Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
303 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8054-518-0
1. Educação - História. I. Rocha, Heloísa Helena Pimenta. II. Dussel, Inés. III. Paulilo,
André Luiz.
22-77110 CDD: 370.9 CDU: 37(09)
Prefácio
Ver, praticar, reinventar: práticas culturais e escolares na mira
de enxergadores de tudo..............................................................6
Maria Teresa Santos Cunha
Referências
EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2017.
GREENBLATT, Stephen. O novo historicismo: ressonância e encantamento.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, p. 244-261, 1991.
1. As análises nessa direção contam com as contribuições pioneiras de Julia (2001); Vincent,
Lahire e Thin (2001); Viñao Frago (1995); Chervel (1990, 1998); Chartier (2000). No caso
brasileiro, os estudos de Faria Filho, Gonçalves, Vidal e Paulilo (2004); Vidal (2005, 2006,
2010); Vidal e Paulilo (2018); Vidal e Schwartz (2010); Souza (1998); Souza e Valdemarin
(2005); Paulilo (2003, 2013); Rocha (2010), entre outros, mobilizaram esses referenciais
para compreender diferentes aspectos da interação da cultura escolar com outras culturas.
Referências
BENJAMIN, Walter. Excavar y recordar. In: BENJAMIN, Walter. Obras.
Madrid: Abada, 2010. Libro IV, v. 1.
BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. 11. ed. Campinas:
Papirus, 2011.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. História da educação: notas sobre
uma questão de fronteiras. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 26, p.
5-15, 1997.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Por uma história cultural dos saberes
pedagógicos. In: SOUSA, Cynthia Pereira de; CATANI, Denice Barbara
(orgs.). Práticas educativas, culturas escolares, profissão docente. São Paulo:
Escrituras, 1998. p. 31-40.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Petropólis: Vozes, 1994.
CHARTIER, Anne-Marie. Fazeres ordinários da classe: uma aposta para a
pesquisa e a formação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 157-168,
jul./dez. 2000.
CHARTIER, Anne-Marie; HEBRARD, Jean. A invenção do cotidiano: uma
leitura, usos. Projeto História, São Paulo, n. 17, p. 29-41, nov. 1998.
CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um
campo de pesquisa. Teoria & Educação, n. 2, p. 177-229, 1990.
Según mis cálculos, unos doce mil chicos y chicas se han sentado en
pupitres, y me han oído explicar, cantar, animar, divagar, declamar,
recitar, predicar… Impartí al menos treinta y tres mil clases. Treinta y
tres mil en treinta años.
Me sentía incómodo con los burócratas, que habían huido de las aulas.
Nunca quise ceñirme a sus programas y a sus planes.
Con P de profesor
Empezamos por glosar la obra P de Profesor. Es este un volumen, en
forma de vocabulario o diccionario, que glosa, en dialogo de Jorge Larrosa
con su interlocutora Karen Rechia, de Florianópolis (Brasil), los términos en
que se condensan los modos de ejercer el oficio de enseñante, o las maneras
de practicar la docencia. Se trata pues de un trabajo etnográfico que traduce
en palabras la fenomenología de los hechos. De las facticidades a las palabras.
Esta es la traslación que hace la operación etnográfica. Y de las palabras a la
dialéctica en torno a cada una de ellas mediante el debate. Tal es el método
con que los dos autores se enfrentan al trabajo de campo realizado. La
presentación del libro habla de una fenomenología textual, que contendría
a la vez un discurso sobre la base de la experiencia observada. Un conjunto
de setenta y cuatro términos, dispuestos en orden alfabético, conforma
este glosario analítico de la profesión docente que va desde las categorías
alumno-aula-autoridad a las de tiempo-universidad-vejez. Veamos, a modo
de ejemplo, dos de ellas, seleccionadas entre las que más directamente afectan
a los modos pragmáticos de ejercer el oficio de profesor o enseñante: artefacto
Referencias
AGAMBEN, Giorgio. El uso de los cuerpos. Buenos Aires: A. Hidalgo, 2017.
BÁRCENA, Fernando. Maestros y discípulos. Anatomía de una influencia.
Madrid: Ápeiron Ediciones, 2020.
BOURDIEU, Pierre. El sentido práctico. Madrid: Siglo XXI, 2007.
CELADA, Pablo (ed.). Arte y oficio de enseñar. Berlanga de Duero; Burgo
de Osma: CEINCE; SEDHE, 2011. 2 v.
CUESTA, Raimundo. Endoscopia a la escuela en España. Con-Ciencia Social,
Sevilla, n. 11, p. 119-124, 2007.
DEPAEPE, Marc. La caja negra de la escuela. Conversaciones con Marc
Depaepe sobre la gramática de la escuela. Papeles del CEINCE, Berlanga de
Duero, n. 7, p. 3, 2010.
DUSSEL, Inés; CARUSO, Marcelo. La invención del aula. Una genealogía
de las formas de enseñar. Buenos Aires: Santillana, 1999.
GUSDORF, George. ¿Para qué los profesores? Madrid: Cuadernos para el
Diálogo, 1975.
HANDKE, Peter. Historia del lápiz. Barcelona: Península, 1991.
