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Aula 10
Direito Processual Civil – AJAJ – TRF2
Sentença. Conceito. Classificações. Requisitos. Efeitos. Publicação, intimação,
correção e integração da sentença. Mérito. Questão principal, questões
preliminares e prejudiciais. Remessa Necessária. Coisa julgada. Conceito.
Espécies. Limites. Liquidação de Sentença. Espécies. Procedimento
Data: 20/11/2016
Público.
Litisconsórcio. Da Intervenção de Terceiros (Assistência.
Denunciação da Lide. Chamamento ao Processo. Incidente
de desconsideração da personalidade jurídica. Amicus
Curiae). Organização Judiciária Federal e Estadual. Da
Competência interna. Competência.
determinadores. Competência originária dos Tribunais
Critérios
23/out
do processo.
Procedimento comum. Aspectos Gerais. Fases. Petição
inicial. Requisitos. Indeferimento da petição inicial e
improcedência liminar do pedido. Resposta do réu. Impulso
processual. Prazos e preclusão. Prescrição. Inércia
06/nov
CONTEÚDO
1. Apresentação .......................................................................................................................................... 5
2. SENTENÇA. .............................................................................................................................................. 6
3. Conceito. ................................................................................................................................................. 6
4. Classificações. ......................................................................................................................................... 7
5. Elementos da sentença......................................................................................................................... 14
6. Publicação e correção da sentença. ..................................................................................................... 21
7. Efeitos. .................................................................................................................................................. 22
8. Remessa Necessária. ............................................................................................................................ 23
9. COISA JULGADA. ................................................................................................................................... 27
10. Conceito e Espécies. ............................................................................................................................. 27
11. Limites................................................................................................................................................... 29
12. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. ................................................................................................................. 33
13. Espécies. ............................................................................................................................................... 33
14. Procedimento. ...................................................................................................................................... 34
15. QUESTÕES PARA TREINO ............................................................................................................................ 37
16. GABARITO ................................................................................................................................................ 43
17. QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................... 44
18. EXEMPLO DE SENTENÇA ............................................................................................................................. 53
Apresentação
Vamos lá!
SENTENÇA.
Temos visto o procedimento, desde a petição inicial, que pode ser indeferida ou
redundar em julgamento de improcedência liminar do pedido, passando pela
audiência de conciliação/mediação e pela contestação. Depois vimos as
providências preliminares, as hipóteses de extinção do processo, de julgamento
antecipado do mérito (total ou parcial), o saneamento e organização do
processo e a fase probatória.
E a decisão que faz isso por excelência (não sendo a única) é a sentença.
Conceito.
Os códigos anteriores oscilaram entre definir sentença pelo seu conteúdo ou por
seus efeitos.
Também há elementos referentes aos seus efeitos, quando se diz que ela põe
fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução.
Classificações.
Perceba que é necessária que haja uma crise de incerteza, não bastando dúvida
só do autor. Por exemplo, se Maria espalha a todos os vizinhos que Júnior é
filho de João, mesmo João tendo absoluta certeza de que não é pai há uma
situação de incerteza social que justificaria uma ação meramente declaratória
movida por João com o objetivo de declarar que ele não é pai de Júnior
(inexistência desta relação jurídica).
A sentença constitutiva tem eficácia ex nunc (daqui por diante), pois é com sua
prolação que há a alteração efetiva da situação jurídica. Excepcionalmente pode
ter efeitos ex tunc fixados pela lei, como no caso de anulação de um contrato.
Na acepção original, a sentença executiva lato sensu seria aquela que não
necessita de processo de execução para ser satisfeita, pois seria
autoexecutável. A doutrina mais moderna prefere descrever como uma
sentença em que se retomaria um bem do exequente mas que estava com o
executado indevidamente (sem acréscimo patrimonial, como em uma ação de
despejo), ao passo que na sentença condenatória haveria uma diminuição do
patrimônio do executado e um aumento do patrimônio do exequente (obrigação
de pagar, por exemplo).
