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Instituto de Educação
e desafios
e desafios
UMinho|2016
setembro de 2016
Universidade do Minho
Instituto de Educação
setembro de 2016
DECLARAÇÃO
Assinatura: _____________________________________________________________
ii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
Assinatura: _____________________________________________________________
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iv
Com muito carinho
Para o meu irmão, Eliseu Santiago de Assis,
e meu pai, Joselito Bispo de Assis
que partiram deixando muitas saudades.
v
vi
Agradecimentos
Agradeço a Deus pelo dom da vida e por ter me presenteado com uma família
tão linda. Sem a crença em uma força divina seria mais difícil superar as dificuldades
que se impuseram ao longo da realização da pesquisa. A semente de fé plantada em meu
coração, sobretudo por meio da minha mãe, permitiu-me superar com olhos
esperançosos as adversidades encontradas.
Agradeço a minha família por todo afeto devotado a mim. À minha mãe, Dona
Rosa, por não ter medido esforços para me oportunizar uma educação de qualidade.
Sem a sua ajuda certamente eu não conseguiria chegar até aqui. Agradeço à minha irmã,
Verinha, pela sua alegria e aos meus sobrinhos Iago e João Lucas por me
proporcionaram a descoberta de sentimentos paternais. Agradeço a Ricardo pelo seu
companheirismo e doçura. E, com o coração apertado de saudades, agradeço ao meu
amado irmão, Eliseu, e ao meu pai, Joselito, com os quais vivi momentos de muitas
felicidades.
Estendo os meus agradecimentos à minha orientadora, a professora Maria
Helena Martinho, pela paciência e pelos votos de confiança. Sem os seus cuidados e
atenção a realização deste trabalho estaria inevitavelmente comprometida. Reitero o
meu respeito e admiração pela sua atuação profissional e pela forma dócil como
coduziu as orientações.
De modo especial, agradeço as professoras Custódia e Rosineide Mubarak que
acreditaram neste meu sonho de concluir o doutoramento em Ciências da Educação pela
Universidade do Minho. Às duas cultivo uma enorme graditão. Estendo esse
agradecimento a todos os professores que passaram pela minha vida por terem me
mostrado a paixão pela docência.
Adradeço aos amigos que enchem a minha vida de alegria e que, em todos os
momentos, vibram com a minha felicidade. Em particular, agradeço a Plínio, Andrei,
Jair, Sandrinha, Bel, Adilma, Orlando, Carol, Nanda, Sueli, Tiana, Lutiano, Rominho,
Glauber, Airan, Naldão, Valdete, Van, Andrety, padre Ademilton, Irmã Zezé, Dinho,
Sivinha, Kátia, Vanessa, Xandy, Luciana, doutora Suzana, Joi, Ísis, Beth, Mário,
Sandrão, Marizete, Beth, Naldão, Alvinho e as minhas alunas Juliana e Joanice, aos
meus amigos da paróquia, aos meus colegas do doutoramento e a tantos outros que
tornaram mais doce essa caminhada.
vii
viii
EXPOSIÇÃO AXIOMÁTICA DA GEOMETRIA EUCLIDIANA PLANA ATRAVÉS
DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: POSSIBILIDADES, LIMITAÇÕES E
DESAFIOS
Elias Santiago de Assis
Doutoramento em Ciências da Educação — Especialidade em Educação Matemática
Resumo
x
AXIOMATIC EXPOSITION OF EUCLIDEAN PLANE GEOMETRY THROUGH
COMIC STRIPS: POSSIBILITIES, LIMITATIONS AND CHALENGES
Elias Santiago de Assis
Doctorate in Educational Sciences — Specialty: Mathematics Education
Abstract
This thesis aims to analyze the impact of using comic strips for teaching
Euclidean Plane Geometry from an axiomatic perspective. This analysis focus on two
different aspects. The one deals with the deductive Geometry learning processes. It
concerns issues underlying comprehension and elaboration of mathematical proofs from
a pre-established axiomatic structure. The second aspect refers to the potential of
comics as a didactical resource in the process of teaching and learning Geometry.
Within this perspective, the contribution of using comic strips in classroom is identified,
particularly in which concerns the treatment of mathematical contents.
The methodology adopted is circumscribed to the qualitative paradigm of
investigation. It consists of a case study undertaken in a classroom of the License
Course in Mathematics in the Federal University of the Bahia Recôncavo (UFRB).
Along sixteen meetings, of two hours each, seven comic strips dealing with Plane
Geometry contents, designed by the researcher, were used. Acting as the classroom-
teaching instructor, the researcher tried to identify from the interaction with the students
the most relevant elements in the process of creating a comic strip for educational
purposes, the factors possibly constraining the learning process, and the possible
alternatives to overcome them. Accordingly, the students’ development of geometric
thinking and of the mathematical language was tracked. Elicitation was undertaken
through the diary data collection method, as well as by means of questionnaires,
interviews, audio recordings, and different sorts of activities proposed.
Results indicate that comic strips especially designed for the axiomatic treatment
of Geometry help students to develop their deductive reasoning as well as to understand
mathematical proofs in their additional roles of verification, exploration and
explanation. In addition, comics serve not only for the exposition of mathematical
contents but also to enable the presentation of the history of Mathematics. In contrast,
xi
the formalism of mathematical language is hardly compatible with the typical
colloquialism of the comic strips style. Moreover, the excessive amount of
mathematical content in one strip, as well as the emphasis on deductive over inductive
reasoning, may result in some cases, in a tiresome and less interesting reading.
Consequently, the successful articulation of strip comics with the axiomatic approach to
Geometry, requires adjustment of the languages employed and the coupling of induction
and deduction for a suitable appropriation of the geometric contents.
xii
Sumário
Capítulo 1
Introdução ..................................................................................................................... 1
1.1 A questão e os objetivos da investigação.............................................................. 2
1.2 Contexto do estudo .............................................................................................. 4
1.3 Abordagem metodológica .................................................................................... 6
1.4 Estrutura .............................................................................................................. 7
Capítulo 2
Panorama Histórico do Ensino de Geometria: Do Âmbito Geral ao Contexto
Brasileiro.........................................................................................................................13
2.1 A geometria ao longo dos séculos: Recortes históricos....................................... 15
2.2 O ensino de Geometria: Recortes históricos ....................................................... 19
2.3 O ensino de Geometria no Brasil ....................................................................... 26
2.4 A Geometria plana nos livros didáticos: O contexto brasileiro ........................... 31
Capítulo 3
Ensino e Aprendizagem de Geometria: Do Abandono ao Resgate dos Conteúdos no
Contexto da Sala de Aula ............................................................................................ 37
3.1 As teorias de aprendizagem de Geometria.......................................................... 39
3.1.1 Processos cognitivos segundo Barth............................................................ 40
3.1.2 Processos cognitivos segundo Duval ........................................................... 42
3.1.3 Processos cognitivos segundo Martin, Carter, Forster, Kader e Kepner ....... 43
3.1.4 Processos cognitivos segundo o casal Van Hiele ......................................... 43
3.1.5 Cruzamento entre as teorias de aprendizagem ............................................. 46
3.2 As definições em Geometria .............................................................................. 48
xiii
3.2.1 Definições lexicais e definições estipuladas ................................................ 49
3.2.2 Definições matemáticas: Uma construção humana ...................................... 50
3.2.3 Elementos necessários a uma definição matemática .................................... 51
3.2.4 Definições hierárquicas e definições particionais ........................................ 52
3.2.5 Definições descritivas e definições construtivas .......................................... 53
3.3 Argumentação e prova em Geometria ............................................................... 54
3.4 O papel das provas matemáticas ....................................................................... 58
3.5 Raciocínio e demonstrações matemáticas ........................................................... 61
3.5.1 Níveis de raciocínio matemático segundo Balacheff ................................... 62
3.5.2 Níveis de raciocínio matemático segundo Harel e Sowder .......................... 62
3.5.3 Níveis de raciocínio matemático segundo Recio e Godino .......................... 63
3.6 Representações e linguagem em Geometria ....................................................... 64
3.6.1 Representações icônicas ............................................................................. 65
3.6.2 Representações simbólicas .......................................................................... 67
3.6.3 Representações verbais ............................................................................... 69
3.7 Dificuldades na aprendizagem de Geometria ..................................................... 72
3.8 Ensino de Geometria ......................................................................................... 75
3.8.1 Ensino primário .......................................................................................... 76
3.8.2 Ensino ginasial ........................................................................................... 77
3.8.3 Ensino médio .............................................................................................. 77
3.8.4 Da experimentação à abstração ................................................................... 78
Capítulo 4
As Histórias em Quadrinhos e o Ensino de Matemática ............................................... 81
4.1 A democratização do ensino no Brasil ............................................................... 83
4.2 As HQs na educação: Alguns recortes históricos................................................ 85
4.2.1 Controvérsia com as HQs em contextos escolares ....................................... 86
4.2.2 Contributos das HQs para a educação ......................................................... 88
4.2.3 As HQs nos documentos oficiais do Ministério da Educação ...................... 89
4.3 A utilização de HQs no ensino de Matemática ................................................... 91
4.3.1 HQs em sala de aula: Como utilizá-las? ...................................................... 92
4.3.2 Articulação entre as linguagens icônica e verbal ......................................... 93
4.3.3 Que HQs utilizar? ....................................................................................... 93
4.4 HQs que abordam temas matemáticos............................................................... 95
xiv
4.4.1 Chico Bento em O segredo ........................................................................ 96
4.4.2 História da Matemática e a Turma da Mônica ............................................. 97
4.4.3 As aventuras de Anselmo Curioso .............................................................. 99
4.4.4 Pra que serve a Geometria? ....................................................................... 100
4.4.5 Logicomix ................................................................................................ 101
4.4.6 Guia Mangá de Matemática ...................................................................... 102
4.4.7 Coleção Beast Academy Guide ................................................................. 103
4.5 Tirinhas sobre a Matemática e as suas provocações ......................................... 104
4.5.1 Álgebra em cartoons ................................................................................ 107
4.5.2 Adição em Zn através de cartoons ............................................................. 108
4.5.3 Paralelismo em cartoons ........................................................................... 109
4.5.4 Grandezas proporcionais em cartoons....................................................... 110
4.5.5 Conjuntos numéricos em cartoons ............................................................ 111
4.5.6 Matemática financeira em cartoons .......................................................... 112
4.5.7 Onde encontrar e como utilizar os cartoons .............................................. 112
4.6 A criação das histórias ..................................................................................... 113
4.6.1 Narrativas sobre o cotidiano...................................................................... 115
4.6.2 Narrativas ficcionais ................................................................................. 115
4.6.3 A criação dos desenhos: Um problema para alguns alunos ........................ 117
4.6.3 Onde fazer as histórias em quadrinhos? .................................................... 118
4.7 Por que não utilizar HQs em ambientes escolares?........................................... 121
Capítulo 5
Delineamento metodológico da pesquisa ................................................................... 125
5.1 O paradigma qualitativo de investigação .......................................................... 127
5.2 A pesquisa qualitativa em educação matemática .............................................. 130
5.3 O estudo de caso .............................................................................................. 131
5.4 O desenho da investigação ............................................................................... 134
5.5 Recolha de dados ............................................................................................. 140
5.6 Métodos de análise de dados ............................................................................ 149
5.7 A qualidade científica da investigação ............................................................. 152
Capítulo 6
Histórias em quadrinhos utilizadas na investigação ................................................... 155
xv
6.1 A Matemática por meio de narrativas literárias ................................................ 156
6.2 A história da Geometria e a HQ1 ...................................................................... 157
6.3 A Geometria nas HQ2 e HQ7 ............................................................................ 163
6.4 A Geometria nas HQ3 e HQ6 ............................................................................ 171
6.5 A Geometria na HQ4 ........................................................................................ 179
6.6 A Geometria na HQ5 ........................................................................................ 183
Capítulo 7
Apresentação dos Resultados .................................................................................... 189
7.1 A Geometria na educação básica...................................................................... 191
7.1.1 Assuntos estudados................................................................................... 193
7.1.4 As justificações matemáticas .................................................................... 195
7.1.5 Dificuldades com demonstrações matemáticas: O papel da formação prévia
.......................................................................................................................... 197
7.2 A escolha pela Licenciatura em Matemática .................................................... 198
7.3 As histórias em quadrinhos: Relações prévias .................................................. 200
7.3.1 Interesse pelas HQs .................................................................................. 200
7.3.2 HQs sobre conteúdos matemáticos............................................................ 201
7.3.3 HQs sobre a história da Matemática .......................................................... 202
7.4 Aplicação da HQ1 ............................................................................................ 204
7.4.1 Primeiro encontro: Iniciação à Geometria axiomática ............................... 204
7.4.2 Leitura e discussões .................................................................................. 206
7.4.3 Atividades propostas................................................................................. 208
7.4.4 Triangulação dos dados ............................................................................ 209
7.5 Aplicação da HQ2 ........................................................................................... 210
7.5.1 Secção PPPRSL........................................................................................ 211
7.5.2 As definições na HQ ................................................................................. 212
7.5.3 Tópicos compreendidos ............................................................................ 216
7.5.4 Dificuldades encontradas .......................................................................... 218
7.5.5 Atividades propostas................................................................................. 221
7.5.6 Triangulação dos dados ............................................................................ 222
7.6 Aplicação da HQ3 ............................................................................................ 223
7.6.1 Primeira parte da leitura ............................................................................ 224
7.6.2 Segunda parte da leitura ............................................................................ 225
xvi
7.6.3 Terceira parte da leitura ............................................................................ 226
7.6.4 Quarta parte da leitura .............................................................................. 227
7.6.5 Dificuldades com as demonstrações .......................................................... 228
7.6.6 Aprendizagem a partir da HQ: Relato de estudantes .................................. 229
7.6.7 Como falar destes assuntos? ..................................................................... 230
7.6.8 Secção PPPRSL........................................................................................ 231
7.6.9 Atividades propostas................................................................................. 232
7.6.10 Triangulação dos dados........................................................................... 240
7.7 Aplicação da HQ4 ............................................................................................ 241
7.7.1 Primeira parte da leitura ............................................................................ 242
7.7.2 Secção PPPRSL........................................................................................ 245
7.7.3 Segunda parte da leitura ............................................................................ 246
7.7.4 Alterações na HQ ..................................................................................... 248
7.7.5 Atividades propostas................................................................................. 253
7.7.6 Triangulação dos dados ............................................................................ 264
7.8 Aplicação da HQ5 ............................................................................................ 265
7.8.1 Primeira parte da leitura ............................................................................ 266
7.8.2 Seção PPPRSL ......................................................................................... 270
7.8.3 Segunda parte da leitura........................................................................... 271
7.8.4 Alterações na HQ .................................................................................... 273
7.8.5 Atividades propostas................................................................................. 276
7.8.6 Triangulação dos dados ............................................................................ 285
7.9 Aplicação da HQ6 ............................................................................................ 286
7.9.1 Primeira parte da leitura ............................................................................ 286
7.9.2 Secção PPPRSL: Primeira parte................................................................ 290
7.9.3 Segunda parte da leitura ............................................................................ 291
7.9.4 Secção PPPRSL: Segunda parte................................................................ 292
7.9.6 Secção PPPRSL: Terceira parte ................................................................ 295
7.9.7 Atividades propostas................................................................................. 299
7.9.8 Alterações necessárias à HQ6 .................................................................... 305
7.9.9 Triangulação dos dados ............................................................................ 310
7.10 Aplicação da HQ7 .......................................................................................... 311
7.10.1 Primeira parte da leitura .......................................................................... 312
7.10.2 Secção PPPRSL...................................................................................... 315
xvii
7.10.3 Segunda parte da leitura .......................................................................... 317
7.10.4 Identificação com o texto ........................................................................ 318
7.10.5 Atividades propostas ............................................................................... 319
7.10.6 Triangulação dos dados........................................................................... 328
Capítulo 8
Discussão dos Resultados.......................................................................................... 331
8.1 A leitura das HQs ............................................................................................ 332
8.1.1 Elementos atrativos................................................................................... 334
8.1.2 Potencialidades educativas ........................................................................ 341
8.1.3 Construção das narrativas ......................................................................... 348
8.1.4 Linguagem quadrinística e linguagem matemática .................................... 354
8.1.5 O comportamento dos estudantes .............................................................. 368
8.1.6 A metodologia utilizada ............................................................................ 371
8.2 A aprendizagem de Geometria a partir da leitura das HQs ............................... 374
8.2.1 Os entraves à aprendizagem ...................................................................... 376
8.2.2 O papel da formação prévia ...................................................................... 379
8.2.3 As definições apresentadas pelos estudantes ............................................. 383
8.2.4 O raciocínio geométrico dos estudantes .................................................... 386
8.2.5 A linguagem matemática .......................................................................... 392
8.2.6 A importância das demonstrações ............................................................. 401
Capítulo 9
Conclusões................................................................................................................ 405
9.1 Síntese do estudo ............................................................................................. 405
9.2 Conclusões do estudo ...................................................................................... 409
9.2.1 Objetivos da pesquisa ............................................................................... 409
9.2.2 Questão de investigação ............................................................................ 414
9.3 Relevância do trabalho .................................................................................... 417
9.4 Limitações do estudo ....................................................................................... 422
9.5 Sugestões para futuras investigações................................................................ 424
xviii
Apêndice 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................................... 443
Apêndice 2
HQ1: Dona Geometria em: Euclides e Os seus Elementos ......................................... 445
Apêndice 3
HQ2: Dona Geometria em: Os esportistas matemáticos ............................................. 455
Apêndice 4
HQ3: Dona Geometria em: A corrida pelo saber ........................................................ 469
Apêndice 5
HQ4: Dona Geometria em: Subindo mais uma degrau ............................................... 481
Apêndice 6
HQ5: Dona Geometria em: Os congru Entes .............................................................. 489
Apêndice 7
HQ6: Dona Geometria em: A estagiária ..................................................................... 499
Apêndice 8
HQ7: Dona Geometria em: A turma boa de bola ........................................................ 515
Apêndice 9
Questionário de Diagnóstico - QD............................................................................. 527
Apêndice 10
Questionário de investigação - Q1 ............................................................................. 531
Apêndice 11
Questionário de investigação - Q2 ............................................................................. 535
Apêndice 12
Questionário de investigação - Q3 ............................................................................. 539
Apêndice 13
Roteiro da Primeira Sessão de Entrevistas - E1 .......................................................... 543
Apêndice 14
Roteiro da Segunda Sessão de Entrevista - E2............................................................ 545
Apêndice 15
Critério de Credibilidade ........................................................................................... 547
xix
xx
Lista de Figuras
Figura 4.1. Chico Bento realizando a operação de divisão entre números naturais ....... 96
Figura 4.2. A matemática para finalidades práticas ...................................................... 97
5
Figura 4.5. Primeira aparição do matemático Bertrand Russell em Logicomix ........... 101
8
Figura 4.13. Tiras de Na Prancha Bamba retiradas do jornal O Globo, 1996 ............. 112
16
Figura 6.2. Hilbert iniciando a sua obra Fundamentos da Geometria ......................... 161
19
Figura 6.4. Primeira tirinha da HQ Dona Geometria em: Os esportistas matemáticos 163
21
Figura 6.11. Justificação intuitiva da expressão para a área da região limitada por uma
28
xxi
Figura 6.14. Refletindo sobre a leitura na HQ3 ........................................................... 173
31
Figura 6.23. Tirinha extraída do livro IMPACT mathematics contendo ângulos OPV 181
40
Figura 6.26. Relações entre mediana, altura e bissetriz relativas à base de um triângulo
44
Figura 7.1. Distribuição dos trinta e dois participantes ao longo dos componentes
47
Figura 7.8. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A3 e A12 às atividades
54
xxii
Figura 7.10. Excerto de respostas apresentadas pelos alunos A4 e A21 (à direita) e A3 e
56
Figura 7.12. Assuntos que impuseram dificuldades aos alunos A16, A25 e A13 quanto à
58
Figura 7.16. Excerto das soluções apresentadas por duas duplas à secção PPPRSL em
62
A18 e A26, e A4 e A31 ao terceiro item da primeira questão proposta ao final da HQ3 .. 236
Figura 7.22. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A15 e A28, e A11 e A23 ao
68
Figura 7.24. Ferramentas simbólicas adotadas na HQ4 para representar os ângulos .... 242
70
Figura 7.26. Excerto da resposta apresentada pelos alunos A22 e A31 à secção PPPRSL
72
Figura 7.28. Excerto dos comentários de alunos A11, A10, A8 e A27 acerca da importância
74
Figura 7.31. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A4 e A13, A12 e A27 à
77
Figura 7.36. Sinalizações deixadas pelos alunos A16 e A18 na questão proposta em
82
Figura 7.46. Tirinha com erro na medida de algum dos ângulos relacionados ao
92
relações entre as medidas dos lados e dos ângulos de um triângulo ........................... 292
Figura 7.50. Resolução apresentada pelos alunos A10 e A30 à atividade proposta na
96
Figura 7.54. Solução apresentada pelos alunos A5 e A25 à terceira ............................. 297
100
Figura 7.55. Solução apresentada pelos alunos A3 e A12 à terceira atividade proposta na
101
Figura 7.63. Área da região plana limitada por um paralelogramo ............................. 313
109
Figura 7.64. Excerto da demonstração da fórmula da área da região plana limitada por
110
Figura 7.66. Solução proposta pelos alunos A12 e A29 ao primeiro item da questão
112
xxv
Figura 7.68. Solução proposta pelos alunos A12 e A29 ao terceiro item da questão
114
Figura 8.1. Relações entre o ordenamento de três pontos e as suas coordenadas ......... 337
116
Figura 8.3. Quadrinhos com excesso de texto nos balões ........................................... 355
118
xxvi
Lista de Tabelas
Tabela 5.1: Relação dos conteúdos presentes nas HQs ............................................... 136
6
Tabela 8.1: Quantidade de soluções sem problemas no uso da linguagem matemática 399
10
xxvii
xxviii
Lista de Gráficos
Gráfico 7.3. Assuntos apontados pelos estudantes como inteligíveis através da HQ2 .. 217
3
Gráfico 7.4. Assuntos apontados pelos estudantes como menos inteligíveis através da
4
................................................................................................................................. 220
Gráfico 7.6. Tipo de raciocínio geométrico verificado nas respostas dos estudantes às
6
xxix
xxx
Capítulo 1
Introdução
1
1.1 A questão e os objetivos da investigação
2
Segundo Duval (1993), as representações em Geometria fazem uso de três tipos
de linguagens: verbal, icônica e simbólica. Os dois primeiros códigos linguísticos são
comumente empregados nas histórias em quadrinhos. A interação entre texto e imagem
torna a leitura mais prazerosa (Rezende, 2009) e amplia a compreensão dos conceitos
expostos nas HQs (Vergueiro, 2006). Tal interação aponta para a presença de vantagens
na articulação entre as HQs e a Geometria. Por outro lado, as representações simbólicas
empregadas nos estudos geométricos, sobretudo naqueles realizados sob o viés
axiomático, não fazem parte da dinâmica da construção de uma HQ. Representam um
impasse na aproximação entre a banda desenhada e a Geometria. Da mesma forma, a
articulação entre o formalismo da linguagem matemática (Florenço, 2014) e a
informalidade da linguagem nos quadrinhos (Lovetro, 2011) se impõe como um desafio
no que tange o diálogo entre o tratamento axiomático em Geometria e as HQs. Os
elementos aqui postos suscitam a existência de possíveis vantagens e desvantagens na
utilização da literatura em quadrinhos na abordagem de Geometria de forma lógica e
dedutiva. A identificação de tais elementos constitui a essência desse trabalho, o qual
pretende responder à seguinte questão de investigação:
Para dar conta da questão acima, a qual pode ser desmembrada em três questões
(vantagens, limitações e desafios), optou-se pela demarcação de um conjunto de oito
objetivos de natureza mais específica listados a seguir. O objetivo geral, por sua vez, se
confunde com a própria questão de investigação: Identificar os contributos e as
fragilidades que a exposição axiomática da Geometria Euclidiana Plana através da
banda desenhada oferece à formação dos estudantes.
Objetivos específicos:
3
3. Perceber o tipo de raciocino geométrico desenvolvido pelos estudantes
a partir da leitura de HQs voltadas para a exposição da Geometria Plana
numa perspectiva axiomática.
4
dos estudantes. Desta forma, o rigor presente nas demonstrações matemáticas
apresentadas a estudantes universitários deve diferir daquele que a aparece nas provas
adotadas na educação básica (Reid & Knipping, 2010). Por outro lado, a validação dos
resultados matemáticos não é suficientemente contemplada por meio da experimentação
e do raciocínio indutivo. A despeito do valor da intuição e da exemplificação no
processo de aprendizagem em Geometria, não se deve abdicar do tratamento rigoroso-
dedutivo (Mammana & Villani, 1998; Villiers, 2010).
O Ministério da Educação, no Brasil, por meio dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) para o ensino de Matemática defende a introdução de demonstrações
matemáticas na educação básica (Brasil, 1998b). Os PCNs propõem que o tratamento
dedutivo seja articulado a verificações de natureza empírica. Segundo Clements (2003),
a utilização de materiais manipuláveis também deve ser considerada na exposição dos
conteúdos geométricos. Battista (2009) defende a utilização de softwares educativos. As
HQs, por sua vez, ainda não têm sido amplamente reconhecidas como instrumento de
apoio aos professores e alunos no processo de ensino e aprendizagem de Geometria.
No contexto da educação básica, apesar do número de trabalhos na área ainda
ser diminuto, é possível encontrar pesquisas que estabelecem a conexão entre as HQs e
o tratamento de temas geométricos. L. Santos (2014) defende a utilização da banda
desenhada na exposição de episódios da história da Matemática. L. Silva (2010) advoga
pelo uso das HQs na apresentação de temas como o Teorema de Tales. O trabalho desta
última autora goza da particularidade de contemplar o ensino de Geometria para
estudantes não videntes. Porém, no que concerne o uso das HQs para o tratamento
geométrico de forma axiomática a situação ainda é mais delicada: Não foram
identificados trabalhos que estabelecem tal diálogo.
Com a retirada da abordagem axiomática da educação básica cabe ao ensino
superior a tarefa de dar conta da exposição nesta perspectiva. Em um primeiro
momento, o nível de complexidade dado aos conteúdos matemáticos no âmbito do
ensino universitário parece incongruente com o entretenimento e ludicidade típicos das
HQs. Mas não o é conforme revelam os trabalhos de Doxiadis e Paradimitriou (2013),
Kojima e Co (2010) e Takahashi, Inoque e Co (2012). Estes autores publicaram, em
forma de literatura em quadrinhos, obras destinadas à apresentação de temas ligados à
Lógica, ao Cálculo Diferencial e Integral e à Álgebra Linear. No que concerne à
Geometria, é possível citar o texto paradidático Pra que serve a Matemática?
Geometria, de Imenes, Jakubo e Lellis (2004) e a obra As aventuras de Anselmo
5
Curioso: Os mistérios da Geometria de Petit (1982). No primeiro trabalho, são
contempladas algumas aplicações da Geometria. No segundo, é estabelecida uma
introdução aos modelos geométricos que diferem do euclidiano: Geometria Hiperbólica
e Geometria Esférica. A despeito da contribuição destas obras para o ensino e
aprendizagem de Geometria, não foram encontradas nelas abordagens de natureza
axiomática.
É necessário, portanto, abrir caminhos para a construção de um debate acerca da
utilização de histórias em quadrinhos no tratamento de temas de Geometria numa
perspectiva axiomática. Neste trabalho algumas trilhas são iniciadas.
1.4 Estrutura
7
ao longo do capítulo, até a realização de uma leitura circunscrita ao contexto brasileiro.
O abandono do ensino de Geometria no Brasil, a partir da segunda metade do século
passado, é retratado no texto. Em seguida é lançado um olhar para o contexto atual com
o intuito de assinalar as diferenças entre o papel que o ensino de Geometria ocupa
atualmente no currículo e aquele ocupado no século anterior. As últimas páginas do
capítulo são voltadas para a análise dos livros didáticos publicados no Brasil. Diante do
forte papel desempenhado pelos livros nos ambientes escolares, analisá-los favorece o
entendimento do tipo de concepção de ensino apregoado pelos órgãos oficiais que
regulamentam as práticas educativas.
8
O texto apresenta os contributos das HQs à educação de um modo geral e, em
seguida, dispõe de uma análise circunscrita ao ensino de Matemática. A forma como os
documentos oficiais do Ministério da Educação, no Brasil, se reportam ao uso da banda
desenhada também é apresentada. No capítulo há ainda uma discussão sobre a
construção das HQs. Alguns softwares destinados a esse fim são apresentados. Há
também a descrição de algumas HQs que podem ser utilizadas nas aulas de Matemática.
Tais HQs abordam conteúdos de todos os níveis de escolaridade.
9
PPPRSL, que consiste em uma atividade de múltipla escolha que versa sobre os
conteúdos das HQs.
11
12
Capítulo 2
13
professores recém-formados têm recebido uma frágil formação em Geometria, seja
durante a escolaridade básica seja em sua formação universitária. Conseqüentemente, o
ensino de Geometria que oferecem aos seus alunos apresenta, inevitavelmente, muitas
limitações.
Neste capítulo são apresentados alguns registros históricos inerentes ao ensino
de Geometria, sobretudo àqueles relacionados com o ensino numa perspectiva
axiomática. Inicialmente é feita uma sumarização acerca do desenvolvimento da própria
Geometria ao longo da história da humanidade. A geometria prática dos egípcios
antigos, a geometria formal e dedutiva dos gregos e a geometria algebrizada dos últimos
séculos são retratadas. Inevitavelmente, o olhar dos matemáticos sobre a Geometria foi
refletido nos ambientes escolares. As modificações curriculares passaram a sinalizar as
concepções de Geometria vigentes em cada período histórico. A forma como Os
Elementos de Euclides deveriam ser trabalhados na sala de aula (ou ainda, se deveriam
ser trabalhados) tornou-se uma equação com solução difícil de ser encontrada. Ao invés
de se procurar uma solução equilibrada, os matemáticos ou professores de matemática
instituíram correntes antagônicas. Para alguns, o ensino deveria assentar-se no
tratamento formal à moda euclidiana. Para outros, a intuição e a experimentação eram
suficientes para assegurar uma aprendizagem sólida. Ambas as abordagens, sobretudo a
primeira, foram desaparecendo da sala de aula à medida que a Geometria se tornou
desprestigiada nos ambientes escolares a partir da segunda metade do século passado
(Jones & Rodd, 2001). Os novos tempos apontam para uma mudança nesse cenário.
Desde os anos 1990, no Brasil, a comunidade matemática passou a se debruçar sobre a
questão do resgate e requalificação do ensino de Geometria. Esse fato pode ser
constatado a partir dos trabalhos publicados nos Encontros Nacionais de Educação
Matemática (Andrade & Nacarato, 2005). Ainda assim, destacam os últimos autores, "a
Geometria ainda está bastante ausente das salas de aulas, principalmente na Educação
Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental" (p. 15).
Alguns elementos históricos concernentes ao ensino de Geometria no Brasil
também são levantados neste capítulo. A ênfase assenta-se, porém, nos fatos registrados
a partir do Movimento da Matemática Moderna (MMM), em 1960. O MMM foi um
divisor de águas no ensino de Geometria. Aliado à frágil formação dos professores e à
composição dos livros didáticos ele tornou a Geometria cada vez mais ausente nas salas
de aula brasileiras (Berti, 2005). Os livros publicados à época refletiam a nova
tendência de apresentar a geometria à luz da teoria de conjuntos.
14
Os manuais lançados no Brasil desde a segunda metade do século passado até a
primeira década do século XXI também são referenciados neste trabalho. Os livros
didáticos tendem a dialogar com o ideário pedagógico emergente em cada época.
Reciprocamente, muitos professores têm o livro didático como diretriz da sua prática
pedagógica. Portanto, considerá-los é inevitável.
15
Entre os célebres matemáticos que antecederam Euclides e deixaram relevantes
contribuições na área de Geometria destacam-se Tales de Mileto e Pitágoras de Samos1.
O primeiro, considerado por alguns estudiosos o primeiro matemático da história da
humanidade (no sentido estrito da palavra), era um exímio conhecedor das propriedades
envolvendo triângulos semelhantes (Mlodinow, 2004). Viveu por volta dos anos 600 a.
C. O segundo é responsável pela criação de uma irmandade, os pitagóricos, que
desenvolvia estudos em Matemática, Filosofia e Ciências Naturais. Acredita-se que os
pitagóricos tenham desenvolvido demonstrações matemáticas dotadas de rigor
superando em qualidade àquelas desenvolvidas por Tales. O próprio resultado
conhecido como Teorema de Pitágoras é, provavelmente, frutos dos estudos dos
pitagóricos.
As provas formais em Geometria foram instituídas a partir do método ou sistema
axiomático. Para originá-lo era necessário partir de elementos matemáticos não
definíveis: Os chamados conceitos primitivos. De posse dos conceitos primitivos são
elencados alguns resultados autoevidentes e, portanto, não demonstráveis que servem
para provar as proposições e os teoremas: São os chamados axiomas. De acordo com
Stone (1971), os conceitos primitivos (ponto, reta e plano), “por um lado são
suficientemente simples a tal ponto de não serem definíveis. Por outro, são
demasiadamente complexos à medida que tentam traduzir/caracterizar de forma abstrata
a realidade física” (p. 92). Segundo J. Smith (2000), os “conceitos primitivos, os
axiomas e as definições constituem o modelo [axiomático]”(p. 26). A partir deles
desenvolve-se a teoria.
O método axiomático não é uma criação de Euclides. Segundo J. Smith (2000),
por volta de 330 a. C., na obra Posterior Analytic, Aristóteles descrevia esse método
como um conjunto de definições precisas utilizado em um modelo matemático seguido
de provas rigorosas dos teoremas inerentes a essa estrutura.
Acredita-se que Euclides tenha escrito os seus Elementos sessenta anos após
Aristóteles ter escrito Posterior analytics (J. Smith, 2000). A obra euclidiana
revolucionou o pensamento científico durante dois milênios. Passou por inúmeras
traduções e revisões ao longo dos anos. Os conteúdos dos seus primeiros livros
1
É provável que Pitágoras tenha vivido de 586 a. C. a 500 a. C. (Garbi, 2006).
16
constituem parte substancial dos temas tratados em Geometria nas escolas, com
diferenças relativas à linguagem e ao enfoque.
As civilizações antigas situadas no Egito, Mesopotâmia e China, dentre outras,
encaravam a Geometria como uma Ciência destinada à descrição do universo físico e à
resolução dos problemas nele existentes. Não se sabe, porém, se Euclides comungava
dessas mesmas idéias ou se devotava à Geometria com seus postulados, definições e
teoremas o compromisso exclusivo com a realização e desenvolvimento do
pensamento intelectual. Essas questões de naturezas filosóficas e epistemológicas são
apresentadas por Malkevitch (1998). Segundo esse autor, outros matemáticos ou físicos,
além de Euclides, estabeleceram, de uma forma ou de outra, conexões entre os seus
estudos em Geometria e o universo real, tais como Pitágoras, Tales, Arquimedes,
Galileu, Newton, Bolyai, Lobachevsky e Einstein.
Os Elementos de Euclides representam um marco no desenvolvimento do
pensamento científico. Essa obra atendia de forma satisfatória aos padrões de
formalismo e rigor da época em que foi escrita. Esses “padrões” variam de acordo com
a cultura, a formação e o período histórico dos atores envolvidos. Com o passar dos
anos, algumas fragilidades do trabalho de Euclides passaram a ser identificadas:
Algumas definições estão imprecisas e aparecem objetos que não foram anteriormente
definidos (J. Smith, 2000). De acordo como Garnica (1996), havia nessa obra de
Euclides “resultados” não axiomatizados e tampouco justificados. Contudo, pontua o
autor, esse fato não retira o brilho de Os Elementos tendo em vista que a aceitação de
um resultado não constitui um“mero seguir cego das regras impostas pela proposta
formal”(p. 37) mas surge da negociação de significados, inerentes ao resultado,
utilizados pelos estudiosos do assunto. O próprio entendimento sobre o “rigor
matemático” não é atemporal o que, segundo o último autor, explica a inconformidade
dos matemáticos que sucederam Euclides acerca daquilo que consideram como
fragilidades da sua obra. Versões aprimoradas do sistema axiomático implementado por
Euclides foram desenvolvidas por David Hilbert em 1899 e por George David Birkhoff,
em 1932, dentre outras obras publicadas nos séculos anteriores.
Apesar das falhas existentes na obra de Euclides e não obstante o aparecimento
das geometrias projetiva, analítica e descritiva nos séculos XV, XVII e XVIII,
respectivamente, o modelo euclidiano de Geometria representou uma “verdade
absoluta” até o século XIX da era Cristã por ocasião do surgimento das chamadas
17
Geometrias Não Euclidianas. Segundo Mammana e Villani (1998), a partir daí a
supremacia da Geometria de Euclides foi abalada. Com o aparecimento da Geometria
Hiperbólica a comunidade matemática entrou em contato com outros modelos de
Geometria tão consistentes e válidos quanto o de Euclides. No final daquele século,
David Hilbert publicou a obra Fundamentos de Geometria pondo fim às lacunas que
havia na célebre obra do matemático de Alexandria. Da mesma forma que Euclides,
David Hilbert não utilizou os números reais em seus axiomas, embora tivesse feito uso
do sistema cartesiano nos quais estavam presentes os números reais. Segundo J. Smith
(2000), Hilbert utilizou, quando necessário, algumas regras e manipulações algébricas.
Ainda segundo este autor, a abordagem presente em Fundamentos de Geometria
revelou-se bastante árdua para a maioria dos estudantes iniciantes. Eves (1994), porém,
vai de encontro às declarações de Smith ao não considerar tão complexo o tratamento
dado por Hilbert em sua obra. Segundo ele, o trabalho de Hilbert “pode ser lido, em
grande parte, por qualquer aluno inteligente do curso colegial” (p. 26).
Ainda no século XIX, a Álgebra se desenvolveu de forma mais contundente. Ao
contrário dos anos anteriores, a partir daí, é a “álgebra que fornece modelos firmes para
a Geometria” (Mammana & Villani, 1998, p. 3). Consequentemente, “há um grande
ganho em generalidade com um grande distanciamento da intuição geométrica” (idem,
p. 3). No século XX, as ferramentas algébricas como os espaços vetoriais, por exemplo,
passam a auxiliar o estudo de objetos geométricos. De acordo com Stone (1971), a
inserção da álgebra na exposição axiomática da Geometria torna os conteúdos
geométricos mais compreensíveis e, em sua visão, a resolução de determinados
problemas geométricos por meio de uma abordagem algébrica facilita o trabalho
empreendido, fato “já é conhecido desde a época de Descartes” (p. 92).
A despeito da utilização do sistema de coordenadas não ter a sua origem em
René Descartes, os trabalhos desse matemático possibilitaram o avanço da associação
entre os elementos algébricos e geométricos: “Toda curva construída mecanicamente
possui uma equação que a representa” (Kinard & Kozulin, 2008, p. 23). De acordo com
Eves (1994), “a tarefa de estabelecer um teorema em geometria é transferida
engenhosamente para a de estabelecer um teorema correspondente em álgebra” (p. 16).
No que diz respeito ao contexto escolar, French (2004) considera que o tratamento dado
à geometria geralmente se inicia de forma experimental e, em alguns casos, avança para
uma abordagem à moda euclidiana e só a partir daí, acredita o autor, se iniciam os
estudos de forma analítico-algébrica. É possível que este autor esteja se referindo à
18
forma como as orientações curriculares de grande parte dos países propõem a
apresentação das abordagens experimental, dedutiva e analítica atribuídas à geometria.
O que ocorre na prática, em muitos casos, corresponde ao abandono da abordagem
dedutiva. Esse fato pode ser compreendido à luz de um processo histórico que a relegou
no currículo escolar e, em virtude, de problemas na formação de professores conforme
será visto ainda neste trabalho.
Não obstante o reconhecimento dos contributos da álgebra na resolução de
problemas geométricos, o movimento contrário também é observado. De acordo com
Eves (1994), ainda no século XX, diversos matemáticos perceberam que
19
isenta do tratamento formal-dedutivo. Ao mesmo tempo, mostravam-se insatisfeitos
com a organização de Os Elementos de Euclides quanto ao princípio, a lógica e a ordem
das demonstrações. Surgem novas versões de Os Elementos.
O estudo da Geometria à moda euclidiana continuou restrito ao ensino superior
onde eram utilizados, pelo menos, os cinco primeiros livros de Os Elementos. Ao nível
secundário da escolaridade eram devotados os estudos mais elementares. De acordo
com Barbin e Menghini (2014), os primeiros registros da entrada da Geometria nas
escolas, nos moldes mais formais, datam de 1599 através de um programa de estudos
denominado Ratio Studiorum, típico dos colégios católicos. Desde então foi necessário
pelo menos um século para que a abordagem axiomática em Geometria adentrasse a
escola básica de forma mais significativa. À época do Ratio Studiorum, “somente
proposições do primeiro livro eram suplementadas por exercícios práticos” (idem, p.
475). Segundo Jones (2002), a utilização da própria obra de Euclides nos ambientes
escolares impunha problemas de aprendizagem. Segundo este autor, a obra Os
Elementos era uma compilação dos conhecimentos matemáticos da época de Euclides e
não um programa de ensino. Segundo Barbin e Menghini (2014), o ensino de Geometria
não necessariamente numa moldura axiomática passou a integrar o curso básico das
escolas secundárias, na maior parte dos países europeus, somente no século XVIII.
Nesse período continuavam sendo publicadas novas versões de Os Elementos.
Na segunda metade do século XIX, as opiniões acerca da utilização dos
Elementos de Euclides no ambiente escolar se dividiam. Países como a Itália defendiam
o seu uso nos ginásios e liceus por julgar as novas versões publicadas inadequadas pela
ausência de cuidados com o rigor matemático. A Inglaterra mantinha posição contrária.
Os Estados Unidos da América passaram a adotar a obra euclidiana nas escolas
secundárias. Era utilizada como forma de admissão ao ensino superior, destacam Barbin
e Menghini (2014). Nesse mesmo período, as transformações geométricas isométricas
(translações, rotações e reflexões) passaram a ser adotadas no tratamento de alguns
assuntos de Geometria, como o conceito de congruência, por exemplo.
Nos primeiros anos do século XX, o alemão Felix Klein propôs uma
reformulação no ensino de Geometria. A geometria deveria ser ensinada quando os
estudantes completassem onze anos de idade. Deveria centrar-se na observação dos
objetos do dia a dia dos alunos. Essa metodologia deveria ser seguida até os discentes
completarem treze anos. Nessa fase, já poderiam estudar os conceitos básicos dos
objetos geométricos. Instrumentos como régua e compasso deveriam ser utilizados. Na
20
faixa etária de 13 a 17 anos, o estudo teórico das propriedades inerentes aos conceitos
geométricos deveria ser realizado. De acordo com Souza (2010), na concepção de
Klein, o ensino “deve[ria] partir de conceitos elementares até chegar a conceitos mais
complexos, sempre relacionando esse estudo ao cotidiano do aluno”. (p. 6). O
matemático alemão propunha a utilização de transformações geométricas durante o
tratamento dos conteúdos de Geometria a qual deveria ser “precedida de um sistema de
axiomas que conservam a congruência de triângulos da Geometria de Euclides como
fundamentais para o desenvolvimento posterior do estudo da Geometria” (M. Silva,
2008b, p. 693). Além disso, Klein defendia a unificação das três áreas da matemática no
âmbito da educação básica: A aritmética, a álgebra e a geometria. As suas idéias
dividiam opiniões. Para alguns matemáticos, Klein estava ajudando a requalificar o
ensino de matemática. Para outros, os seus trabalhos pecavam pela falta de rigor
matemático.
Em 1957, um evento exterior à comunidade matemática foi um dos grandes
responsáveis pelas alterações no currículo de Geometria em diversos países: O
lançamento do foguete Sputinik, pela União Soviética (Jones, 2002; Jones & Rodd,
2001). Este fato deixou o governo norte-americano preocupado com o descompasso
tecnológico do país com relação aos russos. A frustração de não ter conseguido o
pioneirismo no lançamento do foguete levou o governo estadunidense a adotar medidas
para requalificar o ensino de Matemática. Surgem, então, naquele país, as reformas nos
currículos escolares de Matemática e Ciência. Um empreendimento chamado School
Mathematics Study Group, abreviadamente SMSG, tratou da implementação de um
novo currículo de Matemática básica nos Estados Unidos da América. Nasce o
Movimento da Matemática Moderna (MMM) o qual não se resumiu a um movimento
isolado e restrito àquele país. O MMM mexeu na concepção do ensino de Matemática
em diversas nações, tanto da América – inclusive, o Brasil - quanto da Europa. A teoria
dos conjuntos, a álgebra e a teoria dos números ganharam bastante formalismo na
educação básica. Passaram a ocupar parte substancial dos livros didáticos. A Geometria
também sofreu mudanças. Deveria ser apresentada de forma experimental, explorando
ao máximo a intuição dos alunos; e num segundo momento, a axiomatização deveria ser
inserida. Entretanto, como os conteúdos de Geometria apareciam geralmente no final
dos livros e a parte destinada à álgebra e à aritmética era bastante extensa, os conteúdos
geométricos dificilmente eram trabalhados. Segundo Jones (2002), a partir do MMM, “a
quantidade de geometria ensinada à moda euclidiana tornou-se muito menor” (p. 128).
21
No que concerne ao Brasil, pontuam Pavanello (1989), Nacarato (2002), Crescenti
(2005) e Soares (2009), a frágil formação em Geometria de muitos professores de
Matemática somou-se a esses fatores tornando tornando cada vez mais raro o ensino
dessa área da Matemática nas escolas públicas. Quatro décadas após o surgimento do
MMM, Nacarato (2002) assinala que “a ausência da geometria na escolarização formal
vem formando gerações de profissionais, principalmente professores, que desconhecem
os fundamentos desse campo da matemática pouco discutidos no âmbito da prática
pedagógica” (p. 85).
À época do MMM e tendo em vista a reformulação do ensino de Matemática nas
escolas dos Estados Unidos da América, o SMSG passou a defender a abordagem de
Geometria apresentada por Birkhoff, em 1932, em sua obra Basic Geometry. Birkhoff
fez uso de um sistema axiomático envolvendo os números reais. De acordo com J.
Smith (2000), essa abordagem passou a enfrentar resistências a partir dos anos 1990.
Inicia-se uma nova reformulação no currículo.
Além dos Estados Unidos da América, a França também se destacou como um
dos países que mais se envolveu nos debates em torno das mudanças curriculares em
Matemática durante a década de 60 do século passado. De acordo com Laborde (1998),
a reforma de 1960 implementada no país defendia, dentre outras questões, uma maior
compreensão dos conteúdos geométricos por parte dos alunos, muitas vezes não
atingida através da “abordagem estritamente erudita” (p. 214). Desta forma, o currículo
propunha a exposição axiomática através de um sistema axiomático mínimo e associado
à teoria de conjuntos. Defendia a associação entre a Geometria e a Álgebra e o estudo
de questões associadas à prática.
Na Itália, a Geometria também perdeu espaço no currículo de Matemática à
época da eclosão do MMM. Conforme assinala Galuzzi (1998), o ensino de Geometria
deveria ocorrer através de abordagens menos formais. As transformações geométricas e
a métrica integraram a exposição dos conteúdos geométricos. Os livros publicados na
época traziam consigo abordagens que buscavam atender às mudanças propostas pelo
MMM. A coleção escrita pelo professor universitário G. Podi, por exemplo, apresenta
os números reais antes de qualquer abordagem dos conteúdos geométricos. Desta forma
são introduzidos os axiomas de medição de segmentos e alguns conceitos referentes à
circunferência. Contudo, a leitura dos livros de Podi era árdua e nem sempre inteligível
para os estudantes. Seguindo uma abordagem menos formal destacavam-se os livros
escritos, em conjunto, pelos italianos Vinicio Villani, um professor universitário, e
22
Bruno Spotorno, um professor da educação básica. Na obra desses autores, a álgebra e a
geometria estavam freqüentemente relacionadas. As noções geométricas ora eram
desenvolvidas de forma informal, ora apareciam de modo mais rigoroso. As proposições
de natureza mais elementar e cujas declarações são facilmente aceitas pela intuição
eram expostas sem as suas provas (Galuzzi, 1998). Os seus resultados eram utilizados
para provar outros resultados geométricos de natureza mais complexa.
Em Portugal, o professor José Sebastião e Silva foi um dos grandes responsáveis
pela propagação dos ideais defendidos pelo MMM. A análise feita por M. Silva (2008b)
acerca do material didático elaborado por esse professor nos anos 60 do século passado
apresenta os tons nos quais esse movimento se apresentou em terras lusitanas. A
geometria, tratada de forma mais substancial no terceiro ano do ensino secundário,
passou a ser introduzida a partir do estudo de vetores. Eram trabalhadas transformações
geométricas como translação, isometria, rotação e reflexões. Do estudo das
transformações era extraído o conceito de congruência: “A igualdade entre duas figuras
é assegurada pela existência de transformações geométricas que as sobreponham”
(idem, p. 695). Ao propor para o ensino de geometria, no âmbito da escolaridade básica,
temas comumente trabalhados no ensino superior em componentes curriculares como
Geometria Analítica e Álgebra Linear Sebastião e Silva tornou bastante densa a
exposição dos conteúdos geométricos.
Na década seguinte, passou a ser adotada em Portugal uma coleção de livros
didáticos escrita por Antônio de Almeida Costa e Alfredo Osório dos Anjos, com
participação de Antônio Augusto Lopes. A geometria centrava-se, como na obra de
Sebastião e Silva, nas transformações geométricas. A partir daí, assinalam Matos e Silva
(2011), a geometria tornou-se uma “matéria omitida pelos professores e gradualmente
afastada para o final do ano letivo, deixando antever a maior falta de preparo dos
profissionais para ensinar esta nova geometria” (p. 192). Nos presentes dias, as
orientações curriculares propõem a abordagem de provas matemáticas no ensino
secundário por meio de situações-problema (Bixirão, Breda & Godino, 2011). Ainda
segundo os últimos autores, a resolução de problemas é valorosa pelas conexões que
estabelece com os seguintes elementos: Elaboração de estratégias, argumentações,
demonstração, linguagem matemática, análise e ajuste nos resultados, construção de
conceitos.
O MMM é considerado um dos grandes responsáveis pelo desaparecimento da
abordagem axiomática dos conteúdos geométricos durante a educação básica. Até os
23
anos 60 do século passado, pontua Jones (2002), o ensino de geometria se dava nos
moldes euclidianos com seus teoremas e demonstrações. A partir daí, a densa exposição
lógico-dedutiva presente na obra Os Elementos de Euclides foi deixada de lado em
detrimento da utilização de uma exposição mais intuitiva e experimental dos conteúdos.
Segundo Crescenti (2005), “o rigor das demonstrações geométricas praticamente foi
abolido, mas a preocupação excessiva com a linguagem da teoria dos conjuntos acabou
por comprometer ainda mais o ensino dessa área, acarretando sua supressão ou o
empobrecimento do conteúdo” (p. 37).
O número de axiomas necessários para se estabelecer uma abordagem dedutiva,
sublinham Martin et al. (2009), é mais um elemento que torna compreensível as
resistências que passaram a ser impostas à exposição “à moda euclidiana”. São pelo
menos 20 axiomas a partir da reformulação desenvolvida por David Hilbert em sua obra
Fundamentos da Geometria (Hilbert, 2003).
O ensino de Geometria ofertado no final do século passado, na escolaridade
básica, destaca Hansen (1998), baseava-se na classificação dos polígonos, na utilização
de fórmulas para cálculo de áreas de regiões limitadas por algumas figuras planas.
Havia poucas construções geométricas e pequenas menções às transformações
geométricas, destaca o autor. A entrada da geometria dedutiva na formação dos
estudantes durante a escolaridade básica passou a residir em casos pontuais. Na
Bulgária, por exemplo, nesse nível de escolaridade, a geometria recebe, em sala de aula,
o tratamento axiomático. Entretanto, assinala Bankov (2013), levando-se em
consideração os desafios da abordagem formal-dedutiva não se utiliza neste país um
conjunto mínimo de axiomas. Alguns fatos demonstráveis são apresentados como se
fossem postulados. Segundo este autor, nos anos finais do século passado a “Bulgária
era conhecida como um país com forte ênfase no ensino de argumentações e provas
formais em geometria” (idem, p. 161). Não obstante a preocupação com o rigor no
ensino de Geometria, os exames nacionais de Matemática realizados no país nem
sempre apontam para uma aprendizagem satisfatória (Bankov, 2013). Se, por um lado, a
abordagem axiomática passou a cair em desuso em grande parte dos países, por outro,
as poucas tentativas existentes deparam-se com os problemas de aprendizagem dos
alunos como se pode perceber no caso da Bulgária.
