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Combatendo e prevenindo os
abusos e/ou maus-tratos contra
crianças e adolescentes:
O papel da escola
Sumário
13 Dimensão do Fenômeno
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33 Informações importantes acerca dos abusos e/ou maus-tratos
34 Contatos Importantes
35 Referências
35 Bibliografia
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Conceituação e formas de abusos e/ou maus-tratos contra
crianças e adolescentes
Nos últimos tempos, os meios de comunicação têm dado ampla co-
bertura a notícias envolvendo casos de abusos e/ou maus-tratos contra
crianças e adolescentes. Um aspecto comum à maioria dos casos e que tem
deixado a sociedade mais chocada é o fato de que os agressores, em geral,
são os pais das crianças ou alguém próximo dela como a babá, contratada
para cuidar das crianças. Para um público leigo, que não tem conhecimen-
to sobre a problemática da violência intrafamiliar, no Brasil e no mundo,
tais notícias podem parecer casos isolados ou talvez meros incidentes. Não
são. Infelizmente, pesquisas de levantamento apontam índices alarmantes
de violência intrafamiliar contra crianças em suas diversas modalidades, ou
seja, abusos e/ou maus-tratos físicos, psicológicos, sexuais e negligência.
Dentre as ocorrências de abusos e/ou maus-tratos contra crianças e adolescen-
tes, os dados apontam para um índice de 70% de abusos intrafamiliares, ou
seja, cometidos por familiares da própria criança.
Neste sentido, o envolvimento de educadores como agentes de pre-
venção dos abusos e/ou maus-tratos contra crianças e adolescentes ganha
destaque e parece de extrema relevância. Devido às dificuldades de a criança
revelar a ocorrência dos abusos e/ou maus-tratos para os membros da famí-
lia e, considerando-se que a maioria dos casos são intrafamiliares (REPPOLD,
PACHECO, BARDAGI e HUTZ, 2002), muitas vítimas podem recorrer à ajuda
ou suporte fora da família. Os educadores, em virtude de sua acessibilidade às
crianças, de serem melhores instrutores do que outros profissionais que lidam
com crianças e permanecerem pelo menos um ano com a mesma criança, po-
dem ser capacitados na identificação de casos de maus-tratos e de estratégias
de intervenção com crianças vítimas de abusos (Kleemeier, Webb e Hazzard,
1988). Além disso, o professor permanece atuando com crianças após a capa-
citação, e mesmo que a cada ano dê aulas a novas crianças, é possível garantir
uma continuidade ao trabalho.
O objetivo deste manual, portanto, é fornecer subsídios aos profissio-
nais da educação para o enfrentamento de situações suspeitas de abusos
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e/ou maus-tratos contra crianças e adolescentes. Especificamente, propor-
cionar elementos para o entendimento do fenômeno, a identificação de
casos suspeitos e o encaminhamento devido nestes casos aos órgãos de
proteção à crianças e adolescentes, além da discussão de como abordar
adequadamente a criança e/ou adolescente envolvido na situação.
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• Físico: qualquer ação não acidental por parte dos pais ou cuidadores
que provoque dano físico ou enfermidade ou coloque a criança em
risco de vida através de golpes; hematomas; queimaduras; fraturas,
inclusive de crânio; feridas ou machucados; mordidas humanas;
cortes; lesões internas; asfixia ou afogamento.
• Psicológico: comportamento de hostilidade verbal crônica, insultos,
depreciação, crítica e ameaça de abandono, intimidação, condutas
ambivalentes e imprevisíveis, situações ambíguas na comunicação
(dupla mensagem), isolamento, proibição de participar em ativida-
des com os pares, desvalorização da criança, bloqueio das iniciati-
vas de iniciação infantil por parte de qualquer membro adulto do
grupo familiar (rechaço das iniciativas de apego, exclusão das ativi-
dades familiares, negação de autonomia).
