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INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E

QUALIDADE INDUSTRIAL – INMETRO

APLICAÇÃO DE PENALIDADE
VALOR DA MULTA ADMINISTRATIVA

Setembro/2007

AÇÃO: Ação ordinária anulatória/Embargos à Execução Fiscal

SÍNTESE DO PEDIDO: busca anular penalidades de multa aplicadas em processos


administrativos de apuração de infrações, sob o argumento de afronta aos princípios
constitucionais da proporcionalidade e razoabilidade, bem como por ausência de critérios para a
sua quantificação.

SITUAÇÕES ABRANGIDAS: Em execuções fiscais, para cobrança de créditos do INMETRO,


de natureza não-tributária, através de discussão de mérito em embargos à execução; ou em ação
ordinária anulatória de procedimentos administrativos que culminaram na aplicação de multa.

ELEMENTOS DE FATO: Processos Administrativos para apuração de infrações, objeto de


discussão, cujas cópias podem ser requisitadas diretamente às Assessorias Jurídicas das
Representações do INMETRO, nos respectivos Estados da Federação.

PRESCRIÇÃO:

PREQUESTIONAMENTO: artigos 8.° e 9.° da Lei 9.933/99 e § 1.º, do art. 50, da Lei 9.784/99.

OBSERVAÇÕES:
TESE DA DEFESA

PRELIMINARES

MÉRITO DA DEFESA

Curial ressaltar que o Inmetro está adstrito ao princípio informador da legalidade,


segundo o qual, à Administração é lícito atuar nos termos e se autorizada por lei. Ocorre que, em
determinadas situações, pela impossibilidade de previsão legal exaustiva, o legislador oferece
limites e critérios, para que a Administração, dentro dessa margem legal, segundo sua
conveniência e oportunidade e informados pelos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
pratique determinado ato. É o que se chama de poder discricionário.

No que importa à espécie de penalidade a ser aplicada, assim reza o art. 8.º da Lei
n.º 9.933/99:

“Art. 8.° - Caberá ao Inmetro e às pessoas jurídicas de direito público que detiverem
delegação de poder de polícia processar e julgar as infrações, bem assim aplicar aos
infratores, isolada ou cumulativamente, as seguinte penalidades:
I - advertência; II - multa; III - interdição; IV - apreensão; V – inutilização”

Assim, consoante já conhecido pelo TRF-4.ª Região, nos termos postos pelo
Desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz1, “a escolha da penalidade aplicável é
atividade administrativa enquadrada no âmbito do poder discricionário da autoridade
fiscalizadora do INMETRO.” Acrescenta, ainda, o ilustre Desembargador Federal que, “em
relação a essa atuação discricionária, não se legitima a intervenção do Judiciário no exame da
conveniência e oportunidade da escolha da sanção aplicada (mérito do ato administrativo
sancionador)”.

Quando da aplicação da penalidade de multa, assim dispõe o art. 9.º da


supracitada Lei Federal:

Art. 9.° - A pena de multa, imposta mediante procedimento administrativo, obedecerá os


seguinte valores:
I - nas infrações leves, de R$ 100,00 (cem reais) até R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais);
II - nas infrações graves, de R$ 200,00 (duzentos reais) até R$ 750.000,00 (setecentos e
cinqüenta mil reais); III - nas infrações gravíssimas, de R$ 400,00 (quatrocentos reais)
até R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais).

Segundo §1.º, do mesmo dispositivo, para a quantificação, a autoridade


competente levará em consideração, além da gravidade da infração: I - a vantagem auferida pelo
infrator; II - a condição econômica do infrator e seus antecedentes; III - o prejuízo causado ao
consumidor. Ainda, no § 2o dispõe que as multas previstas poderão ser aplicadas em dobro em
caso de reincidência.
1
AC 2001.72.09.001398-0/SC, 3ª Turma, Relator CARLOS EDUARDO THOMPSON FLORES LENZ, DJU
20/07/2005, p. 481
Como se vê, o legislador ofereceu margens e critérios para que a Administração,
no caso o Inmetro, observados os mesmos, mensure e aplique a penalidade de multa. No caso
vertente, além de constar expressamente nas Decisões Administrativas a submissão aos valores
referidos no inciso I, do art. 9.º, da Lei 9933/99, mensurando-se como infração de caráter
leve, considera ainda as diretrizes nos seus parágrafos primeiro e segundo, além daquelas
previstas no art. 27 do Regulamento Administrativo, baixado por força da Portaria Inmetro n.º
002/99.