A despeito de considerar a Geometria um terreno fértil para o estudo das provas
em Matemática, Otten, Gilbertson, Males e Clark (2014) assinalam que os estudos já
realizados apontam para a insuficiência de resultados satisfatórios no âmbito da sala de
24
aula2. As ferramentas didáticas utilizadas, a metodologia empregada e o próprio
currículo precisam ser continuamente revistos. Essas considerações deixam mais
acirradas as tensões entre “ensinar”, “não ensinar” ou “o que ensinar” em um viés
axiomático. Em países como Estados Unidos da América, Canadá, Taiwan e Japão, as
provas em geometria aparecem de forma substancial somente em uma das séries da
escola secundária (Otten et al., 2014). A concentração da abordagem axiomática em
uma única série ajuda a acentuar os problemas. Fato semelhante ocorria no Brasil
durante as décadas que precederam o MMM quando a Geometria à moda euclidiana se
resumia ao terceiro ano do curso ginasial. As justificações e a abordagem dedutiva
precisam atravessar, gradativamente, parte substancial do currículo. Jones (2002)
recomenda que os estudantes sejam estimulados a apresentar as justificativas para as
atividades que lhes são propostas em toda a sua formação escolar. Desta forma, o
contato com as provas matemática tende a ser menos conflituoso.
A abertura de espaços para a compreensão dos conteúdos geométricos por meio
de explorações manipulativas, privilegiando atividades de natureza prática, pelo menos
na fase inicial da aprendizagem, remonta às últimas duas décadas do século passado.
Naturalmente, cada período histórico se encarregou de injetar as suas influências sobre
o currículo utilizado nas escolas. Embora o ensino de Geometria tivesse ao longo da
história um papel de prestígio e destaque nas instituições de ensino 3 desde o
Quadrivium (Gauthier & Tardif, 2010) até o Renascimento, segundo Mammana e
Villani (1998) o século XX foi aquele que assistiu a maior desvalorização no ensino
de Geometria, em muitos países. Os países que ainda reservam um espaço de destaque
para a Geometria geralmente o fazem mais pela tradição do que pelo entendimento da
sua contribuição na formação dos estudantes. Obviamente, não ensinar, ensinar e o que
ensinar em Geometria remete a escolhas que dependem da visão dos órgãos
regulamentadores do sistema educacional responsáveis pela instituição do currículo em
cada país.
2
Desta vez não apenas na Bulgária, como ocorre no trabalho de Bankov (2013), mas numa leitura mais
globalizada.
3
Na Antiguidade Clássica, os estudos em Geometria também gozavam de certo prestígio. À época, na
entrada da Academia de Platão havia os dizeres: “Não deixe entrar quem não for versado em geometria”
(Roque, 2012, 99).
25
O século XXI também assiste ao hiato entre a geometria dedutiva e aquela
apresentada nas escolas. Esta última, embora mais freqüente que a primeira no chão da
escola, ainda goza de uma posição desprivilegiada nos currículos escolares se
comparada à aritmética e à álgebra (Jones, 2002). Entretanto, os avanços tecnológicos
próprios da virada do século têm favorecido o ensino de geometria, seja numa
perspectiva axiomática ou não. A utilização de softwares educacionais tem contribuído
para a elaboração de conjecturas e para a verificação de muitos resultados apresentados
sob a forma de teoremas de geometria. Além dos recursos computacionais, Neubrand
(1998b) destaca a importância de os conteúdos de Geometria serem abordados de forma
associada às situações práticas nas quais os mesmos podem ser utilizados. A
modelagem e a resolução de problemas também configuram tendências no ensino e na
aprendizagem de Geometria, destaca o autor.
Ao longo dos dois primeiros séculos que sucederam à chegada dos portugueses
ao Brasil, as práticas pedagógicas no país eram atribuições dos jesuítas da Companhia
de Jesus (Berti, 2005; Matos & Silva, 2011; Saviani, 2007). Pouco espaço era destinado
aos estudos em matemática. Ensinavam-se apenas as operações envolvendo números
naturais. Não há registros sobre o ensino de Geometria (Caldatto & Pavanello, 2015). A
partir de 1759, quando os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal, “abre-se
espaço para a circulação das idéias pedagógicas inspiradas no laicismo que caracterizou
a visão iluminista”, pontua Saviani (2007, p. 15). A chegada de membros da nobreza
portuguesa no Brasil Colônia implicou na reestruturação do modelo educacional
vigente. O tipo de educação dada aos índios centrada língua portuguesa, catecismo e
aritmética (D’Ambrosio, 1999) era insuficiente para a formação dos filhos dos
colonos. Além de gramática, latim e aritmética, passaram a ser ensinadas a álgebra e a
geometria. A partir de 1803 surgem as primeiras obras didáticas nacionais (Valente,
1999, citado por Caldatto & Pavanello, 2015). Na obra de Francisco Vilela Barbosa,
Elementos de Geometria, são utilizados termos como axiomas, teorema e corolário. O
ensino de Geometria, porém, restringia-se aos colégios militares. A princípio coube
apenas aos filhos dos nobres. Aos primeiros habitantes da terra, os índios, não foi
apresentado, pelo menos de forma didática, esse tipo de conhecimento.
26
Quando o Brasil deixou de ser colônia portuguesa, o retrato educacional também
foi alterado. De acordo com Gomes (2013), a “Constituição de 1824, que prevaleceu
durante todo o período imperial, afirmava a gratuidade da instrução primária para todos
os brasileiros” (p. 15). Tratava-se de uma educação inicial baseada no aprender a ler,
escrever e fazer contas. Noções gerais de geometria eram ensinadas somente aos
estudantes do sexo masculino, pontua a autora. Esses dados expressam a segregação que
havia no processo educacional relegando às mulheres um menor acesso ao
conhecimento. Em tempo, apontam para a existência, à época, de uma sociedade
machista e patriarcal.
À época do Império estabelece-se o ensino secundário e cursos superiores em
direito, medicina e engenharia. Antes, quando o Brasil era colônia portuguesa, os cursos
superiores eram cursados, em sua maioria, na Universidade de Coimbra. Para preparar
os candidatos para o ensino superior foram criadas as “Aulas Avulsas” (Caldatto &
Pavanello, 2015). Havia também os colégios religiosos, as escolas e os professores
particulares.
Em 1837 foi criado, na cidade do Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II. Apesar de
priorizar os componentes curriculares de natureza literária e humanística, nesse colégio
também eram ensinados os três grandes ramos da matemática escolar: Aritmética,
álgebra e geometria (Gomes, 2013). Os alunos eram homens pertencentes a famílias
abastadas. Nos finais do século XIX e início do século XX, pontuam Caldatto e
Pavanello (2015), o ensino secundário, não apenas no Colégio Pedro II como nas
demais instituições escolares, consistia na preparação para o ensino superior.
Se à época do Império o ensino das literaturas e humanidades sobressaía-se à
matemática, no início da República, por volta de 1889, ocorre o contrário. Segundo
Gomes (2013), por trás das mudanças encontravam-se as idéias positivistas do francês
Auguste Comte. A Geometria além da Aritmética, Álgebra e Trigonometria
compunha o conjunto de componentes curriculares exigido nas provas de ingresso ao
ensino superior. Na primeira metade do século XX esses três ramos da matemática
passam a ser reunidos em um único componente curricular: Matemática. Essa mudança
deve-se em grande parte ao professor Euclides Roxo do Colégio Pedro II inspirado nas
idéias do alemão Felix Klein. Com o curso ginasial constituído por quatro anos, a partir
de 1942, o ensino de Geometria passa a ser ofertado através de abordagens intuitivas
nos dois primeiros anos e numa perspectiva mais formal e dedutiva nos dois últimos
(Matos & Silva, 2011; Pavanello, 1993; Souza, 2010). Como os primeiros cursos
27
universitários destinados à formação de professores de Matemática, no país, surgiram
apenas nos anos 30 do mesmo século, na Universidade de São Paulo e na Universidade
do Rio de Janeiro, não era difícil entender o porquê de grande parte dos professores da
educação básica serem engenheiros civis ou militares, conforme pontua Pavanello
(1993). De fato, de acordo com D' Ambrósio (1999), à época
28
Matemática Moderna de algebrizar a Geometria não vingou no Brasil, mas conseguiu
eliminar o modelo anterior, criando assim uma lacuna nas nossas práticas pedagógicas,
que perdura até hoje” (p. 4). O geômetra brasileiro Manfredo Perdigão do Carmo
endossa tais assertivas quando no prefácio da obra de Barbosa (2006) escreve:
Embora nos presentes dias todo cidadão brasileiro tenha o seu direito à educação
pública assistido, no âmbito da escolaridade básica, até a segunda metade do século
passado a realidade era bastante diferente. O período de consolidação do MMM no país
ocorreu concomitantemente com a fase de democratização do ensino fundamental para
crianças e adolescentes de até 14 anos de idade, por meio da Lei 5 692, de 11 de agosto
de 1971. A abertura das escolas públicas às massas ocorreu no período em que o ensino
de Geometria começou a ser desprestigiado se comparado à Aritmética e Álgebra. A Lei
5 692 foi estendida aos estudantes que apresentavam alguma defasagem na relação
idade-série a partir da Lei 8 069 de 13 de julho de 1990. E, finalmente, com a Lei 9 394,
de 20 de dezembro de 1996, o Estado tornou-se, pela Constituição, o responsável pela
“universalização do Ensino Médio gratuito” (Collares, 2012, p. 13).
A partir da década de 80 ocorre o surgimento de variadas linhas pesquisas
voltadas para o ensino de matemática tais como a etnomatemática, a modelagem
matemática, a resolução de problemas e formação de professores, destacam Fiorentini e
Lorenzato (2007). Ainda segundo esses autores, as pesquisas, em cursos de pós-
graduação, destinadas ao ensino de geometria começaram a ganhar corpo a partir da
década seguinte. Os encontros e congressos destinados ao ensino de matemática passam
a apresentar um razoável número de trabalhos referentes ao ensino de geometria os
quais contemplam o uso de materiais manipuláveis, a importância das justificações
matemáticas, os tipos de raciocínio geométrico dos estudantes, a utilização de ambientes
computacionais e a formação de professores (Déchen & Carneiro, 2007).
De acordo com Pavanello e Andrade (2002), parte dos problemas enfrentados no
ensino de Geometria, no contexto brasileiro, deve-se à frágil formação que os
professores de matemática têm recebido. Segundo os autores, o número de componentes
29
curriculares voltados para a apresentação dos conteúdos de geometria, nos cursos de
Licenciatura em Matemática, é insuficiente. Se por um lado na educação básica a
abordagem desses conteúdos destina-se às questões práticas; por outro, na universidade,
a ênfase assenta-se na abordagem teórica. Falta a articulação entre esses dois domínios.
Dessa forma, os assuntos que “devem ser abordados na prática profissional (educação
básica) não são abordados, ou essa abordagem é muito superficial.” (Ferreira, 2008, p.
43). Por conseguinte, os professores deixam de abordar a Geometria em sala de aula,
pois não se sentem suficientemente preparados para explicar aos alunos alguns de seus
conteúdos, pontua Lorenzato (1995). Fenômeno semelhante já era observado desde anos
70 do século passado, assinala Pavanello (1993).
As reflexões e os debates realizados por educadores matemáticos a partir da
última década do século passado têm apontando para uma tentativa plausível de resgatar
o ensino de Geometria nas escolas brasileiras (Andrade & Nacarato, 2005). A própria
distribuição dos conteúdos geométricos nos livros didáticos – anteriormente
concentrada no final e agora apresentada ao longo dos livros representa o desejo de
mudanças. Entretanto a “repaginação” do ensino não deve se limitar ao papel do livro
didático: “para ajudar os alunos a se apropriarem dos conteúdos geométricos, os
professores precisam despertar neles o interesse por aprender, usando diferentes
metodologias”, sublinha Crescenti (2005, p. 56). Nessa perspectiva, assinalam Monteiro
e Pompeu (2001), o ensino de Matemática, e em particular o de Geometria, deve levar
em consideração o contexto social, cultural e econômico em que os estudantes estão
inseridos.
A despeito dos sinais de mudança, Costa e Silva (2014) pontuam que muitos
professores ainda reservam somente o final do ano letivo para a abordagem de temas de
geometria em sala de aula. E, segundo Andrade e Nacarato (2005), o raciocínio
dedutivo raramente é contemplado. O tratamento ainda baseia-se, exclusivamente, nos
aspectos empíricos. Muitos estudantes têm concluído a educação básica sem saber que
os teoremas matemáticas são resultados passíveis de demonstração. Pesquisas
desenvolvidas por autores como Domingos e Fonseca (2003) e Gravina (2001) também
corroboram a insuficiência de abordagens de natureza dedutiva no âmbito da educação
básica. Esses autores atribuem essa realidade, em parte, à precária formação de muitos
professores.
Os cursos de Licenciatura em Matemática têm sido palcos privilegiados para a
aproximação entre os estudantes e a geometria dedutiva. Por outro lado, há pesquisas
30
que apontam para a insuficiência do número de atividades de cunho dedutivo no âmbito
da educação básica (Dias, 2009). Esse mesmo autor advoga pela introdução de
demonstrações matemática desde a escolaridade básica. A princípio por meio de
justificações lógicas (e não necessariamente dedutivas) e, pouco a pouco, por meio de
raciocínios lógico-dedutivos.
31
de oferecer a estudantes de tão pouca idade a mesma geometria formal e rigorosa com
que lidavam os adultos mais intelectuais da Grécia Antiga.
No Brasil, os primeiros livros de matemática escritos sob a influência do MMM
foram publicados nos anos 70 do século passado tendo o professor Osvaldo Sangiorgi
como um dos principais autores (M. Silva, 2008a). Apesar de dialogar com o uso de
elementos intuitivos no tratamento da Geometria, na obra Sangriori ainda era possível
encontrar algumas demonstrações matemáticas. Em 1964, quando o MMM estava
atravessando um processo de inicialização no Brasil, a sua influência ainda não era
perceptível na obra de Sangiorgi. Naquela altura, a Geometria dedutiva era trabalhada
na terceira série ginasial como também ocorria na obra de Ary Quintella. No prefácio do
livro de Geometria, Osvaldo Sangiorgi informa ao leitor as diferenças entre a
abordagem de Geometria do curso primário e do curso ginasial: No primeiro, a
Geometria era apresentada de forma intuitiva e experimental; no segundo, as
propriedades dos objetos geométricos são estudadas por meio da dedução formal e do
raciocínio lógico. A abordagem presente no livro de Sangiorgi fazia uso dos axiomas
instituídos na reformulação apresentada por David Hilbert, destaca M. Silva (idem).
Alguns anos depois, com a consolidação do MMM, ocorrem algumas mudanças
na obra de Sangiorgi. A terceira série do ensino ginasial continuava sendo aquela em
que a Geometria se mostrava mais presente. Desta vez, Sangiorgi informa aos leitores
que não será mais necessário “memorizar” as demonstrações matemáticas como ocorria
nas edições anteriores. No prefácio na sua obra, direciona-se ao seu leitor dizendo-lhe:
"Agora, não será mais necessário que você decore enfadonhos teoremas e mais
teoremas, contra o que, erradamente, alguns colegas mais adiantados costumavam
'previni-lo'" (Sangiorgi, 1966, citado por M. Silva, 2008a, p. 6). Em seu texto, Sangiorgi
deixa "escapar" o entendimento de que na faixa etária dos estudantes aos quais se
destinava o seu livro, a compreensão dos teoremas e de suas demonstrações era
substituída pela memorização. Mas, se era desta forma que o autor enxergava a
aprendizagem da geometria dedutiva no âmbito da escolaridade básica, por que tardou a
propor alterações na metodologia e na forma de apresentação desses conteúdos? Estaria
o autor mais preocupado com a tradição do que com a aprendizagem dos alunos? São
questionamentos cujas respostas fogem aos limites deste texto, mas que, ao mesmo
tempo, revelam as nuances e complexidades que envolviam (e ainda envolvem) o
ensino de Geometria. O fato é que a partir dessa nova concepção de abordagem de
geometria, o foco da obra sangiorgiana começou a se deslocar das concepções teóricas
32
para as suas aplicações. A axiomatização de Hilbert passou a ser substituída pelo
modelo axiomático de Birkhoff.
Além de Sangiorgi, o professor Benedito Castrucci também publicou um livro
inspirado nas mudanças propostas pelo MMM. Nos finais dos anos 60, ele lançou o
livro Geometria curso moderno. De acordo com M. Silva (2008a), os “teoremas, antes
enunciados e demonstrados em linguagem natural, na versão moderna da Geometria,
incorpora a simbologia utilizada na teoria dos Conjuntos” (p. 692).
Collares (2012) analisou algumas coleções de livros didáticos lançadas no Brasil
a partir da segunda metade do século passado. Nas edições publicadas na década de 70,
a autora notou a predominância dos conteúdos de Geometria somente na terceira série
ginasial onde, alguns autores, apresentavam os conceitos de axioma, teorema,
demonstração e corolário. Não obstante a apresentação desses conceitos a exposição de
provas formais sob o cunho axiomático raramente apareciam. Situações semelhantes
foram observadas nos livros lançados na década seguinte. Entretanto, desta vez, a
álgebra e aritmética, juntas, passaram a assumir quase a metade das páginas dos livros
da terceira série do curso ginasial4. Em alguns casos, encontravam-se algumas
demonstrações de teoremas. As ilustrações tornaram-se mais frequentes.
Na década de 90, ocorreram algumas mudanças significativas. Os conteúdos de
geometria passaram a ser distribuídos ao longo dos livros e não mais no final. Os livros
didáticos passaram recorrer, ou pelo menos a fazer referência, ao uso de dobraduras,
recortes, atividades envolvendo palitos e o tangram. Em algumas edições foi possível
encontrar pequenos relatos de episódios da História da Matemática. Ao contrário dos
livros publicados nos anos 70 e 80, desta vez, os textos são bastante ilustrados e
coloridos. Os conteúdos de geometria são contemplados nos livros das quatro séries do
ginasial (com predomínio no volume da terceira série) e as demonstrações dos teoremas
desaparecem completamente. Segundo Lorenzato (1995), não era raro encontrar nesses
livros um “conjunto de definições, propriedades, nomes e fórmulas, desligado de
quaisquer aplicações ou explicações de natureza histórica ou lógica” (p. 4).
A abordagem presente nas obras lançadas na primeira década do século XX não
difere substancialmente daquelas publicadas nos anos 90, exceto pelos avanços quanto
às questões referentes à interdisciplinaridade. Por exemplo, durante a abordagem do
4
Na década anterior, o espaço destinado à Aritmética e Álgebra nos livros da terceira série ginasial era
menor.
33
sistema cartesiano, presente em um dos livros voltados para a sétima série, há uma
articulação entre esse conteúdo e as coordenadas geográficas (longitude, latitude)
comumente estudadas em Geografia. Esse assunto ainda possibilita, segundo Martin et.
al (2009) a aproximação entre a Geometria e a Álgebra o que constitui a base da
Geometria Analítica. Ao fazer referências às edições lançadas nos anos 2000, Martins
(2012) assinala que:
Os livros didáticos vêm incorporando uma nova forma de substituir a validação
formal de um conteúdo. Recorrem, com freqüência à manipulação de materiais,
recortes, instrumentos de medida, o que não se pode caracterizar como
contribuição para o desenvolvimento da capacidade de argumentar e, muito
menos de provar algum fato matemático. (p. 31)
Se, por um lado, os livros didáticos se tornaram mais atrativos à medida que
foram acrescentadas mais cores e imagens à sua diagramação além de dobraduras,
recortes, colagens e a utilização do tangram por outro, foram perdendo em rigor
axiomático. De fato, a maior parte dos estudantes tem concluído a escolaridade básica
sem saber o significado de expressões como axiomas, proposições, corolários,
demonstração. É verdade que não saber tais significados não traduz necessariamente
falta de rigor. A questão é que, em sua maioria, estes estudantes passam a acreditar que
a ocorrência de determinado resultado em alguns exemplos é suficiente para assegurar a
sua generalidade. Não são estimulados a raciocinar dedutivamente e, portanto,
privilegiam somente o raciocínio indutivo.
A noção de prova matemática, em sala de aula, passou por modificações ao
longo dos anos. De acordo com Nasser e Tinoco (2001, citados por Ferreira, 2008), os
livros passaram a inserir atividades de análise, argumentação e validação dos resultados
atendendo às orientações do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)5. Martins
(2012) analisou a abordagem de argumentações e provas de três conteúdos geométricos
em 10 coleções aprovadas no Brasil pelo PNLD para o ano de 2011. Os assuntos
observados foram: A congruência entre ângulos correspondentes em retas paralelas
cortadas por uma transversal; a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo;
e a abordagem euclidiana do Teorema do Ângulo Externo. Em sua pesquisa, a autora
5
O PNLD é um programa instituído pelo Ministério da Educação, no Brasil, cujo objetivo é auxiliar o
trabalho pedagógico dos docentes através da distribuição de livros didáticos a estudantes da educação
básica.
34
tentou verificar de que forma os autores dos livros didáticos analisados justificam os
resultados enunciados pelos teoremas da geometria euclidiana.
No que diz respeito à abordagem do conteúdo congruência entre ângulos
correspondentes em retas paralelas cortadas por uma transversal, as coleções
observadas buscaram validar esse resultado utilizando os seguintes recursos: Utilização
do transferidor; uso de exemplos numéricos, por meio da translação de uma das
paralelas sobrepondo-a a outra com o auxílio de um par de esquadros; ou, até mesmo,
enunciando a congruência sem justificação alguma. Em todos os casos não houve
apresentação de uma demonstração formal-dedutiva. As abordagens se basearam “em
conhecimentos práticos, valendo-se dos recursos de ação, exemplos, desenhos,
medições e observação de figuras” (Martins, 2012, p. 73). Não obstante a importância
do emprego de atividades exploratórias no processo de aprendizagem dos estudantes,
Douek (2009), menciona que a realização destas atividades deve dialogar com a
elaboração das provas e, portanto, não devem ser confundidas com as mesmas.
Quanto à demonstração da soma das medidas dos ângulos internos de um
triângulo, somente uma obra se encarregou da apresentação da demonstração formal.
As demais recorreram à utilização de dobraduras, recortes ou à medição em alguns
exemplos através do transferidor. Já a versão Euclidiana do Teorema do Ângulo
6
Externo foi apresentada, em todos os casos analisados, por meio de demonstrações
formais as quais se mostraram relativamente simples e facilmente inteligíveis por meio
da utilização da soma das medidas dos ângulos internos do triângulo. Esses resultados
revelam a tentativa de inserir as demonstrações matemáticas somente para aqueles
resultados cujas demonstrações decorrem quase que imediatamente – e, portanto, com
pouco esforço – de outros resultados já verificados. De fato, uma vez assegurado o valor
da soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo, conclui-se facilmente que a
medida de um ângulo externo deste polígono corresponde à soma das medidas dos
ângulos internos que não lhe são adjacentes. Para isso, basta utilizar o fato de que o
ângulo externo e o ângulo interno a ele adjacente são suplementares.
6
O Teorema do Ângulo Externo assegura que, em qualquer triângulo, a medida de qualquer ângulo
externo é sempre maior que as medidas dos ângulos internos a ele não adjacentes. A partir do Axioma
das Paralelas conclui-se que a medida desse ângulo corresponde à soma das medidas dos ângulos internos
que não lhe são adjacentes. Esse último resultado é referido no texto como Versão Euclidiana do
Teorema do Ângulo Externo.
35
Com relação aos livros analisados pela última autora, Martins e Mandarino
(2013) destacam que as provas formais e as atividades de verificações se alternam, com
predominância das segundas. Segundo as autoras, as primeiras, quando aparecem, estão
compatíveis com a faixa de idade dos alunos a que se destinam. Quanto às atividades
propostas aos alunos, “os exercícios são muitas vezes repetitivos e, por vezes,
conduzem os alunos a atividades de reprodução de pensamentos elaborados por outros,
em vez de se ocuparem no processo de construção do seu próprio conhecimento” (p.
112).
No que concerne aos livros didáticos de matemática em termos globais, e não
mais restritos ao Brasil, Otten, Males e Gilbertson (2014) pontuam a existência de
“esforços” em torno da inserção das provas matemáticas. Segundo esses autores, essa
tendência provém do reconhecimento da importância das provas matemáticas na
formação dos estudantes. A análise das obras lançadas no Brasil, porém, apontam para
uma predominância de verificações experimentais em detrimento das provas formais.
Nesses casos não somente no Brasil (Martins e Mandarino, 2013), mas também em
países como Estados Unidos da América e Japão (Otten, Males & Gilbertson, 2014)
os autores dos livros didáticos nem sempre deixam claro para os leitores a distinção
entre verificação e demonstração. O raciocínio indutivo prevalece sobre o dedutivo.
No próximo capítulo a discussão acerca do ensino de Geometria é alargada a
partir da apresentação de algumas teorias de aprendizagem relacionando-as sempre que
possível com a argumentação, justificação e as provas em Geometria. As formas de
representação e as definições que aparecem nos estudos geométricos também são
referenciadas no texto. Por fim, algumas dificuldades encontradas pelos discentes são
apontadas e sempre que possível são propostas algumas alternativas com o intuito de
contorná-las.
36
Capítulo 3
38
atrapalha a obtenção da segunda? As considerações de diversos autores acerca dessas
questões são apresentadas neste capítulo.
Algumas reflexões sobre representações e linguagem em geometria também são
contempladas ao longo deste texto. Os tipos de representações para um conceito
geométrico, a partir da classificação de Duval (1993), são descritos.
Por fim, são elencadas algumas dificuldades apresentadas pelos alunos no
processo de aprendizagem de geometria. Elas variam de acordo com o contexto, com a
idade, com as experiências prévias dos estudantes e em decorrência dos estímulos aos
quais foram submetidos. Alguns caminhos são propostos com o intuito de minimizar
tais dificuldades de aprendizagem.
Tanto em Geometria quanto nas outras áreas da Matemática, nos primeiros anos
da escolaridade nem sempre o estudante é capaz de identificar os atributos essenciais de
determinado conceito. Não é raro, nesses casos, perceber que a sua atenção está mais
voltada para elementos periféricos que muitas vezes não são característicos de todos os
exemplos existentes relacionados ao conceito. É o caso, por exemplo, de estudantes que
se deparam com um polígono apresentado nos livros ou pelo professor sempre de uma
mesma cor. Eles podem ser induzidos a concluir que aquela cor estará presente em todas
as representações possíveis para o polígono. E mais que isso: Podem se desviar dos
elementos que, de fato, caracterizam o polígono (como a existência de quatro ângulos
retos, no caso do retângulo). Exemplos como esses são apontados por Barth (1987) que
identifica algumas subtilezas que compreendem o processo de ensino e aprendizagem
das quais o professor não pode se furtar de observar.
Aprender um conceito significa identificar e reter os atributos que lhes são
pertinentes e perceber de que forma eles se relacionam. Quanto maior é o número de
atributos mais sofisticado se torna o conceito e, reciprocamente, “quanto mais complexo
é um conceito, mais inter-relações devem ser efetuadas e mais difícil ele se torna de
alcançar” (Barth, 1987, p. 35). No caso do retângulo, definido como um quadrilátero7
7
Por quadrilátero entende-se todo polígono que possui quatro e somente quatro lado. Os polígonos são
linhas poligonais fechadas cujos lados se intersectam somente nas extremidades. Ademais, dois
(quaisquer) de seus lados com mesma extremidade pertencem a retas distintas (Barbosa, 2006). A região
plana limitada pela linha poligonal não está incluída.
39
que possui quatro ângulos retos (Barbosa, 2006) é possível identificar dois atributos:
Ser um quadrilátero e possuir ângulos que medem noventa graus. A sua cor, o perímetro
ou a área da região plana por ele limitada são irrelevantes na apresentação do conceito.
A seguir será estabelecida uma discussão acerca dos processos cognitivos
relacionados à aprendizagem de Geometria a partir da visão de Barth (1987), Duval
(1998), Martin et al. (2009) e o casal Van Hiele (Battista, 2009).
41
outras palavras, os argumentos indutivos “não nos dão certeza, mas podem nos dar altos
níveis de probabilidades” (p. 279) à medida que o número de casos estudados aumenta.
Por outro lado, uma inferência será dita dedutiva quando a conclusão é obtida a
partir de um fato conhecido como verdadeiro à luz de um raciocínio lógico. Por
exemplo, sabendo-se que “todo quadrado é um retângulo” e que “o quadrilátero ABCD
é um quadrado”, infere-se de forma dedutiva que “ABCD é um retângulo”.
Até aqui foram expostos alguns modelos que visam descrever as etapas inerentes
ao processo de aprendizagem de Geometria. Cada etapa de um modelo admite um
estágio correspondente em outro. Dessa forma, instituem-se pontes que permitem o
46
trânsito entre as classificações. Como já mencionado neste texto, por exemplo, os dois
primeiros estágios da percepção apontada por Barth (1987) correspondem à fase de
visualização na classificação de Duval (1998). Conforme se pode perceber na Figura
3.1, durante essa fase o nível de pensamento geométrico dos estudantes é do tipo visual-
holístico à luz da classificação de Van Hiele (Battista, 2009). Nesse estágio, partindo da
categorização de Martin et al. (2009), o raciocínio do estudante pertence ao nível
empírico.
47
3.2 As definições em Geometria
48
3.2.1 Definições lexicais e definições estipuladas
49
Conforme assinalado pelos últimos autores, a despeito de até conseguirem
reproduzir a definição de paralelogramo, o que fica fortemente registrado na mente dos
discentes é a representação icônica que lhes é apresentada (Villiers, Govender &
Patterson, 2009). Geralmente as representações apresentadas aos estudantes contêm
paralelogramos em que pelo menos um par de lados opostos estão dispostos na posição
horizontal como na Figura 3.2. A partir daí, quando estão diante de paralelogramos
cujos lados não atendem a essa condição muitos estudantes não conseguem enxergá-los
como tais.
8
As definições aparecem em livros didáticos publicados no Brasil em 1982, 2000, 2004 e 2001,
respectivamente.
50
quadrilátero que tem ao menos um par de lados paralelos”, “um trapézio é um
quadrilátero em que dois lados são paralelos”, “os trapézios são quadriláteros que têm
apenas dois lados opostos paralelos”, “quadrilátero que tem um par de lados paralelos”
(p. 29). Somente a terceira definição não insere os paralelogramos no conjunto dos
trapézios. Nas demais, todo paralelogramo é um trapézio. A recíproca, porém, não é
satisfeita.
Ao confrontar definições dadas por diferentes autores é importante verificar se
as mesmas referem-se ao mesmo objeto geométrico. Em alguns casos, como visto no
parágrafo anterior, pode haver inclusão ou exclusão de determinados entes matemáticos.
Um dos conceitos indispensáveis ao estudo dos polígonos, a saber, os ângulos, também
pode ser acometido pela existência de definições distintas que convergem para
conjuntos distintos de pontos. Uma das definições remete-se a esse conceito como a
figura geométrica formada por duas semirretas de mesma origem (Barbosa, 2006;
Dante, 2007a). Contudo, autores como Giovanni, Castrucci e Giovani (2007) referem-se
aos ângulos regiões convexas do plano determinadas por duas semirretas de mesma
origem. A primeira definição lança o olhar sobre os pontos das semirretas. A segunda
atenta-se à região convexa compreendida entre as semirretas. No primeiro caso, a noção
de convexidade é dispensada, exceto quando se desejar fazer referência à medida do
ângulo.
52
3.2.5 Definições descritivas e definições construtivas
Tabela 3.1
Tipos de definições
Lexicais
Hierárquicas Descritivas
Construtivas
Estipuladas
Descritivas
Particionais Construtivas
53
De acordo com a Tabela 3.1, as definições hierárquicas e particionais (Villiers,
Govender & Patterson, 2009) e as definições descritivas e construtivas (Villiers, 1998)
configuram exemplos de definições estipuladas (Edwards & Ward, 2008) tendo em
vista que estas últimas abarcam as definições matemáticas. Como as definições
hierárquicas ou particionais podem ser dadas tanto a priori como a posterior cada uma
delas pode ser do tipo descritiva ou construtiva conforme mostra a tabela.
De acordo com Villiers (1998), para que os estudantes consigam compreender as
definições formais, descritivas ou construtivas, é necessário que se encontrem, pelo
menos, no nível 3 da classificação de Van Hiele onde já é possível estabelecer relações
entre as propriedades dos objetos.
55
Segundo Duval (1990), em consonância com Perelman (1993), a argumentação
destina-se ao assentimento o qual pode ser obtido sem recorrer às deduções lógicas. As
demonstrações, porém, estão estritamente ligadas a essas últimas. As argumentações
utilizadas nas demonstrações matemáticas são denominadas pelo primeiro autor como
argumentações heurísticas. Nesse caso, a escolha e a ordenação dos argumentos não
dependem da platéia a que se destina. Provêm do próprio problema. Caso contrário, o
tipo de argumentação utilizado é designado pelo nome de argumentação retórica
(Duval, 1999).
Conforme pontua Garbi (2010), uma prova em matemática consiste em um
“processo pelo qual, partindo exclusivamente de definições, conceitos primitivos e
postulados, evidencia-se a veracidade da afirmação por meio de uma sequência de
conclusões (inferências) lógicas” (p. 33). De acordo com Krummheuer (1995), quando
as conclusões são obtidas das premissas por meio da lógica dedutivo-formal, como
ocorre nas provas matemáticas, a argumentação é dita analítica. Em casos em que o
encadeamento lógico-formal não possibilita resolver o problema, como na formação
escolar de crianças, a argumentação é dita substancial. De fato, as “crianças geralmente
não agem em um sistema matemático axiomático: O conhecimento matemático de
crianças em escolas de nível primário está distante do nível teórico e as suas afirmações
matemáticas trazem o significado de ações experimentadas através de objetos
matemáticos reais” (Krummheuer, 1995, p. 237).
Não obstante o reconhecimento de que “os significados dos termos
demonstração e prova estão ligados a uma idéia comum, à descrição de argumentos com
vistas a justificar ou validar uma proposição” (Martins, 2012, p. 24), Balacheff (2008)
sublinha a existência de distinções entre eles. As provas são argumentações que atestam
a veracidade de uma sentença a partir de uma sequência lógica de regras e normas
validadas em determinada comunidade. Dependem do conteúdo e do contexto: “a
comprovação de uma verdade não pode ser realizada da mesma forma no dia a dia, no
direito, na política, na filosofia, na medicina, na física ou na matemática” (Ballachef,
2008, idem, p. 25). As provas em Matemática, porém, segundo Reid e Knipping (2010)
não devem limitar-se ao crivo de determinado grupo, aos seus valores culturais ou ao
período histórico em que foram construídas: Devem ser universais e atemporais. A estas
últimas Balacheff atribui o nome de demonstrações matemáticas (provas irrefutáveis
em qualquer contexto e que se prestam à explicitação da veracidade de conteúdos
matemáticos). Nesta concepção, as demonstrações matemáticas são provas que
56
satisfazem a algumas condições: “alguns enunciados são considerados verdadeiros
(axiomas), outros são deduzidos destes ou de outros anteriormente demonstrados a
partir de regras de dedução tomadas em um conjunto de regras lógicas” (Almouloud,
Silva & Fusco, 2012, p. 24).
De acordo com Garnica (1996), muitos matemáticos ou professores de
matemática utilizam os termos prova e demonstração como sinônimos. Para estes
atores, a palavra prova já significa prova rigorosa, isto é, sustentada num aporte
axiomático-formal-dedutivo.
Harel e Sowder (1998) assinalam que as provas matemáticas podem diferir de
um período histórico para outro podendo variar, inclusive, entre contemporâneos, de
acordo com as suas raízes históricas e a partir de sua formação cultural. Segundo Recio
e Godino (2001), “é interessante considerar não apenas um, mas vários conceitos de
prova, dependendo do ponto de vista subjetivo e epistemológico, quando estamos
interessados nos problemas psicológicos e didáticos envolvidos nos processos de
validação de proposições matemáticas.” (p. 95). Por exemplo, de acordo com Hanna e
Barbeau (2002), os povos que desenvolveram estudos em matemática antes dos gregos,
como os egípcios, validavam os resultados a partir da observação. Já os babilônios
antigos estavam mais preocupados com a resolução dos problemas que os acometiam.
Para eles, a resolução era uma prova em si mesma. Os gregos, por outro lado, primavam
pelo rigor e formalismo nas demonstrações. A partir deles, as assertivas matemáticas
passaram a ser consideradas válidas somente após serem demonstradas à luz da
estrutura axiomática da qual fazem parte. Os argumentos diferentes dos formais-
lógicos-dedutivos passaram a servir somente para reforçar as conjecturas. Para a
comunidade matemática européia dos séculos XVI, XVII e XVIII, as provas
matemáticas não eram dotadas pelo formalismo completo e detalhado defendido pelos
gregos. Os dois séculos seguintes assistiram a uma concepção de prova mais semelhante
ao modelo instituído na Grécia Antiga. Nos moldes dessa última concepção de prova,
pontuam Selden e Selden (2013), a elaboração de uma prova matemática exige o uso da
lógica (em alguns casos, a utilização dos quantificadores); a utilização das definições
formais; o conhecimento de exemplos, contra-exemplos e não exemplos; a compreensão
acerca dos conceitos e os teoremas envolvidos; a utilização de representações
apropriadas. De acordo com Recio e Godino (2001), “é interessante considerar não
apenas um, mas vários conceitos de prova, dependendo do ponto de vista subjetivo e
57
epistemológico, quando estamos interessados nos problemas psicológicos e didáticos
envolvidos nos processos de validação de proposições matemáticas.” (p. 95).
Entre os métodos empregados na construção de uma prova matemática
destacam-se o método direto e o método da redução ao absurdo. No primeiro,
“partindo-se das premissas e dos axiomas, evidencia-se a veracidade da proposição por
meio de uma sequência direta de inferências” (Garbi, 2010, p. 36). No segundo método,
também conhecido como prova por contradição, supõe-se que a tese é inválida. Em
seguida, “pelo método direto infere-se alguma proposição impossível ou absurda.
Assim, a falsidade da proposição original, admitida apenas para fins de argumentação,
não é sustentável. Se a proposição não pode ser falsa, considera-se provado que ela é
verdadeira.” (idem, p. 37). As proposições por redução ao absurdo são muito utilizadas
em Geometria durante a prova da unicidade de determinados objetos geométricos.
Antes, porém, pelo método direto, costuma-se provar a existência de tais objetos.
59
obtido é 101, o que se repete somando-se o segundo ao antepenúltimo, o terceiro ao
anteantepenúltimo e assim sucessivamente, Gauss chegou ao resultado procurado. Esse
raciocínio se estende naturalmente à prova, geralmente feita por indução, do fato de ser
a soma dos n primeiros números naturais é igual à metade do produto de n por n + 1.
Durante a validação de determinado resultado matemático é importante abordar
o maior número de provas possíveis. Desta forma, é possível ampliar as perspectivas de
análise, estabelecer conexões, analogias e, desta forma, destaca Villiers (2010), “o
entendimento fica mais rico” (p. 219). Battista (2009), Hansen (1998) e Jones (2002)
também defendem a utilização de diferentes abordagens, seja na construção de provas
matemáticas seja na resolução de problemas. De acordo com Usiskin (1987, citado por
Harel & Sowder, 1998) o insucesso no ensino das provas matemáticas ocorre porque os
docentes não se interessam por questões relacionadas aos tipos de provas possíveis para
determinada proposição e tampouco por questões que assinalam o “quando” e o
“porquê” de tais provas terem sido elaboradas e como elas foram construídas. A falta de
compreensão acerca de um teorema pode levar o estudante a aplicá-lo de forma
equivocada, assinala Weber (2001). Tão importante quanto saber demonstrar um
teorema é compreender o significado do seu enunciado e vislumbrar situações nas quais
o mesmo pode ser aplicado.
Diante do número de potencialidades inerente ao desenvolvimento e
apresentação de provas, Otte (2003, citado por Dias, 2009) afirma que as demonstrações
matemáticas são mais ricas pelo processo do que pelo produto. Não obstante a
importância das demonstrações matemáticas na formação dos estudantes, esse autor
crítica a forma como muitas delas vêm sendo apresentadas nos livros didáticos: De
forma pronta, acabada e irreflexiva. Não levam os alunos a refletirem sobre as
dificuldades e as motivações encontradas pelos matemáticos que se debruçaram sobre a
prova desses resultados. Nem sempre mencionam a importância da observação e das
inferências indutivas nesse processo. É como se as demonstrações matemáticas caíssem
do céu ao invés de serem fruto do esforço e do trabalho de muito homens.
Em 2000, o National Council of Teachers of Mathematics (NCTM) passou a
defender, de forma mais acentuada, a utilização de provas matemáticas em todas as
áreas da matemática escolar (Hanna, 2000). De acordo com o NCTM, os alunos,
durante a escolaridade básica, devem ser estimulados a fazer conjecturas, indicar contra
exemplos e apresentar justificativas lógicas na resolução de questões. Desta forma,
quando se tornarem estudantes universitários serão capazes de “construir provas formais
60
para sentenças matemáticas, incluindo provas indiretas e demonstrações por indução”
(Harel & Sowder, 1998, p. 235). No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) para o ensino de Matemática no curso ginasial (Brasil, 1998b) também fazem
referência às demonstrações matemáticas. Destacam os processos de indução e de
dedução em Matemática como indispensáveis na formação dos estudantes. Ambos os
processos podem potencializar nos discentes a “capacidade de resolver problemas, de
formular e testar hipóteses, de induzir, de generalizar e de inferir dentro de determinada
lógica” (Brasil, 1998b, p. 26). Os PCNs sugerem a incorporação de objetos
manipulativos que tornem as demonstrações mais inteligíveis para os alunos. Pais
(2000) também defende a construção de uma relação dialógica entre a experimentação e
a abstração.
Balacheff (1988) faz uma análise mais detalhada se comparada à de Piaget. Ele
considera a existência de quatro níveis de raciocínio no processo de formulação de
demonstrações matemáticas por parte dos discentes: Empirismo ingênuo, experiência
crucial, exemplo genérico e experiência mental.
O primeiro nível, o empirismo ingênuo, consiste na validação de determinado
resultado através de alguns exemplos. Além de ser um método insuficiente pode levar o
estudante a elaborar falsas conjecturas. Logo em seguida, aparece a experiência crucial
onde exemplos mais elaborados são empregados durante a validação do resultado.
Apesar de conter uma maior sofisticação com relação ao nível anterior, a sua abordagem
ainda é insuficiente para validar a assertiva analisada. Ambos os casos recorrem
exclusivamente ao uso do raciocínio indutivo. Segundo Reid e Knipping (2010), as
justificações de natureza indutiva podem ser facilmente contestáveis quando a amostra
não é suficientemente grande. Na verdade, mesmo com amostras “representativas” a
enumeração indutiva está passível de erro. É o caso de se considerar, por exemplo, que
todos os números naturais primos são ímpares.
O terceiro nível, na classificação de Balacheff, o exemplo genérico, “trata-se de
um processo de validação de uma propriedade, após a manipulação de alguns exemplos
de modo a deixá-los com uma característica que representa uma classe de objetos”
(Balacheff, 1988). É a porta de entrada para o raciocínio dedutivo. O último nível,
experiência mental, compreende o método dedutivo propriamente dito.
As provas construídas nos três primeiros níveis (empirismo ingênuo, experiência
crucial e exemplo genérico) são denominadas por Balacheff (1988) como provas
pragmáticas, aquelas desenvolvidas no nível da experiência mental são referidas por
este autor como provas conceituais.
63
Tabela 3.2
Pensamento Empirisme
pouco naif Esquema
reflexivo empírico-
Expérience indutivo
Pensamento cruciale Provas Esquema
lógico- pragmáticas empírico
experimental Exemple Esquema
générique dedutivo-
informal
64
(2014). Segundo este autor, não se trata de "uma língua comum, se comparada à que os
alunos utilizam fora do contexto escolar" (p. 30). Ademais, ao contrário da língua
corrente, a linguagem matemática não tem oralidade própria. Destina-se
prioritariamente à escrita (Constantino, 2000).
A Tabela 3.3 expõe as formas de representação icônica, simbólica e verbal no
que tange a um triângulo com vértices nos pontos A, B e C.
Tabela 3.3
65
Clements (2003) alerta os educadores quanto aos possíveis problemas advindos
das representações imagéticas internas (representações mentais) elaboradas pelos
estudantes. De acordo com o autor, tais imagens concebidas pelos discentes podem
limitar a compreensão desses atores acerca do objeto em estudo. É o caso dos alunos
que só concebem os ângulos obtusos como àqueles cuja medida é superior a 90 o graus,
mas que possui sempre um dos lados disposto na posição horizontal. Em virtude desses
equívocos é importante que a abordagem dos conteúdos geométricos seja realizada por
meio da utilização de variadas representações imagética como sugere a Figura 3.3.
66
3.6.2 Representações simbólicas
67
equivalência (se, e somente se) também estão aí incluídas. As operações matemáticas e
as relações de quantidade são classificadas como ferramentas simbólicas quantitativas.
68
ferramenta simbólica. Variações também se podem encontrar nas representações das
medidas do ângulo. A utilização de letras do alfabeto para designar objetos
matemáticos parece ter surgido na Grécia Antiga, destaca Zuchi (2004), por meio do
matemático Hipócrates de Quios (460-380 a. C.).
A escolha de um livro didático implica no uso de grande parte das ferramentas
simbólicas ali presentes, exceto, quando em comum acordo com a turma, o professor
opta por modificar algumas delas. Qualquer que seja o caso, é importante que o docente
advirta os seus alunos quanto a presença de representações diferentes em obras de
outros autores.
9
Em Portugal é mais comum se referir a esses ângulos como ângulos verticalmente opostos.
70
matemáticos que ali aparecem. No primeiro caso, é necessário começar a demonstração
referindo-se a duas retas quaisquer, digamos r e s e, a partir delas, estudar as medidas
dos ângulos opostos pelo vértice. No segundo, deve-se iniciar com a apresentação de
um triângulo qualquer do qual se pretende estudar a soma das medidas dos ângulos
internos. Essa fase inicial, muitas vezes é omitida pelos estudantes os quais não se
preocupam com a apresentação dos “personagens da história”. Daí em diante, os
problemas se somam: Erros de ortografia, problemas de concordância nominal ou
verbal, ausência de coerência lógica na argumentação, uso da própria tese como se fosse
hipótese, falta de referência aos resultados já validados em sala de aula, dentre outros.
Não obstante aos registros encontrados nos livros didáticos, a linguagem
utilizada nos estudos em Geometria, e, sobretudo nas construções de demonstrações,
não deve ser engessada e formatada à moda dos autores clássicos. Há espaço para a
pessoalidade daquele que se dispõe a construí-la. Contudo, deve-se evitar o linguajar
coloquial, próprios das conversas entre amigos. Existe uma nomenclatura particular,
própria da Matemática, que não deve ser negligenciada. Por outro lado, a sua utilização
é livre desde que não fira o encadeamento lógico decorrente da estrutura axiomática
disponível. A criatividade, a imaginação, a experiência e o domínio da teoria estudada
são algumas peças necessárias para a construção do quebra-cabeça. A primeira peça
utilizada em sua construção pode, obviamente, variar de um jogador para outro.
Kinard e Kozulin (2008) definem a linguagem matemática como “o uso
integrado de símbolos, fórmulas, ferramentas mentais especificamente matemáticas, e
definições verbais e termos envolvendo proposições lógicas, precisão e regras
precisamente definidas na articulação de atividades matemáticas” (p. 117). Segundo
esses autores, essa linguagem serve tanto para a perpetuação do conhecimento
matemático quanto para a estruturação e entendimento das expressões matemáticas. Ela
é responsável por estabelecer a mediação entre o pensamento matemático e o
entendimento conceitual.
Até mesmo autores mais experientes cometem deslizes quanto à linguagem. Um
exemplo clássico pode ser encontrado em alguns enunciados para o Teorema de
Pitágoras: “Em todo triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos
quadrados dos catetos” (Garbi, 2010, p. 28). Sendo hipotenusa e cateto os nomes
atribuídos aos lados de um triângulo retângulo (não ao comprimento dos lados), é mais
coerente dizer: “Em todo triângulo o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à
soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos” (Barbosa, 2006, p. 114). Este
71
último autor também já cometeu certos abusos no uso da linguagem. Apesar de definir a
altura relativa a um lado de um triângulo como sendo o segmento perpendicular a este
lado baixado a partir do vértice oposto, Barbosa (2006) refere-se à área da região plana
limitada por um triângulo como “a metade do produto do comprimento de qualquer de
seus lados pela altura relativa a este lado” (p. 178). De acordo com a definição
apresentada, a altura relativa a um lado qualquer de um triângulo é um segmento de
reta, portanto, o autor deveria se referir à sua medida.
Ao estabelecer a conexão entre a linguagem verbal e a linguagem simbólica
alguns autores, como Stewart (2010), cometem certos deslizes. Ao se referir ao
“círculo x2 + y2 = 1”(p. 506) ou à “parábola y = x2”(p. 507) , o autor confundiu o
objeto matemático (no caso, os dois lugares geométricos) com as equações que os
representam. O correto seria dizer “o círculo de equação x2 + y2 = 1”e a “parábola
de equação y = x2”.
72
processos" (p. 102). Nesse caso, a aprendizagem de Desenho Geométrico ocorre
superficialmente e não dialoga com a aprendizagem de Geometria.
Outra dificuldade comumente enfrentada pelos discentes está relacionada ao
entrelaçamento entre álgebra e geometria. É o caso dos alunos que compreendem que a
soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180 o, entretanto, não
conseguem resolver as equações que permitem determinar as medidas de cada ângulo.
Essas limitações são facilmente transferidas para o estudo da Geometria numa
perspectiva axiomática.
No que tange o tratamento axiomático, em Geometria, estabelecer distinções
entre as hipóteses e a tese em um teorema é uma das dificuldades apresentadas pelos
alunos (Almouloud, Silva & Fusco, 2012). Segundo Jones (2002), a utilização, nas
provas, de conceitos que acabaram de aprender configura outra dificuldade enfrentada
pelos alunos. De acordo Jones e Rodd (2001) e Selden e Selden (2013) os alunos têm
resistência em provar os resultados que lhes parecem óbvios e triviais. Além disso, os
estudantes tendem a considerar explanações, geralmente informais, como provas
matemáticas. Em algumas situações, confundem as propriedades de um conceito
matemático com a sua definição. Querem demonstrar uma proposição através de
exemplos (Bieda, 2010) ou à luz de evidências experimentais (French, 2004).
Em alguns casos, o problema está na exteriorização do pensamento. Alguns
discentes têm as idéias coerentes e sabem conectar as premissas tendo em vista a
obtenção da tese. Entretanto, demonstram limitações para transpor as suas idéias para o
papel. A linguagem cotidiana e natural do pensamento vai de encontro à formalidade
dos textos matemáticos. A utilização de expressões inadequadas nas justificativas
matemáticas, em alguns momentos inerentes à linguagem coloquial, é pontuada por
Dreyfus (1999) como um dos problemas enfrentados pelos alunos. O uso inadequado
que os alunos fazem da linguagem durante a construção de demonstrações matemáticas
também é apontado por Cury (1988, citado por Garnica, 1996).
A concepção que alguns estudantes têm acerca da matemática limitando-a a uma
série de cálculos intermináveis é outro obstáculo à aprendizagem de geometria. Nesse
sentido, Jones (2002) destaca que “aprender a construir provas requer que os estudantes
façam a difícil transição de uma visão computacional da matemática para uma visão que
concebe a matemática como um campo de estruturas intrinsecamente relacionados” (p.
132).
73
Segundo Hershkowitz et al. (2002), “o ensino de prova matemática parece ser
uma falha em quase todos os países” (p. 675) e, de acordo com Stone (1971), “não há
assunto mais difícil para aprender ou para ensinar do que a geometria axiomática” (p.
91). Mesmo datando da década de 70 do século passado, a declaração de Stone continua
válida no (pós)-alvorecer do século XXI: “Por décadas os estudantes têm apresentado
dificuldades em escrever provas [matemáticas]” (Otten et al., 2014, p. 53). Essas
dificuldades atravessam toda a formação escolar, seja na escolaridade básica seja no
ensino superior (Dreyfus, 1999). Um estudo desenvolvido por Hearly e Hoyles (1998),
na Inglaterra, assinala que as considerações de Hershkowitz et al. (idem) já se
mostravam presentes nesse país desde os anos finais do século passado. Os estudantes
ingleses apresentaram, nos estudos realizados, um melhor rendimento em álgebra do
que em geometria. Confundiam os argumentos empíricos e dedutivos e, geralmente,
preferiam os primeiros aos segundos. De fato, destaca Weber (2001), de modo geral,
não é raro encontrar estudantes que tentam demonstrar teoremas a partir da análise de
casos particulares, ou seja, recorrendo somente ao raciocínio indutivo. Segundo Dreyfus
(1999), “a tarefa de justificação [de suas respostas] é extremamente difícil mesmo para
os alunos razoavelmente proficientes que foram aceitos em uma universidade e que
apresentam alguma compreensão [sobre o assunto]” (p. 93).
