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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Unidade II
5 AUTOFORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE SOCIOLOGIA

Algumas questões devem ser discutidas quando se fala em autoformação continuada: idealmente
o professor de Sociologia é um sociólogo, o que significa que ele concluiu sua formação acadêmica, fez
seu registro profissional, concluiu a licenciatura, prestou e foi aprovado em algum concurso e finalmente
está exercendo a profissão à qual dedicou parte de sua juventude com os estudos e trabalhos exigidos.

Dentre várias possibilidades, duas aparecem de pronto: a) ele pretende continuar na docência e
pesquisa, partindo para o Ensino Superior, com pós‑graduação, mestrado, doutorado etc; b) ele pretende
continuar no Ensino Médio, eventualmente assumindo aulas em mais de uma escola, ou mais aulas na
mesma escola.

O risco dessa segunda opção reside na rotina empobrecedora, que se torna medíocre com o tempo,
e não com muito tempo. Logo esse professor estará procurando meios para se motivar no trabalho, para
se atualizar, aperfeiçoar suas práticas pedagógicas etc.

É nesse momento que se colocam questões relacionadas aos programas de autoformação continuada.
Todavia, quais recursos estão disponíveis ao professor para que ele se comprometa com um programa de
autoformação continuada? Mas, antes de tudo, o que se pode entender por autoformação continuada?

Primeiramente a expressão “formação continuada” aparece na bibliografia associada à pedagogia das


competências, reflexo da política neoliberal. Vários trabalhos apresentados no VIII Congresso Estadual
Paulista sobre Formação de Educadores, realizado em 2005 pela Unesp, em Marília, apontaram nessa
direção, ou como afirmava Brabo (2005), reportando‑se a Santos Filho, as contradições existentes entre
um discurso democrático e uma prática pedagógica discriminadora persistem no sistema educacional,
mas a solução não se encontra na formação dos professores, porque

[...] tais contradições, que ainda persistem, resultam da pretensão das


sociedades democráticas capitalistas de criar um sistema de igualdade política,
a democracia, num sistema de desigualdade econômica, o capitalismo,
marcado pela desigualdade social, cultural e política (BRABO, 2005).

A articulação entre a política neoliberal, a pedagogia das competências e a formação continuada dos
professores, segundo Silva (2005), fez-se notar ainda mais nítida:

A partir da década de [19]90, a denominada “década da educação”, [quando]


houve um aprofundamento das políticas neoliberais[,] que passaram a usar
outras estratégias de regulação como a pedagogia das competências, [o]
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professor reflexivo, a formação continuada, a fim de continuar sustentando o


capitalismo que se baseia no acúmulo e no lucro imediato (SILVA, 2005, p. 188).

Em outros termos, a formação continuada “entraria para reparar lacunas na formação inicial,
contribuindo ainda mais para o aligeiramento dos cursos e justificando a criação de cursos curtos
que teriam como alicerce a experiência prática profissional (SILVA, 2005, p. 190)”. Enfim, a formação
continuada permitiria aperfeiçoar e adaptar às novas condições instaladas com um eventual “avanço
das tecnologias” um conteúdo que a formação inicial, para não dizer básica, não pode proporcionar.

A reflexão de Ghedin (apud Silva, 2005, p. 190) é particularmente significativa quando se tem por
tema a formação continuada de professores de Sociologia. Para Ghedin, “o trabalho docente implica
fazer uma tarefa intelectual, um saber fazer”. Ele define o professor “como um intelectual transformador,
aquele que é capaz de desvendar o oculto que nos é apresentado como natural”. Praticamente são essas
as palavras empregadas para descrever a desnaturalização do mundo, elemento da metodologia do
ensino de Sociologia, conforme Moraes (2010). Nesses termos, a formação do professor de Sociologia
não corresponde ao esperado pela pedagogia da competência, na medida em que ela, segundo Silva
(2005, p. 190), “quer transformar o professor naquele que deve apenas ensinar o que as crianças
precisam aprender (habilidades, técnicas, capacidades)”, reduzindo o processo de ensino à instrução.
Enfim, completa Silva (2005, p. 190‑1):

O papel do professor, na visão neoliberal, restringe‑se em o que, e como


ensinar. Essa visão restrita de educação difundida por Schon (1997) e seus
seguidores alastrou‑se na Formação continuada de professores na década
de [19]90 e salienta uma prática reflexiva, pois considera que o professor
precisa é dominar e inventar métodos para responder às necessidades de
cada aluno, tendo assim uma habilidosa prática de ensino.

Desse modo, essa concepção neoliberal se torna incompatível com a formação e papel do professor de
Sociologia no Ensino Médio, embora seja importante a atualização de conhecimentos, a busca por recursos mais
adequados para ensino, e a formação continuada, nesse caso, pressupõe reflexão e práxis consciente do sujeito.

Observando o quadro a seguir, retirado da publicação O olhar do professor para a formação contínua
em um cenário de projetos, de Ishihara e Diniz (2005), pode‑se concluir que, no caso do professor de
Sociologia, o perfil de seu fazer corresponde a duas das perspectivas apontadas: a acadêmica e a da
reflexão prática para reconstrução social.

Quadro 2

Perspectiva Ensino Professor Formação dos professores


Processo de transmissão de Especialista numa ou em Proporcionar domínio no
Acadêmica conhecimentos e de aquisição da várias áreas disciplinares conteúdo da disciplina
cultura acumulada
Aquisição de princípios e práticas
Técnica Ciência aplicada Técnico decorrentes da investigação

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Atividade complexa, singular, Artesão, artista ou Aprendizagem da prática, para a


Prática imprevisível e conflituosas, que profissional clínico prática e a partir da prática
demanda opções éticas e políticas
Desenvolvimento de: capacidades
Reflexão na Atividade crítica, uma prática social Profissional autônomo que de refletir criticamente sobre a
Prática para impregnada de opções de caráter reflete criticamente sobre prática, de atitudes de busca,
Reconstrução ético a prática cotidiana crítica, trabalho solidário, iniciativa
Social (compromisso político)

Adaptado de: Diniz (2005, p. 270).

Consequentemente o ensino implica atividade crítica, marcada pelo caráter ético, e empregada no
processo de transmissão e aquisição de conhecimentos. Esse professor‑sociólogo é especialista na sua
disciplina, mas também trafega com relativa facilidade nas disciplinas conexas; sempre afeito à prática
social no cotidiano da sociedade brasileira, ele mantém o compromisso político com a democracia e,
pode‑se dizer, com uma sociedade mais igualitária e inclusiva.

As autoras comentam, concluindo o texto da pesquisa, que “os dados reforçaram a ideia do professor
como autor do seu projeto de formação, pois [...] percebe‑se a individualidade na construção ou não
construção de projetos individuais pelas professoras (ISHIHARA; DINIZ, 2005).” Isso significa que
professores não são submissos aos projetos de formação, mas à existência anterior de projetos pessoais
de formação. Isso significa que:

A ação do formador pode influenciar, interferir e ajudar no estabelecimento


de projetos dos professores. Estabelece‑se assim uma nova dimensão para
o trabalho dos formadores: ajudar os professores a enxergarem novas
possibilidades, a ganharem força para cruzarem fronteiras e a definirem seus
projetos de formação. Para isso, o formador precisa estar atento aos possíveis
projetos pessoais de formação dos professores, focalizando encaixes e zonas de
interferência, ou seja, cabe a ele se perceber em um cenário repleto de projetos,
[os] seus e de cada um dos professores, para posicionar‑se de modo a perceber o
olhar do professor para a formação contínua (ISHIHARA; DINIZ, 2005).

Essas conclusões são convergentes com os resultados parciais de estudos desenvolvidos por Loss
(2015), relacionados à autoformação no processo de formação do profissional de educação. A autora
levanta uma série de questões instigantes e pertinentes sobre a relação entre formação inicial no curso
superior e a autoformação continuada. Para a autora (2015, p. 5):

A autoformação é um processo significativo para despertar os sujeitos à


ampliação da consciência, ou seja, à tomada de decisões frente a maneira
de ser e de se relacionar consigo mesmo e com o outro. Ela possibilita o
autoconhecimento das subjetividades humanas para a constituição da
sensibilização e da autotransformação do eu individual e coletivo.

Dessas colocações, decorre que a autoformação é concebida como dimensão do processo de


subjetivação, ou, de construção do sujeito, em campo ético, envolvendo não somente a racionalidade,
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mas também as emoções. Essa complexidade combinada entre razão e emoção é sintetizada por Morin
(2007, p. 122): “A vida humana necessita da verificação empírica, da correção lógica, do exercício racional
da argumentação. Mas precisa ser nutrida de sensibilidade e de imaginário”. Assim, conclui Loss (2015, p.
18): “[...] a autoformação instiga o educador à autonomia intelectual, ao compromisso científico e social,
como expressão de um profissional que pensa e tem o que dizer a partir da reflexão coletiva”.

Observação

Deve‑se notar que, em relação ao professor‑sociólogo, a autoformação


corresponde mais a um projeto pessoal de formação que a um modelo de
desempenho de algum protocolo de atividades.

Partindo de todos esses elementos, quais seriam os recursos disponíveis para o professor‑sociólogo
delinear seu projeto de autoformação continuada?

5.1 Recursos para autoformação continuada do professor de Sociologia

Não são muitos recursos para uma autoformação continuada, mas vale a pena explorar algumas
indicações, como a participação em organizações científicas, no Brasil, segundo o site da Sociedade
Brasileira de Sociologia:

A SBS tem duas categorias de sócios: efetivo e graduado.

Para ser sócio efetivo na SBS, você deve (a) ser portador da titulação
mínima de mestre na área de Ciências Sociais ou em áreas de interface, (b)
exercer atividades de ensino e pesquisa no campo das Ciências Sociais em
instituições de ensino superior ou institutos de pesquisa, ou ainda (c) ter
uma produção científica considerada relevante em Sociologia.

Para ser sócio graduado na SBS, você deve ser graduado em Ciências
Sociais, Sociologia, Antropologia, Ciência Política ou áreas afins, a critério da
Comissão de Admissão, e não ter obtido título de mestre ou doutor numa
das áreas especificadas.

A admissão aos quadros sociais como associado far‑se‑á mediante proposta


apresentada à Diretoria e a aprovação da Comissão de Admissão, que se
reúne durante os encontros anuais da ANPOCS e durante os Congressos
Brasileiros de Sociologia. Aceito o pedido de ingresso, sua filiação será
efetivada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA, [s.d.]).

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Saiba mais

A Sociedade Brasileira de Sociologia edita a tradicional Revista Brasileira


de Sociologia (RBS), consulte o link a seguir:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA (SBS). Revista brasileira de


sociologia. [s.d.]c. Disponível em: <http://www.sbsociologia.com.br/
revista/index.php/RBS/>. Acesso em: 15 set. 2016.

A Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS) surgiu das precárias e difíceis condições
que se apresentavam para bacharéis e licenciados em Ciências Sociais em relação ao ensino de Ciências
Sociais, notadamente Sociologia. É interessante ressaltar que, no histórico da fundação da entidade,
as questões relacionadas ao ensino de Ciências Sociais foram centrais. Conforme relato da Associação:

[...] Ainda que contasse com o trabalho sério e dedicado de um grupo de


professores universitários da área de ciências sociais, a realidade apontava
para certa “invisibilidade” do debate sobre o ensino de sociologia na escola
nos departamentos de sociologia, antropologia e ciência política [...]. Mesmo
com alguns avanços provenientes da luta de setores universitários no âmbito
de entidades acadêmicas, como a Sociedade Brasileira de Sociologia, os
espaços de discussão e produção de conhecimento sobre didática, currículo
e formação docente[,] ainda se encontravam marginalizados na maioria
de nossas universidades e em eventos acadêmicos científicos das áreas de
ciências sociais e educação (ABECS, 2012b).

A situação se agravou, compartilhada por professores universitários ligados à licenciatura, indicando


a oportunidade de criação de um espaço acadêmico e profissional.

Foi assim que, em 2011, de um e‑mail‑convite de Flávio Sarandy a cerca de 20 colegas, ocorreu um
manifesto a favor da criação da Sociedade Brasileira de Ensino de Ciências Sociais:

[...] provocado por um e‑mail‑convite sugerindo que se lançasse a proposta


pública de uma nova associação [...] [o manifesto deu origem a um] grupo
virtual com a participação de mais de 350 pessoas (com cerca de 80 bastante
atuantes em trocas de mensagens diárias), onde as bases da associação
foram erigidas, inclusive o seu estatuto e nome. Nesse sentido, apostando
na utilização da internet como espaço de comunicação e interação, tendo
em vista as proporções continentais do Brasil e a intensificação do trabalho
docente em todos os níveis, foi construída uma lista virtual de discussão
com professores e estudantes de graduação e pós‑graduação de todo o país
(ABECS, 2012b).

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Unidade II

A partir da crescente adesão de colegas dos mais diferentes cantos do Brasil, foi construída a
assembleia de fundação da nova entidade, no dia 11 de maio de 2012, na Unidade Humaitá do Colégio
Pedro II, um dos primeiros estabelecimentos do país a ofertar Sociologia escolar; na cidade do Rio de
Janeiro, foi fundada a Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS). Conforme o Art. 3º
dos Estatutos, a ABECS tem como finalidades e objetivos:

I – Congregar os profissionais que atuem no magistério ou pesquisem


sobre o ensino da Sociologia/Ciências Sociais, em todos os níveis e
segmentos, a saber: educação básica, graduação e pós‑graduação, lato
sensu e stricto sensu;

II – Apoiar a expansão da disciplina Sociologia/Ciências Sociais na Educação


Básica, que deve ser ministrada exclusivamente por licenciados em
Sociologia/Ciências Sociais;

III – Denunciar e combater ações e políticas públicas que direcionem ou


estimulem os licenciados em Sociologia/Ciências Sociais à docência na
Educação Básica em outras áreas do conhecimento (tais como História,
Geografia, Filosofia, Pedagogia, etc.);

IV – Denunciar e combater ações e políticas públicas que direcionem ou


estimulem os licenciados em outras áreas do conhecimento (tais como
História, Geografia, Filosofia, Pedagogia, etc.) à docência de Sociologia/
Ciências Sociais na Educação Básica;

V – Apoiar eventos dedicados às atividades de ensino, pesquisa e extensão


relacionadas direta ou indiretamente ao ensino da Sociologia/Ciências
Sociais em todo território nacional;

VI – Discutir a formulação, implementação, execução e avaliação de políticas


públicas de educação, sobretudo, as voltadas ao ensino da Sociologia/
Ciências Sociais, e posicionar–se em relação a elas;

VII – Promover o diálogo entre as ciências de referência da área das Ciências


Sociais, (Antropologia, Ciência Política e Sociologia), a Educação e áreas
afins, com vistas ao desenvolvimento do ensino da Sociologia/Ciências
Sociais, estimulando os seus membros a participarem e contribuírem em
diferentes fóruns, associações científicas e demais eventos que tratem de
assuntos relativos ao ensino da Sociologia/Ciências Sociais;

VIII – Zelar pelos interesses comuns de seus associados no que


concerne às atividades do ensino de Sociologia/Ciências Sociais nas
suas variadas dimensões;

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IX – Atuar na obtenção de recursos para o suplemento de atividades


relevantes para a área, em especial nos âmbitos do ensino, da pesquisa,
desenvolvimento teórico metodológico e formação;

X – Apoiar e dispor de veículos de divulgação da produção didático–científica


da área;

XI – Apoiar e promover a formação dos profissionais que atuam no ensino


de Sociologia/Ciências Sociais em todos os níveis, modalidades e segmentos
de ensino;

XII – Apoiar e promover a pesquisa acerca do ensino da Sociologia/Ciências


Sociais, em todas as temáticas, abordagens e paradigmas de interesse de
seus membros;

XIII – Estimular a parceria, o diálogo local, regional, nacional e internacional,


bem como a solidariedade entre os diferentes segmentos sociais, participando
com outras organizações de atividades que visem a interesses comuns;

XIV – Subsidiar e divulgar a pesquisa educacional vinculada ao ensino da


Sociologia/Ciências Sociais no âmbito das Instituições de Ensino Superior
(IES), instituições de pesquisa, e outras congêneres;

XV – Atuar como fórum de debates, contribuindo para uma avaliação


sistemática e fundamentada das ações realizadas no setor e posicionar–se
em defesa do interesse público[,] encaminhando propostas e sugestões a
órgãos que efetivam políticas públicas ou ações de formação, pesquisa e
ensino da Sociologia/Ciências Sociais;

XVI – Promover o contato entre as (IES) e as de ensino fundamental e médio


visando à troca de experiências educacionais entre elas;

XVII – Apoiar o desenvolvimento da educação em geral na sociedade brasileira,


contribuindo para o seu aprimoramento democrático (ABECS, 2012a).