Quanto à falta de regulamentação de que trata o §3º do art. 9º acima, o que se


admite, sustenta-se que o regulamento citado teria a finalidade de conceituar “infrações leves”,
“infrações graves” e “infrações gravíssimas” e, como não foi baixado ainda, todas as infrações
constatadas são consideradas como leves. Ocorre que, no caso vertente, não há relevância esta
definição, tendo em vista que a penalidade aplicada foi a de multa leve.

Defende-se que a lacuna relativa aos critérios de aplicação das multas não tem o
condão de desautorizar sua efetiva incidência, pois ainda se utilizam os critérios do Regulamento
Administrativo baixado pela Portaria Inmetro 02/99, que regula todo procedimento
administrativo para a apuração das infrações e aplicação das multas. Entretanto, conforme já se
expôs, no caso vertente a penalidade aplicada é “infração leve”.

É óbvio que depois de constatado o cometimento de uma irregularidade prevista


em lei, a falta de um regulamento que forneça diretrizes que permitam, somente, a classificação
para fins de penalização não tornarão admissível o que a lei define como ilícito. A inexistência de
tal regulamento prejudica a atuação da administração na função específica de repressão às
condutas que a lei classifica como gravíssimas que importaria em multas mais pesadas. Não é o
caso.

Este entendimento é confirmado em vários julgados, dentre eles é necessário citar


acórdão do TRF da 4a Região, que confirma a tese que defendida perante a Primeira Vara Federal
de Caxias do Sul, em processo movido contra o Inmetro, conforme segue, in verbis:

