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O glomérulo é formado por uma cápsula de Bowman na qual adentra a arteríola aferente e da qual
sai a arteríola eferente. No interior, está o tufo glomerular, onde é formado o ultrafiltrado, que passará
pelos túbulos e se tornará a urina. O ultrafiltrado é fruto da passagem do sangue por uma barreira formada
pelo endotélio, a membrana basal e os podócitos. A barreira é de tamanho e de carga, visando impedir a
passagem de algumas moléculas vitais ao organismo, como imunoglobinas, por exemplo. O endotélio faz a
barreira de tamanho e os podócitos fazem a barreira de carga negativa.
Podócitos são células de origem epitelial. Eles têm uma estrutura proteica chamada citoesqueleto
actínico, que é disposto de maneira a conferir eletronegatividade ao podócito. É isso que permite a
barragem da albumina que, por ser pequena, passa pelo endotélio e pela membrana basal, mas é repelida
pela eletronegatividade do podócito.
O marcador da síndrome nefrótica é a proteinúria maciça. Perda proteica acima de 3,5 g em 24 horas
pela urina. É essa quantidade de proteinúria que leva a todas as características da síndrome nefrótica, de
forma associada. Por princípio, a síndrome nefrótica ocorre quando há uma agressão à barreira glomerular,
seja no endotélio, membrana basal ou podócitos.
A outra causa de edema é a menor perda de sódio: retenção de sal e água no leito capilar.
Em crianças com edema, os dois principais quadros são síndrome nefrótica e nefrítica. Na segunda,
há hematúria. Além disso, na síndrome nefrítica, o edema é de hipervolemia; anasarca hipervolêmica, com
risco de edema agudo de pulmão. Há, ainda, hipertensão na síndrome nefrítica. Nas crianças com síndrome
nefrótica por lesão mínima (mais comum), não há hipertensão e o tipo de edema é diferente: por extrusão
de líquido para o terceiro espaço. Também há anasarca, mas menor risco de edema agudo de pulmão –
dispneia deve conduzir a suspeita de síndrome nefrítica.
Na biópsia renal de um rim com lesão mínima, não há nenhum achado de alteração. Isso porque a
alteração está no citoesqueleto actínico do podócito, que fica desarranjado, levando à perda da
eletronegatividade e, por consequência, da barreira de carga. Isso permite a perda de proteínas, sobretudo
da albumina, causando albuminúria maciça, e o desenvolvimento da síndrome nefrótica e seus sintomas.
Existem situações em que a síndrome nefrótica por lesão mínima é secundária. Crianças ou adultos
que têm linfoma, por exemplo, podem ter uma síndrome nefrótica por lesão mínima secundária. Nesses
casos, o tratamento é da causa primária. Síndromes nefróticas podem ser primárias (idiopáticas: etiologia
desconhecida e alterações podocitárias e mecanismos imuno-inflamatórios) ou secundárias (diabetes,
lúpus, hepatite B, HIV, sífilis, esquistossomose e outras).
A lesão mínima causando síndrome nefrótica em crianças é tão comum que a biópsia renal não é
feita comumente. Inicia-se o tratamento com corticoides e, se há resposta em duas semanas, considera-se
que era lesão mínima.
Exames para diferenciar síndrome nefrítica e nefrótica: exame físico com aferição da pressão,
avaliação da presença de edema agudo de pulmão. EAS: nefrítica: hematúria, cilindros hemáticos.
Nefrótica: proteinúria 4+/4+.
Doenças renais que podem causar síndrome nefrótica: glomeruloesclerose segmentar e focal,
glomerulonefrite membranosa e glomerulonefrite membrano-proliferativa. São diferenciadas pelo laudo
histopatológico. Por isso, considera-se que o diagnóstico da síndrome nefrótica é dado pela biópsia renal.
Isso sem contar com a lesão mínima, causadora de 90% das síndromes nefróticas em crianças. Nessa
situação, faz-se corticoterapia e espera-se duas semanas para observar melhora, só fazendo biópsia se não
houver melhora. Outra condição de doença glomerular que não requer biópsia renal é a glomerulonefrite
pós estreptocócica em crianças, pois é a causa mais comum de síndrome nefrítica nesses pacientes.
A lesão mínima só causa síndrome nefrótica; é uma lesão muito específica nos podócitos. A
glomeruloesclerose segmentar e focal pode causar síndrome nefrótica, síndrome nefrítica ou apenas
hematúria e/ou proteinúria assintomáticas. A glomeruloesclerose membranosa pode causar síndrome
nefrótica ou hematúria e/ou proteinúria assintomáticas. E a glomeruloesclerose membrano-proliferativa
também pode causar nefrótica, nefrítica ou hematúria e/ou proteinúria assintomáticas.
Lesão mínima
Existe uma síndrome nefrótica por lesão mínima genética. Intervenção pontual no podócito. Nesse
caso, será sempre resistente à corticoterapia. Fora isso, costuma ser sensível a corticoide.
