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DISTURBIO DE APRENDIZAGEM
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Sumário
CAPITULO 1.
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DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA: as dificuldades na aprendizagem da leitura com
pessoas disléxicas
FONTE:https://www.portaldecursosrapidos.com.br/sala-virtual/conteudo.php?conteudo=16716
INTRODUÇÃO
A leitura e escrita são processos complexos e as dificuldades podem ocorrer de maneiras diversas,
além disso, temos a aquisição da leitura e escrita como fator fundamental e favorecedor dos
conhecimentos futuros; é uma ferramenta essencial, ou mesmo a estrutura mestra onde serão
alicerçadas as demais aquisições. É apoio para as relações interpessoais, para a comunicação e leitura
de seu mundo interno e externo (FREITAS, 2009).
Nesse ensejo esta pesquisa analisa sobre as dificuldades encontradas por crianças que possuem
distúrbios de leitura e escrita.
O foco principal desta análise são as dificuldades apresentadas por crianças disléxicas.
Condemarin e Blonquist (1989) afirmam que, o termo dislexia é aplicável a uma situação na qual a
criança é incapaz de ler com a mesma facilidade com que lêem seus iguais, apesar de possuir uma
inteligência normal, saúde e órgãos sensoriais intactos, liberdade emocional motivação e incentivos
normais bem, como instrução adequada.
A leitura permeia por várias concepções e muitos pesquisadores já se dedicaram sobre o grau de
importância da leitura no cotidiano do homem, de sua ausência e/ou carência, das dificuldades
encontradas pelo homem e da exigência cada vez mais presente no que se refere ao desempenho
lingüístico do falante. Intensificam-se aqui alguns autores que nos repassam fundamentação
conceitual sobre leitura.
Ribeiro (et al, 2009) nos saúda dizendo que, a leitura é o próprio ato de ver, na sua
concretude ou representado por meio da escrita, do som, da arte, dos cheiros. A leitura é uma
experiência cotidiana e pessoal representativa para cada pessoa. Minha leitura é só minha, incapaz de
ser a do outro... A convergência total neste ponto inexiste, e é aí que se encontra o grande encanto da
leitura, recheada de tantos outros, mas tão única para um só.
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E em uma visão poética e não tão pouco importante à autora completa afirmando que, é por
meio da leitura e de nossa visão de mundo, conseguimos o domínio da palavra. Por meio da palavra,
trocamos idéias e conhecimentos, sendo possível entender o mundo que nos cerca. Com o domínio da
palavra nós nos transformamos e, ao nos transformar, nos é permitido construir um mundo melhor.
(RIBEIRO et al, 2009).
Em sua reflexão sobre leitura Foucambert (1994) pontua “a leitura como atribuição voluntária
de um significado à escrita” e ressalva que ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo,
significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa
escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é.
Analisando a leitura como tudo que permeia a nossa volta, Freire (2006) “afirma que é um
processo que envolve a compreensão critica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da
palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”. O
autor confirma sua tese sobre a leitura do mundo, sendo que esta precede a leitura da palavra.
O ato crítico de ler aparece como uma constelação de atos da consciência do leitor, que são
acionados durante o ENCONTRO significativo desse leitor com uma mensagem escrita, ou seja,
quando esse leitor se situa concreta e criticamente no ato de ler. É situar-se (isto é, estar presente com
e na mensagem) que garante o caráter libertador do ato de ler - o leitor se conscientiza de que o
exercício de sua consciência sobre o material escrito não visa o simples reter, memorizar ou reproduzir
literalmente o conteúdo da mensagem indicada pelos caracteres escritos, mas principalmente o
compreender e o criticar. (SILVA, 1986).
É interessante que o autor faz a relação com a consciência do homem – leitor. Tal
importância significativa e poder sobre a mensagem passada. Podendo ser compreendida e acima de
tudo criticada, ou seja, que não fique somente na decodificação e memorização da mensagem e sim
na interpretação dela.
E é nesse ensejo, na subjetividade da leitura que o homem se apropria do texto lido e constrói o
seu próprio entendimento sobre tal. É o que Silva (2006) chama de leitura crítica. E comenta que,
A leitura crítica sempre leva à produção ou construção de um outro texto: o texto do próprio
leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre gera expressão, ou seja, o desvelamento do
ser leitor. Assim, este tipo de leitura é muito mais do que um simples processo de apropriação
passiva de significados evocados; a leitura crítica deve ser caracterizada como um projeto, pois
concretiza-se numa proposta pensada pelo ser-no-mundo dirigida ao outro e à dinamização da
cultura.
O autor enfatiza que a leitura crítica, é uma condição para a educação libertadora, ou seja, a
verdadeira ação cultural que deve ser implantada nas escolas e também em bibliotecas.
É pertinente dizer que o gosto pela leitura resulta de práticas de leitura, como ressalta Silva (1986)
ao caracterizar a leitura em três propósitos básicos, a saber: informação, conhecimento e prazer. A
leitura informacional tem o objetivo de acompanhar o fato no contexto ao qual se está inserido. O que
geralmente o leitor utiliza todos os dias para se informar (jornais, revistas dentre outros). A leitura de
conhecimento está relacionada com objetivos pessoais com do leitor. Alguma pesquisa ou estudo mais
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aprofundado, uma análise mais especifica sobre o assunto. E a leitura de prazer estético está mais
ligada à descontração, permitindo o leitor se apropriar de conhecimentos diversos (uma poesia e outros
textos literários).
Segundo essa visão do bibliotecário como guardião do saber/ da informação, nos permite
relacionar com uma pessoa fechada, detentora do saber absoluto. Pois o mesmo era condicionado à
proteção dos livros existentes em uma biblioteca.
Verifica-se claramente a responsabilidade que era dada a esse profissional. Como evidencia
Eco em seu romance, onde aborda a questão do bibliotecário na Idade Média. O livro como algo
inatingível. Como “propriedade” sua. , o bibliotecário detém poder.
Contudo esse profissional tem a posse dos livros, entende-se mediante isso que o mesmo é
capacitado de conhecimento. Um profissional culto. Possuidor de todas as informações possíveis. O
chamado hoje em dia de profissional da informação, gestor da informação. Dentre muitas
designações identificadas ao longo do tempo.
Mediante sucinto histórico sobre o bibliotecário, percebe-se que por um tempo este possuía
domínio‟ exclusivo sobre os livros no que se faz necessário estabelecer a relação de bibliotecário-
leitor.
Moura (2004) nos relata que, a leitura é considerada, por assim dizer, o cerne das ações
profissionais do bibliotecário. Em função da compreensão desse fato, tornou- se natural o
estabelecimento de uma conexão, quase direta, vinculando bibliotecários e leitura. Contudo se, do
ponto de vista do senso comum, tal relação parece incorporada ao cotidiano, sua efetivação nos
espaços concretos do exercício profissional não ocorre sem um elevado grau de complexidade.
Apesar da consolidação histórica quanto ao papel social dos bibliotecários, estes não são,
necessariamente, previstos como leitores preferenciais na instância gerativa dos textos.
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É importante que o bibliotecário desenvolva atividades importantes no apoio do processo de
aprendizagem. Sendo necessário que este saiba organizar espaços de acesso e estimular o uso da
informação seja esta visual, auditiva, não verbal, textual ou impermeável. Promover espaços
dinâmicos e interativos e atividades para poder sobreviver na era do conhecimento, no qual tanto o
acesso quanto o uso da informação nas dimensões do tempo, espaço e velocidade é o diferencial.
(FAQUETI; BLATTMANN, 2004)
Assim, não basta que o bibliotecário trabalhe na difusão de uma informação indistinta ou
desqualificada: é necessário que o bibliotecário procure difundir a informação crítica. Informação
crítica é aquela que não permanece só ao nível da representação da realidade, mas provoca o leitor a
imaginar como essa realidade poderia ser de outra maneira. Informação critica é aquela que, estando a
serviço das necessidades concretas da população gera conhecimento e instiga a abertura de caminhos e
de espaços para a transformação dos valores e das praticas sociais.
NUTTI (2009) afirma de acordo com a definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee
for Learning Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados Unidos
da América que,
Conforme Schlünzen (2009) são listados a seguir, as principais causas das dificuldades de
aprendizagem:
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ou permanentes. São provenientes de qualquer perturbação do estado físico geral da criança/
como por exemplo: febre, dor de cabeça, dor de ouvido, cólicas intestinais, anemia, asma,
verminoses e todos os males que atinjam o físico de uma pessoa, levando-a a um estado
anormal de saúde.
a. causas sensoriais – são todos os distúrbios que atingem os órgãos dos sentidos, que são os
responsáveis pela percepção que o indivíduo tem do meio exterior. Qualquer problema que
afete os órgãos responsáveis pela visão, audição, gustação, olfato, tato, equilíbrio, reflexo
postural, ou os respectivos sistemas de condução entre esses órgãos e o sistema nervoso,
causará problemas no modo de a pessoa captar as mensagens do mundo exterior e, portanto,
dificuldade para ela compreender o que se passa ao seu redor.
b. causas neurológicas – são as perturbações do sistema nervoso, tanto do cérebro, como do
cerebelo, da medula e dos nervos. O sistema nervoso comanda todas as ações físicas e mentais
do ser humano. Qualquer distúrbio em uma dessas partes se constituirá em um problema de
maior ou menor grau, de acordo com a área lesada.
c. causas emocionais – são distúrbios psicológicos, ligados às emoções e aos sentimentos dos
indivíduos e à sua personalidade. Esses problemas geralmente não aparecem sozinhos, eles
estão associados a problemas de outras áreas, como por exemplo da área motora, sensorial etc.
d. causas intelectuais ou cognitivas – são aquelas que dizem respeito à
inteligência do indivíduo, isto é, à sua capacidade de conhecer e compreender o mundo
em que vive, de raciocinar sobre os seres animados ou inanimados que o cercam e de
estabelecer relações entre eles. causas educacionais – o tipo de educação que a pessoa
recebe na infância irá condicionar distúrbios de origem educacional, que a prejudicarão
na adolescência e na idade adulta, tanto no estudo quanto no trabalho. Portanto, as falhas
de seu processo educativo terão repercussões futuras.
e. causas sócio-econômicas – não são distúrbios que se revelam no aluno. São problemas
que se originam no meio social e econômico do indivíduo. O meio físico e social exerce
influência sobre o indivíduo, podendo ser favorável ou desfavorável à sua subsistência e
também às suas aprendizagens.