A ausência da compreensão dos estudantes acerca da importância das provas
matemáticas é assinala por Jones (2002) como um dos fatores que provoca o insucesso
da sua aprendizagem. Estes estudantes, pontua o autor, “são incapazes de distinguir as
diferentes formas de raciocínio matemático como explicação, argumento, verificação e
comprovação” (p. 131). Nos primeiros anos do curso universitário, destaca Dreyfus
(1999), é comum encontrar estudantes cujas justificativas para as questões que lhe são
propostas não são substanciais. Acreditam que suas respostas são concisas quando na
verdade falta-lhe robustez teórica. Há ainda os casos de alunos cujas respostas são
redundantes. Esse tipo de resposta mistura tanto informações inerentes ao problema
quanto informações desnecessárias.
Nos Estados Unidos da América, o tratamento axiomático em Geometria,
quando ocorre na educação básica, resume-se a High School. Nas fases anteriores da
escolaridade os conteúdos são trabalhados de forma mais intuitiva. Embora essa
estruturação pedagógica aproxime-se dos modelos de pensamento geométrico apontados
pelos Van Hiele, a formação dos estudantes norte-americanos continua apresentando
fragilidades. Segundo Clements (2003), os “estudantes nos Estados Unidos não estão
74
preparados para aprender conteúdos geométricos sofisticados” (p. 151). De acordo com
Chazan (1993), mesmo diante de provas formais alguns estudantes da High School, nos
Estados Unidos, ainda procuram contraexemplos para refutar as proposições
demonstradas. Isso ocorre porque esses estudantes não foram capazes de compreender o
raciocínio lógico empregado na prova. Em outros casos, os estudantes são incapazes de
questionar os procedimentos adotados na demonstração de determinado resultado. Não
necessariamente porque os tenham compreendido. Mas porque se trata de provas
apresentadas no livro didático o que, para eles, é inquestionável (trata-se da convicção
externa apontada por Harel e Sowder (1998)). Esses discentes não foram conduzidos a
uma prática saudável de contestação e reflexão. Um estudo feito por Usiskin (1987,
citado por Harel & Sowder, 1998) em 99 escolas da educação básica dos Estados
Unidos revelou que, até os anos finais da década de 80 do século passado, a maioria dos
estudantes não conseguia desenvolver demonstrações simples envolvendo congruência
de triângulos.
10
Neste texto, as expressões ensino primário ou ensino fundamental 1 (comumente utilizadas no Brasil)
são usadas para designar os cinco primeiros anos de escolaridade (excluindo-se o pré-escolar).
76
comparem e desenhem formas: É o momento do dobrar, recortar, moldar, deformar,
montar, fazer sombras, decompor, esticar... para, em seguida, relatar e desenhar.” (p. 8).
A utilização de materiais concretos constitui, portanto, uma metodologia de ensino
recomendável na fase inicial da formação escolar.
Nos dois primeiros anos do ensino médio13, Stone (1971) acredita ser possível
introduzir a geometria axiomática em sala de aula. Os estudos axiomáticos devem,
obviamente, diferir um do outro em “ritmo, em profundidade (...) embora todos eles
devam ser conduzidos por uma abordagem comum [axiomática]” (Stone, 1971, p. 100).
11
Neste texto, as expressões ensino ginasial ou ensino fundamental 2 (comumente utilizadas no Brasil)
são usadas para designar o período compreendido entre o sexto e o nono ano de escolaridade, incluindo-
os.
12
No plano, a menor distância entre dois pontos é obtida a partir do segmento de reta que os une. Em
outros espaços, não necessariamente planos, as curvas que gozam dessa propriedade minimizante são as
chamadas curvas geodésicas (Carmo, 2005a). As retas são, em particular, tipos de geodésicas.
13
Neste texto, a ensino médio (comumente utilizadas no Brasil) é usada para designar o décimo, o décimo
primeiro e o décimo segundo anos de escolaridade. Trata-se dos anos que antecedem a entrada na
universidade.
77
A geometria, não necessariamente axiomática, deve perpassar todo o processo de
formação escolar, defende o autor. Segundo Reid e Knipping (2010), durante a
educação básica, a validação de um teorema não precisa, necessariamente, partir de uma
dedução formal. Basta, porém, obedecer a alguma lógica compreendida e bem aceite
pela comunidade envolvida. São as denominadas pseudo-provas. De acordo com esses
autores, as pseudo-provas constituem “as provas” presentes na maior parte dos livros
de Matemática da educação básica. Nesta perspectiva, as “provas” utilizadas na
educação básica nem sempre serão consideradas “provas” no ensino superior. Conforme
assinalam Harel e Sowder (1998), “o que deve ser considerado como evidente numa
aula de Geometria euclidiana em uma turma de ensino médio é comumente insuficiente
para os alunos universitários que estudam geometria numa perspectiva axiomática” (p.
243). No primeiro caso são levados em consideração os critérios aceites na comunidade
onde estão sendo estudadas, isto é, na classe da educação básica. No segundo caso,
porém, as provas matemáticas são construídas para serem aceites em qualquer
comunidade. Em ambos os casos, enfatizam Reid e Knipping (2010), deve-se fazer uso
de argumentações dedutivas.
Malkevitch (1998) propõe o estudo dos poliedros regulares. Sugere a utilização
de varetas (tipo palitos de churrasco, canudos) e bolas (de isopor, por exemplo). Com
isso, pretende estimular a investigação das relações possíveis entre as faces, as arestas e
os vértices (fórmula de Euler que, por sinal, é independente do fato do poliedro ser ou
não regular, pontua o autor).
78
provas resultam da atividade humana e que, portanto, eles são elementos importantes
nesse processo.
Villiers (2010) valoriza a experimentação e a intuição no processo de
aprendizagem matemática. Entretanto sublinha os perigos das abordagens pautadas
somente nessas dimensões. Segundo este autor, a intuição, em alguns casos, se
encarrega de conduzir os aprendizes à obtenção de resultados não generalizáveis e,
portanto, equivocados. Como exemplo ele cita a crença na diferenciabilidade de funções
contínuas que só foi contestada no século XIX pelo matemático Weierstrass. Em
virtude dessas armadilhas, o autor sublinha a importância das provas matemáticas e se
mostra preocupado com a retirada das mesmas nos níveis de escolaridade básicos. A
articulação entre a experimentação e o emprego do raciocínio formal-dedutivo constitui,
portanto, um dos grandes desafios durante a abordagem das demonstrações matemáticas
em sala de aula, destaca Villiers (2010): “Nossas certezas matemáticas não se assentam
exclusivamente no método lógico dedutivo ou na experimentação mas em uma saudável
combinação de ambos” (p. 216). Mammana e Villani (1998) também defendem a
articulação entre a experimentação e a abordagem formal destacando, porém, que o
tratamento rigoroso-dedutivo se revela inviável se não for precedido pela exploração de
elementos mais simples e intuitivos. Defendem, ainda, a inserção da álgebra como
elemento favorável à compreensão dos conteúdos geométricos.
Segundo Hershkowitz (1998) a importância do raciocínio dedutivo no
desenvolvimento intelectual dos discentes não inviabiliza o aparecimento de outras
abordagens no sentido de favorecer a compreensão dos estudantes acerca dos objetos
geométricos. Dentre tais abordagens, a autora indica a introdução de materiais
manipuláveis, o uso de softwares e o estudo associado ao contexto. Todavia, a tendência
em expor os conteúdos de forma demasiadamente contextualizada deve ser analisada
cuidadosamente, destaca Neubrand (1998a). Segundo este autor, é preciso estabelecer
uma conexão plausível entre a teoria que se pretende trabalhar e a “questão”
contextualizada proposta.
Uma das alternativas apontadas por Battista (2009) e Bixirão, Breda & Godino
(2011) na perspectiva de melhorar a formação dos alunos em Geometria também reside
na utilização de software interativo nas aulas de Geometria, como, por exemplo, o
Cabri. Clements (2003) endossa tais assertivas apontando que o software matemático
pode ser utilizado para a criação de conjecturas, para a verificação de determinados
resultados e para a exploração de determinado objeto geométrico. Viabiliza a construção
79
de variadas configurações para o mesmo conceito quanto ao tamanho, posição, rotação,
translação, etc. Além disso, o uso de software alimenta o lado motivacional da
aprendizagem tendo em vista que os estudantes estão cada vez mais utilizando o
computador para a realização de variadas tarefas.
Segundo Kinard e Kozulin (2008), os alunos devem ser orientados como
aprender matemática, como estimular o raciocínio lógico, como adquirir habilidades
matemáticas ao invés da simples aplicação de fórmulas e reprodução de procedimentos
automatizados. Durante a aplicação de uma atividade, em sala de aula, os alunos devem
ser conduzidos a planejar os processos de resolução, a refletir sobre as suas estratégias e
a fazer uma auto avaliação. Os professores devem preferir a investigação do “como” e
do “por quê” ao estudo de “o quê”. E, portanto, precisam ajudar os seus alunos a
refletirem dessa forma. Mais valoroso que a resposta de uma tarefa é pensar em formas
de obtê-la e o porquê de determinados caminhos serem mais viáveis que outros. Além
dessas questões, os autores destacam a necessidade de suprir os alunos com os pré-
requisitos necessários para a compreensão de determinado conceito no sentido de
fornecer-lhes as bases para avançar nos estudos.
Para que as alternativas apontadas possam apresentar resultados frutíferos é
necessário, e não suficiente, que o docente tenha domínio dos conteúdos de geometria
que se dispõe a ensinar (Pavanello & Andrade, 2002). Para esses autores, a correlação
entre a Geometria e outros domínios da Matemática ou outras áreas do conhecimento
devem estar presentes, sempre que possível. Quanto às ferramentas de apoio ao
professor no processo de ensino e aos alunos no processo de aprendizagem além do
uso de livros didáticos, Lorenzato (1995) sugere a utilização de vídeos, de coleções
paradidáticas e de softwares educacionais. Além de Lorenzato (idem), autores como
Rêgo, Rêgo e Vieira (2012) também defendem a utilização de materiais manipuláveis
no ensino de Geometria. Nenhum destes autores menciona, pelo menos de forma direta,
a utilização de histórias em quadrinhos no processo de ensino e aprendizagem de
geometria. A partir de agora, as discussões levantadas neste trabalho dialogarão com
essas questões: É possível que a literatura quadrinística ajude a ampliar o leque de
ferramentas didáticas que prestam serviço ao ensino e a aprendizagem de Geometria?
Que história em quadrinhos utilizar? Como? Onde? Quando? Tais indagações foram
balizadoras para a construção do próximo capítulo.
80
Capítulo 4
81
filmes e implantação de fóruns de discussões em ambientes virtuais de aprendizagem
também podem compor o armário dos recursos didáticos.
Nessa mesma estante podem ser colocadas as histórias em quadrinhos
abreviadamente conhecidas como HQs. Vistas inicialmente como uma literatura lúdica,
as HQs podem agregar outros valores aos momentos de entretenimento: São capazes de
levar informações de natureza cultural e científica aos ambientes escolares (Francis
Pelton & Pelton, 2009). Elas representam mais um recurso didático à disposição dos
docentes na medida em que ajudam a contribuir com a instrução dos discentes de uma
forma divertida e prazerosa. Essas idéias também são comungadas por Wright e
Sherman (2006), segundo os quais existem pesquisas que comprovam a aceitação da
literatura em quadrinhos por parte das crianças e adolescentes em idade escolar. De
acordo com Cho e Lawrence (2012), a utilização de histórias em quadrinhos em sala de
aula promove “o desenvolvimento de comunicações verbais e habilidades de escrita,
construindo persistência e criatividade na resolução de problemas e reforçando o
pensamento crítico.” (p. 1). O desenvolvimento do raciocínio crítico dos estudantes por
meio da leitura de HQs também é destacado por Marianthi, Boloudakis e Retalis (2007).
Destaca-se ainda, na leitura de HQs, a conexão entre informação e entretenimento.
Segundo Santos e Vergueiro (2012), a utilização de “atividades práticas a partir das
histórias [em quadrinhos] torna as aulas mais dinâmicas e o aprendizado mais
prazeroso” (p. 93). Entretanto, advertem Rezende e Silvério (2012), as HQs com fins
educacionais não podem ser reduzidas a literatura destinadas ao humor e à diversão.
Para além desses fatores, tratam-se de quadrinhos que divulgam “conteúdos
informativos e que propiciam difusão cultural das sociedades”(p. 260). Os contributos
aqui levantados quanto à utilização das HQs para propósitos educacionais já dão conta
de introduzir um debate sobre a articulação entre a literatura em quadrinhos e o processo
de ensino e aprendizagem de Matemática. Reflexões dessa natureza norteiam o
desenvolvimento deste capítulo.
Na próxima secção é feita uma breve descrição do processo de democratização
do ensino no Brasil e do papel do construtivismo na abertura dos espaços escolares a
novas ferramentas didáticas como jogos educativos e materiais manipuláveis. Nesse
mesmo contexto pode ser vislumbrada a entrada das HQs nas escolas. Em seguida, são
relatados os primeiros indícios de HQs criadas com finalidades educacionais. Em
82
tempo, há referências às menções feitas pelos documentos oficiais do Ministério da
Educação, do Brasil, acerca da inclusão da banda desenhada na sala de aula.
Neste capítulo são levantadas algumas reflexões de natureza metodológica e
referentes aos objetivos da aplicação da banda desenhada nas aulas de matemática são
levantadas. São listadas algumas HQs autorais ou comerciais que dialogam com o
ensino de Matemática. Discute-se a importância da utilização de tirinhas em discussões
realizadas em sala de aula no que tange o ensino e aprendizagem de Matemática. Por
fim, são apontados alguns sites da internet voltados para a confecção de HQ são
também mencionados.
14
Nos Estados Unidos, na França, na Itália e na Espanha, as histórias em quadrinhos são denominadas,
respectivamente, comics, bandes dessinées, fumetti e historieta. As HQs criadas no Japão são conhecidas
como mangás.
83
Durante o século XX ocorre no Brasil, ainda que de forma tardia, a expansão da
escola pública. Inicialmente institui-se a gratuidade do ensino primário e, somente, na
segunda metade do século assiste-se a ampliação da rede pública de ensino a qual, de
acordo com Pavanello (1993), passa a abarcar o ensino secundário. Enquanto isso, do
outro lado do Atlântico, em países como Prússia, Áustria, Alemanha e França, a
educação já havia se tornado dever do Estado desde o final do século XVIII (Cambi,
1999).
Com o crescimento da escolarização pública, os professores passaram a se
debruçar sobre a construção de um desenho metodológico de ensino que pudesse
contemplar a um número maior de estudantes. A Psicologia foi convidada a prestar
serviços à educação e o surgimento das escolas comportamentalistas, cognitivistas e
construtivistas assinala esse fato (Sprinthall Sprinthall, 1993). Tais empreendimentos
estavam circunscritos num contexto mais amplo que o brasileiro e passaram a exercer
influências nos modelos educacionais concebidos em vários países. Os seus contributos
foram, paulatinamente, incorporados em algumas escolas brasileiras.
Ao enxergar os alunos como protagonistas na sala de aula como propõe a
Escola Construtivista os professores puderam observar a forma como os discentes
gostam de estudar e, portanto, de aprender. Perceberam que a criança dedica maior
interesse e atenção aos assuntos cuja explanação aparece acompanhada de elementos
lúdicos. A partir daí, a utilização de jogos, a realização de brincadeiras e a leitura de
histórias em quadrinhos foram ganhando espaço na sala de aula. Diante do valor que as
histórias em quadrinhos podem agregar à sala de aula, enquanto ferramenta de apoio ao
trabalho docente, Toh (2009) levanta o seguinte questionamento: “Como muitos
estudantes costumam se divertir com a leitura de histórias em quadrinhos, por que não
utilizá-las no ensino de Matemática?” (p. 231).
Aplicar a banda desenhada nas aulas de Matemática, ou de qualquer outro
componente curricular, perpassa pela compreensão do valor didático dessa mídia.
Descrevê-la como uma ferramenta exclusivamente lúdica ─ no que diz respeito à
aprendizagem ─ significa minimizar o seu potencial educacional reduzindo-a à
condição de literatura periférica e, às vezes, descartável. Preconceitos da mesma
natureza a banda desenhada enfrentou por ocasião do seu aparecimento. O próprio
reconhecimento das histórias em quadrinhos enquanto expressão artística tardou a
acontecer. O italiano Ricciotto Canudo em seu Manifesto das Sete Artes, publicado em
84
1923, não as reconhecia como manifestação cultural (Covaleski, 2012). Neste
documento estavam inseridas as seguintes artes: Música, dança, pintura, escultura,
arquitetura, poesia e cinema. Somente no final da década de 70 do mesmo século, as
histórias em quadrinhos passaram a compor o seleto conjunto das atividades humanas
reconhecidas oficialmente como expressões artísticas e culturais. A partir de então
passaram a ser conhecidas como a Nona Arte (Upson & Hall, 2013; Vergueiro, 2005)
uma vez que coube à fotografia o título de oitava arte. O reconhecimento do valor
educacional das HQs, pelo menos no Brasil, só veio ocorrer duas décadas depois.
Não obstante a existência de algumas bandas desenhadas nos EUA com fins
educacionais, os anos cinqüenta do século XX assistiram, nesse país e em vários outros,
a uma guerra contra as HQs. Esses acontecimentos retardaram ainda mais a
consolidação das HQs como instrumentos de apoio ao professor. A essa altura, o
15
Chamamos de tiras o conjunto formado por três ou quatro quadrinhos utilizados para narrar alguma
história.
86
psiquiatra alemão radicado nos EUA, Fredric Wertham, publicou o livro Seduction of
the innocent (em português, Sedução do inocente) no qual apontava as histórias em
quadrinhos como um instrumento de alienação e de incitação à violência (Luyten,
2011a; Santos & Silva, 2011; Vergueiro, 2006). Essa publicação contaminou o
desenvolvimento da banda desenhada e corroborou a aversão de pais e professores à sua
entrada nas escolas. Nessa obra, Wertham assegurava que as HQs podiam oferecer
alterações nocivas ao comportamento de crianças e adolescentes como se a leitura de
histórias de terror, aventura e guerra pudesse deixar, necessariamente, os jovens
agressivos e alienados. Com isso, as revistas publicadas nos Estados Unidos foram
submetidas à censura fazendo com que alguns textos fossem redigidos mais de uma vez
até que pudessem ser publicados. Esse engessamento do poder criativo dos cartunistas
invadiu outros países sendo diluído quase duas décadas depois. No que concerne à
esfera educacional, Yang (2003, citado por Francis Pelton & Pelton, 2009) sublinha que
a retomada das HQs como ferramenta didático-educativa só veio a ocorrer de forma
substancial, nos EUA, a partir da década de 90 do século passado.
Ainda na segunda metade do século XX, muitos pais e mestres não acreditavam
na possibilidade de associar a aprendizagem de conteúdos mais rígidos e com certo
nível de abstração a literaturas cuja origem está relacionada à indústria do
entretenimento. Questionavam a viabilidade da associação da linguagem técnica de
certos conteúdos escolares com os códigos de comunicação que regem os textos das
HQs. Contudo, destaca Vergueiro (2006), esta questão aponta para a defesa da
utilização de HQs para fins educacionais e não o contrário. Segundo este autor, através
das HQs as “informações são absorvidas na própria linguagem dos estudantes, muitas
vezes dispensando demoradas e tediosas explicações por parte dos professores”(p. 22).
Luyten (2011a) reforça tais assertivas ao dizer que “as HQs ‘falam’ com eles [os
estudantes] de uma forma que entendem e, melhor que isto, se identificam”(p. 6).
Lovetro (2011) vai mais além ao se reportar à apresentação textual dos quadrinhos
como a linguagem do século. Essa caracterização decorre da sua coloquialidade e
capacidade de síntese as quais, segundo o autor, aproximam-se da linguagem
empregada em redes sociais como, por exemplo, o twitter.
Acontecimentos de natureza política, como a ditadura militar que se estendeu no
Brasil de 1964 a 1988, contribuíram com o engessamento das histórias em quadrinhos
que circulavam no país (Luyten, 2011a; Vergueiro, 2006). Como ocorrera na imprensa e
87
na indústria musical, as produções literárias deveriam ser desprovidas de qualquer
mensagem que fosse de encontro às aspirações do governo. De acordo com Santos e
Silva (2011), as HQs só conseguiram se reafirmar como literatura acessível e não
prejudicial à formação dos jovens no início dos anos 70. Nesse período, as revistas
genuinamente brasileiras começaram a ganhar visibilidade no país. Destinavam-se
prioritariamente ao público infantil, destacando-se, em particular, as histórias da Turma
da Mônica16, "o maior sucesso editorial das HQs brasileiras" (Santos Silva, 2011, p.
26), de autoria de Maurício de Sousa. Nesse período, assinala Andraus (2006), as
vendas de HQs "em bancas brasileiras eram profusas, tanto os títulos estrangeiros, como
os nacionais" (p. 203). A partir dos anos 90 do século passado, destaca Luyten (2011b),
houve a publicação de HQs, não necessariamente de Maurício de Sousa, com conteúdos
diversos não atendendo somente às necessidades do público infantil. As HQs estavam
avançando em complexidade e profundidade.
16
De acordo com Lovetro (2011), as histórias da Turma da Mônica surgiram, no Brasil, nos anos 60 do
século passado.
88
ampliar os tipos de literatura ao alcance dos discentes. Anchieta (2011) destaca que
além de prestar um serviço ao ensino de Matemática, as histórias em quadrinhos
colaboram com o processo de letramento dos alunos.
As HQs também ajudam a desenvolver, nos leitores, a capacidade de
interpretação de textos. De acordo com Upson e Hall (2013), a leitura desse tipo de
mídia força os leitores a preencherem as lacunas existentes entre os quadrinhos,
completando as informações que não foram ditas de forma explícita no texto.
Segundo Morrison, Bryan e Chilcoat (2002) as HQs favorecem a inserção de
elementos da cultura popular na formação escolar dos estudantes; tornam esses atores
mais críticos; além de propiciar a articulação entre os conteúdos escolares e as
experiências sócio-culturais dos estudantes.
A despeito de todos os contributos das HQs ao processo educativo dos
estudantes, no Brasil, até a década de 1980, a utilização da banda desenhada em sala de
aula não era sequer cogitada ou, se ocorria, não era amplamente divulgada. De acordo
com Andraus (2006), "com a pouca penetração das histórias em quadrinhos no sistema
educacional, ainda com o agravante de elas terem sido consideradas perniciosas à
educação, restava às crianças, principalmente, lê-las como prazer descompromissado"
(p. 204). Somente na última década do século XX, com a democratização política do
país, ocorre também uma abertura dos espaços escolares para a entrada de outras mídias
educativas. Nesse contexto, as histórias em quadrinhos passam a ser apontadas como
uma literatura relevante na formação dos estudantes.
89
Curriculares Nacionais (PCNs)17 e o Programa Nacional da Biblioteca Escolar (PNBE)
instituídos algum tempo depois também consentem, de forma mais direta, o manuseio
da Nona Arte enquanto recurso didático.
17
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem em uma série de orientações/sugestões apontadas
pelo Ministério da Educação quanto ao ensino das mais diversas unidades curriculares que compõem a
Educação Básica.
90
Segundo Bahia (2012), a não linearidade na quantidade de HQs selecionadas
decorre da ausência, no PNBE, de "uma agenda específica de incentivo às HQs. Os
critérios de adoção de um título são pautados por suas qualidades artísticas, não pelo seu
gênero" (p. 347). Consequentemente, pondera o autor, "os livros de histórias em
quadrinhos concorrem em pé de igualdade com muitos outros gêneros numa competição
acirrada para a composição do acervo final" (p. 347).
De acordo com Setubal e Rebouças (2015), 29 das 360 obras selecionadas pelo
PNBE de 2013 são HQs, o que corresponde a aproximadamente 8% do total. Dentre as
HQs selecionadas, quase 70% delas correspondem a adaptações de obras literárias de
escritores como Machado de Assis, Guimarães Rosa e até mesmo William Shakespeare,
destacam as autoras. Com efeito, ao longo desses anos, as HQs selecionadas tratam-se
de adaptações de clássicos da literatura, em geral brasileira (Bari & Vergueiro, 2009;
Setubal & Rebouças, 2015; Yagamuti, 2014), além de ficções, romances ou histórias
ligadas ao folclore (Setubal & Rebouças, 2015) ou à mitologia (Vergueiro, 2008, citado
por Bahia, 2012). Alguns trabalhos de cartunistas renomados no país, como Maurício de
Sousa e Ziraldo, também costumam ser contemplados. Nenhum dos títulos escolhidos
contempla, pelo menos de forma direta, conteúdos ligados ao ensino de Matemática. A
despeito dos avanços quanto à entrada das HQs no ambiente escolar, o reconhecimento
do seu potencial como instrumento de formação e transmissão de conhecimentos
matemáticos parece ainda um projeto embrionário.
93
É possível também utilizar, em sala de aula, HQs já prontas retirando-lhes a
parte textual para que os alunos a complete (Rosa, Pazuch & Silva, 2012; Santos &
Vergueiro, 2012). O contexto e os objetivos que o docente pretende alcançar poderão
dizer-lhe qual é a melhor alternativa. Esse fio faz parte de uma rede constituída também
por outros elementos como a concepção da história, a construção do enredo, a escolha
dos personagens, a seleção dos cenários e etc. Além disso, deve-se escolher a mídia que
será utilizada para esse fim: Algum site, software ou simplesmente, o desenho a mão
livre.
Francis Pelton e Pelton (2009), Kessler (2009), Pereira (2010) e Marianthi
Marianthi, Boloudakis e Retalis (2007) sugerem que as HQs sejam confeccionadas
pelos próprios estudantes. Podem ser construídas antes ou depois da exposição dos
conteúdos em sala de aula.
Quando construídas antes da exposição dos conteúdos, as HQs permitem ao
professor identificar os conhecimentos prévios dos alunos (Pereira, 2010). Quando
confeccionadas após a explanação dos assuntos em sala, as HQs podem ser usadas para
retratar alguma situação-problema e as suas possíveis. Através dessas histórias, os
discentes podem fornecer ao professor um feedback acerca dos assuntos abordados. O
resultado poderá ser uma obra menos engessada à medida que apresenta os conteúdos
matemáticos a partir da visão dos estudantes. Segundo Francis Pelton e Pelton (2009), a
criação de HQs pelos estudantes permite-lhes compartilhar os conhecimentos adquiridos
com os seus pares e com o professor à medida que apresentam a forma como
assimilaram o conteúdo. Além disso, desenvolve-lhes a capacidade de síntese textual
(Luyten, 2011a), tornando-os mais ativos e envolvidos com a própria aprendizagem.
O processo de construção das HQs pode promover diversão e desafios à
aprendizagem, destaca Pereira (2010). Ao tornar o estudante o autor da própria HQ,
pontuam Francis Pelton e Pelton (2009), potencializa-se a motivação à aprendizagem ao
mesmo tempo em que ocorre o desenvolvimento da literacia e da criatividade do aluno.
Possivelmente alguns ajustes deverão ser feitos nas histórias, mediados pelo professor.
O resultado final deve, porém, preservar a subjetividade, a criatividade e outras
características pessoais dos alunos-autores.
94
4.4 HQs que abordam temas matemáticos
Como já foi dito neste texto, a aceitação da Nona Arte como recurso auxiliar a
atividade docente também se deu de forma lenta. O preconceito e o modelo de ensino
grafado exclusivamente no livro didático retardaram a inclusão das HQs na sala de aula.
Em muitas unidades escolares ainda não há iniciativa alguma nessa direção. Segundo A.
Smith (2006), o potencial educacional das HQs ainda é ignorado por muitos educadores.
No que se refere ao ensino de Matemática, as iniciativas adotadas pelos professores
envolvendo a utilização de histórias em quadrinhos parecem ínfimas. Se as mesmas
existem não têm sido amplamente divulgadas à comunidade acadêmica durante os
congressos e eventos da área. Os registros de dissertações e teses elaboradas em
programas de Pós-Graduação em Educação Matemática, no Brasil, apontam essa
insuficiência. Ao fazer um levantamento desses trabalhos ─ disponíveis nas bases de
dados on-line dos quarenta e quatro programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Ensino de Matemática18 ─ é possível encontrar apenas cinco dissertações de Mestrado
que versam sobre o assunto. Os trabalhos de Anchieta (2011), Balladares (2014), L.
Silva (2010), Patrocínio (2012) e L. Santos (2014) fazem parte dessa estatística. Há
também referências à utilização da banda desenhada no ensino de Matemática nas
produções acadêmicas desenvolvidas em programas de Pós Graduação em Educação
existentes no país. A investigação relatada por N. Santos (2011) em sua dissertação de
mestrado configura um desses exemplos.
Os documentos oficiais do Ministério da Educação, no Brasil, consentem a
utilização de HQs em sala de aula, mas não a relaciona ao ensino de matemática. O
PNBE não contempla HQs que apresentam conteúdos matemáticos. A ausência de
histórias em quadrinhos no acervo do PNBE destinadas ao ensino e aprendizagem de
18
A relação com os nomes de todos os programas de Pós Graduação em Educação Matemática existentes
no Brasil pode ser encontrada na página da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), a saber: http://conteudoweb.capes.gov.br (último acesso em 28 de setembro de 2015).
Dos quarenta e quatro cursos, dois não disponibilizaram em rede aberta, até o último acesso, seus bancos
de dissertações e teses: O programa de Pós Graduação em Educação Matemática da Universidade
Bandeirantes (UNIBAN) e o programa de Pós Graduação em Matemática e Ensino de Física da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Não foi possível verificar a ocorrência de trabalhos
elaborados por alunos desses programas que versam sobre o uso de HQs no ensino de Matemática.
95
Matemática faz emergir algumas questões: Esses títulos existem?19 Há cartunistas ou
autores de livros didáticos cuja obra assinala, em algum momento, a mediação entre a
Nona Arte e a Matemática? Se essa literatura existe por que não é utilizada nos
ambientes escolares? As duas primeiras questões apresentam resposta positiva conforme
será visto a seguir. A terceira questão será retomada ao final desta secção.
Figura 4.1. Chico Bento realizando a operação de divisão entre números naturais
Fonte. "O segredo" de M. Sousa, 2002, Chico Bento, n. 392, p.25
19
Como já foi comentado neste texto, tais HQs podem ser confeccionadas por professores ou alunos. A
questão que se coloca refere-se à existência de HQs comerciais voltadas para a aprendizagem de
Matemática.
96
localidades afastadas dos grandes centros com o desejo de construir um texto permeado
por elementos regionais (por exemplo, as palavras "pru que", "cum", "rear" e "intonci"
são utilizadas para significar, nessa ordem, "por que", "com", "real20"e "então"). A
linguagem informal sobressai e, em alguns momentos, as normas da gramática são
deixadas de lado. Segundo Vergueiro (2006), "as histórias em quadrinhos são escritas
em linguagem de fácil entendimento, com muitas expressões que fazem parte do
cotidiano dos leitores" (p. 22). Pode ocorrer a presença de gírias ou de expressões
próprias do coloquialismo da linguagem oral. Nesses casos, ao mediar as discussões
junto aos seus alunos, cabe ao professor fazer um contraponto entre a linguagem
cotidiana, frequentemente utilizadas nas HQs, e a linguagem compatível com a
gramática normativa.
20
A moeda adotada no Brasil chama-se Real.
97
pelos seus predecessores. Os temas presentes na HQ podem ser facilmente
compreendidos pelos estudantes do ensino fundamental e médio.
L. Santos (2014) defende a ideia de se utilizar as HQs como ferramentas
didáticas para a exposição de episódios da história da Matemática, sobretudo aqueles
vinculados ao desenvolvimento da Geometria. Ao constatar que nas seis escolas que
visitou ─ todas na região central da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul ─ os
professores, em sua maioria, não conseguiam ministrar nem cinqüenta por cento dos
conteúdos de Geometria previamente indicados pelos PCNs, o autor propôs a utilização
das HQs como ferramenta didática adicional ao trabalho docente. Para ele, a banda
desenhada agrega motivação e ludicidade à aprendizagem e possui aderência no que
compete à explanação de fatos da história da Geometria. Embora não façam referência a
utilização das HQs para tratamento de temas da história da Matemática, Cho e
Lawrence (2012) também destacam o caráter motivacional da utilização da literatura
quadrinística em sala de aula.
A história da Geometria reúne elementos suficientemente interessantes que
poderiam ─ e podem ─ ser contados por meio da Arte Sequencial. A elaboração da obra
Os Elementos de Euclides (Eves, 2008), a sua estrutura axiomática, a escolha dos
postulados, os assuntos que competem a cada um dos seus treze livros e etc.
possibilitam a construção de um enredo capaz de mexer com a curiosidade dos alunos
quanto às origens da Geometria que se vê na escola. Em particular, a polêmica
provocada pelo Axioma das Paralelas representa também o fio condutor de uma história
envolvente que desencadeou no surgimento das chamadas Geometrias Não Euclidianas
(Barbosa, 2008). Constituem episódios históricos cuja apresentação em forma de HQs
parece viável e cativante. Experiências dessa natureza foram desenvolvidas por Ribeiro,
Santos e Ferreira (2012) em uma turma do ensino médio no município de Terra Boa, no
Paraná. Por meio de uma HQ elaborada por esses autores21 ocorreu a apresentação de
alguns fatos relacionados ao surgimento da Geometria Hiperbólica22. As entrevistas
realizadas com os alunos após a aplicação das HQs revelaram que os discentes aprovam
21
A história em quadrinhos foi produzida na homepage Bitstrip for School, versão Trial, disponível
através do endereço www.bitstripsforschools.com.
22
O quinto axioma de Euclides, conhecido também como o Axioma das Paralelas, assegura que por um
ponto fora de uma reta passa uma única paralela à reta dada. A Geometria obtida a partir dos quatro
primeiros axiomas e da negação do quinto a qual garante a existência de pelos menos duas retas paralelas
a uma reta dada passando por um ponto fora dela recebe o nome de Geometria Hiperbólica.
98
metodologias de ensino que associam textos e imagens. Estas últimas, segundo
Afrilyasanti e Basthomi (2011), ajudam os alunos a compreenderem melhor o contexto
em que se passa a história retratada na HQ. Além disso, destacam esses autores, as
imagens tendem a ficar registradas na memória de quem as vê.
23
Além da publicação voltada para a aprendizagem de geometria, a coleção Pra que serve a Matemática?
contém volumes que versam sobre outros temas: Frações e Números Decimais; Álgebra; Equações do 2º
grau; Semelhança de triângulos; Proporções; Números Negativos; e Estatística. São trabalhos bem
ilustrados que dialogam com a arte quadrinhística.
100
Para calcular o raio da Terra, Erastóstenes utilizou o instante em que o sol
ficava a pino em Assuã (o momento em que as pessoas não viam as suas próprias
sombras) o que não ocorria, simultaneamente, em Alexandria conforme revela a Figura
4.4. Além disso, Erastóstenes utilizou o fato de serem paralelos os raios solares
conforme se pode ver em outros trechos da história. Assim como o raciocínio utilizado
por esse matemático, as demais narrativas presentes na HQ intercalam textos e imagens
através de personagens que dialogam com o leitor por meio de balões, em um processo
semelhante ao utilizado nas narrativas em quadrinhos.
4.4.5 Logicomix
A narrativa, cujo excerto aparece na Figura 4.5, inicia-se sob os tons sombrios
da Segunda Guerra Mundial. À época o matemático Bertrand Russel começa a aparecer
na história e destaca-se pelos contributos deixados à lógica proposicional. Outros
matemáticos também importantes como George Boole, Georg Cantor, Henri Poincaré e
David Hilbert são mencionados na HQ. A Nona Arte empresta a sua beleza para
101
apresentar aos leitores a importância que a arrumação sistemática do pensamento, a
consistência lógica, o Princípio da Não Contradição e os processos de demonstrações
matemáticas têm na vida dos amantes dessa Ciência. Mais que lições sobre os
fundamentos da Lógica Matemática, Logicomix oferece um passeio pela história da
Matemática presente na primeira metade do século XX.
102
formato de HQs (Upson & Hall, 2013)24. Também em formato de mangá, Takahashi,
Inoue e Co (2012) apresentam alguns conceitos da álgebra linear como matrizes,
vetores, espaço vetorial, dimensão, transformação linear por meio do Guia Mangá
Álgebra Linear. Apesar dos trabalhos de Kojima, Togami e Co (2010), Takahashi,
Inoue e Co (2012) e Doxiadis e Paradimitriou (2013) serem mais viáveis em turmas do
ensino superior, em particular nos cursos de Licenciatura em Matemática, o “uso de
quadrinhos na formação do futuro professor de matemática ainda é embrionário”
(Pereira, 2010, p. 8), pelo menos no contexto brasileiro.
24
Segundo Luyten (2011), porém, esse número atinge a marca de 25% das publicações japonesas.
25
Os textos presentes na figura 4.8 estão traduzidos abaixo de acordo com a ordem em que aparecem na
tirinha, isto é, da esquerda para a direita. Os personagens estão denotados por P1 e P2. O autor tenta fazer
um trocadilho com os significados da palavra right usada tanto para se referir ao ângulo reto (ângulo
“correto”) quanto para expressar o fato de estar correta determinada ideia.
26
A palavra inglesa cartoon ganhou um neologismo no Brasil, cartum, em 1964, na revista Pererê de
Ziraldo (Rabaça & Barbosa, 1987, citados por Silveira, 2002). Segundo Andraus (2006), cartoon é o
"suporte onde eram feitos os desenhos ingênuos e descompromissados de humor, para serem inseridos
nos jornais em seus primórdios" (p. 188).
104
Tabela 4.1
27
Trabalhos de outros autores podem ser encontrados nas seguintes páginas:
http://www.csun.edu/~hcmth014/comicfiles/allcomics.html
http://w3.impa.br/~jgomes/comics/comics.html
http://www.lukesurl.com/tags/mathematics
106
4.5.1 Álgebra em cartoons
Fonte. "Use of cartoons and comics to teach algebra in mathematics classroom" de T. L. Toh,
2009, Mathematics Of Prime Importance: MAV Yearbook, p.234
28
Na última secção deste capítulo é ampliada a discussão acerca da utilização de cartoons no processo de
aprendizagem matemática.
29
A linguagem verbal adotada na tirinha faz uso da língua inglesa. A palavra for e a expressão I give
more significam, respectivamente, em português, “por” e “Eu dou mais”.
107
a tornar-se necessárias como se pode ver nos dois últimos quadrinhos. É uma boa
oportunidade de introduzir o tratamento algébrico à luz de episódios do cotidiano.
30
O clock-6 system pode ser entendido como o conjunto Z6, isto é, grupo dos inteiros módulo 6 (Garcia
& Lequian, 2003). Analogamente, o clock-12 system corresponde ao grupo dos inteiros módulo 12.
31
Os textos presentes na figura 4.9i podem ser traduzidos da seguinte forma, de acordo com a ordem em
que aparecem na tirinha:
“Para resolver x + 4 = 1 no sistema clock , eu devo adicionar o inverso de 4 em ambos os lados para
eliminar o 4”.
“Como o inverso de 4 é 2, eu adicionarei 2 em ambos os lados”.
“Desde que 4 + 2 = 0 no sistema 6-clock, então x = 3”.
108
Figura 4.9. Adição em clock 6-system
12
Fonte. Impact mathematics: Algebra and more de Education Development Center, 2005, p.222
32
Caso optem, na universidade, pelos cursos de Licenciatura ou Bacharelado em Matemática.
109
Figura 4.10. A noção de paralelismo ao aprender a dirigir
13
110
Figura 4.11. Tiras de O Menino Maluquinho de Ziraldo
14
Como se pode perceber através da Figura 4.11, com apenas três quadrinhos e
com a leveza que lhe é peculiar, Ziraldo consegue explicar o que são grandezas
inversamente proporcionais.
Ao pedir que seu companheiro Eddie Sortudo conte até dez, Hagar
provavelmente imaginou que ele o fizesse dentro do universo dos números naturais.
111
Mas, por outras razões ─ que competem à interpretação do leitor ─ ele resolveu
trabalhar em outro subconjunto dos números reais.
112
Quanto à metodologia empregada no que tange à utilização dos cartoons nos
ambientes escolares, algumas alternativas se revelam promissoras: A análise e a
discussão, em sala de aula (Beluco, 2000; Costa et. al., 2013) ou a confecção dos
cartoon pelos próprios discentes (Costa et. al., 2013; Trnova, Trna & Vacek, 2013). No
primeiro caso, sublinha Beluco (2000), o docente deve levar os alunos a explorarem ao
máximo as informações existentes nos cartoons ao invés de encará-los como um
simples passatempo. Ao utilizar esse tipo de mídia é importante concebê-lo como uma
fonte de discussão, reflexão e aprendizagem. A princípio, recomenda o autor, deve-se
contextualizar a história apresentada. Em seguida, explorar a matemática ali presente e,
por fim, inferir sobre o problema ou situação expostos. No segundo caso, apontam
Trnova, Trna e Vacek (2013), os estudantes deverão “estudar as informações
necessárias ao criar textos inserido-os em ‘balões de fala’ e devem formular declarações
curta e significativa e cientificamente corretas” (p. 239). Ao criaram os seus próprios
cartoons, os discentes podem ser estimulados a representar uma aplicação do conteúdo
trabalhado numa situação da vida real, pontuam os autores.
114
texto nos balões dificultando a leitura e, consequentemente, a assimilação do conteúdo"
(p. 25). Segundo a autora, a linguagem coloquial é aquela comumente utilizada.
As HQs com fins educacionais também podem ser construídas numa perspectiva
mais fictícia por meio de histórias que envolvem super-heróis, duendes, bruxas e etc. É
o caso de uma HQ confeccionada por discentes do curso de Licenciatura em
Matemática da Universidade Federal da Bahia ingressantes em 2012: Geo Rangers na
33
Malba Tahan é um pseudônimo do matemático brasileiro Júlio César de Melo e Sousa.
115
pirâmide euclidiana (Assis & Araújo, 2015). Nessa HQ, os Geo-Rangers são os super-
heróis que corrigem os equívocos presentes em livros de geometria plana euclidiana. De
acordo com Assis e Araújo (2015), “construir essa história levou os estudantes a
compreender a sequência lógica que fundamenta os resultados matemáticos ali
contemplados”(p. 4). As HQs produzidas por outros alunos, na pesquisa desenvolvida
por Assis e Araújo (2015), também seguiram uma perspectiva ficcional.
Conforme exposto, na elaboração de uma HQ com fins educacionais o autor
pode-se apropriar de alguma realidade que tem conhecimento ou criar situações fictícias
para oxigenar a história. Ainda que a sua Nona Arte seja acolhida em diversos
ambientes educacionais ─ escolas rurais, colégios dos grandes centros urbanos, escolas
de comunidades indígenas e etc. ─ ela será aproveitada com maior intensidade em
alguns contextos em detrimento de outros. Os seus personagens, o enredo e os cenários
podem se relacionar de forma mais adequada com a realidade cultural de uma parte do
país que de outra. Essas questões reforçam a necessidade de, em alguns casos, os
docentes criarem as suas próprias narrativas. Uma reflexão a respeito do tipo de história
que se entrelaça com a cultura da comunidade do entorno é um bom ponto de partida.
Em alguns casos, pode-se chegar a conclusão de que os alunos preferem aprender certos
conteúdos escolares por meio de enredos extremamente fictícios e sem relação alguma
com a realidade social na qual se inserem. Em outros, a tônica da história pode advir da
cultura cotidiana (a linguagem da comunidade, os seus valores, seus costumes, o
folclore e etc.). Nessa abordagem, a gênese da história pode estar nas músicas que os
alunos ouvem, nos esportes que praticam, nos programas de televisão que assistem, no
bairro onde moram, na academia que freqüentam, ou seja, em realidades que circundam
o dia a dia deles. Santos e Silva (2011) interpelam a comunidade escolar a redigir as
suas próprias histórias, seus próprios textos acadêmicos:
116
às HQs comerciais na segunda metade do século passado, no Brasil e em outros países
como os Estados Unidos da América (Vergueiro, 2006). Trata-se apenas de banir toda
forma de discriminação. Nesse sentido, questões de interesses pessoais – religião,
política, orientação sexual ─ precisam ser cuidadosamente ponderadas. Embora não
exista neutralidade na obra de qualquer pessoa ─ inclusive, professor, aluno, pais e etc.
─ a banda desenhada para fins didáticos deve prestar um serviço à propagação do
conhecimento escolar-acadêmico-científico e não favorecer à divulgação de ideologias
políticas, raciais, religiosas ou de qualquer outra natureza (a menos que seja no intuito
de promover o respeito à diversidade).
34
Esse problema pode ser contornado através da utilização de softwares ou sites destinados à confecção
de HQs como será visto em outra secção deste capítulo.
117
elementos para dar vida à sua própria história. Houve HQs sobre decomposição de
números naturais em fatores primos e sobre perímetro de figuras planas, dentre outros
assuntos. Segundo o autor, a criação das HQs proporcionou a diminuição da resistência
dos discentes à Matemática. Pontua também que as HQs reduzem as barreiras entre os
estudantes e a prática da leitura. Segundo o autor "as imagens falam" (p. 46) e a sua
presença maciça nas HQs torna essa mídia mais atraente que os livros didáticos, pelo
menos para as crianças.
A dificuldade com a criação de desenhos pode ser contorna através da utilização
de sites ou softwares destinados à confecção de HQs como será visto a seguir.
35
Os sites ou softwares mencionados não limitam à criação de HQs destinadas à aprendizagem de
Matemática. Antes, em particular, podem também ser adotados para esse fim.
36
Todos os endereços eletrônicos mencionados têm como último acesso, no que diz respeito à produção
deste texto, o dia 02 de maio de 2016.
118
Tabela 4.2
5
Editores de HQs
HagáQuê http://www.nied.unicamp.br/?q=content/hagaque
Stripcreator http://www.stripcreator.com
Stripgenerator http://www.stripgeneretor.com
Toondoo http://www.toondoo.com
A seguir são descritos, com um pouco mais de detalhes, três mídias citadas na
Tabela 4.2: O Goanimate, o HagáQuê e o Toondoo. O uso dos outros editores presentes
na mesma tabela pode ser feito a partir de tutoriais disponibilizados em páginas da
internet.
Goanimate
119
motivação dos alunos em parte impulsionado pelas ferramentas do próprio Goanimate
que possibilitam dar movimentação e atribuir sons aos seus personagens.
HagáQuê
Toondoo
123
124
Capítulo 5
37
Amargosense e soteropolitano são palavras usadas para designar as pessoas que nascem,
respectivamente, nas cidades de Amargosa ou Salvador.
126
Aqui serão apresentados os demais instrumentos de recolha de dados como
questionários, entrevistas, diário de bordo além de gravações de áudio.
A dinâmica da intervenção junto à turma será detalhada mais à frente, neste
capítulo. Centrou-se, resumidamente, na aplicação das HQs, em duplas, seguida de
discussão coletiva acerca dos seus conteúdos. Somente após essa etapa, eram entregues
aos participantes as atividades mencionadas no parágrafo anterior. As atividades eram
devolvidas ao investigador que as utilizou para identificar o tipo de raciocínio
geométrico dos estudantes após a leitura da banda desenhada.
A pesquisa desenvolveu-se a partir do paradigma qualitativo de investigação
tendo o estudo de caso como modelo metodológico. Os elementos que justificam essa
escolha são apresentados nas próximas três seções deste capítulo. Em seguida, são
apresentados o delineamento da investigação, os instrumentos de recolha de dados, o
método adotado para analisá-los e, por fim, são desenvolvidos alguns comentários
acerca da qualidade científica da investigação.
128
investigação qualitativa que favorecem a compreensão da dinâmica vivida pelos sujeitos
investigados.
Estudar os acontecimentos que emergem no interior das salas de aulas, muitas
vezes, requer o estreitamento das relações entre o investigador e os demais
participantes, sejam estes últimos os alunos, professores, pais, diretores e etc. Tentar
compreender a forma como os participantes enxergam a realidade ao seu redor é uma
tarefa constante do pesquisador qualitativo. Essas considerações dialogam com o as
idéias de Chizzoti (2003), segundo o qual “o termo qualitativo implica uma partilha
densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse
convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção
sensível” (p. 221). A proximidade entre o investigador e os seus objetos de estudo é, de
fato, uma condição necessária para a realização de uma pesquisa qualitativa, pontua
Goldenberg (2004). Segundo esta autora, “como a realidade social só aparece sob a
forma como os indivíduos vêem este mundo, o meio mais adequado para captar a
realidade é aquele que propicia ao pesquisador ver o mundo através ‘dos olhos dos
pesquisados’” (p. 27).
O paradigma hermenêutico38 não se apoia exclusivamente na busca de
regularidades, embora os padrões também possam ser identificados e explorados ao
longo da pesquisa. Caso existam, os padrões favorecem a construção da teoria por meio
do investigador que a formula a partir dos dados que emergem da própria investigação.
As singularidades também merecem destaque e a elas também se destinam os olhares
dos pesquisadores qualitativos. Conforme assinala Coutinho (2013), “numa
investigação qualitativa não se aceita a uniformização dos comportamentos, mas a
riqueza da diversidade individual” (p. 29). E para além da identificação dos
comportamentos e elementos observáveis sobre os participantes, este tipo de paradigma
de pesquisa “trata-se de investigar idéias, de descobrir significados nas ações
individuais e nas interações sociais a partir da perspectiva dos atores intervenientes no
processo” (p. 28). Ao optar, nesta pesquisa, pelo paradigma qualitativo o investigador
buscou aproximar-se dos participantes tentando estabelecer de confiança e de constante
interação.
38
O paradigma qualitativo também é conhecido como hermenêutico, naturalista ou construtivista.
129
5.2 A pesquisa qualitativa em educação matemática
39
A Prova Brasil é uma avaliação instituída pelo Ministério de Educação brasileiro desde 2005 tendo
como objetivo avaliar a qualidade do ensino de Língua Portuguesa e Matemática ofertado nas escolas
públicas da rede básica de ensino.
O ENEM, embora possua algumas das finalidades presentes na Prova Brasil, distingue-se desta última por
contemplar todas as grandes áreas do conhecimento da educação básica além de ser aplicado tanto aos
estudantes das escolas públicas quanto das escolas particulares. Foi instituído em 1999 e onze anos depois
passou a ser adotado como instrumento de seleção dos candidatos ao ensino superior em diversas
universidades brasileiras. Atualmente esta última parece ser a sua principal finalidade.
O Pisa é um programa internacional de avaliação dos estudantes aplicado em diversos países, inclusive no
Brasil. Tem como finalidade aferir a qualidade da educação básica obrigatória ofertada nos países
participantes.
130
Matemática podem ser elucidados e o investigador poderá, numa atitude conjunta com
os indivíduos observados, considerar alternativas que possam tornar a Matemática mais
inteligível. Essa concepção de investigação dialoga com o paradigma qualitativo e está
cada vez mais presente entre os educadores matemáticos.
No Brasil, destaca Borba (2004), tem-se assistido a um crescimento das
pesquisas em educação matemática assentadas numa matriz qualitativa. Um
levantamento que este autor fez das pesquisas produzidas nesta área, no país, aponta
para a existência de elementos que as aproximam da investigação qualitativa como a
não neutralidade do investigador, o construção da teoria a partir da experiência em
campo à luz dos referenciais teóricos adotados pelo investigador e a busca de
compreender a realidade sob a ótica dos sujeitos observados. Em Portugal também há
um predominância das investigações qualitativas nas pesquisas em Educação
Matemática. Segundo Ponte (2008), os trabalhos produzidos pelas três grandes linhas de
pesquisa dessa região de inquérito – ensino e aprendizagem de Matemática, estudos
acadêmicos e formação de professores – refletem a predominância epistemológica e
metodológica do paradigma hermenêutico.
131
Um caso pode ser uma pessoa, um grupo, uma instituição ou até mesmo
acontecimentos, atitudes ou incidentes (Coutinho, 2013). Cabe, porém, estabelecer uma
distinção entre um caso e um fenômeno. De acordo com Gall et al. (1996), o primeiro é
utilizado para melhor compreender o segundo. Em outras palavras, um fenômeno é
constituído por uma multiplicidade de fatores e o caso representa uma desses fatores.
