APÊNDICE I
EXEMPLOS
EXEMPLO Nº 1
2. Depois de perceber essa dinâmica, ele também foi capaz de ver que, muito
provavelmente, Paul estava se nutrindo da raiva encoberta de Ron, o que lhe dava
uma sensação de poder sobre Ron (a imagem do pai), satisfazia sua necessidade
de atenção / energia (ele de fato recebia mais atenção do que outros membros do
grupo), e gratificava sua retenção rancorosa. Paul havia identificado a necessidade
de performance do rígido, e havia percebido que se ele não a satisfizesse, Ron ia
continuar “tentando” para sempre.
3. Não confrontando Ron, Paul não dava oportunidade ou justificativa para que Ron
descarregasse sua raiva reprimida. Na realidade, Ron tinha se tornado a fonte de
energia para o oral Paul.
Apesar do Grupo de Supervisão ter parado neste ponto, eu gostaria de formular hipóteses
adicionais, que poderiam ser verificadas mais tarde.
É obvio que a raiva de Ron é uma defesa caracteriológica, ligada à falta de “atuação” de
Paul – que Ron interpretou como uma deficiência sua (de Ron). E isto acionou a auto-
desconfiança profundamente reprimida, enraizada na baixa auto-estima do fálico, que
atinge sua sexualidade, sua virilidade, sua potência.
Há mais um fator aqui. A oralidade de Paul (fonte de sua passividade) deve ter se
expressado como necessidade. Isto, combinado com a franca homossexualidade, deve
ter ameaçado Ron, que deve ter confundido amor com sexualidade (uma reação típica do
rígido). A real necessidade de amor e atenção por parte de Paul, pode ter sido
interpretada por Ron como uma sedução, confrontando-o com seu próprio componente
homossexual. A soma destes fatores tornou-se muito ameaçadora e frustrante para a
paciência limitada do rígido, e ele reagiu caracteriologicamente – rejeitando antes de ser
rejeitado.
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Tanto as defesas de Paul, como as de Ron devem ser entendidas aqui como um disfarce
de seus sentimentos reais um pelo outro, que eram, da parte de Ron, simplesmente
interesse e consideração, e da parte de Paul, necessidade de proximidade. Ambos
estavam se defendendo caracteriologicamente – Paul com uma retenção rancorosa, e
Ron com rejeição.
EXEMPLO Nº 2
Na que seria a última sessão, segundo pensava Don, ele provocou uma briga simulada
com seu paciente, e muita agressão foi expressa por ambas as partes.
Surpreendentemente (para Don), Bill quis continuar a terapia depois de ocorrida a
descarga catártica. Mas Don ainda não acreditava nas evidentes expressões de amor de
seu paciente, achado que eram um truque de sedução, um disfarce.
Num Grupo de Supervisão, Don percebeu que essa descrença no amor de outra pessoa
por ele permeava toda a sua vida. Algumas vezes, ele tinha tido a mesma reação às
aproximações ternas de sua esposa e, quando criança, tinha tido a mesma reação com
seus pais. Esta descrença estava enraizada em sua própria falta de amor por si mesmo,
sua baixa auto-estima, sua apreciação não realista de seu verdadeiro valor. Então, a
afirmação inconsciente era: “Como posso acreditar que alguém me ama, se eu não me
sinto digno de ser amado”. Daí a descrença e a desconfiança em qualquer expressão de
amor.
92
É claro que as pessoas interpretavam isso como rejeição e, por seu lado, reagiam
rejeitando-o também, reafirmando, assim, a premissa original – que ele não tem valor.
Temos aqui outra explicação para o medo caracteriológico de rejeição da estrutura rígida.
Isto também explica a necessidade de perfeição, realização e atuação – porque a
admiração obtida, além de preencher as necessidades narcisistas, alivia sua baixa
auto-estima.