Por fim, a sentença mandamental seria aquela em que há uma ordem do juiz
(veiculada em um mandado, daí o nome) para que alguém faça (ou não faça)
algo que apenas ela poderia praticar, não havendo substitutividade. O juiz não
simplesmente condena, ele ordena. Se a sentença executiva mira o patrimônio,
a mandamental mira a vontade, podendo até mesmo se utilizar de pressão
(multas, crime de desobediência etc).
CAPÍTULO XIII
DA SENTENÇA E DA COISA JULGADA
Seção I
Disposições Gerais
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por
negligência das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa
julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou
quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível
por disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.
§ 1o Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será intimada
pessoalmente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 2o No caso do § 1o, quanto ao inciso II, as partes pagarão
proporcionalmente as custas, e, quanto ao inciso III, o autor será
condenado ao pagamento das despesas e dos honorários de advogado.
O inc. I diz que haverá extinção do processo sem resolução de mérito quando o
juiz indeferir a petição inicial. Os fundamentos estão no art. 330, de que já
tratamos.
Por fim, o §7º é expresso ao estabelecer que se houver apelação contra uma
sentença terminativa, o juiz tem 5 dias para se retratar, revogando a
sentença e prosseguindo com o andamento do processo. É o chamado efeito
regressivo da apelação, que depende de expressa previsão legal para existir.
Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta
a que a parte proponha de novo a ação.
§ 1o No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos
dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485, a propositura da nova ação
Nos casos em que for admitida a repropositura, ela só será despachada com a
prova do pagamento/depósito das custas e dos honorários relativos à ação
extinta (é um pressuposto processual negativo, que se não for demonstrado,
seja de pronto seja após oportunidade dada pelo juiz, redundará em nova
extinção).
O art. 488 traz regra de que, se possível, o juiz proferirá decisão de mérito se
ela for favorável a quem se aproveitaria da sentença terminativa. Ou seja, o
juiz deve antes de proferir sentença terminativa analisar se é possível decisão
de mérito neste momento (se a causa já está pronta), não lhe cabendo
desconsiderar as hipóteses do 485 para aguardar momento futuro.
Quando o juiz acolhe ou rejeita o pedido, por ser este o único caso em que o
direito material alegado pelo autor é efetivamente analisado, alguns chamam
de sentença genuína de mérito a decisão (por oposição aos outros casos, em
que haveria sentenças de mérito impuras).
Elementos da sentença.
Há alguns elementos que a sentença deve ter (tecnicamente não é correto falar
em requisitos), e eles são especialmente aplicáveis às sentenças genuínas de
mérito. Nas sentenças terminativas, nas sentenças de mérito impuras e nas
homologatórias há certa relativização. Por exemplo, a sentença que homologa
transação terá como fundamento a mera remissão ao artigo de lei; outras
podem ter fundamentação mais concisa; e mesmo pode ser caso de forte
fundamentação, como quando se reconhece prescrição ou decadência.
Seção II
Dos Elementos e dos Efeitos da Sentença
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do
caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das
principais ocorrências havidas no andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e
de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que
as partes lhe submeterem.
O art. 489 §1º traz casos em que a decisão será considerada não-
fundamentada e, portanto, nula.
Era comum decisões em recursos que simplesmente diziam “indefiro por não
preenchimento dos requisitos legais”. Isso tem que mudar. Agora
expressamente (mas mesmo antes, implicitamente) o julgador deve
explicar/fundamentar porque decidiu como decidiu para cada questão jurídica.
Aqui, para não seguir precedente, o juiz deve utilizar um dos dois seguintes
expedientes. Distinção (distinguishing), em que demonstra que a situação no
caso concreto é particularizada por hipótese fática distinta, a impor solução
jurídica diversa daquela firmada no precedente; ou Superação (overruling),
justificar que o entendimento do precedente está superado por algum motivo
(por exemplo, nova lei sobre o tema, etc). Em suma, deve fundamentar porque
não seguiu o precedente.
A decisão deve ser interpretada não por pontos isolados, argumentos fora do
contexto e usados literalmente, mas sempre em conjugação dos seus
elementos, de modo sistêmico entre a fundamentação e o dispositivo, e sempre
pela lente da boa-fé objetiva.
