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ÌGBÛRÛ – A INICIAÇÃO

Por: Riz Maglio

A iniciação no Candomblé é um processo extremamente complexo e lento, além de ser um


assunto que tem muitas restrições para ser discutido publicamente. Portanto, vamos nos ater
às mais básicas informações, deixando bastante claro que o abaixo descrito não é uma regra
geral, uma vez que, na maioria dos casos, cada nação (segmento da religião), cada família
(grupo de pessoas ligadas através de um mesmo elo ancestral) e cada casa de Candomblé
(grupo pertencente especificamente a uma casa) tem ritual específico.

Assim como há muitas variações associadas à própria palavra que identifica a Religião dos
Òrisá no Brasil - Candomblé, há também diversos tipos de iniciação. Estes tipos classificam-
se, basicamente, em iniciação de adïsù e de não adïsù. Apenas para exemplificar, há dois
conhecidos exemplos de iniciados que podem ser classificados como "não adïsù": os Ogán
(homens) e as Ëkëdi (mulheres), também chamadas Ajòyè - como lembra Reginaldo Prandi -
Professor Titular de Sociologia na USP. Nestes dois casos, o (a) seguidor (a) é escolhido por
um Òrisá manifestado durante uma cerimônia de Candomblé e, após um dado período, é
confirmado (a). Os iniciados "não adïsù", ao contrário dos adïsù, não podem iniciar outras
pessoas e têm suas obrigações / tarefas muitas bem delimitadas dentro do lado brasileiro da
religião, que tem como filosofia o princípio de que não é possível dar a ninguém aquilo que
não recebemos, ou seja, aquilo que não temos para dar.

O Professor Prandi nos ajuda a esclarecer um pouco mais esta questão de iniciados "não
adïsù", dizendo que um Ogán ou uma Ëkëdi também tem a opção de ser iniciado na condição
de adïñù, permitindo que no futuro este Ogán ou Ëkëdi venha a desempenhar a função de
Bàbálórìsà ou Ìyálórìsà, respectivamente. Ele ainda acrescenta que iniciação e confirmação
são conceitos totalmente distintos, uma vez que a confirmação tem o objetivo de transmitir
um Oyè a um iniciado. Este assunto será discutido mais detalhadamente nos últimos
parágrafos.

Sem o objetivo de negar a importância daqueles que não estão classificados como adïsù,
vamos dedicar este tópico à exploração da iniciação dos adïsù, uma vez que é este o único
caminho que pode elevar um seguidor à condição de Ìyálórìsà ou Bàbálórìsà - o mais alto
cargo dentro da hierarquia de uma casa de Candomblé. Tudo, exatamente tudo, dentro de
uma casa de Candomblé deve ser feito com a autorização ou sob o comando da Ìyálórìsà ou
Bàbálórìsà que, como já mencionado, foi iniciado (a) na condição de adïsù.

Outro fator que deve ser considerado é que, nos primórdios do Candomblé, um homem não
tinha o direito de ser iniciado na condição de adïsù, somente como Ogan (nesta concepção,
"não adïsù"). Esta regra até hoje é seguida naquela que é considerada a matriz das casas de
Candomblé - a Casa Branca do Engenho Velho em Salvador. O tempo passou, a religião
evoluiu e, por razões que fogem ao escopo deste artigo, os homens começaram a ser
iniciados como adïsù e, para simplificar o texto, a partir deste ponto vamos deixar de usar o
gênero das palavras, passando a utilizá-las apenas no masculino em português e/ou inglês e
feminino nas poucas palavras Yorùbá que utilizaremos. Além disto, Alexandre Lima nos
explicará o significado de algumas destas palavras ao final do texto. Até lá, vamos prosseguir
com o assunto iniciação que, daqui a diante, fará referências somente às informações
relevantes da iniciação dos adïsù.
Diversos são os caminhos (motivos) que levam uma pessoa a ser iniciada. É praticamente
impossível relacionar todos caminhos, já que eles podem ser diretamente proporcionais ao
número de pessoas iniciadas até hoje, mas há uma frase que a Ìyálórìsà Kasarandé não cansa
de repetir e que muito bem reúne estes vários caminhos: " Ou você chega aos Òrisá pelo
amor, ou pela dor". Em outras palavras, há pessoas que têm que ser iniciadas, outras o são
simplesmente porque assim quiseram e os Òrisá concordaram, ou seja, estas últimas
poderiam esperar o tempo que os Òrisá julgassem necessário para serem iniciados - os que
poderia significar uma vida inteira, mas preferiram fazê-lo simplesmente porque amavam a
religião. E se há um componente que é desejável para um seguidor ser iniciado, este
ingrediente é o amor, o qual teórica e automaticamente conduz à dedicação.