EXEMPLO Nº 3
Mary é uma histérica típica, estrutura rígida do tipo intelectual. Peter, seu paciente, tem
uma personalidade essencialmente esquizóide, e desenvolveu um corpo maciço, de
aparência masoquista, como defesa contra o profundo problema esquizóide. Peter foi
hospitalizado duas vezes num pavilhão psiquiátrico, uma das vezes por mais de um ano.
No Grupo de Supervisão, Mary expressou sua insatisfação com a terapia, e o grupo
decidiu arranjar uma confrontação entre paciente e terapeuta (o que só é feito em casos
muito excepcionais).
O problema, segundo Mary, era que sessão após sessão, Peter permanecia passivo,
imóvel, numa atitude que ela interpretava como passivamente desafiadora. Nenhum
esforço da parte dela parecia obter qualquer resposta emocional de Peter – suas
respostas eram precisas e não-emocionais. Ele não trazia material novo, nem começava
nada. Mary estava disposta a abandonar a terapia, e enviá-lo a outro lugar.
Mary ficou atônita, e depois zangada (porque ele não tinha expressado nada). O grupo
encorajou sua raiva que, repentinamente, se transformou em medo do maciço poder físico
de seu paciente, e da ameaça encoberta na raiva feroz de Peter que, aparentemente, era
subjacente à sua passividade. Essa passividade era, certamente, um mecanismo que
Peter havia desenvolvido durante sua hospitalização (onde, como ele diz: “Eu aprendi a
juntar os meus pedaços”) como defesa contra a raiva esquizóide que ele mesmo temia.
Com o encorajamento do grupo, Peter expressou uma parte dessa raiva. Que
imediatamente se misturou com um pedido de aceitação e “compreensão sem feedback”
(que eu interpreto como a necessidade de validação da existência, que o esquizóide não
teve na infância). Este é um problema clássico de contato para o esquizóide: a
necessidade de contato, através de raiva, aceitação, amor – mas contato!
A terapeuta não viu nenhum “resultado” e, portanto, não sabia se ela estava “atuando”.
Por isso, ela começou a sentir sua própria baixa auto-estima, que não podia ser
conscientemente admitida, e imediatamente acionou a defesa de caráter que foi primeiro
a zanga, e depois a raiva. A raiva foi, provavelmente, pré-consciente, e foi reprimida como
inaceitável (em vista de seu papel de terapeuta?). Mas essa raiva tinha que encontrar
uma saída; então a terapeuta começou a culpar, tornando o paciente responsável pelo
que era – em última análise – sua própria baixa auto-estima.
EXEMPLO Nº 4
Neste caso, infelizmente, foi impossível resolver o problema contratransferencial, que foi
seriamente agravado pela insatisfação sexual que o terapeuta estava experenciando em
sua vida privada nesse período. A sua decisão de suspender a terapia foi a única solução
honesta nessas circunstâncias. O que a jovem mulher precisava era, talvez, de uma
terapeuta do sexo feminino que fosse imune à sua manipulação sexual.
95
EXEMPLO Nº 5
Judy e Bert são co-terapeutas e estão trabalhando juntos há algum tempo. São ambos
muito experientes e têm muito background. Entretanto, ultimamente Bert tem percebido
que Judy está tendo dificuldades com alguns de seus pacientes comuns. Num Grupo de
Treinamento, onde terapeutas se confrontam entre si, com seus problemas, Judy tentou
colocar o que vem acontecendo.
Apesar de a discussão ter principiado com um caso específico, logo ficou claro que
diversos pacientes de Judy estavam na mesma situação. Muitos, ou todos esses
pacientes, são basicamente orais, e Judy os experencia como “drenando sua energia”, a
tal ponto que ela tem que se tornar defensiva. Durante o trabalho, ficou claro que ela
estava bem consciente de que os pacientes a estavam “drenando”, e tentou reprimir isso,
sem sucesso, é claro. A própria Judy tem certa oralidade, com uma configuração rígida
histérica dominante.