O art. 491 traz a regra de que na condenação de pagar quantia, mesmo que
tenha sido formulado pedido genérico a sentença deve ser líquida.
Os incisos do art. 491 permitem prolação de sentença ilíquida quando não for
possível determinar, de modo definitivo, o montante devido, e quando a
apuração do valor devido depender da produção de prova de realização
demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença.
A sentença extra petita é aquela em que o juiz concede algo diferente do que
foi pedido, seja em natureza diversa, por exemplo, se pediu a declaração não
pode o juiz condenar; seja por objeto diverso, se pediu condenação em dinheiro
não pode o juiz condenar a dar um carro.
Note que a sentença também é limitada pela causa de pedir, não podendo o
juiz conceder o pedido com fundamento em causa de pedir não apresentada
pelo autor. Exemplo: João, após várias tentativas de receber crédito de Pedro, e
depois de avisá-lo várias vezes que iria inscreve o nome dele no SERASA por
A sentença ultra petita é aquela em que o juiz concede mais do que se pediu.
Se há uma dívida de 1.000 mas o autor pede condenação em 750, mesmo que
o juiz se convença de que o réu deve 1000 não poderá condená-lo a mais que
750, pois o próprio autor tem poder de dispor do direito material (crédito).
A sentença citra petita é aquela em que o juiz deixa enfrentar e decidir algum
pedido formulado (ou parte de um), alguma causa de pedir, ou alguma das
alegações de defesa do réu. Quanto aos sujeitos, também é citra petita a
sentença que não decide a causa para todos os sujeitos processuais.
Por fim, há três exceções, casos em que o juiz poderá conceder algo não pedido
pelo autor sem incorrer em sentença nula:
a) pedidos implícitos;
condicional. Não pode haver sentença condicional, ela deve ser certa no que
dispõe. Por exemplo, se A e B firmam contrato em que A se compromete a
disponibilizar sua Ferrari a B se ele se casar com sua sobrinha. A relação
jurídica está sob condição suspensiva (acontecimento futuro e incerto). Mas B
pode ingressar em juízo pleiteando declaração de que o negócio jurídico é uma
doação, não sendo um comodato (em que a Ferrari deve ser restituída após
algum prazo). A sentença, apesar de tratar de uma relação jurídica condicional,
deve ser certa e declarar ser doação ou comodato.
O art. 493 traz regra que permite ao juiz conhecer de fato superveniente à
propositura da ação, de modo a prolatar uma decisão consentânea com o
estado de fatos atual. A única observação aqui é que a jurisprudência do STJ é
clara no sentido de que fatos novos constitutivos do direito do autor podem ser
admitidos desde que não alteram a causa de pedir. Fatos constitutivos,
modificativos ou extintivos alegados pelo réu são aceitos sem maiores
complicações; por exemplo, se no curso do processo houve pagamento da
dívida, não seria razoável que o juiz desconhecesse isso e proferisse uma
sentença condenatória ao pagamento.
A sentença deve ter divulgação, o que é feito pela sua publicação. Após
publicada, o juiz só pode alterá-la: para corrigir erros de cálculo ou inexatidões
materiais (equívocos de digitação, etc); por meio de embargos de declaração
(que serão vistos na aula sobre recursos); e ainda por meio do juízo de
retratação de alguns tipos de apelação (por exemplo, a apelação contra
sentença terminativa).
Efeitos.
O art. 495 diz que esta decisão vale como título constitutivo da hipoteca
judiciária, que será efetivada se a parte levar cópia da sentença ao cartório de
registro imobiliário, independentemente de ordem judicial, de declaração
expressa do juiz ou de demonstração de urgência. Efetivada a hipoteca, em 15
dias a parte deve comunicar o juiz, que intimará a parte contrária para ciência.
A grande vantagem da hipoteca é o direito de preferência em relação a outros
credores, ou seja, recebe o crédito antes, observada a ordem de registro.
Remessa Necessária.
Atenção: ela não tem natureza de recurso. E por várias razões: não está
prevista como recurso, não exige contraditório (o tribunal analisa os atos
praticados até a sentença), não tem prazo e não é voluntário. A única coisa que
os aproxima, fora o fato de levarem a sentença ao tribunal, é a proibição de
que haja uma reforma que piore a situação da Fazenda Pública (proibida a
reformatio in pejus).
