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Abordagem Psicológica Da Obesidade Mórbida PDF
Abordagem Psicológica Da Obesidade Mórbida PDF
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uma equipa multidisciplinar deve ser privilegia- É sabido que as significações de doença e de
da de modo a assegurar o êxito do tratamento tratamento influenciam os processos de adesão
desta patologia e a sua manutenção a longo pra- dos indivíduos ao tratamento (Turk & Meichen-
zo, contribuindo para a melhoria de saúde, quali- baum, 1991), ou seja, o modo como eles conce-
dade de vida, bem-estar e satisfação dos indiví- bem a sua doença (i.e., identidade, etiologia, evo-
duos que dela sofrem. Este tipo de abordagem é lução, consequências e controlabilidade; Leven-
recomendada pelas sociedades científicas inter- thal, Nerenz & Steele, 1984), tratamento, seus efei-
nacionais (e.g., International Federation for the tos e grau de mudança comportamental exigido,
Surgery of Obesity, IFSO) no tratamento desta relação com os profissionais de saúde, com o sis-
patologia associada à proposta de realização de tema de saúde e com os recursos sociais (Reis,
uma cirurgia e praticada em vários centros (e.g., 1999).
Centro de Obesidade do Centro Hospitalar Uni- Deste modo, devem ser tidas em consideração
versitário de Liège Ourthe-Amblève; Ambulató- algumas variáveis psicológicas e sociais do indi-
rio de Obesidade do Hospital das Clínicas da Fa- víduo com OM que fazem parte do seu processo
culdade de Medicina da Universidade de São Pau- de doença e que dão lugar à abordagem psicoló-
lo, AMBESO). gica enquanto parte integrante do processo de tra-
Recentemente a cirurgia bariátrica1 ganhou tamento destes doentes (Kinzl, Traweger, & Biebl,
relevo como uma importante opção terapêutica 2003; Valley & Grace, 1987). Vários autores re-
para esta doença, e é considerada a forma mais ferem a importância da avaliação psicológica e
eficaz de a controlar a longo prazo (Delin & An- da adequação cognitiva e comportamental do pa-
derson, 1999). Este facto leva a que muitos do- ciente ao tratamento como factores de prognós-
entes a encarem como “tábua de salvação”, de- tico deste (DiGregorio & Moorehead, 1994; Glinski,
positando no cirurgião e na cirurgia todas as es- Wetzler, & Goodman, 2001; Sannen, Himpens,
peranças e expectativas. No entanto, esta crença & Leman, 2001).
excessiva e irrealista no “milagre cirúrgico” (Rab- Com efeito, a existência de alterações psico-
ner & Greenstein, 1991) (i.e., parte biológica do patológicas e/ou de personalidade com signifi-
tratamento) poderá colocar em risco o êxito do cado clínico têm sido descritas como podendo com-
tratamento, pela consequente desresponsabiliza- prometer o tratamento, nomeadamente através da
ção que ela poderá implicar por parte do doente não-adesão. Os estudos sobre as características
neste processo. A isto acresce a tendência dos psicológicas desta população referem como alte-
pacientes obesos em desejarem ser participantes rações mais frequentes, a nível psicopatológico e
passivos no seu tratamento (Randolph, 1986). de personalidade, a perturbação borderline (Black,
Contudo, a cirurgia bariátrica requer uma forte Goldstein, & Mason, 1992) e a nível emocional,
adesão do paciente aos seus requisitos pós-cirúr- as de tipo depressivo, sendo as de tipo ansioso as
gicos (i.e., modificações alimentares, comporta- segundas mais prevalentes (Black, Goldstein, &
mentais e de estilo de vida) para garantir a eficá- Mason, 1992; Glinski, Wetzler, & Goodman, 2001).
cia do tratamento. Como referem Valley e Grace O psicoticismo é praticamente inexistente (Glinski,
(1987) um obeso que consiga uma perda de peso Wetzler, & Goodman, 2001). A compulsão para
significativa, mas que continue a comer compul- comer (binge-eating) é uma das alterações com-
sivamente precipitando complicações médicas, portamentais mais perturbadoras e pervasivas,
não pode ser considerado sucesso terapêutico, ou sendo o ritual alimentar acompanhado, na maio-
ria destes doentes, por reacções emocionais de
seja, é um processo incompleto em que as variá-
irritabilidade, desinibição e raiva (Lang e col., 2000).
veis comportamentais foram negligenciadas.