Voltando ao nosso assunto, Judy conscientizou-se de que reagiu aos seus pacientes orais
com sua própria oralidade, e também com seu componente histérico; sua oralidade
sintonizou-se com a oralidade dos pacientes, quando ela sentiu que estava sendo
“sugada”, e investindo muita energia. Ela esperava que os pacientes a alimentassem e
nutrissem, assim como ela os alimentou e nutriu inicialmente.
Portanto, para garantir que o paciente não venha a rejeitá-la, Judy começa a prometer
amor, afeição, apoio, etc., que o paciente oral, é claro, aceita. Mas o paciente oral não
retribui nada, e fica exigindo mais, ao mesmo tempo em que se torna zangado (raiva oral).
Judy continua “representando” para que seu paciente não a abandone.
Como o paciente continua fazendo exigências sem expressar gratidão, Judy sente, de
repente, que já deu o suficiente. Sua própria oralidade vem à tona, e exige a retribuição
de seus “presentes”; e quando nada é oferecido e o paciente continua exigindo mais e
mais, Judy sente raiva e ódio, justificando, assim, perfeitamente, a sua rejeição.
A raiva e o ódio são reprimidos, não suprimidos, de modo que Judy percebe que ela tem
que negar um forte sentimento nela, que ela atribui à culpa. Essa culpa é real – é o
produto de seu ódio oral irracional, e de seu desejo histérico de rejeitar que, por sua vez,
se originou da necessidade de representar, e de não ser rejeitada. Praticamente, tudo isto
foi confirmado por Judy durante o grupo, quando ela respondeu a perguntas como: “O que
você faria se um paciente a rejeitasse?” A resposta foi: “Eu me sentiria muito, muito, mal e
faria qualquer coisa para eliminar isso.”
Ela também reconheceu sua necessidade oral de ser alimentada pelo paciente, e o fato
de que ela sentiu muito claramente que estava reprimindo sentimentos, que não eram
identificáveis antes do trabalho no grupo. A resolução veio quando Judy se conscientizou
de todos esses componentes, e aceitou o fato de que, na realidade, ela não tinha que
nutrir os pacientes, e que os pacientes podiam ficar com ela, ou partir, de acordo com
seus próprios problemas e necessidades. Em outras palavras, Judy conscientizou-se de
que era mais importante permitir que os pacientes se desenvolvessem (sejam quais forem
as conseqüências desse desenvolvimento) do que manipulá-los para continuarem a
terapia, e gratificarem as suas necessidades neuróticas. O passo seguinte, seria
reconhecer que sua própria auto-valorização não dependia de manter, ou perder, um
paciente – mas ela não chegou a alcançar esse ponto.
Não há dúvidas de que esses insights podem não ser permanentes. Esperar isso seria
indevidamente otimista, já que implicaria em resolução total, ou parcial, de sua estrutura
de caráter. Entretanto, ela se conscientizou, pelo menos, de um aspecto muito destrutivo
da contratransferência.
97
EXEMPLO Nº 6
Eric é um tipo esquizóide quase puro, com mais de dois metros de altura, que resolveu
muitos de seus problemas, a ponto de ter se tornado um terapeuta qualificado. Ele
pertence ao tipo esquizóide rígido; em outras palavras, seu corpo é duro, rígido e
ameaçador; a defesa é contra o terror. Robert é seu paciente, pequeno e
predominantemente oral.
O grupo também mostrou que era responsabilidade de Eric facilitar a transferência, e não
se opor a ela. Eric foi capaz de aceitar isso; ele se acalmou e deixou que Robert
continuasse com sua raiva. Entretanto, Eric não ficou passivo; antes de continuar, ele
expressou – verbalmente, como que para se reafirmar – aquilo que o grupo tinha
colocado. Ele estava, na realidade, examinando a sua reação – vendo quão irracional ele
era, e quanto estava afetando negativamente o relacionamento terapêutico. Quando ele
entendeu, tornou-se ativamente compreensivo, permitindo que Robert expressasse o que
mais tarde se tornou raiva violenta; depois do que Robert sucumbiu, e expressou sua
verdadeira necessidade de amor. Robert chorava muito, enquanto tentava alcançar Eric; e
Eric estava pronto para segurá-lo (o que, para uma personalidade esquizóide, é muito
difícil), ele expressou seu desejo de ajudar Robert, e seus sentimentos bons e calorosos
se voltaram para Robert. Esta foi uma resolução excepcionalmente bonita, de uma
contratransferência do terapeuta, que felizmente foi capaz de ver que seu comportamento
correspondia às suas próprias defesas de caráter, de modo que a resolução pôde
acontecer.