Acórdão Publicado no D.J.U. de 10/08/05 APELAÇÃO CÍVEL Nº


2002.71.07.013541−2/RS RELATOR : Des. Federal CARLOS EDUARDO THOMPSON
FLORES LENZ EMENTA: ADMINISTRATIVO. LEI Nº 9.933/99. CONMETRO.
IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. APELO IMPROVIDO.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 3ª
Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento à
apelação, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado. Porto Alegre, 01 de agosto de 2005.
Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz
Relator
(...)
VOTO
Em sua bem elaborada sentença, a fls. 132/6, anotou, com inteiro acerto, o douto
Magistrado, verbis:
"2. Falta de regulamentação da Lei 9.933/99
A Lei nº 5.966, de 11 de setembro de 1973, criou o Sistema Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial coma finalidade formular e executar a política
nacional de metrologia, normalização industrial e certificação de qualidade de produtos
industriais.
Para o atendimento de tais objetivos, o referido diploma legal criou o Conselho Nacional
de Metrologia, Normalização e qualidade industrial o CONMETRO, órgão que era
dotado de capacidade normativa. Com base no disposto no artigo 3° dessa Lei, em
especial a alínea 'f', foi editada a Resolução 02/82 do CONMETRO, estabelecendo
critérios e procedimentos para a aplicação de penalidades por infração a normas e atos
administrativos referentes à metrologia.
É sabido que a norma legal, pela generalidade que lhe é inerente, não pode esgotar a
previsão de todas as hipóteses sobre as quais trata uma determinada lei. Por isso, não se
tratando de direito penal ou tributário (e ainda assim a lei não diz absolutamente tudo)
pode a administração usar do Poder Regulamentar. Por conseguinte, não seria lícito
pretender que o legislador pátrio, além de prever os órgãos integrantes do Sistema
Nacional de Metrologia e fixasse as suas competências, disciplinasse exaustivamente
todos os padrões de cada um dos produtos submetidos ao seu controle, bem como
regulasse até a exaustão o procedimento administrativo pertinente. Nesse sentido cabe
citar o seguinte precedente do TRF da 4ª Região:
'ADMINISTRATIVO, APLICAÇÃO DE MULTAS. COMPETÊNCIA DO INMETRO. LEI
N° 5.966/73. INCLUSÃO NO CADIN.. INADEQUADA.
1. É do INMETRO a competência para impor as sanções previstas no art. 9° da Lei n°
5.966/73 e nas normas do CONMETRO, em função do seu poder de controlar e fiscalizar
as atividades relacionadas com metrologia, normalização industrial e certificação da
qualidade de produtos industriais.
2. O princípio da legalidade foi violado. No direito administrativo, a lei pode atribuir ao
Poder Público certa margem para uma normatização mais detalhada, ainda mais
tratando−se de metrologia, normatização industrial e certificação de qualidade de
produtos industriais, sendo até imperativo atribuir a um órgão e/ou entidade técnica o
disciplinamento da matéria.
3. Ao fornecer produtos acondicionados sem a presença do consumidor, deve a autora
informar o peso correto de seus produtos e caso não esteja fidedignos, deve ser
responsabilizada pelo erro na produção.
4. Inadequada a inclusão da empresa no CADIN como forma de pressão, visto não
existir nenhum argumento lógico ou jurídico que justifique tal atitude.
5 . Parcialmente provido o apelo.'
(AC 2001.71.00.004987−3/R5, TRF−4ª Região, 3ª Turma, rel. Desembargadora Federal
Marga Inge Barth Tessler, julg. 10.06.2003).
Apreciando a alegação de violação ao princípio da reserva legal decidiu o Superior
Tribunal de Justiça pela regularidade da regulamentação administrativa (grifei):
'ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL ARTIGO 105, INCISO III, 'A' E 'C; DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONMETRO. COMPETÊNCIA PARA
ESTACELECER CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS PARA APLICAÇÃO DE
PENALIDADES POR INFRAÇÃO A NORMAS REFERENTES À METROLOGIA.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
Da análise dos artigos 30, alínea 'f', e 90, da Lei n° 5.966, de 11 de dezembro de 1973,
que instituiu o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