Vários autores referem outras complicações psi-
cológicas associadas à obesidade. Por exemplo,
Stunkard e Wadden (1992), referem a distorção
da imagem corporal, baixa auto-estima, discrimi-
1
Designa os diversos tipos de técnicas cirúrgicas
nação/hostilidade social, sentimentos de rejeição
utilizadas no tratamento da obesidade mórbida, sendo e exclusão social, problemas funcionais e físicos,
a gastroplastia com banda insuflável por via laparos- história de abuso sexual, perdas parentais preco-
cópica, uma das mais recentes. ces, história familiar de abuso de álcool, ideação
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suicida, problemas familiares/conjugais, senti- ao nível do estilo de vida (Freys e col., 2000). Co-
mentos de vergonha e auto-culpabilização, agres- mo critérios de suspensão do agendamento de ci-
sividade/revolta, insatisfação com a vida, isola- rurgia têm sido referidas as seguintes condições
mento social, absentismo, psicossomatismo, en- clínicas: perturbação alimentar de tipo compulsi-
tre outros. A baixa qualidade de vida, a que acres- vo (binge-eating disorder), bulimia, abusos físi-
ce a co-morbilidade mais frequente desta popula- cos e/ou sexuais, abuso/dependência de substân-
ção (i.e., diabetes, hipertensão, apneia nocturna, cias, estados maníacos, psicoses e ideação e in-
problemas osteo-articulares, etc.) tem sido refe- tenção suicida até à sua remissão total, e as per-
rida em diversos estudos (Sullivan, Sullivan & Kral, turbações ansiosas e depressivas, problemas con-
1987; Larsen, 1990; Kral, Sjöström, & Sullivan, jugais/familiares, perturbações de personalidade
1992; Favretti, O’Brien, & Dixon, 2002), bem e perturbação de stresse pós-traumático até à sua
como, a sua melhoria significativa, independen- remissão parcial (Ayad, 2004). Constata-se que,
temente da quantidade de peso perdido após a ci- de um modo geral, os autores diferem na “rigi-
rurgia (Dixon & O’Brien, 2002; Diniz, Sander, dez” dos critérios que definem, sendo que alguns
& Almeida, 2003). contemplam parâmetros que constituem contra-
Embora exista alguma controvérsia relativa- indicação absoluta para a cirurgia, enquanto ou-
mente ao grau de perturbação psicológica desta tros definem níveis de contra-indicação e indi-
população, nomeadamente quanto à existência cam linhas orientadoras para o adequado trata-
de uma maior prevalência de doença psiquiátrica mento de determinadas perturbações psicológi-
comparativamente à população geral, esta pers- cas prévias à realização de cirurgia (e.g., Char-
pectiva não é corroborada por muitos dos estu- les, 1987). No entanto, apesar destas divergên-
dos neste domínio (Stunkard, Stinnett, & Smoller, cias, há fortes evidências de que haja uma me-
1986; Grana, Coolidge, & Merwin, 1989). No en- lhoria da psicopatologia prévia no período pós-
tanto, os autores são consensuais no que diz res- -cirúrgico, independentemente da técnica usada
peito à importância do seu despiste prévio à ci- e, possivelmente da doença psiquiátrica de base
rurgia (Valley & Grace, 1987; Charles, 1987). A (van Gemert, Severeijns, Greve, Groenman, & Soe-
existência de alterações do foro psicológico, ters, 1998; Dixon & O’Brien, 2002; Maddi, Fox,
contudo, não é por si só impeditivo da realização Khoshaba, Harvey, Lu, & Persico, 2001).
do tratamento, mas estas deverão ser tidas em con- Salientam-se os indicadores de qualidade de
sideração nas opções a tomar face ao mesmo (Glinski, vida e de psicopatologia como sendo, do ponto
Wetzler, & Goodman, 2001; Benotti & Martin, de vista psicossocial, os mais sensíveis aos be-
2004; Segal, 2003), sendo que, o grau de psico- nefícios do tratamento.