98
APÊNDICE II
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
Trauma Básico: A rejeição da sexualidade infantil Precisa “atuar” – A freqüência e intensidade das
resultou no adulto, numa divisão coração / sexualidade; intervenções pode ser excessiva;
Impaciente;
Problema Básico: Expressar amor, integrar a divisão
coração / genitais. Sexualidade negada pela histérica, e
usada agressivamente pelo fálico; Muito energético;
Sedutora (histérica)
Defesas Básicas: Diversas. A sedução é uma delas. A
raiva é outra. A retenção é outra. Defesas altamente
organizadas, frequentemente muito flexíveis (armadura Agressivo (fálico)
tipo rede);
Fica zangado defensivamente;
Negatividade Subjacente: Raiva, desprezo, arrogância
(orgulho); Desdenhoso. Arrogante. Pode ter carência de compaixão
(especialmente o fálico);
Negatividade Subjacente: Rancor, voracidade, Tem dificuldade em sustentar a exigência de apoio por
necessidades não preenchíveis; parte dos pacientes;
Declaração Básicas: “Você faz isso por mim”, “Eu estou Teme o abandono. Trauma infantil básico. Terapeuta
impotente”, “Eu não consigo fazer isso”. extremamente vulnerável neste ponto;
Sente-se prejudicado;
Negatividade Subjacente: Rancor, voracidade,
necessidades não preenchíveis;
Cheio de necessidade;
Trauma Básico: Hostilidade ativa por parte dos pais; Muito racional, capta o problema de modo muito claro,
compreensível e intelectual; entretanto, pode ter uma
Problema Básico: Ego defeituoso; área totalmente distorcida, “cega”, devido ao bloqueio do
afeto;
Medo Básico: Invasão de material de processos Tem frequentemente, um terror não resolvido (do seu
primários, que é igual a loucura/morte, leva ao medo de próprio ego instável, e de suas conseqüências);
ser morto, aniquilado, destruído;
Sistema de baixa energia. Pode ter medo de sistemas de
alta energia;
Defesa Básica: Congelar e manter-se inteiro, manter os
limites do ego, e assim conter a violenta negatividade
Pouca tolerância à frustração;
subjacente;
Tem medo da raiva expressa diretamente (tem medo de
Negatividade Subjacente: Intenção homicida – desejo de sua própria raiva violenta);
matar, destruir, aniquilar;
Pode super enfatizar a compreensão intelectual do
problema do paciente, bloqueando a liberação de afeto;
Declaração Básica: ““Eu estou aterrorizado”.
Dissimuladamente hostil. Provavelmente se sente
culpado por isso;
Relativamente frio;
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Muito racional, capta o problema de modo muito claro, Trauma Básico: Hostilidade ativa por parte dos pais;
compreensível e intelectual; entretanto, pode ter uma
área totalmente distorcida, “cega”, devido ao bloqueio do
Problema Básico: Ego defeituoso;
afeto;
Tem frequentemente, um terror não resolvido (do seu Medo Básico: Invasão de material; de processos
próprio ego instável, e de suas conseqüências); primários, que é igual a loucura/morte, leva ao medo de
ser morto, aniquilado, destruído;
Sistema de baixa energia. Pode ter medo de sistemas
de alta energia;
Defesa Básica: Congelar e manter-se inteiro, manter os
Pouca tolerância à frustração; limites do ego, e assim conter a violenta negatividade
subjacente;
Tem medo da raiva expressa diretamente (tem medo de
sua própria raiva violenta);
Negatividade Subjacente: Intenção homicida – desejo de
Pode super enfatizar a compreensão intelectual do matar, destruir, aniquilar;
problema do paciente, bloqueando a liberação de afeto;
Declaração Básica: ““Eu estou aterrorizado”.