conclui−se que a imposição de multa pela Resolução n. 02/82 do CONMETRO não
violou o princípio da reserva legal, uma vez que há expressa previsão em lei para que o
aludido órgão estabeleça critérios e procedimentos para aplicação de penalidades por
infração a normas e atos normativos referentes à metrologia, normalização industrial e
certificação de qualidade de produtos industriais. Divergência jurisprudencial não
demonstrada.
Recurso especial provido pela alínea 'a'.'
(REsp 273803/SP, ST], 2ª Turma, rel. Min. Franciulli Netto, julg. 08.10.2002, DJ
19.05.2003, p. 161).
A Lei nº 9.933, de 21/12/99, explicitou as competências do CONMETRO, além de
instituir a Taxa de Serviços Metrológicos, cabendo destacar:
Art. 2° O Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial −
Conmetro, órgão colegiado da estrutura do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, criado pela Lei nº 5.966, de 11 de dezembro de 1973, é competente
para expedir atos normativos e regulamentos técnicos, nos campos da Metrologia e da
Avaliação da Conformidade de produtos, de processos e de serviços.
§ 1° Os regulamentos técnicos deverão dispor sobre características técnicas de insumos,
produtos finais e serviços que não constituam objeto da competência de outros órgãos e
de outras entidades da Administração Pública Federal, no que se refere a aspectos
relacionados com segurança, prevenção de práticas enganosas de comércio, proteção da
vida e saúde humana, animal e vegetal, e com o meio ambiente.
§ 2° Os regulamentos técnicos deverão considerar, quando couber, o conteúdo das
normas técnicas adotadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Art. 3° O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial −
Inmetro, autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, criado pela Lei nº 5.966, de 1973, é competente para:
I − elaborar e expedir regulamentos técnicos nas áreas que lhe forem determinadas pelo
Conmetro;
II − elaborar e expedir, com exclusividade, regulamentos técnicos na área de Metrologia,
abrangendo o controle das quantidades com que os produtos, previamente medidos sem a
presença do consumidor, são comercializados, cabendo−lhe determinar a forma de
indicação das referidas quantidades, bem assim os desvios tolerados;
III − exercer, com exclusividade, o poder de polícia administrativa na área de
Metrologia Legal;
IV − exercer o poder de polícia administrativa na área de Avaliação da Conformidade,
em relação aos produtos por ele regulamentados ou por competência que lhe seja
delegada;
V − executar, coordenar e supervisionar as atividades de Metrologia Legal em todo o
território brasileiro, podendo celebrar convênios com órgãos e entidades congêneres dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para esse fim.
Art. 8° Caberá ao Inmetro e às pessoas jurídicas de direito público que detiverem
delegação de poder de polícia processar e julgar as infrações, bem assim aplicar aos
infratores, isolada ou cumulativamente, as seguintes penalidades:
I − advertência;
I I − multa;
I I I − interdição;
I V − apreensão;
V − inutilização.
Parágrafo único. Na aplicação das penalidades e no exercício de todas as suas
atribuições, o Inmetro gozará dos privilégios e das vantagens da Fazenda Pública.
Art. 9° A pena de multa, imposta mediante procedimento administrativo, obedecerá os
seguintes valores:
I − nas infrações leves, de R$ 100,00 (cem reais) até R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais);
II − nas infrações graves, de R$ 200,00 (duzentos reais) até R$ 750.000,00 (setecentos e
cinqüenta mil reais);
III − nas infrações gravíssimas, de R$ 400,00 (quatrocentos reais) até R$ 1.500.000,00
(um milhão e quinhentos mil reais).
§ 1º Na aplicação da penalidade de multa, a autoridade competente levará em
consideração, além da gravidade da infração:
I − a vantagem auferida pelo infrator;
II − a condição econômica do infrator e seus antecedentes;
I I I − o prejuízo causado ao consumidor.
§ 2° As multas previstas neste artigo poderão ser aplicadas em dobro em caso de
reincidência.