Todas essas causas originam distúrbios, que irão se constituir diferentes problemas de
aprendizagem.
As dificuldades de leitura implicam normalmente uma falha no reconhecimento, ou a
compreensão do material escrito. O reconhecimento é o mais básico dos processos, já que o
reconhecimento de uma palavra é prévio a sua compreensão. [...] As dificuldades de
aprendizagem em escrita podem se manifestar por confusão, inversão, transposição e
substituição de letras, erros na conversão símbolo-som, ordem de sílabas alteradas, lentidão
na percepção visual, entre outros. Essas dificuldades podem se manifestar em áreas
distintas como ao soletrar ou escrever uma palavra ditada. [...] A escrita, assim como a
leitura, consiste em um conjunto de habilidades complexas, cujo processo requer que o
indivíduo opere em diversos níveis de representação, sem deixar de lado o motor. Para ler e
escrever é necessário que o sujeito possua a capacidade de realizar correspondências entre
fonemas e grafemas. [..]Assim, ler e escrever relacionariam duas significações e seriam
interdependentes, pois a primeira levaria à segunda e vice-versa (ZUCOLOTO; SISTO,
2002).
Os distúrbios de leitura e escrita em seu conceito básico possuem diversas definições, pois o
seu assunto está relacionado com varias áreas. Tendo como profissionais de interessados nesse
assunto pedagogos, médicos, oftalmologistas, psicólogos e fonoaudiólogos. Mediante está diversidade
de profissionais, o seu conceito irá depender do modo como cada um define sua abordagem.
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A primeira descrição de um caso de distúrbio de leitura foi apresentada em 1896 por W. Pringle
Morgan, um médico inglês que descreveu um jovem brilhante de quartoze anos, rápido em jogos, mas
que tinha grande dificuldade para aprender a ler, cujos professores achavam que poderia ser melhor
aluno da classe se toda a instrução fosse dada oralmente. Para qualificar esse quadro ele empregou o
termo cegueira congênita para a palavra [...] Mas como não havia explicação para as dificuldades do
rapaz, conclui que seus problemas deveriam ser de origem congênita (SANTOS; NAVAS, 2004).
Em meados dos anos 60, a Federação Mundial de Neurologia, usou pela primeira vez o termo
“Dislexia do Desenvolvimento” conceituando-a, conforme Teles (2009), como um transtorno que se
manifesta por dificuldades na aprendizagem da leitura, apesar das crianças serem ensinadas como
métodos de ensino convencionais, terem inteligência normal e oportunidades socioculturais
adequadas.
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Leitura lenta sem modulação, sem ritmo e sem domínio da compreensão/interpretação do texto
lido; confundir algumas letras; sérios erros ortográficos; dificuldades de memória; dificuldades
no manuseio de dicionários e mapas; dificuldades de copiar do quadro ou dos livros;
dificuldades de entender o tempo: passado presente e futuro; tendência a uma escrita
descuidada, desordenada e às vezes incompreensível; não utilização de sinais de
pontuação/acentuação gramaticais; inversões, omissões, reiterações e substituições de letras,
palavras ou silabas na leitura e na escrita, problemas com sequenciações. Essas são apenas
algumas das características disléxicas que podem ser observadas nas crianças com dificuldades
escolares. Se pudermos dissociar as dificuldades de ler/compreender e escrever corretamente à
ausência de problemas intelectuais ou de outro tipo de problemas que possam dar uma
explicação alternativa ao problema apresentado, então podemos suspeitar de uma possível
dislexia. Numa primeira etapa da aprendizagem, algumas crianças podem apresentar estas
características, e esses são considerados erros normais dentro do processo de aprendizagem, é
preciso distinguir essas dificuldades das dificuldades disléxicas que são mais profundas,
constantes e contínuas. Crianças com expressivas dificuldades de leitura não são
necessariamente disléxicas, mas todas as crianças disléxicas têm um sério distúrbio de leitura.
(CALAFANGE, 2002)
A autora ainda afirma que, as crianças disléxicas, além do déficit fonológico apresentam
dificuldades na memória auditiva e visual bem como dificuldade de automatização Os métodos de
ensino multissensoriais ajudam as crianças a aprender utilizando mais do que um sentido, enfatizam
os aspectos cinestésicos da aprendizagem integrando o ouvir e o ver, com o dizer e o escrever.
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estruturado e cumulativo: a organização dos conteúdos a aprender segue a sequência do
desenvolvimento lingüístico e fonológico. Inicia-se com os elementos mais fáceis e básicos e
progride gradualmente para os mais difíceis. Os conceitos ensinados devem ser revistos
sistematicamente para manter e reforçar a sua memorização.
c) ensino direto, explícito: os diferentes conceitos devem ser ensinados direta, explícita e
conscientemente, nunca por dedução.
d) ensino diagnóstico: deve ser realizada uma avaliação diagnóstica das competências adquiridas
e a adquirir.
e) ensino sintético e analítico: devem ser realizados exercícios de ensino explícito da “Fusão
Fonémica”, “Fusão Silábica”, “Segmentação Silábica” e “Segmentação Fonémica”.
f) automatização das competências aprendidas: As competências aprendidas devem ser
treinadas até à sua automatização, isto é, até à sua realização, sem atenção consciente e com o
mínimo de esforço e de tempo. A automatização irá disponibilizar a atenção para aceder à
compreensão do texto.
CONCLUSÃO
A dislexia não deve ser motivo de vergonha para crianças que sofrem dela ou para seus pais.
Dislexia não significa falta de inteligência e não é um indicativo de futuras dificuldades acadêmicas e
profissionais. A dislexia, principalmente quando tratada, não implica em falta de sucesso no futuro.
Portanto, a pesquisa afirma que o termo distúrbios de leitura e escrita faz-se mediante a
manifestação referente ao desenvolvimento da linguagem, que se caracteriza pela dificuldade de
aquisição no desenvolvimento da linguagem escrita por pessoas com déficits tanto de decodificação
fonológica como de compreensão da linguagem oral ou escrita.
É relevante destacar que o disléxico possui uma leitura oral de forma lenta, difícil e penosa. Tendo
dificuldades em expressar claramente pela fala ou pela escrita. Cometendo erros como inversões de
letras, de sílabas dentre outros.
Cabe ao profissional bibliotecário, no que tange sua interdisciplinaridade, atualizar- se sobre os
distúrbios de leitura e escrita. A dislexia é uma dificuldade para aprender a ler, ou seja, os
bibliotecários poderiam elaborar projetos voltados para as crianças disléxicas. É um desafio a ser
buscado pelos bibliotecários. Basta desempenhar a sua verdadeira missão que é mediar à informação
a todos, sem distinção alguma.
REFERÊNCIAS
10
CASTRO, César Augusto. Biblioteca como lugar de memória e eco de conhecimento: um olhar sobre
“O Nome da Rosa”. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação , Campinas, v.4,n.
esp. p.01-20, 2006.
FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Trad. Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1994.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 48 ed. São Paulo:
Cortez, 2006.
FREITAS, Tânia Maria de Campos. O fracasso dos jovens frente ao processo de leitura e escrita:
suas causas, implicações e conseqüências. Disponível em:<http:www.dislexia.org.br>. Acesso em:30
Mar. 2009.
SANTOS, Maria Thereza Mazorra dos; NAVAS, Ana Luiza G. P. Distúrbios de leitura e escrita:
teoria e prática. São Paulo: Manole, 2004.
11
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. 2.ed. Campinas, SP: Papirus,
1986.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Teoria e prática da leitura: eis o que falta ao nosso bibliotecário.
ExtraLibris, 2006. Disponível em:
<http://extralibris.org/2006/01/teoria-e-pratica-da- leitura-ezequiel-theodoro-da-silva/ >. Acesso em:
02 dez. 2009.
TELES, Paula. Dislexia: como identificar? como intervir?.Revista Portuguesa de Clínica Geral,
Lisboa, vol. 20, nº , p. 1-20,Nov/Dez 2004.
CAPITULO 2.
FONTE:https://www.portaldecursosrapidos.com.br/sala-virtual/conteudo.php?conteudo=16716
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de aprendizagem é uma das maiores preocupações dos educadores, pois na maioria das vezes não
encontram solução para tais problemas.
Acredita-se que as crianças com problemas de aprendizagem constituem um desafio em
matéria de diagnóstico e educação. No entanto, não é raro encontrar educadores, que consideram,
à priori, alguns alunos preguiçosos e desinteressados. Essa atitude não só rotula o aluno, como
também esconde a prática docente do professor, que atribui ao aluno certos adjetivos por falta de
conhecimento sobre o assunto em questão. Muitos desses professores desconhecem, por
completo, que essas mesmas crianças podem apresentar algum problema de aprendizagem, de
ordem orgânica, psicológica, social, ou outra. Enfim, são tantas as variáveis, que é
imprescindível ao professor, antes de rotular os seus alunos, conhecer os problemas mais comuns
no processo de ensino-aprendizagem. Desta forma conseguirá ampliar o seu horizonte de
reflexão e, conseqüentemente, também as suas percepções e a visão do todo.