Dissimuladamente hostil. Provavelmente se sente
culpado por isso;
Relativamente frio;
CARACTERÍSTICAS SECUNDÁRIAS
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
CARACTERÍSTICAS SECUNDÁRIAS
APÊNDICE III
Um fator essencial que todo terapeuta deve considerar, quando está entrevistando um
possível cliente, é a energia liberada pela estrutura de caráter do paciente, comparada
com a sua própria. Em outras palavras, quais são os níveis relativos entre paciente e
terapeuta? E como a interação deles afeta a transação terapêutica?
Por exemplo, um terapeuta esquizóide que não tenha trabalhado o seu terror básico, terá
dificuldades óbvias ao lidar com um paciente fálico-narcisista, cuja defesa básica é
assustar seu oponente. O fálico-narcisista, tendo uma estrutura altamente carregada, com
uma enorme quantidade de energia, provavelmente sobrepujará o nível de energia do
terapeuta esquizóide que, por definição, tem um baixo nível de energia. O mesmo se
aplicaria a um terapeuta oral, quando confrontado com um paciente psicopata, que
precisa absolutamente controlar, e que usará tudo a seu alcance, inclusive a força, para
controlar a sessão. Eu não quero dizer força física, mas sim psíquica, emocional e
intelectual.
Por outro lado, o terapeuta com muita energia em sua estrutura de caráter precisa
entender que, quando está lidando com um paciente esquizóide, ele está se defrontando
com uma estrutura que é muito mais fraca do que a sua. Portanto, se o terapeuta
confrontar o paciente diretamente, nessas condições, ele vai simplesmente apavorar o
paciente, e este, ou irá embora, ou sofrerá uma crise psicótica.
Devemos enfatizar aqui, que o terapeuta deve ter se conscientizado (ou pelo menos
deveria) de suas defesas caracteriológicas, no decurso de sua própria análise, e deve ter
resolvido muitos dos traumas básicos que criaram essas defesas. É claro que nessas
circunstâncias, qualquer terapeuta pode tratar de qualquer paciente. Percebemos aqui, a
recorrência do conceito de que o terapeuta só pode ajudar um paciente, quando ele
mesmo já trabalhou seus problemas. Entretanto, especialmente para o terapeuta iniciante,
o conceito dos sistemas relativos de energia pode ser uma ferramenta muito útil para
fazer seus diagnósticos.
Talvez eu possa ajudar o leitor em suas dúvidas, se tentar fazer uma simples descrição
do que eu quero dizer com níveis relativos de energia. Imagine que uma terapeuta frágil
seja confrontada por um homem grande, agressivo e fálico, cujo maior problema é conter
sua raiva. Ele despreza as mulheres em geral, e a mulher fraca em particular. A terapeuta
frágil é um alvo fácil, e mesmo que seu treinamento tenha sido extenso, um medo
primitivo, pequeno, mas profundo, ocultar-se-á em seu inconsciente. Ela pode tentar
racionalizar esse sentimento, pode tentar entendê-lo e assimilá-lo, pode tentar integrá-lo.
Mesmo assim, o medo persiste quando ela é confrontada pelo homem enorme, agressivo,
meio animal.
111
Há uma realidade física para esse medo, e ela esta reagindo a esse nível. Em algum
lugar de seu inconsciente profundo, existe o terror primitivo de ser fisicamente atacada e
destruída. Isto vai interferir continuamente na terapia, e eu duvido seriamente de que ela
seja realmente capaz de ajudar seu paciente, a menos que adote o modelo original de
total não participação e abstenção.