Seção III
Da Remessa Necessária
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo
efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à
execução fiscal.
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no
prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se
não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a
remessa necessária.
A remessa necessária será cabível nos casos dos incisos do art. 496, e o §1º dá
a entender que só haverá remessa necessária se não for interposta a apelação
no prazo legal. Como sempre, na prova objetiva fique com a literalidade;
contudo, historicamente a apelação da Fazenda Pública nunca impediu a
remessa necessária porque, por exemplo, se a apelação for parcial a remessa
necessária sempre é total, ou se a apelação não for admitida por um vício
formal não há esse risco com o reexame necessário. Se isto vai mudar,
veremos.
Seção IV
Do Julgamento das Ações Relativas às Prestações de Fazer, de
Não Fazer e de Entregar Coisa
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de
não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica
ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a
inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a
sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou
da existência de culpa ou dolo.
Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao
conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da
obrigação.
Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo
gênero e pela quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se
lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará
individualizada, no prazo fixado pelo juiz.
Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o
autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente.
Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da
multa fixada periodicamente para compelir o réu ao cumprimento
específico da obrigação.
Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de
vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez
transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não
emitida.
Agora, se o livro era raro por ter o autógrafo do autor que já faleceu, será o
caso do art. 499, de converter esta obrigação em perdas e danos e que, por
fim, redundará em uma obrigação de pagar quantia.
O art. 497, parágrafo único, diz que para a concessão da tutela inibitória, seja
a preventiva (a que é especificamente destinada a inibir a prática, a reiteração
ou a continuação de um ilícito) seja a de remoção do ilícito (remover os
efeitos do ato ilícito já praticado) é irrelevante a demonstração da ocorrência de
dano ou da existência de culpa ou dolo. Isso porque ambas são voltadas ao
futuro, para inibir a primeira prática de um ilícito (por exemplo, evitar o início
de funcionamento de fábrica sem filtros antipoluentes), a reiteração dele (evitar
novo lançamento de dejeto em rio) ou a sua continuação (parar o
funcionamento da fábrica poluente), ou ainda para remover o ilícito (uma vez
jogado lixo nos rios, determina-se que o remova de lá). A preocupação é com a
adequação ao direito. A tutela reparatória, por sua vez, é aquela que se
preocupara com o ressarcimento, e por isto se preocupará com dano e culpa ou
dolo.
COISA JULGADA.
O processo é finalizado por uma sentença. Idealmente, que ela seja de mérito,
mas pode ser terminativa. No momento em que não haja mais cabimento de
qualquer recurso, diz-se que houve o trânsito em julgado da sentença.
Conceito e Espécies.
Em alguns processos (não em todos) haverá uma coisa julgada mais forte, que
impedirá a modificação e a discussão também para outros processos. Esta é a
chamada coisa julgada material, que impede que a sentença seja alterada ou
desconsiderada em quaisquer processos. Ela somente ocorre em sentenças de
mérito proferidas em cognição exauriente; não ocorre, então, em sentenças
terminativas, nem em sentenças de mérito de natureza cautelar.
Seção V
Da Coisa Julgada
Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna
imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
Entre os vários temas em que esta ideia doutrinária tem impacto, um deles é a
recorribilidade e, por consequência, a formação da coisa julgada.
Se em uma sentença com vários capítulos a parte impugna apenas parte deles,
deixando outros sem impugnação, a doutrina majoritária considera que se estes
capítulos forem autônomos e independentes a impugnação parcial faz com que
os capítulos não impugnados transitem em julgado. Se, contudo, eles forem
autônomos mas dependentes, nenhum deles transita em julgado. O Supremo
Tribunal Federal já admitiu esta possibilidade de coisa julgada parcial. Contudo,
o Superior Tribunal de Justiça, responsável pela última palavra em termos de
legislação federal, não admite tal ideia, consignando que a coisa julgada apenas
ocorre após o julgamento do último recurso interposto, independente de sua
extensão.