patologia é sugerido em alguns estudos (e.g., No Centro Hospitalar de Lisboa (Zona Cen-
Valley & Grace, 1987) como constituindo o “ele- tral) – Hospital S. José a OM tem merecido uma
mento-chave” para o desenvolvimento quer de maior atenção desde que no início de 2002 se
complicações médicas quer de psicológicas na fa- constituiu uma equipa multidisciplinar para o seu
se pós-cirurgia. tratamento, que envolve as especialidades de Ci-
Neste sentido, têm sido sugeridos por alguns rurgia Laparoscópica, Psicologia Clínica, Dieté-
autores critérios de índole psicológica para a se- tica entre outras, com o objectivo de optimizar o
lecção dos candidatos a cirurgia, que a contra- êxito do tratamento, a qualidade de vida e bem-
-indicam ou que os remetem para tratamento pré- estar dos seus doentes. A abordagem psicológi-
vio. Como contra-indicação absoluta ou critérios ca, inserida no contexto desta equipa e seus obje-
de exclusão têm sido referidas as seguintes con- ctivos, estrutura-se ao longo das três principais
dições clínicas: as psicoses, alcoolismo e atraso fases do processo de tratamento: (1) pré-cirurgia,
mental (por impedirem uma tomada de decisão (2) internamento e (3) pós-cirurgia e follow-up.
informada/consentimento informado), e a buli- Foi criada uma nova consulta externa designada
mia nervosa (Terra, 1997) e nunca ter frequenta- Consulta de Psicoterapia/Obesidade e desenvol-
do um programa de tratamento para perda de pe- vido um protocolo de avaliação psicológica e de
so, considerando a cirurgia como tratamento de actuação psicoterapêutica (ver Esquema 1) de
primeira escolha, falta de motivação e colabora- modo a corresponder às necessidades específicas
ção na implementação das necessárias mudanças desta população e às expectativas da equipa.
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ESQUEMA 1
Protocolo da abordagem psicológica e psicoterapêutica com os pacientes OM: Fases de
intervenção, objectivos e metodologias
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Instrumentos de Avaliação avaliação psicológica do obeso mórbido na fase
pré-cirurgia contribuem para a emissão do pare-
A metodologia utilizada inclui uma entrevista cer psicológico e tomada de decisão relativamen-
clínica semi-estruturada e questionários clínicos te à necessidade de encaminhamento do doente
de auto-avaliação. A entrevista semi-estruturada para consultas de especialidade (e.g., Psiquiatria
foi desenvolvida para esta população, com o obje- e/ou Psicologia Clínica) de acordo com critérios
ctivo de obter dados qualitativos relativamente a específicos que contemplam a gravidade da per-
aspectos relevantes da história de obesidade do turbação psicopatológica.
paciente, sua motivação e expectativas face ao A Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS)
tratamento, conhecimento sobre o procedimento (Zigmond & Snaith, 1983) é uma escala de auto-
terapêutico, padrão de comportamento alimentar -avaliação, frequentemente utilizada e desenvol-
actual e estilo de vida. Os questionários clínicos vida para uso em contexto hospitalar. Consiste
de auto-avaliação proporcionam dados quantita- em 14 itens divididos em duas sub-escalas, de
tivos e comparativos e foram seleccionados com Ansiedade (7 itens) e de Depressão (7 itens) que
o objectivo de obter uma caracterização de cada conjuntamente produzem um resultado total.
indivíduo sobre parâmetros considerados perti- Um resultado entre 8-10 para cada sub-escala é
nentes, tais como: personalidade e psicopatolo- considerado borderline, e um resultado igual ou
gia (MCMI-II), ansiedade e depressão (HADS), superior a 11 é indicador de presença de ansieda-
qualidade de vida (MOS-SF/20), e auto-conceito de ou depressão (Carrol et al., 1993). Para a in-
(ICAC), que a seguir se descrevem. terpretação clínica do resultado total foi proposto
O Inventário Clínico Multiaxial de Millon (2.ª que um valor ≥ 19 fosse considerado indicador
versão) – MCMI-II (tradução portuguesa) é um de perturbação emocional significativa (Razavi et
inventário clínico de avaliação da personalidade al., 1990). No entanto, de acordo com Ibbotson e
que permite a identificação de características de col. (1994), um resultado total ≥ 15 já apresenta
personalidade normal, síndromes clínicos e per- uma capacidade discriminativa de perturbação
turbações de personalidade, tendo sido utilizado emocional com um valor preditivo positivo de
no nosso estudo para a realização de diagnóstico 41% para “casos psiquiátricos”.