Nesta pesquisa, a aprendizagem de Geometria por meio de HQs é o fenômeno de
interesse. O caso estudado é constituído por uma turma de alunos do 1º ano do curso de
Licenciatura em Matemática da UFRB, ingressantes no ano de 2014.
Na UFRB anualmente são ofertadas cinquenta vagas para a entrada de novos
alunos no curso de Licenciatura em Matemática. Este curso é oferecido na cidade de
Amargosa, situada a 240 km de Salvador, a capital do estado da Bahia. Geralmente
essas vagas são preenchidas por estudantes que residem na própria cidade de Amargosa
ou nos municípios adjacentes. Em alguns casos, a Licenciatura em Matemática não
representa o real curso de interesse dos estudantes que têm chegado ao campus de
Amargosa. Não é raro perceber que alguns deles fazem essa escolha por não haver outro
curso no campus que lhes desperte maior interesse. Outro fator que precisa ser
ponderado refere-se ao processo de seleção à universidade. No Brasil, grande parte das
universidades públicas, entre elas a UFRB, adotou a nota do ENEM como critério de
seleção. O Ministério da Educação implantou o Sistema de Seleção Unificada,
conhecido como SISU, que permite aos estudantes, após a divulgação da sua nota no
ENEM, identificar o curso (e a universidade) que poderá cursar em virtude do conceito
numérico alcançado na prova. Desta forma tem sido comum a presença de estudantes no
curso de Licenciatura em Matemática da UFRB que fizeram essa opção mais inclinados
pela nota que obtiveram no ENEM do que por uma vontade genuína de se graduar em
Matemática. Os reflexos desse tipo de escolha se revelam através do índice de evasão
presentes no curso. Inevitavelmente, compreender o comportamento dos discentes que
compõem o caso deste estudo perpassa pelo entendimento e pela identificação dos
elementos motivacionais que fizeram com que esses alunos optassem pelo curso de
Licenciatura em Matemática.
A formação matemática prévia dos discentes que compõem o caso estudado
exerce um papel fundamental sobre a análise dos dados coletados na investigação. A
relação desses estudantes com a Geometria Axiomática na universidade também pode
ser compreendida a partir do tipo de contato que tiveram com as justificações em
geometria durante a escolaridade básica. A apresentação e explanação do componente
132
curricular Geometria Plana por meio de histórias em quadrinhos pode ser favorecido
(ou desprestigiado) dependendo do papel que as HQs exerceram ao longo da vida dos
estudantes. O hábito de ler e o interesse pela formalização em Matemática também
podem influenciar na aplicação dos instrumentos (HQs) bem como a própria estrutura
das histórias.
As origens familiares dos estudantes observados, o nível sócio econômico de
cada um deles, a faixa etária, o tempo que dispõem para os estudos, a necessidade que
eles têm (ou não) de trabalhar, as atividades de lazer que gostam de desenvolver e etc.
ajudam a constituir as características peculiares do grupo investigado acentuando as
restrições impostas às possíveis generalizações da pesquisa. As vantagens da utilização
de HQs na aprendizagem de Geometria, investigadas nesta pesquisa, possivelmente
poderão não ser obtidas por ocasião da utilização dessa ferramenta em outros grupos,
sobretudo àqueles com características bem distintas do grupo aqui investigado.
Conforme destaca Stake (1995) que “não se estuda um caso para compreender outros
casos, mas para compreender o caso” (p. 4). Entretanto, as fragilidades apresentadas
pelas HQs enquanto instrumento de apoio à aprendizagem constituirão os norteadores
de reformas na banda desenhada e de aprimoramento dos elementos identificados nela
como fatores desfavoráveis à aprendizagem. De fato, ao identificar os problemas que
permearam a aplicação das HQs o investigador, ou qualquer outra pessoa que tenha
acesso aos dados apresentados, buscará contorná-los antes de trabalhar novamente com
HQs em sala de aula.
Os estudos de caso não se constituem enquanto metodologia de investigação de
cunho experimental como comumente ocorre nas pesquisas realizadas nas Ciências
Exatas e da Natureza. Ao apresentar as descrições que alguns autores atribuem às
pesquisas qualitativas das quais os estudos de casos fazem parte, Chizzoti (2003)
destaca que este tipo de pesquisa ocorre no “local físico e social onde os dados são
coletados em diferenciação aos locais que exercitam o controle, como laboratórios” (p.
223). Esse mesmo pensamento é reforçado por Gall et al. (1996), ao destacarem que os
pesquisadores qualitativos investigam os fenômenos de seu interesse no contexto onde
são desenvolvidos naturalmente na perspectiva de conferir e compreender os
significados que os participantes lhes atribuem. Os estudos de caso são empregados
quando o investigador fica impossibilitado de manipular as variáveis envolvidas e
quando as relações de causa e efeito, caso existam, não são facilmente identificadas sem
a pesquisa em campo (Coutinho, 2013). Em consonância com as ideias levantadas, o
133
pesquisador acredita que a melhor forma de compreender os eventos que se passam na
sala de aula consiste na sua inserção nesse ambiente, aproximando-se dos sujeitos
investigados, conhecendo as suas histórias, os seus sonhos, seus esforços e reais
interesses.
40
O TCLE pode ser encontrado no Apêndice 1 deste trabalho.
135
pesquisador e o professor Jarbas na qual o primeiro apresentou ao segundo os
propósitos da investigação pedindo-lhe autorização para usar o seu nome como autor
das HQs. A partir do consentimento do professor Jarbas, ele foi considerado, pelos
estudantes, o autor das HQs até o término da pesquisa quando o investigador apresentou
os devidos esclarecimentos à turma.
A partir da agora a primeira HQ aplicada nesta investigação será denotada por
HQ1, a segunda por HQ2 e assim, sucessivamente, até a sétima HQ que será denotada
por HQ7. A cópia de cada HQ encontra-se disponível nos Apêndices41 de 2 a 8 de tal
forma que cada HQi pode ser encontrada no Apêndice i + 1, com i variando de 1 a 7. Os
conteúdos abordados em cada HQ aparecem sumarizados na Tabela 5.1. No próximo
capítulo cada HQ será descrita com mais detalhes.
Tabela 5.1
6
HQ Conteúdos
HQ1 Os Elementos de Euclides
HQ2 Axiomas de incidência e de ordem. Segmento de reta, semirreta e
semiplano.
HQ3 Axiomas de medição de segmentos. Ponto médio de um segmento.
HQ4 Axiomas de medição de ângulos. Classificação de ângulos. Retas
perpendiculares.
HQ5 Congruência de triângulos. Propriedades de triângulos isósceles.
Bissetriz, mediana e altura relativa a um triângulo.
HQ6 Teorema do ângulo externo. Desigualdade triangular.
HQ7 Cálculo de área de regiões limitadas por figuras planas.
41
Entende-se por Apêndice todo material utilizado nesta investigação cuja autoria se deve ao próprio
investigador.
136
durante a educação básica como o cálculo de área de regiões planas (Hansen, 1998),
pelo menos até o final do século passado.
Vergueiro e Rama (2006) apontam três alternativas no que diz respeito à
utilização de HQs em sala: “Introduzir um tema que será depois desenvolvido por
outros meios”, “apresentar um conceito já estudado” ou “gerar uma discussão a respeito
de um assunto, para ilustrar uma ideia” (p. 26). Na investigação foi adotada a primeira
metodologia, contudo, numa perspectiva mais ampla: Não apenas introduzir, mas
apresentar com profundidade parte substancial dos assuntos. Outras fontes de estudo
foram inseridas, a exemplo do trabalho de Barbosa (2006), por ocasião da sobreposição
do professor ao investigador. Somente a aplicação da HQ1 percorreu o sentido inverso:
Ela foi utilizada para reforçar alguns tópicos já discutidos em sala. Esta HQ buscou
explicar aos alunos o que são os axiomas, as proposições, os teoremas, os corolários e
os conceitos primitivos na Geometria Plana, ao mesmo tempo em que tratou do
surgimento da obra Os Elementos de Euclides. Todos esses conceitos foram sinalizados
pelo professor-investigador, em sala de aula, durante o primeiro encontro com a turma.
A primeira HQ permitiu a revisão desses conceitos que constituem o ponto de partida
para o desenvolvimento dos estudos em Geometria Plana Euclidiana.
A escolha pela utilização das HQs como o primeiro instrumento de apresentação
dos conceitos estudados deveu-se aos seguintes fatores:
137
são dadas as mesmas oportunidades oferecidas aos segundos a começar pelo empenho
do investigador.
2. As HQs são constituídas por muitas imagens o que pode tornar mais agradável
o primeiro contato dos alunos com assuntos densos como os conteúdos de geometria à
luz de um tratamento axiomático.
3. A escolha pela exposição dos conteúdos a partir das HQs também perceber se
as mesmas motivaram os alunos a estudarem os assuntos ali presentes ou se não houve
alterações nesse sentido.
42
Os termos encontro e aula serão utilizados como sinônimo neste texto.
138
incluindo a resolução de exercícios extraídos de outras fontes bibliográficas. Nesses
momentos, ampliava as reflexões em sala a partir das exposições teóricas presentes em
livros didáticos, por exemplo.
A leitura das três primeiras HQs ocorreu no Laboratório de Informática do
Centro de Formação de Professores, do campus da UFRB em Amargosa. Os vinte e dois
computadores disponíveis e em perfeito estado, foram distribuídos entre os presentes.
Em cada computador, foram disponibilizadas as HQs através de slides do Power Point.
No mesmo dia, à noite, o pesquisador enviou aos estudantes, por e-mail, uma cópia da
HQ aplicada naquele dia. Orientou-lhes a refazer a leitura em casa. No encontro
seguinte, desta vez em sala de aula, entregou a cada dupla uma atividade sobre o
conteúdo da HQ aplicada no encontro anterior. Por meio de um aparelho multimídia, o
Data-Show, as imagens da HQ foram projetadas em uma das paredes da sala. Desta
forma, os participantes puderam consultar a HQ toda vez que sentiam a necessidade ao
longo da resolução da atividade. As demais quatro HQs foram aplicadas em sala de aula
em formato impresso.
No sentido de estimular a reflexão dos participantes no decorrer da leitura, foi
inserida em cada história, antes do seu término, uma atividade em uma secção intitulada
Parando um pouco para refletir sobre a leitura que será referida de agora em diante
como PPPRS. Trata-se de questões simples, em formato de múltipla escola, que versam
sobre os temas abordados na primeira metade da HQ. Esta secção foi criada com o
intuito de não permitir que as dúvidas dos alunos se estendessem até o final da leitura.
Os participantes só podiam avançar na leitura caso resolvessem corretamente a
atividade. Caso assinalassem uma resposta incorreta, deveriam reler a HQ desde o início
para depois tentar refazer a atividade. Em todos os momentos, o pesquisador se colocou
à disposição dos estudantes para esclarecer-lhes as dúvidas referentes à teoria exposta.
Somente a HQ1 não apresentou a secção PPPRSL. Esta distinção entre a HQ1 e as outras
seis HQs se deveu ao fato da primeira tratar, de forma breve, da composição da obra Os
Elementos de Euclides o que dificilmente inviabilizaria a continuidade da leitura. As
dúvidas poderiam ser sanadas convocando o investigador ou ao final através das
discussões coletivas. Por outro lado, nas demais HQs, a falta de entendimento acerca de
um teorema, por exemplo, poderia comprometer fortemente a compreensão dos
resultados que o sucedem. Era necessário, de fato, pausar a leitura para resgatar os
conteúdos apresentados.
139
Além das questões presentes na secção PPPRSL, houve algumas atividades
propostas ao final de cada HQ. As resoluções de ambas as atividades foram recolhidas
pelo investigador para ajudá-lo a identificar os avanços e as falhas na aprendizagem dos
estudantes a partir das leituras. Ele buscou também, por meio das respostas apresentadas
pelos discentes, identificar o tipo de raciocínio geométrico que esses atores estavam
empregando. Na resolução da atividade proposta em PPPRSL não foi exigida aos
estudantes a apresentação das justificativas por escrito. Consistiu simplesmente numa
questão de múltipla escolha. Entretanto, durante a resolução das atividades ao final das
HQs foi requerida, aos participantes, a justificação dos procedimentos adotados (à luz
da teoria estudada). Eles tinham que utilizar os axiomas, proposições e teoremas vistos
na HQ. Desta forma, os estudantes foram iniciados no processo de axiomatização e
elaboração de demonstrações matemáticas. O pesquisador explicou-lhes que a resolução
das atividades estava vinculada aos propósitos da pesquisa e, portanto, não se tratava de
questões passíveis de uma nota conceitual vinculada ao componente curricular que
estavam cursando. Enquanto professor da turma, porém, reservou, como já fora
assinalado, outro momento – a aula seguinte – para discutir a resolução de questões
extraídas de outras fontes bibliográficas e, até mesmo, as questões propostas nas HQs já
aplicadas.
43
O consentimento dos estudantes quanto às gravações dos áudios e a realização dos registros
fotográficos se deu por meio do TCLE.
44
Quantidade de estudantes observados.
142
aplicação das HQs apresenta alguns limites. Possivelmente, enquanto o investigador
dedicava-se às questões apresentadas por alguns dos alunos, desviava a sua atenção de
determinados eventos que acometiam os demais. Da mesma forma, quando outros
alunos convocavam-no, ele deixava de acompanhar os passos adotados pelos anteriores.
Entretanto, pontuam Burton e Bartlett (2009), nem sempre é possível compreender as
ações dos sujeitos somente observando-os, daí necessidade de se utilizar outros
instrumentos no sentido de obter as informações não observadas pelo investigador ou
até mesmo observadas e não compreendidas.
45
O questionário de diagnóstico pode ser encontrado no Apêndice 9 deste trabalho.
143
do TCLE. Com esse instrumento, pretendeu-se conhecer os participantes no que diz
respeito à formação escolar, sobretudo no que compete aos conteúdos de Geometria.
Está dividido em duas partes. A primeira visa identificar o nível socioeconômico dos
participantes, o grau de escolaridade de seus pais e a cidade à qual pertencem. Desta
forma, tornou-se possível desenhar o perfil social dos participantes. A segunda parte
trata da identificação dos fatores que impulsionaram a escolha dos estudantes pelo curso
de Licenciatura em Matemática da UFRB. Por fim são introduzidas algumas questões
referentes ao ensino de Geometria ao qual esses atores foram submetidos durante a
escolaridade básica. Esse questionário, assim como os outros três, foi entregue a todos
os participantes em sala, seguido da leitura de todas as questões para os eventuais
esclarecimentos.
46
Q1 pode ser encontrado no Apêndice 10 deste trabalho.
47
Q2 pode ser encontrado no Apêndice 11.
144
Por meio do terceiro questionário aplicado, referenciado aqui e ao longo deste
trabalho como Q3, os discentes foram convidados a apresentar as suas impressões acerca
da linguagem empregada nas demonstrações matemáticas presentes nas HQs. Foram
questionados acerca da necessidade de se introduzir as demonstrações de todos os
teoremas presentes nas narrativas. A eles foram solicitadas sugestões de mudanças na
construção da HQ6 e, além disso, eles foram convidados a enunciar o Teorema do
ângulo externo, o resultado principal desta HQ 48.
A Tabela 5.2 apresenta, de forma sumarizada, uma descrição de cada encontro
realizado pelo pesquisador junto aos estudantes incluindo a aplicação dos questionários.
Tabela 5.27
48
Q3 pode ser encontrado no Apêndice 12.
145
12 Retomada das discussões iniciadas no encontro anterior/ Aplicação da
HQ6 (2ª parte)/ Secção PPPRSL/ Discussões.
49
Para a segunda sessão de entrevistas também foram convocados cinco estudantes. Entretanto um deles
não compareceu no dia marcado.
146
determinadas questões aos participantes as quais poderiam não ser facilmente
compreendidas caso o instrumento fosse um questionário (Burton & Bartlett, 2009).
Neste trabalho foram realizadas entrevistas semiestruturadas, definidas por Gall
et al. (1996) como um conjunto de questões pré-estabelecidas pelo entrevistador e que
podem ser complementadas por ele a partir das respostas apresentadas pelos
participantes. Todas elas foram registradas em um aparelho gravador de áudio, com o
consentimento dos entrevistados. Em seguida, foi realizada a transcrição das gravações.
50
As questões utilizadas em E1 encontram-se no Apêndice 13 deste trabalho.
147
de atividades suficientes e se as julgavam condizentes com a teoria exposta na HQ 51.
Assim como na entrevista E1, mais uma vez os participantes foram solicitados a apontar
as diferenças entre a abordagem dada na educação básica e aquela presente na
universidade. Contudo, em E2 tal diferenciação centrou-se na exposição do conteúdo
congruência de triângulos.
Os instrumentos de recolha de dados diário de bordo (DB), registros
fotográficos (F) e áudio (A), atividades ao longo da leitura (PPPRSL) e ao final (AF),
questionários e entrevistas foram utilizados com o intuito de dar conta dos objetivos
geral e específicos desta investigação. Os segundos se revelam como alargamento e
desdobramento do primeiro e, embora tenham sido listados no capítulo de introdução
deste trabalho são descritos mais uma vez aqui por meio da Tabela 5.3. As respostas
dos estudantes às atividades propostas durante (PPPRSL) ou ao final (AF) da leitura das
HQs também configuram instrumentos de recolha de dados.
Tabela 5.38
OE1 x x x x x x x
OE2 x x x x x x x x x x
OE3 x x x x
OE4 x x x
OE5 x x x x
OE6 x x x x x x x x x x
OE7 x x x x x x
OE8 x x x x x
51
As questões utilizadas na segunda sessão de entrevistas encontram-se no Apêndice 14 deste trabalho.
148
Nota. Por OE i, com i variando de 1 a 10, entende-se os objetivos específicos da pesquisa os quais são
rememorados a seguir:
OE1: Elencar os elementos que os estudantes julgam necessários à composição de HQs destinadas à
exposição da geometria plana em um formato axiomático.
OE2: Identificar os contributos das HQs para o processo de aprendizagem da geometria euclidiana formal-
dedutiva.
OE3: Perceber o tipo de raciocínio geométrico desenvolvido pelos estudantes a partir da leitura de HQs
voltadas para a exposição de geometria numa perspectiva axiomática.
OE4: Identificar os tipos de linguagens adotadas pelos discentes nas justificações matemáticas.
OE5: Perceber a forma como os participantes apresentam algumas definições matemáticas.
OE6: Identificar os problemas inerentes à apresentação da geometria euclidiana plana axiomática através
de HQs: compreender tais fragilidades mediante a composição das HQs e a formação prévia dos
estudantes.
OE7: Apontar alternativas frente aos desafios impostos pela exposição da geometria euclidiana, em um
viés axiomático, por meio da banda desenhada.
OE8: Perceber a importância que os discentes atribuem às demonstrações matemáticas e como veem a sua
inserção em HQs para fins educacionais.
149
análise que se constituem enquanto construtos presentes nos dados e que se relacionam
com o fenômeno estudado. Gall et al. (1996) assinalam a organização dos dados em
categorias de análise como uma estratégia plausível na interpretação dos mesmos. De
acordo com Coutinho (2013), a “categoria é uma forma geral de conceito, uma forma de
pensamento. São rubricas ou classes que reúnem um grupo de elementos (unidades de
registro) em razão de características comuns (p. 221)”.
Nas pesquisas qualitativas é comum realizar a categorização durante ou após a
recolha de dados. Alguns autores como Gall et al. (1996) e Coutinho (2013) justificam
esse procedimento pontuando que as categorias estão arraigadas nos próprios dados.
Entretanto, não se pode descartar a possibilidade do investigador considerar a priori a
ocorrência de certas categoriais a partir do referencial teórico que está utilizando. Só a
experiência em campo lhe permitirá corroborar ou refutar as previsões teóricas.
O estudo das respostas dos questionários e entrevistas aplicados ao longo da
pesquisa, no que tange aos contributos ou entraves à aprendizagem em geometria por
meio das HQs, se deu na forma de análise de conteúdo, definida por Coutinho (2005)
como “um conjunto de técnicas que permitem analisar de forma sistemática um corpo
de material textual, por forma a desvendar e quantificar a ocorrência de
palavras/frases/temas considerados ‘chave’ que possibilitem uma comparação posterior
(p. 217)”. Contudo, para além da freqüência com que determinadas questões aparecem
nos dados coletados, interessa-se aqui pelos fatores que os provocaram e pela obtenção
de medidas através das quais conflitos e tensões latentes poderão ser contornados. De
acordo com Moreira, Simões e Porto (2006), a análise de conteúdo qualitativa tem como
finalidade “a compreensão e a interpretação dos relatos dos sujeitos em uma pesquisa,
os quais emitem opinião sobre determinado assunto, carregada de sentidos, de
significados e de valores” (p. 108). Destacam ainda que a análise de conteúdo se
desenvolve em três fases: No relato dos participantes que deverá ser objeto de estudo do
investigador; na identificação do sentido geral do discurso dos sujeitos envolvidos bem
como a seleção de unidades significativas presentes no discurso, suas convergências e
divergências; e na interpretação dos dados confrontando-os com os pressupostos
teóricos utilizados pelo investigador ao longo da pesquisa.
Nessa perspectiva, os relatos dos participantes foram fragmentados em seções
denominadas unidades de análise que “devem afigurar-se como elementos detentores de
um sentido completo e com pertinência para o objeto de estudo (Coutinho, 2013, p.
219)”. A criação de categorias de análise favorece a compreensão dos dados à medida
150
que os reduz a conteúdos essenciais que serão analisados sistematicamente à luz de
construtos teóricos conhecidos pelo pesquisador.
Ao longo da aplicação das HQs e diante dos dados coletados, alguns temas
foram interpelando o investigador de tal que forma que se constituíram enquanto
categorias de análise. A partir delas o referido ator pretende obter algumas respostas
para a questão que norteia esta pesquisa e, ao mesmo tempo, dar conta dos objetivos
geral e específicos desta investigação. Tais categorias retomadas e discutidas no
capítulo oitavo deste trabalho estão divididas em duas grandes seções. A primeira
secção diz respeito à leitura das HQs e a segunda secção faz o diálogo entre tais leituras
e a aprendizagem em geometria. A Tabela 5.4 apresenta as categorias de análise que
compõem cada secção.
Tabela 5.4
9
Secções
Metodologia utilizada
52
O elevado número de participantes, a saber, trinta e dois estudantes, fez com que o investigador
reduzisse a quantidade de alunos no que diz respeito à validação da credibilidade da pesquisa. A opção
152
encontram-se diluídos ao longo dos capítulos sétimo e oitavo deste trabalho. Tratam-se
dos alunos A1, A6, A7, A8, A9, A10, A11, A13 e A22. Apenas os alunos A1 e A8 não
responderam ao investigador. As respostas dos outros sete estudantes encontram-se no
Apêndice 15. De acordo com estes estudantes, o investigador interpretou corretamente
as informações por eles apresentadas.
pelos entrevistados decorreu da presença de um maior número de dados coletados envolvendo esses
participantes.
153
façam vir à tona dados manipulados de acordo com os seus interesses pessoais. Segundo
esta autora, a observação-participante e a utilização de variados instrumentos de
recolha de dados tendem a fortalecer a confirmabilidade visto que tornam “difícil para o
pesquisado a produção de dados que fundamentem de modo uniforme uma conclusão
equivocada, e torna difícil para o pesquisador restringir as suas observações de maneira
a ver apenas o que sustenta seus preconceitos e expectativas” (Goldenberg, 2004, p.
47). Assim, a triangulação representa uma alternativa plausível na busca pelo rigor e
aprofundamento da investigação. De acordo com Coutinho (2013), a triangulação
metodológica possibilita ao investigador “obter como resultado final um retrato mais
fidedigno da realidade ou uma compreensão mais completa do fenômeno a analisar”
(Coutinho, 2013, p. 239). Como já pontuado, ao longo desta investigação foi utilizado
um conjunto de instrumentos para recolha de dados (questionários, entrevistas, diários
de bordo, observação direta e indireta, filmagens, registros fotográficos e aplicação de
atividades) que assinalam a triangulação como um recurso visivelmente presente
durante a pesquisa.
No próximo capítulo há uma descrição de cada HQ utilizada na investigação
quanto ao título, enredo da história e conteúdos matemáticos abordados. As questões
propostas ao final das histórias ou durante a secção Parando um pouco para refletir
sobre a leitura são brevemente apresentadas. Por serem as HQs o manancial do qual
foram extraídos, de forma direta ou indireta, os dados da pesquisa optou-se aqui por
reservar um capítulo deste trabalho à apresentação sumarizada dessas narrativas. O texto
completo de cada HQ pode ser encontrado nos Apêndices de 2 a 8.
154
Capítulo 6
Neste capítulo é apresentada uma síntese das HQs utilizadas na pesquisa. São
apresentados os personagens, o enredo das histórias e os conteúdos de Geometria que
compõem cada banda desenhada. Algumas tirinhas são apresentadas tendo em vista a
elucidação das informações prestadas. Para uma consulta mais abrangente, as sete HQs
podem ser encontradas nos apêndices deste trabalho.
Ao longo dessas notas, as HQs não estão expostas necessariamente na ordem em
que foram aplicadas, isto é, começando da HQ1 e terminando na HQ7. Ao fim do texto,
segue uma tabela com informações gerais sobre as sete HQs.
As HQs têm uma personagem em comum denominada Dona Geometria. Trata-
se de uma "personificação" da Geometria Euclidiana Plana expressa por meio de uma
“senhora” que detém vários conhecimentos acerca dos axiomas e teoremas estudados
em Geometria. Todas as HQs são de autoria do investigador.
Este capítulo encontra-se dividido em seis seções. A primeira secção trata da
apresentação de conteúdos matemáticos por meio de narrativas literárias. A segunda
secção trata da exposição de episódios da história da Geometria através da HQ1. Na
terceira secção é descrita a forma com as HQs de números 2 e 7 apresentam alguns
assuntos de Geometria Euclidiana Plana conectando-os com o mundo dos esportes
(piscina olímpica, pista de atletismo, campo de futebol, quadra de basquete). Os
axiomas de medição de incidência e ordem e os axiomas de cálculo de área, e seus
desdobramentos, são referenciados. A quarta secção está relacionada às HQs de
números 3 e 6. Ao utilizar como fio condutor da narrativa uma viagem da cidade de
Salvador até o município da Amargosa (onde foi realizada a pesquisa de campo), ambos
na Bahia, a HQ3 contempla os axiomas de medição de segmentos. A HQ6 refere-se à
cidade de Amargosa durante o estudo da desigualdade triangular. As últimas duas
seções do capítulo abordam, respectivamente, o estudo de ângulos e a congruência de
triângulos. Tratam das HQs de números 4 e 5, respectivamente.
155
6.1 A Matemática por meio de narrativas literárias
53
Malba Tahan foi um pseudônimo utilizado pelo professor de Matemática Júlio César de Melo e Sousa.
Para maiores detalhes acerca da vida e obra desse matemático consulte Lorenzato (2004).
156
Entretanto, todas essas narrativas têm em comum o desejo de apresentar a Matemática e
a sua simbologia através de textos e imagens imersos em uma determinada literatura por
vezes ficcional. A utilização de personagens imaginários e até mesmo fantasiosos não
representa uma ameaça à rigidez dos conteúdos matemáticos. De acordo com Cruz
(2006), se, na exposição dos conteúdos “for necessário esquecer deliberadamente
pormenores verídicos que sacrificariam a clareza e simplicidade do enredo, então
devemos fazê-lo, temos licença para comprometer o factual e criar um ficcional mais
atraente e compreensível” (p. 135). E assim o fizeram Tahan, Lobato e tantos outros.
158
cultural que permeava o mundo helenístico54 à época de Euclides. Segundo Liu (2003),
a utilização da história da Matemática no ensino ajuda os estudantes a conhecerem a
natureza do conhecimento matemático. No enredo da HQ1, intitulada Dona Geometria
em Euclides e Os seus Elementos, está presente uma síntese de alguns fatos
relacionados ao desenvolvimento da Geometria, antes, durante e depois de Euclides. Há
uma breve referência aos egípcios como um dos povos responsáveis pelo surgimento da
Geometria; há referências à Academia de Platão, importante espaço de produção
intelectual de renomada na Antiguidade; e, além disso, é assinalada a influência dos
trabalhos de Pitágoras (ou dos seus seguidores) na construção de Os Elementos. À
personagem Dona Geometria é encarregada a tarefa de narrar a história. Personagens
como Euclides e David Hilbert têm voz ativa na narrativa. Pitágoras, Platão, Alexandre,
o Grande, e Ptolomeu I são apenas mencionados. A Figura 6.1 apresenta um recorte da
história.
54
De acordo com Garbi (2006), o termo helenismo é utilizado para designar a expansão da cultura grega
durante a Idade Antiga.
159
homem chamado Euclides escreveu os Elementos, coletando e melhorando o trabalho
de seus predecessores” [itálicos nossos], comenta Hartshorne (2000, p. 1).
Quanto aos eventos posteriores à elaboração de Os Elementos, mas a ela
relacionados, a HQ1 traz o ano e o local em que esta obra foi impressa pela primeira
vez. Era necessária a invenção da impressa, no século XV, para que isso pudesse
acontecer. Além disso, a HQ1 cita o matemático David Hilbert, um dos responsáveis
pelo aprimoramento do trabalho de Euclides no que diz respeito às fragilidades ali
presentes. Com efeito, “uma análise mais atenta aos Elementos permite verificar que
algumas provas dadas por Euclides utilizam afirmações que não foram previamente
estabelecidas, algumas envolvem manipulações físicas e outras usam casos específicos
para justificar conclusões gerais” (Gil, 2012, p. 103). Não obstante a importância de Os
Elementos, omitir as suas imperfeições significa desconsiderar a evolução do
pensamento matemático ao longo dos anos. Segundo Liu (2003), “o que hoje é
considerado como um argumento matemático não rigoroso foi amplamente aceito, sem
dúvidas, há anos” (p. 417). B. D’Ambrosio (2007) endossa tais considerações e as
relaciona com a formação dos docentes ao destacar que:
160
Figura 6.2. Hilbert iniciando a sua obra Fundamentos da Geometria
19
161
capacidade de expressão/comunicação de ideias; planejamento de estratégias” (p. 34).
As duas atividades aparecem na Figura 6.3.
162
6.3 A Geometria nas HQ2 e HQ7
163
exibição dos Axiomas de Incidência. As suas raias fornecem uma ideia de reta (na
verdade de um subconjunto da reta) e algumas bolinhas de isopor situadas na piscina
são utilizadas para representar pontos. Conceitos geométricos como o segmento de reta,
o triângulo e a semirreta também são apresentados ao mesmo tempo em que os
personagens da história praticam natação.
Segundo Staszkow e Bradshaw (2006), “a matemática está presente no mundo
dos esportes” (p. 211). Destacam que o conceito de distância pode ser explorado a partir
de uma pista de atletismo. Na HQ, esse tipo de pista foi utilizado com outra finalidade:
Para mostrar que a união de uma semirreta de origem em um ponto A e que passa por
um ponto B com a semirreta de origem em B e que passa por A é exatamente a reta
determinada por esses dois pontos. Entretanto, qualquer que seja a forma com que os
cenários das atividades esportivas são empregados, o importante é mostrar aos
estudantes que a matemática está presente em seu dia a dia e, portanto, trata-se de uma
Ciência “útil, prática e divertida” (p. v), assinalam os autores.
A secção PPPRSL, presente na HQ2, trata das relações entre a reta determinada
por dois pontos A e B, o segmento de reta determinados por eles e as semirretas de
origem em A passando por B e de origem em B passando por A. A Figura 6.5 apresenta
a questão.
Na Figura 6.5, a ferramenta simbólica SAB é usada para denotar uma semirreta
de origem em um ponto A e que passa por um ponto B. A reta que passa por esses dois
pontos e designada por m e o segmento de reta com extremidades em A e B é denotado
por AB.
Os esportes são potenciais ferramentas educacionais. Noubary (2010) destaca
que, em suas experiências de ensino, a utilização de jogos e esportes corresponde à
164
estratégia de ensino que mais despertou o interesse em seus estudantes. Segundo as
razões para a conexão das atividades esportivas com o ensino de Matemática, o autor
sublinha que os “estudantes geralmente se divertem com os esportes e mostram um
grande interesse na matemática e estatística aplicadas às atividades esportivas” e os
“esportes são uma parte da vida diária, especialmente dos mais jovens” (p. 1).
Naturalmente, no contexto da pesquisa aqui descrita, os participantes não foram
convocados a praticarem esportes para, a partir daí, estabelecerem relações com os
conteúdos geométricos. O que ocorreu foi a utilização dos ambientes presentes nas
atividades esportivas (quadra de esportes, campo de futebol, piscina olímpica, dentre
outros) durante a exposição de determinados conteúdos geométricos, como ocorre na
HQ2.
Após percorrer variados cenários esportivos, Dona Geometria finaliza a história
em uma quadra de basquete conforme retratado na Figura 6.6.
165
Figura 6.7. Primeira atividade proposta no final da HQ2
24
166
origem em A passando por B e a semirreta de origem em B passando por A. Consiste
em completar algumas lacunas de modo a finalizar a demonstração matemática.
Os esportes aparecem novamente como plano de fundo para exposição dos
conteúdos geométricos na última história em quadrinhos aplicada: Dona Geometria em:
A turma boa de bola, a HQ7. Desta vez, a exposição gira em torno do cálculo da área de
regiões planas limitadas por alguns polígonos (retângulo, triângulo, paralelogramos,
trapézios), além da área da região plana limitada pelo círculo55. Na narrativa, Dona
Geometria é acompanhada por dois jovens, Bartolomeu e Vinícius, que torcem para
dois times de futebol rivais: O Esporte Clube Bahia e o Esporte Clube Vitória, os dois
maiores clubes de futebol do estado da Bahia. O futebol, um dos esportes mais
populares da atualidade (Engledew, 2015), é um manancial de aplicações em
Geometria: Pode ser utilizado para estudar o conceito de distância, por exemplo,
alcançada por um chute a gol ou por um passe entre dois jogadores de um mesmo time
(Staszkow & Bradshaw, 2006); no estudo do ângulo formado entre um chute e uma das
laterais do campo; no cálculo de área de regiões planas limitadas por figuras
geométricas presentes no campo de futebol e etc.
Nos anos de 2014 e 2016, respectivamente, o Brasil sediou dois eventos
esportivos de renome: A Copa do Mundo de futebol e Os Jogos Olímpicos, estes
últimos realizados na cidade do Rio de Janeiro. No país, as atividades esportivas estão
presentes em diversas rodas de discussão. Fazem parte do cotidiano do brasileiro, da
cultura do povo, das horas de lazer dos cidadãos. O futebol, em particular, é o esporte
mais praticado no país. A paixão pelo futebol se estende a países vizinhos e até mesmo
a nações situadas do outro lado do Atlântico. De fato, o “futebol é o esporte nacional da
maior parte dos países latino-americanos e europeus” (Education Development Center
[EDC], 2003, p. 478).
Na HQ7, Dona Geometria abre as discussões apresentando aos leitores as
definições de conceitos como região triangular e região poligonal. A partir daí são
introduzidos três axiomas sobre o cálculo de área, dois deles presentes na Figura 6.9.
55
Ao longo desta pesquisa foi adotada a definição de círculo apresentada por Barbosa (2006), ou seja, o
conjunto dos pontos do plano equidistantes de um ponto fixo.
167
Figura 6.9. Axiomas sobre o cálculo de área
26
Logo após a referência aos axiomas indicados na Figura 6.9, um quarto axioma é
apresentado. Desta vez, pela personagem de nome Zuleide, a professora de Matemática
de Bartolomeu e Vinícius. Este axioma refere-se à área da região plana limitada por um
retângulo: “Se ABCD é um retângulo, então a sua área é dada pelo produto AB BC , ”
168
A atividade retratada na Figura 6.10 contempla o cálculo da área da região plana
situada entre a pequena e a grande área de um campo de futebol; o diâmetro do círculo
central do campo; cálculo de distância, dentre outros.
A próxima demonstração presente no texto refere-se ao cálculo da área da região
plana limitada por um trapézio. Partes do contorno da pequena e da grande área de um
campo de futebol são tomadas como bases de um trapézio qualquer. Os personagens
Bartolomeu e Vinícius mostram aos leitores que dividindo esse polígono em dois
triângulos, a partir de qualquer uma de suas diagonais, chega-se à fórmula desejada.
Como em todos os momentos da narrativa, os estudos são feitos a partir do campo de
futebol: Suas linhas paralelas, perpendiculares, o círculo central, dentre outros. Se a
ênfase do estudo consistisse no cálculo do desempenho de dois times de futebol e de
estratégias para melhorar as suas performances o que não representa os objetivos
desse texto além de estudos geométricos, como alguns já destacados, seria necessário
combinar com a Geometria, conteúdos de aritmética, teoria de probabilidade e
estatística. Nesse caso, o trabalho de Winston (2009) representa uma promissora fonte
de leitura.
As últimas páginas da HQ são dedicadas ao estudo do círculo: Área e
comprimento. Parte deste assunto é retratada na Figura 6.11.
Figura 6.11. Justificação intuitiva da expressão para a área da região limitada por uma
28
circunferência
Conforme mostra a Figura 6.11, na HQ7 a expressão r2, para a área da região
plana limitada por um círculo de raio r, é obtida de forma intuitiva dividindo o círculo
em setores circulares com comprimentos de arco tendendo a zero. Arrumando esses
setores de forma conveniente obtém-se uma figura que se assemelha a um
169
paralelogramo cujas medidas da base a altura se aproximam, respectivamente, de r e r
u.c (unidades de comprimento).
A HQ7 foi confeccionada durante a intervenção do investigador junto aos
participantes da pesquisa. Conhecendo-os ele resolveu inserir na história dois
personagens femininos com nomes iguais aos nomes de duas alunas que participaram da
investigação. Dessa forma, o investigador tentou aproximar os alunos da leitura
tentando torná-los mais próximos dos personagens e das suas intenções ao longo da
narrativa. Nas atividades propostas ao final da HQ também aparecem personagens com
os mesmos nomes de alguns participantes da pesquisa. Tendo em vista o anonimato
desses sujeitos os seus verdadeiros nomes estão substituídos, na atividade aqui exposta,
pela palavra “Nome”. Apenas as suas iniciais estão mantidas.
A atividade descreve a realização de um jogo entre o Esporte Clube Bahia
(ECB) e o Esporte Clube Vitória (ECV). A, D e I são jogadores do ECB enquanto que
M, N, R e S pertencem ao ECV. A distribuição desses jogadores ao longo do campo é
mostrada na Figura 6.12.
170
6.4 A Geometria nas HQ3 e HQ6
Duas das HQs aplicadas vinculam, de alguma forma, o enredo das histórias à
cidade de Amargosa: A HQ3 e a HQ6. Estudar Matemática relacionando-a com um
cenário peculiar aos estudantes lhes propicia a percepção de que os conteúdos
matemáticos não se limitam aos bancos escolares. Há matemática para além da fronteira
demarcada pelos muros da escola. A Matemática é uma ciência viva e, em dados
momentos, aplicável ao cotidiano das pessoas.
Giardinetto (2002) e Hull (1999) apontam o ensino contextualizado como uma
possibilidade para melhorar o processo de ensino e aprendizagem em Matemática.
Segundo o último autor, “a maioria dos estudantes em nossas escolas é incapaz de fazer
conexões entre os conteúdos que estão aprendendo e a forma como esse conhecimento
deverá ser utilizado” (p. vii). A situação assinalada por esse autor é corroborada por
Cruz (2006) segundo a qual esses estudantes concebem a matemática como uma Ciência
afastada da realidade em que vivem. É importante, pois, que eles relacionem os
conteúdos escolares com o seu dia a dia, seu local de trabalho, sua comunidade, suas
atividades de lazer, ou seja, com os ambientes exteriores ao muro da escola (Siyepu &
Mtonjeni, 2014). De acordo com os últimos autores, o rendimento dos alunos aumenta
quando eles são ensinados a aplicar os conteúdos escolares no seu cotidiano.
Segundo Hull (1999), a “abordagem contextual reconhece que a aprendizagem é
um processo complexo e multifacetado que vai muito além orientação exercitada,
metodologias estímulo-e-resposta” (p. 1). Nessa perspectiva, a aprendizagem ocorre
quando os estudantes assimilam as novas informações conectando-as com os seus
“próprios quadros de referência” (idem). “A mente procura, naturalmente, sentido no
contexto” (idem).
A HQ3, intitulada Dona Geometria em: A corrida pelo saber, trata da noção de
distância entre dois pontos por meio dos axiomas de medição de segmentos. Em
companhia de seus dois sobrinhos, Antônio e Bianca (que representam na narrativa dois
pontos quaisquer A e B), Dona Geometria faz uma viagem da cidade de Salvador até o
município de Amargosa, ambos na Bahia. Durante o percurso os personagens discutem
sobre vários assuntos, dentre os quais se sobressaem: Os axiomas de medição de
segmentos (distância entre dois pontos, correspondência biunívoca entre os pontos de
uma reta e os números reais, coordenada de um ponto) e a existência e unicidade do
ponto médio de um segmento.
171
A distância entre os automóveis dirigidos por Antônio e Bianca é tomada como
ponto de partida para introduzir os axiomas de medição de segmentos. A despeito do
texto prezar por uma representação algébrica das coordenadas dos pontos utilizados, na
fase introdutória do assunto alguns exemplos numéricos são utilizados. A régua
graduada é apresentada como o instrumento utilizado na medição de segmentos de reta.
A partir daí duas proposições são enunciadas e demonstradas.
A primeira proposição permite inferir uma relação de ordem entre três pontos A,
B e C de uma semirreta de origem em A a partir da comparação entre os comprimentos
dos segmentos AB e AC (mais precisamente, se AB AC então B está entre A e C, em
172
A atividade proposta na secção PPPRSL, na HQ3, exige o entendimento da
demonstração do Teorema do Ponto Médio (TPM). A Figura 6.14 apresenta a atividade.
173
A primeira atividade disposta na Figura 6.15, pode ser resolvida por meio da
primeira proposição apresentada na HQ e através do TPM. A segunda atividade exige a
associação entre os pontos de uma reta e as suas respectivas coordenadas. Os axiomas
de medição de segmentos e o TPM são necessários à sua resolução.
Assim como a HQ3, na HQ6, intitulada Dona Geometria em: A estagiária, há
referência à cidade de Amargosa. A estagiária citada no título da HQ diz respeito a uma
mulher que almeja substituir um renomado professor de Geometria, João Lucas, em
suas férias. Para conseguir a vaga, a estagiária, de nome Jaciara, deverá mostrar ao
professor João Lucas os seus conhecimentos em Geometria, sobretudo a respeito do
Teorema do Ângulo Externo (TAE). Dentre os desdobramentos dos diálogos entre esses
personagens, aparece a prova da Desigualdade Triangular. A introdução a este assunto
é feita a partir do estudo do menor caminho que liga dois pontos, a partir de três pontos
não colineares situados em uma praça da cidade de Amargosa.
A princípio, Dona Geometria apresenta aos leitores as definições de ângulo
interno e ângulo externo de um triângulo. Em seguida, ela é interrompida por Jaciara
que introduz o TAE. Em uma conversa com o professor João Lucas em uma lanchonete
que ele costuma frequentar, a estagiária desenvolve a demonstração do teorema. O
cenário não exerce influência alguma sobre o desenvolvimento da demonstração. É
utilizado para criar uma ambientação para os personagens enquanto estes conversam. As
imagens referentes à demonstração foram acrescentadas ao cenário original (extraído do
toondoo).
As imagens provenientes da galeria do toondoo e aquelas acrescentadas tendo
em vista o desenvolvimento da demonstração podem ser classificadas, respectivamente,
a partir da categorização instituída por Dalcin (2007) ao analisar textos paradidáticos,
como ornamentais e de visualização. As imagens ornamentais, de acordo com a autora,
são “ilustrações que não apresentam vínculo algum, seja com a simbologia matemática
ou com o texto escrito, exercendo apenas a função de ‘quebra de ritmo de leitura’” (p.
30). As imagens de/para visualização têm por finalidade viabilizar a compreensão dos
conteúdos matemáticos presentes no texto de modo a complementar o texto escrito e a
simbologia empregada. São utilizadas “quando se pretende mostrar ‘passo a passo’ um
procedimento geométrico, quando uma situação problema é anunciada e a ilustração
pretende complementar informações ou organizar o pensamento para a resolução do
problema” (idem, p. 29).
174
Em virtude da quantidade de assuntos retratados na HQ6, foram instituídas três
secções PPPRSL. A primeira delas aparece logo após a demonstração do TAE e se
refere somente a teorema conforme pode ser verificado na Figura 6.16.
175
A atividade proposta na Figura 6.17 envolve conceitos como paralelismo entre
retas, TAE e a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo. Todos esses
assuntos são contemplados na HQ6.
Para se certificar da competência de Jaciara, o professor João Lucas dá
continuidade à arguição. Pede à candidata que demonstre a existência de uma
perpendicular a uma reta passando por um ponto fora dela. O próprio professor Lucas
encarrega-se da prova da unicidade. Mais uma vez, imagens auxiliares de
visualização, segundo Dalcin (2007) foram acrescentadas ao cenário com o intuito de
tornar a demonstração mais inteligível. A partir daí inicia-se a comparação entre as
medidas dos lados e dos ângulos de um triângulo. O professor indica a Jaciara a medida
de três lados de um triângulo e, em seguida, questiona-a acerca da localização do ângulo
de maior medida. Sem hesitar, ela responde-lhe que este ângulo opõe-se ao lado de
maior medida. Com a ajuda de Dona Geometria, Jaciara demonstra esse resultado.
A segunda parte da secção PPPRSL trata da comparação entre as medidas dos
ângulos internos de um triângulo isósceles e destas com a medida de um ângulo externo
ao triângulo, conforme pode ser visualizado na Figura 6.18.
176
leitores da HQ um triângulo cujas medidas de dois ângulos são conhecidas, a saber, 40o
e 80o. Em seguida, a anfitriã comenta que o lado que se opõe ao ângulo que mede 80 o
tem comprimento maior que o lado oposto ao ângulo de 40o. É exatamente o resultado
que João Lucas e Jaciara demonstram em um sentido mais geral. Dona Geometria
introduz o assunto a partir de um raciocínio indutivo. Os demais personagens adotam o
raciocínio dedutivo.
Quando chegam à casa de João Lucas, Jaciara fica encantada com um dos quadros
expostos na parede. A Figura 6.19 retrata este fato.
177
Figura 6.20. Terceira parte da secção PPPRSL na HQ6
37
178
“quadrinhos” de modo a obter o nome de um conceito (referente a triângulos) que deve
ser definido em seguida.
56
Alguns autores, a exemplo de Dante (2007a), definem ângulos da mesma forma que Barbosa (2006).
Outros autores, porém, optam por definir este conceito como "a região convexa do plano determinada por
duas semirretas de mesma origem" (Giovanni, Castrucci & Giovani, 2007, p. 36). Nas HQs foi utilizada a
definição apresentada por Barbosa (2006).
180
dos valores das coordenadas, os estudantes devem obter as medidas de alguns ângulos
com vértice em O.
A primeira proposição demonstrada na HQ4 refere-se à congruência entre
ângulos OPV. Em livros didáticos adotados na educação básica é possível encontrar a
mesma demonstração. O livro Tudo é matemática (Dante, 2007) publicado no Brasil e a
obra Impact mathematics: Álgebra and more (Education Development Center [EDC],
2003) lançada nos Estados Unidos configuram alguns exemplos. O excerto do texto
lançado no EUA, inclusive, faz uso da literatura quadrinhística para mostrar que ângulos
OPV são congruentes como pode ser verificado através da Figura 6.23.
Figura 6.23. Tirinha extraída do livro IMPACT mathematics contendo ângulos OPV57
40
Conforme pode ser verificado na Figura 6.23, a congruência entre ângulos OPV
decorre do fato de dois quaisquer desses ângulos possuirem o mesmo suplemento. A
demonstração é relativamente simples e, portanto, acessível aos estudantes da educação
básica.
57
Denotando por B1, B2 e B3 as falas presentes nos três balões, da esquerda para direita, tem-se a seguinte
tradução em português:
B1: “Quando duas retas se interceptam, os ângulos verticais têm a mesma medida”. A expressão ângulos
verticais está sendo utilizada para designar os ângulos 1 e 3, opostos pelo vértice, presentes na figura.
B2: “Aqui está o porquê de essa afirmação fazer sentido: 1 e 2 formam um ângulo raso, então a soma
de suas medidas é igual a 180o. E 2 e 3 formam um ângulo raso, então a soma de suas medidas é igual
a 180o”. Nesta frase, i, com i = 1, 2, 3, é uma ferramenta simbólica utilizada para designar ângulos.
B3: “Visto que somando m(1) à m(2) resulta em 180o, e somando m(3) à m(2) também resulta em
180o, então m(1) deve ser igual à m(3)”. Aqui m(i), com i = 1, 2, 3, é uma ferramenta simbólica
utilizada para designar a medida do ângulo i.
181
Na HQ4 aparece a definição de retas perpendiculares e a demonstração da
existência e unicidade da perpendicular a uma reta passando por qualquer um de seus
pontos. A existência da reta é assegurada a partir da correspondência biunívoca entre as
semirretas que dividem um dado semiplano e os números reais entre 0 e 180. A
unicidade provém do fato de serem suplementares os ângulos formados por essas
semirretas.
As últimas partes da HQ dedicam-se à apresentação de conceitos como bissetriz,
diagonal e perímetro de um polígono e à classificação dos polígonos quanto ao número
de lados. A Figura 6.24 traz uma tirinha da HQ.
Figura 6.42.
6.25. Atividades propostas na
43
HQ4
182
A primeira atividade retratada na Figura 6.25 envolve conceitos como bissetriz,
ângulos complementares e ângulos suplementares. É uma atividade relativamente
simples que requer a aplicação das definições dos conceitos mencionados associada a
alguns cálculos numéricos. A segunda atividade está relacionada a conceitos como
diagonal e perímetro de um polígono e à definição de triângulo equilátero. Embora não
constitua uma atividade de demonstração matemática, a sua resolução requer a
apresentação de justificativas referentes aos procedimento adotados.
184
Figura 6.26. Relações entre mediana, altura e bissetriz relativas à base de um triângulo
44
isósceles
186
Quadro 6.1
Síntese das HQs
187
Nem todas as imagens utilizadas nas sete HQs pertencem à galeria do toondoo.
Alguns delas foram extraídas de páginas da internet as quais são referenciadas ao final
de cada HQ. É o caso, por exemplo, da algumas imagens presentes na HQ1 como o
mapa da Grécia Antiga, uma ilustração da cidade de Veneza, imagens de poliedros
regulares, dentre outras.
Todas as atividades propostas nas HQ são de autoria do pesquisador, exceto a
atividade proposta na primeira parte da secção PPPRS na HQ6, aqui retratada na Figura
6.16. Esta atividade foi extraída de Barbosa (2006). As notações e o encadeamento
axiomático adotado também decorrem do trabalho do autor.
No próximo capítulo serão descritos os resultados obtidos a partir da aplicação
das sete HQs. As informações apresentadas foram recolhidas por meio de questionários,
entrevistas, observações e diário de bordo do pesquisador. O entendimento das questões
levantadas perpassa pelo conhecimento dos temas tratados em cada HQ.
188
Capítulo 7
Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos por meio da aplicação das
sete HQs descritas no capítulo anterior em uma turma do curso de Licenciatura em
Matemática da UFRB. Optou-se aqui por descrever, separadamente, a aplicação de cada
HQ, desde a HQ1 até a HQ7, nessa ordem. Após a descrição da aplicação de cada HQ é
feito o cruzamento dos dados obtidos através de diferentes instrumentos (questionários,
entrevistas, diário de bordo, atividades propostas) em seções intituladas Triangulação
dos dados. A ampliação das discussões à luz da literatura é uma tarefa destinada ao
capítulo seguinte.
A descrição da aplicação das HQs é antecedida pela caracterização da formação
prévia dos estudantes em Geometria. Em seguida, são elencados os fatores que
impulsionaram estes sujeitos a ingressarem no curso de Licenciatura em Matemática da
UFRB. Estes dados, obtidos através do QD, favoreceram o entendimento das relações
que os estudantes estabeleceram com a aprendizagem de Geometria segundo um viés
axiomático.
Neste capítulo também são apresentadas algumas informações referentes ao
contato prévio dos participantes com a leitura de HQs comerciais e educacionais. A
partir delas foi possível vislumbrar as expectativas dos estudantes quanto às HQs já no
início da aplicação das mesmas. Estes dados foram extraídos por meio do Q1.
Por fim, são expostos os dados relativos à aplicação das HQs: O comportamento
dos discentes, as dúvidas, as tensões, as vibrações e as respostas às atividades propostas.