• Sexual: consiste em todo ato ou jogo sexual, relação hetero
ou homossexual cujo agressor tem uma relação de poder com
a vítima. Neste tipo de abuso há a intenção de estimular a ví-
tima sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Ele
é apresentado de maneira imposta à criança ou ao adolescente
pela violência física, sedução, ameaças ou indução de sua von-
tade e sob a forma de práticas eróticas e sexuais o que inclui o
voyerismo, exibicionismo, produção de fotos e diferentes ações
que incluem contato sexual com ou sem penetração ou violên-
cia. Engloba ainda a situação de exploração sexual visando lucros
como é o caso da prostituição e da pornografia.
• Negligência: situações em que as necessidades físicas básicas da
criança (alimentação, higiene, vestimenta, proteção e vigilância
em situações potencialmente perigosas, segurança, cuidados
médicos) não são atendidas temporal ou permanentemente, por
nenhum membro do grupo que a criança convive.
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diferentes consequências que podem trazer ao desenvolvimento de crian-
ças e adolescentes.
Acerca do último aspecto envolvido na conceituação dos abusos e/ou
maus-tratos, a relação de poder e/ou confiança merece destaque, na medi-
da em que está presente nas relações que a criança e/ou adolescente tem
com as pessoas da família e/ou conhecidas e que exercem papel de cuidador
deste ou desta.
Essa relação de proximidade, envolvendo o poder e ou a confiança sobre
a criança e/ou adolescente facilita a ocorrência dos abusos e/ou maus-tratos,
bem como dificulta a revelação por parte da vítima do que está ocorrendo. A
criança e/ou adolescente é envolvida em atos abusivos, seja pela força física,
ou coação emocional e permanece calada, acuada diante de ameaças ou soli-
citações de segredo.
Exemplo 1
Um tio de uma menina de seis anos praticou sexo oral com sua sobri-
nha uma vez, sem usar violência física.
A menina sofreu abuso sexual sim. Não importa se não houve repe-
tição, uma única vez, ou mesmo uma tentativa de praticar sexo oral com
a criança já poderia acarretar em conseqüências negativas ao desenvolvi-
mento saudável da criança. Tal situação implica no dever de comunicação
aos órgãos de proteção a criança (esse encaminhamento será discutido
mais detalhadamente na sessão acerca do papel do educador diante de
uma suspeita).
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Exemplo 2
Uma criança presencia as agressões físicas e verbais do pai contra a mãe.
A criança não está sofrendo abuso físico diretamente, mas por assistir
a violência do pai contra a mãe está sendo vítima de violência psicológica e
pode desenvolver conseqüências prejudiciais ao seu desenvolvimento nor-
mal. Neste caso também é dever do profissional ou dos familiares fazerem
a comunicação aos órgãos competentes de proteção à criança.
Exemplo 3
Um de seus alunos não participa das danças em festas na escola devido
a religião praticada pela família.
Neste caso, não há abuso e/ou maus-tratos, pois a criança não está pri-
vada de socialização, mas de uma prática não permitida por questões reli-
giosas. Os pais não estão praticando isolamento da criança, impedindo-a de
envolver-se em quaisquer ações de socialização, mantendo-a presa em casa,
o que sim seria considerado abuso e/ou maus-tratos. Na medida em que a
criança participa de outras atividade permitidas pela religião da família tem
sua socialização garantida e seu desenvolvimento saudável também.
Exemplo 4
Uma criança assiste a filmes pornográficos e/ou visita sites com conteúdo
pornográfico.
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Exemplo 5
Uma criança presencia seus pais tendo relações sexuais.
Exemplo 6
Um de seus alunos vem a escola com roupas molhadas uma única vez.
Exemplo 7
A mãe de uma criança frequentemente castiga-a com tapas e socos
devido ao mau comportamento apresentado por ela, alegando estar
ensinando o que é correto.