REVISÃO LITERÁRIA
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“alteração com sentido anormal, patológico” e possui valor negativo. O prefixo dis é muito
utilizado na terminologia médica (por exemplo: distensão, distrofia).
Em síntese, do ponto do vista etimológico, a palavra distúrbio pode ser traduzida como
“anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural”
O National Joint Cmittee for Learning Disabilities é considerado, nos Estados Unidos da
América, como o órgão competente para normatizar os assuntos referentes aos distúrbios de
aprendizagem. A fim de prevenir a ocorrência de erros de interpretação o Comitê publicou a
definição acima apresentada com explicações específicas ao longo de cada frase.
A frase “estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à
disfunção do sistema nervoso central” , por exemplo, vem acompanhada da explicação de que a
fonte do distúrbio deve ser encontrada internamente à pessoa que é afetada e que a causa do
distúrbio de aprendizagem é uma disfunção conhecida ou presumida no sistema nervoso central.
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Acerca da evidência concreta da organicidade relacionada ao distúrbio de aprendizagem, o
Comitê afirma que, apesar de não ser necessário que tal evidência esteja presente, é necessário
que, pelo menos, uma disfunção do sistema nervoso central causa suspeita para que o distúrbio
possa ser diagnosticado.
No entanto, segundo ROSS (1979, citado por MIRANDA., 2000), a utilização do termo
“distúrbio de aprendizagem”, chama a atenção para a existência de crianças que frequentam
escolas e apresentam dificuldades de aprendizagem, embora aparentemente não possuam defeitos
físicos, sensoriais, intelectuais ou emocionais. Esse rótulo, segundo o autor, ocasionou durante
anos que tais crianças fossem ignoradas, mal diagnosticadas ou maltratadas e as dificuldades que
demonstravam serem designadas de várias maneiras como “hiperatividade”, “síndrome
hipercinética”, “síndrome da criança hiperativa”, “lesão cerebral mínima”, “disfunção cerebral
mínima”, “dificuldade de aprendizagem” ou “disfunção na aprendizagem.”
METODOLOGIA
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brilhantes. É esse paradoxo que muitas vezes alerta os médicos da
possível presença de uma deficiência de aprendizagem.
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Alguns sentem culpa, como se de algum modo fossem culpados pela condição da criança. Outros
entram em pânico, sentindo-se esmagados pelos desafios à frente.
Ambas as reações são inúteis. Elas imobilizam os pais e privam a criança da necessária
ajuda.
Os especialistas frisam que se deve elogiar a criança por qualquer bom desempenho, por
mais insignificante que seja. Mas, ao mesmo tempo, não deveremos negligenciar a disciplina e o
método. As crianças precisam de uma estrutura sólida, em especial as que têm deficiência de
aprendizagem.
Alguns estudos publicados na lnternet, sugerem que as deficiências de aprendizagem
possam ter um componente genético, ou de fatores ambientais, corno o envenenamento por
chumbo ou o uso de drogas ou de álcool durante a gravidez, possam ser fatores contribuintes.
Mas a causa, ou causas, exatas ainda são desconhecidas.
Há crianças que manifestam uma deficiência de aprendizagem temporária porque o seu
desenvolvimento em alguma área sofre atrasos. Com o tempo, essas crianças superam os
sintomas (FERNANDEZ, 1991).
DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM
Por exemplo, o método da escola pode dificultar a aprendizagem de uma criança com
dificuldades na percepção visual quando se utiliza métodos visuais (ensino de frases e textos).
Neste caso métodos auditivos são mais indicados, Assim, o professor deve ter a capacidade de
identificar o melhor para a criança utilizando, se possível, variação metodológica dentro da sala
de aula.
O Educador desempenha um papel importante na identificação da dificuldade.
Aquela criança que não adquire conhecimento como os colegas deve ser identificada e
acompanhada de perto. Após alguns meses de trabalho (3 - 6 meses) dentro da sala de aula sem
um progresso na aprendizagem o aluno merece uma atenção especial e deverá ser encaminhado à
orientação pedagógica da escola que já deve estar ciente do caso. São crianças muitas vezes
consideradas como imaturas que não evoluírem satisfatoriamente
O diagnóstico da dificuldade pode ser muito precoce, a nível do Jardim de infância. O
desenvolvimento da linguagem e do grafismo ajudam muito a Educadora identificar estes
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problemas (NUNES et al, 2001).
Por exemplo, uma criança de 5 anos que não apresenta capacidade para identificar e
desenhar alguns símbolos como o circulo, quadrado ou triângulo, que não percebe cores básicas
(branco e preto), que não interpreta histórias simples. deve ser vista como um quadro mais
preocupante,.. São aqueles casos que chegam no pré-primário sem prontidão para o 1° ciclo. Estas
crianças devem ser avaliadas e muitas vezes há indicação de repetição do pré-primário.
Uma outra situação é a criança que não consegue identificar e escrever letras, ou juntá-las
em palavras ou frases. Esta criança, iniciando o primeiro ano, ao chegar no final do ano com esta
dificuldade deverá ser avaliada cuidadosamente. Ela pode ter uma disfunção cerebral e muitas
vezes necessita de atendimento.
Os principais elementos para identificação destas dificuldades são os profissionais da
escola (educadora, professora. orientadoras pedagógicas, etc...) que exercem o principal papel na
formação da criança.
Com a identificação de um mau rendimento escolar de uma criança, deveremos raciocinar
em diferentes níveis de dificuldade (NUNES et al, 2001).
FAZES DA APRENDIZAGEM
A aprendizagem parte sempre de uma situação concreta. Por isso, inicialmente a visão do
problema ou da situação é sintética, ou seja, é geral, difusa, indefinida. Em seguida, através da
análise, das considerações dos diversos elementos integrantes, chega-se a uma visão total do
problema ou da situação. O terceiro passo é a síntese. Através da síntese integram-se os elementos
mais significativos e essenciais.
O ponto de partida dever ser sempre a observação da realidade para se ter uma visão global
ou síncrese, do assunto a ser ensinado. A essa visão global segue-se uma discussão sobre os
diversos aspectos observados - análise e, finalmente, procura-se integrar os aspectos conclusivos
– síntese. (PILETTI, 2002).
Gagné (1974), analisa oito tipos de aprendizagem: aprendizagem de sinais, de tipo
estimula-resposta, ou cadeia motora, ou cadeia verbal, de discriminação, de conceitos, de
princípios e solução de problemas, todas essas formas de aprendizagem são consideradas pelo
autor relevantes durante o processo da aprendizagem.
Segundo Freire (1979), no livro Educação e Mudanças:
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DIFICULDADE TRANSITÓRIA NUMA ÚNICA ÁREA
É uma situação passageira, em um momento da vida da criança, por exemplo, a criança não
consegue realizar uma divisão.
Quando o professor detecta que um aluno não consegue assimilar determinado conteúdo, é
importante que desenvolva estratégias variadas, colocando o assunto de diferentes maneiras, até
que seja possível a superação da dificuldade. O que fica para trás, torna-se cumulativo,
transformando-se num obstáculo à aprendizagem posterior.
O professor deve ter em conta que a aprendizagem se realiza ligada à parte afetiva da
criança. Não se pode separar aprendizagem de afeto. É importante que o professor conheça cada
um de seus alunos e esteja atento às dificuldades de cada um, para que essas não se transformem
num problema (BOCK et al, 2000).
Para evitar o surgimento de dificuldades, deve-se tomar muito cuidado em respeitar o nível
cognitivo da criança. Estas, entre os 7 e 11 - 12 anos de idade está numa fase de intensa atividade
intelectual, mas necessita para sua aprendizagem, ter sempre presente a situação concreta. Ela não
consegue compreender assuntos abstratos. Isto significa que não se pode transmitir conteúdos à
criança simplesmente. Ela precisa operar sobre eles. Conhecemos a realidade da criança que
estuda para uma avaliação, até se sai bem, mas na semana seguinte nada mais sabe. Ora, isso é
tempo perdido. E preferível trabalhar com menos conteúdo, mas permitir que a criança opere
sobre ele, produzindo uma aprendizagem duradoura, A criança ainda não tem a mesma
compreensão da linguagem que tem o adulto.. Se os conteúdos lhe são transmitidos verbalmente,
sem a atividade anterior sobre eles, a criança prende-se à linguagem, repete-a como um papagaio,
mas não consegue compreender realmente do que se trata. Ela precisa primeiro compreender,
depois transformar em palavras. Para isso é imprescindível que se adote uma metodologia de
interação, tanto do professor com os alunos, como estes entre si, isto é, muita oportunidade de
questionamento e trabalho em grupo.
A repetição neste caso não é uma boa estratégia, por isso o professor deve usar de muita
criatividade na abordagem de diferentes facetas de um mesmo ponto a ser estudado. Trabalha-se
com essa dificuldade e ela obtém sucesso. Afeta transitoriamente uma certa área (WEISS, 2004).
DIFICULDADE GLOBAL
É uma situação mais preocupante. Pode ser grave e envolve aspectos sociais, culturais e
emocionais. Por exemplo:
V. 1 Escola
• A criança é transferida de uma escola menos exigente para uma outra mais exigente;
• Didática deficiente ou inadequada que não permite a criança constituir o seu conhecimento
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• Falta de estimulação - (salário, formação insuficiente, falta de reciclagem).