Tais respostas permitiram ao investigador identificar o tipo de raciocínio geométrico
empregado pelos participantes. A despeito de beber na fonte deixada pelos trabalhos de
Barth (1987), Duval (1998), Martin et al. (2009) e pelo casal Van Hiele (Battista, 2009),
neste texto o investigador optou por classificar os níveis de pensamento geométrico dos
estudantes da seguinte forma:
189
respostas que atendem a tais especificações ainda que apresentem pequenos deslizes de
linguagem ou de apresentação das ferramentas simbólicas.
190
autores em virtude das limitações de se fazer tal classificação sem a utilização de
algum instrumento construído com esse fim (como uma sequência didática de
atividades58).
Os alunos que participaram desta pesquisa serão designados a partir de agora por
Ai, com i variando de 1 a 32. Quando deslocadas para um parágrafo à parte, as vozes
destes atores são transcritas sem a inserção de dupla aspa. Seguem acompanhadas pela
identificação do participante sucedida pelo instrumento de recolha de dados do qual a
informação foi retirada, ambos entre colchetes e separados entre vírgula. Por exemplo, a
transcrição de um comentário do aluno A2 proferido na primeira sessão de entrevista,
isto é, em E1, será indicada no texto por [A2, E1]. Se o comentário foi obtido em sala de
aula, durante a aplicação de alguma HQ e foi transcrito no DB, aparecerá no texto [A2,
DB, data em que o diário foi escrito]. Da mesma forma, as informações extraídas de
questionários serão referenciadas pela indicação do questionário (QD, Q1, Q2 ou Q3)
sucedida pela indicação da(s) questão(ões) nele presentes de onde foram extraídos os
dados. Neste caso, estes últimos podem aparecer de forma direta (por meio de excertos
das respostas dos alunos) ou de forma indireta em forma de síntese realizada pelo
investigador. De forma análoga serão referenciadas as respostas atribuídas pelos
estudantes às atividades propostas.
Os termos o pesquisador ou o investigador são utilizados, de agora em diante,
para designar o autor deste texto e o proponente e executor da pesquisa. Estes termos
serão empregados inclusive nos momentos em que a ação deste ator apresentar
características relacionadas ao trabalho docente (o que também justificaria a utilização
do termo o professor59). Da mesma forma, as expressões do tipo os alunos, os
estudantes ou os participantes são empregadas para designar os sujeitos investigados.
58
Em pesquisas como a desenvolvida por Costa e Silva (2014) cujo objetivo foi identificar os níveis de
pensamento geométrico de um grupo de estudantes de um curso de Licenciatura em Matemática é
comum fazer uso de uma sequência de atividades que contemple todos os níveis de pensamento de Van
Hiele.
59
O termo [o] professor costuma aparecer relacionado às "falas" dos estudantes.
191
fundamental. Apesar de esses dados sugerirem a concentração dos estudos em
Geometria no ensino fundamental, dois terços dos participantes revelaram que em sua
formação escolar ocorreu exatamente o contrário [QD, Questão 12].
Em 12,5 % dos casos, os conteúdos de Geometria foram estudados
completamente fora do componente curricular Matemática: Ora em Desenho
Geométrico ora em Artes. Nos demais casos, conforme mostra a Figura 7.1, tais
conteúdos foram apresentados tanto em Matemática quanto em algum dos componentes
curriculares mencionados. Mais de metade dos estudantes teve contato com a Geometria
Plana somente nas aulas de Matemática [QD, Questão 13].
Figura 7.1. Distribuição dos trinta e dois participantes ao longo dos componentes
47
192
a Álgebra ou Aritmética. Três destes discentes estudaram-na somente em Matemática e
os outros dois a viram em Matemática e Artes. Quanto aos demais estudantes, dezessete
apontaram um maior interesse pela Aritmética e dez pela Álgebra [QD, Questões 10 e
13].
193
triângulos (classificação de triângulos quanto às medidas de seus lados e quanto às
medidas de seus ângulos) e o teorema de Pitágoras como os assuntos de Geometria mais
estudados durante a educação básica. Estes assuntos foram vistos por, pelo menos, 75%
dos participantes. Desse total, pelo menos dois terços (o que corresponde à metade do
total de participantes) relevaram ter estudado, além dos conteúdos mencionados, os
seguintes assuntos: Paralelismo e perpendicularidade entre retas, circunferência e a
soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo. Inversamente, ou seja, dentre
os assuntos menos explorados na educação básica, encontram-se congruência e
semelhança de triângulo. Somente 40% dos participantes, aproximadamente, os viram
[QD, Questão 11].
Assuntos preferidos
Figura 7.2. Excerto das respostas dos alunos A2, A3, A4 e A5 acerca dos assuntos de
48
194
A despeito do baixo grau de complexidade ter figurado como a razão principal
da escolha dos assuntos listados na Figura 7.2, em uma das respostas ali presentes é
destacada também a importância do professor no processo de aprendizagem.
Assuntos preteridos
Eles [os professores] falaram que... tipo... a soma dos ângulos interno do
triângulo [é igual a 180o]. Nem explicavam o porquê. Falou que era e
pronto! [A10, E2]
Quando o professor chegava lá [na sala de aula] dizia: É assim que faz,
tem que ser desse jeito. E a gente gravava [memorizava] como tinha que
ser. Na prova [avaliação] tinha que estar gravado [decorado] e acabou.
[A11, E2]
Os comentários dos alunos A9, A10 e A11 revelam um tipo de ensino em que as
justificações matemáticas eram subvertidas pela autoridade do professor: A sua palavra
tinha status de verdade. Aos alunos cabia executar os passos preconizados pelo docente.
Não havia muitos espaços para os “porquês”. A reflexão era sufocada pela
memorização. Em alguns casos, conforme relatado por A9, utilizava-se desenhos como
recurso de justificação. Eles, porém, não servem para validar os resultados matemáticos
(excerto, quando se tratarem de contraexemplos). Ajudam a elucidá-los.
A postura de alguns desses professores pode ser compreendida a partir do tipo de
formação a que tiveram acesso. Alguns deles não eram licenciados em Matemática o
que pode ser corroborado por meio do relato do aluno A6:
196
Se os professores licenciados em Matemática não tem revelado preocupação em
justificar, de alguma forma, a validade dos resultados que apresentam aos seus alunos
não é de se espantar que professores com outras formações façam o mesmo quando
ministram aulas de Matemática.
(...) até chegar aqui, por exemplo, eu, nos meus colégios, nunca tive a
necessidade, nunca precisei, nunca fui cobrado demonstrar. [A7, E1]
197
7.2 A escolha pela Licenciatura em Matemática
Figura 7.3. Excertos de relatos dos alunos A12, A10 e A2, os quais acreditam ter
49
198
Figura 7.4. Excertos de relatos dos alunos A13, A14 e A11 os quais ingressaram no curso
50
199
Figura 7.5. Influência dos professores de Matemática da educação básica na escolha
51
A maioria dos estudantes revelou gostar de ler HQs60. Esse interesse mostrou-se
acentuado na infância e foi sendo reduzido na adolescência e na idade adulta [Q1,
Questões 1 e 3].
60
Apenas um entre os vinte e sete estudantes que responderam ao Q1 (do qual foram extraídos os dados)
revelou desinteresse pela leitura de HQs.
200
Gráfico 7.2. Fatores que leva(ra)m os estudantes a lerem HQs
2
Nenhum dos estudantes revelou conhecer HQs que tratam de temas matemáticos
[Q1, Questão 4]. Mesmo assim foram convidados a fazer uma escolha entre o tipo de
literaturas que gostariam de ler (e, nesse caso, conhecer): HQs que tratam de conteúdos
de Matemática (propriamente ditos) ou HQs que versam sobre episódios da História da
Matemática. Aproximadamente três quartos dos estudantes, dentre o total de vinte e
61
A Marvel e a DC são as maiores editoras de HQs dos Estados Unidos da América. Seus personagens
são, geralmente, compostos por super-heróis (Andraus, 2006).
201
sete, manifestaram predileção pelas primeiras [QD, Questão 5]. A Figura 7.6 contém o
excerto das respostas dadas pelos alunos A15, A6, A16 e A12 (nessa ordem, de cima para
baixo) à sexta questão do Q1 nas quais justificam a preferência por HQs destinadas à
exposição de conteúdos matemáticos em detrimento daquelas voltadas para a História
de Matemática.
Figura 7.6. Importância que os alunos A15, A6, A16 e A12 concebem às HQs voltadas
52
202
participantes que manifestaram um maior interesse por HQs destinadas à apresentação
de episódios da história da Matemática (utilização de imagens; leitura prazerosa,
tratamento menos formal atribuído aos temas matemáticos; linguagem mais acessível;
processo de aprendizagem menos cansativo) [QD, Questões 5 e 6].
Até mesmo os estudantes que manifestaram predileção por HQs destinadas à
exposição de conteúdos matemáticos propriamente ditos reconhecem o valor de
conhecer os episódios históricos a eles relacionados. A importância que alguns destes
alunos, a saber, A17, A6, A11 e A18 (nessa ordem) atribuem ao conhecimento de fatos
históricos ligados ao desenvolvimento da Matemática [QD, Questões 5 e 6] está relatada
na Figura 7.7.
Figura 7.7. Valor atribuído pelos alunos A17, A6, A11 e A18 à História da Matemática
53
203
7.4 Aplicação da HQ1
204
Esquema de prova: Convicção externa
Para ter conhecimento acerca das relações prévias os alunos (AL) com as
demonstrações matemáticas, o pesquisador (PE) fez-lhes algumas perguntas:
Apresentação da pesquisa
205
pesquisador falou aos estudantes a respeito da investigação que estava desenvolvendo
acerca das vantagens e das limitações da exposição da Geometria Plana Euclidiana por
meio de HQs. Perguntou-lhes se eles aceitavam participar da investigação por meio da
leitura de algumas HQs confeccionadas com fins educacionais. Explicou-lhe que as
leituras deverão ser seguidas (e foram!) de discussões e da resolução de algumas
atividades.
O consentimento dos alunos em participar da pesquisa foi registrado através da
assinatura do TCLE que lhes foi entregue nesse mesmo dia. Por meio desse documento,
os participantes autorizaram o pesquisador a utilizar gravadores de áudio ou câmera
filmadora quando necessário, desde que para fins da investigação.
A cada um dos participantes foi entregue o QD para fins de sondagem de suas
experiências prévias com a Geometria e das suas motivações no que tange ao curso de
Licenciatura em Matemática (boa parte das informações ali coletadas foi apresentada
nas primeiras seções deste capítulo). O pesquisador leu, em voz alta, todas as questões
do questionário na perspectiva de esclarecer as possíveis dúvidas dos participantes. Eles
começaram a responder as questões. Alguns conseguiram responder a todas elas durante
o encontro. Os demais participantes entregaram o QD respondido no encontro seguinte.
62
Centro de Formação de Professores é o nome atribuído ao campus da UFRB situado na cidade de
Amargosa.
206
aprendizagem dos conteúdos ali expostos. Explicou-lhes que no final da HQ encontram-
se duas atividades que versam sobre os assuntos abordados na história. Eles deveriam
resolvê-las e entregar-lhe quando concluídas.
O investigador explicou aos estudantes que as três primeiras HQs seriam
disponibilizadas em formato de slides de Power Point. No laboratório de informática
havia 22 computadores em pleno funcionamento. Os estudantes trabalharam em duplas.
Alguns computadores não foram utilizados.
Durante as leituras, os estudantes se mostraram concentrados e não houve
dispersões. As conversas que surgiram estavam relacionadas ao conteúdo da HQ.
Poucos foram os momentos nos quais o investigador foi consultado [DB, 24 de julho de
2014].
Críticas à HQ
207
2014].
Facilitadores da aprendizagem
Não obstante as críticas quanto à forma superficial com que alguns assuntos
foram tratados na HQ, os alunos A3 e A12 elogiaram as imagens que compuseram a
história. O aluno A12 destacou:
Interpretação de texto
208
Respostas dos estudantes
Figura 7.8. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A3 e A12 às atividades
54
A aprendizagem por meio da leitura da HQ1 pode ser analisada a partir de três
fontes distintas: as discussões realizadas em sala de aula [DB], os comentários dos
discentes sobre a HQ [DB] e através das respostas às atividades propostas. A Figura 7.9
apresenta de forma sumarizada o cruzamento dessas informações. Estes dados foram
apresentados de forma alargada nas secções anteriores.
209
Figura 7.9. Triangulação dos dados recolhidos acerca da HQ1
55
210
aluno A4, porém, relatou ao pesquisador que sentiu vontade de dormir durante a leitura
[DB, 30 de julho de 2014]. Esse fato aponta para a necessidade de se criar narrativas
mais instigantes e que prendam a atenção dos leitores.
É possível perceber, por meio da Figura 7.10, que os alunos A4 e A21, e A3 e A15
concluíram (equivocadamente) na primeira tentativa que a reunião das semirretas S AB e
SBA estava contida na semirreta SAB. Na segunda tentativa perceberam que, na verdade,
isso ocorre com a interseção das semirretas.
211
Ferramentas simbólicas
Refazer a leitura
7.5.2 As definições na HQ
212
ABC”, conforme pode ser observado na Figura 7.11.
Conjunto convexo
(...) o que me fez mais compreender foi a revisão em sala. [A21, Q1,
Questão 7]
Plano convexo é aquele que quando marcado dois pontos a semirreta está
totalmente contida somente no plano e somente nele. [A23, Q1, Questão
7]
Semirreta e semiplano
214
também algumas respostas “incompletas” as quais merecem aqui alguns comentários.
Ao contrário do que foi observado durante a secção PPPRSL, desta vez os estudantes
pareciam ter compreendido melhor os conceitos de semirreta e semiplano. Contudo,
faltava-lhes mais habilidade com a apresentação de definições formais. Abaixo seguem
as definições apresentadas pelos alunos A12 e A11:
Semiplano são os pontos que estão acima ou abaixo de uma reta [A11,
DB, 30 de julho de 2014].
Uma reta divide um plano. Esses dois lados separados pela reta
chamamos de semiplanos. [A22, Q1, Questão 7]
As definições dadas pelos alunos A12 e A11 surgiram logo após a leitura da HQ2.
Estão mais próximas daquelas apresentadas pela própria HQ. Por outro lado, as
definições indicadas pelos alunos A18 e A22 foram obtidas em resposta ao Q1. Não
63
De acordo com a HQ2, uma semirreta de origem em um ponto A e que passa por um ponto B é o
conjunto formado por todos os pontos do segmento AB e por todos os pontos C tais que B encontra-se
entre A e B. Já um semiplano é o conjunto formado pelos pontos de uma reta e por todos os pontos do
plano que estão de um mesmo lado com relação à reta.
215
surgiram imediatamente após a leitura. São mais vagas e imprecisas se comparadas às
primeiras.
Eu achei que ficou muito legal a forma como foi exposto o conteúdo na
revista e as imagens ajudaram bastante na compreensão. [A3, Q1, Questão
7]
64
O terceiro e o quarto encontro foram destinados à aplicação da HQ2.
216
Gráfico 7.3. Assuntos apontados pelos estudantes como inteligíveis através da HQ2
3
O Gráfico 7.3 foi construído a partir das respostas de vinte e oito estudantes ao
questionário Q2. Quase metade destes estudantes apontou os conceitos primitivos como
o assunto mais inteligível a partir da leitura da HQ. Os axiomas de incidência e ordem,
os conjuntos convexos e a noção de semiplanos também figuram entre os mais
conteúdos apontados.
Alguns alunos apontaram os fatores que tornaram mais inteligíveis os conteúdos
destacados no Gráfico 7.3. De acordo com os alunos A11 e A13:
217
7.5.4 Dificuldades encontradas
Entre os assuntos que exigiram maiores esforços dos estudantes durante a leitura
da HQ2 encontram-se os conjuntos convexos e a semirreta. Os demais se dividiram
entre segmento de reta e os axiomas e as proposições presentes no texto. O Gráfico 7.4
apresenta a relação dos assuntos considerados menos inteligíveis a partir da leitura da
HQ2. Os dados foram obtidos a partir das respostas do vinte e oito estudantes que
responderam ao questionário Q1 [Questão 9].
Gráfico 7.4. Assuntos apontados pelos estudantes como menos inteligíveis através da
4
HQ2
Figura 7.12. Assuntos que impuseram dificuldades aos alunos A16, A25 e A13 quanto à
58
compreensão da HQ2
As respostas retratadas na Figura 7.12 não apontam para a raiz do problema: não
é possível saber, a partir delas, porque o conceito de semirreta tornou-se difícil de
compreender. O fato de A13, A16 e A25 terem recuado na leitura da HQ pode ter como
causa as dificuldades intrínsecas do próprio assunto. Como será visto mais adiante,
outros fatores (diferentes da dificuldade inerente ao conteúdo) contribuem para retardar
a aprendizagem.
Os alunos A18 e A21 necessitaram refazer a leitura de alguns trechos da HQ2.
Este fato deveu-se a alguns fatores destacados nas seguintes falas:
219
que responderam o questionário) como uma das causas da redução de inteligibilidade
durante a leitura.
O aluno A21 destinou a si mesmo os créditos pela incompreensibilidade da
leitura. Declarou ter se comportado de forma desatenciosa. A sua declaração revelou,
ainda que de forma subliminar, que a leitura não foi atraente a ponto de prender a sua
atenção.
Apenas quatro estudantes revelaram não ter sentido a necessidade de recuar na
leitura da HQ [Q1, Questão 8]. Um destes alunos, a saber, o aluno A11 ressaltou a
necessidade de se fazer uma leitura com atenção e envolvimento. Destacou que uma
leitura com concentração, presa aos “detalhes”, pode levar à compreensão dos
conteúdos ali presentes.
O Gráfico 7.5 apresenta os fatores que injetaram dificuldades à compreensão dos
assuntos presentes na HQ, na opinião dos participantes. Esses dados foram obtidos por
meio do Q1.
HQ2
De acordo com o Gráfico 7.5, a forma como os assuntos foram expostos na HQ2
constituiu o elemento que menos contribuiu com a aprendizagem dos alunos. Esse fato
aponta para a necessidade de se rever o tratamento formal e o enredo utilizados na HQ.
Em seguida, aparecem com certo destaque, a complexidade inerente aos assuntos e a
falta de conhecimentos prévios dos alunos.
No item outros que aparece no Gráfico 7.3, os alunos A25 e A21 pontuaram,
respectivamente, a grande quantidade de assuntos abordados na HQ e a insuficiência de
220
exemplos relacionados aos conteúdos ali presentes. A exposição teórica alimentada por
poucos exemplos tornou a leitura maçante, assinalou o aluno A21. O aluno A11 destacou,
com desaprovação, a figura utilizada na HQ para clarificar o conceito de convexidade:
“A imagem no momento da explicação ficou um pouco da desejar. Deveria usar outro
método de explicação sem ser a quadra de basquete” [A11, Q1, Questão 10]. A imagem à
qual o aluno A11 se refere pode ser encontrada na HQ2, no Apêndice 3 deste trabalho.
221
necessário completar algumas lacunas de modo a finalizar a demonstração. A Figura
7.14 apresenta a solução apresentada pelos alunos A1 e A4.
Assim como A1 e A4, cuja solução aparece na Figura 7.14, os demais estudantes
não conseguiram preencher todas as lacunas. O pesquisador precisou explicar-lhes que a
igualdade entre dois conjuntos é assegurada quando o primeiro conjunto é um
subconjunto do segundo e vice-versa. Essa compreensão faltava-lhes para resolver a
atividade. Novamente, determinados conhecimentos da teoria dos conjuntos se
mostravam necessários e os alunos, naquele momento, não os tinham.
Nesta subsecção é feita uma síntese dos dados apresentados na seção 7.5, todos
inerentes à aplicação da HQ2. Esses dados aparecem de forma sumarizada na Figura
7.15.
222
Figura 7.15. Triangulação dos dados relacionados à HQ2
61
223
do CFP. Estiveram presentes trinta e dois estudantes. A atividade do dia consistia na
leitura da HQ3, seguida de discussões. Antes dos estudantes iniciarem a leitura, o
investigador teceu comentários acerca de alguns conteúdos matemáticos que figuravam
como pré-requisitos para o bom desenvolvimento da atividade. Falou-lhes ainda de
conceitos como: correspondência biunívoca; equidistância; módulo de um número real.
Em seguida, acordou com a turma que desta vez a leitura seria desenvolvida em etapas:
momentos de discussão intercalando momentos de leitura. Além das “doses
homeopáticas” de discussões havia ainda a secção PPPRSL que consistia numa pausa
na leitura para refletir sobre os assuntos expostos.
O investigador decidiu adotar essa estratégia, pois receava que a realização de
um único debate ao fim das leituras, como realizado na HQ2, pudesse ser menos
frutífero em virtude do acúmulo de dúvidas. A atuação dinâmica do investigador e a
realização de ajustes durante a coleta de dados são naturais em uma pesquisa qualitativa.
Segundo Gall, Gall e Borg (2003), nem todos os “procedimentos são estandardizados ou
podem ser especificados” (p. 445) antes da atuação do pesquisador em campo. Assim,
mesmo se colocando à disposição dos estudantes para sanar-lhes as dúvidas que
emergiam durante a leitura, o investigador resolveu adotar essa estratégia. Ponderou que
a realização de discussões, de forma gradual, tornaria mais profícuo o entendimento do
texto.
Tem uma parte que fala que um par de pontos então... dados dois pontos
num segmento, esses segmentos tem uma distancia maior ou igual a zero,
se eu não me engano. É zero, se e somente se estiverem no mesmo lugar.
[A7, E1]
65
A ferramenta simbólica SAB é utilizada no texto para designar a semirreta de origem no ponto A e que
passa pelo ponto B.
225
(...) uma [proposição] vai provar que o C está entre o ponto A e B, se eu
não me engano. [A7, E1]
(...) o ponto C, tá dentro. Deu pra entender muito bem, ficou até bem
explicado, mas também porque a gente acabou já vendo dentro de classe
e tudo. E aí a gente já vai tendo uma noção e aí dá pra entender. Não sei
aqui, não sei se quando eu chegasse aqui direto e visse isso, não sei se eu
entenderia [referindo-se à leitura “isolada”, sem as explicações do
investigador]. Mas como a gente já teve muita explicação, claro. Deu pra
entender muito bem essa parte. [A9, E1]
Deu-se início ao terceiro momento de leitura. Havia outra proposição. Dizia que
um ponto está localizado entre outros dois pontos se, e somente se, a sua coordenada
está compreendida entre as coordenadas daqueles pontos. Apesar da leitura tornar-se
mais complexa, alguns estudantes conseguiram concluir a leitura da demonstração [DB,
7 de agosto de 2014].
O investigador percebeu que alguns participantes não tinham compreendido que
se tratava de uma demonstração em duas etapas: os dados postos no enunciado eram
equivalentes! A despeito de um dos personagens da HQ tecer alguns comentários acerca
da existência de proposições dadas na forma de bicondicionais, estes participantes não
conseguiram conectar esse fato à proposição. O investigador chamou-lhes a atenção a
esse respeito [DB, 7 de agosto de 2014].
O aluno A7 demonstrou ter compreendido, em linhas gerais, o enunciado da
proposição:
226
encerrar a leitura. Ainda restava a sessão destinada ao estudo acerca do ponto médio de
um segmento.
O teorema [do ponto médio] com certeza eu entendi que foi um único
ponto médio... que isso é meio que obvio, né?! A demonstração ficou um
pouquinho mais clara, dá pra entender. Se mandar fazer uma
demonstração, mais ou menos na reta um ponto médio obviamente não
tem como errar, tá entendendo? [A1, E1]
O teorema é... o do ponto médio... pra provar que entre dois pontos só
existe um ponto médio. Ele prova adicionando uma coordenada pra o
outro ponto M chamando ele de C’. E no final ele acaba demonstrando
que se houvesse um outro ponto médio ele ia ter o mesmo valor [mesma
coordenada] que primeiro ponto médio. Logo, de um ponto ao outro só
existe um ponto médio (...) de tudo o que a revista passa, a única coisa
que não ficou clara para mim foram as proposições. [A7, E1]
227
compreender o teorema. Clamavam, porém, pela utilização de exemplos numéricos ao
invés de expressões literais [DB, 8 de agosto de 2014].
Uma das molas propulsoras das dificuldades enfrentadas pelos estudantes para
compreender as demonstrações matemáticas presentes na HQ consistia na falta de
habilidades em resolver operações envolvendo módulo de números reais. Este assunto
esteve presente na segunda proposição e na demonstração da existência e unicidade do
ponto médio de um segmento:
[A] adaptação ao [assunto] módulo foi muito... foi difícil. Agora a gente
já vai entendendo um pouco, mas no início foi complicado! [A9, E1]
228
demonstração aos alunos) precisou recorrer a exemplos numéricos. Só depois passou
para uma abordagem algébrica. Essa forma de explanação pareceu tornar o assunto mais
inteligível para os alunos. O aluno A8, inclusive, sinalizou ao investigador a necessidade
de se inserir mais exemplos numéricos à HQ:
Eu acho que com exemplos já seria bem melhor (...) daria mais pra a
gente entender. [A8, E1]
(...) eu pelo menos não venho conseguindo fazer, como eu falei, usar os
sinais corretos [refere-se às ferramentas simbólicas]. Agora, que é
importante obviamente é né, porque a linguagem matemática obriga você
a saber demonstrar as coisas em sinais. Em regras e tudo mais (...) O que
às vezes tá embolando é isso, acertar cada sinal. ‘Contido’, ‘não contido’,
isso a gente, quer dizer eu pelo menos tô tentando aprender agora nunca
vi. [A1, E1]
O que eu mais entendi, o que ficou claro pra mim é o ponto médio.
Obviamente porque isso é bem óbvio e o resto eu to me esforçando. Tô
com a revistinha lendo e tudo mais. Tô com os meus colegas estudando
pra continuar aprendendo. [A1, E1]
(...) porque eu acho que a revista... o tema principal dela era mostrar as
medidas, a distância de um ponto e outro. E eu, pelo menos eu,
compreendi a maioria da revista. Eu só fiquei um pouco empacado na
parte que entrou as proposições que ele provou com módulo, complicou
um pouquinho. [A7, E1]
229
De acordo com o aluno A1 não há dúvidas quanto à existência e a unicidade do
ponto médio de um segmento. Não faz menção a demonstração. Parece ter
compreendido o resultado em si. Destaca a presença de dificuldades em outros assuntos,
mas não os menciona diretamente.
O aluno A7 diz ter compreendido a maior parte dos assuntos presentes na HQ. A
suas inquietações residiram apenas nos momentos em que foi necessário utilizar as
propriedades de módulo de um número real.
O aluno A9 revela ter compreendido a primeira proposição. A mesma não
envolve o módulo de números reis. É possível que esse fato, em alguma medida, tenha
contribuído. O estudante julga ser capaz de explicar ao investigador o conteúdo da
proposição com as suas próprias palavras, ou seja, sem reproduzir as palavras presentes
na HQ. Esse aspecto é positivo tendo em vista a ausência de processos de memorização.
Antes da finalização da leitura da HQ3 foi entregue a cada dupla uma cópia da
atividade proposta na secção PPPRSL. Os participantes se mostraram motivados para
resolvê-la. Poucas foram as interferências do investigador. Em sua maioria, consistiu
em sinalizar que as duplas estavam adotando os procedimentos corretos. Das dezesseis
duplas que responderam a atividade, apenas uma não assinalou a alternativa correta na
primeira tentativa.
A questão fornecia o comprimento de um segmento de reta e a coordenada de
uma das suas extremidades. Solicitava aos estudantes as coordenadas da outra
extremidade e do ponto médio do segmento. A primeira delas resulta do fato de ser o
comprimento de um segmento igual ao valor absoluto da diferença entre as coordenadas
das suas extremidades. A coordenada do ponto médio, por sua vez, é dada pela média
aritmética das coordenadas dos pontos extremos do segmento. Ambas as informações
aparecem durante a leitura da HQ. Quase dois terços dos participantes utilizou algum
desenho para resolver a questão, todos envolvendo a representação de um segmento de
reta.
Dentre as cinco alternativas propostas na atividade duas estavam corretas. A
Figura 7.16 traz o excerto das soluções apresentadas por duas duplas cujas respostas
assinaladas são diferentes (ambas corretas).
231
Figura 7.16. Excerto das soluções apresentadas por duas duplas à secção PPPRSL em
62
HQ3
232
conforme pode ser observado na Figura 7.17, a qual apresenta as respostas dadas por
duas duplas: os alunos A12 e A27 e os alunos A15 e A28, respectivamente, de cima para
baixo.
Figura 7.17. Excerto das respostas dos alunos A12 e A27, e A15 e A28 ao primeiro item da
63
Raciocínio geométrico
Das treze duplas que entregaram a atividade, onze responderam ao item (a)
retratado na Figura 7.17. Duas dessas duplas afirmaram que se o ponto B estivesse entre
A e C, o comprimento do segmento AB seria menor que o comprimento de AC
contrariando a hipótese da questão. Faltou-lhes apenas mencionar o axioma de medição
de segmentos que respalda a afirmação embora estivessem utilizando-o. Ainda assim, as
233
argumentações que dispunham não se mostraram distantes de uma demonstração
matemática, no sentido que cabe à atividade. A resposta apresentada por uma das
duplas, a saber, os alunos A12 e A27 (a primeira que aparece na Figura 7.17). A outra,
composta pelos alunos A3 e A29, respondeu da seguinte forma (Figura 7.18):
Figura 7.18. Solução apresentada pelos alunos A3 e A29 ao item (a) da 1 a questão
64
O raciocínio geométrico empregado pelos alunos A12 e A27 (Figura 7.17) e pelos
alunos A3 e A29 (Figura 7.18) será classificado como FD.
Oito duplas responderam a atividade afirmando que C está entre A e B, pois o
comprimento de AC é menor que o comprimento de AB. Faltou-lhes o cuidado e o
detalhamento que cabe à apresentação dos argumentos em uma demonstração
matemática. O tipo de raciocínio geométrico presente nestas respostas será classificado
neste texto como SD. Uma dessas respostas, apresentada pelos alunos A15 e A28, aparece
na Figura 7.17 (a segunda de cima para baixo).
Em três casos assistiu-se a ocorrência do raciocínio do tipo EC: Duas duplas não
responderam a atividade (A6 e A20; A10 e A30) e uma dupla, formada pelos alunos A1 e
A2, respondeu de forma a considerar a tese com se hipótese o fosse, conforme mostra a
Figura 7.19:
Figura 7.19. Solução apresenta pelos alunos A1 e A2 ao item (a) da 1a questão proposta
65
ao final da HQ3
234
Figura 7.20. Excerto da solução apresentada pelos alunos A25 e A31 aos dois últimos
66
A solução que aparece na Figura 7.20 peca quanto ao uso de duas ferramentas
simbólicas distintas para referir-se ao comprimento de segmentos de retas ( AM e AB,
por exemplo). Há ainda uma “economia” no uso das palavras fazendo com que algumas
explicações não sejam explicitamente apresentadas (por exemplo, a igualdade
" AM BN CM CN " presente no texto decorre do fato de M e N serem,
respectivamente, os pontos médios de AC e CB). Além disso, a expressão CM CN 2
deve ser substituída por CM CN 2 . Contudo, a despeito destes problemas no uso da
linguagem simbólica, o raciocínio dedutivo está presente no texto. O tipo de
pensamento geométrico ali empregado será classificado aqui como FDm.
A resolução da questão exposta na Figura 7.20 assenta-se na presença dos pontos
médios dos segmentos AC e CB. As respostas apresentadas pelas duplas A12 e A23, A3 e
A29, A24 e A30, A18 e A26, e A4 e A31, a despeito de serem apresentadas de formas
distintas (com exceção das soluções apresentadas pelas duas primeiras duplas66), partem
desta ideia. O que as difere é a forma de apresentação dos argumentos conforme mostra
a Figura 7.21.
66
A semelhança entre as formas como as duplas A12 e A23, e A3 e A29 responderam à atividade sugerem a
troca de informações entre estes estudantes.
235
Figura 7.21. Excerto da solução apresentada pelos alunos A12 e A23, A3 e A29, A24 e
67
A30, A18 e A26, e A4 e A31 ao terceiro item da primeira questão proposta ao final da HQ3
236
Na tentativa de dizer que os pontos M e N dividem, respectivamente, os
segmentos AC e CB em dois outros segmentos de mesma medida, os alunos A24 e A30
disseram que estes pontos “significa[m] a metade dos mesmos [segmentos]”. Os alunos
A18 e A36 também procedem de forma parecida. Disseram que se os pontos médios
forem “multiplicados por dois dão o valor do segmento”.
Nas soluções dos alunos A12 e A27, e A3 e A29, a linguagem corrente dá espaço à
linguagem matemática. A falta de domínio desta última, inclusive, foi a responsável
pela existência do equívoco cometido pelos estudantes. As duas soluções de A24 e A30, e
A18 e A36 privilegiaram a linguagem verbal. O seu uso, porém não foi suficiente. Por um
lado, estes estudantes conseguiram transmitir uma ideia de compreensão geral do
problema. Por outro, trata-se de uma ideia pouco aprisionada aos detalhes que o rigor
matemático impõe.
A solução dos alunos A4 e A31 também privilegiaram a linguagem verbal em
detrimento da linguagem simbólica. Há, em algum nível, pessoalidade e quiçá
coloquialidade no texto: “pegarmos”, “somarmos”, “multiplicarmos”. Por “média do
AC ”, os alunos A4 e A31 possivelmente pretendiam dizer: “metade do comprimento de
AC”. Da mesma forma, onde aparece “o ‘seguimento’ dos pontos MN ”, deveria estar
escrito “o comprimento do segmento MN”. Os problemas não residem na pessoalidade
do texto. Antes se esbarraram na falta de mais esclarecimentos (argumentos) na
construção da resposta.
As respostas apresentadas pelas duplas A15 e A28, e A11 e A23 contêm afirmações
corretas, mas incompletas. Os excertos destas respostas aparecem, nessa ordem, de cima
para baixo, na Figura 7.22.
Figura 7.22. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A15 e A28, e A11 e A23 ao
68
237
Na solução apresentada pelos alunos A15 e A28 ainda é preciso mencionar que
AC 2 MC e CB 2 NC , pois M e N são, respectivamente, os pontos médios de AC e
CB. Em seguida, deve-se utilizar o fato do ponto C localizar-se entre M e N. A solução
dos estudantes não permite fazer inferências sobre relações entre os comprimentos dos
segmentos AB e MN. Não mencionam os pontos M e N. A solução apresentada pela
segunda dupla, os alunos A11 e A23 também se revela incompleta. Pouco se pode
vislumbrar a partir dela. A incompletude regente em ambas as soluções permite
classificar o raciocínio geométrico nelas empregado como IN.
As demais cinco duplas não responderam ao item c ou quando o fizeram suas
respostas se resumiram à palavra “sim”. O raciocínio empregado por essas seis duplas
será designando aqui como EC.
O Gráfico 7.6 estabelece uma comparação entre os tipos de raciocínios
geométricos verificados nas respostas dos estudantes aos itens a e c da primeira questão.
238
A segunda questão proposta não envolvia demonstrações e pode ser visualizada
na Figura 6.15, no capítulo anterior. Trata da obtenção das coordenadas de um conjunto
de sete pontos colineares. Envolve dados numéricos. Cinco das treze duplas
responderam corretamente aos cinco itens propostos na atividade (A12 e A27, A25 e A31,
A24 e A30, A3 e A29, A11 e A23). Três duplas responderam quatro itens corretamente (A22
e A, A6 e A20, A16 e A32) e três duplas o fizeram em três itens (A15 e A28, A10 e A30, A1 e
A2). Uma dupla respondeu corretamente a apenas um item (A4 e A31) e apenas uma
dupla não respondeu a item algum (A18 e A26). De acordo com esses dados, 3/5 da
questão foram corretamente respondidos por onze das treze duplas. Esse fato demonstra
a fluidez das respostas dos estudantes diante de questões que não se assemelham a
demonstrações matemáticas.
Linguagem matemática
239
no empregado das ferramentas simbólicas (“ CM CN 2 ”, “ 2 M AC ”,
“ 2 N 2CB ”).
Os equívocos cometidos pelos alunos A24 e A30 (Figura 7.21) e A4 e A31 (Figura
7.21) residiram no emprego da linguagem materna. Ao escrever, “M e N os pontos
médios de AC e CB que significa a metade dos mesmos” (Figura 7.21), os alunos A24 e
A30 não conseguiram expressar verbalmente as ideias que povoavam os seus
pensamentos. Na tentativa de dizer que o ponto M divide o segmento AC e dois outros
segmentos de mesmo comprimento, os alunos disseram que M “significa a metade” de
AC! As respostas dos alunos A4 e A31 também apresentaram erros de natureza
semelhante (Figura 7.21).
Duas duplas privilegiaram em suas respostas o emprego de um único tipo de
linguagem: a materna (A18 e A26, ver Figura 7.21) ou a simbólica (A11 e A23, ver Figura
7.22, a segunda solução de cima para baixo). Em ambos os casos, a linguagem adotada
não foi suficiente para resolver à questão.
As cinco duplas restantes não responderam ao item ou o responderam apenas
com a palavra “sim”. Linguagem materna usada de forma insuficiente.
A segunda questão foi respondida por meio de cálculos numéricos. Em
raríssimos casos houve justificações verbais e simbólicas. Os conhecimentos teóricos
foram diretamente utilizados na representação imagética disposta na própria questão.
240
Figura 7.23. Triangulação dos dados relacionados à HQ3
69
241
Atendendo às recomendações do pesquisador, os estudantes se dividiram em
duplas. Cada dupla recebeu uma cópia da HQ4 intitulada Dona Geometria em subindo
mais um deGrau a qual versa sobre os axiomas de medição de ângulos e sobre as suas
consequências. Iniciada a leitura, o proponente da pesquisa acompanhou cada dupla,
filmando-as. Ao mesmo tempo, buscou dirimir as dúvidas dos estudantes quando
levantadas.
Ferramentas simbólicas
Ao ver a letra grega (alpha) na tirinha retratada na Figura 7.24, o aluno A20
perguntou ao investigador: “As letras gregas não são utilizadas para nomear os
planos?”. O segundo respondeu: “Sim, mas isso não nos impede de as utilizarmos para
242
denotarmos um ângulo [qualquer] ou a sua medida” [DB, 14 de agosto de 2014]. O
aluno A8 também teve dúvidas quanto às ferramentas simbólicas utilizadas para denotar
os ângulos. A disposição adotada no texto em que o vértice aparece entre dois pontos,
cada um pertencente a um lado do ângulo, precisou ser esclarecida pelo investigador
(por exemplo, BÂC para o ângulo de vértice no ponto A, com um dos lados passando
por B e outro por C). Ao se referir ao acento circunflexo comumente inserido sobre o
ponto que denota o vértice do ângulo, A8 perguntou ao investigador: “Por que colocar o
‘chapeuzinho’?”. Este último respondeu-lhe: “É uma notação. Uma escolha. Se não
colocássemos o acento circunflexo, estaríamos usando a mesma notação adotada [aqui]
para triângulo67”. O pesquisador explicou ao aluno A8 que, a despeito da adoção
daquela ferramenta simbólica, existem outras que também podem ser utilizadas para
denotar um ângulo. Essas formas variam de autor para autor, destacou o investigador
[DB, 14 de agosto de 2014].
Ao perceber (ou recordar) que a unidade de medida utilizada para medir ângulos
é o grau, o aluno A20 perguntou ao investigador: “O que significa [um] grau?”. Em
resposta, o investigador pediu-lhe que desenhasse um círculo de raio qualquer e de
centro em um ponto qualquer, digamos O. Disse-lhe para imaginá-lo dividido em 360
arcos de mesmo comprimento. Considerando dois pontos consecutivos quaisquer dessa
partição, por exemplo, A e B, o pesquisador pediu ao estudante que considerasse o
ângulo AÔB. A medida desse ângulo é, por definição, um grau, acrescentou o
investigador68. O aluno A20 questionou-lhe: “Por que esse nome ‘grau’?”. O
investigador não soube informar a origem do nome [DB, 14 de agosto de 2014].
A ferramenta simbólica utilizada na HQ para designar as semirretas difere, ainda
que minimamente, daquela adotada pelo investigador durante as explicações em sala de
aula. Na HQ aparece SAB. O investigador, porém, utilizou SAB. Ambas as ferramentas
simbólicas se reportavam a semirreta de origem em um ponto A e que passa pelo ponto
B. O aluno A7 questionou o investigador acerca desta distinção: “Professor, por que o
senhor escreve de uma forma e na HQ aparece de outra?”. O investigador respondeu:
67
Ao longo das HQs, o triângulo com vértices nos pontos não colineares A, B e C tem sido denotado por
ABC (e não ABC).
68
De acordo com Giovanni, Castrucci e Giovani Júnior (2007), o grau surgiu por volta dos anos 5000 a.
C. À época acreditava-se que o Sol girava em torno da Terra em uma órbita circular que levava 360 dias.
A cada dia, o Sol percorria 1/360 dessa órbita. O ângulo cujo vértice era o centro da Terra formado
pelo Sol em um dia dessa órbita passou a ser denominado um grau.
243
“Porque no toondoo69 não é possível designar as semirretas da forma que eu gostaria”,
isto é, por SAB [DB, 14 de agosto de 2014].
69
O Toondoo não permite escrever as letras em formato subescrito.
244
7.7.2 Secção PPPRSL
Figura 7.26. Excerto da resposta apresentada pelos alunos A22 e A31 à secção
72
PPPRSL da HQ4
Dificuldades na leitura
70
Também conhecidos como vértices verticalmente opostos.
71
Neste momento, o pesquisador está utilizando a expressão segunda parte da leitura para designar a
leitura da HQ4 desenvolvida após a resolução da atividade disposta na seção PPPRSL.
246
A representação de duas perpendiculares a uma reta passando por um de seus
pontos, retratada na Figura 7.27, gerou alguns conflitos72.
Figura 7.27. Unicidade da perpendicular a uma reta passando por um de seus pontos
73
Fatores de inteligibilidade
Onze estudantes afirmaram não ter sentido dificuldade alguma diante da leitura
da HQ [A4, A8, A10, A11, A13, A16, A18, A25, A28, A30, A31, Q2, Questão 6]. O aluno A12,
72
Trata-se de uma demonstração por redução ao absurdo.
247
embora não incluído neste grupo, declarou: “Adorei a história em quadrinhos,
professor” [DB, 14 de agosto de 2014]. O investigador indagou aos estudantes o porquê
desta HQ ter sido, aparentemente, mais inteligível que as anteriores. Alguns elementos
foram destacados:
1. Facilidade intrínseca do assunto: “O assunto é fácil e a revista ajuda bastante”
[A18, Q2, Questão 7]. O aluno A10 afirmou não ter sentido dificuldades “pelo fato do
assunto ser fácil e a revista ter abordado o necessário [e] suficiente para aprender” [Q2,
Questão 7].
2. A abordagem utilizada na HQ: “essa história em quadrinhos explicou o
assunto ângulos bem ‘aplausivo73’, não restou dúvida alguma em mim” [A11, Q2,
Questão 7]; “o conteúdo já está bem explicado” [A30, Q2, Questão 7]; “na minha leitura
da HQ consegui absorver o que a HQ passou como exemplo. [Ela] prova todas as
proposições de tal forma que fica claro” [A29, Q2, Questão 7].
3. Linguagem e imagens: “as explicações foram dadas com linguagem de fácil
interpretação, junto com as ilustrações que foram claras e objetivas” [A4, Q2, Questão
7].
4. Conexões com o cotidiano: “a HQ explica o assunto através de coisas do
nosso cotidiano e essa relação fica mais fácil de entender” [A25, Q2, Questão 7].
A despeito da aceitabilidade da HQ4 em sala de aula, um estudante, a saber, o
aluno A20, pontuou: “A HQ tá grande. Acho que ela deveria ser dividida em duas
partes” [DB, 14 de agosto de 2014]. Este estudante não tinha respondido ao questionário
Q1 .
7.7.4 Alterações na HQ
73
Certamente o discente pretendia dizer "plausível".
248
Figura 7.28. Excerto dos comentários de alunos A11, A10, A8 e A27 acerca da
74
249
Inclusão de mais exercícios
Os relatos dos alunos A11, A10, A8 e A27 apresentados na Figura 7.28 revelam a
importância que esses atores atribuem à resolução de exercícios no processo de
aprendizagem de geometria. O aluno A11 aponta os exercícios como uma nova
oportunidade de revisitar a exposição teórica dos assuntos. O comentário do aluno A10
remete à ideia da aprendizagem por repetição e, nesse sentido, os exercícios podem ser
fortes aliados. O relato do aluno A8 aponta para a possibilidade de inserir vários
exercícios ao longo do texto ao invés de uma bateria de questões no final. A
aprendizagem, nessa perspectiva, parece ocorrer de forma mais natural e processual. E
por fim, por meio do aluno A27, é apresentada a ideia de que os exercícios destinam-se
mais à preparação do aluno para uma prova do que para a sua formação em um sentido
mais holístico.
250
Em resposta ao questionário Q2 (à mesma questão apresentada na Figura 7.28),
os alunos A24 e A3 não fizeram referência à entrada de mais exercícios na HQ.
Revelaram-se preocupados com os teoremas em si. Dentre os itens dispostos na questão
retratada na Figura 7.28, estes estudantes assinalaram aquele que se referia à
apresentação das demonstrações de forma mais intuitiva. O aluno A24 defendeu a
entrada de mais aplicações dos teoremas. Somente o aluno A18 não propôs alterações às
HQs: “[Sugiro que fique] do jeito que está, pois todos estão aprendendo e gostando”
[Q2, Questão 4].
Dos dezoito estudantes que responderam ao questionário Q2, somente três (A4,
A11 e A31) revelaram preferir a abordagem dada pelos livros didáticos ao assunto
ângulos em detrimento daquela apresentada na HQ. O aluno A16 esteve entre os quinze
estudantes que apresentaram opinião contrária, ou seja, entre aqueles que preferem a
abordagem adotada pela HQ. Segundo este estudante, “ângulo é um assunto de
dificuldade intermediária e estudá-lo por meio de uma HQ é mais interessante do que
através dos livros didáticos usuais” [Q2, Questão 5].
Metodologia da aplicação
Ainda com relação aos estudantes que responderam ao Q2, oito deles
propuseram mudanças na forma de aplicação das HQs: primeiro o professor
(investigador) explica o assuntos em sala de aula e depois aplica as HQs, defendem os
estudantes. Eles não fizeram menção à utilização de outras fontes bibliográficas. Abaixo
seguem os comentários apresentados pelos alunos A4, A11, A12 e A15:
Alguns assuntos abordados nas HQs não foram passados para mim no
ensino fundamental ou no ensino médio o que dificulta um pouco o
entendimento [sem as explicações prévias]. [A12, Q2, Questão 1]
251
Os assuntos são meio complicados. Depois que tem uma explicação o
assunto se torna mais fácil. [A15, Q2, Questão 1]
Eu acho que desta forma está legal, pois a história em quadrinhos acaba
estimulando a leitura. O aluno acaba se envolvendo com o assunto e isso
faz com que ele busque mais o assunto porque acaba sendo legal. [A3,
Q2, Questão 1]
Porque ajuda a entender melhor sobre o assunto que será dado, ainda
mais de uma forma dinâmica e associando o assunto ao cotidiano. [A25,
Q2, Questão 1]
Na minha opinião do jeito que está sendo é melhor. Porque quem não
entender lendo sozinho, quando o professor pausa a leitura em
determinado lugar, explica e tira a dúvida de quem tiver para assim
continuar a leitura e tentar compreender a próxima parte. [A31, Q2,
Questão 1]
252
De acordo com os alunos A16, A18, A25 e A32 as HQs tornam a aprendizagem
dinâmica, lúdica, divertida e atrativa. Quando a narrativa dialoga com o cotidiano dos
sujeitos-leitores ou quando lhes estimulam a imaginação, pontuam A25 e A32,
respectivamente, as HQs tendem a prender a atenção dos estudantes. A motivação para
a aprendizagem não se encerra com a própria leitura das HQs. A partir daí, assinalam os
alunos A3 e A8, os estudantes tendem a galgar voo em direção a outras fontes de
aprendizagem na perspectiva de alargar o conhecimento presente nas HQs. Assim
ocorre a transição de uma leitura mais fácil e atrativa para uma leitura mais densa,
assinala o aluno A16. Contudo, destacam os alunos A18 e A31, a leitura das HQs por si só
não garantem a aprendizagem. É necessário haver a mediação do professor.
74
A primeira solicitação para a realização de registros fotográficos foi feita através do TCLE.
253
Figura 7.29. Estudantes respondendo à primeira atividade proposta ao final da HQ4
75
Raciocínio geométrico
A Figura 7.30 traz o excerto das soluções apresentadas pelas duplas A11 e A20,
A3 e A15, A7 e A17 à primeira questão. O registro fotográfico que aparece na Figura 7.30
foi obtido enquanto os alunos A11 e A20 redigiam a resposta da atividade.
Figura 7.30. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A11 e A20, A3 e A15, A7 e
76
254
As respostas apresentadas na Figura 7.30 demonstram que os estudantes
assimilaram de forma correta os conceitos de bissetriz de um ângulo e de ângulos
complementares necessários à resolução da atividade. Ademais, os discentes souberam
usar as hipóteses de forma sequencial e organizada tendo em vista e resolução do
problema. Os textos estão bem escritos e revelam a existência do raciocínio geométrico
do tipo FD. Esse tipo de raciocínio foi identificado nas respostas apresentadas por um
total de onze duplas dentre as treze que resolveram a atividade.
As duplas A12 e A27, A4 e A13 também utilizaram o raciocínio dedutivo, mas a
forma de apresentação das respostas possuem aspectos a melhorar conforme se pode ver
por meio da Figura 7.31. O raciocínio presente nestas respostas será classificado aqui
como FDm. A imagem que aparece no topo da Figura 7.31 refere-se aos alunos A4 e
A13.
Figura 7.31. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A4 e A13, A12 e A27 à
77
256
Figura 7.32. Excerto da resposta apresentada pelos alunos A22 e A31 à segunda questão
78
É possível perceber, a partir da Figura 7.32, que os alunos A22 e A31 haviam
compreendido os conceitos de diagonal de um polígono e sabiam que se tratava de um
triângulo equilátero. Encontram, corretamente, as medidas dos lados do pentágono e o
fizeram seguindo uma lógica dedutiva. Entretanto, não finalizaram a resolução. Não
apresentaram o valor do perímetro do polígono.
As demais nove duplas responderam de forma completa à atividade. Utilizaram
de forma adequada as hipóteses e demonstraram compreender os conceitos necessários
à resolução da atividade: diagonal de um polígono, classificação de triângulos quanto às
medidas dos lados, perímetro de um polígono. A Figura 7.33 apresenta o excerto das
resoluções apresentadas pelas duplas A7 e A17, A16 e A18, A12 e A27. Há também um
registro fotográfico obtido enquanto uma destas duplas desenvolvia a atividade.
Figura 7.33. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A7 e A17, A16 e A18, A12 e
79
258
Linguagem
75
Todas as respostas seguiram uma lógica dedutiva.
261
triângulos equiláteros”), a utilização da palavra “todos” pode dar margem a
interpretações equivocadas. Uma interpretação literal pode conduzir à ideia de que as
medidas dos lados de um triângulo equilátero além de serem iguais entre si serão iguais
às medidas dos lados de quaisquer outros triângulos equiláteros. A forma correta como
os estudantes responderam a atividade revela que de fato eles sabem de que se trata um
triângulo equilátero. Apenas, ao transporem o pensamento para o papel incorrem em
algumas dificuldades de expressão. Nem todos os participantes, porém, confundiram
lado do polígono com a sua medida: “CDE é um triângulo equilátero logo as medidas
dos lados são iguais” [A4 e A13, HQ4, AP2].
Nas respostas apresentadas por seis duplas não há erro algum quanto ao uso da
linguagem76. Duas destas respostas, apresentadas pelos alunos A16 e A18, A12 e A27, são
retratadas na Figura 7.3377. No primeiro caso, assiste-se a uma articulação mais
harmoniosa entre as linguagens simbólica e materna. No segundo, percebe-se uma
predileção da primeira com relação à segunda.
Não obstante os pequenos deslizes cometidos nos textos apresentados pelos
alunos, em todas as soluções apresentadas percebe-se um esforço em justificar cada
procedimento adotado. Em todas as soluções, os alunos utilizaram a imagem do
pentágono presente no texto onde traçaram as diagonais e assinalaram as medidas dos
lados deste polígono na medida em que as mesmas eram encontradas. Assim, percebe-
se, durante a resolução da atividade, a articulação entre os três tipos de linguagem:
icônica, simbólica e materna.