O seguidor da Religião dos Òrisá - iniciado ou não, adïsù ou não, pode e deve ser
considerado como Òrisá - palavra que deve ser dita com muito orgulho diante da sociedade
por aqueles que seguem o Candomblé, tal qual fazem os seguidores de outras religiões
quando se classificam quanto à religião que praticam. Após esta consideração, temos que
classificar o Òrisá quanto à sua condição dentro da religião - iniciado ou não iniciado. Até que
ele seja iniciado, ele será classificado como abíyán.

O Bàbálórìsà Funjiala colabora, definindo abíyán como sendo uma classificação pré-iniciática,
ou seja, para alcançar este primeiro degrau, o Òrisá precisa ter sido submetido a, pelo
menos, o ritual de börí. Definida esta classificação, então teremos os Òrisá "não iniciados" e
os Òrisá que já passaram pelo böri, os abíyán.

Só para confirmar com outras palavras o que já dissemos anteriormente, o abíyán poderá
ficar uma vida inteira nesta condição se assim os Òrisá desejarem. Por outro lado, se os
Òrisá decidirem pela iniciação, durante um Candomblé (neste contexto, a cerimônia pública)
este abíyán poderá "bolar no santo" - expressão que o Bàbálórìsà Funjiala define como sendo
a primeira manifestação física do Òrisá, a qual tomamos a liberdade de acrescentar à nossa
definição inicial de "manifestação física que diz que o abíyán deve ser iniciado o mais breve
possível".

Após a definitiva decisão sobre a iniciação, a Ìyálórìsà determinará através do jogo quando o
processo terá início. Definida a data, que muito tem a ver com o Òrisá do futuro iniciado,
com as determinações do Òrisá dono da casa e outras tantas implicações, o abíyán
apresenta-se, pela última vez nesta condição em toda sua existência, diante da Ìyálórìsà. A
partir deste momento, ele deu início a um processo que durará SETE anos na esmagadora
maioria das nações, famílias e casas.

Ele vai ficar hospedado na casa de Candomblé por aproximadamente três semanas, tempo
este dependente da casa, família e do próprio Òrisá do iniciado. Inicialmente, por alguns dias
(ou até horas) ele simplesmente descansará. Após este período, será dado inicio a um
processo de limpeza física e espiritual, através de banhos rituais ( àgbo) e sacrifícios (ëbö),
que poderá demorar mais alguns dias.

Feita a "limpeza", ele será colocado no hunkö - quarto sagrado, de onde só sairá para as
cerimônias em outros aposentos do ilé àsë ou locais externos sagrados (p.ex: mar, cachoeira,
mata, rio, etc.). A partir deste momento, o Abòrisá abandona a condição de abíyán e passa a
ser classificado como ìyàwó - noviça, literalmente, "a mais nova esposa".
Em seguida ele será submetido ao ritual do börí, o qual alimentará um dos mais importantes
Òrisá - Ori. Através da "alimentação" deste Òrisá, o ritual tem o objetivo de pedir a sua
autorização para "trabalhar" com a cabeça da ìyàwó, uma vez que não é possível realizar
qualquer cerimônia pessoal relacionada aos Òrisá sem antes pedir a permissão de Ori. Uma
vez que Orí foi devidamente reverenciado, é hora de iniciar o tratamento do Òrisá ancestral
da ìyàwó.

