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TEXTO E LEITURA
Sumário
PREFÁCIO ......................................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 3
O que é texto?........................................................................................................... 4
A leitura e a interpretação........................................................................ 6
Ideologia e discurso ........................................................................................... 7
Leitura de textos .................................................................................................... 9
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 11
PREFÁCIO
O ato de ler não é uma operação tão simplista, como se supõe. Leituras comuns,
corriqueiras são feitas a todo momento e por todo mundo. Lê-se muito, hoje em dia,
mas será que conteúdos são extraídos de tantos e tantos textos escritos e orais? Será que
o leitor, em conformidade com sua cultura, com sua atenção e, principalmente, com sua
visão de mundo, consegue, somente com a leitura superficial do texto, entender o seu
sentido? Leitor e produtor de texto precisam ter um elo de união para que a mensagem
(tudo aquilo que é escrito ou tudo aquilo que é falado), realmente, aflore em forma de
conteúdo condizente com a realidade do ser humano, ou seja, coerente?
Ver-se-á, ainda, que leitura e interpretação são a mesma coisa e que mensagem e
conteúdo não são mesma coisa. No final, à guisa de exemplos sobre leituras, serão
apresentados dois poemas (de minha autoria - diz-se que “a verdadeira modéstia é
apresentar ou dizer a verdade”) cujos comentários versam sobre leituras unívoca,
biunívoca e mesmo pluriunívoca.
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INTRODUÇÃO
“ A única coisa que justifica a Universidade é a experiência de professores que pensam
na frente dos alunos, que pensam com eles, em diálogos com eles. E que procuram ser
capazes de produzir o contágio do pensamento”. (*)
Não obstante ser o meio mais importante à comunicação verbal, o texto aparece, ainda,
na Universidade, como um corpo estranho, fechado, porém grandemente exigido,
solicitado, indicado. Os calouros que o digam. Muitos, mesmo veteranos, detestam-no.
Isso se procede em virtude da amorfa e acéfala aprendizagem levada a efeito nas
escolas, no ensino básico.
Fala-se muito em texto, exige-se muita leitura. Não se ensina, porém, nem o que é texto
nem o que é leitura. Daí o pavor a que chega grande parte dos alunos, principalmente, se
se trata de escrever textos.É um verdadeiro deus-nos-acuda. É a falta do domínio da
linguagem. Texto é linguagem. Texto é fala. Texto é escrita. Onde há linguagem, há
texto. Linguagem é o emprego convencional da língua, dentro de normas sócio-
histórico-culturais. O texto é o seu reflexo. Ensinamentos, informações, novidades,
diversões, enfim, tudo o que se refere à vivência humana é transmitido via textos.
Pretende-se, aqui,levar esclarecimentos e ajuda a quem do texto faz uso e dele tem
pavor, ou que a ele tem amor. A abordagem é tão somente sobre o que é texto e leitura,
com citações e comentários. A linguagem é repetitiva, fática, redundante mesmo, pois é
proposital, dado o grande valor que se tem pelo assunto.
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“Texto é um conjunto coerente de Sls, Rs/Vs”. (Silveira & Olívia). Para as autoras, o
texto é um enunciado composto por sintagmas lingüísticos, que se relacionam e se
valorizam. Por sintagma entende-se a soma de duas unidades da linguagem, em
extensão maior ou menor, cujo resultado depende do valor de cada uma, culminado
sempre nos sintagmas nominais e verbais, com todas as suas particularidades. Ao se
relacionarem, valorizam-se estes Sls, produzindo um significado global, amparado
sempre pela coerência. Não há, aqui, uma delimitação do texto: uma palavra, uma frase,
uma página, vários capítulos.
Costa Val concebe texto como uma ocorrência da linguagem, com um propósito
qualquer, estruturado em:
Eco diz que “o texto é um produto cujo destino interpretativo deve fazer parte do
próprio mecanismo gerativo”. Um produto que, ao ser concebido, recebeu de seu
gerador – um verdadeiro estrategista – um modelo de leitor, de intérprete. Logo o texto
é produzido para leitores determinados. O autor cria, simultaneamente, o texto e o leitor.