LARROSA, Jorge. El profesor artesano. Materiales para conversar sobre el
oficio. Barcelona: Laertes, 2020.
LARROSA, Jorge. Esperando no se sabe qué. Sobre el oficio de profesor.
Barcelona: Candaya Abierta, 2019.
LARROSA, Jorge. P de Profesor. Buenos Aires: Noveduc Libros, 2018.
MASSCHELEIN, Jan; SIMON, Marten. Defensa de la escuela. Buenos Aires:
Miño y Dávila, 2014.
MCCOURT. El profesor. Madrid: Maeva, 2006.
Anne-Marie Chartier
1. N.T. Uma versão deste texto foi publicada, em francês, em 2016, sob o título “La formation
des maîtres d’école en France dans la longue durée”. A presente versão e sua tradução foram
feitas por Ceres Leite Prado e revistas pela autora.
2. N.T. Político francês que foi ministro da Educação Pública duas vezes. Seu nome está
relacionado às leis que tornaram o ensino gratuito, obrigatório e laico (1881 e 1882).
3. N.T. Em 1959, a escolaridade obrigatória na França passou a ser até os 16 anos.
9. N.T. Jean-Baptiste de La Salle foi o criador dos Frères des Écoles Chrétiennes, religiosos
que se dedicavam à educação.
10. N.T. Modo de ensino simultâneo era o que supunha ter vários alunos aprendendo ao
mesmo tempo.
11. N.T. O método concêntrico é uma forma de organização do ensino que parte de conceitos
básicos e os vai aprofundando pouco a pouco.
12. N.T. Les frères ignorantins era o nome dado aos membros de uma ordem religiosa
fundada por São João de Deus em 1495, em Portugal. O nome se estendeu a outras ordens
religiosas, entre as quais os irmãos das Escolas Cristãs.
13. N.T. Matemáticos e químicos, eruditos que estão entre os fundadores da Escola Politécnica
e foram professores da Escola Normal.
14. N.T. Foi a primeira Escola Normal francesa, criada pela Revolução, em Paris, e durou
apenas 4 meses.
15. N.T. A Restauração (1814-1830) foi o regime político instaurado com a volta da monarquia
ao poder, na França.
16. N.T. O conseil général é equivalente às assembleias legislativas dos estados, no Brasil;
no caso da França, dos departamentos.
17. N.T. O brevet é um título ou diploma emitido pelo Estado, que permite ao titular o
exercício de certas funções. O brevet élémentaire (BE) permitia ensinar nas escolas primárias
e o brevet supérieur (BS) permitia ensinar, como também ser diretor. As expressões serão
mantidas em francês, no texto.
18. N.T. Gustave Rouland foi ministro da Instrução Pública no governo de Napoleão III,
quando coordenou uma enquete sobre a situação das escolas públicas francesas.
20. N.T. O baccalauréat é um exame e seu respectivo diploma, que sanciona o final dos
estudos secundários, ou seja, é realizado ao término do lycée (como o ENEM no Brasil).
Foi criado em 1808. No texto, será mantido o termo em francês.
21. N.T. Jean Zay foi um político francês e ministro da Educação Nacional no governo
socialista do Front Populaire, de 1936 a 1939.
22. N.T. Período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, com o final da ocupação
alemã e do governo de Vichy, aliado dos alemães.
25. N.T. Trata-se de três períodos em que a França teve grande crescimento econômico.
Referências
CHARTIER, Roger; COMPÈRE, Marie-Madeleine; JULIA, Dominique.
L’éducation en France du XVIe au XVIIIe siècle. Paris: SEDES, 1976.
CONDETTE, Jean-François. Histoire de la formation des enseignants en
France (XIXe-XXe siècles). Paris: L’Harmattan, 2007.
GRANDIÈRE, Marcel. La formation des maîtres en France: 1792-1914. Paris:
INRP, 2006.
LAPRÉVOTE, Gilles. Les Écoles Normales Primaires en France (1879‐1979):
splendeurs et misère de la formation des maîtres. Lyon: PUL, 1984.
PROST, Antoine (dir.). La formation des maîtres, de 1940 à 2010. Rennes:
PUR, 2014.
TERRAL, Hervé. Profession: professeur. Paris: PUF, 1997.
Elsie Rockwell
1. Una versión anterior de este texto se publicó como: ROCKWELL, Elsie. Entre la vida y
los libros: prácticas de lectura en las escuelas de La Malintzi a principios del siglo xx. In:
CASTAÑEDA, Carmen; GALVÁN, Luz Elena; MARTÍNEZ, Lucía (coords.). Lecturas y
lectores en la historia de México. México: Centro de Investigación y Estudios Superiores
en Antropología Social, 2004, p. 327-357. Esta versión es corregida y actualizada para el
presente volumen.
3. Esta investigación fue respaldada con fondos del Conacyt (proyecto 211-085-5-1377) y del
Conaculta. El trabajo fue presentado en el congreso del ISCHE (Alcalá, 2000).
4. Tlaxcala fue instaurada como “República de Indios” desde la Conquista y gozaba de
cierta autonomía. En el período que abordo, la población cercana al volcán de La Malintzi
era considerada, según el censo, como “netamente indígena”.