Função positiva da coisa julgada, por sua vez, não impede que o juiz julgue
o mérito de outra ação, mas vincula o juiz ao que foi decidido na demanda
anterior cuja decisão está protegida pela coisa julgada material. As causas aqui
não são as mesmas (pois seria caso de aplicação da função negativa), mas há
uma relação jurídica já decidida pela demanda anterior (teoria da identidade da
relação jurídica) a que obrigatoriamente o juiz atual estará vinculado, não
podendo decidir de maneira diferente.
Toda sentença tem um conteúdo declaratório, que ficará protegido pela coisa
julgada material. Outro exemplo: se Ana é condenada a pagar uma dívida ao
Banco B, esta sentença condenatória declara que Ana é devedora do Banco B e
a condena a pagar. Se após o trânsito em julgado desta ação Ana ingressar
com uma ação declaratória de inexigibilidade de débito, com base na mesma
obrigação que estava em causa na demanda anterior, o juiz atual estará
obrigado a julgar improcedente a ação porque já houve elemento declaratório
em sentença anterior que está protegido pela coisa julgada material.
Limites.
O art. 504 diz que não fazem coisa julgada os motivos e a verdade dos fatos,
até mesmo porque estando eles na fundamentação, e não no dispositivo, sobre
eles não recai a coisa julgada.
O art. 503, caput, por sua vez, diz que a decisão que julgar total ou
parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal
expressamente decidida. A questão principal, assim, sem dúvida estará coberta
pela coisa julgada material:
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força
de lei nos limites da questão principal expressamente decidida.
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial,
decidida expressa e incidentemente no processo, se:
Poderá haver questão no processo que necessariamente deve ser decidida pelo
juiz antes de ele resolver o mérito (questão prejudicial). Esta questão, em
regra, não fica coberta pela coisa julgada. Contudo, o §1º excepciona esta
regra, estabelecendo que a questão prejudicial fará coisa julgada se obedecer
aos seguintes requisitos, cumulativamente:
b) ter sido objeto de contraditório prévio e efetivo, não fazendo coisa julgada
a questão prejudicial no caso de revelia;
O art. 506, na sua primeira parte, diz que a sentença faz coisa julgada entre as
partes (coisa julgada inter partes).
A parte final trata dos terceiros, dizendo que em regra eles não serão
prejudicados pela coisa julgada. Há divergência doutrinária sobre se a parte
final se resume a isso ou se significaria que terceiros possam se aproveitar da
coisa julgada. Fiquemos, para a prova objetiva, com a literalidade: não
prejudica terceiros.
O artigo 507 é outro artigo que trata da preclusão, instituto que já estudamos.
Como lembrete:
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA.
Espécies.
CAPÍTULO XIV
DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia
ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor
ou do devedor:
I - por arbitramento, quando determinado pela sentença,
convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da
liquidação;
II - pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar
e provar fato novo.
§ 1o Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao
credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em
autos apartados, a liquidação desta.
§ 2o Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético,
o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença.
§ 3o O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à
disposição dos interessados programa de atualização financeira.
§ 4o Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a
sentença que a julgou.
Na liquidação não cabe discussão que não trate de matéria relativa à fixação do
quantum debeatur. Qualquer outra discussão fora disso é impedida pela
existência de um pressuposto processual negativo, seja pela eficácia preclusiva
da coisa julgada (se a sentença já tiver transitado em julgado), seja pela
litispendência. Em ambos os casos será caso de nulidade da liquidação.
Procedimento.
GABARITO
6. E 7. C 8. D 9. C 10. C
QUESTÕES COMENTADAS
Letra D.
Esta questão, assim como muitas, cobra a literalidade do CPC.
Item I correto porque é o texto literal do art. 489, §2º.
Item II correto, reflete o 489, §1º, I.