Definições
76
Em todas as respostas foi identificada a presença do raciocínio dedutivo.
77
As outras duplas cujas respostas não apresentaram problemas quanto ao uso da linguagem matemática
foram: A22 e A31, A6 e A8, A4 e A13, e A10 e A30.
262
Ângulos complementares são ângulos cuja soma é igual a 90o [A6 e A8,
HQ4, AP1]
Bissetriz é a semirreta que corta o ângulo ao meio [A10 e A30, HQ4, AP1]
263
pelos estudantes aproxima-se substancialmente do conceito. Não dá margem a
interpretações dúbias.
266
Figura 7.35. Excerto da demonstração do caso de congruência ALA
81
Oxe, por que esse G está aqui? Esse lado [apontando para o lado AG no
triângulo ABG] nunca vai ser igual ao daquele [o lado DF do triângulo
outro triângulo do triângulo DEF]. [A11, E2]
Acho que só foi a confusão mesmo na hora de você olhar a figura assim e
ler... olhando assim, a figura, você se confunde, entendeu? Está vendo o
ponto G e o ponto C ali. Achei confuso. [A13, E2]
Ele [o autor da HQ] está supondo que o [ponto] G está aqui [mostra com
o dedo indicador a posição do ponto na figura] pra depois ele dizer que
esse lado [lado AG do triângulo ABG] é igual a esse lado [lado DF do
triângulo DEF] (...) vai chegar a conclusão [de] que G não está naquele
ponto que ele colocou. Vai estar coincidindo a outra reta [por outra reta,
ler-se “segmento de reta”]. [A11, E2]
267
Após os esclarecimentos do investigador, os estudantes avançaram na leitura
parecendo compreender melhor a demonstração. A leitura da HQ não foi suficiente. O
investigador precisou intervir [DB, 22 de agosto de 2014].
Ferramentas simbólicas
Definições
268
A definição apresentada pelo aluno A13 remete à ideia de que os triângulos
isósceles e os triângulos equiláteros pertencem a conjuntos disjuntos. Ao dizer que “as
bases são diferentes”, o aluno A13 tenta dizer que a medida da base de um triângulo
isósceles difere das medidas dos outros dois lados. Ademais, o estudante utiliza um
conceito sem defini-lo: base do triângulo isósceles. A definição apresentada pelo aluno
A22 está em consonância com a definição apresentada na HQ. Tratar os triângulos
equiláteros como casos particulares de triângulos isósceles decorre de uma escolha feita
por cada autor de livro didático ou pelo próprio professor. O próprio aluno A22 ao
apresentar este tipo de definição parece não ter refletido a respeito. Não percebeu que a
definição que apresentou confere certo grau de liberdade à medida do terceiro lado do
triângulo, podendo ser igual ou diferente dos demais:
78
“Se o triângulo possuir dois lados de mesmo tamanho o chamaremos de triângulo isósceles”, diz um
dos personagens da HQ referindo-se a um triângulo qualquer.
269
7.8.2 Seção PPPRSL
Figura 7.36. Sinalizações deixadas pelos alunos A16 e A18 na questão proposta em
82
PPPRSL na HQ5
270
7.8.3 Segunda parte da leitura
Uma das dúvidas levantadas com a retomada da leitura, após a secção PPPRSL,
residiu no fato da altura relativa a um dos lados de um triângulo nem sempre passar pela
região plana limitada pelo triângulo (interior da região triangular). O investigador
percebeu que alguns estudantes (A4, A22, A30, A31) não sabiam traçar ou identificar a
altura relativa a qualquer um dos lados de um triângulo obtusângulo. As figuras que lhes
foram apresentadas ao estudar a altura de triângulos na educação básica reportavam-se
quase que exclusivamente a triângulos acutângulos ou, nos demais casos, não
precisaram considerar qualquer das alturas. O investigador pediu-lhes que relessem a
definição de altura de triângulo e a partir daí esclareceu as dúvidas levantadas [DB, 22
de agosto de 2014].
O aluno A7 teve dificuldade em compreender a figura onde estavam destacadas,
simultaneamente, a mediana, a bissetriz e altura relativas a um lado de um triângulo (ver
Figura 7.37). Pediu ao investigador que comentasse a respeito. O investigador retomou
a definição de cada um destes segmentos (semirreta, no caso da bissetriz) para explicar-
lhe o que tornava CD, CE (na verdade, SCE) e CF, respectivamente, mediana, bissetriz e
altura do triângulo ABC relativas ao lado AB (Figura 7.37). Reiterou que, de modo
geral, esses segmentos são diferentes, exceto quando se referem à base de um triângulo
isósceles [DB, 22 de agosto de 2014].
Figura 7.37. Relações entre mediana, altura e bissetriz relativas à base de um triângulo
83
isósceles
Segundo aluno A11 a tirinha retratada na Figura 7.37 deveria ser alargada com a
inserção de mais exemplos relacionados aos conceitos ali presentes:
271
(...) mas faltou um pouco de exemplo, faltou um pouco chamar bem
atenção nesse caso porque é um caso muito importante. Porque às
vezes... Tem algum triângulo e a altura vai ser igual à bissetriz, vai ser
igual com o triângulo isósceles. [A11, E2]
(...) a bissetriz vai ser igual à altura, na mesma base desse triângulo
isósceles, e vai ser igual a mediana. [A11, E2]
O aluno A22 falhou em não mencionar que a mediana, bissetriz e altura às quais
se refere dizem respeito à base do triângulo isósceles. O aluno A11 não negligencia esta
informação. De fato, a mediana, a bissetriz e a altura relativas a um lado qualquer de um
triângulo isósceles serão coincidentes se, e somente se, tratar-se de um triângulo
equilátero. Ademais, o aluno A22 utilizou equivocadamente a palavra “reta” ao invés de
“segmento de reta”.
A inobservância quanto à igualdade entre bissetriz, altura e mediana referentes à
base de um triângulo isósceles também apareceram no comentário proferido pelo aluno
A10. Ao contrário dos alunos A11 e A22, o A10 disse ao pesquisador que tal igualdade
ocorre em “um triângulo reto” [A10, E2]. Só após o pesquisador mostrar-lhe o trecho da
HQ que trata desta questão, o estudante começou a rever a forma equivocada como
havia assimilado o conteúdo [E2]:
272
[o aluno A10 não soube responder à pergunta. O pesquisador completou...]
PE: Ocorre no lado relativo à base.
A10: Sim, relativo à base.
PE: Esse resultado não ficou claro no dia da leitura da HQ?
A10: No dia da leitura também eu acho que passei por algumas partes na
ansiedade de responder algumas questões. Talvez eu não vi essa parte e
passei só a leitura sem prestar atenção nas demonstrações.
7.8.4 Alterações na HQ
Enredo
273
Quando a gente fala de história em quadrinhos, ela nos deixa totalmente
ligados dentro da historia [referindo-se às HQs comerciais]. Ninguém nos
tira mais a atenção. Ela consegue nos atrair totalmente pra que a gente
não fique disperso. Eu já li historias que não consegui me dispensar...
então a historia... a gente vive ela.
[Referindo-se à HQ5] tem hora que a gente consegue dispersar, mas, por
que a gente consegue se dispersar? Porque está faltando algo que
encaixe... assim: que deixe a gente animado: pra próxima cena será o
que? falta um pouco de drama. [A11, E2]
Linguagem
De acordo com o aluno A22, a HQ5 precisa passar por uma reformulação na
linguagem. A partir daí, segundo o estudante, ela estará mais adequada para atender a
apresentação de conceitos como os casos de congruência de triângulos e das
propriedades dos triângulos isósceles (tanto na educação básica como no ensino
superior):
Para lidar com crianças teria que chamar mais atenção. A linguagem
deveria ser diferente com momento, com mais distração. Eles precisam
também disto e, como eu falei, eu às vezes [também] sinto [ess]a
necessidade. [A22, E2]
274
Ao contrário de A22, o aluno A13 defendeu a permanência do tipo de linguagem
adotado na HQ: “A linguagem... acho que é essa mesma” [A13, E2]. Não obstante o fato
de A13 ter advogado pela manutenção da linguagem adotada na HQ5, a alteração
proposta por A22 tem como finalidade torná-la mais simples e, portanto, acessível a
vários públicos, incluindo assim o próprio A13.
Imagens
Exercícios
(...) eu acho pouca, mas o tempo não ajuda principalmente essa que
aparece no meio da revista que é muito rápido de ser feita. Mas, o tempo
não ajuda a você entender a questão e saber justificar aquele problema. É
o que mais demora. [A10, E2]
275
O aluno A22 sugeriu a inserção de alguns exemplos no texto os quais
funcionariam como uma espécie de exercícios resolvidos:
Figura 7.38. Excerto das respostas apresentadas pelos alunos A29 e A31 à primeira
84
Raciocínio geométrico
Na solução apresentada pelos alunos A29 e A31, cujo excerto aparece na Figura
7.38, percebe-se a indicação das medidas de diversos ângulos na imagem que
acompanha a questão. Há também sinalizações sobre os lados de alguns triângulos.
Segundo os estudantes, foram atribuídos “valores a cada ângulo correspondente no
desenho para que cada triângulo somasse 180o”. Tal justificativa remete ao fato da soma
das medidas dos ângulos internos de um triângulo ser igual a 180 o (resultado não
demonstrado em sala àquela altura). Ainda assim, as medidas de alguns ângulos (como,
por exemplo, a medida do ângulo CBˆ J ) parecem ter sido estabelecidas através de um
olhar indutivo sobre a figura e não à luz das propriedades dos triângulos isósceles e dos
casos de congruência de triângulos. A despeito de priorizarem na figura as medidas dos
ângulos dos triângulos, os alunos A29 e A31 concluem a questão utilizando o caso de
congruência Lado-Lado-Lado. No texto estes estudantes indicam os pares de lados
congruentes sem explicar o porquê. O raciocínio geométrico empregado por A29 e A31
será classificado neste texto como IN. Este mesmo tipo de raciocínio foi identificado
nas respostas apresentadas por outras três duplas. Duas duplas não responderam à
atividade. A elas será creditado o raciocínio do tipo EC.
Os alunos A10 e A19 também utilizaram a soma das medidas dos ângulos internos
de um triângulo para resolver a questão. Assim como os alunos A29 e A31, estes
estudantes feriram a lógica axiomática ao utilizarem um resultado ainda não
demonstrado em sala. À parte isso, em alguns momentos é perceptível a apresentação
das justificativas numa perspectiva dedutiva conforme revela a Figura 7.39.
277
Figura 7.39. Excerto da resposta apresentada pelos alunos A10 e A19 à primeira questão
85
278
Figura 7.40. Excerto da metade inicial da resposta apresentada pelos alunos A16 e A18 à
86
De acordo com a Figura 7.40, os alunos A16 e A18 iniciam o texto justificando a
congruência entre os triângulos ABI e DCE. Apontam corretamente o caso de
congruência: LAL. Apesar de indicarem os lados congruentes, a saber, AB e CD, estes
estudantes não mencionaram os ângulos congruentes ( BAˆ I CDˆ E 90 e
279
Figura 7.41. Excerto de uma parte da resposta apresentada pelos alunos A15 e A27 à
87
Figura 7.42. Excerto da resposta apresentada pelos alunos A24 e A25 à segunda questão
88
Figura 7.43. Excerto da resposta apresentada pelos alunos A3 e A12 à segunda questão
89
Figura 7.44. Excerto da resposta apresentada pelos alunos A15 e A27 à segunda questão
90
281
De acordo com a resposta apresentada na Figura 7.44, os alunos A15 e A27
apontam, corretamente, a inconclusividade da congruência entre os triângulos ABC e
EFG por meio do caso LAL. De fato, para que este caso de congruência pudesse ser
empregado era necessário assegurar a congruência entre os ângulos ABˆ C e EFˆG como
afirmaram os estudantes. Por outro lado, a inconclusividade da congruência dos
triângulos ABC e EFG por meio do caso Lado-Ângulo-Lado não encerra a questão.
Caso os estudantes tivessem considerado-os congruentes, utilizando a redução ao
absurdo, chegariam a uma contradição. De fato, se assim o fosse, ter-se-ia
FEˆ G BAˆ C 70 . Como EGˆ F 70 , o triângulo EFG seria isósceles de base EG,
donde, FE FG. Mas isso não pode acontecer visto que, por hipótese, FE 7 cm e
FG 5 cm.
O tipo de raciocínio empregado pelos alunos A15 e A27 será classificado como
FDm. Este mesmo tipo de raciocínio foi identificado na resposta apresentada por outra
dupla, a saber, os alunos A29 e A31.
O Gráfico 7.8 apresenta os níveis de raciocínio geométrico identificado nas
respostas atribuídas pelas treze duplas às questões propostas ao final da HQ5.
282
O Gráfico 7.8 revela a predominância dos raciocínios geométricos do tipo SD e
IN durante a resolução da primeira atividade e a supremacia do raciocínio do tipo EC
durante a resolução da segunda atividade. As resoluções apresentadas à primeira
questão foram marcadas por uma maior distribuição dos níveis de pensamento
geométrico ao passo que na segunda atividade houve uma concentração do nível EC o
que se deu, em parte, devido ao número de questões não respondidas ou àquelas
respondidas com conceituais.
Segundo alguns estudantes, as dificuldades encontradas durante a resolução das
atividades residia na tarefa árdua de justificar cada passo adotado:
Pra gente entender às vezes é fácil. Difícil é passar para o papel. A gente
entende o assunto, mas na hora de demonstrar, de mostrar... aí é difícil.
[A22, E2]
Linguagem
283
referência à soma das medidas dos ângulos de um triângulo, os alunos A3 e A12
escreveram “BJC = 180” o que não tem sentido algum. A ausência de vírgulas também
tornou a leitura um pouco confusa.
A solução apresentada pelos alunos A10 e A19 destacou-se pelo bom uso da
linguagem matemática (Cf. Figura 7.39). Os estudantes articularam de forma adequada
as ferramentas simbólicas e a linguagem materna: “De forma análoga podemos dizer
que o ângulo EGˆ F mede 45 o e que o ângulo JGˆ E mede 59o”. O único deslize
cometido consistiu no uso da expressão “soma dos ângulos internos” ao invés de “soma
das medidas dos ângulos internos”.
Os alunos A16 e A18, cuja parte da solução apresentada à primeira questão
aparece na Figura 7.40, também apresentaram um texto bem escrito. Souberam fazer a
correta conexão entre linguagens simbólica e materna: “logo o ângulo GEˆ J terá medida
284
AB EF ao invés de AB EF (Figura 7.44). À parte isso, a resposta dada por A15 e
A27 não contém outro problemas quanto ao uso da linguagem matemática. Todas as
duplas cometeram algum deslize, no uso da linguagem, ao responderem a segunda
questão.
A Figura 7.45 apresenta uma breve síntese dos resultados obtidos a partir da
aplicação da HQ5. Estes dados foram coletados por meio de três fontes distintas: a
sessão de entrevistas E2, as discussões realizadas em sala de aula e as respostas
fornecidas pelos participantes às atividades realizadas ao final da leitura da HQ.
285
conduzem a uma repaginação da HQ5 tendo em vista a sua melhoria enquanto
instrumento de aprendizagem em Geometria. Tais mudanças vão da inserção de mais
atividades ao longo da leitura à alterações no enredo da narrativa, nas imagens e na
linguagem utilizada.
Apesar dos problemas enfrentados pelos estudantes quanto ao uso de algumas
ferramentas simbólicas, em suas produções textuais já foi possível perceber alguma
evolução na linguagem matemática. O tipo de raciocínio geométrico adotado pelos
estudantes, em poucos casos atingiram os níveis FDm e FD.
286
Figura 7.46. Tirinha com erro na medida de algum dos ângulos relacionados ao
92
triângulo ABC
entretanto, que se tratava da soma das medidas dos ângulos BAˆ C e BCˆ A (Figura 7.46).
Esta relação entre a medida de um ângulo externo de um triângulo e as medidas dos
ângulos internos que não lhe são adjacentes provém do Axioma das Paralelas o qual só
seria apresentado mais à frente, em alguma das aulas. A postura do aluno A2, ao
convocar o investigador, revelou o seu envolvimento com a leitura. A sua atenção e os
seus conhecimentos prévios em sua formação anterior ele teve contato com o TAE
numa versão euclidiana lhe possibilitaram identificar o erro em algum dos valores
numéricos indicados na tirinha.
A leitura da primeira parte da HQ ocorreu de forma tranquila. Apenas duas
duplas demonstraram ter algum tipo de dúvida. Um destes participantes, o aluno A25,
pontuou em Q3 que o TAE possui enunciado compreensível, mas demonstração pouco
inteligível [Q3, Questão 7]. Em sala de aula, o pesquisador aproximou-se destes
estudantes, leu a demonstração com eles e explicou-lhes cada passagem.
Enunciado do TAE
Em uma das questões do Q3, os alunos foram convidados a enunciar o TAE com
suas próprias palavras. Vinte e um alunos responderam o questionário. Seguem algumas
respostas:
287
Uma característica do mesmo é que a medida do ângulo externo de um
triângulo é sempre maior que as medidas dos ângulos internos não
adjacentes. [A25, Q3, Questão 9]
288
Figura 7.47. Representações imagéticas e simbólicas atribuídas pelos estudantes A7,
93
289
7.9.2 Secção PPPRSL: Primeira parte
79
A comparação pode ser feita em poucos casos como, por exemplo, quando o triângulo é isósceles e o
ângulo interno mencionado constitui um ângulo da base do triângulo. Nesse caso, o outro ângulo da base
lhe é congruente e, ao mesmo tempo, tem medida menor que a medida do ângulo externo (pelo TAE).
290
7.9.3 Segunda parte da leitura
292
Figura 7.50. Resolução apresentada pelos alunos A10 e A30 à atividade proposta na
96
Raciocínio geométrico
A partir da Figura 7.50 é possível perceber que os alunos A10 e A30 possuíam
domínio dos resultados necessários à resolução da atividade: a congruência entre os
ângulos da base de um triângulo isósceles e o fato do ângulo de maior medida de um
triângulo opor-se ao maior lado. Estes estudantes utilizam de forma adequada as
hipóteses do problema e apresentam a resposta de forma lógica e dedutiva. O raciocínio
empregado por eles é do tipo FD. Este mesmo tipo de raciocínio foi identificado nas
respostas apresentadas por outras nove duplas.
Os alunos A5 e A28 também responderam corretamente a atividade. Contudo
foram mais sucintos e, em alguns momentos, omissos no detalhamento das
justificativas. A resposta apresentada por eles aparece na Figura 7.51.
293
Assim como os alunos A10 e A30, os alunos A5 e A28 também revelaram
conhecimento acerca dos conteúdos necessários à resolução da atividade. Estes últimos,
porém foram menos cuidadosos. Dizem que “ BD é o maior lado”. Maior lado de
que(m)? De um triângulo? Qual? Mais à frente quando dizem se “tratar de um triângulo
isósceles” não indicam (embora apareça na hipótese do problema) a sua base. O
raciocínio empregado pelos alunos A5 e A28, e A10 e A30 será classificado aqui como
FDm. Este mesmo tipo de raciocínio foi verificado nas respostas apresentadas por
outras três duplas.
Linguagem
Assim como os alunos A10 e A30, cuja solução aparece na Figura 7.50, outras
sete duplas fizeram o uso da linguagem matemática de forma totalmente correta.
A solução apresentada pelos alunos A5 e A28 precisa de alguns ajustes quanto à
linguagem. As omissões cometidas por estes estudantes precisam ser desfeitas. Outras
três duplas também mencionaram o segmento BC como o “maior lado” sem fazer
referência ao triângulo.
Ademais, a ferramenta simbólica utilizada por A5 e A28 para designar o
segmento de reta BD (escreveram “ BD ”) não corresponde àquela acordada em sala de
aula.
triangular
Como pode ser visto na Figura 7.52, o aluno A13 exprimiu a desigualdade
triangular comparando a medida da hipotenusa de um triângulo retângulo ABC, com
ângulo reto em B, com a soma das medidas dos catetos. O aluno A4 referiu-se a um
triângulo qualquer ABC e descreveu a desigualdade triangular comparando a medida de
cada lado do triângulo com a soma das medidas dos outros dois. Ambos os estudantes
demonstraram ter compreendido o assunto.
295
Figura 7.53. Solução apresentada pelos alunos A8 e A30 à terceira
99
Assim como os alunos A8 e A30, cuja solução aparece na Figura 7.53, os outros
estudantes consideraram falsa a terceira assertiva presente na questão (“É possível
construir um triângulo cujos lados medem 2 cm, 5 cm e 7 cm”) o que revela um
entendimento acerca da desigualdade triangular.
Raciocínio geométrico
296
Figura 7.54. Solução apresentada pelos alunos A5 e A25 à terceira
100
Conforme pode ser verificado na Figura 7.54, a solução apresentada pelos alunos
A5 e A25 estabelece uma relação de causa e efeito ao afirmar que a hipotenusa é o lado
de maior medida do triângulo retângulo por se opor ao ângulo reto. Os estudantes
afirmam que o ângulo reto é o ângulo de maior medida do triângulo, mas não explicam
o porquê: todo triângulo possui pelos menos dois ângulos agudos! O raciocínio
geométrico empregado por estes estudantes será classificado aqui como SD. Este
mesmo tipo de raciocínio foi identificado nas respostas apresentadas por outras sete
duplas.
Os alunos A3 e A12 justificaram a resposta inserindo-lhe mais detalhes. A
solução apresentada por estes estudantes aparece na Figura 7.55.
Figura 7.55. Solução apresentada pelos alunos A3 e A12 à terceira atividade proposta na
101
297
secção PPPRSL. Quinze duplas responderam à segunda parte e treze duplas
responderam à terceira parte da secção.
Gráfico 7.9. Tipos de raciocínio geométrico encontrado nas respostas dos estudantes às
9
Linguagem
A solução apresentada pelos alunos A8 e A30 (ver Figura 7.55) não possui
grandes problemas quanto ao uso da linguagem matemática. Os problemas são
conceituais. Estes estudantes priorizam o uso da língua materna e cometem um deslize
na linguagem ao dizerem que “a hipotenusa se opõe ao ângulo reto dos catetos”. A
expressão “ângulo reto dos catetos” está mal escrita.
Os alunos A5 e A25 tiveram dificuldades em conectar a linguagem materna com a
linguagem simbólica (ver Figura 7.54). Ao escreverem que num triângulo retângulo “o
maior ângulo = 90o”, os estudantes deveriam ter utilizado o verbo “medir” ao invés da
ferramenta simbólica “=”. O sinal de igualdade deve ser empregado para relacionar
298
objetos matemáticos apresentados por meio de ferramentas simbólicas. Para que o
mesmo pudesse ser preservado no texto, a palavra “ângulo” deveria ser substituída pela
ferramenta simbólica que o representa.
A resposta apresentada pelos alunos A3 e A12 não apresenta problemas quanto ao
uso da linguagem conforme pode ser verificado na Figura 7.55. Os estudantes
priorizaram o uso da língua materna. As outras nove duplas também apresentaram
textos sem problemas quanto ao uso da linguagem matemática.
Figura 7.56. Solução apresentada pelos alunos A3 e A23 ao primeiro item da primeira
102
299
Raciocínio geométrico
A solução retratada na Figura 7.56 revela o domínio teórico dos alunos A3 e A23
no que tange os conteúdos necessários à resolução da questão. Os estudantes aplicaram
devidamente a congruência entre os ângulos da base em triângulo isósceles e o fato de
todo triângulo possuir pelo menos dois ângulos agudos. Daí, concluíram a questão
reportando-se ao fato de ser obtuso o suplemento de um ângulo agudo. Por meio de um
texto bem escrito e justificado, A3 e A23 apresentaram de forma lógica e dedutiva os
argumentos. Empregaram um raciocínio geométrico do tipo FD. Este mesmo tipo de
raciocínio esteve presente nas respostas apresentadas ao item a por outras sete duplas.
Os raciocínios do tipo FDm, SD e EC estiveram distribuídos entre as quatro duplas
restantes: o raciocínio do tipo EC foi verificado nas respostas apresentadas por duas
duplas; apenas uma dupla apresentou raciocínio geométrico do tipo FDm e o mesmo
ocorreu com o raciocínio SD. Não houve registros de raciocínio do tipo IN. Devido à
extensão deste texto, optou-se por apresentar, a partir de agora, apenas o excerto de
soluções em que o raciocínio geométrico empregado seja representativo da maior parte
das duplas.
Dentre as respostas apresentadas ao item b também houve o predomínio do
raciocínio do tipo FD: esteve presente nas respostas apresentadas por sete duplas! A
Figura 7.57 traz a solução apresentada por uma delas, a saber, os alunos A15 e A27.
Figura 7.57. Solução apresentada pelos alunos A15 e A27 ao segundo item da primeira
103
300
Nas respostas apresentadas por cinco duplas foi possível verificar a presença dos
demais tipos de raciocínio geométrico: FDm (em uma dupla), SD (duas duplas), IN
(uma dupla) e EC (uma dupla).
O item c assistiu à disputa entre dois tipos de raciocínio geométrico: FD e EC.
Estes dois tipos de raciocínio estiveram presentes nas respostas apresentadas por seis e
cinco80 duplas, respectivamente. Uma única dupla apresentou raciocínio do tipo SD.
Não houve registros de raciocínios do tipo FDm e IN.
Dentre as seis duplas que apresentaram raciocínio do tipo FD uma chamou a
atenção do pesquisador: os alunos A10 e A28. Ao contrário do que se esperava da
resolução da questão, a dupla não recorreu à desigualdade triangular. Os alunos A10 e
A28 apresentaram uma solução mais extensa que se destaca pela forma madura como
foram empregados os conteúdos presentes na HQ. A Figura 7.58 traz a solução.
Figura 7.58. Solução apresentada pelos alunos A10 e A28 ao terceiro item da primeira
104
Como se pode perceber através da Figura 7.58, os alunos A10 e A28 não
utilizaram a desigualdade triangular como era de esperar. Optaram por trabalhar com as
propriedades dos triângulos isósceles. Criaram triângulos auxiliares, a saber, os
triângulos CDM e BDM . Em seguida, compararam as medidas dos lados a partir das
medidas dos ângulos em cada um destes triângulos. Na resposta que apresentaram ao
80
Das cinco duplas, três não responderam ao item c. A elas também foi atribuído o raciocínio do tipo EC
por entender que a ausência da solução está atrelada à falta de compreensão acerca dos conceitos
envolvidos.
301
item a, não retratada neste texto, estes alunos A10 e A28 fizeram menção ao fato de todo
triângulo possuir pelos menos dois ângulos agudos. Possivelmente por isso não o
mencionam novamente no item c. Apresentaram os argumentos de forma lógica e
dedutiva.
Abaixo, na Figura 7.59, segue a solução apresentada por uma das duplas em que
foi verificado o raciocínio do tipo EC, a saber, os alunos A24 e A30.
Figura 7.59. Solução apresentada pelos alunos A24 e A30 ao terceiro item da primeira
105
Conforme pode ser verificado na Figura 7.59, os alunos A24 e A30 não
coseguiram responder ao que lhes foi solicitado. Cometeram um erro conceitual: foram
de encontro à desigualdade triangular. Consideraram a medida do lado BC, do triângulo
BCD, igual à soma das medidas dos lados CD e DB. A igualdade só poderia ocorrer se
os pontos C, D e B fossem colineares com D entre C e B. Nesse caso, porém, não
haveria o triângulo BCD.
Os tipos de raciocínio geométrico encontrados nas respostas apresentadas pelos
estudantes aparecem no Gráfico 7.10.
Gráfico 7.10. Tipos de raciocínio geométrico encontrado nas respostas dos estudantes
10
Definições
A segunda questão proposta era formada por palavras cruzadas que envolviam
os seguintes conceitos: ângulos complementares, diagonal de um polígono, hipotenusa,
retas perpendiculares, quadrilátero, perímetro de um polígono (ver Figura 6.21). Das
doze duplas, dez preencheram corretamente todas as palavras cruzadas. Em seguida, a
partir das respostas encontradas, era formada outra palavra, a saber, “mediana” de um
triângulo ABC. Aos estudantes foi solicitada a definição deste conceito. Somente uma
dupla a apresentou, os alunos A19 e A25. A definição apresentada por estes estudantes
aparece na Figura 7.60.
Figura 7.60. Definição atribuída pelos alunos A19 e A25 à mediana de um triângulo
106
A definição dada pelos alunos A19 e A25 está correta. Embora estes estudantes
façam uso de representações icônicas, ao escreverem que “a mediana é o segmento de
reta com origem em um dos vértices do triângulo e extremidade no ponto médio do lado
oposto ao vértice” tornam-se independentes das imagens como se espera de uma “boa
definição” em Matemática. A única alteração cabível na definição apresentada por A19 e
A25 consiste na substituição do termo “origem” por “extremidade”. Neste contexto os
303
segmentos não são orientados (tal como ocorre no estudo de vetores). Aqui os
segmentos têm duas extremidades ao invés de uma origem e uma extremidade.
Os alunos A9 e A10 não apresentaram a definição de mediana. Fizeram uso de
um desenho na tentativa de elucidar o conceito conforme pode ser verificado na Figura
7.61.
O fato dos alunos A9 e A10 não terem apresentado a definição formal de mediana
de um triângulo ABC relativa ao lado AB não significa que os mesmos não
compreenderam o conceito. A Figura 7.61 corrobora essa afirmação. Os estudantes
indicam com uma “seta” o segmento de reta que consideram ser a mediana relativa ao
lado AB. Pecam, porém, por não sinalizar, de alguma forma, a congruência entre os
segmentos nos quais AB foi dividido.
Linguagem
Como pode ser verificado através da Figura 7.56, a solução apresentada pelos
alunos A3 e A23 ao item a da primeira questão não apresenta problemas quanto ao uso
da linguagem matemática. O texto está bem escrito. A conexão entre a língua materna e
as ferramentas simbólicas ocorre de forma correta. Não há problemas quanto ao uso das
ferramentas simbólicas. Nas respostas atribuídas por sete duplas a este item não houve
problemas quanto ao uso da linguagem. Todos seguiram uma lógica dedutiva. Nas
soluções apresentadas pelas outras duplas foram encontrados alguns “trechos” passíveis
de modificações:
1. “ é o ângulo externo não adjacente a ” [A24 e A30, HQ6, AP1(a)]. Faltou
mencionar de qual triângulo é um ângulo externo. Os estudantes não apresentaram
esta informação (certamente por julgarem desnecessário mediante a figura que
acompanha a questão – ver Figura 7.56);
304
2. “Porque se fosse 90 , ADC também seria 90 ” [A10 e A28, HQ6, AP1(a)].
Os estudantes pecaram quanto a articulação entre língua materna e ferramentas
simbólicas;
3. “Sabemos que a base do triângulo não pode medir 90o” [A16 e A18, HQ6,
AP1(a)]. 90 o é uma medida de ângulos. Os alunos certamente queriam dizer que “os
ângulos da base não podem medir 90o cada”.
No que tange ao item b, os deslizes cometidos pelos alunos A15 e A27
consistiram no emprego das ferramentas simbólicas: escreveram “no triângulo CDˆ B ”
ao invés de “no triângulo CDB” e “segmento CB ” ao invés de “segmento CB” (ver
Figura 7.57). Erros desta natureza foram cometidos por mais duas duplas: A9 e A12, A30
e A29. As respostas dadas por cinco duplas não apresentaram problemas quanto ao uso
da linguagem. O raciocínio utilizado por estes últimos estudantes foi do tipo dedutivo
ou semidedutivo.
Os alunos A10 e A28 também cometeram algumas faltas quanto ao uso das
ferramentas simbólicas. A solução que apresentaram ao item c, retratada na Figura 7.58,
corrobora esta afirmação. Escreveram: “triângulo CDˆ B ” ao invés de “triângulo CDB”.
Todas as duplas que responderam à questão cometeram algum deslize no uso da
linguagem matemática.
Nada, pois como já tinha citado ao professor essa foi uma das melhores
historinhas. [A9, Q3]
Essa revista ficou muito explicativa, deu para absorver o máximo dos
assuntos (...) por isso eu não modificaria nada. [A11, Q3]
305
Eu não modificaria nada porque está bem explicado. [A30, Q3]
Quantidade de assuntos
306
Linguagem
Uma linguagem mais leve, mais jovem. [A5, Q3, Questão 10]
A linguagem para uma HQ ainda está muito técnica. [A16, Q3, Questão 4]
Para uma HQ é possível uma linguagem mais coloquial, porém para uma
HQ que envolva assuntos didáticos não é possível colocar uma
linguagem totalmente coloquial. Com isso a linguagem utilizada nas HQs
[sobre] Geometria plana axiomática é plausível. [A11, Q3, Questão 4]
A partir dos comentários dos alunos A7, A11, A12 e A27 é possível perceber que
estes discentes compreendem as particularidades da linguagem matemática. Segundo
eles, a linguagem coloquial é incongruente com os textos adotados na abordagem da
Geometria numa perspectiva axiomática.
A reivindicação por mais exercícios tem sido recorrente. Desta vez, porém,
apareceu de forma mais discreta: somente A4 e A31 posicionaram-se a respeito. A
inserção de novas seções do tipo PPPRSL pode ter contribuído.
Demonstrações matemáticas
308
Dos vinte e um alunos que responderam o questionário Q3, vinte se
posicionaram de forma favorável à apresentação das demonstrações dos teoremas na
HQ6. Metade desse número sugeriu que as onze demonstrações presentes na HQ fossem
distribuídas ao longo de, pelo menos, duas HQs ao invés de uma única. Abaixo seguem
os comentários proferidos por alguns destes estudantes:
Penso que por ser muitas demonstrações acaba ficando um pouco pesado
para guardarmos todas essas demonstrações de uma só vez. [A3, Q3,
Questão 2]
309
O comentário do aluno A25 assinala a importância da atuação do professor em
sala de aula. A tensão provocada pela quantidade de conteúdos presentes na HQ pode
ser minimizada pela mediação do docente.
Um único aluno, a saber, o A15, não apoiou a inserção das demonstrações de
todas as proposições na HQ. Este estudante defendeu somente a exposição das
demonstrações dos principais resultados (no caso da HQ6, o TAE). Os demais
resultados, defendeu o estudante, deveriam ser apresentados de forma intuitiva, com
exemplos e sem as demonstrações.
311
A hora chegou. A HQ7 tratou dos assuntos mencionados no parágrafo anterior.
Desta vez, o número de participantes da pesquisa foi reduzido. No período de um mês, o
curso de Licenciatura em Matemática UFRB assistiu a uma evasão impulsionada pelo
processo de transferência interna que levou vários estudantes a mudarem de curso.
Outros elementos ajudaram na promoção da evasão: o período de trancamento parcial
ou simplesmente o mero abandono do curso. Ao sondar o que estava ocorrendo em
outros componentes curriculares, o pesquisador percebeu que a evasão não se deu
apenas no componente curricular em que atuava. Os alunos que não estavam
comparecendo às suas aulas, também o faziam em outras disciplinas. No QD, aplicado
no início da investigação, aproximadamente um terço dos estudantes havia assinalado o
desejo de ingressar em outro curso universitário. O número de alunos desistentes
aproximou-se desse número: cerca de 31 % do total de estudantes. Restaram vinte e dois
alunos. No dia da aplicação da HQ7 dois destes estudantes faltaram.
Durante a aplicação da HQ7, o pesquisador pediu aos estudantes que
registrassem, em forma de áudio, as conversas e discussões realizadas ao longo da
leitura. Para isso, os discentes utilizaram uma das funções de seus aparelhos celulares, a
saber, o gravador de voz. No encontro seguinte, eles levaram à sala de aula, em pen-
drive, esses registros e entregaram-nos ao investigador. As gravações revelaram que
apenas uma dupla desenvolveu uma leitura acrítica e pouco preocupada com a
aprendizagem: os alunos A4 e A25. Dos demais, 60% realizaram uma leitura crítico-
reflexiva e 40% mostraram envolvimento com o texto intercalado com alguns
momentos de dispersão.
313
fazia menção aos vértices de um paralelogramo ABCD e aos pés das alturas baixadas a
partir de dois deles, a saber, os vértices A e B. A Figura 7.64 traz um dos quadrinhos
que ofereceu dificuldades ao estudante. Não era possível ou pelo menos não convinha
utilizar números em tais representações (no caso, para as medidas dos segmentos que
aparecem na Figura 7.64).
Conforme é possível perceber por meio da Figura 7.64, para estudar a área da
região plana limitada pelo paralelogramo ABCD, o texto recorreu à construção de um
retângulo ABFE que limita uma área numericamente equivalente àquela contornada
pelo paralelogramo. Os alunos A10 e A28 só compreenderam a relação entre as áreas do
paralelogramo e do retângulo após os esclarecimentos do investigador. As outras duplas
não apresentaram dúvidas acerca desta demonstração.
Uma questão recorrente durante as leituras consistiu no uso da palavra “igual”
ao invés da palavra “congruente” em expressões do tipo “AD = BC”. O pesquisador já
havia comunicado em sala que, por limitações do toondoo, não era possível utilizar, nas
HQs ferramentas simbólicas do tipo AB para representar o comprimento de AB
(embora em sala de aula ele o fizesse para entrar em consonância com os exercícios e
problemas extraídos de Barbosa (2006)). Explicou-lhes que as igualdades entre
segmentos presentes nas HQs reportavam-se aos comprimentos desses segmentos.
Expressões do tipo “AD = BC” (que, a partir das representações simbólicas
referendadas em sala de aula, significariam AD BC ) reportavam-se à congruência
entre os segmentos e não a igualdade entre eles (enquanto conjunto de pontos). Há
igualdade apenas entre os comprimentos dos segmentos. Contudo, em todos os áudios
314
gravados durante a leitura da HQ7, a expressão citada foi lida como “AB é igual a BC”.
Enquanto conjuntos de pontos, esses segmentos não são, necessariamente, iguais. Esse
fato aponta para a inconveniência da escolha da ferramenta simbólica “=” (assimilada
pelos alunos como o próprio sinal de igualdade) ao invés de “” (usualmente utilizada
em livros didáticos para se reportar à congruência).
A proposição referente à área limitada por triângulos provocou menos
problemas. Foi compreendida com mais facilidade. Durante a leitura do seu enunciado o
aluno A20 o converteu para uma linguagem que lhe era mais familiar. Disse ao seu
colega (o aluno A11): “Base vezes altura dividido por dois” [A20, Áudio]. Durante a
leitura da demonstração, este último, o aluno A11, tentando explicá-la ao A20 lhe
recomendou: “Pegue um paralelogramo e divida-o em dois triângulos... [estabelece
relações entre as áreas do triângulo e do paralelogramo]” [A11, Áudio]. Na verdade, a
demonstração é desenvolvida em sentido contrário: parte-se do triângulo para obter o
paralelogramo. Para isso, constrói-se um triangulo auxiliar e congruente ao primeiro.
Mesmo assim, a dupla revelou ter entendido a relação entre esses polígonos ao concluir
a leitura. Em outra dupla, ao ler no texto que a área limitada pelo paralelogramo
(formado a partir de dois triângulos congruentes) correspondia à metade da área
limitada por cada triângulo, um dos estudantes, (o aluno A10) em forma de gíria,
expressou o seu entendimento do texto ao dizer ao colega: “De boa! [que em linguagem
corrente significa tudo certo, tranquilo]” [A10, Áudio]. As outras duplas não
apresentaram dificuldades em compreender a demonstração.
316
Ao final da atividade, o aluno A7 disse ao pesquisador que não havia recorrido
aos assuntos presentes na HQ para resolver as questões. De fato, a maior parte dos itens
envolvia o cálculo de área de regiões planas limitadas por retângulos o que era do
conhecimento dos estudantes (não necessariamente como axioma). O estudante, assim
como os demais participantes, já sabia calcular a área desse tipo de região por tê-la
aprendido na educação básica. Ao final, todas as duplas encontraram a alternativa
procurada na primeira tentativa.
317
estudante, o aluno A7, destacou que “apertou a mente81” [Áudio]. O impasse em torno
do estudo do círculo começou a ser contornado a partir do momento em que o
investigador passou a utilizar exemplos numéricos durante as explicações dadas aos
estudantes.
Ao final da HQ, a utilização da expressão r 2 para calcular a área da região
plana limitada por um círculo de raio r foi justificada dividindo-o em setores circulares
cada vez menores. Assim, a soma das áreas das regiões planas limitadas por estes
últimos correspondia à área da região plana limitada pelo primeiro. A Figura 6.11,
apresentada no capítulo 6, traz o excerto desta parte da HQ. Diante da associação entre a
área limitada pelo círculo e as áreas dos setores circulares, o aluno A12 destacou: “Agora
ficou claro” [Áudio]. O aluno A11 também se mostrou satisfeito com a justificação
apresentada na HQ: “Interessante” [Áudio], destacou o estudante.
A despeito de já terem ouvido falar acerca do número irracional (“pi”),
alguns estudantes não sabiam de que se tratava. Ao descobrir, durante a leitura da HQ,
que tal número irracional é o quociente entre o comprimento e o diâmetro de um mesmo
círculo, o aluno A11 manifestou certo entusiasmo. As palavras que proferiu não serão
transcritas neste texto por serem incompatíveis com um texto acadêmico (palavras de
baixo calão mas que revelam satisfação). Outro estudante expressou a mesma ideia,
embora de forma mais moderada: “Eu sempre tive curiosidade para saber de onde veio
esse valor [referindo-se ao ]” [A1, Áudio]. E, em seguida, completou: “Gostei!”
[Áudio].
81
“Apertar a mente” é uma gíria utilizada no Brasil para expressar que determinado tema/assunto é difícil
de compreender.
318
identificação em alguns leitores: “Nossa dupla deu certo. Eu sou Bahia e você é
Vitória” [A8, Áudio], disse o aluno A8 ao seu colega A30. “Eu gosto de Bartolomeu
porque é [torcedor do] Bahia” [Áudio], reforçou o mesmo estudante. Em outra dupla,
em que ambos os estudantes eram torcedores do mesmo time, ao ler que “Bartolomeu é
o meu brother. É uma pena que ele torce para o Já-hia”, o aluno A11 disse: “Toma!”
[demonstrando concordar com a fala do personagem] [Áudio]. Seu colega o apoiou
dizendo-lhe: “É isso aí!” [A20, Áudio].
A existência de alguns personagens cujos nomes coincidiam com os nomes de
alguns alunos da classe provocou risos em alguns alunos a exemplo de A1, A3, A8, A9,
A11, A20, A29 e A30. O aluno A8, surpreso ao ver o nome de um dos seus colegas na HQ,
disse ao aluno A30: “Ó, ele [o autor da HQ] colocou [cita o nome do colega referenciado
na história]” [Áudio]. O aluno A30 riu. Os alunos referenciados na HQ não participaram
da leitura da HQ7. Haviam solicitado o trancamento do componente curricular. Quando
a HQ foi confeccionada eles ainda estavam frequentando as aulas.
319
Figura 7.65. Atividades propostas ao final da HQ7
111
Raciocínio geométrico
320
do tipo SD. A solução apresentada por uma destas três duplas, a saber, os alunos A12 e
A29, aparece na Figura 7.66.
Figura 7.66. Solução proposta pelos alunos A12 e A29 ao primeiro item da questão
112
A partir da Figura 7.66 é possível perceber o cuidado dos alunos A12 e A29 em
explicar como obtiveram as medidas da base e da altura do triângulo ADI: “a medida da
‘pequena área’ é igual a 40,3 – (2 . 11) = 40,3 – 22 = 18,3”; “sabemos também que a
altura deste triângulo é igual a distância entre a marca do pênalti e o gol que é 11m”. A
partir daí, estes estudantes utilizam uma proposição que versa sobre o segmento que une
os pontos médios de dois lados de um triângulo para concluir que a medida do lado JO
do triângulo AJO é igual à metade da medida do lado DI do triângulo ADI. Pecam
apenas por não explicar porque o mesmo pode ser dito com relação às medidas das
alturas dos triângulos relativas aos lados mencionados. A partir daí usam os valores
obtidos para calcular o valor da área da região plana limitada pelo triângulo AJO. A
despeito de alguns equívocos (como a escrita da palavra calculamos; a referência ao
321
triângulo ADL ao invés de ADI ou ainda erros de “conta” no final82), a solução
apresentada se destaca pela exposição sistemática e justificada da maior parte dos
valores encontrados.
Se, por um lado, sete duplas responderam ao item à luz da semelhança entre os
triângulos ADI e AJO, por outro, quatro duplas apresentaram soluções equivocadas. Os
equívocos ora residiram na obtenção dos valores incorretos para as medidas da base e
altura do triângulo AJO ora pela presença de erros conceituais. A título de exemplo,
destaca-se a solução apresentada pelos alunos A10 e A28. Ao fazerem menção à
semelhança entre os triângulos ADI e AJO (fato não justificado pelos estudantes), estes
alunos concluíram que “a área do menor triângulo será a metade do triângulo maior”
[A10, e A28, HQ7, AP(a)]. Como a razão de semelhança entre os triângulos AJO e ADI é
igual a meio, o correto seria afirmar que a área do triângulo AJO corresponde a um
quarto da área do triângulo ADI.
O segundo item referia-se ao cálculo da área da região plana limitada por um
trapézio. As soluções apresentadas por sete duplas foram constituídas por uma
sequência de cálculos que convergem para o valor da área da região trapezoidal. A
solução apresentada por uma destas duplas, a saber, os alunos A11 e A20, aparece na
Figura 7.67.
Figura 7.67. Solução proposta pelos alunos A11 e A20 ao segundo item da questão
113
82
O valor 50, 325 corresponde ao produto entre 9,15 e 5,5. Os estudantes se esqueceram de dividir o
resultado por dois.
322
HQ no que concerne à área de regiões trapezoidais. Assim como A11 e A20, tais
estudantes restringiram suas respostas ao uso de ferramentas simbólicas e de
representações imagéticas. Não recorreram à língua materna. Levando-se em
consideração a apresentação dos cálculos em um ordenamento correto e, ao mesmo
tempo, à falta de cuidado em situá-los no contexto da resolução por meio da língua
materna, o tipo de raciocínio aqui empregado será classificado como FDm.
As respostas apresentadas por duas duplas foram marcadas por textos
explicativos que articulavam três tipos de linguagem: materna, simbólica e imagética.
Por meio do raciocínio lógico tais estudantes obtiveram a resposta correta. O raciocínio
será classificado como FD.
As respostas apresentadas por duas duplas não atenderam ao que foi solicitado.
Apresentaram somente o valor que julgavam corresponder à área da região trapezoidal.
Não apresentaram os cálculos ou quaisquer outras justificativas. Além de omitirem as
justificações apresentaram o valor errado para a área solicitada. Mediante a falta de
elementos que possibilitem classificar o tipo de pensamento adotado, mas ao mesmo
tempo, considerando que a resolução da atividade dificilmente poderia ser desenvolvida
apenas mentalmente o tipo de raciocínio adotado será classificado como EC. Essa
escolha deve-se ao fato de que a ausência de argumentos numéricos ou textuais na
resposta apresentada aponta para a falta de domínio quanto à teoria apresentada ou para
a ocorrência de dificuldades quanto à apresentação dos pensamentos por parte dos
estudantes envolvidos.
O terceiro item tratava da comparação entre as medidas do comprimento do
círculo central e do perímetro do trapézio MNRS indicado no item anterior. Nas
respostas apresentadas por seis duplas foi possível perceber a presença do raciocínio
dedutivo dividido igualmente entre os tipos FDm e FD. As duplas que apresentaram
raciocínio do tipo FDm restringiram-se ao uso das linguagens simbólica e icônica.
Destinaram ao leitor83 (o professor, os colegas) a tarefa de estabelecer conexões entre as
etapas que constituem a resolução: 1. Cálculo do comprimento do círculo central; 2.
Determinação das medidas das laterais do trapézio MNRS (neste momento recorre-se ao
Teorema de Pitágoras); Cálculo do perímetro de MNRS. Por outro lado, as duplas que
apresentaram raciocínio do tipo FD agregam às linguagens simbólica e icônica a
83
Por leitor entende-se toda e qualquer pessoa que lerá a solução apresentada pelos estudantes.
323
linguagem verbal. Foram mais didáticos na apresentação da solução. A Figura 7.68
apresenta a resposta construída por uma destas duplas, a saber, os alunos A12 e A29.
Figura 7.68. Solução proposta pelos alunos A12 e A29 ao terceiro item da questão
114
324
Gráfico 7.11. Tipos de raciocínio geométrico encontrado nas respostas atribuídas pelos
11
Linguagem
325
materna que, embora não modifique o sentido do texto, precisa ser corrigido: o uso da
palavra “cauculamos” ao invés de “calculamos”. Um erro quanto à escrita em língua
portuguesa também foi identificado na solução apresentada ao mesmo item pelos alunos
A15 e A27: “sabemos que o seguimento ligando dois pontos médios é paralelo ao terceiro
lado” [A15 e A27, HQ7, AP(a)]. Estes alunos escrevem “seguimento” ao invés de
“segmento”.
Ao fazerem referência à área da região plana limitada pelo triângulo ADI, os
alunos A12 e A29 a chamam de “área do triângulo ADL” (ver Figura 7.66). A
substituição de ADI por ADL parece provir da desatenção (distração) dos estudantes. O
emprego do termo “área do triângulo” ao invés de “área da região triangular limitada
por ADL” certamente tem origem na tradição. A expressão adotada pelos estudantes
aparece em muitos livros. O seu uso não compromete o sentido do texto o qual continua
sendo inteligível. Contudo, sendo um triângulo o conjunto constituído por “três pontos
que não pertencem a uma mesma reta e pelos três segmentos [de reta] determinados por
estes três pontos” (Barbosa, 2006, p. 3) não é adequado referir-se à sua área. O correto é
referir-se à área da região plana por ele limitada. Tal região é citada por Barbosa (2006)
e Dante (2007c) como região triangular. O mesmo pode ser dito acerca das regiões
plana limitadas por outros polígonos: região quadrada, retangular, trapezoidal, limitada
por um paralelogramo e etc. Rezende e Queiroz (2012) também fazem uso do conceito
de região poligonal (convexa) durante a apresentação do conceito de área. A primeira é
a “reunião de um polígono convexo com seu interior” (p. 108), ou seja, a reunião do
polígono com a região plana por ele limitada. Rigorosamente deve-se dizer “área da
região poligonal” ao invés de “área do polígono”. Contudo, para simplificar a
linguagem, Rezende e Queiroz (2012) comunicam aos seus leitores que passarão a usar
“a expressão ‘área de um polígono’ ao invés de ‘área da região poligonal’” (2012, p.
108). Barbosa (2006) também se comporta de forma semelhante. Diz ao leitor que
tomará “a liberdade de usar expressões do tipo ‘a área de um quadrado” (p. 176) quando
quer “dizer realmente ‘a área da região poligonal cuja fronteira é um quadrado’” (p.
176). O problema é que, em muitos casos, os leitores não são advertidos a esse respeito
o que ocorre, por exemplo, nos trabalhos de Garbi (2010) e Imenes e Lellis (1999).
Desta forma perpetua-se o uso de expressões do tipo “área do triângulo”, “área do
losango”, “área do trapézio”, “área do quadrado” quando na verdade quer-se fazer
referência às áreas das regiões planas limitadas por estes polígonos.
326
Confusões entre determinado conceito e algum número real a ele associado
costumam acometer os estudantes. Ainda com relação ao item a, os alunos A8 e A30
confundiram a altura (relativa a um determinado lado de um triângulo) com a sua
medida (o que também é comum ocorrer em livros didáticos): “a altura do triângulo
AJO é metade da altura de ADI” [A8 e A30, HQ7, AP(a)]. Por definição, uma “altura de
um triângulo é o segmento perpendicular que une um vértice de um triângulo à reta que
contém o lado oposto” (Rezende & Queiroz, 2012, p. 43). Portanto, a “altura é o
segmento” e o seu comprimento é a medida da altura. Alguns autores como Dante
(2007c) são bastante cuidadosos a esse respeito: “a área de uma região triangular é a
metade do produto da medida da base pela medida da altura correspondente” (p. 222).
Outros, como Barbosa (2006) ora refere-se explicitamente à medida da altura como na
apresentação da área de uma região trapezoidal a qual “é o produto do comprimento de
sua altura pela soma dos comprimentos de suas bases” (p. 178) ora fazem referência
apenas à altura (atribuindo-lhe indiretamente à ideia de número). Tal fato pode ser
verificado na apresentação da área de uma região triangular que, segundo este autor, “é
a metade do produto do comprimento de qualquer de seus lados pela altura relativa a
este lado” (p. 178). Ao dizer, “pela altura” o autor quis referir-se ao “comprimento da
altura”. Este tipo de confusão ocorre com frequência. A raiz do problema pode estar na
noção atribuída ao conceito de altura no dia a dia: a altura de uma pessoa, de um prédio
e etc. Todas as soluções apresentadas para o item são passíveis de melhoria.