Embora a participação em associações profissionais seja decididamente importante para vinculação ao


grupo de sociólogos‑professores, é evidente que apenas a participação em associações científicas não assegura
uma “formação continuada”, para isso é necessário cursar uma pós‑graduação, de preferência, stricto sensu.

Outra forma importante reside na participação, via cadastro, em Laboratórios de Ciências Sociais ou
de ensino de Sociologia. A seguir, são apresentadas algumas sugestões:

• Laboratório de Ensino de Sociologia Florestan Fernandes (LabES), na Faculdade de Educação da


Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Unidade II

Saiba mais

Para consultar o site do LabES, acesse:

<http://www.labes.fe.ufrj.br/>.

O LabES é um espaço para professores, estudantes e pesquisadores terem acesso ao material


disponível sobre o ensino de Sociologia na Educação Básica. Legislação, artigos, teses, dissertações,
materiais didáticos, conteúdos programáticos, experiências didáticas estão à disposição, fazendo com
que o LabES se constitua em uma importante ferramenta de trabalho a todos os interessados na história,
no ensino e na formação do professor de Sociologia.

No site, há conteúdos sobre Didática e Prática de Ensino em Ciências Sociais, registro dos temas
tratados nos Encontros Estaduais de Ensino de Sociologia (Ensocs) de 2010 e 2014; além de artigos e
teses sobre o ensino de Ciências Sociais no nível médio.

• Laboratório de Ensino de Sociologia (LES) – Departamento de Sociologia da USP

Saiba mais

Acesse o site do Laboratório de Ensino de Sociologia:

<http://ensinosociologia.fflch.usp.br/>.

O LES foi criado por meio de subsídios da Pró‑Reitoria de Graduação e Departamento de Sociologia
da USP. Tem como objetivo contribuir para a formação continuada de professores de Sociologia do
Ensino Médio, tanto os licenciados e bacharéis em Ciências Sociais como os oriundos de outras áreas de
conhecimento. A iniciativa parte do entendimento de que as Ciências Sociais contribuem decisivamente
para a reflexão cotidiana, desde os problemas macrossociais até os infinitamente pequenos.

Entre os projetos do LES[,] está o site USP ensina Sociologia, por meio do
qual pretende‑se:

• fornecer bibliografia orientada para aprofundamento de estudos em


Antropologia, Ciência Política e Sociologia;

• fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de materiais didáticos para


utilização em sala de aula;

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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

• estimular a troca de informações e experiências entre professores do


Ensino Médio e alunos da Licenciatura em Ciências Sociais;

• possibilitar aos professores formados em outras áreas maior contato


com os conteúdos específicos das Ciências Sociais (USP ENSINA
SOCIOLOGIA, [s.d.]).

Os textos didáticos disponíveis cobrem os assuntos que integram a programação do ensino, como:
Arqueologia, Ciência Política, Classes Sociais e conceitos sociológicos fundamentais como consumo,
corpo e sexualidade, corrupção, cultura indígena, democracia, diversidade cultural, estudos rurais e
urbanos, folclore, formação cultural brasileira, gênero, ideologia, industrialização, juventude, literatura
e sociedade, massa, migrações, movimentos sociais, populismo, raça e identidade, redes sociais, relações
internacionais, religião, socialização, sociedade civil, trabalho, violência.

Saiba mais

Consulte o trabalho acadêmico a seguir:

LEODORO, S. A. P. A disciplina Sociologia no ensino médio: perspectivas


de mediação pedagógica. 2009. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

• Unifesp – Ensino de Sociologia:

O site “Ensino de Sociologia” é uma iniciativa experimental e colaborativa


realizada no âmbito das disciplinas de Estágio Supervisionado da Licenciatura
do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo.

Trata‑se de um recurso de coprodução (entre professores e estudantes),


sistematização e compartilhamento de informações, metodologias, recursos
educacionais, notícias, projetos e relatórios de pesquisa, relacionados ao
ensino‑pesquisa de Ciências Sociais na Educação Básica (SOBRE..., 2016).

Saiba mais

Acesse o site:

SOBRE o site. Ensino de Sociologia, 2016. Disponível em: <https://


ensinosociologia.milharal.org/sobre‑o‑site/>. Acesso em: 19 set. 2016.

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• Grupo de Apoio ao Ensino de Sociologia (Gaes) da Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Saiba mais

O link do Gaes sobre o ensino de Sociologia:

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. O ensino de Sociologia.


Londrina, [s.d.]. Disponível em: <http://www.uel.br/grupo‑estudo/gaes/
pages/o‑ensino‑da‑sociologia.php>. Acesso em: 20 set. 2016.

O Gaes, em sua versão digital, disponibiliza materiais para aulas de Sociologia no Ensino Médio com
a finalidade de colaborar com os professores e alunos em suas experiências de ensino‑aprendizagem.

O material é produzido por professores do Departamento de Ciências Sociais da UEL que integram,
ou integraram, este projeto de extensão que se desenvolve desde o início dos anos 1990.

• Laboratório de Ensino de Sociologia (Lesoc) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Saiba mais

Acesse o Lesoc pelo site a seguir:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU). Laboratório de Ensino


de Sociologia. Uberlândia, 2012 Disponível em: <http://www.lesoc.incis.
ufu.br/>. Acesso em: 20 set. 2016.

O Lesoc do Instituto de Ciências Sociais (Incis) foi criado em 2000 para atender às recomendações
do MEC relacionadas à licenciatura em Ciências Sociais. Seu funcionamento, desde então, esteve
diretamente associado às atividades das disciplinas pedagógicas, em especial àquelas oferecidas pelo
Incis. A proposta do Lesoc é contribuir com a prática docente das Ciências Humanas, de uma maneira
geral, e de Sociologia no nível médio, em particular, uma vez que é objetivo da licenciatura formar
professores para essa etapa da Educação Básica.

• Laboratório Virtual e Interativo de Ensino de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio


Grande do Sul

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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Saiba mais

Acesse o site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS).


Laboratório Virtual e Interativo de ensino de Ciências Sociais (Laviecs).
Porto Alegre, [s.d.]. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/laviecs2/>.
Acesso em: 20 set. 2016.

Observação

Os endereços eletrônicos aapresntados têm em comum o trabalho de


profissionais, de sociologia e disciplinas afins, voltado para a formação
do sociólogo e, em especial, visando à atuação do sociólogo‑professor de
Sociologia. Trata‑se de uma colaboração significativa que não deve ser
desprezada pelos estudantes de Sociologia.

5.2 A integração do professor de Sociologia na comunidade científica


nacional e internacional

Anteriormente, tratou‑se, de forma geral, a questão da integração do professor de Sociologia na


comunidade científica. Importante acrescentar alguns aspectos, tendo em vista que eles dizem respeito às
condições sociológicas e culturais do processo de integração a algum grupo, e os sociólogos não são diferentes.

5.2.1 A comunidade científica nacional

A rigor, comunidade científica é uma expressão vaga: cientistas são químicos, físicos, assim como
também sociólogos, antropólogos etc. Qual comunidade científica que, no Brasil, reúne a todos? A
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Especificamente de Ciências Sociais, além da SBS, há a Associação Nacional de Pós‑Graduação e


Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), fundada em 1977. Conforme o site da entidade:

Diferentemente de outras associações científicas, a Anpocs é composta por


sócios institucionais[,] e não por pesquisadores individuais. Nossos afiliados
contam com mais de 1200 professores universitários e pesquisadores,
profissionais de alto nível, além de milhares de estudantes de mestrado e
doutorado em centros localizados de norte a sul do país. [...] A associação
mantém o mais importante periódico de sua área no Brasil – Revista Brasileira
de Ciências Sociais (RBCS) –, contando também com números especiais em
inglês (ANPOCS, [s.d.]).

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Outras associações importantes no ambiente científico de ciências sociais são: Associação Brasileira
de Antropologia (ABA) e a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP).

Saiba mais

CNPq e Capes oferecem no site a seguir a avaliação dos livros publicados


em Sociologia e Ciências Sociais:

COMISSÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DO NÍVEL SUPERIOR


(CAPES). Classificação de livros. [s.d.]. Disponível em: <http://www.avaliacao
trienal2013.capes.gov.br/classificacao‑de‑livros>. Acesso em: 20 set. 2016.

5.2.2 A comunidade científica internacional

Em princípio, será necessário o domínio de uma língua, de preferência, o inglês ou o espanhol.


Contudo será mais adequado estar familiarizado com os temas e assuntos que estão sendo discutidos, e
uma forma de obter informações será o levantamento das publicações internacionais em Sociologia (a
maioria delas está disponível na internet).

Saiba mais

Algumas publicações internacionais sobre Sociologia podem ser


acessadas:

THE AMERICAN JOURNAL OF SOCIOLOGY. Chicago: The University of


Chicago Press. jul. 1904/maio 1905. Disponível em: <https://archive.org/
details/americanjournalo10chicuoft>. Acesso em: 20 set. 2016.

<http://www.thesociologicalreview.com/>.

Uma publicação francesa sobre Sociologia é a Revue Française


de Sociologie:

<http://www.rfs‑revue.com/>.

Enfim, pensar em integração à comunidade científica, seja nacional ou não, implica dispor tempo
e recursos financeiros para se inscrever em uma pós‑graduação, fazer o mestrado para, finalmente, ser
considerado um “dos pares” daquele grupo. Evidentemente que a integração na comunidade científica
implica ser cientista ou pelo menos pretender sê‑lo.

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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

6 A ÉTICA PROFISSIONAL DO SOCIÓLOGO

Pode‑se perguntar: qual é a razão de discutir Código de Ética? Mas o fato é que o sociólogo se
vê, muitas vezes, durante uma pesquisa, com situações que envolvam práticas de comportamento,
informações que não devem ser divulgadas e, principalmente, com algumas questões: o que fazer com
os arquivos de entrevistas que fundamentaram um trabalho? Nas fichas do arquivo, constam nomes,
datas, eventualmente imagens, fotos. Assim, esse material pode ser passado para outro pesquisador?
Será que os entrevistados autorizaram a divulgação, ou as informações tiveram caráter de exclusividade?
Para dirimir essas dúvidas, e normatizar corretamente as práticas profissionais, são apresentadas duas
versões das normas que regem, ou deverão reger, o comportamento profissional do sociólogo.

A primeira é mais formal, visa ao exercício da profissão: direitos, deveres, regras de conduta em relação
aos demais integrantes da categoria profissional etc. O segundo código privilegia questões relacionadas
à condução de pesquisa de campo, utilização de fontes primárias, documentais e bibliográficas e, em
especial, utilização de imagens e de sons. Nunca é demais sublinhar que, para utilização de imagem
do entrevistado ou informante, deve ser obtido consentimento por escrito. Os dois documentos foram
obtidos de fontes virtuais.

Código de ética do sociólogo

Título I

Disposições gerais

Art. 1 – O Sociólogo na sua atuação profissional está obrigado à observância do presente


Código, bem como a fazê‑lo cumprir.

Art. 2 – Compete aos Sociólogos, Sindicatos, Associações Profissionais e à Federação


Nacional zelar pelo seu cumprimento e sua divulgação.

Título II

Dos Princípios Éticos e Fundamentais

Art. 3 – O compromisso fundamental do Sociólogo é o de interpretar a realidade dos fatos


e das relações sociais através da aplicação de métodos científicos e técnicas sociológicas,
buscando contribuir, a partir desses estudos, sua aplicação e divulgação para melhorar a
qualidade de vida socioambiental da humanidade.

Art. 4 – O compromisso com a produção de informações com base científica a respeito da


realidade social e sua divulgação pública precisa e correta é um direito inerente à condição
atual de vida em sociedade, é um direito do cidadão que não pode ser impedido por nenhum
tipo de interesse, é uma obrigação social que o Sociólogo deve assumir e defender.

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Art. 5 – O Sociólogo tem o compromisso de lutar pelo exercício da soberania popular e


autodeterminação dos povos em seus aspectos políticos econômicos e sociais.

Art. 6 – O Sociólogo tem o compromisso de opor‑se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão,


bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Título III

Dos Direitos e Deveres do Sociólogo

Capítulo I – Dos Direitos

Art. 7 – São direitos dos Sociólogos:

a) Garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas estabelecidas na Lei de


Reconhecimento da Profissão e neste Código;

b) Livre exercício das atividades inerentes à profissão;

c) Participar das entidades representativas e sindicais da categoria;

d) Propiciar ou realizar a investigação da realidade social a partir de critérios científicos


e metodologia adequada que garantam a credibilidade e defesa pública quanto ao resultado
do trabalho;

e) Propiciar a divulgação de informações resultantes de seus trabalhos e estudos que


sejam de interesse público e possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida;

f) Garantir que a divulgação pública dos resultados de pesquisas e de outros trabalhos


se dê de forma precisa sem omissão ou alteração de dados que prejudiquem os resultados
bem como respeitar normas de citação de fontes, autores e colaboradores;

g) Garantir a devolução das informações colhidas nos estudos e pesquisas aos sujeitos
sociais envolvidos;

h) Recusar empregos, tarefas ou atribuições que comprometam a dignidade do exercício


da profissão bem como recusar substituir colegas exonerados ou demitidos por defender os
princípios e normas deste Código;

i) Receber remuneração por seu trabalho profissional[,] garantindo o piso salarial da


categoria, os valores delimitados nos contratos coletivos de trabalho e dissídios coletivos,
a equivalência com outros profissionais de nível superior nos planos de cargos e salários
dos órgãos públicos ou, no caso de atividade autônoma, os valores mínimos definidos por
entidades representativas da categoria;
48
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

j) Denunciar aos órgãos competentes sempre que leigos estiverem no exercício ilegal
da profissão ou lidem com resultados de pesquisa ou investigações sociológicas sem os
critérios devidos;

l) Receber desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;

m) Apoiar as iniciativas e os movimentos de defesa dos interesses da categoria;

n) Denunciar a agressão e abuso de autoridades às organizações da categoria aos órgãos


competentes;

o) Ter acesso às oportunidades de aprimoramento profissional.