Segundo a tradição Kêtu, até 10 Abòrisá podem ser iniciado em conjunto, o que nunca
significa que o serão simultaneamente, pois a iniciação está intimamente vinculada ao Òrisá
de cada pessoa e somente a Ìyálórìsà poderá realizar a cerimônia principal. Com base nestes
fatos, entendemos que somente um abòrisá poderá ser iniciado dentro de um mesmo espaço
de tempo. Por outro lado, as cerimônias preliminares e posteriores à iniciação poderão ser
feitas de forma simultânea e, por isto, o período é normalmente aproveitado para iniciar mais
de uma pessoa. A este grupo de noviços damos o nome de barco , sendo que cada membro,
por ordem seqüencial (na maioria dos casos, de acordo com a ordem ritual dos Òrisá
ancestrais), recebe um dos seguintes nomes:

1. Dofono 6. Gamotin
2. Dofonitin 7. Vimo
3. Fomo 8. Vimotin
4. Fomotin 9. Domo
5. Gamo 10. Domotin

A iniciação é algo muito particular de cada Òrisá, por isto cada ìyàwó tem seus próprios
rituais de iniciação. Porém, o básico é feito em todos. Este " básico" consiste na raspagem da
cabeça e na abertura de incisões (através de métodos compatíveis com cada Òrisá) em
diversas partes do corpo da ìyàwó. Estas incisões (gbýrý) têm o principal objetivo de inserir o
àsë - um preparado que determinará a ancestralidade da ìyàwó. Entre estas incisões está a
principal de todas - o Osù, que é feita ao alto da cabeça e que o iniciado portará enquanto
estiver no aiye (espaço ocupado fisicamente pelos seres viventes).

Na tentativa de tornar um pouco mais clara a importância do Osù, citamos Dra. Juana Elbein
dos Santos e seu livro Os Nàgó e a Morte (ISBN 85-326-0923-6), onde diz:

"... a Ìyálàlàsë transfere e planta o àsë na noviça por intermédio de um ciclo ritual que
culmina quando, no centro da cabeça da ìyàwó, ela coloca e consagra o Osù...".

Mais adiante ela escreve:


"Falecida a olórìsà, qualquer que seja sua hierarquia, deverá proceder-se a retirar seu Osù
por meio do qual, precisamente, a individualização, o nascimento da adósù foram possíveis.
Um sacerdote altamente preparado manipulará sua cabeça de maneira que retire os cabelos
do lugar onde o Osù foi plantado...".

Durante esta importante fase da iniciação, tudo sempre é feito sob a tênue luz de vela
(quando o Òrisá da ìyàwó não exige outro tipo primitivo de iluminação), ao som de cantigas
específicas para o momento e diante de olhares das poucas pessoas autorizadas pelo Òrisá,
seja ele da ìyàwó, da casa, da Ìyálórìsà e até mesmo do próprio participante.
Feito isto, será dado início aos sacrifícios animais necessários para o Òrisá da ìyàwó. Ao
contrário do que a grande maioria pensa, segundo a tradição Kêtu, animais não são
sacrificados sobre a ìyàwó, pois se acredita que o calor do sofrimento causado pela morte do
animal não deve nunca atingir o Abòrisá. Há métodos específicos e pessoas especialmente
determinadas para que não seja estabelecido um elo entre o sofrimento físico do animal
sacrificado e a pessoa diretamente envolvida no ritual, exceto no que diz respeito a alguns
poucos animais.

Um a um, as ìyàwó são submetidas ao processo de iniciação, que pode durar horas que
parecem nunca acabar, dependendo do tamanho do barco - grupo de iniciados .

Apesar de já serem chamados de ìyàwó, eles ainda terão uma dura fase pela frente. Com o
mais básico comportamento sempre atrelado aos seus Òrisà ancestrais, eles ainda terão
muitos dias de convivência com a ajíbïna que, além de ensiná-los como se comportarem
diante de seus mais velhos continuará ensinando as rezas, as danças, etc. Eles ainda serão
apresentados por sete vezes àqueles da sua família que estiverem interessados em conhecê-
los. Dependendo do Òrisá, durante estas apresentações serão pintados com wají (azul), òsún
(vermelho) e ëfun (branco) demonstrando sua ascendência (Îyï) e também para que as ajé
(entidades feiticeiras) não se aproveitem deles, não os persiga.

Finalizados os procedimentos internos de iniciação, é chegada a hora da cerimônia pública.


