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Um breve comentário sobre o conceito de cultura em Bauman

Lucas Moreira

Palavras-chave: cultura; Zygmunt Bauman; conceito.

Em sua obra intitulada “Ensaios sobre o conceito de cultura” (1973), Zygmunt


Bauman (1925 - 2017), filósofo e sociólogo polonês, apresenta uma tentativa de
apreensão do termo “cultura” que, ao longo de um grande espaço de tempo – da
filosofia grega até os debates antropológicos pós-colonialismo – tem sido fortemente
debatido e ainda é alvo de grandes ambiguidades.

Sua obra é dividida em três capítulos, no qual sendo esta resenha referente
ao primeiro. No primeiro capítulo – Cultura como conceito – Bauman apresenta os
processos de modificação da noção de “cultura”, bem como os vários significados
que esta adquiriu ao longo da História. No segundo capítulo – A cultura como
estrutura – busca relacionar a cultura com a forma de organização e estruturalização
das sociedades. Já no terceiro capítulo – A cultura como práxis – relaciona a cultura
às ações humanas, como ações livres de qualquer força unicamente coletiva e, no
sentido durkheimiano, coercitivas.

Para trabalhar com a noção de “cultura”, Bauman inicia dividindo esta em três
perspectivas – ou univers du discours1 – diferentes – e a seu ver, relevantes – de
manifestação ao longo da História. Num primeiro universo, a cultura aparece como
um “conceito hierárquico”, isto é, como fator de organização e estratificação dos que
possuem e dos que não possuem “cultura”. Fortemente marcada na filosofia grega,
no qual se tem um princípio de organização e “crescimento” natural (physis) dos
homens, a cultura como fator hierárquico aparece à medida que se constrói um perfil
de indivíduo ideal, civilizado e moralmente bom – isto é, condizentes com os
princípios de moralidade e bondade desse contexto – e que esta cultura (de modelo
ideal de homem) seria herdada conforme fosse apresentada ao indivíduo –
semelhante à abordagem bourdieusiana de capital cultural herdado. Assim, herdava-
1Universo de discurso. Bauman utiliza este termo ao referir-se a diferentes contextos que a noção de
cultura é utilizada.
se a política, os bons costumes, as virtudes, e todos os atributos que hierarquizavam
as personalidades e características humanas dotadas ou não de cultura.

Num segundo momento, Bauman apresenta a cultura como um “conceito


diferencial”, isto é, como um conjunto de elementos (práticas, símbolos, crenças,
etc.) que é crucial para a diferenciação das sociedades. Em outras palavras,
conforme este conjunto de elementos se diferencia, diferenciam-se, também, as
sociedades uma das outras. Esta noção, fortemente enraizada na antropologia,
desde sua remota origem, até suas mais atuais teorizações, é construída não
somente por aspectos humanamente inócuos, mas é influência de condições
ambientais, econômicas, raciais, etc.

No terceiro e último momento, Bauman aborda o “conceito genérico” de


cultura, isto é, o conceito de cultura como fator decisivo de diferenciação entre
humanos e o demais animais. Em outras palavras, a cultura é um elemento único do
ser humano, este é o único capaz de construir meios e ferramentas, atribuir
símbolos e significados às coisas.

A obra continua, então, apresentando as diferentes formas que a cultura se


sustenta, ora como estrutura ora como prática, mas ainda assim, deixando
inacabada a árdua tarefa de conceituar, com precisão e total aceitação, o que
significa “cultura”.

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