Capítulo II

Dos Deveres

Art. 8 – São deveres do Sociólogo:

a) Desempenhar suas atividades profissionais observando a legislação em vigor;

b) Conhecer, cumprir, divulgar e fazer cumprir este Código;

c) Valorizar e dignificar a profissão bem como defender seu livre exercício;

d) Prestigiar as entidades representativas da categoria na defesa de seus direitos: as


entidades científicas no aprimoramento das Ciências Sociais e as entidades democráticas
na defesa da liberdade de expressão e da justiça social;

e) Combater e denunciar formas de corrupção e manipulação de informações, em


especial quando comprometam o direito público da veracidade dos fatos, as ações políticas
dos cidadãos e a justiça, e o favorecimento pessoal ou de grupos;

f) Combater a prática da perseguição ou discriminação por motivos sociais, políticos, religiosos,


raciais ou juízo subjetivo, bem como defender o respeito ao direito à privacidade do cidadão;

g) Recusar e denunciar o desenvolvimento de pesquisas ou divulgação de seus


resultados, quando houver manipulação nos critérios da metodologia científica e das
normas internacionais, quando visar interesse ou favorecimento pessoal ou de grupos, com
vantagens políticas ou econômicas, ou quando forem contrários aos valores humanos;

h) Ao atuar junto às instituições, responsabilizar‑se por suas ações no sentido de


contribuir para o desenvolvimento de seus objetivos, de acordo com os princípios e normas
deste Código;
49
Unidade II

i) Responder pelas informações resultantes de estudos e pesquisas bem como pelas


intervenções, assessorias e orientações desenvolvidas, desde que o trabalho em questão não
tenha sido alterado por terceiros;

j) Não ser conivente com erros, faltas éticas ou morais, crimes ou contravenção de
serviços profissionais;

l) Na realização de estudos e pesquisas, respeitar a dignidade de pessoas e grupos


envolvidos nos trabalhos aos quais devem ser informados sobre os riscos e resultados
previsíveis da sua informação e participação;

m) Procurar viabilizar a devolução das informações colhidas nos estudos e pesquisas aos
sujeitos sociais envolvidos;

n) Denunciar às autoridades e órgãos competentes as coações e agressões físicas e


morais sofridas no exercício da profissão;

o) Aprimorar de forma contínua os seus conhecimentos, colocando‑os a serviço do


fortalecimento da organização e consciência da sociedade;

p) Pagar regularmente suas obrigações com as entidades profissional às quais for


associado.

Capítulo III

Do sigilo profissional

Art. 9 – O Sociólogo deve observar o sigilo profissional sobre todas as informações


confiadas e/ou colhidas no exercício profissional.

Parágrafo 1 – A quebra do sigilo só é admissível quando se tratar de situação cuja


gravidade possa trazer prejuízo aos direitos humanos.

Parágrafo 2 – A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação


ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devem tomar conhecimento.

Art. 10 – É vedado ao Sociólogo revelar sigilo profissional.

Parágrafo único – Intimado a prestar depoimento, deverá o Sociólogo comparecer perante


a autoridade competente para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional, nos
termos do Código Civil e deste Código.

50
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Título IV

Das Relações Profissionais

Capítulo I

Das relações profissionais com as instituições

Art. 11 – São direitos dos Sociólogos:

a) Ter condições adequadas de trabalho, respeito à autonomia profissional e dos


princípios éticos estabelecidos neste Código;

b) Denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas de instituições em que


trabalha quando os mesmos ferirem os princípios e direitos contidos neste Código;

c) Recorrer às entidades representativas da categoria, ao nível estadual e nacional,


contra decisões ou omissões da instituição diante de denúncias referidas no inciso anterior.

Art. 12 – É vedado ao Sociólogo:

a) Adotar determinação que fira os princípios e diretrizes contidas neste Código, ao


prestar serviço incompatível com as diretrizes da regulamentação profissional;

b) Emprestar seu nome a firmas, organizações ou empresas que utilizem métodos e


técnicas das ciências sociais sem seu efetivo exercício profissional;

Capítulo II

Das relações profissionais entre Sociólogos

Art. 13 – Cabe aos Sociólogos manter entre si a solidariedade que consolida e fortalece
a organização da categoria.

Art. 14 – O Sociólogo, quando solicitado, deverá colaborar com seus colegas, salvo
impossibilidade real, decorrente de motivos relevantes.

Art. 15 – A crítica pública ao trabalho profissional de outro Sociólogo deverá ser


sempre comprovável, de inteira responsabilidade de seu autor e fundamentada nos
preceitos deste Código.

Art. 16 – É vedado ao Sociólogo:

a) Ser conivente com falhas éticas e com erros praticados por outro profissional;
51
Unidade II

b) Prejudicar deliberadamente a reputação de outro profissional divulgando


informações falsas;

c) Prevalecer‑se de posição hierárquica para publicar em seu nome trabalho de


subordinado, mesmo que executado sob sua orientação, sem citar as fontes e os colaboradores;

d) Deturpar dados quantitativos e qualitativos;

e) Apropriar‑se da produção científica de outro profissional.

Art. 17 – Ao Sociólogo deve ser asseguada a mais ampla liberdade na realização de seus
estudos e pesquisas.

Capítulo III

Das relações com as entidades da categoria e demais organizações da Sociedade Civil

Art. 18 – O Sociólogo deve defender a profissão através de suas entidades representativas,


participando das organizações que tenham por finalidade a defesa dos direitos profissionais
no que se refere à melhoria das condições de trabalho, à fiscalização do exercício profissional
e ao aprimoramento científico.

Art. 19 – O Sociólogo deverá apoiar as iniciativas e os movimentos de defesa dos


interesses da categoria e divulgar no seu espaço institucional as informações das suas
organizações, no sentido de ampliar e fortalecer o seu movimento.

Art. 20 – É vedado ao Sociólogo valer‑se de posição ocupada na direção de entidade da


categoria para obter vantagens pessoais, diretamente ou através de terceiros.

Art. 21 – O Sociólogo, ao ocupar uma chefia, não deve usar a sua autoridade funcional
para obstaculizar a liberação total ou parcial da carga horária do profissional que a solicite,
com base legal, às instâncias superiores.

Título V

Da aplicação e cumprimento do Código de Ética

Art. 22 – A Federação Nacional dos Sociólogos, os Sindicatos e Associações Profissionais


manterão Comissão de Ética para assessorá‑la na aplicação e observância deste Código.

Art. 23 – A Comissão de Ética será eleita por voto secreto, de forma separada da Diretoria
da entidade, tendo mandato de igual duração.

52
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Art. 24 – Fica a critério das entidades definir sua composição de acordo com seus
Estatutos aprovados em Assembleia Geral da categoria.

Art. 25 – O descumprimento do presente Código de Ética fica sujeito a penalidades


desde a advertência à eliminação dos quadros da entidade, na forma dos dispositivos legais
e/ou regimentais.

Art. 26 – Constituem infrações disciplinares:

a) Transgredir preceito do Código de Ética;

b) Exercer a profissão quando impedido, ou facilitar o seu exercício por quem não esteja
devidamente habilitado;

c) Aos que violarem sigilo profissional;

d) Aos que tenham conduta incompatível com o exercício profissional;

Art. 27 – São medidas disciplinares aplicáveis:

a) Advertência em aviso reservado;

b) Advertência pública;

c) Eliminação dos quadros da entidade.

Art. 28 – A pena de advertência, reservada ou pública, será aplicada nos casos previstos
nas alíneas “a”, “b”, “c” e “d” do Art. 27.

Art. 29 – A pena de eliminação dos quadros da entidade será aplicada:

a) Nos casos em que couber a pena de advertência e o infrator for reincidente;

b) Aos que fizerem falsa prova dos requisitos exigidos para registro profissional;

Art. 30 – Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes profissionais do


infrator e as circunstâncias em que ocorreu a infração.

Art. 31 – Qualquer Sociólogo, cidadão ou instituição poderá dirigir representação escrita


e identificada aos Sindicatos, Associações Profissionais ou à Federação Nacional para que
seja apurada a existência de transgressão cometida por Sociólogo.

Art. 32 – Cabe à Comissão de Ética, criada pela entidade referida no artigo anterior,
analisar as infrações a este Código que cheguem ao seu conhecimento.
53
Unidade II

Parágrafo 1 – Decidindo a Comissão pela apuração dos fatos, será notificado o indiciado,
garantindo‑lhe acesso aos documentos e fatos componentes da acusação e a apresentação
de defesa em vinte dias úteis.

Parágrafo 2 – Após o encerramento da apuração dos fatos e apresentada a defesa, a


Comissão decidirá dentro de 10 dias, dando conhecimento da decisão ao Sociólogo.

Parágrafo 3 – A decisão entrará em vigor após a certificação do seu recebimento pelo


profissional objeto da apuração.

Art. 33 – A não observância pelo Sociólogo à convocação ou prazos definidos no artigo


precedente implica na aceitação dos termos da representação.

Art. 34 – A partir da data da notificação da decisão da Comissão de Ética, o Sociólogo


poderá recorrer à Assembleia Geral da categoria convocada para este fim, desde que sejam
respeitados os Estatutos dos Sindicatos, Associações Profissionais e da Federação para a
referida convocação.

Art. 35 – Compete à Federação Nacional dos Sociólogos estabelecer procedimentos


quanto aos casos omissos neste Código.

Art. 36 – O presente Código somente poderá ser alterado em Congresso Nacional da


categoria, cuja proposta de modificação deverá ser encaminhada às entidades para discussão
com o prazo mínimo de 90 dias.

Art. 37 – Este Código entra em vigor na data da sua votação e aprovação no X Congresso
Nacional de Sociólogos do Brasil.1

Fonte: CÓDIGO... (1995).

Código de ética do sociólogo, Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)

As finalidades primordiais do Código de Ética são: (1) proteger o bem‑estar de grupos e


indivíduos com quem sociólogos(as) trabalham e que tomam parte no processo de pesquisa;
(2) fornecer guias de comportamento para sociólogos (as) entre colegas de profissão, na
interação com membros das instituições onde trabalham, e no relacionamento com equipes
de pesquisa, e com a sociedade em geral, que pautem as expectativas dos membros da SBS,
com base em princípios éticos. O sociólogo (a) deve torná‑los conhecidos para que venham
a serem respeitados.

1 Assinaram o documento: Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho, Presidente da Federação Nacional dos
Sociólogos – FNS e Presidente dos Trabalhos da 8ª Reunião Plenária do CD da FNS; e Alcione Prá, Diretor da Federação
Nacional dos Sociólogos, Regional Sudeste e Secretário dos Trabalhos da 8ª Reunião Plenária Nacional do Conselho
Deliberativo da FNS.
54
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Cada sociólogo (a) deve suplementar o presente código de ética com base em seus
próprios valores e experiência, complementando, sem violar, as normas do Código de Ética.
Constitui responsabilidade individual manter o mais alto padrão de comportamento ético.

Sociólogos devem estar cientes do fato de que seus pressupostos podem causar um
impacto na sociedade. Por consequência sociólogos (as) devem manter uma atitude destituída
de vieses ou preconceitos, procurando tornar explícitos, tanto o caráter tentativo de suas
generalizações com base nos resultados de pesquisas, bem como seus pressupostos e posições
ideológicas. Nenhum pressuposto sociológico deve ser apresentado como verdade indisputável.

Sociólogos (as) devem proteger os direitos de seus informantes, bem como de estudantes
e de membros das equipes de trabalho.

Conflito de interesses

Sociólogos(as) orientam‑se pela ética profissional, evitando conflitos de interesse que


enviesem seu trabalho. Previnem‑se de situações nas quais o interesse pessoal ou financeiro
possa interferir nas atividades, declinando de realizá‑las.

Plágio

Sociólogos(as) explicitamente fornecem créditos e referências autorais quando eles(as)


utilizam dados ou materiais de trabalhos escritos por outras pessoas, tenham estes sido
publicados ou não, estejam impressos ou em meios eletrônicos.

Pareceres

Ao elaborarem pareceres ad hoc, sociólogos(as) não se apropriam de ideias contidas


nos trabalhos submetidos à apreciação, a não ser que seja identificada a fonte e dados os
créditos. Os pareceres são sigilosos, seguindo critérios de confidencialidade e de respeito
aos direitos autorais. Os pareceristas não devem, em hipótese nenhuma, basear‑se em
posições pessoais ou de opinião política para emiti‑los. Nos casos de conflito de interesses,
os pareceristas declinam de apreciar o trabalho.

Patrocinadores

Atividades de pesquisa em sociologia geralmente dependem de recursos públicos ou


privados e, portanto, de patrocínio.

Patrocinadores públicos ou privados podem estar interessados nos resultados da


investigação. Sociólogos não devem aceitar dotações ou contratos que especifiquem
condições inconsistentes com o seu julgamento científico ou com os meios apropriados de
conduzir a pesquisa em questão, ou permitir que patrocinadores censurem ou atrasem a
publicação dos resultados por não gostarem dos mesmos.
55
Unidade II

Patrocinadores devem ser antecipadamente informados sobre as diretrizes gerais


dos projetos de pesquisa, bem como sobre os métodos que os pesquisadores desejam
adotar. Patrocinadores devem ser informados do risco de os resultados de pesquisa não se
conformarem às suas expectativas.

Pesquisadores públicos ou privados podem estar interessados em patrocinar pesquisas


para as suas finalidades políticas. Sociólogos (as), quer estejam ou não de acordo com esses
objetivos, não devem a eles se subordinar, preservando a autonomia científica.

Eles devem se abster, ainda, de cooperar com objetivos antidemocráticos e


discriminatórios.

As condições de trabalho científico estabelecidas entre pesquisadores (as) e patrocinadores


(as) devem ser preferencialmente efetuadas por escrito.

Consentimento informado:

Na condução de pesquisas, sociólogos (as) devem informar os (as) participantes sobre a


natureza da pesquisa que está sendo efetuada, a responsabilidade sobre a mesma, fontes de
patrocínio e de apoio institucional.

Sociólogos e sociólogas devem informar aos participantes em pesquisa sobre o caráter


voluntário dessa participação, garantindo‑lhes a confidencialidade das informações e
possibilitando que efetuem perguntas e esclareçam dúvidas sobre a investigação e recebendo
os esclarecimentos solicitados sobre a mesma.

Sociólogos (as) conduzindo pesquisas necessitam obter o consentimento de


participantes na investigação ou de seus representantes legais todas as vezes nas quais
dados forem coletados por meio de qualquer instrumento de comunicação, interação ou
intervenção. O consentimento de participantes deve ser obtido todas as vezes nas quais
o comportamento dos mesmos seja apreendido em âmbito privado, e quando estes não
tenham conhecimento de que seu comportamento esteja sendo observado ou relatado.

Sociólogos podem conduzir pesquisas em locais públicos ou usar informações públicas


em suas pesquisas, sem necessidade de solicitar o consentimento prévio de participantes
nesses locais.

Quando for necessário solicitar consentimento informado para conduzir a pesquisa, isto
será feito oralmente e/ou por escrito.