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Dimensão do Fenômeno
Os dados oficiais, ou seja, aqueles que chegam aos órgãos com-
petentes de proteção à criança, e que formalmente são registrados,
não refletem a real ocorrência de casos suspeitos e/ou confirmados
de abusos e/ou maus-tratos. Cerca de somente 10 a 15% dos casos
são registrados, concluindo-se que o número de casos suspeitos e/ou
confirmados de abusos e/ou maus-tratos denunciados sejam sempre
inferiores ao número real de ocorrências (Gonçalvez & Ferreira, 2002).
Os dados oficiais, considerando estudos nacionais e internacionais,
apontam uma prevalência de 3 a 15% de ocorrência de maus-tratos.
As pesquisas de levantamento e caracterização dos abusos e/ou maus-
tratos são importantes na medida em que auxiliam o planejamento de
estratégias de prevenção e combate ao fenômeno.
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reais ou potenciais e esta não estiver atendida em suas necessidades básicas
de cuidado e saúde há a prática da negligência; a negligência não intencional
deve ter ações de prevenção e combate voltadas aos fatores de risco e con-
dições adversas na família e que estão propiciando a ocorrência da mesma.
Culpabilizar simplesmente os familiares, sem a compreensão das condições
envolvidas e que determinam as ações de negligência é pouco eficaz no
combate a essa forma de maus-tratos. Uma ressalva importante a consi-
derar é que fatores como pobreza são indicados por pesquisas como risco
para a ocorrência de negligência, mas por si só não determinam que esta
aconteça.
Outro fator envolvido na caracterização dos maus-tratos refere-se ao
consentimento da criança e/ou adolescente. O consentimento não deve ser
o limite entre uma relação abusiva e não abusiva. Uma criança, ou mesmo
um adolescente, geralmente não tem condições de estabelecer os limi-
tes em uma relação abusiva. No caso do abuso sexual, por exemplo, uma
criança não tem a capacidade de discriminar e consentir sobre uma relação
sexual. Quem deve ser o responsável por estabelecer estes limites é o adulto
(ABRAPIA, 2004).
As marcas físicas também não são definidoras dos casos de abusos e/
ou maus-tratos, pois em grande parte dos casos, a criança e/ou adolescente
não apresenta sinais físicos da ocorrência do fato. No entanto, a criança e/ou
adolescente pode apresentar sequelas de ordem psicológica, observáveis
por meio do comportamento da criança ou entrevista (ABRAPIA, 2004;
EISENSTEIN, 2004; LIDCHI, 2004).
O que caracteriza diretamente os abusos e/ou maus-tratos contra
crianças e/ou adolescentes é a relação de poder estabelecida entre o agressor
e a vítima.
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A relação entre o agressor e a vítima, ou seja, qual a proximidade
entre eles e se há grau de parentesco, constitui-se como importante fator
para determinação das consequências dos abusos. Além disso, a ocorrência
de qualquer forma de abuso e/ou maus-tratos acompanhada de uso de
violência física. Também importante como determinante é o estágio de
desenvolvimento biopsicossocial em que se encontra a criança ou o ado-
lescente. Outros dois últimos fatores que interferem de forma decisiva nas
conseqüências dos abusos e/ou maus-tratos são o apoio e encaminhamen-
to dado à vítima, bem como a denúncia e condenação do agressor. Um caso
em que a criança recebe apoio familiar e suporte social, e os encaminhamentos
necessários são realizados, seja para atendimento médico, psicológico e/
ou outros, bem como o agressor é denunciado e condenado tem maiores
chances de se recuperar da ocorrência do abuso e desenvolver consequên-
cias mais amenas do mesmo. Quando isso acontece, a criança recebe uma
mensagem de que não é culpada pelo que ocorreu, que não deve sentir
vergonha por isso, que merece atenção e cuidado diante da situação e que
o responsável por tais atos foi culpabilizado e punido.