5. Esta división se refleja todavía en el censo de 1910, en que se contaban aparte los que “solo
sabían leer” de los que sabían “leer y escribir”.
Archivo General del Estado de Tlaxcala (AHET), Educación Pública (EP), 1933, expediente
369-15, Informe del Inspector G. Pérez.
11. Archivo Histórico de la Secretaría de Educación Pública (AHSEP), Dirección General
de Educación Primaria en los Estados y Territorios (DGEPET), 1925, expediente 794.4,
informe del director federal A. Alaniz.
15. AHET, EP, 1918, expediente 27/58/3, que contiene las respuestas a una encuesta.
16. AHET, EP, 1929, expediente 234/6/20; AHET, EP, 1933, expediente sin número. Escuela
de Ixcotla.
17. AHSEP, DGEPET, 1925, exp. 794.4 Informes del director federal A. Alaniz, Informes
del inspector Villeda.
Antonia Candela
Introducción
Este trabajo etnográfico tiene por objeto analizar la contribución de
alumnos de escuelas primarias públicas de México, a las prácticas educativas
escolares a través de estudiar sus “procedimientos de consumo” (CERTEAU,
1994), del discurso docente en las aulas. Las prácticas educativas aquí se
estudian en su dimensión discursiva.
Interesa documentar algunas características del consumo de los alumnos
de los temas escolares en torno a actividades experimentales en clases de
ciencias naturales. Ubico el estudio en el contexto de un proceso histórico de
modificaciones curriculares1 de la enseñanza de ciencias naturales desde los
años 70 del siglo pasado, en el que se ha venido avanzando hacia perspectivas
constructivistas de enseñanza y a la inclusión de actividades experimentales
con el propósito de que la participación de los alumnos en los procesos
educativos sea progresivamente más significativa.
El estudio de las prácticas de “consumo” y el “uso” que hacen los alumnos
del contenido educativo presentado en el discurso docente, es necesario para
poder hablar de su aprendizaje. Estas prácticas de “consumo” forman parte
de lo que, articulado con las prácticas docentes, podríamos llamar “práctica
educativa”, esto es, la forma como se producen, consumen y por tanto se
reconstruyen las actividades y discursos en las aulas escolares.
Me aproximo al estudio de las prácticas educativas escolares desde
una perspectiva sociocultural de investigación cualitativa de la interacción
discursiva en las aulas, y retomo los aportes del análisis conversacional
(ATKINSON, 1988) para poder estudiar los detalles del “consumo” del
discurso docente por parte de los alumnos.
1. En México existen libros de texto oficiales y gratuitos que se distribuyen a todos los
alumnos de educación primaria. Estos textos y los programas educativos correspondientes
se han modificado en los últimos 50 años al menos en cinco grandes reformas educativas
(1970, 1982, 1993, 2006, 2014).
Referentes teórico-metodológicos
La participación de los alumnos en las aulas escolares ha sido relativamente
poco estudiada y frecuentemente asumida como marginal, enfatizando el
2. Anexo 1.
Referencias
ATKINSON, J. Maxwell; HERITAGE, John (eds.). Structures of social action.
Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
ATKINSON, Paul. Ethnomethodology: a critical review. Annual Review of
Sociology, v. 14, p. 441-465, 1988.
AUSTIN, J. L. How to do things with words. Oxford: Clarendon Press, 1962.
BILLIG, Michael. Arguing and thinking: a rethorical approach to Social
Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
BILLIG, Michael (ed.). Ideological dilemmas: a Social Psychology of everyday
thinking. Londres: Sage, 1988.
CANDELA, Antonia. Ciencia en el aula: los alumnos entre la argumentación
y el consenso. México; Barcelona; Buenos Aires: Paidós, 1999.
CANDELA, Antonia. Los libros de texto gratuitos de Ciencias Naturales
y la investigación en enseñanza de Ciencias. Avance y Perspectiva, n. 37, p.
5-15, 1989.
CANDELA, Antonia. Students’ power in classroom discourse. Linguistics
& Education, Arizona, v. 10, n. 2, p. 139-164, 1998.
CANDELA, Antonia; NARANJO, Gabriela; DE LA RIVA, María. ¿Qué crees
que va a pasar? Las actividades experimentales en clases de ciencia. México:
Somos Maestr@s/Cinvestav, 2014.
Inés Dussel
Introdução
Imagens de crianças brincando se tornaram comuns a partir da
Revolução Industrial. Desde então se tem testemunhado a proliferação
e a especificação crescente de tempos, espaços e objetos para crianças, ao
menos no mundo ocidental (CROSS, 2012, p. 267-282; SCHORSCH, 1979).
No entanto, apenas no fim do século XIX, a brincadeira foi considerada o
equivalente da “verdadeira essência” da criança. A partir daquele momento, a
brincadeira não foi mais vista como uma perda de tempo ou como moralmente
perigosa, mas como uma atividade formativa, e se tornou o “‘trabalho da
infância’ – o equivalente moral do labor”, como apontado pelo historiador
Stephen Kline (1998, p. 100).
4. Edwards (2018, p. 28), por exemplo, analisa o efeito que categorias como “fotografia
colonial” têm na interpretação de fotografias, ao tornar cada registro fotográfico em um
contexto (colonialismo) estável, claro e autossuficiente que explica o seu significado. O que se
perde são as ambivalências, contradições, possibilidades alternativas contidas nesses registros.