V. 2 Família
• Crianças que mudam de país e precisam se adaptar a outra língua e cultura (JOHNSON,
1987).
V. 4 Medicamentos
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IMATURIDADE FUNCIONAL
Há, entretanto outros níveis de dificuldades que afetam a estrutura cerebral com potencial
mais limitado que melhora após tratamento. A seguir descreveremos estas outras interferências na
aprendizagem: representa situações em que a criança apresenta um “atraso” na aprendizagem
num momento da sua vida. Por exemplo, aquela criança em que a alfabetização só ocorre aos 8
anos de idade.
O papel da educadora, professora e / ou orientadora escolar é muito importante nestes
casos. Deve-se dar um tempo para a criança para que ela não entre em ansiedade. Na imaturidade
a criança adquire um ritmo normal ou quase normal, de aprendizagem em alguns meses de
trabalho, Repetimos, se passa um tempo, por exemplo a 6 meses, e a criança não evolui deve-se
ficar atento para outro fator causal desta dificuldade (disfunção ou causa emocional, etc...)
(FRANÇA, 1986).
DISFUNÇÃO CEREBRAL
Esta disfunção cerebral afeta áreas especificas relacionadas à linguagem, leitura, escrita,
cálculo, motricidade, raciocínio, memória, atenção, etc...
Em estudos anátomo-patológicos alguns autores encontraram micro lesões no córtex (lesões
microscópicas como alterações dos neurônios, das sinapses, etc.,) que não são vistas nos exames
realizados como o RX de crânio, Tomografia e Ressonância Magnética.
Essas crianças sofrem muito e, muitas vezes são confundidas como criança pouco
inteligente, preguiçosa, desleixada, quando na verdade o seu impedimento não é a nível
intelectual mas de execução (MOOJEN, 1999).
As principais disfunções ocorrem nas seguintes áreas: Linguagem (disfasia):
VII. 1 Disfasia
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apresentar dislexia ou disortografia na idade escolar é muito grande.
VII. 2 Dislexia
O quadro básico é de uma criança que apresenta dificuldade para identificação dos
símbolos gráficos. O distúrbio se encontra a nível das funções de percepção, memória e análise
visual.
As área do cérebro responsável por estas funções se encontram a nível do lobo occipital e
parietal, principalmente.
A criança disléxica não deve ser alfabetizada pelo método global, uma vez que não
consegue perceber o todo. Precisa de um trabalho fonético e repetitivo, pois terá muita
dificuldade na fixação dos fonemas. Necessita de um plano de leitura que inicie por livros muito
simples mas motivadores, aumentando gradativamente e só a medida que lhe for possível, a
complexidade (MOOJEN, 1999).
VII. 3 Disgrafia
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particularmente em jogo, mas o sistema simbólico não. A isto denomina-se discaligrafia,
entendendo-a não somente como o resultado de uma alteração motora, mas também de fatores
emocionais (restrição do eu, etc.), o que altera a forma da letra.
Os indicadores que se consideram para a disgrafia recebem os mesmos nomes que os
indicadores de dislexia, apenas observa-se que na primeira estes ocorrem na escrita (inversão,
substituição, transição, omissão, agregado, etc.) e, na segunda, na leitura (MOOJEN, 1999).
Quadro 1 –
Indicadores de
disgrafia Fonte:
RUBISTEIN (1996)
• Por reiteração: quando se agrega uma mesma letra, sílaba, palavra ou número (passassada
por passada).
23
Contaminação de sílabas Sedeitou x se deitou
Contaminação de palavras Haviaúma x havia uma
Ignorância de uma grafia (dificuldade Resíduo agráfico num sintoma
para evocar e representar uma grafia) disgráfico
Quadro 2 –
Disgrafias
Fonte:
RUBISTEIN
(1996)
Deve-se comparar a sua própria obra, para obter um parâmetro da sua melhor produção.
Este deve ser objetivo a ser alcançado e não a perfeição, que para esse aluno é inatingível. O
professor deve trabalhar a conscientização do aluno para sua melhor performance e reforçá-lo
positivamente sempre que a alcance.
VII. 4 Disortografia
Muitas vezes acompanha a Dislexia, mas pode também vir sem ela. É a impossibilidade de
visualizar a forma correta da escrita das palavras. A criança escreve seguindo os sons da fala e
sua escrita por vezes torna-se incompreensível. Não adianta trabalhar por repetição, isto é, mesmo
que escreva a palavra vinte vezes, continuará escrevendo-a erroneamente. É preciso trabalhar de
24
outras formas, usando a lógica quando isso é possível, a conscientização da audição em outros
casos, como por exemplo: em ‘s”c “ss”. “i” e “U” etc.
A disortografia pode ser observada na realização do ditado onde se apresentam trocas
relacionadas à percepção auditiva. Por exemplo: F por V (faca/vaca), a disfunção ocorre a nível
do lobo temporal.
Na escrita espontânea (por redação, interpretação de textos lidos ou ouvidos) há também
envolvimento das áreas visuais (lobo parietal e occiptal) (MOOJEN, 1999).
VII. 5 Discalculia
É um quadro em que os impulsos a nível cerebral se dão numa velocidade muito acima do
normal. As consequências podem ser diversas, como falta de atenção, impulsividade e
agressividade e, também, criança portadora desse quadro tende a ser desorganizada, desleixada,
desastrada. Com isso recebe repreensões frequentes, que Prejudicam sua auto imagem. É
necessário tentar inverter esse círculo vicioso, reforçando a criança em pequenas atitudes
positivas, para que perceba que é capaz de coisas boas e volte a acreditar em si, melhorando sua
produção.
O déficit de atenção pode estar associado ou não à Hiperatividade. Ocorre
predominantemente em meninos com início antes dos 7 anos. Muitas vezes há história de
movimentos acentuados da criança intra útero, distúrbios do sono no primeiro ano e excesso de
movimentos aos 3-4 anos de idade. Na pré-escola e inicio do 1° ano há dificuldade de atenção
para os conteúdos ensinados. Não param na carteira, perdem a atenção frente a qualquer estímulo
externo, são impulsivos, perdem o material, não se organizam nas tarefas, etc...
Estas dificuldades devem ocorrer na escola, no lar, no clube ou em qualquer outro ambiente
... A intensidade é variável (leve, moderada, intensa, sendo indicado tratamento nos casos mais
preocupantes.
25
A criança pode apresentar dificuldade na aprendizagem escolar (algumas vezes associadas
a outras disfunções) ou distúrbio de conduta.
Este quadro neurológico está relacionado às disfunções neuro-químicas
(neurotransmissores) que ocorrem principalmente à nível da Substância Reticular (no tronco
cerebral) e gânglios da base. Assim, até 60% dos casos podem-se beneficiar com medicamentos
estimulantes (metilfenidato) ou anti-depressivos.
O tratamento medicamentoso deve ser acompanhado de mudanças de conduta da família,
escola e de outros familiares ou pessoas do ambiente da criança. Apoio psicopedagógico e outras
terapias (Psicoterapia, Fonoaudiologia) devem ser indicadas quando necessárias (ROMERO,
1995).
Não devemos considerar toda criança hiperativa como de causa neurológica. No
diagnóstico diferencial devemos considerar:
Afeta a criança como um todo. Pode ser sensorial, isto é, auditivo ou visual mental, quer
dizer, rebaixamento, ‘da capacidade intelectual ou ainda emocional grave, como Autismo ou
Psicose.
No obstáculo sensorial a criança frequentemente pode ser trabalhada em classe regular, mas
o professor precisa receber orientação regular de como atuar.
Sendo deficiência mental leve, também poderá ser trabalhada em sala de aula regular, mas
necessitará de um acompanhamento paralelo.
Se for uma deficiência mental moderada, ou um problema emocional sério, a criança
deverá ser encaminhada a unia classe especial ou, se necessário. a uma escola especial
(ROMERO, 1995).
26
O obstáculo global é diferente do funcional, no sentido de que afeta a criança corno um
todo e principalmente no caso da deficiência mental, a criança apresentará dificuldades em todas
as áreas,
Os professores não devem colocar ao serviço da seleção social, isto é, voltarem-se apenas
aos que aprendem facilmente e têm bom ritmo, isto é a parte mais fácil de ensinar.
As crianças que dependem deles e cujo futuro se construirá fundamentalmente através da
dedicação e competência do professor, são essas, que apresentam alguma interferência na
aprendizagem. E na interação com essas crianças que o Professor vai corresponder ao ideal do
mestre, enfrentará dificuldades e a cada sucesso alcançado, saberá que valeu a pena ter vivido
(ROMERO, 1995).
ESTUDO DE CASO
Este trabalho foi realizado com base na observação e acompanhamento de uma criança cuja
idade é 4 anos. Esta criança faz parte de um grupo que acompanhamos desde a idade de 2 anos.
É filho de pais divorciados desde os 2 anos de idade, vive com a mãe e avós maternos,
apenas vê o pai ao sábado, os pais mantêm uma relação de permanente conflitualidade. Não posso
deixar de mencionar que esta criança sempre suscitou em nós um especial interesse e
preocupação, já conversamos com os pais na tentativa de minimizar o problema, mas ignoraram.
Para poder realizar este trabalho debruçamo-nos muito mais sobre ela, observando-a, dialogando
e brincando, demos-lhe muito mais carinho e realce a tudo o que fez. Dessas observações resultou
o que a seguir se apresenta.
É uma criança que aparentemente se revela apática; mostrando um completo desinteresse
pelo que se passa à sua volta, dando a sensação de estar sempre cansado e triste, quando se deita
adormece de imediato, revelando um sono sobressaltado; no entanto, é sempre a última criança do
grupo a acordar.