Item III errado, pois tal sentença será fundamentada COM a
demonstração da existência da distinção ou da superação.
pensão por morte que entende lhe ser devida. Citada, a autarquia
apresentou, no prazo legal, a sua contestação, negando o vínculo que a
autora afirmara ter mantido com o servidor, pugnando pela improcedência
do pedido. Encerrada a fase instrutória, com ampla produção de provas, o
juiz da causa concluiu, de forma expressa, pela configuração da entidade
familiar alegada na inicial, condenando a ré a conceder o benefício
previdenciário. Encaminhados os autos ao órgão ad quem, por força da
interposição de recurso de apelação e do duplo grau de jurisdição
obrigatório, a Câmara Cível confirmou a sentença, advindo, na sequência, o
seu trânsito em julgado. No que tange à coisa julgada material formada, de
conformidade com a legislação vigente, é correto afirmar que:
a) os seus limites objetivos alcançam o julgamento da pretensão
condenatória e, também, o reconhecimento da existência do vínculo
familiar;
b) os seus limites objetivos alcançam apenas o julgamento da pretensão
condenatória, mas não o reconhecimento da existência do vínculo
familiar, já que não foi proposta ação declaratória incidental em relação à
questão prejudicial, que, assim, só pôde ser apreciada incidenter tantum;
c) os seus limites objetivos alcançam apenas o julgamento da pretensão
condenatória, mas não o reconhecimento da existência do vínculo
familiar, já que o órgão julgador não tinha competência ratione
materiae para resolver a questão prejudicial como principal;
d) os seus limites subjetivos alcançam ambas as partes do processo e,
também, o Estado do Rio de Janeiro e os parentes do servidor falecido;
e) os seus limites subjetivos não alcançam a autarquia previdenciária, já que
esta atuou no feito como mera substituta processual do Estado do Rio de
Janeiro.
Letra C.
Os limites objetivos da coisa julgada não alcançam o
reconhecimento do vínculo familiar porque, apesar de ser uma
questão prejudicial, e sobre ela ter havido contraditório prévio e
efetivo, o juiz não é competente em razão da matéria e da pessoa
para resolver esta questão como principal. A questão exigia saber
que a decisão tramitaria perante Vara com competência para julgar
ações relativas à Fazenda Pública; e que a competente para
resolver a questão familiar é a vara de família.
c) I e III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II, apenas.
Letra C.
Item I errado, pois mesmo neste caso a decisão deve ser certa
(art. 492, p.u.).
Item II (tido pela FCC como) correto. Deixei para que você saiba
como a banca se comportou, mas o entendimento do item é
jurisprudência consolidada antes do CPC atual. Agora, com as
hipóteses do art. 496, §4º, parece não ser mais aplicável, pois se
fala de súmula ou acórdãos em recursos repetitivos ou em causas
que geram decisões vinculantes. Veja:
496, § 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a
sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência;
EXEMPLO DE SENTENÇA
ABCDE Comércio LTDA. - ME ajuizou Ação de Reparação de Danos Morais em face de SERASA
S.A, partes qualificadas nos autos.
Em síntese, afirmou que o réu manteve seu nome inscrito no cadastro de restrição ao crédito
indevidamente, após a quitação da dívida objeto de execução fiscal extinta pelo pagamento.
Requereu, a título de antecipação de tutela, a retirada de seu nome do cadastro de
inadimplentes. Pediu a confirmação da tutela antecipada na sentença e a condenação do réu
ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil
reais).
Instruiu a inicial com os documentos de fls. xxx.
Em decisão interlocutória de fl. xxx, o pedido de tutela antecipada foi deferido.
Citado (fl. xxx), o réu compareceu à audiência de conciliação do rito sumário. A tentativa de
conciliação restou infrutífera e o réu apresentou contestação, acompanhada de documentos, Relatório
após o que a parte autora se manifestou em réplica, conforme ata de audiência de fls. xxx.
Em contestação, o réu alegou que: a) promoveu a inscrição da dívida após tomar
conhecimento da execução fiscal em face da autora no site do TJDFT; b) a lei autoriza a
manutenção do registro por prazo de 5 anos; c) a anotação reproduziu informação verdadeira;
d) houve prévia comunicação à parte autora acerca do registro; e) não há prova nos autos de
que o réu foi instado a retificar o registro; f) o réu praticou ato lícito, amparado pela CF e pelo
CDC; g) a autora não comprova a ocorrência do alegado dano moral, sendo tal prova
necessária por ser a autora pessoa jurídica. Ao final, pugnou pelo julgamento de total
improcedência dos pedidos.