5. Para maiores informações sobre o álbum e a Sociedad Fotográfica Argentina de Aficionados
(SFAdeA), ver Dussel (2019).
6. O pictorialismo foi uma estética artística que opunha a fotografia direta (realista) à
fotografia pura (artística), compreendida como aquela em que a câmera era usada para
“registrar sentimentos íntimos e reações” em “imagens evocativas e misteriosas”.
7. Apesar de extrapolar o foco deste capítulo, é importante mencionar que as imagens que
não foram publicadas incluem cenas notáveis de meninas e meninos assistindo uma briga
de galo, meninos em uma luta de boxe, meninos imitando “gauchos” (trabalhadores rurais)
e lutando com facones (facões) imaginários, meninos de rua usando estilingue, e meninos
vendendo jornais na rua.
9. A revista incluía pequenos textos, geralmente no fim do volume, que traziam informações
sobre os procedimentos técnicos e os nomes dos envolvidos. Também imprimia anúncios
de gravadores e ateliês fotográficos. Portanto, as revistas ilustradas também contribuíram
para a profissionalização dos trabalhadores gráficos (SZIR, 2016).
10. Salomón Vargas logo se mudou para a Caras y Caretas, onde atuou como organizador
e chefe da Seção de Fotografia, entre 1898 e 1922.
11. Gostaria de agradecer a Darío Pulfer por sua ajuda em rastrear Enrique Herrero.
12. Inicialmente, o layout consistia em três colunas e texto impresso de forma compacta;
em dezembro de 1895, passou a ser publicado em duas colunas (ver Fig. 1).
Já Caras y Caretas era uma revista popular; com 24 páginas, ela custava
0.25 pesos em 1898, metade do preço da Buenos Aires. Em 1902, a revista tinha
64 páginas, um terço das quais eram ocupadas por propaganda. Suas páginas
eram abarrotadas de textos e fotos, quase sem margens. A revista, destinada
a um público mais amplo, incluía uma seção, Páginas Infantiles, devotada às
crianças, que continha histórias, regras de jogos, rimas e enigmas. É nessa
Esta foto não foi incluída em Caras y Caretas, talvez porque fosse muito
transgressiva para uma narrativa sobre os jogos edificantes, geralmente
destacados nas seções infantis da revista. A Buenos Aires, no entanto,
imprimiu-a junto com o texto de Enrique Herrero (Fig. 4). Desta vez,
Herrero situou a cena após o sino da escola tocar, quando os gazeteiros
decidiam arriscar tudo para aproveitar um dia de liberdade. Herrero evocou
os sons do pátio escolar e a visão de bons alunos que obedecem às regras
e entram no prédio. Em contraponto, para alguns meninos, a sala de aula
parecia uma prisão. Jogando com as palavras “aula” (sala de aula) e “jaula”
(gaiola), Herrero notou que gazeteiros eram pássaros que queriam voar livres
e escapar da gaiola que era a escola. Ele chamou os vadios pelo sobrenome
(Murúa, Zárate, Curti, sinalizando origens espanholas e italianas). O apelo à
linguagem administrativa tinha como efeito de aumentar a distância para o
Considerações finais
Neste capítulo, segui algumas imagens de jogos infantis em suas viagens
de um álbum amador a duas revistas ilustradas, que foram pioneiras na
introdução de fotografias na imprensa periódica no final do século XIX e
início do século XX na Argentina. Ambas as revistas foram importantes
para legitimar o valor da brincadeira como experiência formativa dentro e
fora das escolas; elas fizeram isso tanto por meio de palavras quanto fotos.
Como vimos, no entanto, mesmo que as fotos fossem as mesmas, elas
operaram de forma bem diferente, dependendo da copresença de diferentes
tecnologias de impressão, discursos pedagógicos e estilos de narrativa.
Revendo o estudo de Sandra Szir sobre as imagens das crianças “escolarizadas”
e “consumistas” nos primeiros anos da Caras y Caretas, minha própria
análise constatou que as fronteiras entre esses tipos de imagens estavam
13. Ver o estudo de Adriana Puiggrós (1990) sobre a corrente educacional democrática
radical no final do século XIX na Argentina.
Periódicos
BRETÓN. La Dolores. Buenos Aires: Revista Semanal Ilustrada, 2 feb. 1896, p. 2.
CANTILO. Para empezar. Buenos Aires: Revista Semanal Ilustrada, 11 ago.
1895, p. 1.
EL DR. LUIS Harperath. Buenos Aires: Revista Semanal Ilustrada, 12 abr.
1896, p. 6.
FIGARILLO. Páginas infantiles: El Uñate – Carreras con Aros – Lucha
Romana. Caras y Caretas, 10 ene. 1903, p. 62. Coleção Digital da Biblioteca
Nacional da Espanha.
FIGARILLO. Páginas infantiles: La payana – El rescate – Las plumas. Caras
y Caretas: Semanario Festivo, Literario, Artístico y de Actualidades, 23 ago.
1902, p. 62. Coleção Digital da Biblioteca Nacional da Espanha.
