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Contos Machado de Assis

1.(Unifesp) O trecho do conto Uns braços, de Machado de Assis, é base para


responder às questões.
“Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de
manhã com o Borges, andar por au-
diências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos
escrivães, aos oficiais de justiça. (...) Cinco
semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco
semanas de silêncio, porque ele só falava
uma ou outra vez na rua; em casa, nada.
‘Deixe estar, — pensou ele um dia — fujo daqui e não volto mais.’
Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca
vira outros tão bonitos e tão frescos.
A educação que tivera não lhe permitira encará-los logo abertamente, parece
até que a princípio afastava os olhos,
vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras
mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e
amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas
tendas de repouso. Aguentava toda a traba-
lheira de fora, toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do
patrão, pela única paga de ver, três vezes
por dia, o famoso par de braços.
Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha
ali outra cama), D. Severina, na
sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou
alguma cousa. Rejeitou a ideia logo,
uma criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais
que a gente as sacuda, elas tornam e
pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca
do rapaz havia um princípio de rascunho
de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra
ideia não foi rejeitada, antes afagada
e beijada. E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e
mais um incidente, e mais outro, tudo
eram sintomas, e concluiu que sim.”
De início, morar na casa de Borges era solitário e tedioso, o que levou Inácio a
pensar em ir embora. Todavia, isso não
aconteceu, sobretudo porque o rapaz:
a) passou a ser mais bem tratado pelo casal após três semanas.
b) teve uma educação que não lhe permitiria tal rebeldia.
c) se pegou atraído por D. Severina, com o passar do tempo.
d) gostava, na realidade, do trabalho que realizava com Borges.
e) sentia que D. Severina se mostrava mais atenciosa com ele.

7. (Fatec-SP)
[...] Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que
parecia delirar, continuou nos mesmos gri-
tos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive
tempo de desviar-me; a moringa bateu-
-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente,
pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos,
e esganei-o.
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas
ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-
-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel
morreu. Passei à sala contígua, e durante duas
horas não ousei voltar ao quarto.
[...]
Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto.
Recuei duas vezes, mas era preciso
e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o
coração batia-me; cheguei a pensar na fuga;
mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios
dele. Fui até a cama; vi o cadáver,
com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna
palavra dos séculos: “Caim, que fizeste de
teu irmão?” Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e
cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em
seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto;
mandei recado ao vigário e ao médico.
A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e,
na verdade, recebera carta dele,
alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada
imediata poderia fazer despertar suspeitas,
e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e
míope.
Assis, Machado de. O enfermeiro.
Considere as seguintes afirmações sobre o texto:
I. O enfermeiro, mesmo sabendo que seu paciente morrera de aneurisma, teve
muito remorso, pois achou que o havia
esganado.
II. A consciência de que praticou um crime leva o enfermeiro a procurar
esconder as evidências de seu ato.
III. O narrador é um homem religioso e, atendendo às necessidades dos rituais
funerários, conta como cuidou ele pró-
prio dos restos mortais do coronel.
IV. A frase — “Caim, que fizeste de teu irmão?” — revela que o enfermeiro
considera seu paciente como um irmão,
dedicando-se a ele apesar da violência do coronel.
V. O narrador relata os modos pelos quais evitou que se percebesse o
assassinato do coronel.
São corretas apenas as afirmativas:
a) I, II e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e V.
e) IV e V.

8. (PUC-MG) Considerando o fragmento de O enfermeiro, é correto afirmar


que, na obra de Machado de Assis:
a) os impulsos doentios e as atitudes criminosas do homem são dois de seus
principais temas.
b) os comportamentos humanos são analisados em função das relações
sociais.
c) são constantes as referências religiosas e bíblicas, atestando a confiança do
homem que obedece à moral cristã.
d) os personagens se conduzem de acordo com as normas éticas universais,
mesmo quando infringem as leis dos
homens.
e) os negros surgem como personagens secundários, em posição de servos
incompetentes, justificando-se, assim, a
existência do regime escravocrata.
9. (PUC-MG) Nos contos de Missa do galo: variações sobre o mesmo tema, a
imagem de Conceição como mulher sub-
missa, fria e ‘santa’ só NÃO é revertida quando a narrativa se faz sob a
perspectiva de:
a) Meneses
b) Conceição
c) Nogueira
d) D. Inácia

2. U. Uberaba-MG Atente para a seguinte passagem do conto Conto de


Escola, de Machado de Assis:

“Na rua encontrei uma companhia do batalhão de fuzileiros, tambor à frente,


rufando. Não podia ouvir isto quieto. Os soldados vinham batendo o pé rápido,
igual, direita, esquerda, ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram
andando. Eu senti uma comichão nos pés, e tive ímpeto de ir atrás deles. Já
lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor… Olhei para um e outro lado;
afinal, não sei como foi, entrei a marchar também ao som do rufo, creio que
cantarolando alguma cousa: Rato na casaca… Não fui à escola, acompanhei
os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na praia de Gamboa.
Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem
ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles,
Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da
corrupção, outro da delação;

mas o diabo do tambor…” Para Gostar de Ler. vol. 9. Contos, Ática.


Evidencia-se, nesta passagem, um procedimento típico da expressão deste
autor, identificado pela:

a) fantasia. Machado não é um realista comum. Apesar de original e


independente, procura seguir de modo servil as propostas do movimento
literário a que pertence. Raimundo é, no conto, um personagem fascinado pelo
tambor.

b) ironia. Machado faz sua personagem, após aprender dentro da sala de


aula, lições de corrupção de delação, reconhecer o valor do tambor e,
portanto, voltar para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no
bolso nem ressentimento na alma.

c) embriaguez da alma. Machado constrói os personagens, reunindo seus


pequenos gestos, seus mínimos pensamentos, suas contradições, revelando
ao leitor, por esse processo detalhado, a segurança de quem sabe o que está
fazendo.

d) metalinguagem. Machado escreve sobre a problemática da esperança e


aborda um

personagem objetivo e racional. Em vez de valorizar a ação interior,


desenvolve, como

todo escritor realista, uma maior preocupação com a ação exterior.

barito
A CARTOMANTE

MACHADO DE ASSIS
01. Que reação a ida de Rita a uma cartomante provocou em Camilo? A) Raiv
a. B) Decepção. C) Alegria. D) Divertimento. E) Satisfação.
Leia o fragmento abaixo e responda às questões.

“Não queria arrancar


-
lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve
um arsenal inteiro de crendices,que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos des
apareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou s
ó otronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, en
volveu-
os na mesma dúvida, e logo depois em uma sónegação total. Camilo não acred
itava em nada. Por quê? Não poderia dizê-
lo, não possuía um só argumento; limitava-
se a negartudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava i
ncredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os
ombros, e foi andando”.

[12º parágrafo]

02. Segundo o trecho acima, Camilo

A) Ainda criança, preferiu não acreditar em nada.

B) Desde criança desprezava superstições.

C) Diante do desconhecido, preferiu ficar indiferente.

D) Era crédulo, apesar de negar qualquer fé.

E) Negava qualquer envolvimento com religião.

03. Em relação às descrenças de Camilo, há uma opinião do narrador em:

A) “ diante do mistério, contentou


-
se em levantar os ombros, e foi andando.”

B) “ Camilo não acreditava


em nada. Por quê? Não poderia dizê-
lo (...)”

C) “ E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a increduli

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