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HQs de Humor No Brasil PDF
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Conselho Editorial
Conselho Editorial da Série Agemir Bavaresco
“Comunicação & Inovação” Ana Maria Mello
Augusto Buchweitz
Prof. Dr. Eduardo Vicente Augusto Mussi
(Universidade de São Paulo – USP) Bettina Steren dos Santos
Carlos Gerbase
Prof. Dr. Henrique de Paiva Magalhães Carlos Graeff-Teixeira
(Universidade Federal da Paraíba – UFPB) Clarice Beatriz da Costa Söhngen
Cláudio Luís C. Frankenberg
Profa. Dra. Isaltina Maria de Azevedo Gomes Érico João Hammes
(Universidade Federal de Pernambuco – UFPE) Gilberto Keller de Andrade
Jorge Campos da Costa – Editor-Chefe
Prof. Dr. Jorge A. González (Universidade
Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente
Nacional Autônoma do México – UNAM) Lauro Kopper Filho
Prof. Dr. Micael Maiolino Herschmann
(Universidade Federal do Rio do Janeiro – UFRJ)
CDD 741.5981
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do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas
(arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
“Quando eu faço um desenho, eu não tenho
a intenção que as pessoas riam. A intenção é
de abrir, é de tirar o escuro das coisas.”
Introdução................................................................................. 13
Referências.............................................................................. 123
1
Professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade
Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
João Batista Freitas Cardoso | Prefácio
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Introdução
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Das histórias realizadas por Rudolph Töpffer a partir de 1825 às publicações
britânicas e estadunidenses do final do século XIX, o humor gráfico, especialmen-
te a tira de quadrinhos cômica, teve papel de relevância para a consolidação da
mídia impressa (CLARK, 1991).
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Todas as citações de textos em outras línguas foram traduzidas pelo autor.
Introdução
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Dessa forma, não se trata de apresentar todas as histórias em quadrinhos
cômicas realizadas no Brasil, mas de colocar em destaque aquelas que foram
relevantes em um determinado momento histórico ou que foram realizadas por
artistas com larga produção e talento reconhecido por seus pares, pelos leitores
ou por pesquisadores da área.
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Introdução
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O Humor no Império
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Nos anos posteriores ao centenário de lançamento de O Tico-Tico, as revistas
com os personagens Disney, Pato Donald e Mickey, ultrapassaram seu tempo de
publicação, embora só tenham contado com quadrinhos produzidos por artistas
brasileiros da década de 1960 até o início do século XXI.
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Depois da Gazetinha, surgiram outros suplementos de quadrinhos no Brasil,
a exemplo do Suplemento Juvenil (1933) e do Globo Juvenil (1937). Nas décadas
seguintes, diversos jornais de várias partes do Brasil lançaram seus suplementos
voltados para leitores infantis que publicavam passatempos e tiras e páginas de
quadrinhos, como a Folhinha, encartada na edição de domingo da Folha de S. Paulo
e que trazia quadrinhos feitos por Mauricio de Sousa.
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Contracultura e contestação
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Nas artes gráficas, Ziraldo Alves Pinto foi um dos artistas brasilei-
ros que produziram cartuns e quadrinhos que tratavam de sexo. Ao lado
das histórias de Pererê, o saci que habita a Mata do Fundão junto com
animais da fauna brasileira (jabuti, onça, macaco, entre outros), o cartu-
nista também criou personagens cômicos, a exemplo de Jeremias o Bom,
Supermãe e Mineirinho, sendo este o estereótipo do mineiro (como o
seu criador) que faz tudo em surdina, sem ostentar, principalmente no
que diz respeito a suas conquistas amorosas. As histórias da Supermãe
também possuem um conteúdo malicioso e fazem uma sátira aos super-
-heróis (o autor já havia parodiado os heróis dos comics estadunidenses
em Os Zeróis), uma vez que a protagonista usa capa vermelha, botas e, no
peito do vestido azul, um escudo com a letra S na cor amarela, que re-
mete ao uniforme do Superman e de outros personagens desse gênero.
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Humor mainstream
Durante os anos 1970, os artistas brasileiros também encontra-
ram espaço em publicações comerciais, editadas por grandes editoras.