Revela alguma contrariedade à hora da refeição, sendo necessário chamar-lhe à atenção
para acabar a refeição.
Depois de uma observação mais atenta, pude verificar que dentro da sala gosta mais de
brincar sozinho, em diálogo com outras crianças, baixa a cabeça e revela um semblante triste,
amuado. Quando questionado, ou não responde ou quando responde usa a expressão “não sei”,
mesmo que esta resposta não seja adequada à pergunta que lhe é colocada.
Na aula de natação, iniciamos sempre com exercícios de aquecimento; esta criança ainda
hoje, depois de decorridas várias aulas, quando solicitada para fazer os exercícios diz a habitual
frase: “não sei”. Apenas realiza a atividade de natação com apoio, pois quando se pretende dar-
lhe independência diz que não sabe e abandona a atividade.
Não revela qualquer interesse por atividades manuais como recorte, pintura, modelagem,
etc., cansa-se facilmente e desiste.
27
Não quer participar em atividades lúdicas. Uma simples sequência que proponho do tipo —
círculo vermelho, círculo amarelo, e novamente a mesma ordem, todas as crianças fazem com
facilidade a ordem da sequência menos a criança cm causa que diz “não sei” e mesmo ajudada
por outra criança nota-se que não entende o que faz.
Até ao momento ainda poucos conceitos conseguiu aprender por mais simples que seja.
Este é um caso que pretendemos acompanhar e estudar de forma mais profunda, pois têm
suscitado o nosso interesse e preocupação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste estudo foi refletir sobre o papel da psicopedagogia preventiva nas
dificuldades de aprendizagem escolar durante a alfabetização, devido à desatenção que tem
sofrido o ensino da leitura e da escrita, e o baixo rendimento escolar das primeiras séries do
ensino fundamental. Também, a importância do trabalho psicopedagógico preventivo que se
baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, no sentido de
detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem.
Ninguém pode afirmar que as dificuldades das crianças em controlar a aprendizagem na
escola são “forçosamente” e principalmente determinadas pelos déficits cognitivos de origem
genética.
Estando as finalidades da escola claramente redefinidas e as missões dos educadores
reconhecidas, torna-se possível um novo dia escolar, com uma tomada de consideração por todas
as crianças, quaisquer que sejam as suas particularidades, as suas diferenças e as suas
dificuldades, e as origens supostas ou presumidas destas, sem julgamento à priori sobre os seus
“atrasos”, as suas falhas, os seus déficits, etc.
Deve existir um tempo pessoal em alternância com tempos pedagógicos, deve permitir a
cada criança desenvolver e tornar funcionais as suas competências, revelar as suas capacidades,
mostrar que é capaz pelo menos em certas ocasiões de ajustar a sua organização temporal e os
seus ritmos de ação aos dos outros.
Com este trabalho foi possível refletir sobre os diversos aspectos envolvidos na condição
das dificuldades de aprendizagem e ressaltar que, embora a dificuldade de aprendizagem possa
ser uma condição ligada a múltiplos fatores internos à criança, ela está de certa maneira
sustentada pelo meio familiar escolar e social, no qual a criança está inserida e, ainda a forma
28
como a família lida com essa condição, terá um papel decisivo na condução e evolução do caso.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 4.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1979.
1986. PILETTI, Claudino. Didática geral. 23. ed. Ártica. São Paulo:
Ártica, 2002.
29
ROCK, A.M.B.; FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: uma introdução ao
estudo da Psicologia. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
SPOCK, Benjamin. Criando filhos em tempos difíceis. 2.ed. São Paulo: Abril,
1998.
WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia CIínica, uma visão diagnóstica dos problemas de
aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
30
CAPITULO 3.
Neste estudo, por meio de revisão da literatura, são abordadas questões relacionadas aos
Distúrbios de Aprendizagem. Com o objetivo de discorrer sobre as definições e conceituações sobre os
Distúrbios de Aprendizagem de modo geral e de três distúrbios específicos (Disgrafia, Dislexia e
Discalculia), em um primeiro momento, há a discussão sobre a origem desses estudos e a definição do
que seriam os Distúrbios de Aprendizagem, bem como suas causas, características, diagnóstico e
prevenção. Em seguida, são tratados os três Distúrbios de Aprendizagem, Disgrafia, Dislexia e
Discalculia e, para todos, são trabalhadas questões ligadas às suas definições encontradas na
literatura, prováveis causas, possíveis intervenções e atendimento educacional para crianças que
apresentem algum desses Distúrbios de Aprendizagem, a fim de compreender as necessidades de
atendimento educacional especializado para esse público, os procedimentos de prevenção, intervenção
e inclusão.
As investigações sobre o tema foram acentuadas em 1919 por Kurt Goldstein, o qual desenvolveu um
trabalho com soldados americanos que haviam retornado da I Guerra Mundial, pois “[...] além das
frequentes distrações, eles apresentavam incapacidade de concentrações nas ideias centrais, confusão e
hiperatividade. Também não conseguiam ler ou escrever satisfatoriamente” (SMITH, 2008, p. 114).
Aponta-se, também, que Alfred Strauss e Heinz Werner deram prosseguimento aos estudos de
Goldstein
e trabalharam com alunos com diagnóstico de lesão cerebral no Wayne Country Training Center em
31
Michigan. Contudo, nesses estudos, os alunos nunca desenvolveram as habilidades de ler, escrever e
falar satisfatoriamente, diferentemente dos estudos de Goldstein, nos quais os soldados apresentaram
uma perda das habilidades de ler, escrever e falar (SMITH, 2008).
No entanto, foi em 1963 que o termo Distúrbios de Aprendizagem foi utilizado pela primeira vez,
pelo professor Sam Kirk, durante uma conferência de pais e professores em Chicago, denominada
Fund for Perceptually Handicapped Children. O termo Distúrbios de Aprendizagem foi designado às
crianças com inteligência normal, porém com grandes dificuldades no aprendizado escolar
(HALLAHAN; KAUFFMAN; PULLEN, 1994; OLIVEIRA, 2011).
Diante desses diversos termos e definições, o grupo de pais, na companhia de Samuel Kirk, chegaram
ao acordo de que a melhor terminologia que caracterizaria tais crianças seria Learning Disabilities
(Distúrbios de Aprendizagem). Nessa definição, Kirk expôs que os Distúrbios de Aprendizagem se
referem a uma disfunção ou mais do processo psicológico que envolve distúrbio ou desenvolvimento
lento de processos da fala, linguagem, leitura, escrita, aritmética ou outras áreas escolares, incluindo,
também, as desabilidades perceptivas, prejuízo cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e
desenvolvimento de afasia. Porém, não estão incluídas as dificuldades provenientes como resultado
primário de deficiências visuais, auditivas ou motoras, de retardo mental, de distúrbio emocional e de
desvantagem social ou econômica (GARCIA, 1998; OLIVEIRA, 2011; HALLAHAN; KAUFFMAN;
PULLEN, 1944).
Definição
32
Quando se trata de uma definição para os Distúrbios de Aprendizagens, reconhece uma falta
de exatidão para a definição do termo, como pode ser visto nos Manuais Internacionais de diagnósticos
de doenças, como a CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) e
DSM (Diagnósticos de Transtornos Mentais) (OHLWEILER, 2006; SMITH, 2008).
De acordo com o DSM-V (2014), os transtornos específicos de aprendizagem não são mais
subdivididos em transtorno de leitura (dislexia), transtornos de cálculo (discalculia), transtornos de
expressão escrita (disgrafia), entre outros transtornos, como eram classificados no DSM-IV (2000),
com a justificativa de que os indivíduos que apresentam esses transtornos podem ter déficits em mais
de uma área de aprendizagem.
Dessa forma, ressalta-se a exposição feita por Spratt (2006), segundo a qual, apesar de existirem
várias definições para os Distúrbios de Aprendizagem, não existe um acordo universal acerca de sua
definição.
Causa e características
33
importante frisar que uma criança que apresenta dificuldade escolar não apresenta,
necessariamente, algum transtorno de aprendizagem (OHLWEILER, 2006).
Diagnóstico e Prevenção
As autoras Capellini e Martins (2011) relatam que pesquisas de prevenção ainda são escassas
na literatura brasileira e a fundamentação teórica aponta que investimentos são realizados com pessoas
que já apresentam o diagnóstico. É importante a realização de programas de prevenção aos Distúrbios
de Aprendizagem, uma vez que essa condição pode persistir até a vida adulta, podendo afetar o
desempenho escolar da criança e ter como consequências agravos emocionais e sociais (BOS; TIJMS,
2012).
Em relação ao diagnóstico, torna-se primordial destacar que a avaliação deve ser realizada
por uma equipe multiprofissional: médica, pedagógica, fonoaudiólogos e psicólogos. Cada
profissional, em sua respectiva área, é respaldado por instrumentos e métodos de avaliação adequados,
que subsidiem, de maneira eficaz, sua atuação, para que juntos consigam alcançar o diagnóstico que
atenda à melhor qualidade de vida do indivíduo (SPRATT, 2006; KIRK; GALLAGHER, 1996).
OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
Disgrafia: o que é?
34
Crianças disgráficas são aquelas que apresentam dificuldades no ato motor da escrita, tornando
a grafia praticamente indecifrável; sendo assim, disgrafia é a perturbação da escrita no que diz respeito
ao traçado das letras e à disposição dos conjuntos gráficos no espaço utilizado. Relaciona-se, portanto,
esta às dificuldades motoras e espaciais (CINEL, 2003).