• Agressividade
• Conduta delituosa
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• Funcionamento intelectual reduzido, afetando a memória, a leitura
e habilidades intelectuais em geral
• Ansiedade
• Depressão
• Comportamentos regressivos
• Comportamentos auto-lesivos
• Ideias de suicídio
• Auto-conceito negativo
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• Ansiedade
• Baixa auto-estima
• Medos
• Hipervigilância
• Fuga de casa
• Comportamento regressivo
• Envenenamento
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• Feridas em diferentes estágios de cicatrização, ocasionadas por
espancamentos constantes.
• Agressividade sexual
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A atenção aos comportamentos da criança deve ser constante, veri-
ficando mudanças, repetição e frequência com que os sinais estão apare-
cendo e se os mesmos se mantêm. Deve-se questionar quando apareceram,
se houve algum evento inesperado na vida da criança diferente do abuso, e
qual a frequência com que acontecem. Além disso, há quanto tempo estão
ocorrendo.
Essa observação pode permitir diferenciar um comportamento rela-
cionado a algum outro evento que não a ocorrência dos abusos e/ou maus-
tratos.
Uma ressalva fundamental refere-se à ocorrência de mais de um si-
nal específico da ocorrência dos abusos e/ou maus-tratos. Um conjunto de
sinais específicos, ocorrendo há certo tempo e sem a presença de nenhum
outro evento diferente na vida da criança, indica uma forte suspeita da
ocorrência do abuso e/ou maus-tratos.
No entanto, há alguns sinais que sozinhos são fortes indicadores da
ocorrência do abuso, sendo suficientes para indicar uma suspeita, como é o
caso dos comportamentos sexuais inapropriados para a idade, que tem re-
lação direta com a suspeita de abuso sexual. Se ocorrerem acompanhados
de outros, a suspeita torna-se mais consistente.
A cautela em relação à indicação de uma suspeita deve ser uma premis-
sa importante. Acusar uma suspeita de abuso baseado em apenas um sinal
não específico, pode também acarretar em danos para a criança.
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reconhecimento de que a criança encontra-se em uma situação de risco e
poderá vir a sofrê-lo. Para tal, diversos fatores de risco indicam a possibili-
dade de que abusos e/ou maus-tratos venham a ocorrer.
É importante ressaltar que a existência de um fator de risco não im-
plica na certeza da ocorrência do abuso, não havendo uma relação direta
entre o fator de risco e o abuso.
A definição de fator de risco pode ajudar a explicar esta relação:
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Os fatores de risco relacionados aos abusos e/ou maus-tratos são os
seguintes:
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A definição de fator de proteção pode auxiliar esse entendimento:
• Escola
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Nesta “balança” entre fatores de risco e de proteção, o conceito de
resiliência é fundamental:
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Segundo o ECA (2004):
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diversas comunicações podem ser “trotes”, “brincadeiras” e que atrapa-
lham o trabalho dos Conselheiros Tutelares. Ao se identificar, o educador
facilita o trabalho do Conselho, pois certifica que a comunicação é verda-
deira. Além disso, segundo a legislação, o profissional que recebe a comu-
nicação, não pode divulgar quem foi o responsável por fazê-la. Se o fizer,
estará cometendo equívoco em seu exercício profissional, fato que deve
ser comunicado aos seus superiores para a tomada de providência.
De qualquer maneira, a comunicação anônima é uma opção do edu-
cador, sendo preferível fazê-la a não encaminhar o caso suspeito de abuso
e/ou maus-tratos.
Um terceiro aspecto do encaminhamento da criança e/ou adolescente
após a identificação de uma suspeita de abuso e/ou maus-tratos, refere-se a
conversa com os pais, familiares e/ou responsáveis.
Em geral, quando a criança e/ou adolescente apresenta uma dificul-
dade ou problema na escola, o educador tem como procedimento normal
convocar os pais e/ou responsáveis para uma conversa. No caso dos maus-
tratos, esse encaminhamento pode ser prejudicial tanto à criança, quanto
ao profissional. Como é sabido, a maioria dos casos de abusos e/ou maus-
tratos é praticada por familiares e pessoas próximas à criança, portanto
chamar os pais e/ou familiares pode propiciar tentativas de represálias ao
educador por parte de possíveis agressores ou pessoas coniventes com
eles, ou mesmo perder a criança de vista, uma vez que cientes da descon-
fiança do abuso por parte da escola, os pais ou responsáveis podem retirar
a criança da escola e mudar-se de localidade, prejudicando o encaminha-
mento da criança e perpetuando o abuso.
