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Orianna,
Abs.
Lunde
Prezada Gigliola,
Desde 2016, a Procuradoria Especial da Mulher do Senado acompanhou o encaminhamento das demandas da Srª
Orianna Ornella Vieira Gehre, uma vítima de violência doméstica que passou a se queixar também de violência
institucional da parte do Estado.
Desde junho, a Procuradoria Especial da Mulher do Senado suspendeu os atendimentos em curso, para revisar sua
metodologia. Isso interrompeu, temporariamente, o acompanhamento que fazíamos do caso de Orianna, mas não
vou me furtar a fazer um breve resumo do caso e de sua importância possível para a CMCVM.
Em mais de uma ocasião, Orianna fez o relato penoso – por conta da repetição dolorosa – das dificuldades que tem
encontrado para ser entendida e atendida como uma vítima de violência doméstica.
Uma destas ocasiões, perante o Conselho dos Direitos da Mulher do Distrito Federal (CDM), tem um registro sonoro,
o qual ouvimos atentamente e nos impressionou por sua riqueza em informação e humanidade.
No sofrido registro do depoimento de Orianna, ouvido atentamente pelas conselheiras do CDM durante 1h30,
sobressaem dois momentos: primeiro, as agruras da separação de seu ex-companheiro, acusado de praticar formas
diversas de violência (física, psicológica, sexual, moral e patrimonial); segundo, as dificuldades que enfrentou para
ser entendida e atendida como uma vítima de violência doméstica.
A busca de Orianna por Justiça foi fragilizada desde o início, quando a Delegacia Especializada de Atendimento à
Mulher (DEAM) se recusou a registrar adequadamente o crime ao qual se referia.
O crime de violência doméstica de que havia sido vítima acabou sendo descaracterizado como tal e fracionado em
várias partes, numa multiplicidade de processos dá curso “àquilo que o Estado entendeu” e não “àquilo que Orianna
pediu”.
https://mail.google.com/mail/u/0?ik=076bc94836&view=pt&search=all&permmsgid=msg-f%3A1642397508059258684&simpl=msg-f%3A1642397… 1/3
23/08/2019 Gmail - ENC: Sobre o atendimento a Orianna Ornella Vieira Gehre
É também neste momento inicial que começam os conflitos com a própria Defensoria Pública, órgão ao qual Orianna
recorreu na expectativa de registrar adequadamente.
Um resultado profundamente negativo desses conflitos foi a visão estereotipada que se criou acerca de Orianna
como uma “pessoa difícil”, coisa que não a diferiria de todos nós, mas é tese que não faz jus à sua personalidade,
em nossa avaliação.
Como ela é uma pessoa bem informada, ela própria construiu uma tese de que é necessário tomar medidas
“saneadoras”, como declarar um conflito de competência, com base na Lei Maria da Penha, para reencaminhar
devidamente processos condizentes ao que ela pleiteia e não ao que os defensores, indevidamente, pleitearam.
De fato, os processos cujo prosseguimento Orianna quer interromper têm curso em varas cíveis e não em Juizado
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher ou, na sua ausência em juizado criminal.
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática
de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento
das causas referidas no caput.
No entendimento de Orianna, o eventual acatamento de tal tese pode ser de suma importância para outros casos
além do seu.
A situação complexa em que presentemente se encontra o encaminhamento das demandas jurídicas de Orianna
uma oportunidade de aprendizado comum para a todos os agentes e operadores envolvidos com a proteção da
mulher em situação de violência doméstica.
Uma tese que frequentemente levantamos é de que a referida rede tem sido eficiente e eficaz para enfrentar os
casos-padrão, mas não os chamados “pontos fora da curva”, que demandam uma fuga da rotina, mas cujo
entendimento verdadeiramente nos faz saltar de patamar.
1. Mostrar que a Lei Maria da Penha tem incentivado a denúncia de violências (notadamente psicológicas e
patrimoniais) que não são recepcionadas na rede – em especial nas Delegacias de Atendimento – por não
corresponderem a crime.
2. Mostrar que isso tem sido fonte de frequente conflito entre as vítimas de violência doméstica e as instituições da
rede de proteção à mulher em situação de violência.
3. Mostrar que a não implementação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar, e a inobservância do artigo
33 da Lei Maria da Penha, tem tido consequências extremamente negativas para as mulheres.
4. Mostrar que há um contingente de mulheres irresignadas com a frustração de suas expectativas de direito.
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23/08/2019 Gmail - ENC: Sobre o atendimento a Orianna Ornella Vieira Gehre
5. Mostrar que um número crescente de mulheres se queixa de ser vítima de violência institucional na rede de
proteção à mulher em situação de violência.
6. Mostrar que estas mulheres precisam e podem ser ouvidas, não só para dar vazão a seu protesto, mas porque
elas acumularam percepções, experiência e conhecimento que podem aperfeiçoar a rede.
Para ilustrar este último tópico, gostaria de lhe enviar, em mensagem próxima, uma cópia de trecho de uma
contribuição de Orianna para a discussão da lei do stalking.
Att.
Lunde Braghini
Assessoria de Comunicação
Procuradoria Especial da Mulher
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