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O Cinema e o Movimento Aparente PDF
O Cinema e o Movimento Aparente PDF
Marco Romiti
Mestre em Ciências da Comunicação pela USP.
Email: romiti.marco@gmail.com
O
conceito de “persistência da retina” tem sido utilizado como defini-
ção basilar para o que se chamou de “percepção do movimento” ou
“movimento aparente” na fruição do espetáculo cinematográfico.
Estudiosos e pesquisadores, nos mais diversos campos da ciência
e das artes, têm buscado uma explicação que transcenda o primeiro estágio na
formação e registro da imagem sobre a túnica celular que reveste o olho. Este
tipo de explicação pode dar início à argumentação sobre a reflexão da luz e,
por conseguinte, da formação e visualização da imagem (fusão oscilante), mas
esta é, sem dúvida, uma proposição que não explica a ilusão do movimento
aparente no espetáculo cinematográfico. Este artigo procura relacionar de que
maneira nosso sistema perceptual (nosso cérebro) se comporta com respeito
à observação e registro da imagem intermitente, resultado do espetáculo cine-
matográfico e televisivo.
Palavras-chave: persistência da retina; movimento aparente; fusão oscilante;
efeito phi; ilusão de pequeno intervalo.
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[...] o problema deve ser porque estávamos corretos quando propusemos que
a “persistência de retina” funciona como um mito sustentado pelas escolas de
cinema. Este mito é uma maldição que não se extinguirá. Ainda hoje permanece
1. Os termos como um mito. Aqueles que se apegam à ideia da persistência da retina o fazem
persistência da visão,
persistência da retina, por necessidade. Para os estudantes de cinema é como o mito da criação. Ele
persistência retiniana responde a nossa principal questão da origem: Por que, quando olhamos uma
ou retenção retiniana sucessão de imagens estáticas projetadas no cinema ou na tela de televisão, vemos
designam o mesmo imagens em contínuo movimento? Nós respondemos: “Persistência da Retina.”
fenômeno.
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esta é, sem dúvida, uma proposição que não explica a ilusão do movimento no
espetáculo cinematográfico. A teoria da fusão, ou ajuntamento, dos fotogramas
poderia unicamente produzir a sobreimpressão de sucessivas imagens, como na
pintura de Marcel Duchamp “Nude Descending a Staircase” [Imagem 01], ou
um fotograma de “Pas de Deux”, de Norman McLaren [Imagem 02]. O resultado
seria um empilhamento de imagens ou, na melhor das hipóteses, uma colagem
de imagens fixas sobrepostas, e não uma ilusão de um movimento contínuo.
A impropriedade dessa explicação aliada às recorrentes citações na literatura
f ílmica incita a curiosidade sobre a origem desse entendimento e do significado
que tem sido perpetuado.
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[...] por alguma peculiaridade do olho, uma imagem ainda permanece visível
por mínimo intervalo de tempo além do tempo no qual ela é realmente exposta”
e nos assegura que “nessa particularidade reside a fortuna de toda a indústria
cinematográfica. (Knight, 1957, p. 14)
the spokes of a wheel when seen through vertical apertures (“Explicação sobre a
ilusão óptica na observação dos raios de uma roda quando vistos através de fen-
das verticais”). Neste artigo, Roget relata que:
Roget explicou que os raios da roda passando atrás das fendas “deixam
nos olhos os rastros de uma linha curva contínua e os raios retos parecem cur-
vos”. Ele comparou o fenômeno à ilusão que ocorre quando um ponto ilumina-
do preso na extremidade de uma corda é girado rapidamente e cria a aparência
de uma linha de luz por toda a circunferência, ou seja, trata-se de um registro
traçado na retina que, quando suficientemente intenso, faz com que o efeito
permaneça mesmo após o fim do evento.
Outro estudioso da persistência da visão foi o f ísico belga Joseph Plateau.
Em 1830, Plateau construiu um instrumento chamado de “phenakistiscope”
(Imagem 03) (literalmente, “olho enganador”) no qual sucessivas figuras pinta-
das, com leves diferenças de posição, num disco giratório, quando observadas
através de uma fenda vertical, parecem estar em movimento contínuo.
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vantagem com a “deficiência” da visão humana. Talbot forneceu uma das mais
ilustrativas explicações desse assim chamado defeito:
A explicação rotineira sobre o movimento aparente era de que toda imagem com
uma posição inicial deixa no olho uma imagem residual até que uma segunda
imagem com uma leve diferença de posição, por exemplo de um animal que
salta ou de um soldado que marcha, tome lugar da primeira e permaneça até que
a próxima se forme. As imagens residuais eram responsáveis pelo fato de que
interrupções entre elas não eram distinguidas, enquanto o próprio movimento
resultava da mudança de uma posição para outra... Isso parece muito simples
e assim foi-se constatando que essa explicação além de muito simples não faz
justiça às reais experiências. (1916, p. 25-26)
Descobertas recentes
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Os dois sistemas mantêm sua separação a partir dos olhos até o corpo
geniculado lateral e através dos primeiros níveis do processamento no córtex,
mas, em certo ponto de processamento no cérebro, compartilham informa-
ções. Os dois sistemas são especializados, o sistema magno processando o mo-
vimento e a posição dos objetos (profundidade) dentro do campo de visão e o
sistema parvocelular processando a forma, a cor e as propriedades superficiais
(textura) dos mesmos objetos.
No nível da retina, alguns receptores (bastonetes) respondem simplesmen-
te à intensidade luminosa (brilho), enquanto outros (cones) respondem à luz de
acordo com o seu comprimento de onda (i.e. cor) (Imagem. 08). As informações
de luminosidade e de cor são elaboradas no corpo geniculado lateral e transmiti-
das tanto através do sistema magno quanto do sistema parvocelular e abastecem
a área inferior do cérebro (giro temporal inferior) que compõe o córtex visual.
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Considerações finais
Referências
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