Aliás, todos grandes rituais do Candomblé culminam em cerimônias públicas, que assumem o
papel de confirmadoras do ocorrido, de preferência com a participação de pessoas de outras
casas e até mesmo outras famílias. A presença de pessoas pertencentes a outras nações em
uma saída de ìyàwó é considerada uma grande honra e, normalmente, terão peso
imensurável na escolha da Ìyálórìsà para aquele que tirará o nome da ìyàwó.

Dependendo da casa, a cerimônia pública será precedida por novos rituais que incluem novos
sacrifícios. Há até mesmo casas / famílias que realizam o ritual / sacrifício finais poucos
minutos antes da primeira apresentação pública. Mas, hoje em dia, devido à grande
especulação, ou os ìyàwó saem cobertos por um tecido branco nesta primeira apresentação,
ou já o fizeram na madrugada anterior. Queremos dizer que o ápice da iniciação - que
consiste na apresentação do Osù (objeto ritualístico altamente sagrado) em público, é
atingido de uma forma mais discreta do que o era antigamente. Na atualidade, é mais difícil
ver um Osù em cerimônias públicas.

De qualquer maneira, o final desta fase inicial será uma cerimônia pública onde os ìyàwó
mostrarão por três vezes que nasceram para uma nova vida, será o Öjï Orúkö Ìyàwó.

Na primeira vez, eles serão apresentados vestidos de branco, pintados de branco ( ëfun) com
o ìkódídë (pena ritualística, um dos símbolos da iniciação) amarrado na cabeça por palha da
costa. Na frente deles estará a ajíbïna estendendo a ëní - esteira, para que eles " batam pawï"
para os locais sagrados da casa e apresentem o dïbálû (Òrisá masculinos) e o yìnká (Òrisá
femininos) para a Ìyálórìsà.

Na segunda vez, as roupas serão coloridas, assim como as pinturas que abusarão do
vermelho (òsún) e azul (wají), dependendo do Òrisá, mostrando a sua ancestralidade através
de traços bem definidos. Na verdade, desta vez, a apresentação é bem mais rápida.
Na terceira vez, as roupas já serão as características de cada Òrisá, ou seja, eles estarão
vestidos em belas roupas que revelam os atributos, lembram a história, de seus Òrisá.

Na segunda saída, dependendo da casa, após os cumprimentos rituais, os ìyàwó serão


expostos ao público na ordem hierárquica do barco e a Ìyálórìsà oferecerá cada um deles
para que alguém de outra nação, casa, família (normalmente nesta ordem), peça para que o
Òrisá revele publicamente o nome Yorùbá que o iniciado recebeu.

Na terceira saída, os Òrisá estarão preparados para comemorar os novos nascimentos, pois
este é o objetivo da iniciação - nascer para dentro da religião, através das danças rituais.
Dependendo do número de ìyàwó, os Òrisá podem dançar até os raios do sol invadirem o
barracão.

Muito bonito sem dúvida, mas engana-se quem pensa que a iniciação acabou. Esquecemo-
nos de mencionar que o Kele - o colar sagrado, foi colocado no pescoço da ìyàwó durante o
processo de iniciação. É importante notar que o termo " colar" é utilizado apenas para facilitar
o entendimento, pois, apesar de ser colocado no pescoço, o Kele não pode ser removido,
exceto através de ritual específico. Dependendo da casa, da família, o Kele deverá ser
carregado por 12 semanas, lembrando que a ìyàwó deverá respeitá-lo evitando todos
prazeres mundanos, tais como sexo, álcool, tabaco, etc., além de uma série de proibições -
èwó, inerentes a esta fase primária da iniciação. Hoje em dia, na tentativa de tornar o Kele
objeto de respeito máximo, muitas Ìyálórìsà não deixam seus ìyàwó entrarem para a vida
social portando o colar sagrado - preferem tirá-lo do pescoço dos seus filhos antes que estes
partam para a vida moderna que os aguarda lá fora. Mas isto não significa que eles estarão
livres dos èwó! Talvez eles sejam liberados para comer com talheres em um almoço de
negócios, mas isto poderá ser o máximo permitido, pois dormir no chão sobre a ëní e as rezas
antes das refeições que não sejam exigidas pela vida profissional continuarão sendo algumas
poucas das suas muitas obrigações para com os Òrisá. Alguns èwó, dependendo do Òrisá,
da casa, da família, etc., não estarão limitados somente ao período do Kele, ou seja, deverão
ser respeitados por toda vida do iniciado.

