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• Resumo

Uma técnica capaz de extrair o lapachol de sua matéria prima ( Serragem de Ipe) é a
extração reativa, que ocorre uma reação entre o composto e um reagente, fazendo com
que esse passe para outra fase. Utilizou-se para a extração, soluções de bases fracas
(Na2CO3 e NaHCO3), que tornam o composto solúvel em meio aquoso. Posteriormente,
adicionou-se HCl, de modo a acidificar o meio e assim ocorrer a recristalização do lapachol.
Frente às informações supracitadas, o presente relatório tem como objetivo
apresentar os resultados observados durante o procedimento de extração do lapachol da
serragem do Ipe e da recristalização do mesmo.

• Revisão Bibliográfica

O lapachol (Figura 1), 2-hidroxi-3-(3-metil-butenil)-1,4- naftoquinona, é um


produto natural caracterizado como uma naftoquinona. As quinonas representam uma
ampla e variada família de metabólitos de distribuição natural¹ e são divididas em
diferentes grupos, utilizando-se, como critério, o tipo de sistema aromático que sustenta
o anel quinonoídica: benzoquinonas – um anel benzênico; naftoquinonas – um anel
naftalênico; antroquinonas – um anel antracênico linear ou angular5. O lapachol é
comum em espécies da família Bignoniaceae, como Ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa)²,
árvore cuja presença é abundante na flora brasileira. O lapachol foi descrito pela
primeira vez por Paternò, em 1821, tendo sua estrutura química estabelecida desde
1896, por Hooker ³, que o identificou como uma naftoquinona de peso molecular
242,26, que sofrendo a ação controlada do calor, fornece em sequência, a
desidrolapachona (xiloidona) e os isômeros α- e β- lapachona ( Figura 2 )4.

Este composto apresenta vários usos terapêuticos como antineoplásico,


antimalárico, antiviral, antimicrobiano, entre outros. Toda via sua utilização ainda é
muito restrita, já que em determinadas dosagens, este composto pode apresentar alta
toxicidade, como foram estabelecidas pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados
Unidos (NCI – National Cancer Institute) em 1974 ².
Figura 1: Fórmula estrutural da 2-hidroxi-3-(3-metil-butenil)-1,4- naftoquinona (Lapachol)

Figura 2: Estruturas Químicas do α-Lapachona, Xiloidona e β-Lapachona

O Lapachol pode ser obtido por diferentes métodos de extração, baseando-se


em sua solubilidade em solventes orgânicos e a solubilidade do seu sal em meio
aquoso alcalino. Devido ao seu caráter ácido (pKa em aproximadamente 6,0), o
lapachol pode ser obtido por extração reativa, isto é, a adição de uma solução alcalina
fará com que o lapachol seja extraído de sua fonte natural (Figura 3), já que a técnica
de extração por solventes quimicamente reativos depende do uso de um reagente
(solvente) que reaja quimicamente com o composto a ser extraído. Na maioria dos
casos o processo se dá pela desprotonação de um composto pouco solúvel em meio
aquoso, aumentando drasticamente sua solubilidade no meio7.

Em sua forma ácida, o lapachol é insolúvel em água e se apresenta como um


sólido amarelo, já na forma de seu sal, possui grande solubilidade em água e uma
coloração vermelha 6.
Figura 3: Reação de ionização do lapachol em solução de carbonato de sódio

• Materiais

• Amostra
• Serragem de Ipê roxo

• Materiais

• 2 Béqueres 1L;

• 1 Béquer de 250 mL;

• Bastão de Vidro;

• Funil de Büchner;

• Papel Filtro;

• Funil de Büchner;

• Kitassato;

• Pisseta;

• Capela; Marca: Vexer;


• Bomba de Vácuo; Marca: Solab; Modelo: SL60;

• Balança; Marca: Mart; Modelo: AW220; Máximo: 220g ; Mínimo: 0,01g; Erro =
0,001g;

• Reagentes

• Ácido Clorídrico concentrado;

• Solução de Na2CO3 1% (m/v)

• Solução de NaHCO3 1% (m/v)

• Procedimentos

Procedimento 1 : Preparação da amostra

• Com auxílio de uma balança analítica, pesou-se 100,08 gramas de serragem


de ipê, em um béquer de 1L;