Assim como a solução dada por A11 e A20 para o item b (Cf. Figura 7.67), as
respostas apresentadas pela maior parte dos estudantes centraram-se no emprego da
linguagem simbólica. Nestes casos não foram verificados problemas no uso da
linguagem, contudo a falta da linguagem verbal deixou o texto menos acessível.
Somente três duplas apresentaram soluções em que ambos os tipos de linguagens foram
empregados de forma totalmente correta. Essas três soluções foram construídas numa
perspectiva indutiva.
A resolução do item c não foi marcada por problemas com relação ao uso da
linguagem matemática. No caso da solução apresentada pelos alunos A12 e A29, por
exemplo (ver Figura 7.68), os estudantes cometem apenas um “abuso de linguagem” ao
escreverem “perímetro de quadrilátero L + L + L + L”. Mais à frente, no mesmo texto,
estes estudantes melhoram a escrita ao dizerem que o “perímetro é a soma [das
medidas] dos lados”, ou seja (no caso do trapézio MNRS), MS SR RN NM . O
327
resto do texto não enfrenta problemas quanto ao uso da linguagem. Ao contrário,
estabelece uma relação harmoniosa entre as ferramentas simbólicas, as imagens e a
língua materna. As respostas apresentadas pelas outras duplas também fazem uso
adequado da linguagem (na maior parte delas assiste-se à predileção pelas linguagens
simbólica e icônica). Três duplas redigiram soluções sem deslizes quanto à linguagem.
Nestes casos, seguiu-se uma lógica dedutiva.
329
330
Capítulo 8
84
As "falas" dos estudantes retomadas neste capítulo aparecerão sem a indicação do instrumento de
recolha de dados a partir dos quais foram obtidas. Estas informações podem ser obtidas no capítulo
anterior.
85
Fato semelhante ocorre, ainda que com pouca frequência, no capítulo sétimo. Em alguns momentos são
mencionadas figuras disponibilizadas no capítulo sexto.
332
é inerente para dialogar com a coloquialidade e o entretenimento presentes nas HQs?
Discussões dessa natureza são levantadas, ora explicitamente ora de forma subliminar,
no decorrer deste capítulo.
Ainda que se opte por algum nível de informalidade no tratamento de conceitos
geométricos, ao fazê-lo numa perspectiva axiomática alguns limites inevitavelmente são
impostos. O estudo dedutivo da Geometria Euclidiana é o palco privilegiado do rigor e
da formalidade e, portanto, tais elementos não devem ser totalmente negligenciados em
detrimento da necessidade de conectar os conteúdos acadêmicos-escolares à realidade
dos estudantes. Naturalmente algumas pontes precisam ser criadas. É preciso atingir o
ponto de equilíbrio entre a axiomatização e a abstração que cabe aos estudos em
Geometria e as demandas dos discentes pela articulação do que se aprende na sala de
aula com o mundo ao seu redor. As HQs, enquanto um possível elemento mediador, são
analisadas aqui à luz da experiência dos participantes com a leitura dos sete textos
aplicados em forma de literatura em quadrinhos.
A forma como os estudantes se relacionaram com as HQs utilizadas nesta
pesquisa tem a ver, em alguma medida, com a presença em maior ou menor quantidade
de elementos nesse tipo de literatura que costumam despertar-lhe a atenção como a
comicidade e a coloquialidade. A próxima subsecção trata dessas questões. Em seguida
são relatados os contributos das HQs à aprendizagem, seja pela ótica dos discentes seja
pelos fatos constatados pelo pesquisador.
No que diz respeito à linguagem empregada nas HQs, três tratamentos são dados
ao longo do texto. O primeiro diz respeito à linguagem verbal e ao seu uso nas HQs
tendo em vista a formalidade que costuma acompanhar o tratamento axiomático em
Geometria. O segundo compete à linguagem icônica. São levantadas algumas reflexões
sobre o bônus e o ônus das imagens, massiçamente presentes nas HQs, no que compete
à aprendizagem em Geometria. Por fim, é aberto um espaço para tratar-se da linguagem
simbólica, muitas vezes alheia à linguagem verbal comumente empregada na literatura
quadrinística.
Por fim, é lançado um olhar sobre o comportamento dos estudantes ao longo das
leituras das HQs relacionando-os com a composição das histórias e com os conteúdos
ali presentes. Contempla-se também a visão dos discentes acerca da metodologia
adotada quanto à aplicação das HQs.
333
8.1.1 Elementos atrativos
HQs comerciais
86
"A HQ explica o assunto através de coisas do nosso cotidiano e essa relação fica mais fácil de
entender", pontuou o aluno A25 referindo-se à exposição presente na HQ4.
335
propósitos educacionais. A Figura 7.6 apresenta outros os fatores apontados pelos
estudantes na perspectiva de validar a utilização da literatura em quadrinhos no
tratamento de conteúdos de Matemática (tais fatores se estendem naturalmente à
utilização da banda desenhada no tratamento de assuntos ligados a outras áreas do
conhecimento). Em consonância, em ordem, com autores como Morrison, Bryan e
Chilcoat (2002), Luyten (2011a), Rezende (2009) e Toh (2009), os estudantes
destacaram: a conexão com o cotidiano, a linguagem mais acessível, a leitura divertida,
a utilização de imagens. Quando as informações presentes na Figura 7.6 foram
extraídas dos participantes, esses atores não haviam conhecido HQ alguma que
contemplasse conteúdos matemáticos. Em suas respostas buscaram vislumbrar os
elementos que lhes despertam interesse em HQ comerciais.
336
dificuldades que eles encontraram para compreender as inequações modulares presentes
na HQ3 estiveram, em parte, relacionadas à falta de exemplos concretos87.
A utilização de letras do tipo a, b e c durante a representação das coordenadas de
três pontos A, B e C, nessa ordem, e as sucessivas operações algébricas apresentadas no
texto impôs dificuldades de compreensão a alguns estudantes durante a leitura da HQ3.
A Figura 8.1 apresenta o excerto de uma proposição onde aparecem tais representações.
87
"Eu acho que com exemplos numéricos já seria bem melhor (...) daria pra gente entender", assinalou o
aluno A8 referindo-se às dificuldades em compreender as expressões algébricas que envolvem módulos,
na HQ3.
337
imediatamente após a apresentação do axioma. Tais exemplos podem ser visualizados
na Figura 7.25. A compreensão de algumas demonstrações presentes no texto também
demandou a presença de exemplos. Segundo o aluno A29, "deveria ter mais exemplos
exposto[s] na abordagem da história em quadrinhos".
O estudo do círculo88, durante a leitura da HQ7, também demandou a inserção de
alguns exemplos numéricos. A definição da área da região plana limitada por este lugar
geométrico só conseguiu se tornar mais inteligível (para os discentes) quando o
investigador passou a atribuir valores numéricos para elucidá-la. O mesmo se revelou
necessário quando da compreensão do conceito de comprimento de arco de um círculo.
É fato que, em alguns casos, fazer uso de valores numéricos para esclarecer
determinadas construções algébricas pode ser uma alternativa salutar. Entretanto não se
deve parar por aí. Bieda (2010) alerta os professores quanto à tendência dos estudantes
de querer demonstrar resultados matemáticos exclusivamente a partir de exemplos. Não
é exatamente o caso dos participantes da pesquisa. Não reivindicaram a substituição das
demonstrações matemáticas por exemplos que as elucidassem. Apenas propuseram a
introdução de exemplos no sentido de torná-las mais inteligíveis. Durante a introdução
de determinado resultado, ou até mesmo em sua demonstração, pode-se fazer uso desse
recurso. Sempre como ponto de partida, não como de chegada (exceto após a
demonstração formal-dedutiva a título de aplicabilidade).
A demanda dos estudantes pela inserção de mais exemplos nas HQs (sobretudo
quando relacionada à elucidação dos teoremas apresentados) revela a maior
familiaridade desses atores com o raciocínio indutivo em detrimento do dedutivo. A
passagem direta para argumentação dedutiva nem sempre será o melhor caminho.
Muitas vezes, a indução facilita e diminui a resistência dos alunos à dedução. O
desenvolvimento de ambos os tipos de raciocínios é um dos contributos do ensino de
Geometria, pontua Hansen (1998). A comunhão entre a indução e dedução matemática é
necessária à formação dos estudantes. Deve-se apenas ter cuidado com as tentativas de
sobrepor-se o raciocínio indutivo ao dedutivo o que pode conduzir os estudantes à
obtenção de conclusões equivocadas (Weber, 2001). Reciprocamente, negligenciar o
uso do raciocínio indutivo em detrimento do dedutivo pode tornar a aprendizagem mais
lenta ou até mesmo inviável. A reivindicação dos discentes reside na constatação de que
88
Nas HQs optou por chamar de círculo (ao invés de circunferência) o lugar geométrico dos pontos do
plano que equidistam de um ponto fixo (do mesmo plano).
338
nas HQs privilegiou-se o movimento inverso: não houve espaços para o raciocínio
indutivo.
De acordo com Healy e Hoyles (1998) os estudantes costumam priorizar os
argumentos empíricos em detrimento dos dedutivos. É preciso, portanto, estabelecer a
diferença entre esses tipos de argumentações. É importante se utilizar exemplos na
elucidação de determinado resultado, contudo não se deve abrir mão da construção
formal-dedutiva ainda que a mesma faça uso de expressões algébricas. Um dos papéis
do ensino de Geometria, segundo Hansen (1998), reside no desenvolvimento da
abstração, generalização e elaboração de provas matemáticas. Não se faz isso somente
com exemplos concretos/numéricos. Conforme assinala Clements (2003), a passagem
do concreto para o abstrato é imprescindível à formação geométrica dos estudantes.
A reivindicação pelo aumento no número de exemplos nas HQs nem sempre
esteve relacionado à substituição de expressões literais por expressões numéricas.
Durante o estudo dos conceitos de mediana, altura e bissetriz relativas a um lado de um
triângulo, o aluno A11 relatou que a quantidade de exemplos apresentados no texto era
insuficiente89. A questão aqui não tem a ver com a generalização (pelo menos no
sentido empregado nos teoremas e em suas demonstrações). Antes diz respeito à própria
compreensão do estudante acerca dos conceitos. A apresentação sucessiva de exemplos
de triângulos isósceles seguida da constatação que em todos eles a mediana, a altura e a
bissetriz relativas à base coincidem poderia ser um ponto de partida para a apresentação
da proposição que versa a esse respeito. Desta forma seriam atendidas algumas
orientações dos PCNs para o ensino de Matemática que propõem que a articulação entre
as demonstrações matemáticas e as verificações empíricas (Brasil, 1998b).
89
O estudante declarou que "faltou um pouco de exemplo[s]. Faltou, um pouco, chamar bem a atenção
nesse caso porque é um caso muito importante [referindo-se ao fato da mediana relativa à base de um
triângulo isósceles coincidir com a bissetriz e a altura]. Porque às vezes ... tem algum triângulo e a altura
vai ser igual à bissetriz, vai ser igual com o triângulo isósceles".
339
Por se tratar de HQs com finalidades educativas, a presença de exercícios90 se
faz necessária conforme pontuado por alguns estudantes. Para estes atores somente a
leitura não dá conta da aprendizagem. É importante que as HQs contenham atividades
relacionadas aos conteúdos ali expostos. Os discentes atribuem aos exercícios a
finalidade de revisão e fixação dos conteúdos e de preparação para as provas (Cf. Figura
7.30). O grau de dificuldade das questões deve avançar de forma paulatina: "Eu acho
que deveria ter um pouco mais aqui [referindo-se ao número de exercícios]...
alimentando a dificuldade gradativamente, entendeu?", pontuou o aluno A13.
90
"Eu acho pouca, mas o tempo não ajuda. Principalmente essa que aparece no meio da revista que é
muito rápido de ser feita", destacou o aluno A10 ao se referir à quantidade de exercícios presente nas HQs.
O aluno assinalou, também, a necessidade de ampliar o tempo destinado à leitura e à resolução das
atividades propostas.
91
"A HQ tá grande. Acho que ela deveria ser dividida em duas partes", assinalou o aluno A20 referindo-se
à quantidade de assuntos na HQ4.
"Tem muito assunto, é muita informação" [A9, DB, 22 de agosto de 2014], referindo-se à quantidade de
assuntos na HQ5.
340
historinhas", enfatizou o aluno A9; "Essa revista ficou muito explicativa. Deu para
absorver o máximo dos conteúdos (...) eu não modificaria nada", complementou o aluno
A27. Eles não se referiram de forma direta à apresentação dos conteúdos de forma
menos concentrada. Contudo, este foi o principal fator que diferenciou a HQ6 das
demais HQs. Para além da divisão da HQ em três partes, é possível que o enredo da
narrativa e as imagens utilizadas tenham contribuído, em alguma medida, para torná-la
mais inteligível, no entanto a linguagem não distingue a HQ6 das outras HQs aplicadas
anteriormente.
A apresentação dos assuntos ao longo das HQs seguiu a mesma distribuição dos
conteúdos adotada por Barbosa (2006) em seu livro Geometria Euclidiana Plana. Se,
por um lado, os livros didáticos e as HQs com fins educacionais prestam-se à exposição
de determinado conteúdo escolar, acadêmico ou até mesmo científico, por outro, os
primeiros nem sempre fazem uso de alguma narrativa ficcional para apresentá-lo. Com
isso, as HQs tendem a ser mais extensas que um livro didático quando se destinam à
apresentação, em igual profundidade, dos mesmos conteúdos. Diante disso, é natural
que os estudantes requeiram a divisão dos assuntos em mais HQs para que a leitura não
se torne extensa, cansativa e improdutível.
Contributos à educação
92
Apenas um entre os vinte e sete estudantes que responderam Q1 apontaram o desenvolvimento da
capacidade de interpretação de textos como um dos contributos das HQs (Cf. Gráfico 7.2).
342
desenvolvimento da capacidade de interpretação de texto provenha do tipo de literatura
a que tiveram acesso. Textos menos densos e autoexplicativos dão a ilusão de que não
há o que interpretar. O que ocorre, no entanto, é uma interpretação quase que imediata
oriunda, por vezes, da ausência de sentidos conotativos no texto.
A falta de entendimento dos estudantes acerca das relações entre a leitura de
HQs e o processo de interpretação de textos também pode ser compreendido à luz dos
resquícios do preconceito injetado sobre esse tipo de literatura desde a década de 50 do
século passado. Ao serem consideradas obras de “menor valor literário” por parte de
alguns professores, pais, alunos e pelos órgãos regulamentadores do sistema
educacional (tanto no Brasil quanto em outros países), a entrada das HQs no ambiente
escolar tardou a acontecer (Vergueiro, 2006; Yang, 2003). Como uma literatura voltada
para o entretenimento pode ajudar a desenvolver a capacidade de interpretação de textos
por parte de quem as lê? Essa prerrogativa cabia aos livros didáticos e aos textos não
destinados ao entretenimento, pensava-se à época. A resposta da questão apresentada é
simples: Ao convocar a atenção do leitor promovendo o seu envolvimento com a
narrativa, a sua capacidade interpretativa é interpelada e desafiada através da literatura
em quadrinhos. Esse motor é aquecido pela entrega à leitura, pela forma como o leitor
se apropria do texto e se envolve com ele. Ademais, durante as leituras de HQs é
necessário preencher os espaços entre um quadrinho e outro lhes atribuindo
significados. Segundo Luyten (2011b), o preenchimento desses espaços cabe ao leitor o
qual atribui continuidade às representações momentaneamente descontínuas a partir da
forma como interpreta a narrativa. Ainda segundo a autora, com o crescimento da
indústria dos quadrinhos é possível encontrar variados tipos de HQs. Algumas de
simples interpretação e outras mais complexas exigindo um esforço adicional do leitor.
Em ambos os casos, ainda que não se perceba, exige-se alguma capacidade de
interpretação ao leitor.
Assim como as HQs comerciais, as HQs com fins educacionais demandam dos
leitores uma postura interpretativa assentada no envolvimento com o texto e nos
conhecimentos prévios desses sujeitos. A “leitura pela leitura” não basta. Nem sempre
as informações estão postas de forma explícita e mesmo quando isso ocorre é preciso
desvendar os seus significados. Esta última tarefa cabe ao leitor que recorre aos seus
arranjos cognitivos. Um episódio observado quando da aplicação da HQ1 ilustra esse
fato. Esta HQ situou os leitores quanto à organização da obra Os Elementos de Euclides.
Informou-lhes que os três últimos livros dessa obra contemplam tópicos da Geometria
343
Espacial conforme registrado em Boyer (1996). De acordo com a HQ1, Os Elementos
dispõem de um espaço para a prova da existência de cinco, e somente cinco, poliedros
regulares comumente conhecidos como os Poliedros de Platão. Mas, em qual dos livros
de Os Elementos esse fato é apresentado? A HQ1 não revela. Apenas faz referência aos
três últimos livros da obra. A Figura 8.2 traz o quadrinho desta HQ no qual os poliedros
são mencionados.
Conforme mostra a Figura 8.2, o texto diz que a existência de apenas cinco
poliedros regulares constitui a última proposição de Os Elementos de Euclides. Esse
registro foi o suficiente para os estudantes situarem essa proposição no décimo terceiro
livro da obra euclidiana ao responderem uma das atividades propostas ao final da HQ1.
Se os três últimos livros versam sobre a Geometria no espaço, por que não estaria tal
resultado no décimo primeiro ou décimo segundo livro? A conclusão dos estudantes
baseou-se numa simples ideia: Poderia Euclides construir um livro sem proposição
alguma, apenas centrado em comentários a respeito dos resultados provados nos seus
livros anteriores? Poderia sim caso o quisesse. Entretanto pela descrição feita na HQ
acerca de Os Elementos, esse não parecia ser um dos objetivos dessa obra. Euclides
estava preocupado em provar os resultados por ele conhecidos, mas de forma
minimalista. Por que se estender, em um único livro, através de comentários que
poderiam aparecer diluídos nos livros anteriores? Essa realmente não era uma intenção
de Euclides (Boyer, 1996). Os estudantes estavam corretos. A capacidade de
interpretação desses atores quanto ao conteúdo da HQ foi necessária à resolução da
atividade proposta.
344
Comunicação verbal. As respostas dadas pelos estudantes às atividades
propostas ao longo da aplicação das HQs e, em alguns casos, à secção PPPRSL,
apontam para a predominância de respostas minimamente apresentáveis em detrimento
das soluções com sérios problemas quanto à comunicação escrita (e conceitual). Tal fato
revela, como já assinalado por (Cho & Lawrence, 2012), a importância das HQs no
desenvolvimento da comunicação verbal dos seus leitores.
93
"A história em quadrinhos acaba estimulando a leitura. O aluno acaba se envolvendo com o assunto e
isso faz com que ele busque mais o assunto porque acaba sendo legal" [A3, Q2]
94
"Ao lermos as histórias em quadrinhos sentimos mais vontade em aprender os assuntos. Por ser uma
forma diferente estimula mais a nós, discentes" [A8, Q2].
95
Estes autores defendem a utilização das HQs para fins educacionais em uma perspectiva geral. Não
fazem referência específica ao ensino de Matemática.
345
da banda desenhada é destacado por Cho e Lawrence (2012), L. Santos (2014) e
Patrocínio (2012).
346
A7 . Outros assuntos presentes na HQ foram destacados pelos estudantes: "O teorema do
[ponto médio] com certeza eu entendi", assinalou A1. "Eu consegui ver bem a primeira
proposição... Já tá na mente assim. Já deu pra entender bem", comentou o aluno A9.
A congruência entre ângulos opostos pelo vértice não ofereceu dificuldades aos
estudantes durante a leitura da HQ4: "pela demonstração que ele [o autor da HQ] fez
ficou claro. Ele mostrou muito bem detalhadamente como é e quando eles são opostos",
comentou o aluno A31. A congruência entre ângulos opostos pelo vértice também
aparece em forma de literatura em quadrinhos na obra IMPACT mathematics (EDC,
2003) conforme pode ser verificado na Figura 6.23.
Referindo-se à HQ4 os alunos A29 e A30 fizeram, respectivamente, as seguintes
declarações: a HQ "prova todas as proposições de tal forma que fica claro"; "o
conteúdo está bem explicado". Através das respostas apresentadas pelos estudantes às
atividades propostas ao final da HQ foi possível perceber que o conceito de bissetriz de
um ângulo foi compreendido por todos os participantes. Alguns estudantes sentiram
dificuldades na apresentação da definição do conceito, como será visto ainda neste
capítulo. Contudo, ainda assim, souberam utilizá-la de forma correta.
As propriedades dos triângulos isósceles, apresentadas na HQ5, foram
assimiladas pelos estudantes: "a bissetriz vai ser igual à altura, na mesma base desse
triângulo isósceles, e vai ser igual a mediana" destacou o aluno A11.
O Teorema do Ângulo Externo (TAE) foi enunciado corretamente por dezesseis
dos vinte e um alunos que responderam ao Q3. Em resposta a este questionário, o aluno
A25 pontuou que de acordo com o teorema, "a medida do ângulo externo de um
triângulo é sempre maior que as medidas dos ângulos internos não adjacentes". As
representações imagéticas elaboradas por alguns estudantes para o TAE, presentes na
Figura 7.47, corroboram a compreensão dos discentes acerca do teorema.
Assim como o TAE, a desigualdade triangular constituiu outro resultado
presente na HQ6 compreendido pelos estudantes. As trezes duplas que responderam a
secção PPPRSL (Cf. Figura 7.53) consideraram falsa a afirmação ali presente que
versava sobre a existência de um triângulo cujos lados medem, 2cm, 5cm e 7cm.
O cálculo de área de regiões limitadas por figuras planas representa outro
assunto que os alunos demonstraram compreender. Ao se referir à área da região plana
limitada pelo paralelogramo, o aluno A10 esclareceu ao seu colega, o aluno A28: "É essa
base aqui [aponta para a figura] vezes a altura". Quanto à área de regiões triangulares, o
347
aluno A20 simplificou o enunciado presente na HQ ao dizer: "Base vezes altura dividido
por 2".
A explanação sobre a área de regiões circulares presente na HQ também foi
compreendida pelos estudantes. Um deles, o aluno A12, pontuou: "Agora ficou claro". A
associação entre a área limitada pelo círculo e a área dos setores circulares (Cf. Figura
6.11) foi considerada "interessante" [Áudio] pelo aluno A11.
Através da leitura da HQ7 alguns estudantes conseguiram entender a origem do
número racional ("pi"). Ao descobrir que se tratava do quociente entre o comprimento
e o diâmetro de um mesmo círculo, o aluno A1 destacou: "Eu sempre tive curiosidade
para saber de onde veio esse valor". O comentário do estudante demonstra interesse pela
leitura da HQ.
Críticas às HQs
96
Apenas dois outros estudantes, A3 e A12, renderam críticas à HQs, desta vez relacionadas à
superficialidade com que alguns assuntos foram abordados.
349
Os dois últimos já foram comentados neste texto. Aqui, portanto, será lançado um olhar
sobre o enredo adotado na HQ2.
Na HQ2, a exposição dos axiomas de incidência e de ordem e os seus
desdobramentos foi associada aos cenários inerentes às práticas esportivas. Noubary
(2010) defende a associação entre os conteúdos matemáticos e os esportes por acreditar
que o interesse dos estudantes pelos últimos pode torná-los menos resistentes aos
primeiros. Mas então por que o aluno A18 não se mostrou favorável ao tipo de exposição
do conteúdo presente na HQ?
Não obstante a utilização de ambientes próprios das práticas esportivas (como
um campo de futebol, uma pista de atletismo, piscina olímpica, mesa de tênis), a HQ2
não desenvolve uma história instigante como, por exemplo, uma disputa entre dois
times rivais e as motivações de cada um deles para ganhar a partida. O foco esteve no
cenário ao invés das relações interpessoais entre os personagens da história. Se, por um
lado, é plausível fazer uso de uma piscina olímpica ou um tatame utilizado na ginástica
para abordar determinados conteúdos de Geometria (Mota, 2005), por outro, deve-se
fazê-lo da forma mais envolvente possível para que a articulação entre os esportes e a
Geometria não se apresente de forma forçada.
Cabe salientar que a discussão acerca da HQ2 foi motivada pelo relato de um
único estudante, o aluno A18. De modo geral, os participantes não se opuseram à forma
adotada na HQ2 para expor os conteúdos matemáticos. Os esportes, e em particular o
futebol, fazem parte da cultura do país. São temas recorrentes nas conversas entre
jovens e adultos.
351
Familiaridade com a narrativa
Contextos impessoais
97
"(...) faltou um pouco chamar bem a atenção nesse caso porque é um caso muito importante", destacou
o aluno A11 referindo-se à falta de ênfase dada na HQ4 ao fato da mediana relativa à base de um triângulo
isósceles coincidir com a bissetriz e a altura.
353
8.1.4 Linguagem quadrinística e linguagem matemática
Linguagem verbal
98
"Como a história em quadrinhos tem um linguagem mais lúdica, facilita o entendimento saindo da
coisa maçante da sala de aula", destacou o aluno A16 com relação ao uso da banda desenhada na
exposição de conteúdos matemáticos (Cf. Figura 7.6)
354
fins educacionais fazem uso de uma linguagem facilmente compreendida pelos
estudantes. Contudo, nas HQs aplicadas não foi observada a presença de uma
"linguagem mais leve, mais jovem", reivindicada pelo aluno A5 em Q3.
Segundo Lovetro (2011), além de coloquial, a linguagem adotada na literatura
em quadrinhos se destaca pela capacidade de síntese. Em, no máximo, três linhas deve-
se passar uma mensagem por meio de um balão de dialogo. Caso contrário, pode-se
correr o risco de tornar o diálogo irreal e cansativo. Deve-se evitar o excesso de textos
nas falas dos personagens, pontua Luyten (2011b).
A presença de muitas informações nos balões torna a leitura cansativa. A Figura
8.3 apresenta uma tirinha extraída da HQ5 onde é perceptível o excesso de informações
nos diálogos traçados pelos personagens. A leitura desta HQ foi considerada cansativa
por alguns alunos o que se deve, segundo eles, à quantidade de informações presentes
na HQ99.
99
"Tem muito assunto. É muita informação", pontuou o aluno A9 referindo-se à HQ5 [DB, 22 de agosto
de 2014].
355
A incongruência entre a linguagem matemática e a linguagem verbal (oral ou
escrita) foi destacada por dois estudantes, a saber, os alunos A9 e A16. O primeiro
declarou que "nas HQs é necessária uma linguagem mais dinâmica e mais coloquial". O
segundo pontuou que "a linguagem para uma HQ está muito técnica".
Quando questionado sobre a viabilidade da aplicação das HQs na educação
básica, o aluno A22 declarou: "Para lidar com crianças teria que chamar mais atenção. A
linguagem deveria ser diferente com momento, com mais distração. Eles precisam
também disto e, como eu falei, eu às vezes [também] sinto [est]a necessidade". O
comentário do estudante aponta para a necessidade de se utilizar uma linguagem mais
simples e que consiga entreter o leitor.
100
"A linguagem... acho que é essa mesma", pontuou o aluno A13.
356
Especificidades da linguagem matemática. Não obstante a reivindicação dos
estudantes pela adoção de uma linguagem mais coloquial nas HQs, os mesmos
reconheceram a importância da linguagem formal na apresentação das demonstrações
matemáticas: "[Em] se tratando de geometria plana axiomática não vejo como utilizar
outra linguagem para a compreensão do assunto. Sendo assim, a linguagem utilizada [é]
necessária para essa compreensão", destacou A7; "Para uma HQ é possível uma
linguagem mais coloquial, porém para uma HQ que envolva assuntos didáticos não é
possível colocar uma linguagem totalmente coloquial. Com isso a linguagem utilizada
nas HQs [sobre] Geometria plana axiomática é plausível", pontuou o aluno A11.
Segundo Lorenzato (1999), para que os estudantes compreendam as definições e as
propriedades dos conceitos geométricos é imprescindível a esses atores a aquisição de
um vocabulário mais formal. Não se deve, portanto, abrir mão desse tipo de linguagem.
A linguagem menos formal pode ser utilizada, sempre que necessário, mas a forma de
comunicação entre o texto e o leitor não deve apoiar-se exclusivamente nesse tipo de
linguagem.
O reconhecimento dos estudantes quanto às especificidades da linguagem
matemática não lhes retirou a aspiração por um tipo de linguagem mais própria das
HQs: mais acessível (Vergueiro, 2006), informal (Luyten, 2011b) e abreviada (Lovetro,
2011). Apesar de manifestarem predileção por esse último tipo de linguagem, foi
perceptível o esforço de muitos deles em empregar uma linguagem mais formal, tal
como costuma aparecer nos textos matemáticos, nas respostas fornecidas às atividades
propostas. Em divergência com as considerações de Dreyfus (1999) segundo o qual os
alunos tendem a utilizar uma linguagem coloquial nas justificativas matemáticas em
pouquíssimos casos a linguagem matemática foi desconsiderada na elaboração das
justificativas. O que se assistiu foi, em alguns casos, a falta de familiaridade dos
estudantes diante da composição de textos matemáticos e não a tentativa de subjugar a
linguagem matemática à linguagem oral. Esta discussão será ampliada mais à frente,
ainda neste capítulo.
A linguagem em Matemática não se constitui exclusivamente por meio de
palavras. Ela também faz uso de símbolos, fórmulas, definições formais e lógica
proposicional (Kinard & Kozulin, 2010) o que a torna igualmente rica e complexa. À
medida que tais elementos são agregados ao texto, menores são as brechas abertas para
a coloquialidade e informalidade nos textos. Em parte, a formalidade matemática deve-
se à necessidade da perpetuação do conhecimento o qual se deve manter inteligível em
357
qualquer lugar a despeito dos regionalismos locais. Por exemplo, a expressão “se a, b e
c são as medidas dos lados de um triângulo retângulo em que a é a medida da
hipotenusa, então a2 = b2 + c2”, refere-se ao Teorema de Pitágoras e qualquer forma de
escrevê-lo precisa recorrer aos seguintes termos: triângulo retângulo; hipotenusa; a2 =
b2 + c2 (algebricamente como ao lado ou por extenso através de palavras). Elementos
informais podem ser empregados para elucidar o resultado, mas a forma de enunciação
depende de termos próprios da Matemática. Assim como ocorre em outras Ciências
como a Biologia, a Medicina e a Química, a Matemática é dotada de uma linguagem
própria, técnica e por vezes simbólica que a ajudam na construção e na consolidação da
sua própria identidade. Nem sempre é possível desviar-se dessa forma de se expressar
em textos matemáticos.
Linguagem icônica
358
regiões triangulares. Em outra dupla, o aluno A8 dirigiu-se às ilustrações presentes na
HQ e disse ao aluno A30: "No caso aqui, ó..., tá vendo a região triangular?!", mostrando
ao colega a representação dada na HQ para esse tipo de região. Estes exemplos
mostram que, muitas vezes, o texto apoia-se na imagem para se fazer entender conforme
preconizado por Luyten (2011a) e J. Smith (2000) ao se referirem às HQs.
De acordo com Luyten (2011a) e Rezende e Silvério (2009), a linguagem não
verbal presente nas HQs (na qual se inserem as imagens) costuma atrair a atenção dos
leitores. E, quando destinadas ao ensino e aprendizagem de Geometria, assinala J. Smith
(2000), as imagens ajudam a orientar o raciocínio dos estudantes. Alguns discentes, em
conformidade com o último autor, apontaram a importância das imagens na
compreensão dos conteúdos expostos na HQ2. O aluno A7 declarou que "ficou muito
legal a forma como foi exposto o conteúdo na revista e as imagens ajudaram bastante na
compreensão". Com efeito, o estudo dos conceitos primitivos (ponto, reta e plano)
apresentado na HQ não poderia ser feito sem a utilização de representações icônicas.
Termos indefiníveis são compreendidos a partir de exemplos (nesse caso, imagens)
tendo em vista a ausência de uma definição textual.
A inserção das imagens no processo educativo é destacada e defendida por Bath
(1987) ao se referir à segunda fase da "percepção icônica" de um conceito. Duval
(1998) amplia as ideias de Bath ao atribuir importância às imagens não apenas na etapa
inicial da aprendizagem. Segundo este autor, as representações icônicas também se
mostram importantes durante a elaboração de provas matemáticas.
No que tange a apresentação e caracterização de um conceito, Duval (1993)
aponta a necessidade de se utilizar as representações icônicas. Em Geometria é
inevitável recorrer a esse tipo de representação. Muitas vezes a compreensão dos
estudantes acerca de conceitos como segmento de reta, semirreta, mediana de um dos
lados de um triângulo, dentre outros, não se concretiza antes da apresentação icônica
desses objetos. Ao responderem à questão proposta na secção PPPRSL, na HQ3, quase
dois terços dos estudantes fizeram uso de algum desenho (Cf. Figura 7.18).
Para responder à segunda questão proposta ao final da HQ4, na qual era
solicitado o perímetro de um hexágono, os estudantes fizeram uso da representação
icônica do polígono dada na própria questão. Utilizaram-na para traçar as diagonais do
polígono (já que o número de diagonais era requerido pela questão) e para inserir as
medidas dos comprimentos de cada lado do hexágono (Cf. Figura 7.32). Este fato
359
ratifica a importância das imagens no processo de aprendizagem e no desenvolvimento
cognitivo dos alunos (Duval, 1998).
Além de ajudarem os estudantes durante a resolução de problemas ligados à
Geometria, as imagens oferecem outras vantagens: os ajudam a compreender e a
assimilar, de forma mais eficaz do que as palavras, os conceitos geométricos que lhes
são apresentados. É o que ocorreu durante a leitura da HQ2 quando da apresentação da
definição de triângulo. Os discentes se concentram mais na figura que buscava
representar o conceito do que na própria definição textual que a HQ dispunha. Esta
última estava incompleta, conforme constatou o pesquisador em sala de aula. Faltou
mencionar a não colinearidade dos vértices do polígono (Cf. Figura 7.11). Os estudantes
não perceberam esse equívoco por estarem mais conectados às imagens do que às
palavras. A figura apresentada não deixava dúvidas: os três vértices não podiam ser
colineares. O texto omitiu esse fato. Os estudantes aprenderam com a imagem, não com
o texto. Esse fato mostrou, tal como pontuam Afrilyasanti e Basthomi (2011), a
capacidade que as imagens têm de ficar registradas, com facilidade, na memória de
quem as vê.
A linguagem icônica se destacou também por outro contributo: ajudou a revelar
o pensamento dos estudantes. De fato, a despeito de não conseguiram expressar em
palavras a definição de mediana relativa a um lado de um triângulo, os alunos A9 e A10
o fizeram através de um desenho conforme mostra a Figura 7.63. A partir do desenho
apresentado pelos estudantes é possível concluir que eles compreenderam o conceito.
As imagens criadas pelos alunos A7, A24, A26 e A27 para representar o TAE
revelaram que os discentes compreenderam que a medida do ângulo externo de um
triângulo é sempre maior que as medidas dos ângulos internos que não lhe são
adjacentes (Cf. Figura 7.47). O aluno A27 agregou representações simbólicas à icônica.
A26 fez uso de valores numéricos. Os demais estudantes recorreram apenas à
representação icônica: representaram ângulos externos cujas medidas (embora não
informadas) são visivelmente superiores àquelas dos ângulos internos não adjacentes. A
despeito de tais imagens sinalizarem para o entendimento dos estudantes acerca do
TAE, as representações icônicas não bastam: é preciso fazer uso de ferramentas
simbólicas (ou de representações verbais) para que a mensagem seja dada de forma
explícita e geral. Algumas limitações ou problemas verificados por meio do uso de
imagens são pontuados a seguir.
360
Obstáculos à aprendizagem. Nem todas as imagens destinadas à explanação e
discussão acerca dos conceitos matemáticos foram compreendidas pelos estudantes. A
despeito de "as imagens fala[re]m" como afirma N. Santos (2011, p. 46), nem sempre os
seus “dizeres” são decodificados pelos estudantes, como constatado nesta pesquisa. A
título de exemplo, tem-se a representação imagética utilizada na HQ2 para exemplificar
o conceito de convexidade. De acordo com o aluno A11, "a imagem no momento da
explicação ficou um pouco a desejar. Deveria usar outro método de explicação sem ser
a quadra de basquete".
Durante a apresentação de um conceito deve-se fazer uso do maior número de
representações imagéticas possíveis. A utilização de uma única imagem, alerta Battista
(2009), pode limitar a compreensão dos estudantes. Tal situação foi constatada nesta
investigação. Durante a resolução da secção PPPRSL, disposta na HQ4 (Cf. Figura
7.26), o aluno A15 só conseguiu, a princípio, identificar os ângulos retos em que um dos
lados está disposto na horizontal e o outro na vertical. Somente após o investigador lhe
dizer que havia pelo menos três ângulos retos na atividade, o estudante conseguiu
romper com o seu entendimento inicial acerca de ângulos retos.
O estudo da altura de um triângulo, desta vez na HQ5, endossou a existência de
um "poder limitador" nas imagens quando indevidamente utilizadas. Os participantes
haviam estudado este conceito na escola básica. Entretanto, alguns deles (a saber, A4,
A22, A30, A31) só sabiam traçar ou identificar as três alturas em triângulos acutângulos.
Não sabiam encontrar a altura relativa ao lado que se opõe ao ângulo não agudo em
triângulos retângulos ou obtusângulos. Esse fato aponta para a existência de outro
problema: após lerem a definição de um conceito (geométrico) e observar a figura a ele
associada, os discentes passam a se aproximar mais da imagem e menos da definição
textual. Tal distanciamento dos estudantes do enunciado (de um problema, teorema,
definição) após o contato com as figuras a ele associadas (para as quais passam a
direcionar a atenção) é assinalado por Duval (1998) como um dos fatores negativos da
utilização de imagens. A despeito das representações imagéticas serem importantes no
processo de aprendizagem em Geometria, não se deve abrir mão das definições textuais
as quais se apresentam como base para o desenvolvimento da teoria.
Conforme pontua Clements (2003), um conceito é sempre mais amplo que as
representações imagéticas. Da mesma forma, estas últimas não extrapolam as hipóteses
de um problema. Antes, encontram-se submissas a elas. Nem todos os discentes
compreenderam este fato. Ao responderem a primeira atividade proposta ao final da
361
HQ5, os alunos A29 e A31 atribuíram valores às medidas de alguns ângulos sem justificá-
las (Cf. Figura 7.38). Fizeram-no a partir da "aparência" das figuras e não à luz das
hipóteses do problema.
Durante a apresentação do conceito de diagonal de um polígono, na HQ4, foi
disponibilizada apenas uma imagem relacionada ao conceito. Este fato agregado à
dificuldade de alguns estudantes de compreenderem a definição de diagonal fez com
que alguns deles desconsiderassem a possibilidade de existir diagonais paralelas a um
dos lados do polígono (durante a resolução da segunda atividade proposta ao final da
HQ). Por quê? Simplesmente porque assimilaram mais a imagem que tentou lhes
esclarecer o conceito de diagonal do que a definição que lhes foi apresentada. Mais uma
vez, incorreram no erro de sobrepor as imagens às outras formas de representação
relacionadas ao mesmo conceito, como por exemplo, a representação verbal (definição).
As imagens também foram protagonistas de algumas confusões nas
demonstrações matemáticas que tratavam da prova da unicidade de determinados
objetos geométricos (perpendicular a uma reta passando por um de seus pontos;
perpendicular à uma reta passando por um ponto fora dela). Quando se faz uso de
demonstrações por redução ao absurdo, as figuras obtidas são incongruentes com a
realidade (afinal supõe-se a ocorrência de um fato inverídico). Em Q2, o aluno A12
revelou ter sentido dificuldades em compreender a demonstração da unicidade da
perpendicular a uma reta passando por um de seus pontos "por causa da ilustração". Tal
fato foi ratificado por A3 ao dizer que "as imagens fica[ra]m um pouco complicadas
para entender". Esse descompasso entre "figura" e "realidade" não era esperado pelos
alunos. Era o primeiro contato desses atores com demonstrações desse tipo. Nesses
casos, tornaram-se "resistentes" às imagens. Esse fato revela a necessidade dos
professores, assim como os autores de livros didáticos, ressaltarem aos alunos que em
demonstrações por redução ao absurdo é comum obter imagens que vão de encontro da
intuição à moda euclidiana. Fenômeno que ocorre pelo simples fato de se supor algo
que, a partir do sistema axiomático em uso, não pode ocorrer.
362
pontuou: "Aí talvez desenhos separados poderiam melhorar porque o ponto G é
marcado no mesmo triângulo que tava a semirreta". O comentário do estudante aponta
para a necessidade de se romper com a imagem pronta e acabada substituindo-a por
várias outras representações imagéticas que culminarão em uma imagem final, pelo
menos em demonstrações em que se recorre a construção de objetos geométricos. Dessa
forma, a ideia das imagens como balizadoras do raciocínio geométrico, defendida por J.
Smith (2000), pode ser contemplada.
Como intuído pelos alunos, o ponto G deveria coincidir com o ponto C (Cf.
Figura 7.35), mas na HQ eles estavam dispostos em posições diferentes. Este fato gerou
a insatisfação do aluno A11 que pontuou: "Oxe101, por que esse G está aqui? Esse lado
nunca vai ser igual ao daquele!". A narrativa deixou clara, para o leitor, algumas
questões. De fato, tais pontos deveriam coincidir (como de fato ocorreu), mas este fato
não poderia ser assumido como verdade, desde o início. Deveria ser provado. Neste
momento (fase inicial da leitura), os estudantes confundiram hipótese com tese.
Segundo Almouloud, Silva e Fusco (2012) tal confusão é um erro comum cometido
pelos estudantes.
Mais à frente, nas etapas finais da demonstração, os estudantes passaram a
compreender o raciocínio empregado na prova: "Ele [o autor da HQ] está supondo que o
[ponto] G está aqui [mostra com o dedo indicador a posição do ponto na figura] (...) vai
chegar a conclusão [de] que G não está naquele ponto que ele colocou", explicou o
aluno A11.
Durante a apresentação de determinado conceito, deve-se diversificar as
representações icônicas a ele associadas. A ampliação do número de imagens "que
exemplificam" os conceitos foi requerida pelo aluno A11 ao referir-se à HQ5: "Se eu
fosse usar a revistinha [a HQ], eu colocaria quase semelhante a essa em imagens, em
figuras. Eu apenas ilustrava um pouco mais". O estudante mostrou-se satisfeito com as
imagens utilizadas nas HQ, mas as considerou em número insuficiente. Em particular, o
discente chamou a atenção para a necessidade de ampliar as representações icônicas
para mediana, bissetriz e altura em um triângulo: "faltou um pouco de exemplo, faltou
um pouco chamar bem atenção nesse caso porque é um caso muito importante. Porque
às vezes... Tem algum triângulo e a altura vai ser igual à bissetriz, vai ser igual com o
101
"Oxe" é uma expressão utilizada em algumas cidades do nordeste do Brasil para expressar o espanto
mediante alguma situação.
363
triângulo isósceles". Da mesma forma, é importante representar ângulos retos cujos
lados não estão dispostos nas posições horizontal e vertical; as alturas relativas aos
lados de triângulos retângulos e obtusângulos e etc. Nesses casos, a forma como os
estudantes assimilarão os conceitos geométricos não será enviesada pelas
representações icônicas como por vezes ocorre (Battista, 2009).
As figuras que aparecem nas demonstrações por redução ao absurdo também
merecem um tratamento especial. Antes ou após a apresentação das mesmas, o
estudante deve ser advertido que a incoerência entre tais representações icônicas e a
veracidade dos fatos decorre do uso de hipóteses falsas.
Linguagem simbólica
102
Em consonância com Barbosa (2006), ao longo desta pesquisa os comprimentos de segmentos de reta
como AB e EF, por exemplo, foram denotados, respectivamente, por AB e EF .
365
triângulo. No primeiro caso, escrever-se-ia " CDB " e, no segundo, " CDB ". Não que
as ferramentas simbólicas adotadas na HQs sejam demasiadamente "abstratas" e,
portanto, difíceis de serem compreendidas. O problema residiu na semelhança entre
elas.
SAB (utilizada nas HQs) ou AB (presente em grande parte dos livros didáticos), ambas
utilizadas para designar uma semirreta de origem em um ponto A e que passa por um
ponto B. Embora a segunda representação tenha a vantagem de remeter o interlocutor,
quase que imediatamente, ao conceito a que se destina (semirreta), por outro se esbarra
na semelhança com as ferramentas usadas para designar vetores, em Geometria
Analítica. Quem escolhe uma ferramenta em detrimento de outras costuma pesar na
balança as suas vantagens e desvantagens. Os estudantes não externaram dificuldades
quanto ao uso e compreensão da ferramenta simbólica S AB. Apenas o aluno A7 pediu
esclarecimentos ao investigador sobre a utilização de SAB na HQs ao invés de SAB
103
Não é caso das ferramentas simbólicas quantitativas. Por exemplo, o símbolo “x” empregado para
denotar a operação de multiplicação entre números naturais (durante os primeiros anos de escolaridade) é
com o tempo substituído por “”.
366
(como empregado nas discussões em sala de aula). O pesquisador esclareceu que as
limitações da utilização de ferramentas simbólicas no Toondoo fez com que fosse
utilizado SAB nas HQs.
Uma mesma ferramenta. Dois significados. Na HQ4, a letra grega (alpha) foi
utilizada para designar tanto um ângulo quanto a sua medida (Cf. Figura 7.24). Ao
identificar a letra grega no texto, o aluno A20 questionou o investigador: "As letras
gregas não são utilizadas para nomear os planos?". Essa pergunta deveu-se à indicação,
na HQ2, de letras do alfabeto grego na designação de planos (assim como letras
maiúsculas e minúsculas do alfabeto português para referir-se a pontos e retas,
respectivamente). O estudante parece ter compreendido, à época em que leu a HQ2, que
as letras do alfabeto grego são utilizadas somente para designar planos e não que os
planos são geralmente designados por letras do alfabeto grego. Diante disso, o
pesquisador explicou-lhe que uma mesma ferramenta simbólica (sim, nesse caso, a letra
está exercendo este papel!) pode ser utilizada, desde que fique claro no texto, para se
referir a mais de um conceito matemático.
Um velho conhecido dos participantes, a saber, o sinal de igualdade “=”, fez
com que alguns estudantes cometessem certos "deslizes" quando utilizado na linguagem
oral. Nas HQs, essa ferramenta simbólica foi utilizada (também) para designar a
congruência entre dois objetos matemáticos (segmentos de reta, ângulos, triângulos).
Enquanto conjunto de pontos, objetos congruentes não significam objetos iguais. Um
segmento de reta com extremidade nos pontos A e B pode ser congruente ao segmento
com extremos em C e D sem que possuam necessariamente os mesmos pontos104.
Congruentes, mas não coincidentes. A partir das ferramentas simbólicas adotadas nas
HQs, deve-se escrever “AB = CD” em que se lê “o segmento de reta AB é congruente
ao segmento de reta CD”. Os participantes, porém, em sua maioria, substituíram a
palavra "congruente" pela palavra "igual" mostrando a força da tradição de associar à
ferramenta simbólica “=” ao significado de igualdade.
É possível ainda que a confusão tenha sido causada por uma compreensão
inadequada acerca do conceito de congruência ou, inversamente, que a utilização do
104
De acordo com Machado (2012), "a diferença entre segmentos iguais e segmentos congruentes é que
no primeiro caso os dois segmentos são iguais como conjunto de pontos (ou seja, são na verdade o mesmo
objeto), e no segundo caso não precisam ser o mesmo conjunto, apenas compartilham da propriedade de
terem a mesma medida" (p. 35).
367
sinal de igualdade na representação de congruência tenha comprometido,
negativamente, a forma dos estudantes compreenderem este último conceito. Se por um
lado, o conceito é mais amplo que as ferramentas simbólicas utilizadas para designá-lo
(Duval, 1993), por outro estas últimas podem contribuir para torná-los mais (ou menos)
inteligíveis.
As ferramentas simbólicas: uma estranha linguagem. A relação dos
participantes com as ferramentas simbólicas adotadas nas HQs revelou a pouca
familiaridade desses atores com tais formas de representação. Os outros tipos de
representação em Geometria, isto é, aqueles dados pela língua materna e por
representações icônicas (Duval, 1993) parecem ter sido melhor assimilados pelos
participantes. As representações verbais e icônicas aproximam-se mais da experiência
diária dos estudantes enquanto as ferramentas simbólicas mostram-se intrinsecamente
ligadas aos textos matemáticos. Embora, como destacam Kinard e Kozulin (2010), a
escolha das ferramentas simbólicas provenha, geralmente, de um consenso entre os
membros da comunidade matemática, a falta de conexão desses símbolos com o dia a
dia dos estudantes pode tornar a sua apreensão, pelos estudantes, um processo árduo.
105
O aluno A1 foi aquele que classificou como "chata" a leitura da HQ1. O aluno A18 foi aquele que
atribuiu às dificuldades de compreensão dos assuntos da HQ2 à "maneira como a HQ trazia porque não
ficava muito claro".
368
Quanto mais envolvente for a história, mais interessados com a leitura estarão os
estudantes. A criatividade na elaboração do enredo pesa tanto quanto a complexidade
intrínseca dos assuntos. As dimensões racional e criativa evocadas durante a criação de
uma HQ (E. Santos, 2011) revelam-se igualmente importantes.
Falta de atenção
106
Em Q1, o aluno A21 creditou a necessidade de refazer a leitura à sua "falta de observação e
interpretação".
369
dispersão por parte de alguns discentes. A maioria dos participantes, porém, se revelou
interessada e envolvida com a leitura.
Ansiedade
De acordo com Vergueiro (2006), as HQs podem ser utilizadas para introduzir
ou aprofundar um assunto já estudado. Aqui a banda desenhada foi adotada como ponto
de partida para a apresentação dos conceitos geométricos. Foi adotada para introduzir.
Não se tratou, porém, de uma introdução superficial que demanda imediatamente por
complementação. Foi mais que uma introdução. Alargou a discussão: introduziu
107
"Passei por algumas partes na ansiedade de responder algumas questões. Talvez por isso eu não vi esta
parte [referindo-se ao fato de nos triângulos isósceles a mediana relativa à base coincidir com altura e
mediana] e passei só a leitura sem prestar atenção nas demonstrações", destacou o aluno A10.
371
definições, apresentou axiomas, provou teoremas e proposições, propôs questões.
Também se destinou ao aprofundamento. Introduziu e aprofundou108.
Ao contrário de Vergueiro (2006) e Francis Pelton e Pelton (2009) que indicam a
banda desenhada como ferramenta de complementação, aqui elas foram adotadas como
fonte principal de aprendizagem. Não se tratou, portanto, de HQs produzidas pelos
alunos como recomendam Kessler (2009), Pereira (2010) e Marianthi, Boulodakis e
Retalis (2007). Foram criadas pelo autor deste trabalho à luz da abordagem axiomática
proposta por Barbosa (2006). Faltou-lhe, por limitações do próprio tempo de execução
da pesquisa, o diálogo com outros educadores matemáticos e alunos que já se
debruçaram sobre os estudos numa perspectiva axiomática tendo em vista a construção
das HQs a partir de vários olhares e de várias mãos. A participação de uma equipe de
colaboradores na elaboração das HQs é defendida por Kessler (2009).
A aplicação das HQs ocorreu da seguinte forma: Primeiro formavam-se as
duplas de estudantes109. A cada dupla era entregue um exemplar da HQ. Iniciava-se a
leitura. O pesquisador podia ser consultado para sanar as dúvidas. Em um dado
momento, antes da finalização da narrativa, era aberto o debate coletivo. Em seguida, a
leitura era retomada. Durante a secção PPPRSL, os estudantes precisavam responder a
uma atividade acerca do conteúdo exposto. Tratava-se de uma questão de múltipla
escolha. Caso indicassem a alternativa correta, deveriam dar continuidade à leitura.
Caso contrário, deveriam rever os conteúdos até conseguirem identificar a alternativa
correta. Com a continuidade da leitura, a depender da quantidade de informações no
texto, era aberto outro espaço para as discussões coletivas. Antes disso, o pesquisador
continuava à disposição para dirimir as dúvidas. Finalizada a leitura, eram entregues
algumas atividades aos estudantes. Desta vez as respostas deveriam ser devidamente
justificadas.
A metodologia utilizada partiu do pressuposto de que a leitura das HQs sem a
abertura de um espaço para discussões não é suficiente para a promoção da
aprendizagem. Tal fato foi corroborado ao longo da investigação. Ao se referir à
108
O aprofundamento dos temas não coube somente às HQs. Após a aplicação de cada banda desenhada,
o pesquisador (enquanto professor) fez uso do trabalho de Barbosa (2006), sobretudo das atividades ali
presentes.