Estudos apontam que a criança com disgrafia escreve de maneira desviante ao padrão,
contemplando uma caligrafia deficiente, com letras pouco diferenciadas e mal elaboradas/
proporcionadas. Quando a criança apresenta esse distúrbio, são comuns características como: (i) letra
excessivamente grande ou excessivamente pequena – macrografia e micrografia, respectivamente; (ii)
forma das letras irreconhecível; (iii) traçado exagerado e grosso ou demasiadamente suave; (iv)
grafismo trêmulo ou com irregularidade; (v) escrita demasiadamente rápida ou lenta; (vi) espaçamento
irregular das letras ou palavras; (vii) erros e borrões que podem impossibilitar a leitura da escrita;
(viii) desorganização geral no texto e (ix) utilização incorreta do instrumento com que escrevem
(AJURIAGUERRA et al, 1988; COELHO, 2012).
Para confirmar esse distúrbio, a criança deve contemplar o conjunto ou quase a totalidade das
condições supracitadas; além disso, é possível que sejam notados outros comportamentos relacionados
a outras dificuldades específicas de aprendizagem (COELHO, 2012).
Causas da Disgrafia
Cinel (2003) traz como prováveis causas para o desenvolvimento da disgrafia os distúrbios da
motricidade fina e da motricidade ampla, distúrbios de coordenação visomotora, deficiência da
organização têmporo-espacial, os problemas de lateralidade e de direcionalidade e, por fim, o erro
pedagógico.
a criança apresenta esse aspecto comprometido, ela apresenta dificuldade para traçar linhas com
trajetórias predeterminadas, visto que a mão não “obedece” ao trajeto estabelecido (CINEL, 2003).
35
No que se refere à organização têmporo-espacial, observa-se a relação entre a orientação e a estrutura
do espaço e do tempo. A deficiência nesse campo faz com que as crianças escrevam invertendo as
letras e combinações silábicas, desobedecendo o sentido correto de execução das letras e escrevendo
fora das linhas por não terem orientação sobre como utilizar a folha de papel (CINEL, 2003).
(ii) (iii) lateralidade cruzada – exemplo: a dominância da mão direita em conexão com
o olho esquerdo, ou da mão esquerda com o olho direito (CINEL, 2003).
Por fim, Cinel (2003) expõe a causa do erro pedagógico. Esse item costuma ser relacionado com as
falhas no processo de ensino, com as estratégias inadequadamente escolhidas pelos docentes, pelo
desconhecimento destes sobre o problema e até mesmo pelo seu despreparo.
Para Schirmer, Fontoura e Nunes (2004), os princípios básicos para realizar a intervenção com a
criança disgráfica são a avaliação do desenvolvimento da linguagem em todos os seus níveis,
orientação para a família e a escola, e a terapia, sendo que, para o distúrbio em questão, destaca-se a
terapia de linguagem escrita.
Exposto isso, Schirmer, Fontoura e Nunes (2004), destacam que a principal maneira de intervenção é a
realizada de forma direta nas habilidades de leitura, com associação às atividades relacionadas ao
processamento fonológico da linguagem5; orientam ainda que as intervenções devem ser realizadas de
maneira lúdica, para que a criança sinta prazer em ler e escrever.
Já em relação aos princípios básicos do trabalho em linguagem escrita, as autoras destacam a
importância de: (i) estimular a descoberta e utilização da lógica do pensamento para a construção de
palavras e textos, bem como para a representação de fonemas; (ii) proporcionar chances de
desenvolver a escrita e a leitura espontâneas; (iii) explorar de maneira constante as diversas funções da
escrita; e (iv) explicitar as diferenças entre língua falada e língua escrita. Isso porque é relevante para a
criança ter o conhecimento de que a fala e a escrita são maneiras distintas de expressar a linguagem
(SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004).
36
Do ponto de vista do atendimento educacional, Coelho (2012) faz referência ao comportamento dos
professores. Expõe que, para ajudar um aluno com disgrafia, o professor deve inicialmente estabelecer
um bom relacionamento com a criança e fazê-la perceber que sua presença é relevante para apoiá-la
quando mais precisar. Para isso, é importante perceber o momento que é necessário providenciar
ajuda ao aluno e como fazer isto, bem como reforçar positivamente a caligrafia da criança.
Três fatores fundamentais devem ser considerados para a reeducação do grafismo: (i)
desenvolvimento psicomotor, visando treinar os aspetos relacionados à postura, controle corporal,
dissociação de movimentos, representação mental do gesto necessário para o traço, percepção espaço-
temporal, lateralização e coordenação visomotora; (ii) desenvolvimento do grafismo em si e (iii)
especificidade do grafismo da criança; nestes aspectos, o educador deve se preocupar com o
aperfeiçoamento das habilidades, desenvolvendo atividades pictográficas.
Trata-se de uma operação relacionadas à escrita mental que visa facilitar a produção de sons
ou grupo de sons, substituindo uma classe ou sequência de sons consideradas difíceis pela criança por
uma classe alternativa idêntica, no entanto sem a propriedade difícil.(pintura, desenho, modelagem) e
escriptográficas (utilização do lápis e papel visando melhorar os movimentos e posição gráfica) e
deverá corrigir erros característicos do grafismo, como a forma, tamanho e inclinação das letras, o
aspeto do texto, a inclinação da folha e a manutenção das margens e linhas (CAMARGO, 2008;
COELHO, 2012).
Dislexia: o que é?
37
processos de leitura (FUKUDA; CAPELLINI, 2012).
Os principais sinais apresentados pelos indivíduos disléxicos são leitura e escrita, muitas vezes,
incompreensíveis, atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem, dificuldade na identificação de
letras, confusões de letras na grafia, confusão de sons semelhantes, dificuldade de aprender letra-som
(inversões de sílabas ou palavras), redução do léxico, substituição de palavras semelhantes,
supressão ou adição de letras ou silabas, repetição de sílabas ou palavras, fragmentação incorreta de
sílabas, imaturidade fonológica, TDA/H e/ou transtorno de aprendizado (CAPELLINI; MARTINS,
2011; SIQUEIRA; GIANETTI, 2011; FUKUDA;
CAPELLINI, 2012).
Causas da Dislexia
Já a dislexia adquirida é caracterizada por uma perda na capacidade de ler e escrever, após o
indivíduo sofrer um dano cerebral que pode atingir regiões do cérebro responsáveis pela leitura e
ortografia. Ressalta-se que este tipo de dislexia é mais detectada em adultos do que em crianças
(SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004).
38
As dislexias ainda podem ser subdividas em outros dois tipos, a dislexia central e a dislexia
periférica. No primeiro caso, “[...] ocorre o comprometimento do processamento linguístico dos
estímulos, ou seja, alterações no processo de conversão da ortografia para fonologia” (SCHIRMER;
FONTOURA; NUNES, 2004, p. 100). As dislexias centrais mais comuns são a dislexia fonológica, a
dislexia de superfície e a dislexia semântica.
Diante de tais considerações, como explicitado anteriormente, é de extrema importância que se faça a
distinção entre dificuldade escolar, associadas às dificuldades de origem social, econômica, cultural e
emocional e os distúrbios de aprendizagem, relacionados às alterações nas habilidades cognitivas e
linguísticas (CAPELLINI; CIASCA, 2000; CAPELLINI; SALGADO, 2003; CAPELLINI; PADULA;
OHLWEILER, 2006; SIQUEIRA; GIANETTI,2011), para que seja desenvolvido um atendimento
educacional especializado para os disléxicos.
39
A observação de determinadas características e/ou sinais, tanto na Educação Infantil quanto
no Ensino Fundamental, podem servir como sinal de alerta para problemas atuais ou futuros de
linguagem, entretanto a presença desses sinais não caracteriza a criança como disléxica. Além dos
principais sinais apresentados pelos indivíduos disléxicos apresentados acima, Moojen e França (2006)
reforçam alguns sinais e os dividem de acordo com as fases de aprendizagem ou faixas etárias, como:
Outro fator importante de se destacar que é na escola ou na fase em que a criança começa a
frequentar a escola que os profissionais envolvidos com ela podem notar alguns fatores preditivos a
dislexia (CAPELLINI; MARTINS, 2011).
Estudos têm demonstrado que escolares em risco para a dislexia apresentam dificuldade no
aprendizado do sistema da escrita. Tais dificuldades impedem um bom desempenho para leitura por
meio de fatores preditivos, como conhecimento alfabético, nomeação rápida, consciência fonológica,
entre outros (CAPELLINI; MARTINS, 2011). Devido a essas dificuldades apresentadas pelos
indivíduos no processamento fonológico,
40
ajustando conteúdos e oferecendo apoio educacional (CAPELLINI; CIASCA, 2000; SMITH,
2008).Enfim, cabe ressaltar que a interação entre família e os profissionais envolvidos com as crianças
disléxicas é de extrema importância para a eficácia das medidas preventivas e/ou das intervenções
(MOOJEN; FRANÇA, 2006).
Discalculia: o que é?
O aprendizado da leitura e da matemática têm se tornado cada vez mais imprescindíveis no atual
e competitivo mercado de trabalho. Tal a importância que pesquisas sobre os distúrbios de
aprendizagem têm crescido consideravelmente. Entretanto, apresentar dificuldade em matemática
parece “incomodar” menos que dificuldades em leitura e escrita, talvez por ser considerada uma área
difícil e privilégio de poucos (BASTOS, 2011). Para Hallahan, Kauffman e Pullen (1944), os distúrbios
em matemática têm sido tão frequentes quanto às outras desordens de linguagem, leitura e escrita,
perdendo apenas para dificuldade em leitura.