Os profissionais capacitados para conversar com possíveis agresso-
res o farão após o caso ser encaminhado às autoridades competentes, ca-
bendo ao educador somente fazer a comunicação da suspeita como já dito
anteriormente.
Um último aspecto é a comunicação realizada institucionalmente, ou
seja, o educador não faz a comunicação diretamente ao Conselho Tutelar
ou outro órgão competente, mas comunica a direção da escola, que por
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sua vez comunica à Secretaria de Educação do município ou localidade, e
esta instituição, por sua vez, faz a comunicação ao Conselho Tutelar. As
vantagens de se fazer a comunicação desta forma são a proteção do edu-
cador e o registro do número de casos suspeitos identificados por profissio-
nais da escola, constituindo-se em banco de informações na Secretaria de
Educação, dados que podem embasar ações de prevenção.
Estudos de Casos
O que fazer diante de uma suspeita?
Caso 1
A professora começou a notar que um de seus alunos estava apre-
sentando alguns comportamentos que chamaram a atenção, tais como,
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choro sem motivo aparente e isolamento em relação a atividades com outras
crianças. Além disso, a criança tinha hematomas no corpo. Em reunião com
a diretora relatou suas impressões. Em conversa com a mãe, a diretora foi
informada de que o pai agredia a criança e a mãe. A mãe, ainda, relatou à
diretora que o pai da criança sempre fora muito agressivo e ciumento, que
a agredia desde o tempo de namoro e que agredia o filho desde que ele ti-
nha três anos de idade. Segundo a mãe, o pai alegava que precisava educar
o filho e por isso o agredia quando ele fazia alguma coisa que considera-
va errado. Ainda segundo a mãe, ele usava o mesmo argumento quando
agredia a ela mesma dizendo que precisava ensiná-la o que é certo e o que
é errado. A professora continuou observando o aluno em sala de aula e no
recreio. Durante as observações, a criança continuou chorando muito e sem
um motivo aparente. Permanecia sempre sentada e quieta na sala de aula. A
criança fazia as lições propostas, não se levantava da cadeira e não conver-
sava com os colegas. No recreio, sentava-se em uma cadeira, não interagindo
com as outras crianças. Percebeu que novos hematomas apareceram. A pro-
fessora e a diretora preferiram optar por não fazer a comunicação ao Conselho
Tutelar para não responsabilizar a mãe, que seria culpabilizada por não ter
denunciado os maus-tratos do marido contra a filha.
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prejudicar a criança e o próprio professor, uma vez que a chance dos agresso-
res serem da família é muito alta segundo as pesquisas. Em seguida, após
o relato da mãe, as profissionais preferiram se omitir diante da suspeita, no
entanto, desta forma não cumpriram seu dever de comunicar ao Conselho
Tutelar e seu papel de garantir proteção integral à criança. A criança perma-
neceu sofrendo maus-tratos do pai, com risco cada vez maiores de danos ao
seu desenvolvimento normal. Além disso, professora e diretora foram omissas
e não cumpriram o que determina a legislação, podendo sofrer denúncia
pelo não cumprimento da lei e pagamento de multa como prevê o estatuto
(artigo 245).