• Adicionou-se 500 mL de solução de 1% de carbonato de sódio (Na2CO3);

• Adicionou-se 200 mL de solução de 1% de bicarbonato de sódio (NaHCO3);

• Deixou-se a mistura em repouso por aproximadamente 45 minutos, com


agitação ocasional utilizando um bastão de vidro;

• Filtrou-se a solução a vácuo com auxílio de um funil de Büchner, um kitassato


e uma bomba a vácuo, até que a solução avermelhada da serragem fosse
totalmente separada;

• Transferiu-se a solução do kitassato para um béquer de 1L;

• Adicionou-se vagarosamente ácido clorídrico (HCl) concentrado até a solução


vermelha torna-se amarela com o surgimento de espuma;
• Com auxílio de uma espátula, retirou-se toda a espuma, transferindo-a para
um béquer de 250 mL;

• Colocou-se o béquer na capela para a secagem.


Figura : Esquematização do procedimento realizado.

• Resultados e Discussões
4.1. Influencia da estrutura na acidez e basicidade

Ácidos e bases orgânicos são explicados a partir das teorias de Brønsted-Lowry e


de Lewis. Segundo a teoria de ácidos e bases de Brønsted-Lowry , um ácido é uma
substância que pode doar um próton, e uma base é uma substância que pode aceitar
um próton8. Já Lewis em 1916, estendeu a definição de ácidos e bases além daqueles
conceitos de Brønsted-Lowry. Segundo ele, base é definida como um doador de par de
elétrons e ácido como um receptor de par de elétrons. A vantagem da definição de
Lewis sobre a de Brønsted é que podemos identificar substâncias como ácidos ou
bases mesmo quando não há transferência de prótons9.

Além das características em receber ou doar elétrons, os compostos orgânicos


também podem influenciar a acidez e basicidade de acordo com sua estrutura, isto é,
grupos ligados a sítios ionizáveis podem modular algumas propriedades através de
diferentes efeitos.

O Lapachol, por exemplo, é um ácido orgânico, pois possui em sua estrutura a


capacidade de doar prótons de acordo com a teoria de Brønsted-Lowry, ou um aceptor
de par de elétrons como afirmava Lewis. Para além, o lapachol possui influência do
efeito indutivo retirador de elétrons, ou seja, possui em sua estrutura átomos
eletronegativos que deslocam a nuvem eletrônica dos sítios ionizáveis, diminuindo sua
densidade eletrônica. Esse efeito na estrutura do lapachol afeta a hidroxila, de modo a
deixá-la com baixa densidade eletrônica e consequentemente tornar o hidrogênio mais
ácido, o que facilita a protonação.

Além do efeito indutivo retirador de elétrons, o lapachol sobre ação do efeito de


ressonância, que se dá ao longo das ligações π e permite o espalhamento de elétrons
ao longo de vários átomos na estrutura do composto, levando a uma redução da
densidade eletrônica. No caso dos ácidos, isso favorece a acidez, por aumentar a
estabilidade da base conjugada10.

O lapachol, em sua forma ácida apresenta-se como um sólido praticamente


insolúvel em água. Para sua extração fez-se necessário adicionar uma solução básica,
neste caso, carbonato de sódio, para ionização do lapachol e então formação da sua
base conjugada. O emprego do Na2CO3 em lugar de bases mais fortes evitou a
extração de compostos ácidos mais fracos que o lapachol que também estão presentes
na serragem de Ipê. O sal do lapachol formado apresenta grande solubilidade em
água, ao contrário da sua forma ácida. Na reação de formação do sal do lapachol
(Figura 3), ocorre à liberação de um gás, nesse caso, o dióxido de carbônico. Após a
reação de formação do sal, para ocorrer a regeneração do lapachol a partir de seu sal
de sódio, deve-se adicionar um ácido, como por exemplo, HCl concentrado, pois desta
forma pode-se estabelecer um equilíbrio ácido-base entre o produto final (lapachol)
com o carbonato de sódio e o HCl, formando assim uma espuma que é o nosso
produto, já que o mesmo apresenta baixa densidade de suspenção.
• Efeito de ressonância e suas atividades biológicas

O lapachol apresenta diversas atividades biológicas a qual vem sendo estuda há


algum tempo e mesmo não sendo considerado um fármaco, é uma substância muito
importante do ponto de vista da pesquisa científica. O lapachol apresenta estruturas de
ressonâncias e essas o diferenciam em suas atividades biológicas, uns exemplos de
algumas são: a β-lapachona; α-lapachona e o β-lapachona – 3 sulfônico11. Segue na
figura 5 as estruturas:
Figura 5: Estruturas. Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422008000700013&script=sci_arttext.