É claro que esse tipo de diferença dramática de nível energético entre duas estruturas
não é muito freqüente, mas no nível sutil, esse intercâmbio e essa interação realmente
acontecem. Avaliações da realidade presente são feitas, embora sutilmente, tanto pelo
terapeuta, quanto pelo paciente; e ambos sabem que terão que lidar com a negatividade
do outro, mais cedo ou mais tarde. O terapeuta deve estar consciente disso, como um
elemento no diagnóstico, e para uso terapêutico futuro.
112
APÊNDICE IV
Cada um desses quatro subtipos apresenta quadros clínicos diferentes, e ainda assim são
todos classificados como rígidos. A razão é que todos eles são resultado do trauma
desenvolvido durante o estágio edipiano, enquanto que as estruturas pré-edipianas não o
são. Durante o estágio edipiano, o trauma básico é infligido pelo progenitor do sexo
oposto que, repentinamente, rejeita a sexualidade aberta da criança – que a criança
experencia apenas como uma nova expressão de amor.
Portanto, a criança, a princípio, não pode entender, mas mais tarde ela liga o
desenvolvimento da sexualidade com a rejeição inesperada – e frequentemente brutal –
por parte do progenitor do sexo oposto. Essa rejeição significa uma ameaça de perda do
amor; e a conformidade com as exigências do progenitor é uma expectativa do progenitor
que não é desafiada (embora seja geralmente inconsciente).
113
Isto exige da criança uma adaptação muito dolorosa, difícil, e às vezes, prolongada. A
perda do amor é uma experiência muito, muito dolorosa, quando ameaçada por um dos
progenitores – o progenitor edipiano; mas quando ameaçada pelos dois progenitores, é
igual à morte – porque a criança acredita que essa ameaça é sinônimo de abandono
físico.
Como a criança expressa esse ódio? Tornando-se agressiva, hostil, exigente. Essas
descargas desagradáveis são reprimidas pelo progenitor em graus variáveis. E o grau de
repressão determinará o desenvolvimento caracteriológico final da criança. Pelo menos,
esta é a hipótese básica subjacente a este trabalho. Vamos examinar os backgrounds de
desenvolvimento individual, que levam aos diferentes subtipos reunidos sob o título geral
de “Estruturas Rígidas” – de acordo com o modelo bioenergético descrito no livro de
Lowen, O Corpo em Terapia.
114
Na realidade presente, ambas têm um desejo secreto por seus “queridos paizinhos”;
ambas são competitivas com as outras mulheres, e as odeiam; ambas são atraentes,
altamente organizadas, inteligentes, ou mesmo brilhantes. Ambas são geralmente “bem
sucedidas”, “realizadas”, etc. Ambas têm como background em comum, o conflito
edipiano não resolvido – entretanto elas têm corpo e atitudes muito diferentes.
Eu acredito que a razão disto é que a agressividade da histérica foi seriamente inibida,
certamente pela mãe, provavelmente também pelo pai. Mas, mesmo que somente a mãe
(progenitora do mesmo sexo) tenha reprimido sua agressividade, ela se defrontou com a
rejeição dos dois progenitores – o seu pai a rejeitou por causa de sua sexualidade, a sua
mãe por causa da sua agressividade. Mãe e pai estavam intimamente ligados, formando
uma frente unificada. A ameaça de perda de amor/abandono veio dos dois progenitores –
e ela foi forçada a reprimir tanto a sexualidade, como a agressividade. Isto deixa pouco
espaço para a auto-expressão – daí as atitudes manipuladoras, sedutoras, reservadas e
contidas. Com sua irmã, a agressiva-masculina, foi o contrário. Sua mãe permitiu um grau
muito maior de agressividade. Talvez porque ela fosse fraca, ou ausente (fisicamente,
emocionalmente, ou ambos), o que fica expresso no peito oral. Ou então, apenas porque
ela usasse a criança contra seu marido. De qualquer forma, a agressão da garotinha foi
aceita a um nível muito maior.