diferencial e identificação de psicopatologias es- A escala Medical Outcome Studies Short-Form
pecíficas. É constituído por 175 itens com for- Health Survey (MOS-SF/20) foi construída com
mato de resposta Verdadeiro/Falso, sendo o tem- o objectivo de avaliar o funcionamento e bem-
po de aplicação relativamente breve (15 a 25 mi- -estar de pessoas que sofrem de doenças cróni-
nutos). É composto por 26 escalas: 4 escalas de cas. É uma escala de auto-avaliação, breve, de
precisão e validade, 10 escalas de personalidade fácil compreensão e preenchimento, constituída
básica: Esquizóide (1), Evitante (2), Dependente por 20 questões sobre seis dimensões da qualida-
(3), Histriónica (4), Narcísica (5), Antisocial (6A), de de vida: a) actividade física (FF), refere-se à
Agressiva (6B), Compulsiva (7), Passiva-Agres- influência do estado de saúde na realização de vá-
siva (8A), e Auto-Derrotista (8B), 3 escalas de rias actividades físicas do quotidiano); b) o tra-
perturbação de personalidade: Esquizotípica (S), balho (RF), refere-se à influência do estado de
Borderline (C) e Paranóide (P), 6 escalas de sín- saúde em actividades diárias habituais; c) as per-
dromes clínicos de gravidade moderada – Eixo I cepções sobre o estado de saúde (HP), refere-se
DSM-III-R: Ansiedade (A), Somatoforme (H), às auto-avaliações sobre o estado de saúde actual;
Bipolar (N), Distimia (D), Dependência de Ál- d) as percepções da dor (D), solicita uma avalia-
cool (B), Dependência de Drogas (T) e 3 escalas ção da intensidade da dor percebida; e) activida-
de síndromes clínicos de gravidade elevada – Ei- de social (FS), refere-se à influência do estado
xo II DSM-III-R: Perturbação de Pensamento (SS), de saúde nas actividades sociais habituais; f) a
Depressão Major (CC) e Alucinações (PP), e ain- saúde mental (SM), refere-se ao afecto ou estado
da a avaliação do risco de suicídio. Os resultados de humor em geral, incluindo estados depressi-
são traduzidos num perfil interpretado de acordo vos, ansiosos e bem-estar psicológico. A escala
com a elevação e co-variância das escalas. Trata- permite obter um resultado global quantitativo
-se de um instrumento de avaliação para popu- da qualidade de vida, resultante do somatório dos
lações clínicas, cujos resultados, no âmbito da quantitativos das seis dimensões referidas. Quan-
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to maior é o resultado obtido melhor é a qualida- 2. Análise Quantitativa dos Dados
de de vida percebida do paciente (valores totais
entre um mínimo de 11 e um máximo de 74). Os Procedeu-se a uma análise estatística dos da-
estudos sobre a validade da escala revelaram que dos utilizando o SPSS 11.5. Efectuou-se uma aná-
apresenta bons índices e que é um bom instru- lise exploratória dos dados utilizando medidas
descritivas e o teste não-paramétrico de Spear-
mento discriminativo entre pacientes com “mau
man para obter os coeficientes de correlação.
estado de saúde” e a população geral (Stewart, Hays
& Ware, 1988).
Morbilidade Psicológica: Psicopatologia, al-
O Inventário Clínico do Auto-Conceito (Vaz Serra, terações da personalidade e emocionais
1987) é utilizado para medir aspectos sociais e
emocionais do auto-conceito. É constituído por Os resultados médios e desvio padrão para a
20 itens medidos numa escala tipo Likert (de 1 a população de obesos mórbidos avaliada através
5) e avalia as seguintes dimensões de auto-con- da escala de personalidade (MCMI-II) são apre-
ceito: aceitação-rejeição social (F1), auto-eficá- sentados no Quadro 1.
cia (F2), maturidade psicológica (F3) e impulsi- Como se pode constatar estes revelam algu-
vidade-actividade (F4). No que respeita à cota- mas alterações com significado clínico ao nível
ção, quanto melhor for o auto-conceito do indi- da personalidade básica, nomeadamente, da per-
víduo, maior a pontuação total obtida. Esta pode sonalidade compulsiva (77), e um aumento su-
variar de um mínimo de 20 a um máximo de 100 gestivo de patologia (ainda que abaixo do valor
pontos. de corte ≥ 75) nas escalas de personalidade es-
Este modelo de avaliação psicológica desen- quizóide (64), evitante (69), dependente (73),
volvido pelas autoras constitui o actual protocolo histriónica (68), narcísica (70), anti-social (62),
de avaliação psicológica para esta população agressiva (63), passiva-agressiva (60) e auto-
utilizado no Centro Hospitalar de Lisboa (Zona -derrotista (68). Os sujeitos tendem a apresentar-
Central) – Hospital S. José. se de forma favorável ou com uma personalidade
atraente (desejabilidade social=72). Nas escalas
de perturbação da personalidade e nas escalas de
RESULTADOS síndromes clínicos de gravidade moderada e ele-
vada não se registaram alterações significativas.