Trouxe os documentos de fls. xxx aos autos.
É o relatório.
Decido.
O feito comporta julgamento antecipado, na forma do art. 355, I, do NCPC, pois a solução da
lide independe da produção de outras provas, sobretudo em audiência.
Sem preliminares a analisar e estando presentes os pressupostos processuais e as condições
da ação, passo ao mérito.
Mérito
Trata-se de ação de indenização por danos morais decorrente de indevida inscrição em
cadastro de restrição ao crédito.
Alega a autora que o réu manteve a inscrição de seu nome no SERASA por dívida quitada,
objeto de execução fiscal que tramitou perante a Vara de Execução Fiscal do Distrito Federal,
extinta pelo pagamento em 30/09/2014. Tais fatos são comprovados pelos documentos de fls.
xxx dos autos.
Extinta a execução pelo pagamento em 30/09/2014 (fl. xxx), a dívida permaneceu anotada no
cadastro do réu até o cumprimento da tutela antecipada deferida por este Juízo, em
Fundamentação
22/07/2015, segundo informa o próprio réu em sua defesa (fl. xxx).
Destarte, o nome da parte autora foi mantido no cadastro do réu por quase 1 (um) ano após a
quitação da dívida.
O cadastro com informação inverídica é ilícito e gera o dever de indenizar.
Se o réu, como aduz em contestação, promoveu a inscrição de ofício mediante consulta
realizada no site do TJDFT, estava obrigado, igualmente, a promover a exclusão de ofício.
Porque não é lícito ao réu manter informação inverídica em seus cadastros.
A manutenção do registro pelo prazo máximo de 5 (cinco) anos autorizada pela lei pressupõe
a veracidade e atualização da informação, o que não é a hipótese dos autos.
E da inscrição indevida no cadastro de inadimplentes, adveio à parte autora danos morais,
consistentes na violação dos seus direitos à imagem, crédito e boa fama, todos direitos da
personalidade compatíveis com a natureza de ente fictício da autora (art. 52, CC).
Em situações como a presente, o dano moral é in re ipsa ou presumido, independente de
prova do efetivo prejuízo, ainda que a vítima seja pessoa jurídica. Nessa linha, segue a
jurisprudência do TJDFT:
Destarte, julgo procedente o pedido de indenização por danos morais e considero, para
arbitramento do quantum indenizatório, as funções reparadora, punitiva e pedagógica da
indenização, bem como as peculiaridades do caso concreto.
As partes gozam de boa condição sócio-econômica, estando o réu entre as grandes empresas
do ramo no país. O grau de culpa do réu é elevado, pois atuou com extrema desídia ao manter
o nome da autora no cadastro de inadimplentes por dívida já quitada.
Assim, em juízo de proporcionalidade e bom senso, fixo o quantum indenizatório em R$
6.000,00 (seis mil reais), valor que entendo suficiente a reparar o dano causado, punir e
desestimular a reincidência da parte ré.
Dispositivo
Ante o exposto, com resolução de mérito, na forma do art. 487, I, do NCPC, julgo
TOTALMENTE PROCEDENTES os pedidos, para condenar o réu a pagar à autora indenização
por danos morais no valor de R$ 6.000,00 (seis mil reais), acrescidos de correção monetária a
partir desta data (Súmula 362, STJ) e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir do
evento danoso (30/09/2014, Súmula 54, STJ). Confirmo e torno definitiva a decisão que
deferiu o pedido de tutela antecipada.
Dispositivo
Por conseguinte, condeno o réu ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios que arbitro em 15% (quinze por cento) do valor da condenação, com base no art.
85, § 2º, do NCPC.
Decorrido o prazo legal, sem recurso, arquivem-se com baixa.
Sentença registrada. Publique-se. Intimem-se.
Brasília - DF, terça-feira, 29/03/2016 às 15h13
Esta sentença foi retirada do sítio do TJDFT e foi muito bem redigida e prolatada pela
Juíza de Direito Substituta Fernanda Almeida Coelho de Bem.