Ao informar sobre o caráter voluntário da participação na pesquisa, sociólogos (as)


devem informar aos participantes que nenhuma penalidade ou sanção adversa resultará da
recusa em participar da investigação.

56
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Sociólogos (as) informarão aos participantes que, uma vez tenham começado a participar
da pesquisa, poderão desistir a qualquer momento dessa participação.

Quando as pesquisas forem conduzidas na própria instituição onde trabalham, com


estudantes ou subordinados, sociólogos (as) garantirão que nenhuma consequência
institucional adversa resultará da recusa em participar como sujeitos da investigação,
tomando todas as medidas necessárias para viabilizar as garantias oferecidas aos
participantes das pesquisas.

Sociólogos (as) não empregarão métodos enganosos para engajar a participação em


pesquisas.

Sociólogos (as) esclarecerão aos participantes, antes de solicitar seu assentimento em


participar da pesquisa, quando houver riscos de saúde física ou emocional decorrentes
dessa participação.

Uso de equipamentos para registro da informação

Todas as vezes que sociólogos (as) empregarem equipamentos para registrar informações
de pesquisa tais como gravadores, filmadoras, câmeras, videocâmeras ou outras formas de
registro de voz e/ou imagem, será obtido o consentimento informado dos participantes na
investigação.

Uso de incentivos

Sociólogos (as) conduzindo pesquisas não empregarão incentivos que possam coagir
os (as) participantes a colaborarem com essas investigações, afetando a confiabilidade
dos dados.

Confidencialidade

A segurança, anonimato e privacidade de participantes em pesquisas deverão ser


rigorosamente respeitadas tanto em pesquisas qualitativas quanto quantitativas. A fonte da
pesquisa deve ser confidencial, a não ser que informantes concordem ou tenham solicitado
para serem citados. Caso informantes possam ser facilmente identificados, pesquisadores
(as) devem alertá‑los para consequências que possam advir para os (as) informantes, da
divulgação dos resultados da pesquisa.

Quando for garantida a confidencialidade das informações, sociólogos (as) devem


protegê‑la, inclusive de outros pesquisadores (as). Cuidados especiais devem ser tomados
na disponibilização dos dados de pesquisas em arquivos públicos, protegendo a identidade
daqueles (as) que forneceram as informações que constituíram objeto da investigação.

57
Unidade II

Precauções devem ser tomadas para assegurar a confidencialidade das informações


prestadas por participantes, inclusive por outros investigadores, estudantes, entrevistadores,
supervisores e demais integrantes do processo de levantamento de dados.

Publicação e comunicação de dados de pesquisa

Dados coletados em atividades sociológicas de pesquisa constituem propriedade


intelectual dos pesquisadores (as) que possuem, em princípio, direitos autorias sobre os
mesmos. Se os direitos autorais forem do patrocinador ou empregador, os pesquisadores
(as) têm direito à compensação adequada pela alienação dos direitos autorais.

Em princípio pesquisadores possuem o direito de submeter seu trabalho para publicação,


ou publicá‑lo às suas próprias expensas.

Pesquisadores têm o direito de garantir que os seus resultados de pesquisa não sejam
manipulados ou tirados do contexto por seus patrocinadores.

A contribuição de pesquisadores acadêmicos, patrocinadores, técnicos e outros colaboradores


que fizeram uma contribuição substantiva na elaboração e condução de um projeto de pesquisa
deve receber crédito explícito em qualquer publicação decorrente do projeto.

Bases de dados tornadas públicas devem conter informações sobre pesquisadores (as)
responsáveis pela pesquisa, fontes e métodos pelos quais os dados foram obtidos.

Uma vez publicadas as informações de um projeto de pesquisa, ele deverá ser considerado
como parte do conhecimento público e base do acervo da comunidade científica, aberto a
críticas e ao debate científico.

Adaptado de: Sociedade... ([s.d.]).

7 TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A SOCIOLOGIA

Serão analisados aspectos e etapas importantes na prática da Sociologia, na condição de pesquisador,


com objetivo de contribuir na formação dos novos sociólogos e sociólogas. As questões discutidas a seguir
foram resgatadas de dois momentos da biografia acadêmica da autora: primeiramente, foram abordados
a metodologia e os procedimentos de pesquisa utilizados na tese de doutoramento, especialmente a
concepção de objeto de pesquisa, uso de fontes, entrevistas etc.

Um segundo texto provém de pesquisa mais recente, sobre subjetividade e formação social brasileira;
apoiada em metodologia foucaultiana, a pesquisa utilizou filmes nacionais em substituição às costumeiras
entrevistas. Embora filmes não permitam o estabelecimento da clássica relação intersubjetiva entre
pesquisador e “seu objeto de pesquisa”, esse tipo de material faculta ao pesquisador a repetição das
ações estudadas, mesmo porque o filme se mostra sem reservas ao pesquisador. É verdade que trabalhar
com filmes suscita outros questionamentos, alguns deles serão comentados adiante.
58
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

7.1 A escolha do objeto de pesquisa

A escolha do objeto de pesquisa e sua concepção são dois elementos fundamentais ao perfil
profissional do sociólogo, porque ambos dizem respeito à sua individualidade, são itens que antecedem
a todas as demais escolhas, embora curiosamente a escolha do objeto de pesquisa e sua concepção
frequentemente sejam etapas consideradas depois da opção de método, o que, em geral, pode preocupar
o pesquisador iniciante.

O “objeto de pesquisa” (atenção para as aspas) deve ser fruto de uma sincera interrogação, de um
questionamento, do olhar de estranhamento dirigido a certa faceta da realidade para a qual não se
encontra respostas, ou ainda, o que é mais frequente, com insatisfação perante as respostas disponíveis.
Por isso “objeto de pesquisa” foi grafado com aspas, porque esse “objeto” na verdade é um vazio, um
interrogante, o resultante de um olhar que desconfia da aparência materializada nas práticas sociais
cotidianas, ou que desconfia da “ordem natural das coisas”.

Ainda sobre o objeto de pesquisa, vale a pena lembrar que, em Sociologia, a dimensão temporal
(histórica, econômica e cultural) é particularmente significativa; ela responde pela formação do processo
(ou fenômeno) que se pretende estudar, seja pela descrição, explicação, compreensão ou interpretação,
ou pelo conjunto de todas essas práticas.

7.2 Poder, metodologia, procedimentos de pesquisa e questões paralelas

Metodologia diz respeito à prática de uma opção de método, enquanto os procedimentos de


pesquisa, embora associados à metodologia, reflitam outras questões, por assim dizer, mais práticas, tais
como: a disponibilidade de acesso às fontes, recursos financeiros, equipe de pesquisadores de campo,
tempo para execução da pesquisa etc.

Nas Ciências Sociais, a metodologia constitui um tema frequente na discussão das práticas
profissionais e acadêmicas, e sua escolha por parte do pesquisador reflete sua concepção teórica de
sociedade, portanto das relações sociais que a integram e a conformam em dada cultura e momento
histórico. Contudo, certas “questões paralelas”, como as que são pertinentes ao campo acadêmico e
intelectual em que se desenvolve a pesquisa, afetam as escolhas teóricas do pesquisador, refletindo‑se
na metodologia, ou até mesmo na escolha do próprio “objeto” da pesquisa sociológica.

Por exemplo, na década de 1960 no Brasil, a continuidade de um processo político foi abalada, e
depois interrompida, instaurando‑se, pela força, mudanças políticas radicais e relevantes na distribuição
de poder. Desde então, esse processo tem sido alvo de estudos detalhados das Ciências Sociais,
constituindo capítulo significativo da pesquisa sociológica brasileira.

Essa situação foi vivida no caso em exame, pois foi nessa década, e a partir do golpe de 1964, que a
complexa rede das relações e interrelações de poder foi escolhida como tema de um projeto de pesquisa
por uma socióloga iniciante, que preparava seu projeto de doutoramento.

59
Unidade II

Todavia, ao problematizar as relações envolvidas nessa rede, era possível perceber claramente uma
tecitura de relações que abrangia as práticas, normas, padrões, expectativas de comportamento e
valores que as orientavam, e que estavam passando por mudanças radicais. Estava se instalando uma
dinâmica em rede que, direta ou indiretamente, afetava tanto o sistema organizado das relações de
poder, portanto do exercício de poder, quanto sua distribuição institucional.

Considerando‑se que a relação fundamental de poder, pelo menos em termos weberianos, ele
se caracteriza pelo exercício de decisão sobre o outro, apesar da resistência dele. Então, era preciso
retornar a Weber para esclarecer aspectos das questões apontadas, por exemplo, esclarecer o sentido
das mudanças em curso e como estava sendo afetado o conjunto tecido das relações de poder. Para
Weber (1977, p. 42, tradução nossa):

Poder significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de


uma relação social, ainda que contra toda resistência, e qualquer que
seja o fundamento dessa probabilidade. Por dominação deve‑se entender
a probabilidade de encontrar obediência a um mandato de determinado
conteúdo entre pessoas dadas [...] e só pode significar a probabilidade de
que um mandato seja obedecido.

Nesses termos, a configuração da dominação emerge da relação social de poder entre quem
o exerce e aquele (s) sobre quem esse poder é exercido. A relação é assegurada pela obediência
devida à existência de um mandato; essa relação básica de dominação se reflete na teia de
relações de poder, ou em outros termos, na tecitura da estrutura do poder em seu conjunto. Em
princípio, portanto eram esses os aspectos a serem pesquisados, sobretudo a dinâmica que neles
eram introduzidas mudanças.

Nesse sentido, a investigação empírica da estrutura do poder pressupunha uma análise do sistema
de dominação, ou conjunto das relações abrangidas na estrutura do poder, explorando as garantias
de permanência e de irreversibilidade dos termos fundamentais da relação: dominante e dominado.
Na verdade, pela investigação empírica, podiam‑se observar alterações emergentes de mudanças na
economia, bem como evidenciar alguns esquemas políticos adaptativos às novas condições emergentes
na sociedade política, cujo objetivo era basicamente a manutenção do poder.

Todavia, centrar a pesquisa nas relações de poder exigia que o pesquisador decidisse pelo tratamento
a ser dado a elas: seriam consideradas como uma tensão circunstancial entre duas ou mais forças, ou
como resultante da superação de uma força (dominante) sobre a resistência de outra (dominada)?
No primeiro caso, o sistema de dominação afigurava‑se ao investigador como um todo em equilíbrio
dinâmico; no segundo caso, a dinâmica da estrutura revelava um sentido mais claro de dominação por
parte do grupo dominante. A dominação deixava de ser compreendida como equilíbrio dinâmico de
forças, para ser a expressão de uma força, dominante, superando a outra, dominada.

Em geral o pesquisador é conduzido em sua decisão pelo material empírico que analisa ao curso
de sua investigação. Por isso, nas condições vividas à época, a ênfase do trabalho em foco repousou
na análise do sistema de dominação a partir da categoria dominante, ou seja, de quem exerce poder,
60
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

portanto, na análise da trama de relações internas às categorias dominantes, de suas interrelações, e


consequências no arranjo eleitoral e na estrutura do poder político.

Esse foco permitiu revelar mudanças operadas nas relações e interrelações de poder no sentido
da manutenção do status quo, portanto as técnicas de manutenção do poder utilizadas pelos grupos
dominantes, ao longo de um processo de transição parcial de uma economia agrária para industrial, em
uma cidade do interior paulista (Rio Claro).

A localização e o perfil do grupo dominante possibilitaram trabalhar com critérios distintivos


de posse e influência na economia agrária, mas na medida em que o grupo ou mesmo seus
descendentes se mantinham no poder à época da pesquisa, apesar das mudanças na economia, foi
preciso explorar quais outros critérios fundamentavam os novos mecanismos efetivos de controle
detidos e utilizados pelo grupo.

A análise destes mecanismos efetivos implicou a investigação do comportamento efetivo do grupo


dominante, no sentido de manter‑se no poder, em dois períodos: 1904 a 1922 (ascensão do Partido
Republicano Histórico) e de 1962 a 1964 (período inicial da ditadura militar).

Para o primeiro período, a fraude eleitoral foi considerada como mecanismo de controle político,
como arma de disputa entre coronéis e, gradativamente, como recurso no sentido de assegurar o
poder em face da oposição eleitoral urbana. Na verdade, a fraude é um comportamento diferenciado
e mesmo oposto às normas legais, mas cuja característica é a obediência às disposições formais
do estatuto legal. Caso contrário, a fraude torna‑se crime eleitoral – mesmo durante a primeira
República, – e como tal caracterizado.

Para o período compreendido entre 1922 e 1962, foram utilizados dados secundários, matérias da
imprensa local e informações de antigos moradores.

7.2.1 Quando os dados empíricos obrigam à revisão teórica conceptual

Para localização do grupo dominante tradicional, foram utilizadas entrevistas com antigos moradores,
jornais antigos etc. Esse material sugeria reformulação teórica de algumas questões porque: a) em lugar
de uma dominação rural típica, exercida pelo coronel do café, a imagem trazida pelo material empírico
era a de um coronel urbano; b) em lugar do eleitor de cabresto rural, encontrava‑se um eleitorado
predominantemente urbano, embora considerados “filiados ao Partido do Coronel”; c) em lugar de uma
economia predominantemente rural, a cidade correspondia à prestação de serviços urbanos, ligados
diretamente ou indiretamente ao café, tais como transportes, comércio urbano etc., além do mais, o
café não era a produção principal no setor agrícola; d) um contingente significativo dos eleitores era
integrado por operários da ferrovia, cujas oficinas estavam localizadas na cidade.

Esses fatos justificavam caracterizar a estrutura de dominação da primeira República como


tradicional, mas de base urbana, um modelo ao qual corresponde à figura híbrida do coronel da cidade.
Esse tipo de liderança política está ligado a um momento de transição da dominação política tradicional,
em realidade conciliatória, entre os interesses do eleitor urbano emergente.
61
Unidade II

Dois aspectos são fundamentais à análise da dominação subjacente ao coronelismo de cidade: de


um lado, a adaptação das formas patriarcais tradicionais de liderança política às condições urbanas; de
outro lado, o papel das normas legais institucionais na padronização de comportamento político.

De certa forma, ambos os aspectos vinculam‑se à transferência das relações sociais e econômicas
entre o homem do campo e o dono da fazenda, para a esfera política: na República, o primeiro é
cidadão‑eleitor, e o segundo, o candidato à representação política.

As entrevistas realizadas, e a bibliografia sobre o tema, insistiam na transposição de laços de


dependência, que ligavam o homem do campo ao dono das fazendas de café, para a esfera política,
condicionando a participação eleitoral do trabalhador rural, sob a forma de estabelecimento de vínculos
de lealdade pessoal aos coronéis, então chefes políticos. O estabelecimento de tais vínculos se reflete
também na própria organização partidária da primeira República, dividida em facções locais de Partido
Republicano, com base nas mesmas relações de fidelidade pessoal ao coronel.

Contudo, não se mostrava adequado considerar tais vínculos de fidelidade pessoal como um tipo
de obediência ao qual o eleitor rural estivesse obrigado por imposição do coronel. Ao contrário, os
informantes insistiam que a fidelidade pessoal, e consequente dependência política, surgiam em
decorrência de mecanismos de aliciamento utilizados pelos coronéis – favores, sob forma de roupas,
sapatos, empréstimos etc. – no sentido de reforçar os liames tradicionais, passando o voto a ser
considerado como a retribuição de um favor prestado pelo coronel.