Relativamente ao risco de suicídio verificou-se
1. Características Socio-demográficas e Clí- que em termos médios é de 0,5 (valores entre 0 a
3), ou seja, existe mas é considerado ligeiro,
nicas dos Pacientes
sendo que 138 indivíduos (73,4%) referem não
terem ideação ou intenção suicida e 50 (26,6%)
Foram avaliados 212 pacientes, 29 do sexo mas-
referem algum grau da mesma2.
culino (13,7%) e 183 do sexo feminino (86,3%) Relativamente à presença de alterações emo-
com OM, com uma média de idade de 41,1±11,76 cionais (ver Quadro 2) verificou-se um resultado
anos (idades compreendidas entre 16 e 65 anos), médio para a ansiedade de 9,1, valor considerado
com um peso médio de 125,2±23,25 Kg e média borderline o que significa uma tendência para
de IMC de 46,6±7,86 Kg/m2. Apresentam uma distúrbios de ansiedade, para a depressão um va-
escolaridade média de 9,2±4,32 anos (0-17 lor médio de 7,0 considerado sem significado clí-
anos), relativamente ao estado civil, 67% são ca- nico, e um valor médio total de 16,1 que indica
sados/união de facto, 19,8% solteiros, 7,6% di- segundo alguns autores (Ibbotson e col., 1994) a
vorciados, 5,7% outros. Quanto à situação pro- presença de alterações emocionais com signifi-
fissional 63,7% são empregados, 25,9% desem- cado clínico.
pregados/domésticas, 3,8% estudantes. Relativa-
mente a tentativas anteriores de perda de peso
2,3% nunca fizeram, 33,4% fizeram programas
de redução de peso auto-geridos, 84,6% fizeram- 2
Os dados sobre este factor só estavam disponíveis
-no com orientação de especialista. para 188 sujeitos.
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QUADRO 1
Valores médios e desvios padrão da amostra nas escalas do Inventário Clínico de Personalidade
(MCMI-II )
V - Validade 0 .28
X - Sinceridade 61,9 17.31
Y - Desejabilidade 71,9 15.47
Z - Alteração 49,0 22.88
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QUADRO 2
Valores médios e desvios padrão da amostra no ICAC, HADS, MOS-SF/20
MOS-SF/20 Qualidade de VidaTotal 39,0 ± 13.88 (HP) Percepção de saúde 12,5 ± 4.98
(FF) Actividade Física 1,9 ± 1.81
(RF) Trabalho 1,0 ± 0.97
(D) Percepção de Dor 2,3 ± 2.94
(FS) Actividade Social 4,3 ± 1.80
(SM) Saúde Mental 16,8 ± 7.14
ICAC Auto-Conceito Total 69,1 ± 10.59 (F1) Aceitação/rejeição social 17,9 ± 3.84
(F2) Auto-eficácia 19,0 ± 2.80
(F3) Maturidade psicológica 15,2 ± 3.22
(F4) Impulsividade/actividade 11,2 ± 2.59
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QUADRO 3
Correlação entre as variáveis mais relevantes
Idade IMC HADS A HADS D AC Total MCMI 7 Factor Risco
**p*.01
*p*.05
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ficativas (p<0,01) entre os dois sexos para as 3. Análise Qualitativa dos Dados
variáveis, peso e algumas subescalas do MCMI-
-II, verificando-se uma tendência do sexo mas- A partir dos dados da entrevista clínica semi-
estruturada procedeu-se a uma análise de con-
culino para apresentar mais peso (148,35Kg pa-
teúdo da qual se extraíram categorias de resposta
ra os homens e 121,20Kg para as mulheres) e
por item, que se apresentam no Quadro 4. Em
resultados mais elevados na escala de persona-
seguida descrevemos os seus aspectos mais rele-
lidade antissocial (68,37 para os homens e 60,63 vantes.