É o leitor-modelo. Só ele é capaz de dar conteúdo à sua mensagem. Só ele tem o
conhecimento prévio capaz de transformar a mensagem escrita em uma mensagem oral.
É o leitor ideal. Interage com o autor. Sem ele não haveria texto.
Por ser mais usado, adota-se, de ora em diante, o termo “leitura”. “A leitura é
reconhecimento de sentidos e não de produção de sentidos”. (Geraldi). Reconhecem-se
sentidos, quando eles se fizerem notar. O texto é uma exposição de sentidos. O leitor
predispõe de mecanismos adquiridos que, em contato com as unidades discursivas e
lingüísticas do texto, revelam-lhe o conteúdo. Estes mecanismos são tais quais produtos
químicos que, de uma superfície aparentemente escura ou opaca, fazem surgir figuras.
O ato de ler, de fazer leitura, é , então, uma atividade laboratorial. O texto é a matéria, o
negativo; a leitura, a revelação fotográfica; o leitor, o revelador, o fotógrafo.
Leitura é interlocução. Autor e leitor interagem. Aquele produz de acordo com este;
este, dependendo de si e do trabalho daquele, completa a produção. O autor é a origem
una do “negativo” e o leitor, ipso facto, a origem una de sua “revelação”. Aquele produz
os sentidos, este faz-lhe a leitura, reconhece-lhe os sentidos.
Ainda, segundo Geraldi, há nos textos (literários ou não) dois trabalhos: um do autor, no
espaço de construir sua obra, outro do leitor, no afã de construir a “sabedoria”. Não há
leitura sem a obra do autor e a produção de saber do leitor. Por outra, “sentimos muito
que nossa sabedoria começa onde a do leitor termina, e gostaríamos que nos desse
respostas, quando tudo o que ele pode fazer é dar-nos desejos”. (Proust, 1905: 30-31,
apud Geraldi).
Ideologia e discurso
O significado depende da ideologia. “A ideologia representa a relação imaginária de
indivíduos com suas reais condições de existência”. (Althusser, apud Brandão). Para
Fiorin, “ideologia é um conjunto de idéias e representações que servem para justificar a
ordem social, as condições de vida do homem e as relações que ele mantém com outros
homens”. Continua Fiorin: “ É uma visão de mundo, ou seja, o ponto de vista de uma
classe social a respeito da realidade, a maneira como uma classe ordena, justifica e
explica a ordem social”. A visão de mundo, então, depende da classe social a que o
leitor se insere. Esta visão de mundo manifesta-se num discurso próprio.
De acordo com Batista, o ato de ler é uma prática discursiva. O texto possui um
“sentido oculto e ao mesmo tempo manifesto de algum modo que é preciso, através do
comentário, fazer emergir, fazer dizer”. É, assim, uma atividade exegética, com
comentários a que surja o verdadeiro sentido, aquele que o texto esconde. Já a leitura
pedagógica, em sala de aula, é teleológica. Tem uma finalidade específica: explicita ao
leitor o processo de comentário, manifestação de sentido e, sobretudo, como fazê-lo. O
ato de ler é imbricado por esta identificação. Isso só é possível via exercícios de repetir,
levando a hábitos e automatismos. Condena-se, porém, como está sendo feita a leitura
na escola. Consiste esta numa prática de respostas únicas a perguntas prévias, sem
oportunizar ao aluno a manifestação de sua visão de mundo, de dar o seu significado
àquilo que nem sempre é unívoco.
Magda Soares diz que o texto não é nada sem a leitura (“não preexiste”). Não se deve
admitir leitura como um ato passivo. É uma construção ativa. É produção de inteiração.
É constituição do texto. “Cada leitura é nova escrita de um texto”. (Bella Josef, 1986,
apud Becker). O ato de criação não estaria, deste modo, na escrita, mas na leitura; o
verdadeiro produtor não seria o autor e, sim, o leitor.