Caso 2
A tia e a avó de uma de suas alunas te procuram na escola para falar so-
bre uma suspeita de maus-tratos em relação à criança e gostariam de uma
ajuda. Elas relataram diversos episódios em que presenciaram situações de
maus-tratos físicos e sexuais contra a criança praticados por parte do pa-
drasto (certa vez chegando à casa de sua irmã, a tia presenciou o padrasto
desferindo tapas e socos na criança que estava sentada no sofá da casa; em
outra ocasião a tia notou que a criança estava “lambuzada” de um líquido
branco e viscoso, inclusive no rosto próximo à boca, suspeitando que o pa-
drasto havia se masturbado perto da criança ou mesmo “obrigado-a a fazer
algo”; a avó presenciou o padrasto agarrando a criança e apertando o seu
braço, arrastando-a para casa a força; em outra ocasião quando chegou na
casa da neta presenciou o padrasto da criança vestindo apenas cuecas e a
menina queixou-se à avó que estava com um gosto ruim na boca). Ambas
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relataram, também, que conversaram com a mãe da criança sobre isso e
essa não tomou qualquer atitude.
Diante desta situação descrita acima quais atitudes você deveria tomar?
Caso 3
Joana está com uma classe há cerca de 3 meses. Nina, sua aluna passa
a apresentar alguns comportamentos que não apresentava anteriormente.
Antes era comunicativa, apresentava bom desempenho, realizava as tare-
fas, se relacionava bem com os colegas. Agora está retraída, isolou-se dos
colegas, parece muito triste, quieta, não realiza as tarefas e as notas estão mais
baixas. Joana pergunta-lhe o que está acontecendo e Nina não responde.
Em uma atividade proposta pela professora, Nina apresentou comporta-
mentos sexuais não apropriados para a idade. Joana repreendeu Nina, que
chorou muito e isolou-se mais ainda das atividades. Joana tentou novamen-
te conversar com Nina questionando-lhe para que contasse o que estava
acontecendo e a garota não dizia nada. Joana chamou então a mãe para
uma conversa sobre Nina. Explicou à mãe toda a situação. A mãe disse que
não estava notando nada, que Nina estava normal e ficou muito nervosa
quando Joana falou sobre pedir ajuda a alguém, pois Nina apresentava com-
portamentos sexuais inadequados para a idade dela. A mãe disse à Joana
que ela não deveria se meter nestes assuntos de família, que se limitasse ao
papel de professora, que mãe era ela. Nos dias que se seguiram, Nina faltou
à escola. Joana telefonou e não encontrou ninguém. Foi então a casa de
29
Nina e descobriu com um vizinho que a família havia se mudado para outra
cidade. O vizinho então contou que o namorado da mãe abusava sexual-
mente da menina e que todos os vizinhos sabiam, inclusive a mãe também,
mas nunca ninguém tomou alguma atitude.
Quais as ações que deveriam ter sido tomadas pela professora Joana?
30
Cuidados Básicos importantes na abordagem da criança
Quando foi identificada uma suspeita de abusos e/ou maus-tratos contra a
criança e/ou adolescente, o professor ou outros profissionais da escola que
lidem diretamente com ele (a) devem estar preparados para falar sobre o
assunto de forma adequada e que não prejudique a criança. Há profissio-
nais capacitados para conseguir informações precisas da criança acerca do
abuso ocorrido. Este não deve ser o objetivo do profissional da escola. Ele
não deve conversar com a criança no intuito de extrair informações, tentar
descobrir o que realmente aconteceu ou movido por simples curiosidade. O
seu papel é dar apoio a criança, ouvi-la no que ela quiser contar e caso haja
a revelação do abuso sofrido comunicar as autoridades competentes.
Caso a criança e/ou adolescente procure para uma conversa, algumas
instruções são importantes:
• Para falar com a criança sobre o abuso, somente se ela iniciar o assun-
to, não pressione nem tente convencê-la a falar sobre o ocorrido.
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• Demonstrar interesse, compreensão e não pena.
• Evitar tocar a vítima, espere que ela se dirija a você para abraçar ou
tocar.
32
Informações importantes acerca dos abusos e/ou maus-
tratos
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Contatos Importantes
São Carlos
• Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev – UFSCar)
Nacional
• SOS Criança: 0800-990500
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Referências
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Esse livro foi impresso em janeiro de 2011 pela gráfica xx