para as mulheres) (6A) e abuso/dependência de A maioria dos indivíduos com OM seguidos
álcool (B) (54,81 para os homens e 45,73 para as na Consulta Multidisciplinar do Centro Hospita-
mulheres), e uma tendência do sexo feminino lar de Lisboa (Zona Central) – Hospital S. José
para apresentar valores mais elevados na com- para tratamento cirúrgico da sua doença, tem his-
pulsividade (7) (78,86 para as mulheres e 66,00 tória familiar de obesidade, início da obesidade
para os homens). d) A ideação suicida surge cor- na infância (38.3%) e evolução gradual de peso
relacionada negativamente com a qualidade de ao longo do seu ciclo vital associada a aconteci-
vida total e sua dimensão de saúde mental (SM) mentos de vida, sendo a 1.ª gravidez o mais re-
e positivamente com praticamente todas as sub- ferenciado (60.7%) como início e factor de agra-
escalas do MCMI-II, à excepção das sub-escalas vamento da obesidade. A maioria seguiu progra-
de compulsividade (7), personalidade histriónica mas estruturados de perda de peso orientados por
(4), dependente (3), narcísica (5) e distúrbio bi- especialistas, sem resultados satisfatórios ao ní-
polar (N), bem como, para o auto-conceito em vel da diminuição de peso e, sobretudo, da sua
qualquer das suas dimensões. Pode assim dizer- manutenção. Os benefícios que mantêm após se-
rem sujeitos a estes programas, reportam-se es-
-se que a presença de ideação suicida sugere uma
sencialmente às regras alimentares. Apontam
menor qualidade de vida e uma tendência para o
como causas mais relevantes da sua obesidade,
aumento dos níveis de perturbação emocional e os hábitos alimentares desadequados (57.2%), a
mesmo de psicopatologia. e) A sub-escala da com- compulsão para comer/falta de auto-controlo (31.4%),
pulsividade (7) do MCMI-II revela correlações alterações do seu estado emocional/humor (29.6%)
positivas com a idade, a desejabilidade (Y), as e acontecimentos de vida precipitantes (22.0%).
personalidades esquizóide (1) e dependente (3), Referem como principais consequências do ex-
e perturbação da personalidade paranóide (P), cesso de peso, sintomas físicos (68.1%), proble-
distúrbio somatoforme (H) e alucinações (PP). mas funcionais (62.0%), aparecimento/agrava-
Verificam-se correlações negativas com algumas mento de doenças (38.7%) e insatisfação com o
dimensões da qualidade de vida (FF, RF, FS) e corpo/auto-imagem (35.0%). Têm historial de
sexo. Os valores de compulsividade (7) aumen- problemas psicológicos/psiquiátricos, sendo na
tam com a idade, com algumas perturbações de sua maioria acompanhados por especialista.
personalidade, e são mais evidentes nas mulhe- No que respeita aos principais motivos subja-
res. Ao mesmo tempo o seu aumento é revelador centes à tomada de decisão face à cirurgia, os pa-
de menor qualidade de vida. f) A variável auto- cientes manifestam melhoria dos problemas de
conceito também apresenta correlações significa- saúde (51.7%), eficácia da cirurgia na perda de
peso (34.7%) e melhoria da auto-estima (25.2%),
tivas com outras variáveis. Está correlacionada
sendo o seu grau de motivação bastante elevado
positivamente com a idade, a desejabilidade (Y),
(92.5%). Expressam ter apoio por parte dos fa-
as personalidades histriónica (4) e narcísica (5), miliares directos e família alargada no que res-
e distúrbio bipolar (N), e correlacionada negati- peita à realização do tratamento. Apresentam-se
vamente com a personalidade esquizóide (1) e bastante expectantes face aos resultados, cen-
evitante (2), depressão major (CC) e dependên- trando-se maioritariamente na diminuição de pe-
cia de álcool (B), ou seja, quanto maior é o auto- so (80.0%), bem-estar emocional e psicológico
-conceito, maior é a idade e maior os valores de (51.5%), melhoria dos problemas de saúde (40.0%)
alguns tipos de personalidade, e menores os ní- e da funcionalidade (33.8%). Salientam a impor-
veis de depressão e dependência de álcool. tância de assumir um papel activo nas fases pré e