Dessas estruturas, podemos destacar as atividades biológicas da β - lapachona,


já que a mesma se destaca por apresentar uma alta atividade frente ao Trypanosoma
cruzi, além de agir contra as atividades de células cancerosas.12 E essa é umas das
características que o diferencia das demais estruturas. Porém devido à sua
citotoxicidade, a β -lapachona não pode ser empregada no tratamento da doença de
Chagas, entretanto sua estrutura tem sido usada como alvo de pesquisa por muitos
químicos medicinais, já que a mesma apresenta atividades contra diversas doenças. 11

• Conclusão
Devido a um erro fortuito, não foi possível prosseguir com a prática. Isso porque
a solução avermelhada da serragem, usada para dar continuidade ao procedimento,
fora descartada. Diante disso, houve a interrupção do experimento, onde na
ausência de dados não se pode concluir os resultados.

• Referências

1–QUEIROZ, T. K. B.; CAMARA, C. A.; Síntese de novos derivados naftoquinônicos


com atividade Leishmanicida; Disponível em:
<http://www.eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/R0832-1.pdf> acessado em:
02/01/14

2- TAVARES, S.R. de C.1 ; PEREIRA, V.V.¹; PENAFORT, F. O L.¹; LACERDA, G.A.;


Influência da polaridade do solvente na extração de lapachol bruto; disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/bbr/article/viewFile/15484/12847 > acessado
em: 04/01/2014

3- Rao, K.V.; McBride, T.J. Oleson, J.J. Recognition and evaluation of lapachol as an
antitumor Agent. Cancer Research. 28: 1952 – 1954. Oct. 1968

4 - D’Albuquerque, I.L. Termorreação da 2-hidróxi-3-(3-metil-2butenil)-1,4-


naft.oquinona. Revista do Instituto de Antibióticos. Recife/UFPE. 8 (1/2): 73 – 87. dez
1968

5 – SILVA, M. N.; FERREIRA, V. F.; SOUZA, M. C. B. V.; Um panorama atual da


química e da farmacologia de naftoquinonas, com ênfase na β -lapachona e derivados.
Química Nova. v. 26, p. 407-416, 2003.

6 – BARBOSA, T. P.; NETO, H. D.; Preparação de derivados do Lapachol em meio


ácido e em meio básico: uma proposta de experimentos para disciplina de Química
Orgânica Experimental; Disponível em:
<http://quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/2013/vol36n2/20-ED12436.pdf> acessado em:
02/01/14

7- LIN, S.-H.; CHEN, C.-N. Simultaneous reactive extraction separation of amino acids
from water with D2EHPA in hollow fiber contactors. Journal of Membrane Science, v.
280, n. 1–2, p. 771-780, 2006. ISSN 0376-7388. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0376738806001608 >.

8- Acidez e Basicidade de Compostos Orgânicos. Disponével em: <


http://www.iq.usp.br/wjbaader/qfl2345/Capitulo_1'3_QFL%202345.pdf> . Acessado em:
08 de janeiro de 2013.

9- Conceito de ácidos e bases. Disponível em: <


http://www.lce.esalq.usp.br/arquimedes/Atividade04.pdf >. Acessado em 8 de janeiro de
2013.
10- SOLOMONS, T. W. G. , FRUHLE, C. B. , Química Orgânica, 7ª edição, LTC –
Livros Técnicos e Científicos Editora S. A ., Rio de Janeiro, 2001.

11- FERREIRA, Sabrina B.; GONZAGA, Daniel T.G.; SANTOS, Wilson C. et al. β-
lapachona: Sua importância em química medicinal e modificações estruturais. Revista
Virtual de Química, v. 2, n. 2, p. 140-60, 2010.

12- Pinto, A. V., et al. Eur. J. Am. Med. Chem., 2004, 39, 639.

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