§ 3° O regulamento desta Lei fixará os critérios e procedimentos para aplicação das
penalidades de que trata o art. 8° e de graduação da multa prevista neste artigo.
§ 4° Os recursos eventualmente interpostos contra a aplicação das penalidades previstas
neste artigo e no art. 8° deverão ser devidamente fundamentados e serão apreciados, em
última instância, por comissão permanente instituída pelo Conmetro para essa
finalidade.
§ 5° Caberá ao Conmetro definir as instâncias e os procedimentos para os recursos, bem
assim a composição e o modo de funcionamento da comissão permanente.
Como se pode depreender do texto legal, portanto, a novel aprimorou a disciplina legal,
mas recepcionou o Regulamento Administrativo baixado pela Portaria 02/99 (que vigia
no momento da edição do novo diploma legal), pois quando um novo diploma legal é
editado, sob pena de haver um caos completo, toda regulamentação administrativa que
seja compatível é recepcionada de imediato. Assim, não pode ser acolhida a alegação de
falta de regulamentação para aplicação da Lei nº 9.933/99.
Passo agora a examinar a efetiva atuação da administração.
3. Anulação das autuações do INMETRO
3.1 Falta de cartaz com informação dos valores das taras indicadas na comercialização
do alimento a peso.
No processo administrativo nº 1052610, de 08/11/2001 a parte autora foi autuada em
razão de: 'falta de cartaz com informação do(s) valores de tara (s) utilizada(s) na
comercialização de alimento a peso para consumo imediato.'
De fato, nos termos do inciso III do artigo 60 do CDC, os consumidores tem direito a
uma informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços oferecidos.
Assim, é evidente que os fornecedores, fixando o preço das refeições com base no peso,
estariam obrigados a informarem o peso da tara utilizada no consumo do alimento.
Examinando−se o procedimento administrativo acostado, verifica−se que a parte autora
já havia sido notificada em 21/08/2001 (p. 71) da existência da irregularidade e que
deveria tomar providencias para sanar o problema. A demandante não contesta os fatos
limitando−se a alegar a inexistência de Lei que regulamentasse a aplicação das
penalidades, argumento que já foi rejeitado no item 2 da presente fundamentação.
Conforme assentado na contestação, aqui não está se discutindo a má−fé, nem a
intenção dos autores de prejudicar os consumidores, mas como a irregularidade pela
falta de informação adequada pode lesar o consumidor − o que inclusive ficou
demonstrado concretamente pela diferença de peso objeto do item seguinte − ficando
este impedido de saber se o que está sendo pago é o efetivamente devido, entendo que
não merece censura a conduta da administração.
3.2 Diferença de peso na Balança
Na inicial é alegado que as omissões seriam absolutamente insignificantes e que não
teria havido a indicação, nos laudos das diferenças verificadas, o que tornaria deficiente
a descrição da dita conduta infringente da legislação aplicada à espécie.
Ao contrário do afirmado, os dois autos de infração de nºs 1052498 e 1052499 e
1052610, apontam as diferença de peso dos recipientes, os quais teriam sido escolhidos
aleatoriamente: consoante os laudos de fls. 91 e 92, respectivamente, a medição do
INMETRO encontrou uma diferença de 15 gramas (peso na balança de 335g) e 30
gramas (peso na balança de 750g).
Pelo exame dos documentos acostados aos autos, é possível perceber que a fiscalização
do INMETRO apurou regularmente as infrações existentes, consistentes na diferença
entre o peso registrado na balança e o peso da taras utilizada no consumo do alimento.
As conclusões técnicas obtidas quando da autuação não foram infirmadas nem
administrativa nem judicialmente, não tendo o contribuinte comprovado que o peso das
taras havia sido corretamente programado nas balanças, razão pela qual o pedido
também é improcedente."
Dessa forma, nos termos da fundamentação antes transcrita, cujos argumentos adoto,
improcede o apelo.
Por esses motivos, conheço da apelação, negando−lhe provimento.
É o meu voto.
Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz
Relator”