542
QUADRO 4
Protocolo de Entrevista Semi-Estruturada com categorias de análise de conteúdo de resposta por
item e respectivas percentagens na população estudada
B. HISTORIAL DA OBESIDADE
1. a) Evolução ponderal associada a etapas do ciclo de vida: 47.8%
- 1ª infância 38.3%
- 2ª infância 10.6%
- Idade escolar 19.1%
- Puberdade/Adolescência 31.9%
b) Acontecimentos de vida 67.3%
- Casamento 18.7%
- Gravidez (1.ª) 60.7%
- Gravidez (2.ª ou subsequentes) 16.8%
- Menopausa 3.7%
c) Evolução ponderal associada a acontecimentos de vida significativos e acidentais 40.3%
d) Modificações no estilo de vida 12.6%
2. Atribuições causais
- Hábitos alimentares desadequados 57.2%
- Compulsão para comer/falta de auto-controlo 31.4%
- Alterações do estado emocional 29.6%
- Alterações hormonais 13.9%
- Factores metabólicos 11.3%
- Factores hereditários 5.7%
- Acontecimentos de vida 22%
- Sedentarismo 3.8%
- Não sabe 4.9%
- Outros 15.6%
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continuação da página anterior
7. Consequências
- Sintomas físicos 68.1%
- Problemas funcionais 62%
- Doenças 38.7%
- Dificuldade na aquisição de vestuário 27.6%
- Insatisfação com o corpo/auto-imagem 35%
- Sintomas psicológicos 23.9%
- Problemas sociais/profissionais 23.3%
- Problemas interpessoais/relacionais 11.5%
- Problemas sexuais/conjugais 20.2%
- Outros 4.6%
- Não sabe 0.8%
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continuação da página anterior
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no tratamento, embora se verifique um desfasa- do esta situação se verifica, encaminha-se o pa-
mento entre esta posição e o seu comportamento ciente para tratamento especializado (Psiquiatria/
alimentar e estilo de vida actuais, extensível à /Psicologia Clínica) ou, em caso de acompanha-
posição assumida por alguns autores que os des- mento já estabelecido, remete-se para o especia-
crevem como participantes passivos (e.g., Ran- lista até indicação do melhor momento para rea-
dolph, 1986). Estes dados reforçam a tendência lização da cirurgia atendendo à estabilização do
que os indivíduos obesos mórbidos têm para se seu quadro clínico. Nesta fase procede-se à re-
apresentar socialmente de uma forma favorável, avaliação psicológica e emissão de parecer técni-
dissimulando dificuldades pessoais e procurando co. Pelo acima exposto, o parecer técnico é, pois,
a aceitação e aprovação dos outros, neste caso temporal na medida em que o seu objectivo não
particular tendo em vista a selecção para a cirur- é a exclusão de pacientes, mas sim assegurar a
gia. melhor adesão e colaboração destes face aos pres-
Apesar de não apresentarem perturbação psi- supostos do tratamento global.
copatológica e de personalidade com significado Apesar de não apresentarem um grau de per-
clínico, em termos de média estatística, revelam turbação emocional marcadamente superior ao
contudo, algumas alterações de personalidade da população normal, as características psicoló-
sugestivas de instabilidade psicológica, entre as gicas dos indivíduos com OM indicam a exis-
quais se salienta a personalidade compulsiva. Acres- tência de factores de risco de saúde mental, que
ce a presença de alterações emocionais ligeiras poderão ser reduzidos com um tratamento multi-
de ansiedade, que estão conforme a observação disciplinar deste tipo, prevenindo e actuando so-
clínica e o reportado por estes pacientes, como bre a psicopatologia. A equipa está ciente de que
precipitantes do comportamento compulsivo de o tratamento da OM é benéfico para os doentes
comer. Estes resultados estão de acordo com a em termos da sua saúde global, ou seja, a nível
perspectiva de alguns autores (e.g., Glinski, Wetzler físico/biológico, psicológico e social e procura
& Goodman, 2001) que conceptualizam o binge gerir o melhor momento para a realização do mes-
eating como indicador de dificuldade em lidar mo, atendendo aos custos pessoais para o sujeito
com emoções negativas. e para a sociedade.