Isso se deve porque, em meados da década de 1970, houve a retomada
do movimento em prol dos quadrinhos brasileiros nas revistas editadas
no país. Essa reivindicação teve início no final dos anos 1950 e mobili-
zou vários artistas. Temendo que essa iniciativa virasse lei, as grandes
editoras passaram a utilizar material nacional e até a criar publicações
específicas para veicular histórias produzidas no Brasil. Esse foi o caso
da editora Abril, que lançou em 1974 a revista Crás!. Um dos idealiza-
dores desse título foi o escritor e editor Cláudio de Souza, funcionário
da empresa desde a década de 1950 e que, naquele momento, dirigia
as edições infantojuvenis da Abril. De acordo com Gonçalo Junior:
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Ruy Perotti, por sua vez, iniciou sua carreira na Editora Brasil-
América Ltda. (EBAL), do Rio de Janeiro, criada nos anos 1940 pelo
publisher Adolfo Aizen. Além de histórias em quadrinhos, Perotti tam-
bém trabalhou na área da publicidade e realizou desenhos animados,
como o do Sujismundo, personagem que, na década de 1970, pro-
tagonizava campanhas institucionais educativas do governo federal
que ensinavam normas de higiene para a população.
Seu personagem, o pobre diabo Satanésio, teve muito destaque
na revista Crás!. No momento em que a propaganda oficial do governo
militar apregoava o milagre econômico, as histórias de Perotti mostra-
vam um inferno falido por causa da violência e dos desentendimentos
que caracterizam a sociedade. Por este motivo, Satanésio, vestindo
roupas puídas e com remendos, resolve deixar as profundezas infer-
nais desertas e dirigir-se para a Terra, onde imaginava melhorar de
vida. Mas, aqui chegando, Satanésio encontrou um lugar habitado por
pessoas intransigentes, desonestas e brutais, que não tinham medo
dele. Para piorar a situação, na segunda aventura surge o anjo da guar-
da Anjoca, que passa a proteger o diabo em um mundo tão hostil.
Outros personagens que aparecem nas histórias de Satanésio
são o hippie Pacífico, os brutamontes Zé Tacape e João Porrete, a femi-
nista Lutércia e o garoto malvado Bernardão, que representam pontos
de discórdia da época. Para sobreviver em meio ao caos e à truculência
vigentes, o protagonista precisa trabalhar como condutor de trem fan-
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A produção regional
Há também quadrinhos humorísticos produzidos e publicados
regionalmente no Brasil. São exemplos Pindorama – a outra história do
Brasil, idealizado por Lailson de Holanda Cavalcanti, e o morador das
serras gaúchas Radicci, do quadrinista Iotti. O primeiro, publicado no
jornal Diário de Pernambuco, reconta a descoberta do Brasil a partir
das cartas encerradas em garrafas jogadas ao mar pelo náufrago por-
tuguês Vasco Cuínas Del Mangue. Já o segundo é uma das criações
do desenhista Carlos Henrique Iotti: o protagonista de suas tiras e
histórias é um gaúcho descendente de italianos grosseiro e autori-
tário, mas que padece com a mulher mandona e o filho desocupado.
Esse cartunista também é autor da história Deus e o Diabo, na
qual as duas entidades, sempre com opiniões divergentes, formam
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Capítulo 3
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etc. Dr. Baixada & Cia., de Luscar (Luiz Carlos dos Santos), por sua vez,
teve duas edições lançadas pela Editora Hamasaki, e era protagoni-
zada por um matador impiedoso, uma referência aos esquadrões da
morte que atuam nas periferias das cidades. Todo vestido de preto,
usando óculos escuros e tênis nos pés, infligia seu terror a comercian-
tes, prostitutas e pessoas comuns. Além dessa história, também eram
editadas tiras dos menores abandonados Piva e Mosquito.
Com a redemocratização da sociedade brasileira, o humor po-
lítico, contudo, não desapareceu: está presente nos trabalhos dos
irmãos Paulo e Chico Caruso, que captaram com seus traços os casu-
ísmos e as arbitrariedades cometidos pelos governantes. Em 1982,
a revista Careta foi relançada pela Editora Três e abrigava em suas
páginas cartuns e quadrinhos produzidos pelos melhores cartunistas
da época (Paulo e Chico Caruso, Laerte, Jaguar, Glauco, entre outros),
que jogavam luz sobre as contradições de um país que tentava voltar
à normalidade democrática. A mesma editora publicou em 1984 Bar
Brasil, coletânea de histórias escritas por Alex Solnik e desenhadas
por Paulo Caruso, em que os principais nomes da política nacional
frequentam ou trabalham no boteco com o nome do país. Dois anos
mais tarde, a editora gaúcha L&PM produziu o álbum Bar Brasil na
Nova República, dando sequência às sátiras realizadas pela dupla.
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Depoimento concedido ao autor em 28 de maio de 2004. Idem para as demais
citações.
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Entrevista dada ao Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP em
maio de 2004.