115
Assim, na vida adulta, ela será uma pessoa que vai a busca do que quer – agressiva,
direta, arrebatada. Ela será muito competitiva – sua mãe permitiu, e até encorajou esse
traço. Ela terá desprezo por outras mulheres, e possivelmente por sua própria
feminilidade e/ou sexualidade. Porque sua sexualidade foi reprimida, e isto é visto
fisicamente, na pélvis maciça, e na ausência de orgasmo.
A identificação com a figura feminina foi possível, mesmo através da culpa da situação
edipiana. Como já foi dito, havia frequentemente uma aliança entre mãe e filha, contra o
pai. Ao contrário da histérica, que se defrontou com uma “frente unificada” – a mãe e o pai
estavam juntos, e foram igualmente repressores. Ela teve que reprimir tanto a
sexualidade, quanto a agressividade.
116
Mais tarde, o homem fálico-narcisista não terá problemas em expressar sua agressividade
– sua dificuldade será sexual. Apesar de eretivamente potente, o homem fálico-narcisista
é, em geral, orgasticamente impotente. Ele pode ter ereções e ejacular, mas ele odeia a
mulher, tem medo do poder destrutivo que (em sua imaginação) ele próprio possui, e mal
consegue suprimir seu ódio, suprimindo, assim, seu amor e, em última análise, a
verdadeira descarga orgástica total, que implica em abandono involuntário do controle do
ego.
O pai do fálico era geralmente gentil com seu filho – e descobrimos clinicamente que o
fálico adulto odeia abertamente os homens, e é muito agressivo com as mulheres (sendo
que essas atitudes são usadas para encobrir seu desejo, suas necessidades, sua
capacidade de dar, amar, e ser alegre).
Isto explica o forte componente anal compulsivo destes homens que, na realidade,
abandonaram parcial, ou totalmente, a posição sexualmente agressiva do fálico; e é
também a causa das tendências masoquistas (em oposição ao sadismo do fálico) e da
configuração do corpo. A passividade e homossexualidade latente dos homens
passivos-femininos são vistas como uma tentativa de aplacar o homem/pai, e
assegurar-lhe que eles não são perigosos – sexual ou agressivamente.
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É claro que, a um nível mais profundo, eles odeiam verdadeiramente o homem – muito
mais intensamente que o fálico, cuja agressividade é aberta, e encobre um desejo mais
profundo.
I. HOMEM
a. A mãe sedutora conspirou com o garotinho, deu-lhe apoio contra o pai, fez dele
“seu homenzinho”, transferiu sua sexualidade frustrada para ele – levando ao
fálico-narcisista. O pai é disciplinador, duro, mas amoroso. O pai inibe a agressão,
a mãe a redireciona contra o pai, e conspira com a criança.
b. A mãe sedutora tem medo do pai; a princípio é sedutora, depois fica assustada. Ela
trai o garotinho com o pai, alia-se ao pai contra a criança – levando ao passivo-
feminino. Ambos reprimem a agressão.
II. MULHER
a. O pai sedutor conspirou com a filha contra a mãe. Deu-lhe apoio contra a mãe –
levando à agressiva-masculina; um dos pais inibiu a agressão, o outro é
fraco/ausente. O pai redireciona a agressão contra a mãe, conspira com a criança.
b. O pai, sedutor a princípio, promete, depois trai a filha, aliando-se à mãe. Ambos
reprimem a agressão – levando à histérica.
SEXUALIDADE AGRESSIVIDADE
1. O pai seduz a criança, e depois “corta”. a. Pai e mãe usam a criança um contra o
MULHER. outro. O pai conspira com a zanga da
criança, redirecionando-a contra a mãe –
mulher agressiva-masculina: desprezo
pelas mulheres, dependência edipiana do
homem (não resolvida).
REFERÊNCIAS
BLANCH, Gertrurde e Rubin. Psicologia do ego, teoria e prática. New York, 1974.
HARRIS, Thomas A. Eu estou bem, você está bem. Um guia prático para a análise
transacional. New York, 1967.