O eleitorado urbano detém expectativas diferentes daquelas do rural, mesmo aqueles eleitores que
trabalhavam para o fazendeiro, então chefe político. Nessas condições, a política desenvolvida pelo
coronel de cidade é essencialmente conciliatória, promovendo a unificação dos interesses dos grupos
de poder, ligados ao mundo rural tradicional, representado pelo coronel e os interesses do eleitorado
urbano emergente, especialmente, dos setores ligados ao comércio e à indústria.

Quando as campanhas políticas assumiam tom mais pessoal, visando popularizar o líder político, o coronel
de cidade procurava atrair seu eleitorado facultando‑lhe assistência jurídica em movimentos reivindicatórios
de classe. Graças a esse ajuste circunstancial entre os interesses opostos de sua base, o coronelismo de cidade
foi sendo preservado, em que pese o sistema institucional da democracia representativa.

7.2.2 A prática do poder político e a norma legal

Uma análise da legislação eleitoral republicana revela certas contradições, as quais, embora não
constituíssem obstáculos intransponíveis à manutenção dos coronéis no poder, favoreceram de certa
forma a manifestação e aliciamento do eleitorado urbano e, nesse caso, especialmente dos estratos
médios, que desempenharam papel importante na composição e atuação dos núcleos urbanos de
oposição política.

A análise da legislação eleitoral republicana se destinou a compreendê‑la na intenção de pautar o


comportamento político do grupo dominante, no caso, dos coronéis, bem como dos eleitores. Com esse
objetivo, a consulta a fontes primárias (Atas Eleitorais e outros documentos de época) foi decisiva. A
62
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

fraude eleitoral foi traço predominante no panorama político dessa época, porém a legislação eleitoral
do período é rica em cuidados visando à moralização dos pleitos, bem como são severas as punições e
numerosas as sanções para os infratores. Nota‑se que, se de um lado, o legislador procurou padronizar os
pleitos e conduzi‑los segundo normas legais inequívocas, ao grupo dominante da época, coube a tarefa de
promover as adaptações necessárias à legislação com vista à defesa dos interesses políticos dominantes.

Esse caráter, à primeira vista, de contradição entre dois setores das classes dominantes no período,
revela‑se falacioso para utilizá‑lo na compreensão do exercício de poder. Isso porque, na realidade, não
são dois setores do estrato social dominante, mas sim, dois papéis desempenhados às vezes pelo mesmo
personagem. E, nesse sentido, não se deve esquecer que a legislação eleitoral do período era formulada
pela Secretaria dos Negócios do Interior, nos Estados, e aprovada pelas Assembleias Estaduais, no caso de
São Paulo. Consequentemente, o próprio legislador era eleito graças a certos expedientes que, segundo
as leis, normas e instruções, eram fraudulentos.

A compreensão da fraude eleitoral deveria partir do resgate das mudanças globais pretendidas pela
legislação e verificação dos obstáculos estruturais apostos àquelas mudanças. O sentido de legislação
eleitoral esteve voltado para a racionalização do comportamento político, especialmente no tocante
ao relacionamento indivíduo‑Estado, e no tocante à ordenação do uso de poder pelo senhor rural,
pautando‑o segundo normas disciplinadoras.

Precisamente nesse sentido o arcabouço institucional se revelou falacioso, visto que pretendeu alterar
as relações de dependência então vigentes, criando um eleitor a partir do contingente de trabalhadores,
principalmente rurais, ligados ao coronel. O mesmo se pode concluir em relação ao poder dos coronéis,
tradicional e patriarcal, apoiado em vínculos tanto econômicos quanto sentimentais, em relação aos
seus eleitores.

Dessa forma, os obstáculos existentes à plena aplicação das leis eleitorais resultavam, portanto,
das próprias condições estruturais fundamentais da estrutura de dominação. Aparentemente havia
inadequação das condições institucionais legais criadas à realidade política vinculada à economia
predominantemente agrária do período inicial da República, na medida em que as leis previam a
existência de um eleitor supostamente desvinculado do complexo tradicional de mando.

A análise das relações de poder evidenciou a estrutura de dominação tradicional do período, enquanto
as relações de poder permitiram evidenciar mudanças ocorridas a partir de alterações na economia. É
a partir dessas mudanças, e de seus reflexos nas disposições fundamentais da estrutura de dominação,
que foi preservado o processo de dominação tradicional, mas de base urbana.

7.3 Os procedimentos de pesquisa

Os procedimentos de pesquisa podem ser assim enumerados:

• Pesquisa bibliográfica: é fundamental que todo processo de investigação, sociológica ou


não, seja conduzido com propósitos bem definidos, por exemplo: o levantamento da produção
acadêmica em determinado tema pode e deve ser realizada antes da elaboração definitiva de um
63
Unidade II

projeto de pesquisa, mas convém organizar um banco de dados considerando as palavras‑chave e


resumos (no caso de artigos e teses) ou mesmo o sumário (para livros). O Office ensina a organizar
o banco de dados (não é complicado) e é muito útil.

• Pesquisa de fontes primárias e secundárias: semelhante à pesquisa bibliográfica, as pesquisas


de fontes também podem ser arquivadas em banco de dados, detalhamento do anterior. As fontes
primárias são os documentos originais digitalizados, legislação, censos; fontes secundárias são os
relatórios, mapas, dados extraídos de fontes oficiais etc. Um arquivo especial deve ser reservado
para as imagens, fotos, filmes, desde que com créditos, registros e autorização (no caso de fotos).

• Entrevistas, depoimentos e questionários: é importante diferenciar informantes, de


informantes qualificados, de entrevistados e depoentes – os primeiros são casuais, as informações
que fornecem devem ser registradas, em um “diário de campo”, e de preferência, com nome,
local e dia; o informante qualificado, em geral, testemunhou o fato ou processo investigado, e
eventualmente poderá até ser citado no trabalho (desde que assim o permita), mas não está na
listagem dos entrevistados, porque essa listagem foi elaborada obedecendo a outros critérios;
assim o informante qualificado oferece um contraponto ao material fornecido pelo conjunto
de entrevistados. O depoente é um informante qualificado porque vivenciou o fato ou processo
estudado, às vezes constituindo um dos atores centrais do acontecimento. Em geral seu depoimento
deve constar do trabalho sem alteração do que foi dito (é uma boa prática submeter o texto à
sua apreciação). Quanto aos questionários, eles dizem respeito à faceta quantitativa da pesquisa,
enquanto entrevistas, depoimentos e informações qualificadas compõem a faceta qualitativa.

Lembrete

Importante observar que os procedimentos adotados seguem


recomendações do código de ética.

Para análise do processo de emergência do grupo dominante à época da pesquisa, partiu‑se de uma
conceituação operacional de poder, nos seguintes termos: o exercício do poder refere‑se basicamente à
extensão de controle sobre os grupos sociais, através da mediação – pelos indivíduos que o exercem – em
objetivos visados pelos grupos sociais ou por indivíduos isoladamente. Esse exercício, para ser efetivo, no
sentido de assegurar à pessoa o poder, deve ser estruturado de acordo com padrões sociais institucionais,
associativos ou grupais, ou ainda, através dos quadros da autoridade aprovada socialmente.

Com objetivo de localizar “quem era quem”, foram utilizados questionários e um levantamento das
diretorias das associações em funcionamento na cidade, obtendo dados sobre sistema de eleições etc.
Com essas informações, foram localizados 111 nomes, dos quais 27 pessoas participavam de mais de
uma associação ou em todas. Procedimento análogo foi utilizado com os partidos políticos, localizando
candidatos aos cargos eletivos, participantes das eleições etc. Essas informações foram obtidas por
consulta ao Cartório Eleitoral e ao Tribunal Regional Eleitoral, para o período 1947 a 1964. Essas listas
foram submetidas à apreciação de informantes locais, solicitando que indicassem as “pessoas importantes
na cidade”, “as pessoas de influência” ou “os mandachuvas locais”. Tratava‑se de uma adaptação das
64
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

técnicas utilizadas por vários pesquisadores americanos no estudo de estrutura do poder, dentre eles,
Hunter (1953), em “Regional City”.

Nos resultados obtidos em 1963, contam‑se vários líderes sindicais que gozavam de grande
popularidade, e foram candidatos e eleitos naquele ano para vereança, inclusive nos partidos
conservadores; nos resultados obtidos em 1965, esses elementos não mais figuram porque foram
expurgados pelos representantes locais do Golpe de 1964. Dessa forma, na verdade, o Golpe criou
condições que favoreceram as relações de dominação.

O grupo tradicional dominante, assim como em 1930 e 1946, não ofereceu resistência às solicitações
de mudança do momento histórico. Ao contrário, houve, a bem dizer, uma acomodação entre líderes
políticos que ascendiam na Revolução de 1930 e os que então detinham o poder. A tal ponto que os
mais expressivos líderes políticos da cidade, em 1965, são ligados diretamente aos antigos coronéis; a
regra geral foi a permeabilidade do grupo tradicional às mudanças emergentes.

Tal permeabilidade às tensões sociais emergentes foi de fundamental importância na análise das
relações de dominação emergentes, bem como na manutenção dos elementos tradicionais no poder. A
estratégia de “mudar para permanecer” tem sido observada, então foram alterados alguns elementos no
grupo dominante, mantendo‑se, no entanto, as mesmas linhas de ação política anteriores.

Nesse exemplo de utilização de metodologia em pesquisa sociológica, combinaram‑se procedimentos


de pesquisa de fontes com os procedimentos que envolvem relação direta entre pesquisador e pesquisado,
uma relação intersubjetiva, típica da pesquisa de campo. Outra pesquisa, realizada muitos anos depois,
discute a questão da empiricidade, na medida em que a pesquisa trabalhou com filmes.

Lembrete

O campo de pesquisa “sociologia da imagem” vem se ampliando, no


Brasil e fora daqui, portanto vale a pena discutir rapidamente algumas das
questões envolvidas, visando contribuir para os novos sociólogos, esse é o
objetivo do próximo tópico.

8 EMPIRICIDADES, SOCIOLOGIA E FILMES

Como se entende a “empiricidade” na Sociologia, que serviu de base para sua própria constituição
como ciência? A questão leva a examinar como vertentes da teoria sociológica situam a relação entre
fatos da observação e respectiva representação simbólica.

Pode‑se dizer que a vertente durkheimiana remete ambos os termos à sociedade, de modo que, como
sintetiza Miceli (1982), apresentando Bourdieu: “trata‑se de uma indagação ociosa saber se são as ideias
que deram origem às sociedades, ou se foram estas que deram existência às representações” (MICELI,
1982, p. 20). Na verdade, o conceito central à teoria durkheimiana, fato social, é definido como “maneira
de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior” (DURKHEIM, 1981,
65
Unidade II

p. 52), e essa coerção tem existência própria, portanto independente das “manifestações” individuais,
e remete a uma sociedade dada. Contudo, Durkheim reconhece que “existem também maneiras de ser
coletivas”, as quais também se impõem aos indivíduos, mas que são, em última instância, “modos de
agir” consolidados.

Sem que se pretenda ampliar a discussão da teoria durkheimiana, dois aspectos devem ser destacados
em sua conceituação de “fato social”: a) seu caráter empírico associado às práticas observadas, b) a
relação entre coerção social e indivíduos. Considerando‑se exclusivamente o primeiro aspecto, ter‑se‑ia
um empirismo radical que o autor francês contesta como insuficiente; no segundo aspecto, na relação
entre indivíduo e coerção social, se instala a dinâmica entre consciência individual e coletiva, central
ao caráter moralizante da obra de Durkheim. As representações, que permitem explicar e interpretar
a sociedade têm para o autor um sentido muito particular, mais amplo e racional, tecido pela própria
sociedade ao longo das gerações, atuando nos indivíduos.

Nesses termos, na evidência empírica, constituída de práticas observadas, se manifesta a duplicidade


dos indivíduos, simultaneamente social e individual, enquanto as representações têm sua base constitutiva
na instância social, resultante da acumulação de experiências; a ela remeteria a prática sociológica de
descrição e análise da sociedade, tomada em um recorte, como “objeto da ciência”. As observações
são trabalhadas como dados empíricos em que se manifestam relações necessárias, explicativas dos
fenômenos sociais. Em síntese, “É à sociedade que tomamos emprestado os fatos para em seguida
projetá‑los na nossa representação do mundo” (DURKHEIM, 1981, p. 161).

Estabelece‑se desta forma uma relação complexa entre os dados empíricos (fatos) e o sistema de
ideias que permite classificá‑los, analisá‑los e explicá‑los. Na categoria de fatos, são incluídos os valores
e julgamentos, de valor e de realidade, uma vez que ambos são construções do espírito, e coletivos, uma
vez que são constituídos na linguagem, e por ela; ambos têm base no dado, na coisa, e nos ideais, que
são coletivos. Nessa passagem dos dados para a sua interpretação, dos juízos para as ideias coletivas que
os sustentam, redefine‑se o sentido geralmente apontado para o empirismo de Durkheim: o estatuto
de “coisa” atribuído aos fatos sociais perde em opacidade como condição da abordagem, e os ”fatos”
passam a ser situados em conexão com o plano dos sentidos e ideais em sociedade. Isso fica claro
quando Durkheim (1981, p. 61) reconhece que:

Os principais fenômenos sociais, religião, moral, direito, economia,


estética, são apenas sistemas de valores e, portanto, ideais. A sociologia
coloca‑se, pois, inteira no ideal; ela não chega a ele lentamente, ao fim e
suas pesquisas; ela parte dele. O ideal é o seu domínio, [...] Entretanto ela
só trata do ideal para estabelecer a ciência. Ela não cogita de construí‑lo:
ao contrário, ela o toma como um dado, como um objeto de estudo, e
tenta analisá‑lo e explicá‑lo.

Nos termos colocados, a tarefa do sociólogo acaba por ser a de estabelecer essa conexão entre
os dados e seus significados ideais em uma sociedade, todavia não antes de estabelecer hipóteses,
e de percorrer um caminho de investigação racional e causal. O controle da dimensão subjetiva das
observações do próprio pesquisador é considerado fundamental no estabelecimento de uma objetividade
66
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

científica, porém essa dimensão subjetiva já se tornara presente no recorte do objeto de estudo e na
eleição dos fatores explicativos. Pode‑se dizer ainda que, aos olhos contemporâneos, o próprio Durkheim
não escapou da subjetividade: contagiado pelo ambiente cultural europeu, ele se refere a formas
“primitivas da vida religiosa”, e a “culturas inferiores”, embora não admita uma “sequência evolutiva”,
como pretendiam outros de seu tempo.

Weber, em texto de 1904, tratando da objetividade cognoscitiva da ciência social, deixava clara sua
proposta: “A ciência social que queremos promover é uma ciência de realidade. Queremos compreender
a realidade da vida que nos circunda, e na qual estamos imersos, em sua especificidade” (WEBER, 1958,
p. 61, tradução nossa). Essa especificidade implica compreender o sentido subjetivo da ação dos sujeitos,
na sua significação cultural e histórica. Tal compreensão vai ser construída pelo sociólogo, como parte
de seu fazer da ciência, pelo recorte que ele realiza ao eleger um “objeto” significativo de investigação,
ao analisar as conexões de natureza diversa que o explicam e permitem interpretá‑lo.