Referências
ALEXANDER, Abel; PRIAMO, Luis. Notas sobre la fotografía porteña del
siglo XIX. In: PRIAMO, Luis (ed.). Buenos Aires, memoria antigua: fotografías
1850-1900. Buenos Aires: Fundación CEPPA Ediciones, 2018. p. 9-27.
ALTAMIRANO, Carlos; SARLO, Beatriz. Ensayos argentinos: de Sarmiento
a la vanguardia. Buenos Aires: Ariel, 1997.
BARTHES, Roland. Camera lucida: reflections on photography. Nova York:
Hill and Wang, 1981.
BENJAMIN, Walter. Small history of photography. In: LESLIE, Esther (ed.).
Walter Benjamin: on photography. Londres: Reaktion Books, 2015. p. 59-105.
BRASTER, Sjaak; POZO ANDRÉS, María del Mar. La Escuela Nueva en
imágenes: fotografía y propaganda en The New Era (1920-1939). Historia y
Memoria de la Educación, Madri, n. 8, p. 97–145, 2018.
Diana Vidal
Rachel Duarte Abdala
Referências
ABDALA, Rachel Duarte. Fotografias escolares: práticas do olhar e
representações sociais nos álbuns fotográficos da Escola Caetano de Campos.
Curitiba: Appris, 2020.
BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. In: BENJAMIN, Walter.
Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.
7. ed. Tradução: Sergio Paulo Rouanet, São Paulo, Brasiliense, 1994. p. 91-107.
BURKE, Peter. História social do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
ECAR, Ariadne; RABELO, Rafaela. Alice Meirelles Reis e o jardim de infância:
cenário de inovação. In: VIDAL, Diana Gonçalves; VICENTINI, Paula Perin
(orgs.). Mulheres inovadoras no ensino (São Paulo, séculos XIX e XX). Belo
Horizonte: Fino Traço, 2019. p. 27-42.
ESCOLA CAETANO DE CAMPOS. Album fotográfico de 1931. São Paulo,
1931. 31 p. Acervo da Escola Caetano de Campos.
HAI, Alessandra; SIMON, Frank Simon; DEPAEPE Marc. From practice
to theory, Ovide Decroly for Brazilian classrooms: a tale of appropriation.
History of Education, v. 45, n. 6, p. 794-812, 2016.
HAI, Alessandra; SIMON, Frank Simon; DEPAEPE, Marc. Translating Ovide
Decroly’s ideas to Brazilian teachers. Paedagogica Historica, v. 51, n. 6, p.
744-767, 2015.
HAMELINE, Daniel. Aux origins de la Maison des Petits. In: PERREGAUX,
Christiane; RIEBEN, Laurence; MAGNIN, Charles (dirs.). Une école où
les enfants veulent ce qu’ils font: La Maison des Petits hier et aujourd’hui.
Lausanne: Société Coopérative des Editions des Sentiers, 1996. p. 17-62.
HAMELINE, Daniel. Présentation. In: HAMELINE, Daniel; JORNOD,
Arielle; BELKAÏD, Malika (orgs.). L´école active. Textes fondateurs. Paris:
PUF, 1995. p. 5-46.
Introdução
7. Claudino dos Santos “nasceu em Recife (PE) no ano de 1862 e faleceu na cidade do Rio de
Janeiro (RJ) no ano de 1917. Advogado, escritor, jornalista, poeta, autor de obras didáticas e
teatrais. Fundador do Colégio Paranaense, diretor da Instrução Pública do Paraná, secretário
de Estado dos Negócios, Interior, Justiça e Instrução Pública; juiz em Morretes e prefeito
de Curitiba em 1916” (CARNEIRO JUNIOR, 2014, p. 109).
8. Apesar de a citação estar fora do recorte temporal, esta informação demonstra que houve
uma continuidade da prática de comercialização do material produzido pelos alunos das
escolas primárias.
Considerações finais
Foi no ano de 1891 que ocorreu a primeira exposição escolar organizada
por Justiniano de Mello e Silva, então diretor da Instrução Pública do Paraná.
Com os olhos voltados para a experiência do Pedagogium, no Rio de Janeiro,
as autoridades educacionais realizam as primeiras exposições escolares
Fontes
BRASIL. Decreto n. 981 de 8 de novembro de 1890 – Benjamin Constant.
Approva o Regulamento da Instrucção Primaria e Secundaria do Districto
Federal. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/
FONTES_escritas/4_1a_Republica/decreto%20981-1890%20reforma%20
benjamin%20constant.htm. Acesso em: 30 jun. 2018.
CHRONICA DO INTERIOR. Revista Pedagógica. Rio de Janeiro. 1891,
Edição 003. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
CHRONICA DO INTERIOR. Revista Pedagógica. Rio de janeiro, 1896.
Edição 003. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Referências
BARBOSA, Etienne Baldez Louzada. Por terra, por água, pela leitura: as
conexões dos responsáveis pela inspeção e instrução pública no Paraná
(1854-1890). 2016. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, 2016.
CARDIM, Carlos A. Gomes. As commemorações cívicas e as festas escolares.
São Paulo: Siqueira, Nagel & C., 1916.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A escola e a República. São Paulo:
Brasiliense, 1998. (Coleção Primeiros Passos).