109
As duplas variaram ao longo da pesquisa.
372
primeira proposição presente na HQ2110, o aluno A9 comentou que "deu pra entender
muito bem, ficou até bem explicado. Mas também porque a gente acabou já vendo
dentro da classe e tudo (...) Não sei, não sei se quando eu chegasse aqui direto e visse
isso não sei se eu entenderia".
Dos dezoito alunos que responderam o Q2, dez manifestaram-se favoravelmente
à manutenção da metodologia de aplicação das HQs: primeiro os alunos leem as revistas
e depois (ou simultaneamente, caso necessário) veem os esclarecimentos do professor-
pesquisador. De acordo com o aluno A31, "do jeito que está sendo é melhor. Porque
quem não entender lendo sozinho, quando o professor pausa a leitura em determinado
lugar, explica e tira a dúvida de quem tiver para assim continuar a leitura e tentar
compreender a próxima parte". Quanto à apresentação dos assuntos primeiramente pelas
HQs e depois por outras referências bibliográficas, o aluno A16 relatou que "fazendo a
leitura antes de conhecer outras fontes ajuda a conhecermos de forma lúdica os
assuntos. Quando passamos para a leitura de outras fontes fica mais fácil entender
alguns termos". Neste caso, conforme apregoado por Vergueiro (2006), as HQs
funcionam como "uma forma lúdica para tratamento de um tema árido" (p. 26).
Os outros dez estudantes propuseram algumas mudanças na metodologia. Não se
trata da utilização das HQs após a utilização de outras fontes. Consiste na antecipação
das explicações do pesquisador. Enquanto professor, ele procederia com uma aula
expositiva acerca dos conteúdos e só depois as HQs seriam aplicadas. Afinal, pontuou o
aluno A4, "após as explicações do professor em sala de aula, a leitura das revistas,
posteriormente, seria de fácil entendimento".
Os estudantes advogaram pela utilização das HQs antes dos livros didáticos. Ao
contrapor a abordagem dada pela HQ4 com a abordagem que comumente aparece nos
livros didáticos, o aluno A16 destacou que "ângulo111 é um assunto de dificuldade
intermediária e estudá-lo por meio de uma HQ é mais interessante do que através dos
livros didáticos usuais". Ao relatar o grau de complexidade do assunto que move as
discussões na HQ4, A16 deslocou da "facilidade do assunto" o mérito da inteligibilidade
da leitura. Para o estudante, o conteúdo não é extremamente fácil. Há ali algum nível de
dificuldade.
110
De acordo com a proposição, "Se, em uma semirreta SAB, consideramos um segmento AC com
AC AB , então C está entre A e B".
111
A HQ4 trata dos axiomas de medição de ângulos e as suas consequências.
373
8.2 A aprendizagem de Geometria a partir da leitura das HQs
374
em detrimentos de outros e a vislumbrar os caminhos que estes sujeitos precisarão
percorrer durante o processo de aprendizagem.
A terceira secção destina-se à análise de algumas definições apresentadas pelos
estudantes. Os dados mostraram que apresentar tais definições não é uma tarefa fácil
para muitos discentes. As definições matemáticas precisam ser sucintas e, ao mesmo
tempo, abrangentes no sentido de não se limitar a exemplos particulares do conceito. A
despeito de compreenderem as definições expostas nas HQs, ao expô-las com suas
próprias palavras alguns estudantes cometeram equívocos.
A quarta secção destina-se à análise dos esquemas de provas desenvolvidos
pelos discentes durante a realização da pesquisa. Os dados foram obtidos a partir das
respostas apresentadas pelos participantes às atividades propostas ao longo da
investigação. A despeito de chegarem à universidade sem contato algum com a
construção de demonstrações matemáticas, alguns discentes foram capazes de construir
justificações para as questões propostas com um nível de rigor condizente com um dos
dois últimos níveis de pensamento geométrico da classificação de Van Hiele.
Na quinta secção é voltado o olhar para o tipo de linguagem matemática adotada
pelos estudantes durante a resolução das atividades. Os resultados mostraram que o
desenvolvimento da linguagem avançou em passos mais lentos se comparados à
evolução do raciocínio matemático. Estudantes dotados de raciocino dedutivo, vez ou
outra, esbarraram-se em dificuldades quanto ao uso de algumas ferramentas simbólicas
ou, até mesmo, na grafia de determinadas palavras. A articulação entre as linguagens
verbal e simbólica impôs dificuldades a alguns estudantes. A maior parte deles não
estava acostumada a justificar as respostas das atividades de forma textual. Não foram
estimulados a isso durante a educação básica. Ainda assim foi possível perceber o
esforço dos estudantes em evitar, nas produções textuais, o coloquialismo no uso
linguagem. Tentaram privilegiar o formalismo nas respostas apresentadas.
Por fim, é aberto um espaço para a análise dos valores atribuídos pelos
estudantes às demonstrações matemáticas. A forma como estes atores se relacionaram
com as justificações matemática durante a escola básica e o modo com eles passaram a
enxergar as demonstrações após o contato com as HQs são contemplados.
375
8.2.1 Os entraves à aprendizagem
376
amplia a capacidade de abstração e generalização (Hansen, 1998) e desenvolve noções
de prova em Matemática.
112
Neste caso, a demonstração consiste na prova da não generalidade de determinado resultado.
377
Transposição das ideias para o papel. Os estudantes não foram estimulados a
apresentar justificativas matemáticas para as atividades que lhe eram propostas na
educação básica. Tampouco lhes era exigida a construção de provas matemáticas. O
comentário do aluno A7 corrobora essa afirmação: "Até chegar aqui, por exemplo, nos
meus colégios, nunca tive a necessidade, nunca provei, nunca fui cobrado demonstrar".
Segundo o aluno A9, "a gente vê uma coisa, a gente sabe o que é, mas a gente
não consegue demonstrar". A sistematização do pensamento (Hanna, 2000) e a
capacidade de comunicação matemática (Villiers, 2010) são atributos das provas
matemáticas ainda em desenvolvimento pelos estudantes. Ao serem convocados a
justificar as respostas das atividades à luz dos fundamentos teóricos estudados, os
estudantes sentiram-se inseguros em fazê-lo. A dificuldade enfrentada por A9 também
bate à porta de outros alunos. De acordo com Dreyfus (1999), a apresentação de
justificação para as respostas deixa temerosos até os estudantes mais proficientes em
Matemática. Esse drama é vivenciado em quase todos os países, destaca Hershkowitz et
al. (2002). Na perspectiva de reter as dificuldades dos estudantes quanto à criação de
provas matemáticas, Jones (2002) propõe que, desde cedo, os estudantes sejam levados
a descrever e justificar as repostas dadas às questões propostas.
113
A exemplo do aluno A5 que reivindicou pela utilização de uma linguagem mais informal.
378
currículo (Crescenti, 2005), é possível perceber hoje que a formação nessa área carece
de atenção.
114
Por "drama" entende-se aqui uma história envolvente capaz de prender a atenção do leitor
despertando-lhe o interesse pela narrativa.
379
Universidade. O abandono sofrido pelo ensino de Geometria na segunda metade do
século passado (Pavanello, 1993) começou a perder espaço nos ambientes escolares.
Entretanto, pontuam Andrade e Nacarato (2005), as mudanças estão ocorrendo a passos
curtos.
A compreensão do tipo de formação a que os estudantes tiveram acesso ao longo
da trajetória escolar perpassa pela formação de seus professores, pelo lugar ocupado
pela Geometria no currículo escolar, pelo espaço atribuído às justificações matemáticas
e pela influência da álgebra e aritmética no processo. Tais elementos são discutidos a
seguir.
115
"Da minha 5ª a 8ª [séries], o meu professor de Matemática era graduado em Geografia", revelou A6.
380
Desenho geométrico. O contato dos estudantes com a Geometria nem sempre
ocorreu nas aulas de Matemática. Dos trinta e dois participantes, quatro estudaram os
conceitos geométricos somente em Artes ou Desenho Geométrico (Cf. Figura 7.1). A
abordagem da Geometria sob o olhar da Matemática difere, em alguma medida, do
tratamento dado sob o prisma de construções geométricas (ou das artes). No primeiro
caso, são apresentadas e quiçá demonstradas as propriedades dos conceitos
geométricos116. No segundo caso, nem sempre isso ocorre. De acordo com Kushima,
Pirkel e Steenbock (2010), o ensino de desenho geométrico pode ocorrer, embora não
seja recomendável, de forma “mecânica” e centrada na repetição de procedimentos
sequenciais tendo em vista a construção de determinada figura geométrica. Quando isso
acontece, a aprendizagem resume-se à memorização ao invés da análise crítico-reflexiva
dos passos adotados em conexão com os fundamentos teóricos que respaldam as etapas
da construção do desenho. Foi o que ocorreu. De acordo com o aluno A1, ficou "muito
no básico... ah! Pega um compasso e desenha isso aqui [objeto geométrico qualquer]...
não tem um aprofundamento correto para se ter uma base para chegar aqui". De acordo
com o estudantes, as aulas de Desenho Geométrico a que teve acesso consistiram na
construção de desenhos desprovida de reflexões teóricas.
116
No caso dos participantes, as propriedades dos objetos geométricos foram apenas apresentadas, não
demonstradas.
381
justificar determinados resultados (não prová-los) recorrendo-se a materiais
manipuláveis, recortes e instrumentos de medida como propõem algumas coleções
atuais de livros didáticos (Martins, 2012) ou por meio de softwares matemáticos
(Clements, 2003), o ensino oferecido na educação básica resume-se à "mecânica,
prática. Eles [os professores] passam, por exemplo, a área de um triângulo: base vezes
altura dividido por dois. E por aí vai... Mas não demonstram...", destacou o aluno A7.
Na formação dos estudantes não ocorreu uma introdução às demonstrações
matemáticas através da prova de resultados menos complexos como sugere os PCNs de
Matemática (Brasil, 1998b). Não houve também a articulação entre as verificações
empíricas e as deduções matemáticas. Tal articulação é proposta por Villiers (2010) ao
se referir, também, ao ensino de Geometria: "Eles [os professores] falaram que... tipo...
a soma dos ângulos internos do triângulo [é igual a 180 o]. Nem explicavam o porquê.
Falou que era e pronto", destacou o aluno A10.
382
participantes não compreenderam que para verificar a igualdade entre dois conjuntos era
necessário e suficiente mostrar que um deles é subconjunto do outro e vice-versa. Na
HQ3, a utilização de letras na representação das coordenadas de três pontos colineares,
durante a prova da proposição que associava a ordenação entre os pontos à comparação
entre as medidas das suas coordenadas dificultou a compreensão dos alunos. Além
disto, nesta mesma HQ, a falta de entendimento sobre equações modulares tornou a
leitura mais complexa para os estudantes.
Com relação às ferramentas simbólicas, durante a resolução de PPPRSL na HQ2,
alguns estudantes se sentiram confusos diante dos símbolos que denotam as operações
de união e interseção entre conjuntos e diante do símbolo que denota o complementar de
um conjunto com relação ao plano. Se, conforme assinala Jones (2002), o destaque dado
a Geometria, pelo menos no início do século, era inferior àquele atribuído à Álgebra e
Aritmética, os dados revelaram que o ensino destas duas áreas também carece de
requalificação. Este fato gera impactos na forma com os estudantes lidam com os
conteúdos geométricos. Embora possuam as suas especificidades, a Aritmética e a
Álgebra também dialogam com os estudos em Geometria. Inclusive, Mammana e
Villani (1998) defendem a utilização da Álgebra nos estudos em Geometria. Segundo os
autores, a familiaridade dos estudantes com o algebrismo os ajuda a compreender com
mais facilidade os conteúdos geométricos.
388
Gráfico 8.1. Percentual de respostas com os raciocínio deduivo, semidedutivo e não
12
dedutivo
389
Quatro pontos de máximo do Gráfico 8.1 pertencem à curva que representa o
contingente de respostas dadas à luz do raciocínio lógico-dedutivo (dois são pontos de
máximo absoluto e dois são pontos máximo relativos). Tais pontos estão relacionados às
questões dispostas nas HQs de números 4, 6 e 7. Em todas as atividades propostas, ao
longo de todas as HQs sinalizadas no Gráfico 8.1, foi possível identificar alguma
solução em que o raciocínio dedutivo foi empregado (a poligonal azul não intersecta o
eixo horizontal).
O que fez das HQs de números 4, 6 e 7 potencializadoras do raciocínio de
natureza dedutiva? Para responder a esta pergunta é necessário lançar um olhar sobre
cada HQ separadamente. A primeira delas, a HQ4 , apresentou um assunto considerado
fácil por muitos discentes: ângulos117. O baixo grau de complexidade do conteúdo
tornou tranquila a leitura da HQ e proporcionou a apropriação desses assuntos pelos
discentes. A HQ6, mais densa se comparada à HQ4, diferenciou-se das demais pela
metodologia utilizada. Não foi completamente lida e discutida em um único dia. Esse
fato ajudou a tornar a leitura menos cansativa e a aprendizagem mais gradual. Diante da
quantidade de discussões iniciadas a partir do TAE era necessário apresentar a HQ6 em
mais de um encontro. A HQ7, por sua vez, trouxe como plano de fundo para o estudo do
cálculo de área um assunto de grande interesse dos jovens: o futebol. De acordo com
Noubary (2010), a articulação entre os esportes e a Matemática é viável tendo em vista
que o interesse dos estudantes pelos primeiros pode aproximá-los da segunda. Durante
a aplicação da HQ7 somente uma dupla desenvoveu a leitura de forma desinteressada e
acrítica.
Os pontos críticos do Gráfico 8.1 não são apenas pontos de máximo: há pontos
de mínimo! São quatro pontos (pontos nos quais o gráfico intersecta o eixo horizontal).
Dois deles dizem respeito à ausência de respostas marcadas tanto pelo raciocínio
semidedutivo quanto pelo raciocínio não dedutivo. Estes pontos apareceram na primeira
atividade da HQ4 e na segunda secção de PPPRSL em HQ6. Nestes casos, todas as
respostas foram construídas recorrendo-se ao raciocínio lógico-dedutivo. Os outros dois
pontos contemplam somente a inexistência de soluções criadas a partir do raciocínio
semidedutivo.
A presença de quatro pontos de máximo relacionados com a ocorrência do
raciocínio dedutivo e de quatro pontos de mínimo atrelados aos raciocínios
117
"O assunto é fácil e a revista ajuda bastante", relatou o aluno A18 acerca do estudo de ângulos.
390
semidedutivo ou indutivo apontam para a predominância do primeiro tipo de raciocínio
em detrimento dos outros. O desenvolvimento do raciocínio dedutivo, assim como do
indutivo, constitui um dos atributos do ensino de Geometria (Duval, 1998; Hansen,
1998). Embora a elaboração de provas matemáticas não seja uma tarefa fácil para
grande parte dos estudantes ao longo de décadas (Otten et al., 2014) os dados revelaram
ser possível desenvolver o raciocínio dedutivo (necessário à construção das provas).
A despeito da predominância do raciocínio dedutivo, os momentos de
alternância entre as “linhas azuis” e as “linhas vermelhas”, revelam que, em algumas
situações, o emprego do raciocínio não dedutivo se sobressaiu. Em três momentos, dos
quatorze apresentados, assistiu-se a uma supremacia das respostas de natureza não
dedutiva: no item c da questão proposta em HQ3, na questão 2 da HQ5 e no item a da
HQ7. Dentre esses três momentos, o pico de respostas de natureza não dedutiva ocorreu
na questão relacionada à HQ5 : quase 80% das soluções apresentadas. Esta HQ pautou-se
na apresentação dos casos de congruência de triângulos. Dos trinta e dois estudantes que
responderam o QD, vinte não estudaram este assunto na educação básica (Cf. Gráfico
7.1). Esses dados apontam para a importância dos conhecimentos prévios dos alunos na
apropriação dos conteúdos numa lógica dedutiva.
O fato das linhas azuis estarem ora acima e ora abaixo das linhas vermelhas
revelam que, pelos menos em alguns participantes, o nível de pensamento geométrico
oscilou em certos momentos (as linhas azuis referem-se aos dois últimos níveis de Van
Hiele). É possível, portanto, como afirmam Pegg e Davey (1998, citados por Clements,
2003), que um estudante possua características de pelo menos dois níveis da
classificação de Van Hiele sem que tenha esgotado todas as características de cada um
deles. Nesses casos, porém, destacam os autores, há um nível predominante. Os dados
dispostos no Gráfico 8.1 encontram-se em congruência com essa hipótese. Há
predominância do raciocínio dedutivo e, por aproximação, do nível formal-dedutivo de
Van Hiele.
Um olhar sobre a formação em Geometria à qual os estudantes foram
submetidos durante a escola básica desprovida de processos argumentativos que
obedecem a uma lógica dedutiva acompanhado pela leitura do Gráfico 8.1 revela que
a construção de justificações de natureza dedutiva pode ser estimulada e desenvolvida
nos estudantes. É preciso, antes, que eles tenham contato com esse tipo de organização
do pensamento como de fato o tiveram através das leituras das HQs. Mas só isso é
suficiente? Não, trata-se apenas de uma condição necessária. Mas, desta forma, eles são
391
interpelados por outras lógicas de argumentação que diferem da exclusivamente
indutiva (as quais continuam tendo o seu valor). É uma espécie de letramento quanto à
organização do pensamento, linguagem empregada e forma de apresentar textualmente
as ideias. Um pouco de incentivo e motivação à aprendizagem seguido do domínio da
teoria apresentada pode ajudar a fomentar nas produções textuais dos discentes a
predileção pelas argumentações de natureza dedutiva.
392
incompleta cujo tipo de raciocínio foi classificado como não dedutivo (no capítulo
anterior, o raciocínio foi referido como IN). Esses dados revelam que em poucos casos a
linguagem empregada não se mostra passível de correções. De acordo com Florenço
(2014), situações como essas ocorrem porque a linguagem matemática não está presente
no dia a dia dos estudantes, ou seja, não fazem parte das experiências vividas fora dos
bancos escolares.
Como pode ser verificado por meio da Figura 7.30, as duplas A11 e A20, e A7 e
A17 desenvolveram uma articulação plausível entre as linguagens verbal e simbólica
durante as respostas da primeira questão proposta ao final da HQ4. A despeito do
pequeno deslize cometido pela primeira dupla ao empregar de forma inadequada a
palavra "analogamente", no resto do texto percebe-se a presença do rigor na linguagem.
Em ambos os casos foi adotado o raciocínio dedutivo.
Na segunda questão, ainda na HQ4, os alunos A22 e A31 usaram adequadamente a
linguagem matemática (embora não tenham conseguido resolver por completo a
atividade). No que tange à capacidade de comunicação, poucos problemas foram
identificados no texto. Na resposta dos estudantes, retratada na Figura 7.32, observa-se
a presença do raciocínio dedutivo. O mesmo se pode dizer da solução apresentada pelos
alunos A7 e A17 à mesma atividade (Cf. Figura 7.33). Estes últimos estudantes
conectaram de forma harmoniosa as linguagens verbal, simbólica e icônica. Em apenas
dois momentos, a linguagem carece de alguns (poucos) ajustes. Ao escreverem
"somando os lados", os discentes deveriam ter escrito "somando as medidas dos lados".
Este pequeno deslize no uso da linguagem apareceu nas respostas apresentadas por
outros estudantes. Na linguagem materna é comum se expressar de forma abreviada
como fizeram os alunos ao utilizar a expressão "somando os lados". Na linguagem
matemática, as abreviações só ocorrem quando o interlocutor é advertido a respeito. Os
vícios da linguagem oral devem ser evitados pois, como Constantino (2000), a
linguagem matemática não possui oralidade própria. Antes, destina-se prioritariamente à
escrita.
Os alunos A16 e A18, e A12 e A27, cujas respostas aparecem na Figura 7.33,
também fizeram uso adequado da linguagem matemática na resposta apresentada à
segunda questão da HQ4. Ambas as duplas utilizaram as linguagens verbal e materna.
Na resposta da primeira dupla, há uma melhor distribuição de ambas as linguagens, no
texto. Na resposta da segunda dupla, percebe-se o predomínio da linguagem simbólica.
393
Em todas as respostas que aparecem na Figura 7.33 é possível perceber a presença do
raciocínio dedutivo.
A solução apresentada pelos alunos A10 e A19 à primeira questão proposta ao
final de HQ5 é marcada pelo bom uso da linguagem (Cf. Figura 7.39). Com exceção da
expressão "soma dos ângulos internos" (ao invés de "soma das medidas dos ângulos
internos"), todo o resto do texto está bem redigido. Os estudantes demonstraram
facilidade em articular as linguagens verbal e simbólica. O mesmo pode ser dito dos
estudantes A16 e A18 cuja resposta aparece na Figura 7.40. A primeira dupla apresentou
raciocínio semidedutivo e a segunda apresentou raciocínio dedutivo.
A leitura da HQ6 contou com três seções PPPRSL. Nas duas últimas seções
foram solicitadas aos alunos as justificações das respostas. Das quinze duplas que
responderam à segunda secção, oito fizeram o uso da linguagem matemática de forma
completamente correta. A resposta apresentada por uma dessas duplas, a saber, os
alunos A10 e A30, aparece retratada na Figura 7.50. A resolução da terceira secção
dispensa o uso de ferramentas simbólicas. A linguagem verbal é suficiente. Das treze
duplas que responderam à atividade, dez apresentaram textos bem escritos.
A primeira questão proposta ao final da HQ6 foi composta por três itens, a, b e c.
Das doze duplas que estiverem presentes, sete duplas apresentaram, no item a, respostas
marcadas pelo uso correto da linguagem. A solução apresentada por uma destas duplas,
os alunos A3 e A23, aparece na Figura 7.56. As respostas dadas por nove duplas ao item
b não apresentaram problemas quanto ao uso da linguagem. No item c esse número caiu
para oito.
A maior parte das respostas apresentadas pelos alunos às questões propostas ao
final da HQ7 se mostrou passível pequenos ajustes quanto ao uso da linguagem
matemática. Os problemas foram pontuais a exemplo da solução apresentada pelos
alunos A12 e A29 onde aparece a expressão "L + L + L + L" para fazer alusão ao
perímetro de um polígono (Cf. Figura 7.68). Esta forma inapropriada de escrever é,
posteriormente, retificada pelos estudantes quando se reportam ao perímetro de um
quadrilátero MNRS como MS SR RN NM .
394
tentar mostrar que o dobro do comprimento de MN é igual ao comprimento de AB, os
alunos A18 e A26 disseram: "como [M e N] são pontos médios se multiplicarmos por
dois dão o valor do segmento que contém AB". A despeito de apresentarem um
raciocínio coerente, os estudantes não conseguiram se expressar corretamente. Neste
caso, as ferramentas simbólicas seriam de grande valia. Florenço (2014) destaca o
inestimável valor das ferramentas simbólicas à comunicação em Matemática.
Em resposta à atividade proposta na terceira parte da secção PPPRSL em HQ6,
os alunos A8 e A30, e A3 e A12 também recorreram exclusivamente à linguagem verbal
(Cf. Figura 7.53 e Figura 7.55). A segunda dupla fez o uso correto da linguagem. O
mesmo não ocorreu com a primeira dupla. Os alunos A8 e A30 cometeram erros
conceituais e erros relativos à linguagem. Ao dizerem que a "hipotenusa é igual à soma
do quadrado dos catetos" há um erro conceitual (não se trata da hipotenusa, mas do
quadrado da sua medida) e um erro de escrita: não há "quadrado dos catetos" mas
"quadrado das medidas dos catetos". Ao final da solução dos estudantes aparece outro
erro. Eles escreveram "ângulo reto dos catetos". Esta expressão não tem significado
algum. Precisa ser reescrita. Ao contrário da língua materna, a linguagem matemática
não é natural. É uma língua construída (Florenço, 2014). É uma linguagem precisa,
clara e sem ambiguidades.
395
foram empregadas adequadamente. A resposta apresentada pelos alunos A11 e A20 ajuda
a corroborar esta afirmação (Cf. Figura 7.67).
396
pictograma (Cajori, 1993) por permitirem uma associação mais imediata com o conceito
a que se referem.
Em uma das questões da HQ4, os alunos A24 e A25 fizeram uso de dois tipos de
representações para designar a medida de segmentos de reta. Ora escreveram AB EF ,
ora utilizaram AB EF (Cf. Figura 7.42). Fato semelhante ocorreu na HQ6. Na solução
apresentada pelos alunos A15 e A27 a uma das atividades propostas, os estudantes
escreveram "segmento CB " ao invés de "segmento CB". Mais uma vez, a semelhança
entre os símbolos se encarregaram de dificultar a compreensão dos estudantes.
397
"cauculamos" (Cf. Figura 7.66). O mesmo ocorre com a palavra "segmento". Os alunos
A15 e A27 escreveram "seguimento".
Em resposta à primeira atividade proposta ao final da HQ5, os alunos A29 e A31
não conseguiram se referir corretamente à soma das medidas dos ângulos internos de
um triângulo. Em um dado momento, os estudantes escreveram: "(...) para que cada
triângulo somasse 180o" (Cf. Figura 7.38). Não há "soma de triângulos", há soma das
medidas de ângulos.
Na tentativa de dizer que o ângulo reto é o ângulo de maior medida nos
triângulos retângulos, os alunos A5 e A25 escreveram "maior ângulo = 90 o" (em resposta
à terceira parte da atividade proposta em PPPRSL, na HQ6). Este fato pode ser
constatado através da Figura 7.54. O sinal de igualdade deveria ter sido substituído pelo
verbo "medir" (devidamente conjugado). A articulação entre as linguagens materna e
simbólica não ocorreu de forma adequada.
Ao fazer referência à área da região plana limitada por um triângulo, os
estudantes A12 e A29 disseram, apenas, a "área do triângulo". De acordo com a definição
adotada em sala, o triângulo consiste na linha poligonal e não na região plana por ela
limitada. Portanto, não é correto dizer "área do triângulo". Da mesma forma, a altura de
um triângulo (relativa a um de seus lados), é definida como o segmento perpendicular a
este lado baixado a partir do vértice oposto. Contudo, alguns estudantes, a exemplo de
A8 e A30, reportaram-se à "altura de um triângulo" quando, na verdade, queriam se
referir à "medida da altura de um triângulo".
Ao longo das respostas apresentadas pelos estudantes não foi raro aparecer
algum deslize quanto ao uso da linguagem. Em alguns casos, tais deslizes resultaram da
utilização das ferramentas simbólicas e de sua conexão com o resto do texto. Em outros,
os problemas advieram da própria língua materna. Poucas soluções mostraram-se
isentas de ajustes quanto à linguagem. Na maior parte delas observou-se a presença do
raciocínio dedutivo e, em alguns casos, do raciocínio semidedutivo. A Tabela 8.1
apresenta a distribuição quantitativa destas respostas. Estes dados aparecem de forma
diluída no capítulo anterior.
398
Tabela 8.1
10
matemática
403
404
Capítulo 9
Conclusões
406
As respostas apresentadas nas atividades propostas permitiram ao pesquisador
identificar o tipo de raciocínio geométrico adotado pelos estudantes. A partir das
categorizações propostas por Barth (1987), Duval (1998), Martin et al. (2009) e pelo
casal Van Hiele (Battista, 2009), o pesquisador agrupou o raciocínio geométrico dos
participantes em três grupos no sentido esclarecido no capítulo anterior: dedutivo,
semidedutivo e não dedutivo. Através dessas respostas também foi possível identificar a
"linguagem matemática" adotada pelos estudantes. Estes atores apresentaram
dificuldades diante da necessidade de verbalizar o pensamento por meio de palavras e
símbolos matemáticos. Até mesmo os estudantes que apresentaram respostas pautadas
numa lógica dedutiva, em alguns momentos, cometeram deslizes quanto à linguagem.
As atividades propostas não constituíram os únicos instrumentos de recolha de
dados. O pesquisador fez uso de questionários, entrevistas, diário de bordo e registros
fotográficos. Desta forma foi possível realizar o cruzamento das informações por meio
da triangulação de dados. De acordo com Coutinho (2013, p. 340), "a utilização de
múltiplas fontes de dados na construção de um estudo de caso, permite-nos considerar
um conjunto mais variado de tópicos de análise em simultâneo permite corroborar o
mesmo fenômeno".
De modo geral, os estudantes se mostraram interessados durante as leituras. Os
poucos momentos de dispersão foram motivados pela complexidade de algumas
demonstrações matemáticas, pela presença de enredos pouco instigantes em algumas
HQs ou, até mesmo, pela ansiedade em resolver as atividades propostas.
A presença da matemática nas HQs originou a quebra de dois paradigmas. O
primeiro deles diz respeito ao modo de entender a validação dos resultados em
Matemática. O esquema de convicção externa118 (Harel & Sowder, 1998) com o qual os
estudantes estavam acostumados na educação básica não podia ser mantido. Os
teoremas e proposições em Matemática devem ser provados por meio de uma lógica
dedutiva à luz de uma estrutura axiomática, conforme assinalam Reid e Knipping
(2010). A abordagem utilizada nas HQs privilegiou o tratamento formal-dedutivo. Nesta
perspectiva é necessário provar as proposições matemáticas até mesmo quando
118
De acordo com Harel e Sowder (1998), quando os estudantes acreditam que determinado resultado
matemático é verdadeiro por ter sido enunciado pelo professor ou por constar nos livros didáticos faz-se
uso de um esquema de prova denominado convicção externa. Nesses casos, a validação não decorre
necessariamente de um processo lógico dedutivo mas da "autoridade" do professor (ou dos materiais
didáticos).
407
parecerem demasiadamente evidentes. O segundo paradigma diz respeito à utilização da
banda desenhada no tratamento de temas matemáticos. Nenhum dos estudantes tinha
conhecimento acerca de HQs que contemplassem assuntos de Matemática.
É plausível considerar a existência, nas HQs aplicadas, de elementos que
favoreceram a aprendizagem e de elementos que lhe agregaram dificuldades. Tais
elementos dizem respeito à questão que moveu esta investigação formulada nos
seguintes termos:
408
5. Perceber a forma como os discentes apresentam algumas definições
matemáticas.
410
resultados poderia ser feita recorrendo-se a exemplos119. Com o avançar da pesquisa, os
estudantes foram-se apropriando do raciocínio dedutivo. Este último foi potencializado
mediante a exposição de assuntos com baixo teor de complexidade (ângulos), de
assuntos cuja exposição foi diluída ao longo de alguns encontros (teorema do ângulo
externo e consequências) e de assuntos cuja exposição estabeleceu o diálogo com
elementos familiares aos estudantes (área de regiões planas). Dois desses assuntos
(ângulos e área de regiões planas) foram vistos pela maior parte dos estudantes na
educação básica (sem o tratamento dedutivo). Por outro lado, no tratamento de assuntos
desconhecidos pela maior parte dos discentes (como congruência de triângulos) houve o
predomínio do raciocínio não dedutivo. Houve ainda casos em que o raciocínio em
destaque foi o semidedutivo. De modo geral, o raciocínio dedutivo foi aquele que mais
esteve presente nas respostas.
119
A tentativa de provar os resultados matemáticos via exemplificação ou através de evidências
experimentais constitui um dos equívocos comumente cometidos pelos estudantes, assinalam Weber
(2001) e French (2004).
120
Desde o ensino fundamental, recomenda Lorenzato (1995), os estudantes devem entrar em contato
com um vocabulário mais formal nos textos matemáticos.
411
leitores a respeito da abreviação na linguagem e os primeiros não. Assim, apareceram
em algumas respostas expressões do tipo "somando os lados"; "soma dos ângulos
internos"; "quadrado dos catetos"; "área do triângulo"; "altura de um triângulo". Tais
expressões foram adotadas para fazer referência, nessa ordem, a: "soma dos
comprimentos dos lados"; "soma das medidas dos ângulos internos"; "quadrado do
comprimento dos catetos"; "área da região plana limitada por um [do] triângulo"; "o
comprimento da altura de um triângulo". Em todos estes casos, os alunos não
estabeleceram distinções entre determinados entes geométricos e os números reais
(medidas) a eles associados. Os problemas de linguagem, porém, não impediram os
estudantes de transmitir a mensagem pretendida. Em todos os casos foi possível
identificar até que ponto esses atores se apropriaram da teoria necessária à resolução da
questão.
412
representações imagéticas de um mesmo conceito sejam as mais variadas possíveis para
que a compreensão dos estudantes não se limite a exemplos particulares; (iv) falta de
esclarecimento acerca do papel das imagens em demonstrações por redução ao absurdo;
(v) falta de compreensão dos estudantes acerca do significado de algumas ferramentas
simbólicas; (vi) utilização de ferramentas simbólicas semelhantes na designação de
conceitos diferentes; na falta de contato prévio dos estudantes com as demonstrações
matemáticas; (vii) presença de uma visão computacional acerca da Geometria. Esse
dado encontra-se em consonância com Jones (2000) segundo o qual os discentes
costumam associar a Geometria à realização de cálculos (comprimeto, área, volume) ao
invés de concebê-la como um espaço destinado ao estudo das propriedades geométricas
dos objetos; (viii) falta de mediação entre as abordagens indutivas e dedutivas; (ix) falta
de articulação entre os tratamentos algébrico e numérico; (x) utilização de narrativas
pouco instigantes e, portanto incapazes de prender a atenção dos alunos.
413
O oitavo objetivo específico refere-se à identificação da importância atribuída
pelos discentes às demonstrações matemáticas e como eles veem a sua inserção em HQs
para fins educacionais. A princípio, os discentes não agregaram valores às
demonstrações matemáticas. A despeito dos PCNs (Brasil, 1998b) defenderem a
introdução de demonstrações matemáticas no âmbito da educação básica, tal
recomendação não tem sido atendida. Conforme assinalam Andrade e Nacarato (2005),
os estudantes têm sido submetidos a uma formação em Geometria, na educação básica,
desprovida de argumentações de natureza dedutiva. Se determinado resultado fosse
apresentado pelo professor como verdadeiro, então, de fato, o seria. Não havia o que
questionar. Caso fossem solicitados alguns esclarecimentos, a apresentação de alguns
exemplos seria suficiente. Com o tempo, a partir da leitura das HQs e das discussões em
sala, os estudantes foram percebendo que o raciocínio indutivo não era suficiente para
assegurar a generalidade dos fatos. Era necessário fazer uso do método lógico dedutivo.
A partir daí, passaram a atribuir às demonstrações matemáticas as finalidades de
verificação, exploração e explicação. Outras finalidades das demonstrações matemáticas
tais como descoberta, comunicação, sistematização do pensamento e desafio
intelectual, referidas por Villiers (2010), não foram apontadas pelos estudantes. Os
participantes passaram a defender a permanência das demonstrações matemáticas em
HQs com fins educacionais.
414
Vantagens
Limitações
415
1. O formalismo da linguagem (em detrimento da linguagem coloquial
geralmente presente na banda desenhada).
416
Desafios
417
de natureza mais geral: ampliação dos materiais didáticos; identificação dos elementos
necessários às narrativas voltadas para a aprendizagem Matemática; enquadramento do
uso de HQs na aprendizagem de Matemática no Recôncavo Baiano; redução do
preconceito acerca da utilização de HQs no tratamento de temas mais abstratos;
ratificação do valor das HQs na exposição da história da Matemática; identificação das
dificuldades dos estudantes na aprendizagem da Geometria Plana por meio do método
dedutivo; estabelecimento de relações entre o desenvolvimento do raciocínio lógico e a
aquisição da linguagem matemática.
418
contemplar os problemas ali apresentados. Assim como ocorre em obras consagradas
como O homem que calculava, de Malba Tahan, e a Aritmética da Emília, de Monteiro
Lobato, a construção das narrativas não deve focar apenas nos conteúdos matemáticos:
o enredo das histórias também assume um lugar de destaque (Dalcin, 2007). A conexão,
através dessas histórias, entre os conteúdos matemáticos e o dia a dia dos estudantes é
uma alternativa plausível (Morrison, Bryan & Chilcoat, 2002). A linguagem deve ser
acessível aos estudantes e quando a formalidade for exigida, como no caso do
tratamento axiomático em Geometria, deve-se torná-la o mais inteligível possível aos
estudantes. Neste sentido, as imagens presentes nas narrativas podem ser bastante úteis.
Conforme aponta Vergueiro (2006), a articulação entre texto e imagem "amplia a
compreensão de conceitos de uma forma que qualquer um dos códigos, isoladamente,
teria dificuldades para atingir" (p. 22). Ademais, as imagens agregam prazer à leitura,
assinala Rezende (2009).
419
da utilização da banda desenhada no processo de ensino e aprendizagem de Matemática.
Certamente há professores que não utilizam as HQs por desconhecerem o seu potencial
educacional. Além disso, o número de HQs que contemplam temas da Matemática
necessita ser alargado. No que diz respeito ao ensino superior, o Guia Mangá de
Cálculo Diferencial e Integral, de Kojima, Togami e Co (2010) e o Guia Mangá de
Álgebra Linear, de Takahashi, Inoque e Co (2012) constituem algumas iniciativas nesta
direção. É necessário ampliá-las.
121
Por "estudantes secundaristas" entende-se, neste texto, todo e qualquer discente que cursa o ensino
fundamental ou médio.
420
propostas demonstraram a apreensão dos principais temas contemplados na narrativa. A
utilização da banda desenhada na exposição de episódios da história da Matemática é
defendida por L. Santos (2014). Através da literatura em quadrinhos, pontua este autor,
os alunos acessam a informações relativas ao surgimento e desenvolvimento dos
conteúdos geométricos ao mesmo tempo em que se divertem. A apresentação da história
da Matemática por meio da banda desenhada não se limita, porém, aos fatos ligados à
Geometria. O trabalho de Doxiadis e Paradimitriou (2013) revela a possibilidade de se
utilizar as HQs na exposição de episódios da história da Lógica.
421
mais lenta (Cf. Figura 8.2). O pensamento do estudante pode estar correto, mas ser
apresentado por meio de uma linguagem dotada de alguns problemas, tanto de grafia
quanto relacionados às ferramentas simbólicas. Quando os estudantes utilizam
corretamente a linguagem geralmente o fazem por meio de um raciocínio dedutivo.
Entretanto, a presença do pensamento de natureza dedutiva nem sempre é convertida no
uso adequado da linguagem. Na perspectiva de melhorar a comunicação matemática dos
estudantes é importante incentivá-los a descrever, justificar e demonstrar (Jones, 2002).
122
Por "calouro" entende-se todo e qualquer estudante recém-chegado ao curso.
422
grande parte do material coletado foi armazenada no diário de bordo. Entretanto,
durante a aplicação das HQs não foi possível ao investigador acompanhar, em igual
intensidade, o desenvolvimento de todos os estudantes. No início da pesquisa, havia
trinta e dois estudantes em sala de aula. Enquanto as atenções do investigador estavam
voltadas para determinados alunos perdiam-se os detalhes do que estava ocorrendo com
os outros estudantes.
424
1. Estudar os impactos da utilização da banda desenhada na apresentação, de
forma dedutiva, dos conteúdos de Geometria Plana que não foram contemplados nesta
investigação.
425
426
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442
Apêndice 1
443
Para qualquer outra informação, o (a) Sr (a) poderá entrar em contato com o
pesquisador no endereço elyassantiago@gmail.com, pelo telefone (71) 8873 5015, ou
poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/UFRB, Rua Rui
Barbosa, 710, Campus Universitário, Centro, Cruz das Almas.
CEP 44 380 000, através do telefone (75) 3621-6850 ou por meio do endereço
eletrônico eticaempesquisa@ufrb.edu.br .
Consentimento Pós–Informação
Eu,___________________________________________________________, fui
informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração,
e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não
vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas
vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada
um de nós.
_________________________________ Data: ___/ ____/ _____
Assinatura do participante
________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
444
Apêndice 2
445
446
447
448
449
450
451
452
453
454
Apêndice 3
455
456
457
458
459
460
461
462
463
464
465
466
467
468
Apêndice 4
469
470
471
472
473
474
475
476
477
478
479
480
Apêndice 5
481
482
483
484
485
486
487
488
Apêndice 6
489
490
491
492
493
494
495
496
497
498
Apêndice 7
499
500
501
502
503
504
505
506
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508
509
510
511
512
513
514
Apêndice 8
515
516
517
518
519
520
521
522
523
524
525
526
Apêndice 9
Questionário de Diagnóstico - QD
Estimado estudante,
O presente questionário tem como objetivo identificar o perfil dos alunos que estão
ingressando no curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB) no ano de 2014. As questões propostas referem-se a sua
trajetória escolar, sobretudo no que diz respeito ao seu interesse pela Matemática.
Estamos interessados, particularmente, em descobrir em quais circunstâncias você teve
contato com conhecimentos de Geometria Plana e quais as suas impressões acerca
desses conteúdos.
As informações prestadas não visam estabelecer uma nota conceitual aos respondentes.
Servem, entretanto, para compreender o seu desempenho futuro à luz dos processos
formativos aos quais você foi submetido. Desta forma, contamos com a veracidade das
informações prestadas e agradecemos a sua colaboração.
Pela nossa parte, enquanto responsáveis por essa investigação, comprometemo-nos em
utilizar as informações fornecidas somente no âmbito desta pesquisa e asseguramos o
anonimato dos respondentes em qualquer relatório produzido posteriormente.
Atenciosamente, Elias Santiago de Assis.
Amargosa, ____/____/____
1. Nome:
________________________________________________________________
2. Idade:
________________________________________________________________
3. Sexo: ( ) Masculino
( ) Feminino
4. Em que cidade você morava antes de ser aluno(a) do curso de Licenciatura em
Matemática da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)?
( ) Em Amargosa mesmo.
( ) Salvador.
( ) Outra cidade do Recôncavo Baiano. Qual? _________________________
527
( ) Em outro município do interior da Bahia, não localizado no Recôncavo
Baiano.
( ) Em uma cidade localizada em outro estado brasileiro diferente da Bahia.
( ) Outro(s). ____________________________________________________
( ) Baixa
( ) Média-baixa
( ) Média-alta
( ) Alta
Outra. Qual? ____________________________________________________
6. Qual a formação escolar dos seus pais?
Pai Mãe
Não freqüentou a escola
Ensino Fundamental Incompleto
Ensino Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Ensino Superior Incompleto
Ensino Superior Completo
Não sei responder
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
10. Enumere, em ordem de preferência, o seu interesse pelas seguintes áreas da
Matemática durante a escolaridade básica (1 – maior preferência; 2 – segunda
maior preferência; 3 – terceiro lugar em preferência):
11. Você estudou alguns assuntos de Geometria Plana durante a escolaridade básica
(na escola, ensinado por seus professores; ou sozinho, por própria iniciativa)?
Não
Sim.
12. Caso você tenha respondido SIM à questão 11, informe em qual(is) série(s) você
estudou Geometria Plana, na escola.
______________________________________
13. Caso você tenha respondido SIM à questão 11, indique em qual(is)
componente(s) curricular(es) ─ ou seja, disciplina(s) ─ você estudou Geometria
Plana, na escola.
( ) Matemática
( ) Desenho Geométrico
( ) Artes
( ) Outro(s). Qual(is)? _____________________________________
14. Qual conteúdo de Geometria Plana (que você estudou durante a educação
básica) é o seu preferido? Por quê?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
15. Qual(is) conteúdo(s) de Geometria Plana (que você estudou durante a educação
básica) você considera mais difícil(ceis) de aprender? Comente a respeito.
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
530
Apêndice 10
Questionário de investigação - Q1
Estimado estudante,
O presente questionário tem como objetivo avaliar a utilização de Histórias em
Quadrinhos (HQ) como ferramenta auxiliar na aprendizagem da Geometria Plana
Axiomática. Nesse intuito, queremos saber quais são as suas impressões acerca da HQ
intitulada Dona Geometria em: Os esportistas matemáticos, a qual aborda os Axiomas
de Incidência e os Axiomas de Ordem. De modo mais amplo, estamos interessados em
identificar os elementos presentes na arte quadrinhística que são capazes de favores (ou
de inviabilizar) a sua aprendizagem referente aos assuntos mencionados.
As informações prestadas não visam estabelecer uma nota conceitual aos respondentes.
Servem, entretanto, para compreender os limites da utilização de HQs como
instrumento didático a serviço do ensino de Geometria. Desta forma, contamos com a
veracidade das informações prestadas e agradecemos a sua colaboração.
Pela nossa parte, enquanto responsáveis por essa investigação, comprometemo-nos em
utilizar as informações fornecidas somente no âmbito desta pesquisa e asseguramos o
anonimato dos respondentes em qualquer relatório produzido posteriormente.
Atenciosamente, Elias Santiago de Assis.
Amargosa, ____/____/____
1. Você já leu alguma revista em quadrinhos? Gostou?
a. ( ) Nunca li.
b. ( ) Sim, mas não gostei.
c. ( ) Sim. Gostei
531
( ) Acho mais interessante acessar a internet.
( ) Meus pais não me estimulam ou me proíbem de ler HQs.
( ) Outro(s) motivo(s). Qual(is)? ___________________________
II. Gostar de ler histórias em quadrinhos (caso você tenha assinalado o item
(c) na questão 01).
( ) A leitura é divertida.
( ) Os temas diferem dos assuntos escolares e isso me agrada.
( ) Meus pais me estimulavam.
( ) Os meus amigos me incentivavam.
( ) As HQs estimulam em mim, quando criança, o hábito de ler.
( ) Aprecio as histórias sobre super-heróis, presentes em muitas HQs.
( ) Outro motivo. Qual(is)? _________________________________
3. Em qual fase da sua vida, você mais gostou de ler histórias em quadrinhos?
( ) Nunca li qualquer revista em quadrinhos.
( ) Na infância.
( ) Na adolescência.
( ) Na idade adulta.
532
( ) Expor algum conteúdo matemático propriamente dito.
( ) Outra finalidade. Qual? _______________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
(b) Expor algum conteúdo matemático propriamente dito.
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
533
( ) Leu a história toda, sem pausas.
Então você conseguiu compreender os conteúdos abordados? Comente.
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
9. Qual dos assuntos abaixo, você menos conseguiu compreender a partir da leitura
da história em quadrinhos Dona Geometria em: Os esportistas matemáticos?
( ) Os Axiomas de Incidência
( ) Os Axiomas de Ordem
( ) A definição de semi-reta
( ) A definição de semi-plano
( ) Conjuntos convexos
( ) Outro(s).
Qual(?)_________________________________________________
534
Apêndice 11
Questionário de investigação - Q2
Estimado estudante,
O presente questionário tem como objetivo avaliar a utilização de Histórias em
Quadrinhos (HQ) como ferramenta auxiliar na aprendizagem da Geometria Plana
Axiomática. Nesse intuito, queremos saber quais são as suas impressões acerca da HQ
intitulada Dona Geometria em: Subindo mais um deGrau, a qual aborda os Axiomas
sobre medição de ângulos e as suas conseqüências. De modo mais amplo, estamos
interessados em identificar os elementos presentes na arte quadrinhística que são
capazes de favores (ou de inviabilizar) a sua aprendizagem referente aos assuntos
mencionados.
As informações prestadas não visam estabelecer uma nota conceitual aos respondentes.
Servem, entretanto, para compreender os limites da utilização de HQs como
instrumento didático a serviço do ensino de Geometria. Desta forma, contamos com a
veracidade das informações prestadas e agradecemos a sua colaboração.
Pela nossa parte, enquanto responsáveis por essa investigação, comprometemo-nos em
utilizar as informações fornecidas somente no âmbito desta pesquisa e asseguramos o
anonimato dos respondentes em qualquer relatório produzido posteriormente.
Atenciosamente, Elias Santiago de Assis.
Amargosa, ____/____/____
Nome do participante: ___________________________________________________
1. Até o presente momento, você já leu quatro Histórias em Quadrinhos cujos temas
referem-se a alguns conteúdos de Geometria Plana. Em sua opinião, a leitura dessas
revistas seria mais interessante se ocorresse (assinale uma única alternativa):
( ) Após a exposição teórica dos assuntos em sala, pelo professor.
( ) Depois da leitura de outras bibliográficas, como livros didáticos, por
exemplo.
( ) Exatamente como tem sido. Antes da leitura de outras fontes.
( ) De outra forma não contemplada acima. Qual?
________________________________________________________
535
2. Justifique a sua resposta dada à questão 01.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
536
livros didáticos (a história em quadrinhos não é necessária).
( ) Ângulo é um assunto fácil e estudá-lo por meio de uma HQ é mais
interessante do que através dos livros didáticos usuais.
( ) Sou mais interessado pela abordagem apresentada nos livros didáticos,
concernente ao estudo de Ângulos. A revista pode ser uma leitura
complementar.
( ) Considero a leitura da revista suficiente. Já posso tentar resolver
exercícios referentes ao assunto contemplado pela HQ.
( ) Outra resposta. Qual? ________________________________________
7.
(a) A qual(is) fator(es) você atribui a insuficiência da abordagem da HQ Dona
Geometria em: Subindo mais um deGrau na exposição teórica do resultado
que você assinalou na questão 06 (Caso você tenha assinalado ou indicado
algum conteúdo)?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
537
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
(b) Caso você não tenha assinalado item algum na questão 06, explique o porquê
considera a abordagem da HQ adequada/suficiente?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
8. Em sua opinião, as histórias em quadrinhos que você leu até agora e que fazem
parte da coleção Dona Geometria (Dona Geometria em: Euclides e Os seus
Elementos; Dona Geometria em: Os esportistas matemáticos; Dona Geometria em:
A corrida pelo saber; Dona Geometria em: Subindo mais um deGrau) podem ser
utilizadas no ensino de Geometria Plana na educação básica? Por quê?
_________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________________________________________________
538
Apêndice 12
Questionário de investigação - Q3
Estimado estudante,
O presente questionário tem como objetivo avaliar a utilização de Histórias em
Quadrinhos (HQ) como ferramenta auxiliar na aprendizagem da Geometria Plana
Axiomática. Nesse intuito, queremos saber quais são as suas impressões acerca da HQ
intitulada Dona Geometria em: A estagiária, a qual aborda o Teorema do Ângulo
Externo, as suas conseqüências, e os casos de congruência de triângulos retângulos. De
modo mais amplo, estamos interessados em identificar os elementos presentes na arte
quadrinhística que são capazes de favores (ou de inviabilizar) a sua aprendizagem
referente aos assuntos mencionados.
As informações prestadas não visam estabelecer uma nota conceitual aos respondentes.
Servem, entretanto, para compreender os limites da utilização de HQs como
instrumento didático a serviço do ensino de Geometria. Desta forma, contamos com a
veracidade das informações prestadas e agradecemos a sua colaboração.
Pela nossa parte, enquanto responsáveis por essa investigação, comprometemo-nos em
utilizar as informações fornecidas somente no âmbito desta pesquisa e asseguramos o
anonimato dos respondentes em qualquer relatório produzido posteriormente.
Atenciosamente, Elias Santiago de Assis.
Amargosa, ____/____/____
Nome do Participante: ____________________________________________________
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3. Sobre a linguagem empregada nas demonstrações matemáticas (assinale uma
única alternativa):
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5. Considerando a escala:
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1 – mais importante 4 – quarto mais importante
2 – segundo mais importante 5 – quinto mais importante.
3 – terceiro mais importante
(a) Todo ângulo externo de um triângulo mede mais do que qualquer dos
ângulos internos a ele não adjacente.
(b) A soma das medidas de dois quaisquer ângulos internos de um triângulo é
menor que 180 graus.
(c) Por um ponto fora de uma reta passa uma, e somente uma, perpendicular à
reta dada.
(d) Se dois ângulos de um triângulo não são congruentes, então os lados que se
opõem a estes ângulos têm medidas distintas e o maior lado opõe-se ao maior
ângulo.
(e) Em todo triângulo, o comprimento de qualquer um de seus lados é sempre
menor que a soma dos comprimentos dos outros dois.
7. Sobre a opção que você atribuiu o número 5, na questão 05, você acredita que
(assinale uma ou mais alternativas):
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8. Tente representar, através de desenho(s) e notações matemáticas, o item da
questão 05 ao qual você atribui o número 1.
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10. O que você modificaria na história em quadrinhos Dona Geometria em: A
estagiária? Explique.
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Apêndice 13
1. Em sua opinião, o que diferencia a Geometria que você estudou na escola básica
daquela que você está estudando aqui, na Universidade?
3. A quais fatores você atribui as dificuldades que vocês, alunos, têm para
desenvolver/construir uma demonstração em Geometria?
6. Dentre esses assuntos, qual foi aquele que você mais entendeu?
7. Se você fosse criar uma HQ para falar dos Axiomas sobre medição de
segmentos, como seria o roteiro? (Ou, como você explicaria esse assunto a uma
outra pessoa?)
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Apêndice 14
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Apêndice 15
Critério de Credibilidade
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