Para tornar possível lidar com o sentido subjetivo das ações dos sujeitos, mas compreendendo‑o no plano
das conexões com o exterior, Weber adverte que as ações dos sujeitos que interessam à Sociologia compreensiva
não são as que se podem buscar no âmbito psicológico individual, que digam respeito às tendências pessoais,
de personalidade. Apesar de os estados emocionais, os sentimentos, constituírem dimensões significativas
das ações, uma vez que estabelecem sentido para elas, o interesse da Sociologia se concentra no sentido
social das ações dos sujeitos, em que pese esse sentido não ser rigorosamente racional, mas irracional, e atuar
indiretamente no campo das ações. Weber (1958, p. 177, tradução nossa) explica:

A ação que especificamente reveste de importância para a sociologia


compreensiva é, em particular, uma conduta que: 1)está referida, de
acordo com o sentido subjetivamente mentalizado do ator, à conduta dos
outros; 2) está codeterminada em seu decurso por esta referência plena
de sentido, e 3) é explicável por via da compreensão a partir deste sentido
mentalizado subjetivamente.

Portanto não se trata apenas de ações dos sujeitos individualizados, mas de ações que são
“mentalizadas”, como diz Weber, levando em conta o outro. Por isso os sentidos subjetivos das ações
dos sujeitos não se esgotam, nem podem ser explicados no nível da vida desses mesmos sujeitos. Os
dados observados não permitem, por sua vez, explicar o sentido sociológico das observações: na sua
empiricidade, eles não reproduzem o sentido social, as expectativas dos sujeitos em relação ao outro, os
padrões de reciprocidade, exatamente a dimensão que interessa à Sociologia compreensiva.

A construção de tipos‑ideais aparece assim como “recurso heurístico, mediante o qual o sociólogo
põe em evidência [...] a conjugação do desenvolvimento exterior e dos motivos das ações sociais. É
evidente que esse procedimento, que compele o especialista a escolher livremente os aspectos essenciais
da realidade” (FLORESTAN, 1972, p. 89).

A construção de tipos ideais, porém, não é tarefa de simples abstração de características a partir
dos dados de observação das condutas: a busca pelo sentido subjetivo das ações implica tomá‑las nas
suas conexões com modalidades de racionalidade possíveis, orientadoras das condutas em determinado
67
Unidade II

momento da história, portanto também considerá‑las em relação às ideias que figuram como idealização
em uma dada época. Mas “a relação causal, entre a ideia historicamente verificável que governa os homens
e aqueles elementos de realidade histórica a partir dos quais é possível abstrair o tipo ideal correspondente,
pode[,] como é natural, configurar‑se de maneiras distintas” (WEBER, 1958, p. 85, tradução nossa).

Quanto mais Weber detalha a construção de tipos‑ideais, mais os procedimentos se distanciam do plano
empírico, e mais o recurso conceitual ilumina o caminho para compreensão e interpretação da realidade
investigada. Por consequência, os tipos‑ideais que representam a realidade dos fenômenos pesquisados
são vazios da empiricidade, mas dela guardam os traços que o pesquisador considerou essenciais, ou
típicos, no que se refere à adequação racional entre meios e fins nas condutas portadoras de sentido.

Tanto para Durkheim quanto para Weber, cabe ao sujeito (sociólogo) construir o “objeto” de sua
investigação, eleger traços característicos aos fenômenos em foco, admitir hipóteses, imprimir um curso
à pesquisa, e assim antecipar, ou pressupor resultados. Nos dois autores, a empiricidade do material de
pesquisa não decorre diretamente da “massa” de comportamentos individuais observados, mas sim da
regularidade observada nos comportamentos, por sua vez resultante de procedimentos do pesquisador.

Nesse sentido, por “empírico”, não se pode entender o evento que aparece submetido a uma
enumeração qualquer, mas o sentido social, histórico e subjetivo da ação de que ele é portador, cuja
regularidade permite a investigação. Contudo, tanto as conexões que podem ser imputadas aos fatos
(Durkheim) quanto os sentidos das ações (Weber) não repousam na superfície do dado empírico, estão
para além dele, nos olhos e concepções do pesquisador.

Embora Marx não tenha sido sociólogo, nem fosse a Sociologia sua preocupação, o materialismo
histórico dialético influenciou profundamente a Sociologia. Como método, ele conduzia a análise
das relações sociais para além da materialidade em que apareciam como “reais”, na medida em que
as situava na dinâmica histórica e dialética das relações de classe no modo capitalista de produção.
Nesses termos, os dados empíricos, por exemplo, de salários e horas trabalhadas permitiram chegar ao
conceito de “mais‑valia”, motor oculto nas relações de produção, mas responsável pela acumulação
simples e ampliada do capital. O empírico não deixava de ter importância, mas como aparência que
deveria ser ultrapassada, para se constituir a ciência. Do mesmo modo, a sociedade capitalista, burguesa,
representava a aparência ampliada das relações de exploração entre classes e seus segmentos.

Nos três autores apontados brevemente, pode‑se constatar que a realidade empírica não constituía o
material das propostas de ciência do social, mas uma base, e a partir dela se constituía, ou se construía
a ciência, por uma mediação, ao mesmo tempo da ordem do sensível e do racional, uma representação
do real, que na verdade não o espelhava, mas focalizava de algum ângulo e sob alguma luz da teoria.
Essa constatação levou Menezes (2000) a questionar, propondo o conceito de representificação: “Se
para estes três autores não existe de imediato o real, para o que é que nós olhamos diretamente? Para
Durkheim, as pré‑noções, os pré‑conceitos, para Weber, o caos, e, para Marx, a ideologia e os fetiches”.

Por outro lado, pode‑se admitir certa similaridade entre a empiricidade obtida em pesquisa sociológica
por questionários e entrevistas e aquela obtida pela pesquisa em filmes. Em ambas, a regularidade dos
comportamentos observados constitui apenas uma base a partir da qual se pretende conduzir a pesquisa.
68
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Há, porém, o campo da ordem do sensível, e nele também se estabelecem critérios que permitem
caracterizar o “mesmo” e a “diferença” nas regularidades. Na pesquisa sociológica, nas entrevistas, quando
o outro se situa em espaço social partilhado pelo pesquisador, se estabelece uma relação intersubjetiva
mediada pela linguagem em comum; em situações em que essa comunicação direta é dificultada ou
impossibilitada pela distância histórica ou de espaço social, cabe ao pesquisador encontrar recursos que
lhe permitam transpor essas distâncias, para, como se diz, “penetrar no mundo do entrevistado, ou dos
‘sujeitos’ da pesquisa”.

Todo o entorno de uma entrevista, entonação de voz, ambiente, gestos, espaço (e até cheiros)
constituem elementos que reforçam a relação de intersubjetividade, ou supostamente permitiriam a
transposição de obstáculos à comunicação. Desse modo uma entrevista (ou mesmo a aplicação de
um questionário) não é vazia de comunicação sensível, incluindo em certa medida a sensibilidade do
pesquisador, sua visualidade da situação e do próprio “sujeito de pesquisa”. Contudo, o que é à primeira
vista indevassável é exatamente o “mundo” do outro, valores, sentidos das condutas, ou, em outras
palavras, o conteúdo sociológico que justifica a pesquisa. A construção de regularidades abrange as duas
dimensões, primeiramente aquela que foi obtida na espessura racional do discurso, das palavras, nas
entrevistas, complementada pela informação da ordem do sensível, da empatia (ou não) do pesquisador.

Nas pesquisas com filmes, há inversão desses dois campos: não há comunicação direta entre
pesquisador e “sujeitos da pesquisa”, porque não há “sujeitos de pesquisa”, mas personagens, cujo
“mundo” é devassado pela câmera, na espessura de imagens, sonoridades e diálogos. Por sua vez,
personagens são agentes de trajetórias que lhes foram construídas em roteiros e argumentos que
vieram da literatura ou não. As condutas são de uma “espontaneidade” planejada, construídas pela
direção do filme, da fotografia, tomadas, ambientação cenográfica, histórica e estética. A visualidade se
oferece ao pesquisador como o espaço em que foi construída a encenação de uma suposta racionalidade
(ou irracionalidade) de condutas. Em outros termos, o plano do sensível se tornou a instância para a
construção racional da regularidade das condutas, é ele que é ofertado para a construção do conteúdo
sociológico que justifica a pesquisa.

Ora, ao se pensar em regularidade, o olhar é desviado do fato individual em sua existência fugaz,
para as relações que propiciam a sequência de fatos que denunciam regularidade. Essas relações são
históricas, como “o modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir de que elas são afirmadas,
postas, dispostas e repartidas no espaço do saber para eventuais conhecimentos e para as ciências
possíveis” (FOUCAULT, 1981, p. 233). Nessa passagem do individual para a constituição da regularidade,
instala‑se o olhar de pesquisador, mas dirigido para “algo” cuja apresentação se distingue em duas
modalidades de “material empírico”: a) discursos sobre o vivido, obtidos em relação a um conteúdo
racional da pesquisa, secundados pela sensibilidade, (entrevistas); b) imagens do vivido e seus discursos
dirigidos à sensibilidade (filmes), considerados em relação à racionalidade do conteúdo da pesquisa.

Se até agora esses comentários vinham apontando similaridade na concepção de “material empírico”
no âmbito da teoria sociológica de campo e com filmes, pelo elo da sensibilidade presente em ambos os
campos, agora se instala uma diferença essencial: a representação discursiva predominante no material
de pesquisa sociológica deixou de ser central à pesquisa, em seu lugar, encontram-se filmes, construções
imagéticas de condutas, trajetórias e da própria sociedade. Esse material de imagens será o objeto das
69
Unidade II

práticas desenvolvidas para a construção do conhecimento a partir de textos, com vista a estabelecer
regularidades que permitam análise, explicação e interpretação.

Entretanto, filmes são dirigidos ao entendimento e reconhecimento sensível do público, eles são
produtos culturais, não são discursos de esclarecimento, nem testemunhos ou relatos de sujeitos de
pesquisa; portanto houve uma torção de ordem ontológica no “material” submetido à análise. Essa
torção se afina com a tendência à visualidade presente na sociedade contemporânea, mas ela faz surgir
no campo de pesquisa a diferença radical existente entre texto e imagem, instalando uma dúvida de
caráter epistemológico: poderão ser utilizados com filmes os mesmos procedimentos desenvolvidos pela
Sociologia para a produção do conhecimento a partir do discurso?

8.1 Discurso e imagem na construção da sociabilidade

Para encaminhar resposta a essa indagação, convém lembrar com Foucault que “o limiar da nossa
modernidade não está situado no momento em que se pretendeu aplicar ao estudo do homem, métodos
objetivos, mas no dia em que se constituiu um duplo empírico‑transcendental a que se chamou ‘homem’”
(FOUCAULT, 1981, p. 335). Para dar conta dessa duplicidade, desenvolveu‑se no pensamento moderno a
análise do vivido, que procurou “articular a objetividade possível de um conhecimento da natureza com a
experiência originária que se esboça através do corpo; e articular a história possível de uma cultura com a
espessura semântica que a um tempo se esconde e se mostra na experiência vivida”(FOUCAULT, 1981, p. 337).

Na análise desse “vivido”, foram constituídas as ciências humanas, e a Sociologia por decorrência,
em uma “região” epistemológica (FOUCAULT, 1981, p. 337) na qual se situa o desvendamento sobre o
“indivíduo que trabalha, produz, consome, e se confere a representação da sociedade em que exerce
essa atividade”; desenvolveu‑se aí também um arcabouço conceitual, autônomo ou adaptado de outras
ciências, que foi sendo articulado às práticas que tornaram possível conduzir, dentro de limites, as
empiricidades à representação.

A reflexão sociológica sobre o próprio conhecimento desenvolvido abrangeu aspectos e tendências


significativas ao longo de todo o século XX, mas o campo da relação texto e imagem, discurso e imagem
não constituiu tema significativo, quando comparado a outros, como ideologia, classes sociais, política
etc. Embora a Sociologia tenha se valido da produção desenvolvida no âmbito da teoria da comunicação
e da arte, dentre outros, o questionamento sociológico sobre a relação discurso e imagem, com vista à
construção de regularidades na “representação empírica” do social, não mereceu grande interesse.

Outros campos, como Etnografia e Etnologia, recorreram ao cinema para documentar realidades
culturais. Contudo, nesses campos, o cinema documental foi utilizado como confirmação, ou exposição
“da verdade” dos fatos, posição que se mostrou inverídica posteriormente. O trabalho de Menezes (2000)
comenta esse uso do cinema, como material “empírico”, e as falácias associadas a tal procedimento.
O artigo de Menezes será retomado posteriormente, mas aqui basta mencionar que o conceito
“representificação”, que ele propõe, visa exatamente corrigir tais problemas.

Ao fim do século XX, mudanças sociais trazidas com a expansão dos meios de comunicação
tecnológicos, coerentes com as alterações verificadas no modo de produção capitalista da economia
70
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

globalizada e de consumo, resultaram em profundas alterações nos padrões de sociabilidade, refletindo‑se


diretamente nas formas de comunicação e no modelo societário contemporâneo: visualidade, aparência,
imagem, espetáculo são aspectos (ou facetas) característicos da vida social cotidiana. Fredric Jameson
(1996), em obra decisiva de 1991, analisou a lógica cultural que predomina no capitalismo tardio, ou
na pós‑modernidade, uma sociedade que ele designa com a frase de Guy Debord, em Sociedade do
espetáculo, na qual “a imagem se tornou a forma final da reificação” (JAMESON, 1996, p. 44).

Essas tendências marcam a vida cotidiana, estão na experiência diária das relações sociais, são
referidas em seu conjunto pelos imprecisos termos de “modernismo”, “modernidade” e “pós‑modernismo”.
Termos que pretendem designar uma representação paradigmática da sociedade contemporânea. No
entender de Jameson (1996), falta‑lhes caracterização consistente, uma vez que eles indicam processos
e dinamismo histórico em curso com referência a outro modelo, o modo de produção capitalista, mas
são empregados para designar um campo mais amplo que a dimensão econômica da vida social. Como
então abranger as inovações emergentes na esfera conceitual, apreciar seus efeitos, analisar seus
impactos em culturas distintas, sobre as subjetividades, e na obra estética? Esse seria um projeto amplo
que, segundo Jameson (1996, p. 308), caberia a uma “sociologia como a de Weber”.

Na verdade, a Sociologia foi paulatinamente incorporando a comunicação pela imagem, ou a imagem


no processo de comunicação, como dimensão peculiar da sociabilidade contemporânea, construindo a
partir daí um campo particular de investigação, em paralelo aos estudos de cinema, televisão e fotografia.
Contudo, ao se situar como uma Sociologia visual, nas variantes da fotografia e cinema, o foco de
investigação se concentra nas múltiplas possibilidades de análise da imagem, e nos seus sentidos que
escapam da margem, ou da moldura do quadro, projetando‑se para o campo da interpretação, e é nesse
campo que a retoma o sociólogo em suas pesquisas. Como esclarece Martins (2008, p. 68):

Para o sociólogo, o importante da fotografia está no imaginário social de


que ela é meio, na imaginação mediadora que suscita. O sociólogo “lê” a
fotografia indiretamente, através da compreensão que dela tem o homem
comum, da interpretação da vida e da consciência social de que ela é
instrumento e expressão. A Sociologia Visual poderia ser também e, talvez,
sobretudo, uma Sociologia do conhecimento visual, Sociologia de um modo
de conhecer visualmente a sociedade e suas relações sociais e um modo de
conhecer a consciência social e os crescentemente diversificados meios e
modos de sua expressão.