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Educação e política nos anos 20: a
desilusão com a República e o entusiasmo pela educação. In: DE LORENZO,
Helena Carvalho; COSTA, Wilma Peres da (orgs.). A década de 20 e as origens
do Brasil moderno. São Paulo: Editora da Unesp, 1997.
CASTRO, Fátima Branco Godinho de. Ritos e artefatos escolares: as exposições
das escolas primárias do Paraná (1912 a 1927). 2020. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2020.
DIAS, Maria dos Anjos Flôr. Para uma genealogia da educação artística:
história das disciplinas de Desenho, Trabalhos Manuais, Canto Coral e Educação
pelo Teatro na escola primária portuguesa, do primeiro quartel do século
XIX a meados do século XX. Tese (Doutorado em Estudos da Criança) –
Universidade do Minho, Minho, 2009.
ESCOLANO, Augustín. Etno-história e cultura material da escola: a educação
nas exposições universais. In: GASPAR DA SILVA, Vera Lucia; SOUZA,
Introdução
Educar foi uma tarefa colocada para os museus desde suas origens.
Guardar registros do passado, preservá-los para as gerações futuras, evitar
o esquecimento são objetivos intrínsecos aos museus, sejam públicos
ou privados, e guardam uma perspectiva de formação e orientação. Tais
2. Osmar de Almeida foi gerente do SEPEDOC até 1984, presidente do Conselho do Museu
entre 1987 e 1992; e atuou como assistente de fomento e investimentos do museu entre 2018
e 2019.
3. Os PCNs tiveram uma versão preliminar em 1995. A intenção, bem sucedida, era a de
que chegassem a todos os professores do país. Foram divulgados durante a gestão do então
ministro Paulo Renato Souza, que ocupou o cargo entre 1995 e 2002, no primeiro mandato
do presidente Fernando Henrique Cardoso.
5. O IBRAM foi criado no segundo mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
7. De acordo com o sítio do Museu de Arte Sacra de São Paulo (2020), as “Paulistinhas”
são um gênero de escultura sacra típico do Vale do Paraíba: “São imagens devocionais
de santos católicos, com formas simplificadas, interior oco, base redonda ou facetada, de
pequenas dimensões, e confeccionadas, em sua maioria, em barro cozido [...] produzidas
por santeiros que visavam atender à demanda do crescimento na região, especialmente
por conta da cafeicultura”.
8. Para mais informações sobre Ana Mae Barbosa e a importância de seu trabalho
com arte educação, sugerimos a entrevista que foi concedida para o projeto Memórias,
ECA 50 anos, na comemoração do aniversário da Escola de Comunicação e Artes da
USP, onde atuou como docente por décadas. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=GEyFkpAWoa0&t=84s. Acesso em: 11 out. 2021.
Referências
ALMEIDA, Osmar de. [Entrevista concedida a Patrícia Cruz]. São Paulo,
20 nov. 2017.
ANDRADE, Vagner Luciano de; SILVA, Ludmila de Miranda Rodrigues.
Educação em debate – Museu, espaço de vivência e construção da cidadania.
Pensar a Educação em Pauta – FaE/UFMG, Belo Horizonte, v. 186, 07 dez. 2017.
Disponível em: https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/
museu-espaco-de-vivencia-e-construcao-da-cidadania/. Acesso em: 14 set.
2018.
BARBOSA, Ana Mae. Arte, educação e cultura. Revista Textos do Brasil,
Brasília, v. 7, s. p., 2004. Portal Domínio Público. Disponível em: www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa. Acesso em: 09 out. 2021.
BARRETTO, Elba Siqueira de Sá; MITRULIS, Eleny. Trajetória e
desafios dos ciclos escolares no país. Estudos Avançados, São Paulo, v.
15, n. 42, p. 103-140, 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/
K6mBgJwFvzgyhHkNrBbPfNF/?lang=pt Acesso em: 11 out. 2021.
BIGARELLI, Silvia. [Entrevista concedida a Patrícia Cruz]. São Paulo, 28
nov. 2018.
BOTELHO, Joaquim Maria. Ruth Guimarães: centenário de uma pioneira.
Revista Cult, São Paulo, 12 jun. 2020. Disponível em: https://revistacult.uol.
com.br/home/ruth-guimaraes-centenario/. Acesso em: 09 out. 2021.
BRASIL. Política Nacional de Museus – Relatório de gestão 2003-2010.
Ministério da Cultura, Instituto Brasileiro de Museus. Brasília: Ministério
da Cultura; Ibram, 2010.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: arte. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
Se, porém, a escola tem o dever de ensinar a todos, porque todos precisam
dos elementos fundamentais da cultura para viver na sociedade moderna,
o problema se inverte. Aluno reprovado significa não já êxito do aparelho
selecionador, mas fracasso da instituição de preparo fundamental dos
cidadãos, homens e mulheres, para a vida comum. (TEIXEIRA, 1935,
p. 74)
Essa criança do povo deve e precisa ter na escola mais alguma coisa do
que o ensino a toque de caixa de leitura, escrita e contas. Precisa encontrar
um ambiente civilizado, sugestões de progresso e desenvolvimento,
oportunidades para praticar nada menos do que uma vida melhor,
com mais cooperação humana, mais eficiência individual, mais clareza
de percepção e de crítica e mais tenacidade de propósitos orientados.