O mesmo entendimento é observado na decisão da Justiça Federal do Espírito


Santo, onde o dispositivo da sentença da Exma. Dra. Juíza Federal da Sétima Vara Federal Maria
Claudia de Garcia Paula Allemand, em sede de Mandado de Segurança, 2001.50.01.001898-0,
assim ostenta, in verbis:

(...)
Em primeiro lugar, é de se dizer a mera lacuna regulamentar relativa aos critérios de
aplicação das penas de multa previstas pela Lei 9.933/99 não é suficiente para
desautorizar sua efetiva incidência.
Levando-se em conta que as infrações a que serão culminadas as referidas sanções são
previamente previstas, o só fato de não estarem regulamentados os critérios que as farão
subsumir-se em uma das categorias previstas pela Lei 9.933/99, em seu art. 9º, não pode
impedir que as mesmas sejam aplicadas.
Como é óbvio, constatado o cometimento de uma infração já tipificada pelo
ordenamento jurídico, a apuração de sua gravidade, tendo por base os grupos previstos
pelo dispositivo legal supracitado, levará a classificá-la, no máximo, como uma infração
de natureza leve.
Assim sendo e frente à inexistência das diretrizes que permitam a classificação da
infração em uma categoria mais grave que a de natureza leve, é de grande justeza – e
não pode ser encarada como motivo apto a ensejar a não aplicação das sanções – a
classificação de todas as infrações apuradas como leves. Ora, em sendo detectada uma
infração, a classificação mínima que alcançará a apuração de sua gravidade,
impreterivelmente, será a leve, pelo que não se está ferindo direito de nenhum
administrado quando, a todas as infrações, culminar-se as penalidades previstas para
essa categoria. A única exigência a ser feita é a de previsão legal das sanções (art. 5ª, II
da CRFB/88) e esta é perfeitamente observada pelos arts. 8º e 9º da Lei nº 9.933/99.
Impende ressaltar que, no presente caso, estão ausentes apenas os critérios que
permitiriam o enquadramento das infrações numa das categorias previstas pelos incisos
I, II, e III do art. 9º da lei sob comento. Quanto à dosagem da penalidade de multa
abstratamente contida no referido dispositivo, as diretrizes do § 1 º do art. 9º da Lei
9.933/99 são as que devem orientar os órgãos encarregados de sua concretização. Não
há lacuna neste ponto, como mostra o dispositivo em tela, verbis:
Art. 9o A pena de multa, imposta mediante procedimento administrativo, obedecerá os
seguintes valores:
(...)
§ 1o Na aplicação da penalidade de multa, a autoridade competente levará em
consideração, além da gravidade da infração:
I – a vantagem auferida pelo infrator;
II – a condição econômica do infrator e seus antecedentes;
III – o prejuízo causado ao consumidor.
(...)
De fato, a ausência de regulamento prejudica apenas a atuação da Administração em
sua função de repressão às condutas que a lei classifica como mais nocivas e impõe
multas mais pesadas, pelo que não há que se falar em sua inaplicabilidade por não
estarem regulamentadas.
Quanto à existência de vácuo normativo no que tange à regulamentação do
procedimento de julgamento de recursos, uma vez que o regulamento previsto pelo § 5 º
do art. 9º da Lei 9.933/99 ainda não foi editado, obstando a aplicação das penas de
multa, entendo que razão também não assiste à Impetrante.
De fato, como muito bem alegou o Impetrado, o procedimento de julgamento das
infrações, abrangendo inclusive os recursos não se encontra desprovido de
regulamentação.
O CONMETRO, por meio da Resolução n.º 2 de16 dezembro de 1998, delegou a
atribuição para a regulamentação dos procedimentos para processamento das infrações
ao INMETRO, e este, através da Portaria n.º 2 de 8 de janeiro de 1999, já expediu o
Regulamento para Processamento e Julgamento das Infrações nas Atividades de
Natureza Metrológica, de Normalização e Certificação da Conformidade de Produtos,
Processos e de Serviços, satisfazendo a exigência prevista pelo § 5 º do art. 9º da Lei
9.933/99.
Referido Regulamento normatiza todo o processamento e julgamento das infrações –
havendo, inclusive, expressa previsão sobre a possibilidade de interposição de recursos
– tendo sido recepcionado pela Lei n.º 9.933/99, exceto, obviamente, nos pontos em que
esta mesma dá as diretrizes procedimentais.
Deste modo, entendo que está em pleno vigor o regulamento em tela até que o
CONMETRO baixe um novo que venha a substituí-lo pelo que não há que se falar em
vazio normativo.
Isto posto, nos termos da fundamentação, DENEGO a segurança.
(grifos nossos)

Na mesma linha das decisões acima transcritas, em decisão recente, a 2 a Vara


Federal de Porto Alegre, no processo n 2002.71.00.011347-3 assim ostenta:

(...)
Impossibilidade de aplicação de multa, ante a ausência de regulamentação dos artigos 8 o
e 9o da Lei 9.933/99, de 1999
O fato de uma lei não ser regulamentada não impede, em tese, a sua incidência. A lei só
não incidirá se, por falta de regulamento, dela os destinatários não se puderem extrair
comandos normativos.
No caso em exame, a inexistência do regulamento a que se refere o §3 o do art. 9o da Lei
9.933/99, de 1999, não impede a aplicação da pena de multa nela prevista, porque o
Inmetro de um lado garante a ampla defesa e o contraditório, previstos na Constituição
Federal, e de outro lado considera as infrações como leves, para efeito de aplicação da
multa.
Assim, mesmo sem o regulamento, a lei pôde ser aplicada.
(...) (sic)

Das lições citadas extrai-se o entendimento que, a par da falta de regulamentação


das penas elencadas na lei, não há nada que impeça a aplicação da penalidade, tal como
efetivado.