De outro campo, agora dos estudos de cinema, Bernadet, crítico e cineasta, aponta para aspectos
assemelhados, ao afirmar que “as imagens não detêm, em si, uma significação definida e estável. A
plurissemia da imagem é evidente. A significação de uma imagem constrói‑se pela sua inserção em
determinado contexto visual e sonoro”; e referindo‑se à própria prática: “Fazendo esses filmes, brinco
com a plurissemia, com a indeterminação da significação, é graças a elas que os filmes se tornam
possíveis” (BERNADET, 2000, p. 33).

Esse “brincar com a plurissemia” é apontado pelo autor como sendo atividade de risco calculado,
porque ele diz que “a sociedade dita da imagem tem medo [...] de que seu controle sobre a significação
71
Unidade II

lhe escape. Portanto vivemos tanto uma civilização da imagem, mas da imagem cercada por outras
imagens e palavras que lhes contenham e lhes determinem as significações” (BERNADET, 2000, p. 33).

Enquanto Martins (2008), trabalhando com a imagem sem movimento da fotografia, encontra
nela própria o campo em que a representação se projeta como mediação plena de sentidos, que são
resgatados (ou construídos) pelo sociólogo na interpretação; Bernadet (2000), trabalhando com a
imagem em movimento do cinema, constrói essa trajetória de projeção com sua brincadeira de atribuir
sentidos, controlando o curso com estratégias de corte, montagem e som, cuidando para que eventuais
resíduos dessa operação não comprometam o curso planejado.

Desse modo, seu intento, que era o de construir subjetividades usando imagens de outros
diretores, implicou controlar o que não está na imagem, mas no seu sentido, na sua trajetória
de significação, subvertendo seu curso, criando outro. A esse processo, Bernadet denomina
ressignificação, palavra retirada de Eribon, para designar “a possibilidade de recriar sua identidade
pessoal a partir de uma identidade designada” (BERNADET, 2000, p. 43). Ora, o que ele fez foi
urdir outro laço na trama de sentidos construída socialmente e que orienta a apropriação da
imagem pelo outro, o espectador.

Voltando às questões em aberto, pode‑se constatar que nas duas situações apontadas a “empiricidade”
necessariamente peculiar que constituiria o material de construção das regularidades se situa fora do
suporte material da representação (filme e foto); embora se encontre envolta em palavras e sons, ela
não é dada pelas palavras ou sons, mas é construída para além delas. Seu espaço é um “entre lugar”, em
que se tece o saber de cada época, em uma combinação do ver e do falar.

8.2 A fresta e o olhar para a disjunção entre norma e prática

Essa disjunção entre o visual e o discursivo, em parte, repercute da disjunção entre a norma
(discursivo) e a prática (visual), instância que possibilitou investigar, em filmes, o “avesso da ordem” na
formação social brasileira, a sua outra face, a das tramas, estratégias, táticas, enfim, das práticas efetivas
dos dispositivos de poder. Ela também remete para conexão entre os filmes e as obras literárias nas quais
foram baseados, processo frequente na filmografia internacional e brasileira, de Shakespeare a Machado
de Assis, Nelson Rodrigues, Rubem da Fonseca e Ubaldo Ribeiro, para citar apenas esses.

Com foco de interesse centrado na literatura, Schollhammer (2002) alinha sua investigação sobre o
“regime representativo da modernidade” à tendência anunciada por Thomas Mitchell em Picture Theory
“de uma verdadeira Virada Pictórica (A Pictorial Turn) nas ciências humanas atuais” (MITCHELL apud
SCHOLLHAMMER, 2002, p. 23).

Na leitura que Schollhammer faz de Mitchell, a imagem emerge

como paradigma dentro das ciências humanas, da mesma maneira que


aconteceu nos anos 1960 com a linguagem e com a chamada Virada
Linguística, ou seja, não só como um tópico central de estudo, mas como
característica cultural percebida (SCHOLLHAMMER, 2002, p. 23).
72
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Mesmo porque, ainda segundo o autor, “todos os meios de comunicação são meios mistos, todas as
representações são heterogêneas; não existe nenhuma arte ‘puramente’ visual nem verbal, apesar de ser o
impulso de pureza um dos gestos utópicos do modernismo” (MITCHELL apud SCHOLLHAMMER, 2002, p. 24).

A partir desse pressuposto, Schollhammer (2002, p. 20) demarca seu campo de pesquisa, como:

[...] um campo de trabalho comparativo que me parece ser, hoje, de renovado


interesse para os estudos literários. Refiro‑me ao estudo da relação
entre texto e imagem, entre a representação visual e a literatura, como
abordagem fértil para a compreensão da literatura numa sociedade cada
vez mais dominada pela dinâmica da “cultura da imagem”. Assim, a hipótese
principal que guia nossa abordagem aponta para a relação entre o que o
texto ‘faz ver’ e o que a imagem “dá a entender” como o nexo privilegiado
para delinear a arquitetura do regime representativo de um determinado
momento histórico e cultural.

O nexo privilegiado a que o autor se refere se situa no mesmo “entre lugar”, já mencionado, onde
discurso e imagem, livro e filme, dançam um perto do outro, se aproximam ou se opõem. Nesse lugar,
resgata‑se o material necessário à construção das representações; todavia o olhar do pesquisador não
é dirigido para a materialidade do livro ou da imagem, ambos apenas sinalizam o campo de referência,
são os passos dessa dança que inquietam o pesquisador.

Na abordagem sociológica clássica, como foi apontado, também a empiricidade é uma mediação
construída no exterior do dado, seja esse exterior à postura teórica, sejam os pressupostos sobre conexões
dos fatos. Na verdade, esse exterior, adotado pelo sociólogo, orienta a obtenção da manifestação empírica
das condutas, e construção das regularidades que permitem descrição, explicação e interpretação do
objeto de conhecimento construído, ou conduziriam à transformação, na medida em que a ciência
municiasse a práxis.

Pesquisas anteriores sobre dispositivos de poder na formação social brasileira ancoradas no campo
foucaultiano forneceram parte do material “empírico” (filmes) reutilizado nessa pesquisa, e anteciparam
questões investigadas. Na verdade, investigar os processos de constituição de subjetividades na
formação social brasileira, de individuação e construção de sujeitos, implicou resgatá‑los no âmbito
dos dispositivos de poder, respectivas estratégias, táticas e mecanismos práticos de controle, e do “entre
lugar” instaurado entre filmes, diálogos e textos.

8.3 Subjetividade e subjetivação, as práticas

A história perpassa os dispositivos, refletindo mudanças operadas na economia e cultura, introduzindo


uma temporalidade difusa e flexível, que afeta toda formação social, embora não se propague para toda a
formação social ao mesmo ritmo. Essa dinâmica responde simultaneamente pela formação de um “avesso”
da ordem, espaço das práticas e estratégias efetivas no exercício do poder, e sobre as subjetividades, como
modelos coerentes com a face normativa da ordem, mas relacionados ao seu “avesso”.

73
Unidade II

Quanto aos processos de individuação e de construção do sujeito, ou subjetivação, eles revelam


estratégias de resistência e de transgressão, pelas quais o sujeito se afirma não necessariamente em
contradição à ordem, mas em acomodação a ela e ao seu avesso. De fato, o sujeito se constrói nos
processos de individuação e subjetivação em meio aos dispositivos de poder, saber, e de sexualidade.

Afirmar que a pesquisa se situa em um campo foucaultiano implica como ponto de partida estabelecer
a relação “em primeira instância, com uma população de acontecimentos dispersos” (FOUCAULT, 2000, p.
88), os quais guardam entre si relações que podem ser identificadas, na medida em que sejam destacados
como enunciados. Na prática, significa questionar o que cada filme faz aparecer, que modalidade de
relação (ou vínculo) que ele estabelece com um exterior ao próprio filme, e nesse mesmo procedimento,
focalizar as práticas das personagens: quais relações elas mantêm entre si, e com outras personagens
de outros filmes. As articulações que podem ser apreendidas com esse procedimento podem variar,
tanto em relação aos processos focalizados na pesquisa, quanto em relação às condições históricas,
econômicas, e culturais refletidas nos filmes2.

Na medida em que se tem sob o ponto de pesquisa a construção de subjetividades na formação


social brasileira, dois aspectos mencionados por Foucault (1984) acrescem em importância: o caráter
contingente que marcou a presença e desenvolvimento dos segmentos sociais que integram essa
formação, e as formas de arbítrio de que foram alvos, ao longo da história; e a natureza da pesquisa,
“que é genealógica em sua finalidade e arqueológica em seu método” (FOUCAULT, 1984, p. 348). Na
verdade, uma pesquisa que ele designa por “histórica”, porque focaliza os acontecimentos de pesquisa“
que nos levaram a nos constituir e a nos reconhecer como sujeitos do que fazemos, pensamos, dizemos
(FOUCAULT, 1984, p. 348).

A sugestão de Foucault para tornar possível uma pesquisa com essas características é partir do
que ele chama de “conjuntos práticos”. O domínio de referência nesse caso não é constituído pelas
“representações que os homens se dão deles mesmos, não as condições que os determinam sem que eles
o saibam, mas o que eles fazem e a maneira pela qual fazem” (FOUCAULT, 1984, p. 349‑50).

8.4 As práticas e seus agentes, os segmentos em foco

Os “grupos” estudados constituem teoricamente os conjuntos práticos de que fala Foucault, sendo
possível pesquisá‑los em construção cinematográfica na trajetória das personagens, e na sequência
de filmes, “evidências materializadas” de processos de constituição de subjetividade, de individuação e
respectivos desdobramentos, nas condições contingentes da formação social brasileira.

É óbvio que os conjuntos práticos de referência não constituem unidades isoladas ao longo da
História, portanto não podem ser descritos processos de subjetivação sem considerar os limites internos,
ou fronteiras. Alguns contingentes se apresentam não somente a partir da presença do colonizador
branco, mas também a partir da presença dos outros “grupos”, práticas e estratégias adotadas. Essa

2
O próprio filme constitui uma manifestação de acontecimento, na medida em que se o considere vinculado a uma
dada linguagem estética, gênero ou recurso tecnológico. Essas dimensões, contudo não estão sob o foco dessa pesquisa,
embora possam ser mencionadas, aqui e ali, como simples referência.
74
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

observação se aplica de modo particular às mulheres, mas também ao convívio entre índios (aliados
dos portugueses e de outros europeus), entre negros (quilombolas, integrantes das forças de repressão,
libertos, negros de ganho e outras distinções).

Se a racionalidade mercantilista consistiu determinante da inclusão da terra descoberta no circuito


da economia mundial nos séculos XVI e XVII, as estratégias do capitalismo manufatureiro e do industrial
foram condicionantes no desenho da formação social nos séculos XVIII e XIX. Essas tendências do
“de fora” foram incorporadas internamente, aparecendo no conjunto de estratégias e práticas que
constituíram as trajetórias de subjetivação, assujeitamento e resistência dos grupos de referência.

Do ponto de vista das contingências abertas para inserção na formação social, a oferta de
mão de obra como fator de produção e contingente populacional percorre uma trajetória que
se articula, de um lado, à mão de obra escrava (índios e negros) e de outro, aos contingentes de
excedentes contemporâneos. Nesses termos, a trajetória da força de trabalho percorre o eixo da
genealogia, assim como revela uma arqueologia das condições de trabalho na formação social. São
essas duas dimensões simultâneas que permitem entender a permanência de formas “atualizadas”
de trabalho escravo em longínquas fazendas do Pará, Tocantins, Maranhão e Amazonas, bem como
permitem situar movimentos e organizações de resistência a tais condições, sendo as organizações
indígenas um exemplo significativo.

A organização imprimida aos filmes, a partir de uma “historicidade interna, (especialmente as


trajetórias das personagens) teve o propósito de explicitar, em certo nível, quais enunciados eles refletem,
mesmo quando essa enunciação não aparecia explícita na fala das personagens. Nesse sentido, os filmes
refletem, ou constituíam “arquivos” de subjetividade e subjetivação na formação social, lembrando
que, para Foucault, um “arquivo” constitui “o jogo das regras que, em uma cultura, determinam o
aparecimento e o desaparecimento de enunciados, sua permanência e seu apagamento, sua existência
paradoxal de acontecimentos e de coisas” (FOUCAULT, 2000, p. 94‑5).

As regras que constituem cada “arquivo” são as escritas e formalizadas pela ordem, a exemplo
da legislação e de seu sentido, aquelas que presidem as práticas e as reforçam, embora possam não
corresponder às normas, além daquelas que se situam em um “mais além” da ordem, e inspiram as
trajetórias de mudança. Importante acentuar que essas regras, como enunciados, também constroem
seus “objetos” como foi o “índio pacificado” e “a mulher livre”, para citar dois exemplos. De outro lado,
elas animam as trajetórias de mudança e, nesse caso, aparecem nos discursos libertários, e nos mais
recentes discursos de cidadania.

8.5 Quando a pesquisa se impõe à pesquisadora

A organização dos filmes em “grupos de interesse” ou “conjuntos práticos”, identificados em


relação à constituição da formação social, mulheres, índios, negros em inscrição histórica, da colônia
à república e respectivas fases, formava aparentemente uma matriz de subjetividades e de processos
de individuação, inseridos na formação social em papéis distintos, dos quais a procriação, o prazer e o
trabalho constituíam forças determinantes. Mas não foi o que sucedeu!

75
Unidade II

As forças do interior da pesquisa, exatamente as que tinham origem na investigação das


subjetividades e processos de individuação, impuseram outro arranjo, exatamente porque ao se focalizar
subjetividades faltava o Outro, e esse Outro de todos os grupos identificados era (e ainda é)... o homem!
Ora, se para Foucault o desafio residia em “se livrar do sujeito constituinte” (FOUCAULT, 1986, p. 7) daquele
sujeito da representação, e da produção da verdade, na medida em que os “conjuntos de interesse” não
o tomavam, esses mesmos conjuntos o faziam aparecer em seus reflexos, em seus jogos de verdade e
seus discursos, na configuração e constituição dos “grupos”, e de suas práticas.

Em outros termos, os “conjuntos” reproduziam a constituição de sujeito como origem “da verdade
que se dá na história”, em detrimento da construção “de um sujeito que se constitui no interior
mesmo da história, e que é a cada instante fundado e refundado pela história” (FOUCAULT, 1999,
p. 10). Essa diferença pode ser observada em conjuntos de interesse focalizados, mulheres, jovens,
negros e índios, cujas trajetórias superaram modelos de subjetividade construídos na ordem, e assim
fazendo estiveram se construindo como sujeitos nessa mesma ordem, mas espelhados em modelos de
uma “ausência” que se fez presente.