Ora, qualquer texto, de modo especial o poético, não se manifesta, não se revela sem a
leitura. O leitor é co-autor. Essa co-autoria envolve todo o texto, mesmo no seu
substrato. Sendo um “gigante adormecido”, a leitura é o seu despertar. A cada leitura ele
desperta de maneira diferente. A cada leitura há um novo texto. Multiplica-se, portanto,
o texto em tantos textos quantas forem as leituras, com suas determinações múltiplas. O
autor é glorificado pelo leitor, já que por si só não se manifesta. Mérito a mérito
(Caesari Caesaris – a César o que é de César), ao autor, a arquitetura da “texta” (bilha)
ou do ”textus” (tecido, trama); ao leitor, o líquido fresco ou a coloração. Àquele, o
formal, o superficial, o concreto; a este, o subjacente, o profundo, o vital.
Leitura de textos
Oma Lisarb (leia-se Naôr Rocha Guimarães) escreveu os poemas abaixo, que serão
objetos de leitura.
O tempo
O texto
Do primeiro texto, leituras diferentes são feitas, dependendo do leitor. É um texto aberto
e, ainda que em linguagem subjetiva, não cerceia a co-autoria do leitor. As palavras são
sopros de voz (flati vocis), que aguardam a direção indicada pelo leitor para se
constituírem em conteúdo. A um determinado leitor dirão: “o tempo é ouro”; a outro:
“somos nós que fazemos o tempo”; àquele, “quando se quer, tem-se o tempo”; àquele
outro: “por mais que estejamos atarefados, sempre conseguiremos fazer mais alguma
coisa”; a este, “não reclame do tempo que julga não ter, mas do desperdiçado”.Assim,
mais e mais conteúdos advirão de outras leituras desse texto.
É bom ressaltar que a linguagem, em qualquer texto, põe à disposição tanto do autor
quanto do leitor os recursos de suas funções: são as ênfases dadas aos elementos da
comunicação (emissor = emotiva; receptor = conativa ou apelativa; código =
metalingüística; contato = fática; mensagem = poética; referente = referencial). Há uma
simultaneidade dessas funções, porém uma sempre se destaca. No texto em questão, é a
poética. O que mais importa é a forma, a mensagem do texto, já que é um poema.
Vêem-se, ainda, a emotiva, a apelativa, a fática e a metalingüística. De posse dessas
funções, o leitor direciona a sua ação construtora rumo ao plano conteudístico do texto.
Daí a multiplicidade, por escolha ou determinações de leituras de textos, advindos de
uma única estrutura de superfície. Quanto maior a visão de mundo do leitor, maior o seu
plano de conteúdo. Tornar-se-á um leitor-modelo por essência e partícipe do substrato
textual.
Quando escrito, “O tempo” não foi dirigido a um leitor-modelo, ( já que o próprio autor
não se considerava como ainda não se considera um escritor-modelo,)
Eis por que se faz necessária a leitura pelo leitor determinado e é a seguinte: “O texto é
um gerador de energia, que só terá força e poder pela competência única do leitor. O
texto é uma seqüência de desenhos em sombra, de coisas incompletas, com sopros de
voz e palavras apertadas, associadas àquilo que não foi dito, mas que está sempre
presente. Para este tipo de leitor há, também, o autor-modelo, um verdadeiro fantasma, à
espera da ação construtora da leitura.Conforme o desempenho e competência do autor, o
texto será aberto ou fechado, uno ou biunívoco. Às vezes, a univocidade é imperiosa.
Mesmo um não se espelhando no outro, a interdependência de autor e leitor é inevitável.
Só assim haverá texto”.
BIBLIOGRAFIA
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. O Ensino da Leitura e suas condições de
possibilidade escolares. Belo Horizonte. 1991.UFMG.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. São Paulo. Martins Fontes.
1991.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo, Martins Fontes. 1991.
Naôr Rocha Guimarães, nascido em Campo Grande (MS), graduou-se em Letras nas
Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT), com Pós Graduação em
Didática e Metodologia do Ensino Superior (FUCMT), e em Lingüística Aplicada ao
Ensino do Português (PUC-Belo Horizonte). Lecionou Português, Latim, Lingüística e
Filologia Românica na FUCMT (l988 a l992) e na Universidade Católica Dom Bosco
(UCDB) (l993 a 1996). No período de 1997 a 2003 dedicou-se ao Ensino Médio,
ministrando Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Atualmente está voltado mais
para a pesquisa e palestras sobre Relações Humanas, nas escolas e outras instituições,
um trabalho totalmente voluntário.