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Fichamento: O contrato social – Jean Jacques Rousseau

SÃO PAULO

O contrato social – J. J. Rousseau

Livro I

Rousseau impõe aqui a importância da liberdade do homem e a legitimidade em lutar por ela. Já no
presente capítulo o autor se refere ao Contrato Social, na transcrição:

(...) a ordem social é um direito sagrado, que serve de base para todos os demais. Tal direito,
entretanto, não advém da natureza; funda-se, pois, em convenções.

Referindo-se à origem das sociedades, Rousseau destaca que a primeira sociedade e mais antiga é a
família. Aduz o autor que a própria família se mantém unida, após o processo de maturação, por
convenção.

Posteriormente, o autor debate algumas idéias de autores como Grotius e Aristóteles, remetendo-as
ao campo da soberania: o que justificaria a dominação de alguns sobre outros? É a natural
destinação de alguns à escravidão e de outros ao poder (Aristóteles) ou seria o homem o lobo do
próprio homem e os chefes, governadores etc. São superiores ao demais (Grotius-Hobbes)?

Quanto ao uso da força por um governante, o autor afirma que a f orça não faz o direito nem mesmo
pode obrigar alguém a nada. Quando submetido a uma força, o sujeito a obedece por necessidade e
não por dever. Deve-se apenas obedecer ao poder legítimo.

Do exposto, nenhum homem tem autoridade natural em relação ao seu semelhante e, então, tudo é
regido por convenções entre os homens.

Destaca o autor a enorme e incontestável importância de ser livre: trata o assunto da escravidão e a
compara à sociedade civil. Um escravo aliena sua liberdade (no sentido de vender) em troca de, ao
menos, sua subsistência. Um povo aliena a sua liberdade (aí a dúvida em que sentido – vender ou
doar) a um rei, e não se sabe em troca de que. Diz-se em troca da tranqüilidade civil. Entretanto,
essa tranqüilidade nunca é garantida, se os reis em suas ambições provocam guerras e desagradam
ao povo...

A liberdade, portanto, não pode ser renunciada em troca de nada: a própria liberdade renunciada
converte-se contra o seu renunciante e, por suposto, acarreta a nulidade do ato.

Quanto à guerra, Rousseau reitera que nenhum homem tem direito sobre a vida do outro quando
este já não é obstáculo ao seu objetivo. A guerra é de Estado para Estado e, portanto, na busca
desenfreada pela destruição do Estado inimigo, serão encontrados defensores deste (soldados), mas
assim que estes se rendem, não são mais soldados e sim meramente homens, não sendo necessário
matá-los nem subjugá-los já que não significam obstáculo ao objetivo de destruir o Estado inimigo.

A escravidão, então, é algo ilegítimo e nulo: não há razão em fazer a seguinte convenção:

Faço contigo uma convenção em que fica tudo a teu encargo e tudo em meu proveito, que
observarei enquanto me aprouver, e que tu observarás enquanto isso me agradar.
Em relação ao assunto central da obra, o contrato social, o autor revela que se trata de um acordo
firmado pelo todo, na qual as clausulas nunca foram propostas formalmente, mas sempre são e
serão as mesmas: Cada um de nós põe em comum sua pessoa sob a suprema direção da vontade
geral; e recebemos, coletivamente, cada membro como parte indivisível do todo. Assim, Estado,
Soberano e potência são as denominações do detentor da vontade geral e povo, cidadãos e súditos
são os “contratantes”.

A meu ver, em se tratando de uma velha tentativa de definição, a saber, qual é a vontade geral do
Estado, acredito que na presente obra encontra-se uma possibilidade de tal resposta: sendo o
contrato social realizado entre o Estado, os particulares e o público, devem os homens sempre evitar
qualquer ofensa ao corpo formado ou a um membro, pois ofendendo o membro, ofende-se o corpo e
vice-versa. Então, acredito, a vontade geral seria a busca pelo máximo aproveitamento de tal união.

A fim de que o pacto social não venha a constituir, pois, um formulário vão, compreende ele
tacitamente esse compromisso, o único que pode dar força aos outros: aquele que se recusar a
obedecer à vontade geral a isso apenas será constrangido por todo o corpo – o que significa apenas
que será forçado a ser livre, pois é esta condição que, entregando à pátria cada cidadão, o garante
contra toda dependência pessoal, condição que configura o artifício e o jogo da máquina política, a
única a legitimar os compromissos civis, que sem isso seriam absurdos, tirânicos e sujeitos aos
majores abusos.

Livro II

Justificando a existência da sociedade, Rousseau cita que mesmo havendo divergências entre
interesses particulares, é o fato de existir entre essas divergências uma finalidade em comum que
fundamenta a sociedade. Ora, se não existisse essa necessidade em comum não caberia a existência
de uma sociedade mantida por conflitos.

A soberania, sendo essencialmente a vontade geral, é inalienável (a vontade geral não pode ser
transferida nem mudada) e indivisível, algo que podemos considerar de segurança jurídica do
termo.

Num capítulo do segundo livro, Rousseau destaca a possibilidade de a vontade geral estar errada e o
povo se enganar, distinguindo vontade geral de vontade de todos. Quando se trata da soma das
vontades particulares, esta pode não ser o elo em comum essencial à sociedade: na Alemanha nazi-
fascista, a vontade de todos era enganadora, já que se tratava de uma soma de vontades particulares.

Em se tratando da vida, o autor coloca que sua conservação é a maior preocupação: ao infligir a
pena de morte a alguém, visa-se a preservação da própria vida, já que se está submetendo à morte
caso venha a matar alguém, por exemplo.

Importantíssimo ponto é o da legislatura: As leis e o legislador. Antes, Rousseau estipula um


posicionamento para a lei: é ela importante para a vontade do povo, reta, mas nem sempre tem um
julgamento correto. Diz o autor: ”É necessário fazer com que veja os objetos tais como são, às
vezes tais como lhe devem parecer, mostrar-lhe o bom caminho que procura, preservá-la da sedução
das vontades particulares, relacionar aos seus olhos os lugares e os tempos, contra-balançar o
atrativo das vantagens presentes e sensíveis pelo perigo dos males distantes e ocultos”.

LIVRO III

Já no início deste terceiro livro, o autor começa por indagar a respeito das formas de governo,
definindo o governo como o exercício legítimo do poder executivo.
Na divisão do poder soberano, Rousseau remete a uma divisão aritmética: se existe um Estado
composto por n cidadãos, o poder de cada cidadão será dividido entre eles, ou seja, cada cidadão
terá um poder igual a p (poder) dividido por n (número de cidadãos).

Já tratando o assunto da divisão e princípios do governo, o autor se volta a relacionar o governo


democrático, no qual o soberano confia o depósito do governo ao povo.

Menciona, também, o ato em que o soberano restringe o governo a um número pequeno de cidadãos
privilegiados, concretizando uma aristocracia. Finalmente, pode ainda negar o depósito do governo
confiando-o a um único magistrado, dando a formação da monarquia.

Vale transcrever aqui uma argumentação do autor no sentido de dizer a democracia como melhor
forma de governo em Estados menores:

(...) um povo que governasse bem, não teria necessidade de ser governado.

Como a democracia é idealizada pela maior parte dos autores, o próprio ressalta a inexistência real e
rigorosa da democracia.

Se houvesse um povo de deuses, ele se governaria democraticamente. Tão perfeito governo não
convém aos homens.

Quanto à aristocracia, aduz o autor que pode-se obtê-la com eficiência e dignidade, desde que seja
exercida em benefício da multidão e nunca do detentor do poder.

LIVRO IV

Neste último livro, Rousseau busca abordar a vontade geral. Ele descreve, resumidamente, o
processo de enfraquecimento estatal e o desvio do foco da vontade geral. Desse processo, resultam
leis que visam interesses particulares, cidadãos que não participam da vida política ativa etc. Porém,
isto não descaracteriza a vontade geral: ela é constante e inalterável, segundo suas palavras, mas,
como foi desmedida, fica subjugada.

Após uma longa descrição e definição de componentes estatais (e podemos tirar daí a definições de
governo, de soberano, as formas de legislar e governar, como se dão as eleições, comparação entre
diferentes governos, o voto e as organizações sociais em geral), Rousseau volta-se para a figura
popular representada pelo tribunato: relata no tempo e no espaço as vezes em que esta organização
de magistrados especial muitas vezes conservava as leis do poder legislativo; tratava-se de uma
força popular que nada podendo fazer, tudo podia impedir. Ademais, mostra um ponto negativo de
tal força, encontrado na fase de transição romana do império para o principado: a má usurpação de
tal instituição leva à tirania.

A fim de concluir sua tese e seus argumentos, o autor diz que, embora tenha abordado os princípios
do direito político e as bases do Estado, resta ainda muito o que se falar, aliás, toda boa ou má
administração nunca repete o que se passou anteriormente: sempre deve-se considerar as
peculiaridades de cada caso

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