As trajetórias de subjetivação implicaram em superar barreiras e abrir espaços na formação social,


construir “discursos de outras verdades”, e outras práticas, que determinaram rearranjos na matriz das
subjetividades. Essa matriz de modelos foi historicamente um espaço de construção masculina, assim
também os modelos (ou trajetórias) de construção dos sujeitos de si eram (ou são) masculinos, ou
melhor, controlados pelos dispositivos de poder que têm no homem, desdobrado em múltiplos papéis,
o centro controlador. Por isso esse “sujeito construtor de verdades” se projeta em todos os modelos de
subjetividade na ordem social.

Essa constatação só pôde ser realizada porque dispositivos de poder, que são regimes normativos
e operacionais, estão a suscitar mudanças, acomodações estratégicas, uma dinâmica de movimentos
inconclusos, ensaios de mudança, que vêm de uma temporalidade distante, talvez dos anos 20 do século
passado. Um indício significativo nessa direção se extrai dos diálogos das personagens, manifestado
na seleção de atributos de referência: coragem, bravura, desassombro, arrojo, eficiência e saber são
sistematicamente referidos às figuras masculinas, raramente às femininas, assim como riqueza e
competência. Alguns desses atributos quando reconhecidos nas trajetórias femininas vêm acrescidos da
expressão “Parece homem!”

Por seu turno, as falas femininas, nos processos de individuação e construção de sujeito, apontam
barreiras e obstáculos que não vêm propriamente das condições sociais e econômicas amplas, mas,
sobretudo do controle masculino dessas condições: a terra, o emprego, os vínculos afetivos e os filhos.
Em alguns filmes, como Três Marias, o discurso feminino reproduz o masculino da vingança, situação
que reaparece em Árido Movie, mas essas não são situações frequentes. Ainda nessa linha, o aspecto
surpreendente em Eu Tu Eles reside na instauração e acomodação de uma lógica de relacionamento que
altera as disposições de poder tradicionais. De qualquer forma, trata‑se de uma questão a ser explorada
em outra pesquisa.

76
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

8.6 Subjetividade e subjetivação, deslizamento para além das telas

A grande presença ausente foi sendo detectada nas múltiplas formas de subjetividade e construção
do sujeito ao longo dos procedimentos de pesquisa, especialmente ao serem estabelecidas relações
entre o visível na tela, nas telas, com as falas das personagens e enunciados que as suportam, mas que
estão no exterior dos filmes e nos textos. Ela foi se configurando como insidioso contorno das práticas
de individuação, de subjetivação, que aparecia nas telas como alusão ao que ali não estava, mas que
justificava sua construção. Como diz Deleuze,

[...] não tem importância que as visibilidades remetam aos enunciados,


a enunciados secundários, que os enunciados remetam a conteúdos
extrínsecos, tudo isso não impede que o enunciado, em sua forma, jamais
tenha uma forma visível, e que o visível, na sua forma, jamais tome a forma
do enunciado (DELEUZE, 1982).

Além do mais, ao tomar filmes como “manifestação de acontecimentos”, essas duas dimensões, a
visual e a discursiva, distinguem espaços na formação social, e momentos, embora na historicidade
fluída já mencionada. Como diz Deleuze (1987, p. 74‑6):

[...] a arqueologia tal como ele (Foucault) a concebe é um arquivo


audiovisual (a começar pela história das ciências). [Por isso] uma “época”
não preexiste aos enunciados que a exprimem, nem às visibilidades que
a preenchem. São os dois aspectos essenciais: por um lado, cada estrato,
cada formação histórica implica uma repartição do visível e do enunciável
que se faz sobre si mesma; por outro lado, de um estrato a outro varia
a repartição, porque a própria visibilidade varia em modo e os próprios
enunciados mudam de regime.

Esse comentário de Deleuze remonta às colocações de páginas anteriores sobre a empiricidade na


Sociologia, análise de imagens, emprego da fotografia, análise de filmes, consequentemente remete ao
conceito de “representificação” (MENEZES, 2000), também já mencionado.

A questão central levantada pelo autor reside na relação entre cinema (documental e ficção) e
representação “objetiva” da realidade, e avançando sobre as concepções de realidade social nas três
vertentes clássicas da Sociologia: Durkheim, Weber e Marx, os três autores, como foi apontado,
pressupõem a articulação teórica como mediação necessária para assegurar a validade do conhecimento
da “realidade”, portanto não a concebem como a imediatidade do observado.

Menezes, com apoio em Benjamin, Francastel e Gombrich, reconhece a importância de um olhar


que se dirija para os processos que engendram semelhanças, e para os valores e perspectivas de
constituição da imagem, mas: um filme não é uma representação do real, pois a representação
não se confunde com o próprio real. Não é um duplo do real, pois não tem a função ritual de unir
dois mundos distintos. Não é reprodução, pois não copia, não “xeroca” um mundo pretensamente
“externo” sem mediações. O conceito de representificação aparece então como “algo que não
77
Unidade II

apenas torna presente, mas que também nos coloca em presença de relação que busca recuperar
o filme em sua relação com o espectador” (MENEZES, 2000).

Nesse sentido, tomar o filme como representificação permite construir sentidos que não estão na
tela, mas além dela, nas relações estabelecidas, as quais se projetam para tempos articulados e espaços
que “lhe conferem significados” (MENEZES, 2000). Enfim, para o autor (p. 44), “o filme, visto aqui como
filme em projeção, é percebido como uma unidade de contrários que permite a construção de sentidos.
Sentidos estes que estão na relação, e não no filme em si mesmo”.

Na pesquisa, o conceito de representificação está implícito nos procedimentos de investigação


quando se trabalha os filmes como “manifestações”, ou seja, negando‑lhes um caráter de registro
fidedigno, para tomá‑los como construções diferenciadas, fragmentos que representificam
momentos, espaços sociais, e trajetórias de personagens nos processos de construção de
subjetividades e desdobramentos.

Quanto aos modos dessa “representificação” no cinema, ela se oferece em particulares articulações
do visual e do discursivo, ou como reconhece Foucault, “há duas formas: a forma do visível e a forma do
enunciável [...] o enunciável é uma forma, mas o visível é também uma forma” (DELEUZE, 1982). Nesse
sentido Foucault introduz uma béance, cisão ou falha, que amplia as possibilidades de entendimento,
promovendo remanejamento e justaposição dos dois campos.

Ambos não “se traduzem”, ambos se dirigem para “fora”, ambos “dizem” e “fazem ver” algo que não
está nas imagens nem na fala, seja das personagens, seja da voz off. Especialmente no caso da voz off,
“a palavra conta uma história que não se vê”, mas ao se considerar a béance entre o visual e o falado,
“a imagem visual faz ver ligações que não têm ou que não têm mais história, quer dizer, ligações vazias
de história” (DELEUZE, 1982).

Esse “curto‑circuito”, como diz Deleuze, implica superar aquela evidência, para retomá‑la como
manifestação de uma história que a atravessa, seguindo por uma diagonal de sentidos construídos.
Exemplificando: nos documentários sobre contato entre brancos e índios, na década de 1970 no Brasil
Central, a fala em off explicava “o papel civilizador” da ditadura junto aos Bororo, enquanto as imagens
pretendiam comprová‑lo pelas roupas oferecidas, aspersão de Neocid (inseticida) e outras providências.
Ambas se contradizem aos olhos de uma história que as supera, a fala e a imagem manifestam uma
história que não está na superfície daquela sequência, mas numa temporalidade que à época só poderia
ser pressuposta, mas que constituía, afinal, a história.

Esse exemplo, dentre muitos que se encontram na análise de filmes, demonstra porque, para Foucault,
o que se coloca em jogo com um cinema que “reescreve” a história é seu efeito sobre a construção de
uma memória popular. Para ele, o perigo reside em recodificar a memória popular, “que existe, mas que
não tem nenhum meio de se formular. Então, mostra‑se às pessoas não o que elas foram, mas o que é
preciso que elas se lembrem do que foram”. Consequentemente, o “fenômeno politicamente importante
aos meus olhos, mais do que tal ou tal filme, é o fenômeno de série, a rede constituída por todos esses
filmes e o lugar, sem jogo de palavras, que eles ocupam” (FOUCAULT, 2001, p. 333‑4).

78
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Essas palavras alertam para o cuidado que se procurou tomar na análise do processo de constituição
da subjetividade na formação social, baseada em filmes: não se tratou de sustentar a análise somente
no que é típico, e que se apresenta, mas também atentar para as ambiguidades e ambivalências que
podem aparecer no presente dos relacionamentos e nas séries, nas práticas e nos discursos, ou seja,
atentar para a coexistência de distintas respostas dos sujeitos‑personagens nas condições e situações
socialmente abertas.

8.7 Espiando pela fresta do cinema e vídeos: procedimentos e material

Para pesquisar os processos de construção de subjetividades, individuação e construção de sujeitos,


no plano da representificação deliberadamente construída do cinema, foi necessário prestar atenção
aos detalhes das sequências e cenas, às minúcias nos diálogos, de modo a registrar nos relacionamentos
das personagens centrais, em suas trajetórias, reflexos daquele outro plano, o social, em que os
acontecimentos e a vida têm existência concreta. Nesse momento, são comentados os procedimentos
adotados que diferem, em parte, dos anteriormente mencionados.

Partiu‑se de uma ordenação dos filmes disponíveis no banco de dados construída pela “historicidade
interna” do filme, ou períodos da história brasileira. Esse procedimento permitiu perceber desdobramentos
e reformulações dos processos em foco, e associá‑los, em primeira instância, às mudanças operadas na
sociedade brasileira, portanto aos dispositivos de poder que nela respondem pela ordem e por seu avesso. Uma
temporalidade “fluída” emergiu desses períodos, manifestada em mecanismos de assujeitamento e trajetórias
de subjetivação, ambos correspondendo à dimensão propriamente histórica dos processos em foco.

Considerando os períodos apenas como referência, procedeu‑se à organização do material disponível


em séries, e essa foi a origem das observações relativas ao que se chamou de “temporalidade fluída”. No
eixo de construção das séries, a análise revelou um processo de mudança nas práticas de assujeitamento e
construção do sujeito, uma dimensão “genealógica”, nas trajetórias dos grupos, “conjuntos práticos”, como
Foucault (2000, p. 349‑50) os denominou, ou ainda segmentos da formação social em foco. Essa dimensão
endógena a cada grupo aparece nas descrições realizadas, nos processos relacionados às mulheres, negros,
jovens e povos indígenas. Nesse último caso, essa dimensão revelou possível considerar a expropriação
de terras indígenas como acontecimento “contemporâneo” de 500 anos, assim como as “ocupações”
da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de fazendas, manifestações de revolta dos povos indígenas,
“contemporâneas” das ocupações de aldeias jesuíticas, e povoados coloniais do Brasil seiscentista.

Da mesma forma, foi possível focalizar uma “temporalidade fluída” no percurso do assujeitamento à
subjetivação entre as mulheres, surpreender a mãe de Neto (Bicho de Sete Cabeças) em calado assentimento
no século XX; e Xica da Silva, no XVIII, afrontando o mundo colonial, abrindo espaços, como Antonia, nos
dias atuais. Entre os negros, as estratégias percorreram caminhos distintos, da inserção submissa, como
aparece em A Negação do Brasil, à resistência da identidade cultural no Candomblé, à inserção espelhada
do Aristocrata Club, às organizações que hoje movimentam grupos de negros voltados para resgate da
identidade e valorização, seja ao som do rap, reggae, na produção de filmes ou não.

O procedimento central à pesquisa consistiu em explorar o acervo de filmes, fotos e vídeos, além
do material discursivo, que neles aparecia sob a forma de diálogos, de eventuais legendas, voz off e
79
Unidade II

depoimentos, ou mesmo roteiros, em articulação com o campo de referência construído pela bibliografia
e fontes virtuais. Nesse fazer, o campo visual e auditivo de pesquisa situado “na tela” se articulava com
um “fora da tela”, instaurando a “fresta” por onde foram detectados os modelos de subjetividade e
processos de subjetivação, além de construídas e analisadas as séries.

Na verdade, foi o volume de material pesquisado (filmes, fotos, textos) que tornou possível a
construção de séries e, a partir delas, focalizar a reiteração de desdobramentos do tema subjetividade,
manifestação de processos de individuação, e de construção de sujeitos. Em contrapartida, o emprego
de procedimentos classificatórios facilitou essa tarefa, uma vez que permitiu criar uma rede de
sistematização do material para análise.

Todo material disponível para análise consistiu em 715 longas‑metragens, 186 curtas-metragens e
115 outros registros, entre longas‑metragens, entrevistas e vídeos, especialmente gravações pessoais do
Canal Brasil e de outros canais de TV. Esse conjunto forma um banco de dados de referência do projeto,
do qual foram selecionados 521 filmes de longa-metragem, 144 curtas, além de vídeos do YouTube.

Contudo, esse número não se manteve fixo, uma vez que foram incorporados títulos novos (Lula,
menino do Brasil, Tropa de Elite 2, Terra Vermelha, dentre outros). Evidentemente que nem todo esse
material foi citado nas análises realizadas, mesmo porque parte dele, os documentários sobre revoluções
de 1930 e de 1932, por exemplo, não constituíram foco de análise nesse relatório, foram reservados para
um possível outro projeto.

Procedimentos de codificação dos registros possibilitaram a articulação entre longas‑metragens


e os curtas‑metragens, além de facilitarem a seleção de registros para análise. Todavia, como parte
substancial do acervo que já fora utilizado em pesquisas anteriores, essa análise já se encontrava
classificada, e se tornara familiar à pesquisadora. Os procedimentos de sistematização e codificação
com vista à presente pesquisa, e descritos no projeto, foram acrescentados aos anteriores revisados,
resultando em uma consolidação do banco de dados, fundamental ao seu desenvolvimento e de todo
trabalho de pesquisa com filmes nacionais que se venha propor a fazer no futuro.

Resumo

A pesquisa sociológica focada em subjetividade não trabalhou com


informantes ou entrevistados, mas com filmes, trajetórias de personagens
etc. O filme oferece vantagens para o pesquisador, por exemplo, uma cena
pode ser reproduzida, não há sigilo etc. Todavia o material pesquisado não é
submisso ao pesquisador, desde que o sociólogo se mantenha cuidadoso na
condução da pesquisa, especialmente em relação às hipóteses formuladas.
Dessa forma surgem do material outras questões que devem ser revisadas.
Mostrar essa relação pesquisador/material pesquisado foi o principal
objetivo desse relato de experiência.

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REFERÊNCIAS

Audiovisuais

ANTONIA. Dir. Tata Amaral. Brasil: Coração da Selva, 2007. 90 minutos.

ARISTOCRATA Club. Dir. Jasmim Pinho/Aza Pinho. Brasil. 2004. 26 minutos.

BICHO de Sete Cabeças. Dir. Laís Bodanzky. Brasil: Buriti Filmes, 2000. 74 minutos.

A NEGAÇÃO do Brasil. Dir. José Zito Viana. Brasil: Casa de Criação, 2000. 91 minutos.

XICA da Silva. Dir. Carlos Diegues. Brasil: Embrafilme, 1976. 107 minutos.

YNDIO do Brasil. Dir. Sylvio Back. Brasil: Usina de Kyno, 1995. 70 minutos.

Textuais

AMURABI, O. O currículo de Sociologia na escola: um campo em construção (e disputa). Espaço do


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