E, conforme se depreende dos Quadros Demonstrativos para Estabelecimento de


Penalidade, documento que se faz presente no processo administrativo colocado à apreciação
Judicial, foram considerados os critérios estabelecidos no §1.° do art. 9.° da Lei 9.933/99.
Ressalte-se, ainda, que referido Quadro demonstrativo consiste em motivação suficiente e, a teor
do § 1.º, do art. 50, da Lei n.º 9.784/99, parte integrante do ato que instituiu a penalidade de
multa. Ainda, foi constatada a reincidência da Autuada, o que vem a constituir-se, segundo §2.°
do art. 9.° da Lei 9.933/99, em agravante às penalidades aplicadas.

Há que se considerar, ainda, que a multa imposta deve atender ao caráter


repressivo da pena, desestimulando e inibindo o Administrado a cometer novamente a mesma
infração. Ora, se os valores das penalidades de multa até então cobrados, ora combatidos pela
Autora, não foram suficientes a inibir a conduta ilegal da demandante, imagine-se, então, se
diminuídos ou atenuados os valores?

Não se pode, portanto, rotular-se de excessiva a penalidade que, até a


presente data, não conseguiu inibir a conduta irregular da Autora.

Assim, todas as circunstâncias, tanto as agravantes, quanto as atenuantes, foram


consideradas por ocasião da fixação da multa aplicada à autora. O procedimento de
estabelecimento de penalidade é ato administrativo discricionário balizado pelos parâmetros
fixados no art. 9o da Lei n. 9.933/99, restando evidente que a diminuição do valor da penalidade
pelo Judiciário representará, no máximo, a substituição da discricionariedade do Administrador
pela do Judiciário; com a grave conseqüência de que esta substituição representa violação da
esfera de competência daquele poder. Nesse sentido, HELY LOPES MEIRELES afirma:

O objeto, nos atos discricionários, fica na dependência da escolha do Poder


Público, constituindo essa liberdade opcional o mérito do Administrador. Não se pode,
pois, em tal elemento, substituir o critério do da Administração pelo pronunciamento do
Judiciário, porque isto importaria revisão do mérito administrativo, por simples
mudança de juízo subjetivo – o do administrador pelo do juiz – sem qualquer
fundamento em lei.
(...)
Em tais atos (discricionários), desde que a lei confia à Administração a escolha
e valoração dos motivos e do objeto, não cabe ao Judiciário rever os critérios adotados
pelo administrador, porque não há padrões de legalidade para aferir essa atuação.
(Direito Administrativo Brasileiro, 25ª ed., Cap. IV).

Ao Poder Judiciário é permitido perquirir todos os aspectos de legalidade e


legitimidade para descobrir e pronunciar a nulidade do ato administrativo onde ela se encontre, e
seja qual for o artifício que a encubra. O que não se permite ao Judiciário, segundo
posicionamento jurisprudencial e doutrinário, é pronunciar-se sobre o mérito administrativo, ou
seja, sobre a conveniência, oportunidade, eficiência, ou justiça do ato.

Assim agindo, está emitindo pronunciamento de administração, e não de


jurisdição judicial. O mérito administrativo relacionado com elementos técnicos, consoante o
caso em voga, refoge do âmbito do Poder Judiciário.

O legislador, atento à especificidade da matéria em voga, expressamente outorgou


ao Inmetro a competência para aplicar a penalidade. Confirmando a legitimidade do Inmetro
para mensuração e aplicação da penalidade de multa, é o posicionamento adotado pelo STJ:

ADMINISTRATIVO. APLICAÇÃO DE PENALIDADE. MULTA. ART. 8º, INC. II, DA


LEI N. 9.933/99. COMPETÊNCIA DO INMETRO FIRMADA NA LEI DE REGÊNCIA.
RECURSO ESPECIAL MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE.
I - É manifestamente improcedente o recurso especial se busca o recorrente a declaração
de incompetência do INMETRO para aplicar penalidade a infratores, com esteio em Lei
de 1973, se existente norma federal datada de 1999 concedendo-lhe, expressamente,
competência para tanto (Lei n. 9.933/99, Art. 8º. "Caberá ao Inmetro e às pessoas
jurídicas de direito público que detiverem delegação de poder de polícia processar e
julgar as infrações, bem assim aplicar aos infratores, isolada ou cumulativamente, as
seguintes penalidades: (...) II – multa (...). Parágrafo único. Na aplicação das
penalidades e no exercício de todas as suas atribuições, o Inmetro gozará dos privilégios
e das vantagens da Fazenda Pública").
II - Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 665259/CE, Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, DJ
21.03.2005 p. 276)