É configurada pela rápida instalação, 30% é precedida por infecção, pode apresentar derrame pleural
e ascite, mas raramente tem congestão pulmonar. A hipertensão é ausente em crianças, mas pode estar
presente em adultos. A morbimortalidade está relacionada a complicações infecciosas. A função renal fica
preservada. IRA pode ocorrer em adultos pela hipovolemia e pelo uso excessivo de diuréticos.
Corticorresistência: apesar do uso de corticoide, não há melhora. Isso leva à suspeita de não ser uma
lesão mínima, e haver outra causa associada.
A síndrome nefrótica por lesão mínima não progride para doença renal crônica.
Confirmação laboratorial: EAS com proteinúria; urina de 24 horas (proteína acima de 3,5 g) ou
relação proteína/creatinina na urina; colesterol (acima de 300); albumina abaixo de 2,5.
Tratamento geral: dieta hipossódica e normoproteica, evitar repouso, uso cuidadoso de diuréticos
(há risco de choque e de injúria renal por hipovolemia relativa). Se de longa duração, é possível iniciar
profilaxia para a trombose com estatinas.
Corticoterapia: 75% responde em 2 semanas; 90% em 1 mês. Prednisona: cerca de 1mg/kg por 4 a 6
semanas e depois com redução da dose. Se houver reicidiva, reiniciar a terapia até desaparecimento da
proteinúria.
Estado de hipercoagulabilidade: há maior chance de trombose, inclusive com crianças, o que faz com
que o repouso seja contraindicado nessa síndrome.
É uma glomeruloesclerose focal (quer dizer que acomete apenas alguns glomérulos) e segmentar
(porção segmentada do tufo glomerular).
Etiologia: idiopática (podocitopatia: alteração da estrutura que pode levar à apoptose) X genética X
secundária (infecções virais, toxicidade a drogas, stress hemodinâmico, respostas desadaptativas).
É possível, em uma biópsia renal, retirar apenas fragmentos com um segmento glomerular
inalterado. Isso pode levar a um diagnóstico errado de lesão mínima. A diferença entre as duas será vista
com o tempo, já que apenas a segmentar e focal pode evoluir para doença renal crônica.
Acredita-se que a GESF idiopática tenha uma fisiopatologia semelhante à lesão mínima. Também
haveria liberação de interleucinas por linfócitos B e expressão de receptor podocitário, mas a agressão a
essa célula seria tal que causaria apoptose. Por isso, o tratamento também é com corticoides. No entanto,
a resposta é diferente.
Estima-se que 18% sejam casos devido a desordens hereditárias. Nas causas genéticas, a
corticoterapia não costuma ser eficaz, bem como o micofenolato e outros fármacos. Ou seja, a GESF
primária pode ser por ativação de linfócitos com secreção de interleucinas, ou por causas hereditárias, na
qual a terapia medicamentosa é ineficaz.
Em GESF confirmadas em biópsia, na qual não há causa primária confirmada e o tratamento com
corticoides ou outras drogas (ex: ciclofosfamida) não é responsivo, conclui-se que há uma GESF de causa
hereditária. O que irá ocorrer é a perda gradual da função renal até a doença renal crônica se estabelecer e
haver necessidade de diálise. É o que ocorre em 18% dos casos. A GESF pode se manifestar clinicamente
em qualquer faixa etária, mesmo quando de causa genética.
Causa síndrome nefrótica em 70-90% das crianças e 50-70% dos adultos. Proteinúria não seletiva,
pois a alteração na barreira de filtração permite a passagem de todos os tipos de proteína. Hipertensão e
hematúria podem estar presentes.
A hipertensão surge pela menor filtração de sódio, que causa, também, comprometimento da função
renal.
Diagnóstico: clínico (síndrome nefrótica podendo ter hipertensão e/ou hematúria), laboratorial
(urina de 24 horas com proteinúria e com baixo volume de urina, EAS com hematúria, hipercolesterolemia,
complemento normal. Podem ser pedidos também exames de sorologia para HIV e hepatite B) e biópsia
renal (o verdadeiro diagnóstico requer biópsia renal).
As doenças glomerulares podem cursar com apenas alguns sintomas, sem ter a síndrome nefrótica
completa.
Tratamento sintomático: hipertensão (iECA), dislipidemia (estatinas), corticoides (ou, sem resposta:
ciclofosfamida, ciclosporina, clorambucil, azatioprina).
Glomerulonefrite membranosa
Diagnóstico fechado apenas com biópsia renal. Nessa doença, a membrana basal estará muito
espessada.
Nesse caso, a lesão não é no podócito. Há antígenos pequenos o suficiente para atravessar o
endotélio e a membrana basal, chegando abaixo dos podócitos, região subepitelial (o podócito é uma célula
epitelial). Há formação, naquela mesma região, de anticorpo contra esse antígeno. A reação entre os dois é
que causa o espessamento da membrana basal, que afeta a barreira de filtração e leva à absorção de
proteínas.
Glomeruloesclerose membrano-proliferativa
Espessamento da membrana basal somada à proliferação celular. Não é uma podocitopatia, como
GESF e lesão mínima, nem há uma formação de complexo antígeno-anticorpo subepiteliais. Na verdade, há
complexos maiores antígeno-anticorpo, que ficam no endotélio e na membrana basal, causando reação
inflamatória.