Referências
BAHIA. Lei n. 1846, de 14 de agosto de 1925. Reforma a Instrução Pública
do Estado. In: SANTANA, Elizabete et al. (orgs.). A construção da escola
primária na Bahia. v. 2 – Leis de reforma e regulamentos da Instrução 1890-
1930. Salvador: EDUFBA, 2011. p. 401-444.
BAHR, Carlos; LIMA, J. Pinto. Clubes agrícolas – (Serviço de Informações
Agrícola do M. A.). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943.
BUENO, Belmira Oliveira. Associação de Pais e Mestres na escola pública
do estado de São Paulo (1931-1986). 1987. Tese (Doutorado em Educação) –
Universidade de São Paulo, São Paulo. 1987.
CAMPELO, Bernadete Santos et al. Literatura sobre biblioteca escolar:
características de citações de teses e dissertações brasileiras. Transiformação,
Campinas, v. 19, n. 3, p. 227-236, set./dez. 2007.
CARVALHO, Marília Pinto de. No coração da sala de aula: gênero e trabalho
docente nas séries iniciais. São Paulo: Xamã, 1999.
CARVALHO, Marta. O novo, o velho, o perigoso: relendo A Cultura Brasileira.
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 71, p. 29-35, 1989.
2. Sobre a reforma Paula Souza, regulamentada pelo decreto n. 3.876, de 11 de julho de 1925,
ver Ribeiro (1993), Campos (2000), Faria (2002) e Rocha (2003).
3. Vale destacar que, embora o público-alvo fossem as alunas do 4o ano dos grupos escolares,
o curso não se restringia a elas, conforme declarava Maria Antonietta de Castro, referindo-se
à experiência realizada em 1926: “O facto é que o curso se realizou, acrescida, a matrícula, de
senhoras da sociedade, e, até normalistas” (CASTRO, 1935, s. p.). Os jornais do período entre
1927 e 1930 também apontam para essa participação mais ampla, como se pode observar em
alguns anúncios: “Para assistir às aulas referidas, vão ser convidados os alunos das escolas
normais, colégios, grupos, escolas particulares, senhoras e senhoritas de todas as camadas
sociais. Todas as pessoas que se interessam pela saúde da criança, em suma, terão entrada
franca” (ESCOLA..., 1929b, p. 6).
7. Sobre as práticas de ensino de puericultura nas escolas em 1933, ver Rocha (2016).
8. O documento faz parte do álbum intitulado Hábitos Sadios, que contém textos produzidos
por Maria Antonietta de Castro no período da sua formação como educadora sanitária, o
que permite inferir a data aproximada da sua produção.
As respostas das três alunas que tiveram suas provas classificadas como
as melhores, nos anos de 1929 e 1930, em relação ao primeiro cuidado a adotar
com os recém-nascidos, indicam a importância da frequência aos centros
de saúde, neste caso, associada à obtenção de medicação a ser aplicada nos
olhos do bebê com o objetivo de evitar doenças. Francisca Barros e Brigida
Calheiros apresentaram respostas muito semelhantes, indicando como deveria
proceder a mãe, sabedora da sua responsabilidade em relação à saúde e ao
desenvolvimento dos filhos. Francisca Barros descreveu os procedimentos
a adotar na utilização do nitrato de prata fornecido pelo centro de saúde:
9. Vista como questão de saúde pública, a amamentação se configurou como tema central
da agenda dos puericultores, no início do século XX, como assinalam, dentre outros autores,
Carula (2016); Freire (2016, 2008, 2006); Lima (2007); Sanglard (2016).
Considerações finais
Neste texto, procurou-se examinar as noções de puericultura que se
visou ensinar às alunas das escolas primárias de São Paulo, nos anos 1920,
e as práticas por meio das quais se procurou assegurar a assimilação desses
conhecimentos. Para tanto, tomou-se como foco a atuação das educadoras
sanitárias chefiadas por Maria Antonietta de Castro, na Escola de Mãezinhas,
curso de formação das meninas do 4º ano dos grupos escolares ministrado
junto a três centros de saúde localizados na capital paulista: Modelo, Brás e
Bom Retiro. Inserida nas práticas de formação das educadoras sanitárias, em
seu nascedouro, essa iniciativa, que visava ensinar as futuras mães a cuidar
dos seus pequenos, seria assumida pela Inspetoria de Educação Sanitária e
Centros de Saúde, apesar dos protestos, disputas e censuras, por meio dos
quais se procurava insinuar os riscos envolvidos no ensino de determinadas
temáticas a meninas ainda muito novas.
A dimensão prática desse ensino, recorrentemente reafirmada nos
discursos produzidos em torno da iniciativa, encontra sua expressão nos
conteúdos que compunham o programa dos cursos e deixa indícios nos
exames finais realizados pelas alunas, dos quais procuramos nos aproximar
neste texto, que tomou como uma de suas fontes as melhores provas,
selecionadas pelas educadoras e publicadas na imprensa. Sem perder de vista
os limites das fontes, que, evidentemente, tinham o propósito de documentar
o sucesso da iniciativa, consistindo a sua publicação em uma forma de
premiação das melhores alunas e em uma vitrine dos resultados obtidos
pelos trabalhos realizados nos centros de saúde, instituição nova criada no
contexto da reforma sanitária de 1925, o exercício experimentado procurou
exercitar, de alguma forma, uma aproximação das formas de apropriação
daquilo que era ensinado às meninas nesses cursos, sem perder de vista as
representações de mulher e de maternidade produzidas e postas em circulação
nesses ambientes de formação.