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Artigo escrito por Laerte e publicado no jornal Folha de S. Paulo em 17 de
outubro de 2003 (página E1), quando do lançamento de álbum editado no Brasil
pela Editora Conrad com histórias da revista Zap Comix.
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Do número 11 ao 15 a edição coube ao selo Palhaço; mais três números e uma
edição especial foram feitas pela Editora Panga.
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Na entrevista concedida para a revista Caros Amigos número 50 (São Paulo: Casa
Amarela, maio de 2001), perguntado sobre o nome da tira e da revista, Angeli de-
clara: “Foi em homenagem ao Jackson do Pandeiro e àquela música maravilhosa
Chiclete com Banana, que tem tudo a ver com o conceito da revista, a música fala de
misturar bebop com samba, rock tocado com zabumba e tamborim... quer dizer, é
uma cultura rock, universal, sem deixar de ser uma coisa tipicamente brasileira”.
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Esta é outra semelhança entre Os Skrotinhos e O Amigo da Onça, que se apre-
sentava na forma de fantasma, demônio, criança (branca ou negra), como um
ladrão ou exercendo a profissão de médico ou repórter.
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artistas. Mais uma edição saiu em formato menor pela Conrad, que
foi responsável pela publicação de dois números da revista Crocodilo
em 2003, título que mesclava material de artistas de estrangeiros e
brasileiros, como Sieber. Esse artista também participou do fanzine
Tarja Preta, que totalizou sete edições de 2004 a 2011.
O gaúcho Allan Sieber é um dos quadrinistas que despon-
taram no século XXI. As tiras da série Preto no Branco, fortemente
influenciadas pelos comix underground, mostram personagens indig-
nados (muitas vezes o próprio autor caricaturado), que estão fora da
normalidade aceita pela sociedade. Os quadrinhos intitulados Talk to
himself show mostra um talk show (programa televisivo de entrevistas)
em que o artista entrevista a si mesmo, expondo suas opiniões e
fazendo autocrítica. Já Vida de estagiário acompanha um jovem em
início de carreira que trabalha em uma agência de publicidade e pre-
cisa conviver com um chefe incompetente e colérico, além de outros
colegas implicantes. Diretor do curta-metragem de animação Deus
é Pai, teve seus trabalhos reunidos em álbuns publicados por várias
editoras, como a Desiderata, que lançou em 2009 É tudo mais ou me-
nos verdade, com o subtítulo O jornalismo investigativo, tendencioso e
ficcional de Allan Sieber, que satiriza o jornalismo e as autobiografias
em quadrinhos.
Na mesma linha de Sieber, o carioca André Dahmer criou para
a tira Malvados personagens cínicos e críticos com a aparência de
girassóis, que vivem situações esdrúxulas e falam de religião, relacio-
namentos amorosos e desgastados, bebida e conflitos existenciais,
normalmente tratados com humor negro. Seu personagem Rei Emir
Saad, conhecido como o Monstro de Zazarov, é o monarca déspota
e cruel de um reino fictício da Europa. Seu nome e sua aparência –
roupa vermelha e longos bigodes – remetem aos czares russos. Na
série A cabeça é a ilha, os protagonistas são atormentados, como o
jovem Ulisses, que rouba um navio com dez mil garrafas de vinho
para se esquecer de sua amada Rebeca que o havia abandonado, ou a
infeliz Sara, a Sofrida. Tanto Sieber como Dahmer passam, com seus
quadrinhos, uma visão niilista.
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Tiras poético-filosóficas
Livres da necessidade de serem engraçadas e de obedecer à
estrutura tradicional dos quadrinhos humorísticos (que apresentam
um elemento disjuntor que surpreende o leitor e causa o efeito cô-
mico), as tiras poético-filosóficas abordam temas pouco usuais, nor-
malmente dilemas existenciais. Esse tipo de quadrinhos, que foge da
narratividade convencional, é uma influência dos comix underground
da década de 1970. Na definição de Santos Neto (2009, p. 89-90):
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Webcomics
Se o mercado editorial de histórias em quadrinhos brasileiras
impressas resume-se às revistas com os personagens de Mauricio de
Sousa, álbuns ocasionais (normalmente com tiragem baixa e preço
elevado) e publicações alternativas sem periodicidade e que totali-
zam poucos números, a internet tornou-se – principalmente após
a criação da web 2.0 – um espaço para divulgação do trabalho de
quadrinistas, principalmente os iniciantes.