Como ensinado pela ajíbïna, enquanto eles forem ìyàwó, eles jamais poderão sentar no
mesmo nível que os irmãos mais velhos, nem olhar diretamente em seus olhos. É a hierarquia
intrínseca ao Candomblé (ou seria à cultura Yorúbà?) se mostrando: um irmão mais novo não
deve nunca ficar acima (fisicamente) de um irmão mais velho. Ao contrário das demais
culturas, os “olhos nos olhos” só funcionam para pessoas do mesmo nível hierárquico, os que
estão abaixo devem sempre olhar para o chão. Esta educação inicial mostrará quem é a
pessoa para o resto de sua vida dentro da religião.

Passado o período do Kele, o iyàwó, teoricamente, entra em seu ritmo social normal até o
primeiro ano, quando então cumprirá com novas obrigações chamadas de ödún kíni. Depois
precisará cumprir com suas obrigações aos três anos (ödún kýtà). Há casas onde também são
cumpridas obrigações no quinto ano. Finalmente, vem às obrigações que são a confirmação
final da iniciação e que são feitas aos sete anos (ödún kéje), quando então a ìyàwó se tornará
um egbïn (mais velho) através de uma cerimônia pública, onde poderá receber o conjunto de
símbolos da maioridade, comumente chamado de Deká. A partir daí, o egbïn, ou egbïnmi,
como é normalmente chamado, estará apto a abrir sua própria casa, caso este seja seu
caminho (definido no momento da sua concepção e revelado pelo jogo de búzios), dando
origem à sua própria família com base nos ensinamentos que adquiriu durante os sete anos
de iniciação, de aprendizado inicial. Durante o referido período, é esperado que ele tenha sido
submetido a, e estado presente em rituais suficientes para que esteja habilitado a, pelo
menos, interpretar corretamente as caídas dos búzios, pois muito do que praticará de agora
em diante, aprenderá à medida que os Òrisá digam que ele precisa iniciar os Abòrisá que
cruzarem seu caminho.

Aqueles que não têm o "caminho" para assumirem a função de Ìyálórìsà, de abrirem suas
próprias casas, continuarão atuando dentro daquela onde foram iniciados, podendo receber
nestes cargos e/ou títulos (Oyè) que determinarão os seus papéis junto à sua família ( Ìdílé
Òrisá). Nesta condição, além das classificações já expostas, estes abÒrisá passarão também
a ser classificados como Oloyè.

Conforme define o Professor Prandi, "receber um Oyè geralmente implica sentar na cadeira
(cadeira, trono, representava na África que o indivíduo tinha alta posição social, assim como
usar o eru-espanta mosca, o guarda-sol e outros símbolos de prestígio e poder). A
confirmação é o ato em que o pai-de-santo ou Òrisá senta o Oloyè na cadeira, para indicar
que ele agora tem status alto, posição elevada, etc. naquele Ëgbé (comunidade)". Ele
adiciona ainda que, ao abrir sua própria casa, a Ìyálórìsà não perde o vínculo com a casa
onde foi iniciada, podendo, inclusive, manter um Oyè recebido previamente naquela casa, ou
até ser confirmada para um Oyè naquela ou em outra casa após ter constituído sua própria
família.

Em seu livro "Meu Tempo é Agora" (ISBN 85-85336-04-8), Maria Stella de Azevedo Santos -
Ìyálórìsà do Òpó Afönjá, vai um pouco além sobre este assunto e diz:

"Ao aceitar o Oyè, o Adósù passa a ter maior responsabilidade no terreiro. Caso não
corresponda à altura, por desmazelo ou incompetência, responderá, diretamente, ao Òrisá
que o designou. Os cargos são vitalícios".

Pelo pouco que aqui foi exposto, imaginamos que seja possível notar que a iniciação é um
processo muito mais complexo do que muitos imaginam e ela não tem o único objetivo de
formar Ìyálórìsà, pois um Ëgbé depende (e muito) de pessoas com os mais diversos
caminhos, todas de grande importância na manutenção não só da religião, mas da imensa
carga cultural trazida do oeste africano pelos escravos para o Brasil e que tanto influenciou a
cultura do país.

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