Causas
41
A etiologia da discalculia do desenvolvimento é considera- da multifatorial e envolve alterações
genéticas que interagem de forma complexa com o ambiente. Trata-se de um transtorno persis- tente e,
muitas vezes, pode estar associado a prejuízos emocionais, atencionais, comportamentais e de
desenvolvimento da linguagem (RIBEIRO; DOS SANTOS, 2011; HAASE et al., 2011). Pesquisas
apontam a incidência de síndromes neurodesenvolvimentais de origem genética, como a Síndrome de
Turner, a Síndrome do Sítio Frágil do Cromossoma X em meninas, a Síndrome Velocardiofa- cial, e a
Síndrome de Williams e de origem ambiental como a Sín- drome fetal alcoólica (HAASE; WOOD;
WILLMES, 2010).
42
monitorar não só o desempenho acadêmico, como também, seu comportamento dentro e fora da tarefa.
Em um estudo que utilizava a autogravação, o professor instruiu os alunos a se perguntarem “Eu estou
prestando atenção?” todas as vezes que eles ouviam um tom em um gravador. Os tons ocorriam
aleatoriamente a cada trinta a noventa segundos (HALLAHAN; KAUFFMAN; PULLEN, 1944).
Outra estratégia que pode trazer benefícios no desenvolvimento acadêmico do aluno é tornar os
materiais mais proeminentes por meio do enriquecimento dos conteúdos, como os organizadores
gráficos e mnemônicos. Os organizadores gráficos referem-se aos dispositivos visuais que utilizam
linhas, círculos e caixas para organizar informações, hierarquizar ou utilizados para comparações. Os
recursos mnemônicos envolvem o uso de imagens e/ou palavras que possam ajudar a lembrar de
informações (HALLAHAN; KAUFFMAN; PULLEN, 1944).
Por fim, é importante destacar que o diagnóstico deve ser realizado por uma equipe
multidisciplinar, para que o aluno seja devidamente avaliado nas suas peculiaridades e possa ser
direcionado às intervenções efetivas que atendam às necessidades particulares de cada criança
(SIQUEIRA; GURGEL-GIANNETTI, 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de uma revisão de literatura, este trabalho traçou um breve panorama sobre os
Distúrbios de Aprendizagem, reconhecendo as suas definições e suas conceituações de modo geral e de
três Distúrbios Específicos (Disgrafia, Dislexia e Discalculia), compreendendo as necessidades de
atendimento educacional especializado para esse público e visando procedimentos de prevenção,
intervenção e inclusão.
A figura do professor é de extrema importância para a primeira hipótese de um possível
Distúrbio de Aprendizagem que determinado aluno possa apresentar, pois é na fase de alfabetização
que é possível notar os sinais que a criança apresenta de um determinado Distúrbio de Aprendizagem,
e, nessa fase, o profissional ou indivíduo que permanece mais tempo com a criança é o professor.
Os alunos com Distúrbios de Aprendizagem devem ser encaminhados para uma equipe
multidisciplinar para que o aluno seja devidamente avaliado nas suas peculiaridades e possa ser
direcionado às intervenções efetivas que atendam às necessidades particulares de cada criança.
Embora se possa ver o aparato teórico que há sobre os Distúrbios de Aprendizagem – uma
literatura rica na área, como bem visto por essa pesquisa –, é necessário o aprofundamento sobre os
Distúrbios de Aprendizagem, buscando formas de diagnósticos por meio de uma equipe
multidisciplinar e meios de intervenção.
REFERÊNCIAS
43
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Mentais (DSM-IV). Porto Alegre: Artmed, 1994.
BASTOS, J. A. O desenvolvimento das habilidades em matemática. In: Alves, L. M.; MOUSINHO, R.;
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47
CAPITULO 4.
Carlo Schmidt
Rosanita Moschini
Joíse de Brum Bertazzo
INTRODUÇÃO
O autismo é uma condição que afeta as áreas da interação social, linguagem e comportamento,
marcado por um ponto de vista comportamental, tendo etiologias múltiplas e graus variados de
gravidade (GADIA, 2006). Embora o diagnóstico ocorra, na maior parte das vezes, na infância, muitas
características do autismo tendem a persistir ao longo do tempo, como, por exemplo, os aspectos
cognitivos e linguagem (HOWLIN, 1997).
Para tanto, o suporte oferecido aos indivíduos com autismo e suas famílias representa um
importante fator na promoção de avanços, o que sugere a necessidade do envolvimento de diversos
profissionais das áreas da saúde e educação. A intervenção precoce para crianças no espectro do
autismo tem sido intensamente indicada, registrando ganhos substanciais no desenvolvimento (BOSA,
2006; DAWSON et al., 2010), Os pais, por sua vez, também necessitam apoio para lidar com esta
situação, em que programas de atenção oferecem espaços para compartilhamento de suas vivências
particulares (BLACKLEDGE, HAYES, 2006).
As famílias destas crianças, ao saberem que têm filhos com autismo, se veem frente ao desafio
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de ajustar seus planos e expectativas em relação a estes sujeitos (SCHMIDT; BOSA, 2003). Além
disso, os pais frequentemente possuem dúvidas sobre o transtorno e suas particularidades
(SEMENSATO, SCHMIDT, BOSA, 2010).
Uma das principais dificuldades dos pais se refere aos problemas de comportamento comuns
às pessoas com Autismo (SCHMIDT, DELL´AGLIO, BOSA, 2007). Essas preocupações familiares
podem ser amenizadas através da participação em um grupo de pessoas na mesma situação
(SEMENSATO, SCHMIDT, BOSA, 2010), o que justifica a criação de um espaço onde possam
compartilhar vivências pessoais.
OBJETIVOS
Considerando a demanda supracitada, o projeto de extensão “Grupo de pais de pessoas com
autismo” foi estruturado pelo grupo de pesquisa EdEA – Educação Especial e Autismo/UFSM a fim de
oportunizar aos pais e familiares um espaço para discussão de temas relativos à experiência específica
de cuidar de um filho com TEA.
Através de uma série de encontros temáticos, objetivou-se identificar as principais dificuldades
enfrentadas pelos pais de pessoas com autismo em seu cotidiano, verificando como estes percebem e
lidam com essa demanda.
METODOLOGIA
O projeto “Grupo de pais de pessoas com TEA” contemplou seis encontros mensais com pais e
familiares de pessoas com autismo na cidade de Santa Maria/RS, com a duração de aproximadamente
duas horas, para discutir temáticas relacionadas ás vivências familiares desta população. Os encontros
foram coordenados pelo primeiro autor deste trabalho, acompanhado pelas outras duas autoras. As
temáticas dos encontros foram elencadas a priori, sendo que os resultados apresentados abaixo foram
obtidos apenas do primeiro, o qual enfocou “Problemas de Comportamento do filho com autismo”.
O estudo configura-se como um estudo de caso em que o grupo de pais se constitui como o
caso a ser analisado (STAKE, 2010). Os encontros foram gravados, transcritos e analisados através de
análise de conteúdo (BAUER, 2002). Além disso, dados adicionais sobre a realidade destas famílias
foram obtidos por meio de um questionário semiestruturado, preenchido pelos participantes.
RESULTADOS
Participaram do grupo 28 pais cujos filhos tinham o diagnóstico de autismo, sendo 20 mães e
oito pais. Os filhos com autismo tinham idades variadas, sendo o mais novo com dois anos e o mais
velho com 33.
A análise dos relatos parentais acerca dos problemas de comportamento de seus filhos com
autismo geraram cinco categorias temáticas: 1)Problemas do sono;
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2)Rigidez/inflexibilidade; 3)Medos/ansiedade;
4)Agressividade/desorganização, e 5)Birra/teimosia.
A partir dos relatos do grupo não foi possível destacar uma categoria como mais relevante,
pois cada família conferiu graus de importância qualitativamente diferentes. Contudo os problemas do
sono estiveram entre os problemas de comportamento mais extensivamente debatidos entre os
familiares.
Esta categoria caracteriza-se por diversos subtipos de transtornos do sono, tais como
problemas de regulação sono-vigília, dificuldades para ingressar no sono e manutenção deste durante
toda a noite. A esse respeito, uma questão importante tomou relevo em várias falas de pais: a rotina da
família alterada em razão dos problemas de sono do filho.
Os problemas de sono foram descritos como interferindo na rotina familiar, o que, por sua
vez, incrementava o estresse familiar já que a insônia do filho mantinha os outros membros da família
igualmente acordados durante a noite. O relato de uma das mães participantes ilustra essa categoria:
“ele não dormia à noite e nós não dormíamos nem de noite, nem de dia. Hoje ele dorme melhor, mas
não dorme sozinho”.
Nota-se que a família como um todo é afetada pelo problema de sono do filho, interferindo
diretamente em outras esferas do cotidiano, como a pontualidade, disposição e rendimento dos pais nas
atividades laborais, bem como dos irmãos na escola.
Como estratégia para lidar com este problema, os pais punham seus filhos no banco de trás do
carro e saíam em passeios circulares pela cidade até que ele eles dormissem. O resultado foi visto
como positivo quanto ao objetivo, já que o filho ingressava no sono nessa situação, em contraponto,
esta estratégia exigia esforços continuados dos pais que se revezavam na função.
Ainda sobre problemas de sono, outros participantes relataram que seus filhos não aceitavam
dormir sozinhos em seus quartos, levantando-se e dirigindo-se ao quarto dos pais diversas vezes
durante a noite. Para estes casos, a estratégia parental foi de recolocar o filho de volta na sua cama,
orientando-o para que retornasse a dormir.
Esta estratégia foi descrita como pouco eficaz, pois os filhos retornavam insistentemente ao
quarto dos pais logo após serem direcionados às suas camas. Como consequência, os pais desistiram
dessa estratégia, aceitando a presença do filho em seus quartos.
De fato, a literatura tem apontado uma taxa elevada de prevalência de transtornos do sono na
população de pessoas com transtornos do desenvolvimento, as quais variam entre 13 e 86% (DIDDEN,
SIGAFOOS, 2001). Já especificamente entre pessoas com autismo a prevalência de transtornos do
sono é maior ainda, ocorrendo em torno de dois terços dessa população (75%). Os transtornos do sono
mais frequentes incluem irregularidades nos padrões de sono-vigília, parassonias diversas e problemas
comportamentais quanto ás rotinas da hora de dormir (RICHDALE, 1999, 2001).
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As explicações sobre esse a alta ocorrência desse fenômeno entre pessoas com autismo são
diversas, incluindo alterações no ambiente (ex.: regulação do ritmo circadiano) e causas endógenas,
como a produção de hormônios e neurotransmissores que interferem no sono (Ex.: melatonina,
serotonina) (RICHDALE, PRIOR, 1995).
Já a relação estabelecida pelos participantes entre os transtornos de sono do filho e o
incremento do estresse familiar é corroborada pela literatura. Conforme Gozal (1998) há uma
correlação positiva entre os transtornos do sono e aumento dos comportamentos agressivos e
irritabilidade na pessoa com autismo. Portanto, além do fato dos familiares não dormirem enquanto o
filho não dorme, isso poderia incidir também sobre o aumento de problemas de comportamento deste
filho, constituindo um duplo estressor para a família.
A categoria Rigidez/Inflexibilidade inclui relatos sobre comportamentos diruptivos
resultantes das dificuldades da criança em lidar com mudanças nos ambientes familiar ou escolar. O
relato abaixo ilustra a inflexibilidade para lidar com mudanças e imprevistos no contexto da sua casa:
“ele não sabe lidar com a frustração. [...] A gente vai viajar daqui a dois dias. Se aquilo não
acontecer ele enlouquece. Aquilo tá formado e tem que acontecer”.
A estratégia familiar para lidar com esses comportamentos foi de atender as rotinas e
expectativas exigidas pelo filho para evitar que este se frustre e, consequentemente, desencadeie
comportamentos diruptivos. Como resultado, foi relatada a ocorrência de uma mudança nos hábitos de
toda a família para se adaptar às expectativas do filho.
Outro relato, ainda nesta categoria, ilustra a estratégia parental utilizada apara lidar com a
inflexibilidade comportamental do filho em atividades cotidianas, como não querer tomar uma
condução: “Pegar ônibus é complicado, ele antes era criança e eu socava pra dentro e pronto! Ás
vezes ouvia dizerem ‘que mãe!’. Agora não dá mais, eu negocio com ele, ‘tá não vamos nesse, mas
vamos no outro’”.
Percebe-se que nesta situação, a mãe lidou com este comportamento de forma ativa, direta e
objetiva, inclusive usando de força física para alcançar seu objetivo. Porém, ao mesmo tempo em que o
resultado desta estratégia se mostrou positivo, ou seja, o filho entrou no ônibus, a mãe, também
percebia críticas negativas sobre essa estratégia (que mãe!).
Observa-se que ao longo dos anos a estratégia foi sendo modificada, possivelmente devido ao
crescimento físico do filho, o que impediu a resolução do problema através do uso da força física.
Como alternativa, a mãe recorreu á estratégia de flexibilização, “negociando” alternativas e
possibilidades para obter sua aceitação.
Não surpreende que os comportamentos rígidos e inflexíveis sejam descritos pelos pais como
um dos principais problemas de comportamento do filho. Isso porque a presença de padrões de
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comportamentos, atividades e interesses restritos, repetitivos e estereotipados integram os critérios para
diagnóstico do autismo nos manuais médicos (APA, 2002). Esta classe de comportamentos envolve,
entre outros, a persistência da criança para com a família de que sejam cumpridas rotinas particulares e
rituais de caráter não funcional, sendo estas descritas nos relatos do grupo como um comportamento
exaustivo e difícil de lidar.
A categoria Medos/ansiedade inclui aqueles relatos sobre temores diversos, desde medo de
animais até ansiedade gerada por procedimentos médicos como consultas e realização de exames. As
experiências de consultas médicas, em especial, se mostraram particularmente estressoras para a
pessoa com autismo, gerando medo e ansiedade intensos. Um dos relatos parentais mostra que:
“Depois da cirurgia ele criou um pânico. [...] Começou a ter pânico de médico, branco perto dele
então...”.
Sobre outros medos, como o de animais, por exemplo, um relato ilustra que: “muitas vezes a
gente quer sair com ele, se enxerga um cachorro não sai do carro. Na rua, se vê salta lá pro outro
lado, nem olha.” Para lidar com essa situação, os pais relatam utilizar a estratégia de exposição dos
filhos diretamente ao estressor, nesse caso, aproximando mais ainda o filho dos cachorros para que
“percam o medo”.
Nem todos relataram sucesso no uso dessa estratégia. Supondo que os pais reconhecem os
limites de ansiedade e medo suportável por seus filhos quanto a determinados contextos, a discussão
no grupo abordou a ideia de que os pais possam confiar na sua intuição e escolher a estratégia que
melhor responda àquela situação, de acordo com cada contexto e realidade familiar.
A presença de medos ou fobias em pessoas com autismo, embora não seja um critério
diagnóstico, é encontrada na literatura como associada a autismo. Salle et al. (2002, p.12) descrevem
que “...a criança autista frequentemente demonstra uma série de outros problemas não específicos,
como medos, fobias, alterações do sono e da alimentação e ataques de birra e agressão”.
O medo de hospitais ou pessoas de avental branco, presente nos relatos, pode ser entendido
pelo fato do autismo ser frequentemente acompanhado por outras condições médica, exigindo que a
família tenha contato estreito com hospitais e outros serviços de saúde. As experiências decorrentes
desses ambientes podem ser estressoras, desencadeando medos e aversões intensas que são reativadas
no retorno a estes locais.
A categoria Agressividade/desorganização foi definida como aqueles relatos que incluem tanto
a descrição de agressão intencional, com o propósito de causar dano a outrem, quanto comportamentos
desorganizados que causados danos despropositadamente a outras pessoas.
Um dos pais, por exemplo, relatou desorganização como: “Ele se manifesta quebrando vidro,
atirando copo [...] ele não fala, mas quando começa a andar do quarto para a cozinha a gente já
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percebe que tem algo de errado”. Outro relato descreve a agressividade como: “Ele tenta me morder,
mas eu não deixo, eu digo: tu não vai me morder, e seguro ele.”.
As discussões realizadas entre o grupo sobre esta categoria mostraram que os pais têm dúvidas
sobre um comportamento ser considerado agressivo ou desorganizado pela dificuldade de inferir sobre
as intenções subjacentes aos comportamentos apresentados, ou seja, ter ou não a intenção de ferir
alguém.
De fato, a literatura mostra-se controversa quanto á definição de comportamento agressivo.
Alguns teóricos da aprendizagem social propõem que agressão é qualquer sequência de
comportamentos cujo objetivo é causar dano à pessoa a quem é dirigida (DOLLARD et al., 1939).
Entretanto, Bandura (1973) afirma que esta definição é limitada, pressupondo que a agressão serviria
apenas a uma finalidade de infligir dano. Berkowitz, (1965) e Feshbach (1970) concordam com
Bandura ao ressaltarem que existem dois tipos de agressão: a hostil e a instrumental. A primeira tem
como objetivo infligir sofrimento a outrem, enquanto a segunda visa à obtenção de recompensas
extrínsecas.
CONCLUSÃO
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A análise dos dados evidenciou que os problemas relatados pelos pais não ocorrem
distintamente, mas apresentam relações entre si que incrementam ou, ao contrário, minimizam a
intensidade. Os problemas de birra, por exemplo, parecem estar relacionados ao desregramento do
sono, pois na ausência do sono ou frente a mudanças imprevistas vividas pelo sujeito com autismo,
esse problema se intensifica. Os comportamentos desorganizados, por sua vez, apareceram
relacionados a medos em que o segundo parece desencadear o primeiro.
Contudo para a família, os transtornos do sono foram descritos como a principal dificuldade,
pois atuam como um duplo estressor, desencadeando ou intensificando os problemas de
comportamento como os agressivos e birras, além de não permitir o descanso dos familiares.
Para a família lidar com os problemas de comportamento, a presença do pai se mostrou
decisiva para a regulação e controle de determinados comportamentos, especialmente no que se refere
à birra e a agressão. Em alguns casos quem desempenhava essa função não era o pai, mas outro
familiar que assumia esse papel por ter a habilidade e destreza no manejo com o filho.
Discutiu-se também no grupo que os problemas de comportamento citados, geralmente,
tiveram sua raiz na infância. Por isso destacou-se a importância de estabelecer precocemente práticas
parentais efetivas que reduzam os problemas de comportamentos e favoreçam os comportamentos pró-
sociais, evitando que os primeiros se cristalizem ao longo do desenvolvimento subsequente do sujeito.
Para tanto, é preciso considerar que cada sujeito com autismo é subjetiva e constitucionalmente
diferente do outro. Determinada estratégia pode ser eficiente para uma família e desastrosa para outra,
mesmo que ambas tenham filhos com autismo.
Conclui-se que o grupo de pais torna possível que as famílias se identifiquem quanto às
características dos filhos com autismo, discutindo diferentes estratégias utilizadas para lidar com os
diversos comportamentos. O grupo favorece a compreensão do contexto em que cada dificuldade
ocorre, discutindo propostas e reflexões para sua amenização.
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