Não se verificou a existência de psicoticismo, Os resultados referentes à qualidade de vida
como esperado. A ideação suicida está presente são corroborados por outros estudos que avaliam
em cerca de 1/4 dos casos, associada a uma ele- este parâmetro (Sullivan, Sullivan, & Kral, 1987;
vação significativa da morbilidade psicológica, Larsen, 1990; Kral, Sjöström, & Sullivan, 1992).
servindo como factor discriminativo desta e in- Eram esperados resultados baixos, atendendo
dicador para despiste de psicopatologia nesta po- às dificuldades com que estes doentes se depa-
pulação (Travado e col., 2004). No entanto, é de ram, do ponto de vista funcional, social e psico-
referir que os elevados desvios padrão nas esca- lógico que têm um impacto negativo ao nível da
las de avaliação de personalidade, psicopatologia qualidade de vida. Consideramos pois, funda-
(MCMI-II) e de alterações emocionais (HADS), mental que esta dimensão seja contemplada num
indicam uma grande heterogeneidade da popu- protocolo como o que apresentamos, para uma
lação nos parâmetros avaliados. Salvaguardamos adequada caracterização desta população.
que estes resultados facultam uma leitura global Relativamente ao auto-conceito os resultados
e reducionista destas dimensões, ocultando os da- não foram de encontro ao esperado por se enqua-
dos individuais de cada paciente. Isto é, embora drarem nos parâmetros normais para a população
haja uma grande parte da população que não re- geral, o que contraria os dados de alguns estudos
vela psicopatologia nem alterações da personali- que referem uma pobre auto-eficácia, auto-con-
dade, outros há que apresentam alterações bas- fiança (Tanco et al., 1998) e auto-estima por par-
tante significativas. Este facto comprova a ne- te destes pacientes (Glinski et al., 2001). Uma vez
cessidade da avaliação psicológica prévia à rea- que esta população tem tendência à desejabili-
lização da cirurgia, como forma de seleccionar dade social (i.e., apresentar uma imagem favorá-
os candidatos que reunam as melhores condições vel de si próprio) e esta variável se encontrar cor-
para o êxito do tratamento, e do adiamento desta relaccionada positivamente com o auto-conceito
nos casos que têm alterações significativas. Quan- total, sugere a existência de um enviesamento no
547
sentido positivo. Por outro lado, o auto-conceito da qual apresentaremos em breve os resultados
não apresenta correlações significativas com per- preliminares.
turbações da personalidade, nem com outros as- Em resumo, a abordagem psicológica é uma
pectos psicopatológicos, nomeadamente, ideação vertente imprescindível no tratamento desta pa-
suicida (Travado e col., 2004). Deste modo, con- tologia, numa concepção biopsicossocial de saú-
sideramos que esta escala não será a mais indi- de que contribui para assegurar o êxito do mes-
cada para avaliar o referido parâmetro nesta po- mo.
pulação, sendo menos relevante no protocolo de
avaliação desta patologia.
O protocolo de avaliação que aqui se apre- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
senta permite-nos obter resultados quantitativos
e qualitativos das dimensões anteriormente des- Ayad, F. (2004). Psychological factors contributing to
critas. Consideramos que a avaliação objectiva the development of obesity and the conditions that
através de questionários estandardizados é im- must be treated preoperatively. In L. F. Martin (Ed.),
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consultation. The developed methodology includes a
semi-structured interview and self-assessment ques-
RESUMO tionnaires of personality (MCMI-II), anxiety and de-
pression (HADS), quality of life (MOS-SF/20) and
A obesidade mórbida (OM) é uma versão patoló- self-concept (ICAC). 212 patients were assessed with
gica de obesidade considerada um grave problema de a mean age of 41.1 years old, and a BMI of 46.6Kg/m2.
saúde para os indivíduos que dela sofrem. O seu trata- We present the data and the protocol we developed for
mento deve ser baseado numa abordagem biopsi- psychological assessment. We emphasize the impor-
cossocial do indivíduo e do seu processo de doença tance of the psychological assessment for technical
que assegure o êxito do tratamento, a curto e longo advice before surgery and its qualitative data for de-
prazo. A abordagem psicológica de cariz cognitivo- signing the psycho-educational and psychotherapeutic
comportamental estrutura-se ao longo das 3 principais objectives, as fundamental to the success of the treat-
fases do processo de tratamento: (1) pré-cirurgia, (2) ment process.
internamento e (3) pós-cirurgia e follow-up. A primei- Key words: Morbid obesity, psychological cha-
ra fase desta abordagem corresponde à avaliação psi- racterization, protocol for psychological assessment.
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