Introdução
Em 1963, a cidade do Rio de Janeiro recebia os jogos da fase final do
IV Campeonato Mundial de Basquetebol masculino. Mas, especificamente,
naquela noite de 23 de maio, no ginásio do Maracanãzinho, vizinho do
imponente e lendário estádio de futebol do Maracanã, havia um ambiente
demasiadamente hostil na recepção da equipe nacional de basquetebol da
União Soviética, que jogaria contra o Brasil. Uma sonora vaia direcionada
aos soviéticos desviava a atenção de todos os envolvidos. Parecia não ser
simplesmente uma disputa esportiva, pois os demais rivais dos brasileiros no
torneio mundial não foram recebidos com a mesma agressividade pela torcida
local (CORREIA; GÓIS JUNIOR; SOARES, 2021). O jornalista Mario Martins,
na crônica “Ameaça crescente”, publicada no Jornal do Brasil, condenava o
comportamento de parte dos brasileiros naquela praça esportiva:
Semelhante espetáculo não deve ser encarado como simples falta de
cortesia. Ele tem raízes mais profundas e mais condenáveis. Mostra a
todos nós que, nos subterrâneos da sociedade brasileira, se está armando
uma mentalidade de agressividade que não é própria dos brasileiros e que
1. Neste artigo, sempre que nos referirmos ao termo “práticas” nos baseamos na acepção
dada por Certeau (2014), como procedimentos que se estabelecem por meio de muitas
formas de fazer entre estratégias e táticas.
Sem dúvida, não era o caso de criar obstáculos às artes e aos esportes na
vida social dos negros e negras, mas ao contrário, era necessário ampliar as
possibilidades de inserção na sociedade, em um combate ostensivo ao racismo.
Sim, sem dúvida, o esporte como prática podia ser também apropriado
por discursos progressistas e antirracistas. Para isso, era preciso ressaltar o
exemplo de alguns atletas de alto nível, por conta de sua representatividade
na mídia, por seu protagonismo diante dos jovens. Foi o caso de Muhammad
Ali no boxe: a imprensa alternativa ressaltava, por meio de sua prática
esportiva, seu pensamento engajado nas lutas em relação aos direitos civis
dos negros nos Estados Unidos e por ter se recusado a lutar na Guerra do
Vietnã. Nos termos do jornalista Luiz Carlos Maciel, no artigo “Muhammad
na Boneca”, publicado em O Pasquim:
Desde que Cassius Marcellus Clay perdeu, oficialmente, o título de
campeão mundial de box [sic], de todos os pesos por ter-se recusado a
servir o exército norte-americano, parece estar sofrendo uma verdadeira
conspiração que pretende levá-lo ao silêncio e esquecimento. Se há um
crioulo que não sabe o seu lugar é Clay, ou Muhammad Ali, o nome
Com base nestas fontes do final dos anos 1960 ao início dos anos de 1980,
foi possível perceber diferentes representações sobre o esporte apresentadas
na imprensa alternativa, além das previsíveis críticas a alguns esportes de
alto rendimento, que, mesmo sem alcançar a visibilidade comercial do
futebol, incomodavam os articulistas, por sua identificação com as elites
econômicas, como o automobilismo e o tênis.
Estas críticas eram mais dirigidas aos jovens praticantes do que às
práticas, pois, se a prática se popularizasse e fosse identificada com outras
juventudes oriundas de outros grupos sociais, as representações em relação
àquele esporte variavam, como no exemplo do surfe, retratado tanto n’O
Pasquim como no jornal Movimento.
Em um primeiro momento, o surfe era identificado como uma prática
relacionada a uma juventude abastada da zona sul do Rio Janeiro e do litoral
Fontes
ATHAYDE, Eduardo. O Pasquim entrevista os caras do surf: o esporte da
onda. O Pasquim, n. 286, 1974, p. 14-16.
AZEDO, Mauricio. Os décimos lugares. Movimento, 04 ago. 1975, p. 9.
CALDAS, Dulce. Gilberto Gil: saci-pererê, palhaço, cuca-fresca. Movimento,
24 jan. 1977, p. 17.
CASTRO, Ruy. Em cima do muro. O Pasquim, n. 468, 1978, p. 19.
Referências
ABREU, Alzira Alves de. A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro
nos anos 50. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
ALMADA, Pablo Emanuel Romero. Repensando as interpretações e memórias
de 1968, Tempo Social, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 225-243, 2021.
ALVES, Vladimir Zamorano; MELO, Victor Andrade. Um novo barato:
surfe e contracultura no Rio de Janeiro dos anos 1970. Revista Brasileira de
Ciências do Esporte, v. 39, n. 1, p. 2-9, 2017.
ARAÚJO, Maria Paula Nascimento. A luta democrática contra o regime
militar na década de 1970. In: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo;