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Dn EunoPA MEDIEVAL
À AnnÉRICA coLoNIAL
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25. A Virgcm com manto24 e os penitentes, c. Ì420 (painel pintado por Pietro di Domenico da N{onte-
pulciano, N{useu do Petit Palais, Avignon).
Este painel em madcira pintada, destinado a ser carrcgaclo durante as procissões, pertencia, segundo toda
verossimiÌhança, a uma confraria da tlunl ele devia constituir un clos emblemas privilegiados. Ele mostra a
Virgem scgurando o NÍcnino Jesus e protegendo os cristãos sob seu manto (os homcns à sua direita, as mulhc-
res à sua csquercla). No primeiro plâno, penitentcs com os rostos mascarados f1trgeÌam-se e suas túnicas dei
xam veÌ seus dorsos ensangúentados.
sociais?
Crise ã.o feudalisruo ow ajwstes
Apropósitodesseperío<Ìo,éfreqüenteinsistirsobreasituaçãocríticadaaristo-
cracia, confrontada u rrnu
"ba*a da texa de arrecadação senhorial" (Guy Bois)'
numerosos abandonos de terras'
É verdade que a depressão demográfica gera
uma queda notável dos rendimen-
até mesmo de aldeias inteiras, o que provoca
do povoamento rural põe os cam-
tos senhoriais. Além disso, a ttt""o'densidade
poneses em uma relação de força mais
Javorável' que lhes permite exigir uma
das corvéias a um preço menor' a que
baixa do censo ou um resgate generalizado
ossenhoressãoobrigadosaassentirparaevitarperderseushomens'Enfim'a
agrícolas e daqueles que os aris-
evolução .o-puruduïos preços dos produtos
tocratas devem .o-n.u. ih"r"e d"rfnuorável.
os mais fracos dentre eles endivi-
suas terras: alguns partem' então'
dam-se e são, por vËzes, obrigados a vender
paraacidadeembuscadeumofíciojuntoaumpríncipe'enquantooutrosper-
ã"_ u posição de nobre. Assim, antigas
linhagens senhoriais desaparecem e são
C:
27. No mês de março, trabalhos e poda das ünhas no castelo de Lusignan, c. 1413 (miniatura de Pol de
Limbourg, Riquíssimas horas do du<1ue de Berry Museu Condé, Chantilly, 65, fl. 3v.).
Estandrr entre os mânLrscritos mais suntuosamente iluminados, as Rìquíssitrtrs iroras Íbram realizadas para o
duque João de Berry irmão do rei da França, Carlos t', e bibliófilo de grande rcnome. Um caÌendário, mais ou
menos ornado, é quase scmpre integrado no topo dos liwos de horas. Aqui, vê sc uma das cÌuas páginas rclatì-
vas ao mês de março, com a indicação dos signos do zodíaco correspondentes, Peixes e Árics (ni outra págìna
figuram o calendário propriamente dito e as indicações das festas litúrgicas). As rradicionâis rcpresentaçõcs dos
trabalhos do mês são consideravelmente âmpliâdas: no primeiro plano, um vilão rcaÌiza o cuÌtivo com uma char-
rua municla de uma relha c dc um aparador, ambos mctálicos, puxada por rÌma parelha de bois; mais longe, dois
vinhedos cercados em que se cortam os sarmentos e um piìstoÌ que guardtr suas ovelhas. Como na maiór parte
dâs miniaturas clcste calendário, o duquc de lìerry fez represcntâr um de seus prìncipais castelos, realizando,
assim, uma espécie dc inventário de seu clomínio, demonstrativo de scu poderio: aqui, trâtiì-se do casteÌo de
Lusignan, com seu burgo protegido por uma dupla muraÌha.
mesmo se, a partir dali, a reprodução da aristocracia depende, em parte, do
poder monárquico, ela continua sendo a classe dominante e o senhorio perma-
nece o quadro elementar da organização social.
As revoltas populares que explodem durante esse período parecem, entre-
tanto, tumultuar o jogo. Incontestavelmente, tanto no mundo ruraÌ como na
cidade, conflitos e tumultos sociais fazem-se mais visíveis e mais intensos do
que durante o século precedente. Serão evocadas, de início, quatro revoltas
rurais desse período, sem contar aquela de Flandres em 1323-27. A sublevação
dos"jacques", camponeses da Ilha de França, da Picardia e de Champagne, em
I 3 58, choca tanto os espíritos que, por muito tempo, acaba por dar seu nome a
todos os tumultos da zona rural Çacqweries). No contexto da derrota francesa em
Poitiers e do cativeiro do rei, o que obriga à cobrança de um imposto especial,
cerca de 5 miÌ camponeses, dos quais Guilherme Carle aparece como um dos
principais organizadores, pilham os casteÌos e massacram os senhores, até ter-
minarem como vítimas de uma repressão não menos brutal conduzida por Carlos
de Navarra (vários milhares de mortos). A sublevação do centro da Inglaterra em
1381, que se inscreve na conjuntura particularmente agitada do Ocidente, é,
sem dúvida, a mais notável, por sua extensão geográfica, pela junção operada
entre cidade e campo, pelo seu grau de organização e peÌa clareza de suas rei-
vindicações. Seu estopim é, também aqui, um novo imposto (ta-x-poll) ligado à
guerra franco-ingÌesa. Mas a tropa dos camponeses que recusam sua cobrança
atinge rapidamente 50 mil homens e, sob a liderança de Wat Tyler, toma Canter-
bury marcha sobre Londres, onde toma a Torre; aí eÌa obriga o rei a ceder a suas
reivindicações e, notadamente, a decretar a abolição da servidão. Mas Tyler é
assassinado e a aristocracia se organiza para massacrar o movimento e anular
seu efêmero triunfo. Iniciada nos anos 1380, a luta dos camponeses deAragão
contra os "maus costumes" dos senhores apesar de alguns decênios mais
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favoráveis, impõem constrições próximas da servidão a dependentes qualifica-
dos de remensas é menos uma breve explosão de violência do que um com-
-
bate obstinado e paciente, que se beneficia, de resto, da benevolência do rei.
Ele leva a uma vitória, consagrada por Fernando, o Católico, em 1486, quando
este abole o estatuto servil dos relnensas. Enfim, a revoÌta Irmandifla de 1467-69,
que põe a Galícia à mercê dos camponeses revoltados contra os castelos, apare-
ce como a mais importante revolta antifeudal de Castela, mesmo se ela é, final-
mente, esmagada pela aristocracia coligada de Castela, Leão e Portugal.
A compreensão desses movimentos sociais é dificultada peìo fato de que as
fontes o que era de esperar raramente lhes são favoráveis e, em todo caso,
- -
jamais emanam deles próprios. Se se capta o estopim dos tumultos (crise ali-
mentar, novo imposto etc.), é mais delicado avançar além desse elemento ime-
26. La dame à la lìcorne, série <le seis tapeçarias (cinco das quais correspondendo aos cinco senti-
dos humanos), reaÌizada nos Países-Baixos; encontra-se atuaÌmente no Museu Nacional da Idade
Média de Cluny, em Paris. (N. T.)
O poder monárquico também continua a afirmar-se, a tal ponto que alguns histo-
riadores situaram nesse período, em particular entre os anos 1280 e 1360, a
"gênese do Estado moderno" (Jean-Philippe Genet). Se não se pode negar as notá-
A lgreja, ainda
27. Na tradiçãojurídica Ìatina, a pragmatica sanctìon refere-se a um edito que visa solucionar
defi-
nitivamente uma questão importante. (N. T.)
A crvrLrzAÇÃo I,EUDAL 27 I
ordem do rei Luís XI. A vulgata realista Parece' então' tornar-se a doutrina ofi-
cial da universidade, contribuindo para bloquear os esforços de regeneração que
(1363-
alguns de seus membros eminentes, como o chanceler João Gerson
1429), parecem, contudo, desejar.
A Igrela enfrenta outras contestações cujos efeitos são mais imediatos.
Radicalizando a idéia de que não existe poder a não ser em Deus, John Wyclif
(c. 1330-8a), doutor em teologia em Oxford e conselheiro do rei da Inglaterra,
chega a um questionamento profundo da instituição eclesial. Trata-se, a seus
olhÃ, d" fazer prevalecer a Igreja dos predestinados, iluminados pela graça,
sobre a Igreja üiível, instituição imperfeita e pecadora, cujo chefe, se ele não
imita o Cristo, não passa de uma encarnação do Anticristo. Mesmo se a verda-
deira Igreja só se revelará no final dos tempos, convém, enquanto se espera'
reduziJa igreja visível a uma instituição pobre e espiritual, despojada do poder
que a converte em uma potência diabólica. As teses de wyclif, embora tenham
,ido .orrd"nadas, mas sem pôr em perigo seu autor, circulam e exercem influên-
cia notável nos meios universitários europeus, em particular em Praga, onde,
por sua vez,Jan Hus as retoma. Também para este, a Igreja institucional é a
igreja do diabo, inspirada pelo Anticristo, e ele convoca a Igreja dos predestina-
do, u ," mobilizar contra ela, para uma missão de purificação. Excomungado,
ele vai ao Concílio de Constançapara ali defender suas teses, mas é preso e
queimado em 1415, o que dá início à sublevação de seus partidários e à insur-
reição milenarista dos taboritas da Boêmia (segunda parte, capítulo I). Claramente,
u, ,"r", de Wyclif e o movimento de Hus, que negam a legitimidade da institur- -
(em particular, o dogma da transubstgg:-
ção éCliiial é séu pòcler dg mgdiação
ciaçao), p."r-rtr.rãiunr a Reforma luterana. O sintoma e a advertência estão longe
de ser indiferentàs, pois a Reforma remeterá em causa' dessa vez com sucesso'
o conjunto dos fundamentos da instituição eclesial e subtrairá de seu controle
uma parte importante da EuroPa.
No próprio seio da ortodoxia romana, não se cessa de denunciar, nos sécu-
los XIV e )Õ,/, o estado precário do clero e de se apelar para uma reforma da Igreja
"em seus membros e em sua cabeça", sinal de uma Preocupação em geral retóri-
'
ca ou instrumentalizada. Paradoxalmente, pode-se, no entanto, indagar se não é
durante esses séculos que a ação pastoral da Igreja, resultado do esforço conju-
gado do clero secular e das ordens mendicantes, mais e mais implantadas e cada
"ofício
u", -"is influentes, atinge sua maior eficácia. Sem dúvida, nunca antes o
de pregador" (Hervé Martin) foi praticado com tanto impacto e estrondo como
.,o, t"-po, de um Vicente Ferrier, que atrai multidões, da Lombardia até fuagão,
e pronuncia um sermão por dia entre 1399 e 1419, de um frade Ricardo, que
prende a atenção do povo parisiense durante várias semanas (1429), ou de um