Blogs e sites são usados para reunir trabalhos de um ou mais
artistas e manter contato direto e imediato com os leitores, que pos-
tam suas opiniões e críticas. As redes sociais também auxiliam a cir-
culação de quadrinhos. No entanto, a durabilidade deste material é
curta, uma vez que pode ser retirado do espaço virtual a qualquer
momento, enquanto os impressos são preservados por mais tempo,
mantidos em coleções particulares ou em acervos públicos.
Empregando ou não os recursos possibilitados pelas ferra-
mentas digitais (inserção de som, movimento, paleta de cores, efei-
tos visuais), que aproximam as webcomics dos games e dos desenhos
animados, e características do suporte (tela infinita, barra de rolagem
etc.), essas histórias em quadrinhos também não sofrem as restrições
impostas sobre a mídia impressa: determinações editoriais arbitrá-
rias, entraves econômicos, limitação quanto à distribuição e divul-
gação, prazos apertados, custo de produção alto, que eleva o preço
do produto, ou necessidade de seguir um estilo consagrado ou um
gênero que tem grande apelo diante dos leitores. Na visão de Santos,
Corrêa e Tomé (2012, p. 135):
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Considerações finais
anos 1980 volta-se para os que levam uma vida medíocre, embalada
pelas modas geradas e reforçadas pela mídia, pelos consumidores
insaciáveis e alienados, e até para quem assume o papel de crítico
a essa situação, já que, na totalidade, todos os seres humanos são
ridículos e passíveis de gozação.
Qual é a face do brasileiro que o humor gráfico revela: a do
interiorano atrapalhado Nhô Quim, do traiçoeiro Amigo da Onça ou
do generoso Jeremias o Bom, do miserável e famélico Rango, do loro-
teiro Dr. Macarra, do arrivista e adulador Fagundes, ou do preguiçoso
e machista Radicci? No caso das mulheres, da solteirona e carente
Marly, da boêmia Rê Bordosa, da moderna e sofisticada Radical Chic
ou da contestadora Maria? No caso das crianças, são mais reconhecí-
veis no travesso Chiquinho, nos excluídos Piva e Mosquito, na Turma
da Mônica ou na do Xaxado?
De fato, cada um desses personagens representa uma faceta
de um povo heterogêneo. Em seu conjunto, eles formam um painel
da diversidade do brasileiro – termo que se refere a pessoas dife-
rentes quanto à origem, à posição social e econômica, à localização
geográfica e à cultura. A sensibilidade dos artistas de enxergar as
contradições de ser brasileiro ao longo do tempo, e, mais do que cau-
sar o efeito cômico, o riso, leva o leitor a refletir sobre sua realidade
cada vez mais complexa.
Do ponto de vista estético, os quadrinhos de humor feitos no
Brasil apresentam desenhos realistas (como os de Angelo Agostini)
ou caricaturais (a maioria), a presença/ausência de cenário depende
do estilo do autor, assim como o uso de linhas finas ou grossas e
hachuras. A influência do comix underground, a partir da década de
1970, levou a uma representação pictórica “mais suja”, ou seja, com
manchas de tinta propositais em diversos pontos das vinhetas, estilo
que reforça o tom irônico, contestador e alternativo do humor grá-
fico brasileiro.
É interessante notar que há dois personagens que aparecem
em várias histórias: o cangaceiro e Deus. O primeiro é protagonista
da tira Zé Candango, de Canini, como uma agente anti-imperialista, do
trabalho de Henfil (o habitante do sertão Zeferino) e das narrativas
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Referências
BRYAN, Guilherme. Quem tem um sonho não dança – Cultura jovem brasileira
nos anos 80. Rio de Janeiro: Record, 2004.
CLARK, Alan e Laurel. Comics: uma história ilustrada da B.D. Lisboa: Distri,
1991.
SANTOS, Roberto Elísio dos. Para reler os quadrinhos Disney: linguagem, evolu-
ção e análise de HQs. São Paulo: Paulinas, 2002.
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HQs de Humor no Brasil
SEIXAS, Rozeny. Morte e vida Zeferino: Henfil e humor na revista Fradim. Rio
de Janeiro: Oficina do Autor, 1996.
SILVA, Marcos A. Caricata República: Zé Povo e o Brasil. São Paulo: Marco Zero/
CNPq, 1990.
SILVA, Marcos Antonio da. Prazer e poder do Amigo da Onça. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1989.
SRBEK, Wellington. O riso que liberta. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2007.
_________. Crás! Comic Book: Brazilian comics and the publishing industry.
International Journal of Comic Art Vol. 11, n.1. Drexel Hill: IJOCA, Spring 2009
(p. 247-261).
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Sobre o autor