Assim, tendo o Legislador outorgado ao Inmetro o exercício de mensuração da


penalidade, não é lícito ao Poder Judiciário, extrapolando a análise de legalidade e legitimidade,
sob o equivocado pretexto de que ausente de fundamentação, imiscuir-se na atividade própria da
Administração, para, segundo critérios desconhecidos, alterar o valor da multa.

A rigor, ao Poder Judiciário cabe, sob análise estritamente de legalidade e


legitimidade, anular ou validar o ato administrativo e nunca substituir a função administrativa.
Trata-se de simples delimitação de competências: ao Executivo cumpre, nos termos dos arts. 8.º
e 9.º da Lei 9.933/99, aplicar e mensurar penalidades, enquanto que, ao Judiciário, anular ou
validar o ato, respeitada a discricionariedade conferida à Administração.

A respeito do assunto, veja-se o posicionamento adotado pelo E. Tribunal


Regional Federal-4.º Região:
ADMINISTRATIVO. INMETRO. MULTA. PROCESSO ADMINISTRATIVO.
- A escolha da penalidade aplicável é atividade administrativa enquadrada no âmbito do
poder discricionário da autoridade fiscalizadora do INMETRO .
- Não se legitima a intervenção do Judiciário no exame da conveniência e oportunidade
da escolha da sanção aplicada (mérito do ato administrativo sancionador), podendo
apenas ser apreciado eventual desvio de finalidade ou de competência.
- A multa aplicada à Autora adequa-se aos parâmetros legais (art. 9.°, cabeça, da Lei
n.o 9.933/99), inexistindo incompetência administrativa da autoridade fiscalizadora do
INMETRO , a quem, nos termos do art. 8.°, cabeça, da Lei n.o 9.933/99 incumbe a
aplicação da sanção legal por descumprimento às normas técnicas editadas pelo
CONMETRO.
- "O INMETRO possui atribuição legal para processar e julgar as infrações, bem assim
aplicar aos infratores, isolada ou cumulativamente, as seguintes penalidades, entre as
quais a questionada pena de multa , consoante expressamente previsto no art. 8º, inc. II,
da Lei nº 9.933, de 20 de dezembro de 1999". (AC 2004.71.03.000786-9/RS, 3ª Turma,
Relator VÂNIA HACK DE ALMEIDA, DJU 06/09/2006, p. 778)
- Instaurados processos administrativos, foi oportunizada ampla defesa, conforme se vê
nos documentos que acompanham a impugnação, trazidos pelo INMETRO.
- Responsabilidade da empresa é objetiva, por se tratar de proteção aos direitos do
consumidor (artigos 12 e 18 da Lei n° 8.078/90).
Mantida integralmente a sentença recorrida.
(AC n.º 2007.71.99.007197-1/RS, 3.ª Turma do TRF-4, Des. Federal CARLOS
EDUARDO THOMPSON FLORES LENZ, DE 02.08.2007)

Assim, afirma-se que os critérios legais para a fixação da multa foram


rigorosamente respeitados.

PREQUESTIONAMENTO

Desde já, requer-se o prequestionamento dos artigos 8.° e 9.° da Lei 9.933/99 e §
1.º, do art. 50, da Lei 9.784/99, a fim de evitar-se negativa de vigência a artigo de lei federal.

CONCLUSÃO

Sejam julgados improcedentes os embargos à execução e ações anulatórias, que


se pretende discutir o mérito do ato administrativo de imposição de penalidade de multa.

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